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TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS Tratam entos Term oquím icos e Super ciais Alexandre IartelliAlexandre Iartelli GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro Tratamentos termoquímicos e super ciais são operações realizadas no aço em estado sólido visando modi cações em sua estrutura, bem como na composição química da superfície da peça. O objetivo principal é a modi cação de suas propriedades mecânicas e, além disso, essas são operações realizadas em condições especí cas de temperatura e em meios adequados. O processo consiste no aquecimento e posterior resfriamento da peça, como nos tratamentos térmicos. Ademais, a modi cação da composição química da camada super cial da peça também pode ser feita, como é o caso dos tratamentos super ciais. Existem diversos trata- mentos termoquímicos, a saber: cementação, nitretação e carbonitretação, entre outros. Posto isso, a termoquímica corresponde a uma área da metalurgia que possui grande aplicabilidade na indústria metalomecânica, que está relacionada à indústria automobilística, construção civil e engenharia. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS CAPA_SER_ENGMEC_TRATERMOSUP.indd 1,3 05/03/20 15:28 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Alexandre Iartelli DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 2 05/03/20 14:49 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 3 05/03/20 14:49 Unidade 1 - Microestrutura, endurecimento de materiais e tratamentos térmicos Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Definição e conceituação de microestrutura ................................................................. 13 Microestruturas e fases ................................................................................................. 13 Ligas metálicas ................................................................................................................ 14 Mecanismos de endurecimento de metais ..................................................................... 17 Combinação de mecanismos de endurecimento em metais ................................... 25 Fundamentos sobre tratamentos térmicos ...................................................................... 25 Tratamentos termofísicos............................................................................................... 27 Tratamentos termoquímicos .......................................................................................... 27 Sintetizando ........................................................................................................................... 36 Referências bibliográficas ................................................................................................. 37 Sumário SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 4 05/03/20 14:49 Sumário Unidade 2 - Tratamentos isotérmicos e termomecânicos Objetivo da unidade ............................................................................................................. 39 Tratamentos isotérmicos ..................................................................................................... 41 Metais ................................................................................................................................ 42 Ligação metálica para formação dos cristais ............................................................ 43 Microestrutura e equilíbrio de fases ............................................................................ 45 Curvas isotérmicas .......................................................................................................... 47 Tratamentos termomecânicos ............................................................................................ 52 Comportamento mecânico das ligas de aço .............................................................. 53 Objetivos e variações ..................................................................................................... 55 Analisando os diagramas de fase ferro-carbono ...................................................... 57 Exemplos ........................................................................................................................... 59 Sintetizando ........................................................................................................................... 62 Referências bibliográficas ................................................................................................. 63 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 5 05/03/20 14:49 Sumário Unidade 3 - Tratamentos de endurecimento superficial Objetivo da unidade ............................................................................................................. 65 Tratamentos de endurecimento por precipitação .......................................................... 66 Caracterização dos aços ............................................................................................... 67 Ações dos tratamentos térmicos nos metais ............................................................. 70 Efeitos dos elementos de liga nas propriedades dos aços ...................................... 74 Definições e medidas de dureza ................................................................................... 76 Tratamentos de endurecimento superficial ................................................................... 79 Princípios da difusão ...................................................................................................... 80 Carburização (cementação) .......................................................................................... 83 Método Jominy ................................................................................................................ 85 Método Grossman ........................................................................................................... 86 Transformações sem difusão ........................................................................................ 90 Sintetizando ........................................................................................................................... 93 Referências bibliográficas .................................................................................................94 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 6 05/03/20 14:49 Sumário Unidade 4 - Tratamentos térmicos e termoquímicos Objetivo da unidade ............................................................................................................. 96 Tratamentos termoquímicos .............................................................................................. 97 Desdobramentos da cementação ................................................................................ 98 Nitretação ....................................................................................................................... 102 Outros tratamentos termoquímicos ............................................................................ 106 Tratamentos térmicos dos ferros fundidos ................................................................... 108 Ferros fundidos cinzentos ............................................................................................ 110 Ferros fundidos brancos .............................................................................................. 112 Ferros nodulares ............................................................................................................ 115 Tratamentos térmicos dos aços inoxidáveis ................................................................. 117 Aços inoxidáveis austeníticos ..................................................................................... 117 Aços inoxidáveis martensíticos .................................................................................. 119 Aços inoxidáveis ferríticos .......................................................................................... 122 Sintetizando ......................................................................................................................... 125 Referências bibliográficas ............................................................................................... 126 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 7 05/03/20 14:49 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 8 05/03/20 14:49 Tratamentos termoquímicos e superfi ciais são operações realizadas no aço em estado sólido visando modifi cações em sua estrutura, bem como na compo- sição química da superfície da peça. O objetivo principal é a modifi cação de suas propriedades mecânicas e, além disso, essas são operações realizadas em condi- ções específi cas de temperatura e em meios adequados. O processo consiste no aquecimento e posterior resfriamento da peça, como nos tratamentos térmicos. Ademais, a modifi cação da composição química da camada superfi cial da peça também pode ser feita, como é o caso dos tratamentos superfi ciais. Exis- tem diversos tratamentos termoquímicos, a saber: cementação, nitretação e car- bonitretação, entre outros. Posto isso, a termoquímica corresponde a uma área da metalurgia que possui grande aplicabilidade na indústria metalomecânica, que está relacionada à indústria automobilística, construção civil e engenharia. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 9 Apresentação SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 9 05/03/20 14:49 Dedico esta obra à minha esposa Rosi e aos meus fi lhos, Miguel e Joaquim. Eles são a razão de tudo e me dão forças para sempre continuar lutando. O professor Alexandre Iartelli possui mestrado em Materiais e Processos de Fabricação pela Universidade Federal de São João Del Rei (2014), MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela Anhangue- ra Educacional (2010) e graduação em Engenharia de Materiais e Metalúrgica pelo Centro Universitário da FEI (1999). Tem experiência na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica como gerente de produção, engenheiro de processos e qualidade e engenheiro de vendas, e em Ciências do Materiais, Conformação Me- cânica e Tratamento de superfícies. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9671831225862938 TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 10 O autor SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 10 05/03/20 14:49 MICROESTRUTURA, ENDURECIMENTO DE MATERIAIS E TRATAMENTOS TÉRMICOS 1 UNIDADE SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 11 05/03/20 14:49 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Definir as diversas microestruturas existentes, bem como suas morfologias básicas; Difundir os mecanismos de endurecimento existentes nos metais; Apresentar as noções elementares sobre tratamentos térmicos. Definição e conceituação de microestrutura Microestruturas e fases Ligas metálicas Mecanismos de endurecimento de metais Combinação de mecanismos de endurecimento de metais Fundamentos sobre tratamen- tos térmicos Introdução Tratamentos termofísicos Tratamentos termoquímicos TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 12 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 12 05/03/20 14:49 Características físicas de um material, observadas em escala mi- croscópica, são denominadas mi- croestruturas, ao passo que carac- terísticas observadas a olho nu são consideradas macroestruturas. Para se ter uma ideia de proporção, po- de-se defi nir como microestruturas as características que estão desde 1 nanômetro (1 · 10-9 m, 10 Å) até 1 milímetro (1 mm, 1 · 10-3 m). Podem ser observadas em microscópios ópticos comuns, com aumento em 1000 vezes, até microscópios de transmissão altamente potentes, que podem chegar a um aumento em 1.500.000 vezes. Muitas características que defi nem as propriedades dos materiais, como o tamanho de grãos, estão contidas nes- ta faixa de dimensão. A composição química e os tratamentos posteriores nos materiais, como tra- tamento térmico e conformação mecânica, são os elementos que determinam as microestruturas. No caso da composição química, pode-se ter um resultado mais preciso, ou seja, determinada composição resultou em determinada mi- croestrutura. Já no caso dos tratamentos, esta constatação é mais imprecisa. Definição e conceituação de microestrutura DICA Durante a preparação de amostras de aço ou ferro fundido para análise me- talográfi ca, deve-se, após seu lixamento, realizar polimento com alumina ou pasta de diamante. Isso ocorre porque o aquecimento da superfície, durante o lixamento, pode provocar alterações na microestrutura e nos resultados. Há uma certa relação entre microestrutura, propriedades e processamento, o que signifi ca que determinado processamento permitirá a obtenção de uma microestrutura que, consequentemente, possui certas propriedades. Esta rela- ção, se corretamente aplicada ao material, proporcionará bons resultados du- rante sua utilização. Se necessário, tudo isso deve ser retrabalhado para que atinja-se o objetivo defi nido. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 13 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 13 05/03/20 14:50 Ligas metálicas Uma liga metálica pode ocorrer quando dois metais dissolvem-se entre si em nível atômico, formando uma solução. Neste nível atômico, os metais se organizam nas chamadas estruturas cristalinas. Posto isso, pode-se imaginar a liga como sendo o processo em que um átomo de certo elemento é substituí- do pelo átomo de outro elemento. Tem-se o exemplo do cobre e o níquel, nos quais pode ocorrer de 0% a 100% de substituição. Porém, na maioria das ligas, observa-se que há um limite de so- lubilidade em que existe um valor máximo de substitui- ção dos átomos de um elemento nos cristais de átomos de outro elemento, e vice-versa. Imaginando-se uma composição qualquer, é correto afi rmar que ela pode ser formada pela mistura mecânica de duas ligas com composições diferentes da composição principal. Uma liga com- posta por chumbo e estanho forma, internamente – e Microestruturas e fases Um material, na maioria das vezes, possui diversas fases. Estas, por sua vez, estão organizadas de uma forma característica. Portanto, a microestru- tura é a reunião e o arranjo destas fases. Em uma liga ferro-carbono, pode-se observar uma reunião de duas fases diferentes, formadas por ferrita e ce- mentita(ferro α e Fe3C). A perlita, como é chamada, é uma reunião de camadas de ferrita e cementita. Com teores bastante baixos de carbono (menores de 0,04%), só há a formação, ou a fase, da ferrita (ferro α). O mesmo acontece com teores altos de carbono, em que só se tem a cementita (Fe3C). CURIOSIDADE A espectroscopia de energia dispersiva é um tipo de microanálise. Ela pode ser realizada em alguns microscópios de varredura e permite a visu- alização da composição química em pontos muito específi cos de determi- nadas fases em microestruturas. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 14 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 14 05/03/20 14:50 por uma mistura mecânica –, duas ligas diferentes. Uma delas instituída onde a solubilidade do estanho é de, no máximo, 5% (Pb-5%Sn) e outra formada com solubilidade máxima de 1% de chumbo (Sn-1%Pb). Estas duas ligas internas for- mam-se a uma temperatura de 100 °C, para uma liga de composição principal de 80% Pb e 20% Sn. A liga, com sua composição principal, será sempre aquela definida na produ- ção. Podem-se formar muitos ou poucos grãos com determinada composição, mas cada um deles terá apenas a composição a ou a composição b. No exemplo citado, a composição da liga é 80% Pb e 20% Sn, mas sua microestrutura era formada por grãos contendo duas composições diferentes (Pb-5%Sn e Sn-1%Pb). Existe uma solubilidade máxima entre os elementos, que tem relação com algumas condições como tamanho do átomo, estrutura cristalina e outras ca- racterísticas. Quando a diferença de tamanho entre os átomos é menor do que 15%, por exemplo, pode ocorrer a solubilidade entre eles (é o caso do Cu e do Ni). Entretanto, quando a diferença é maior, a solubilidade diminui muito, chegando a zero. Quando um átomo preenche o local pertencente a outro átomo na estru- tura cristalina, diz-se que formou-se uma solução substitucional. Quando este átomo preenche vazios, ou lacunas, nesta estrutura, denomina-se solução in- tersticial. Existem algumas combinações en- tre elementos, sejam metais ou não metais, que formam os chamados intermetálicos. Estas combinações encontram-se dentro das ligas e pos- suem algumas propriedades distintas, como dureza e fragilidade. Sua pro- porção é fixa, e alguns exemplos são Fe3C, TiNi e Al2Cu, entre outros. Dentre as fases encontradas no sistema ferro carbono, com teores me- nores de 1% C, pode-se observar que elas são iguais àquelas encontradas no ferro puro, com exceção da cemen- TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 15 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 15 05/03/20 14:50 GRÁFICO 1. FASES DA LIGA FE-C EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA E DA COMPOSIÇÃO 50 0 (Fe) 1600 1538 ºC 1493 ºC 1394 ºC 1147 ºC 912 ºC 727 ºC 4.30 2.14 0.76 0.022 δ fase delta γ + L austenita + líquido L γ + Fe3C austenita + cementita cementita (Fe3C) α + Fe3C ferrita + cementita ferrita + austenita y1 austenita α1 ferrita 1400 1200 1000 800 600 400 1 2 3 4 5 6 10 Composição (at% C) Composição (% em peso C) Te m pe ra tu ra (º C) 15 20 25 6.70 α + γ Fonte: CALLISTER, 2011, p. 211. (Adaptado). tita, ou Fe3C. Uma quantidade extremamente pequena de carbono dissolve-se no ferro, formando a ferrita (0,004% C). Mesmo assim, existem aços que possuem teores de carbono maiores do que 1%. Para isto acon- tecer, normalmente, há uma mistura mecânica entre a ferrita e a cementita. Isso ocorre porque a ferrita é saturada de carbono, ao passo que a cementita é uma fase com maior teor de carbono. Quando há mudança de temperatura as fases e as proporções variam, e isso pode ser observado no diagrama ferro carbono (Gráfico 1). TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 16 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 16 05/03/20 14:50 Mecanismos de endurecimento de metais Quando um material sofre algum tipo de deformação, normalmente, sua du- reza aumenta, em detrimento de sua ductilidade e tenacidade. Na maioria das vezes, quando uma ou mais propriedades são melhoradas, outras acabam piorando. Assim sendo, existem diversos tipos de mecanismos de endurecimento de metais, e a restrição ao movimento das discordâncias em um metal provoca o aumento de sua resistência mecânica. Por isso, um princípio simples para aumentar a resistência mecânica de um material é a restrição do movimento de suas discordâncias. Na verdade, pode-se observar que, na maioria das vezes, o trabalho do en- genheiro para alterar as propriedades dos materiais se resume em lidar com as discordâncias que os metais geram em sua estrutura. Os principais mecanismos de endurecimento em metais estão reunidos em cinco tipos básicos: 1 Redução de tamanho de grão. 2 Formação de solução sólida. 3 Encruamento. 4 Transformação de fase. 5 Dispersão de partículas. 5.1. Partículas incoerentes. 5.2. Partículas coerentes. 1. Redução de tamanho de grão Existem diversos grãos, com diversas orientações cris- talinas, em um material policristalino. Grãos vizinhos divi- dem o mesmo contorno de grão, e estes contornos são ver- dadeiras barreiras para o movimento das discordâncias. Isto acontece por dois motivos: 1. Cada grão possui uma orientação cristalina diferen- te. Para uma discordância passar de um grão para ou- tro ela deverá alterar sua orientação, o que fi ca mais difícil quanto maior for a quantidade de discordâncias entre eles. 2. Há uma descontinuidade no plano de escorregamento entre os grãos, causada pela desordem atômica existente no contorno de grão. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 17 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 17 05/03/20 14:50 É importante salientar que a tensão gerada em um plano de escorregamento de um grão pode gerar uma nova discordância em outro grão, visto que eles são separados por um contorno de alto ângulo. Tem-se, então, que os materiais que possuem uma granulação mais fina, isto é, maior número de grãos, possuem uma resistência mecânica mais alta. Isto ocorre porque um maior número de grãos corresponde a um aumento no nú- mero de contornos, dificultando ainda mais a movimentação de discordâncias. A relação mostrada na equação 1 abaixo mostra que a tensão de escoamen- to, em alguns materiais, é diferente, variando de acordo com o tamanho de grão. σy = σ0 + k · d -1/2 Nesta equação, d é o diâmetro médio dos grãos, e k e σ0 são as constantes de cada material. 2. Formação de solução sólida A adição de elementos de liga com o intuito de formar soluções sólidas, sejam elas intersticiais ou substitucionais, corresponde a outro mecanismo de endure- cimento de metais. Obviamente, a substituição de átomos, bem como a pene- tração na rede cristalina, depende da relação de tamanhos entre os átomos do soluto e do solvente. A presença de átomos do soluto gera tensões e deformações no reticulado cristalino e isto dificulta o movimento das discordâncias, resultando no endure- cimento do material. Este é um dos motivos que torna as ligas metálicas mais resistentes que os metais puros. Aqui, nota-se que não há formação de novas fases. Em alguns casos, a discordância no reticulado pode criar regiões defor- madas, onde os átomos de soluto se acomodam. Isso resulta, então, em uma redução nas tensões do reticulado. Nos casos em que os átomos de soluto são substitucionais, menores ou maiores que o solvente, eles podem se alojar nas áreas livres, formadas pela deformação no reticulado, o que resulta na minimização de seus efeitos. Os gráficos a seguir mostram o aumento da resistência mecânica e do limi- te de escoamento, de acordo com o aumento da quantidade de níquel na liga Cu-Ni. Consequentemente, com o aumento destas propriedades, ocorre um de- créscimo no alongamento. Lembrando que o níquel forma uma solução sólida substitucional na liga, ou seja, seus átomos tomam o lugar dos átomos de cobre no reticulado. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 18 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 18 05/03/20 14:50 GRÁFICO2. VARIAÇÃO (A) DO LIMITE DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO; (B) DO LIMITE DE ESCOAMENTO; E (C) DA DUCTILIDADE (%AL) EM FUNÇÃO DO TEOR DE NÍQUEL PARA AS LIGAS COBRE-NÍQUEL 60 60400 300 200 50 50 50 50 180 160 140 120 100 80 60 50 40 40 40 40 40 30 30 30 30 30 20 20 20 20 Quantidade de níquel (% em peso) Quantidade de níquel (% em peso) Quantidade de níquel (% em peso) Re sis tê nc ia à tr aç ão (M PA ) Re sis tê nc ia à tr aç ão (K Si) Re sis tê nc ia à tr aç ão (K Si) Re sis tê nc ia à tr aç ão (M PA ) Al on ga m en to (% p ol eg ad a 2 po le ga da ) 10 10 15 20 25 10 10 0 0 0 Fonte: CALLISTER, 2011 p. 140. (Adaptado). 3. Encruamento Este tipo de endurecimento ocorre quando os metais sofrem deformações plásticas como consequência de trabalhos mecânicos (cold hardening ou work hardening). O trabalho mecânico cria muitas deformações nos reticulados ao aumentar a densidade das discordâncias, deixando o material encruado. Con- sequentemente, a movimentação destas discordâncias é prejudicada, o que re- TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 19 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 19 05/03/20 14:50 100 200 0 010 1020 2030 3040 40 Percentual de trabalho a frio Cobre Cobre Latão Latão Aço SAE 1040 Aço SAE 1040 Percentual de trabalho a frio Te ns ão d e es co am en to (M Pa ) Re sis tê nc ia m ec ân ica Te ns ão d e es co am en to (k si) Re sis tê nc ia m ec ân ica 50 5060 6070 70 200 300 300 400 400 500 500 600 600 700 700 800 800 900 20 40 40 60 60 80 80 100 100 120 120 140 sulta em um aumento de sua resistência mecânica. Em suma, quanto maior o encruamento, maior a resistência do material. GRÁFICO 3. PARA O AÇO 1040, O LATÃO E O COBRE, (A) AUMENTO DO LIMITE DE ESCOAMENTO, (B) AUMENTO DO LIMITE DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO E (C) REDUÇÃO NA DUCTILIDADE (%AL) Du ct ib ili da de (A % ) Percentual de trabalho a frio Aço SAE 1040 Latão Cobre 00 10 10 20 20 30 30 40 40 50 50 60 60 70 70 Fonte: CALLISTER, 2011 p. 142. (Adaptado). A taxa de encruamento é dada pela fórmula representada na equação 2, em que CW corresponde à % de deformação a frio (cold work) e A0 e Ad correspon- dem às áreas inicial e deformada, respectivamente, do material. %cw = x 100A0 - Ad A0 TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 20 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 20 05/03/20 14:50 CURIOSIDADE O marmitex, recipiente de alumínio utilizado para colocar alimentos, deve estar parcialmente encruado para se obter a resistência necessária. Para avaliar esta característica no material, deve-se “amassar” e esticar o recipiente diversas vezes. Se o som que ele fizer for parecido com “cor- rentes arrastando-se pelo chão”, pode-se concluir que o material está devidamente encruado. GRÁFICO 4. RESFRIAMENTO CONTÍNUO PARA UM AÇO COM 0.32% C, 0.3% MN, 0.2% Si, 0.008% S, 0.017% P, 2.95% Ni, 0.69% Cr, 0.10% Mo, 0.31% Cu, 0.056% As.900 1650Austenitizado por 30 min. a 850 oC tamanho de grão ASTM 12 800 1470 700 1290 600 V1 (50) V2 (50)V1AC1 AC3 V2 V3 1110 te m pe ra tu ra °F te m pe ra tu ra °C 500 930 400 750 300 570 200 Martensita Bainita M50 M5 M90 390 100 100 Tempo, segundos 103 104 105101 212 ferrite + perlita Fonte: ASM, 1991 p. 58. (Adaptado). 4. Transformação de fase O endurecimento por transformação de fase tem como objetivo a formação de microconstituintes que podem alterar as propriedades do material. Normal- mente executada através de tratamentos térmicos, as transformações de fase afetam a morfologia e a distribuição das fases existentes, além das soluções sóli- das, e podem causar alterações na estrutura cristalina, como acontece nos aços. Esta alteração na estrutura gera uma mudança nos sistemas de escorregamen- to, resultando em aumento da resistência no material. Alguns diagramas e gráficos representam as estruturas que um material terá quando submetido a uma dada temperatura por um certo período de tempo. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 21 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 21 05/03/20 14:50 GRÁFICO 5. RESFRIAMENTO CONTÍNUO PARA UM AÇO COM 0.32% C, 0.3% Mn, 0.2% Si, 0.008% S, 0.017% P, 2.95% Ni, 0.69% Cr, 0.10% Mo, 0.31% Cu, 0.056% 900 1650 Austenitizado por 30 min. a 850 °C tamanho de grão ASTM 12 800 1470 700 1290 600 V1 (50) V2 (50)V1AC1 AC3 V2 V3 1110 te m pe ra tu ra °F te m pe ra tu ra °C 500 930 400 750 300 570 200 Martensita Bainita M50 M5 M90 390 100 100 Tempo, segundos 103 104 105101 212 ferrite + perlita Fonte: ASM, 1991 p. 58. (Adaptado). O Gráfico 4 mostra que, para um mesmo tipo de aço, um pequeno au- mento no tempo de resfriamento pode aumentar a formação de uma fase; no caso da martensita (V1), ela passa para bainita (V2), e assim por diante. Isso resultou em uma redução na dureza do material, que foi de 20/30 HRC para 86/97 HRB. Em suma, o material normalizou, aliviou suas tensões e, por isso, ficou menos duro. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 22 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 22 05/03/20 14:50 GRÁFICO 6. (a) TRANSFORMAÇÃO DE RESFRIAMENTO CONTÍNUO DE AÇO DIN 22CrMo44 E (b) O PADRÃO DE TENSÃO RESIDUAL CORRESPONDENTE Te m pe ra tu ra o C Te m pe ra tu ra o F 1000 1830 800 1470 600 1110 400 Superfície Centro 750 200 390 0 1000 1830 800 1470 600 1110 400 Superfície Centro 750 200 390 0 1000 1830 800 1470 600 1110 400 Superfície Centro 750 200 Tempo, s 390 0 1 10 100 103 (a) Te ns ão re sid ua l M PA Te ns ão re sid ua l K si -20 -3 0 0 +20 +3 Distribuição de tensão residual 100 mm diam 30 mm diam 10 mm diam -40 +20 +20 +3 +3 0 0 0 0 -20 -20 -3 -3 -6 Centro + = Tensão de tração - = Tensão de compressão Centro Centro Superfície Superfície Superfície (b) Fonte: ASM, 1991 p. 1333. (Adaptado). No Gráfico 5, o mesmo material mencionado anteriormente permaneceu menos tempo na temperatura austenitizante. Ele experenciou um resfria- mento acelerado, em que iniciou-se a formação de ferrita e perlita (V3), que apresenta uma dureza na faixa de 40 a 50 HRC. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 23 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 23 05/03/20 14:50 Para o Gráfico 6, com o mesmo tipo de aço, tem-se o caso (a) em que o material atingiu a temperatura de austenitização e logo foi resfriado, gerando uma estrutura perlítica no centro e bainítica na superfície. Ao aumentar um pouco mais a taxa de resfriamento (b), o material apresen- ta a formação de estruturas bainí- ticas no centro e superfície e, após algum tempo, está completamente coberto por uma microestrutura mar- tensítica. Esta estrutura pode atingir durezas entre 50 – 55 HRC. 5. Dispersão de partículas O endurecimento por dispersão de partículas, ou formação de segunda fase, acontece quando o limite de solubilidade é atingido. Estas fases pos- suem morfologia e composição completamente diferentes da matriz. Além disso, elas podem servir como barreiras, dificultando a movimentação de discordâncias, o que provoca o aumento da resistência do material. 5.1. Dispersão de partículas incoerentes A dispersão de partículas incoerentes acontece com maior frequência, se comparada às partículas coerentes. Neste caso, o reticulado da segunda fase é diferente da matriz, por isso é chamado de incoerente. Uma liga de alumínio, por exemplo, pode apresentar um precipitado, ou segunda fase, de AlCu2. O alumínio tem estrutura CFC, mas, no entanto, a fase formada de cobre possui estrutura ortorrômbica. 5.2. Dispersão de partículas coerentes As partículas de segunda fase são chamadas de coerentes, uma vez que possuem a mesma estrutura cristalina da matriz e podem apresentar uma dispersão muito grande. O tamanho de seus parâmetros, com relação aos da matriz, não diferem mais do que 15%. Com relação ao precipitado incoe- rente, seu tamanho pode chegara ser até 1000 vezes menor. Isso provoca uma dispersão muito maior no reticulado, o que restringe muito mais o mo- vimento das discordâncias. É devido a isso que os precipitados coerentes são mais endurecedores do que os incoerentes. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 24 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 24 05/03/20 14:50 Combinação de mecanismos de endurecimento em metais Na grande maioria das vezes, determinado processo de fabricação pode ser realizado no material para que haja uma combinação de fatores de endu- recimento. Um tratamento térmico, ao ser realizado no aço, pode formar soluções sólidas, refi nar os grãos e precipitar partículas de segunda fase. Esta combinação de fatores tem como objetivo melhorar as propriedades mecânicas, como a dureza, a resistência mecânica e o escoamento, entre outras. É o chamado “efeito cumulativo”, uma espécie de somatório dos efeitos do endurecimento por solução sólida + endurecimento por precipitação + endurecimen- to por refi no de grão + endurecimento por encruamento + endurecimento por transformação de fase. Fundamentos sobre tratamentos térmicos Tratamento térmico refere-se a operações realizadas nos materiais, com tempe- ratura e tempo controlados, que possuem como objetivo alterar suas propriedades. Já os tratamentos termomecânicos são aqueles que estão combinados com algum tipo de deformação mecânica, como laminação, extrusão etc. Da mesma maneira que os processos mecânicos, existem tratamentos que são aplicáveis a uma gama muito grande de aços e ligas. Todavia, existem alguns deles que são bastante restri- tos, seja devido às características do material ou às limitações de processo. A maioria dos tratamentos térmicos é realizada na peça inteira, ou seja, as al- terações afetarão desde a superfície até o centro do material. Outros tratamentos são superfi ciais, isto é, atingem determinada camada da superfície, deixando o centro com suas propriedades originais. Esses tratamentos envolvem uma altera- ção na composição química da região superfi cial da peça. Sua dureza, por exem- plo, torna-se muito maior na camada superfi cial (que pode variar entre 1 a 10 mm ou mais), enquanto o centro apresenta dureza mais baixa. Uma coisa deve fi car bem clara quanto aos tratamentos superfi ciais: além de serem conhecidos também como tratamentos termoquímicos, tais processos TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 25 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 25 05/03/20 14:50 necessitam de tratamento térmico após sua realização. Isso acontece porque a alteração na composição química nas camadas superfi ciais não é sufi ciente para alterar as propriedades na forma desejada. Há a necessidade de realização de um tratamento térmico adequado, para que estas se alterem. As propriedades ao lon- go de toda a peça se alteram de forma proporcional. Introdução Como já foi dito, as operações envolvendo aquecimento e resfriamento controlados, com o objetivo de alterar as características dos aços e suas ligas são intitulados de tratamentos térmicos. Os principais objetivos dos tratamen- tos térmicos são os seguintes: • Remover tensões provenientes de esfriamento desigual e trabalho mecâ- nico, entre outros; • Aumentar ou diminuir a dureza do material; • Aumentar a resistência mecânica. • Melhorar a ductilidade; • Melhorar a usinabilidade; • Melhorar a resistência ao desgaste; • Melhorar as propriedades de corte, como aumento da velocidade, resis- tência a temperaturas etc.; • Melhorar a resistência à corrosão, seja aumentando o tempo de exposição ou a resistência a diferentes ambientes corrosivos, entre outros; • Melhorar a resistência ao calor, ou resistência à fl uência; • Modifi car propriedades elétricas e magnéticas, como aumentar ou dimi- nuir a condução elétrica resistência, etc. Geralmente, consideram-se dois tipos diferentes de tratamentos térmicos que são utilizados para o alcance dessas propriedades: • Tratamentos termo físicos: são processos constituídos por aquecimento do material, conservação por certo período de tempo e resfriamento, que pode ser lento ou rápido; • Tratamentos termoquímicos: são processos que não apenas contemplam o aquecimento do material, como também a adição de elementos, a ser realiza- da na atmosfera de tratamento, a fi m de promover as alterações desejadas. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 26 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 26 05/03/20 14:50 Para o tratamento térmico de um aço, alguns fatores devem ser considera- dos. Entre eles, tem-se: • Aquecimento: temperatura que o material deve ser aquecido para alcan- çar a estrutura inicial desejada. • Tempo de permanência à temperatura de aquecimento: tempo para que a estrutura do material fi que homogênea ou precipite/elimine fases. • Resfriamento: taxa de resfriamento necessária para o material chegar na característica desejada. • Atmosfera do forno: constituintes internos do forno que podem provo- car, ou não, reações químicas no material. Tratamentos termofísicos Os tratamentos termofísicos são definidos por um processo de aque- cimento (para o aço chegar à austenitização), permanência na temperatu- ra (para a peça homogeneizar-se na estrutura austenítica) e resfriamento com velocidade e temperatura controlados (para atingir a microestrutura desejada). Os principais tratamentos termofísicos são: • Normalização; • Têmpera; • Revenimento; • Recozimento. O recozimento no aço tem como objetivo diminuir a dureza do material, melhorar sua usinabilidade, aliviar as tensões internas, geradas por processos como soldagem, fundição e conformação mecânica, ou simplesmente obter as propriedades e microestrutura desejadas. Quando um material sofre alguma deformação, parte desta energia apli- cada fi ca “gravada” na forma de discordâncias. Essa energia acumulada é sufi ciente para fazer com que o processo de deformação sofrido por ele re- torne à sua condição inicial. Para que isso aconteça, são necessários tempo e temperatura adequados e sufi cientes, em que o material possa eliminar estes defeitos. O recozimento passa, essencialmente, por três estágios: TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 27 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 27 05/03/20 14:50 • Recuperação ou alívio de ten- sões (subcrítico): neste primeiro estágio, que ocorre abaixo da linha A1 (entre 10 °C a 20 °C abaixo desta linha), há um restauro das discor- dâncias. A quantidade de defeitos continua igual, porém há um alívio de tensão. • Recristalização ou recozimen- to pleno: este estágio ocorre acima da linha A3 (50 °C), logo após a re- cuperação. Caracteriza-se pelo surgi- mento de cristais idênticos aos grãos originais (não-deformados), tanto em composição como estrutura. • Crescimento de grão: em tem- peraturas mais elevadas, os grãos recristalizados começam a cres- cer, pois absorvem parte de alguns grãos vizinhos. Os contornos de grão são “barreiras” para o movimento de discordân- cias, como já foi dito. Por isso, uma granulação mais grosseira deixa o ma- terial menos duro, bem como reduz sua resistência mecânica, aprimoran- do sua plasticidade e usinabilidade. Existem quatro tipos de recozimento: • Recozimento pleno; • Recozimento isotérmico; • Recozimento subcrítico; • Esferoidização ou recozimento intercrítico. Recozimento pleno – o aço é aquecido a temperaturas de 50 ºC acima das linhas críticas (linha A3 para os aços hipoeutetóides e A1 para hipereu- tetóides). Depois, ele é resfriado lentamente, dentro do forno. O objetivo é deixar a estrutura totalmente austenitizada e, ao esfriar, deixá-la seme- lhante à de equilíbrio. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 28 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 28 05/03/20 14:50 GRÁFICO 7. CURVA DE RESFRIAMENTO DE RECOZIMENTO PLENO Curva de resfriamento Tempo, esc. log. Ae3 Mi Mf Produto: perlita (ou perlita e ferrita ou perlita e cementita) Te m pe ra tu ra ºC Centroe superfície Fonte: CHIAVERINI, 2008, p. 56. (Adaptado). Recozimento isotérmico – é o aquecimento que ocorre da mesma ma- neira que o recozimento pleno, sucedido por um resfriamento rápido até certa temperatura. Esta é mantida até a total transformação do material. Apesar de ser bastante semelhante ao recozimento pleno, o recozimento isotérmico possui uma estrutura final bem mais uniforme. GRÁFICO 8. CURVA DE RESFRIAMENTO DE RECOZIMENTO ISOTÉRMICO (A) Tempo, esc. log. Curva de resfriamentoCentroSuperfície Ae3 Mi Mf Produto: perlita (ou perlita e ferrita ou perlita e cementita Te m pe ra tu ra ºC Fonte: CHIAVERINI, 2008, p. 58. (Adaptado). TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 29 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 29 05/03/20 14:50 Recozimento subcrítico (alívio de tensões) – o material é aquecido abaixo da linha A1 e depois resfriado ao ar. Transformações importantes ocorrem nesta faixa de temperatura, como a recuperação e a recristalização das fases encrua- das. Este recozimento ocorre quando necessita-se reduzir tensões residuais em estruturas ou componentes, como após soldagem, dobramento, têmpera, etc. Recozimento para esferoidização – é o processo normal de tratamento tér- mico (aquecimento e resfriamento), mas com o objetivo de criar uma estrutura globular ou esferoidal, composta de carbonetos de aço. Pode ser feito das se- guintes maneiras: • aquecimento (temperatura pouco acima da linha inferior de transformação) e resfriamento lento. • aquecimento (temperatura logo abaixo da linha inferior da zona crítica) por longo tempo. • aquecimento e resfriamento alternados (acima e abaixo da zona crítica). Normalização Constitui-se em aquecer o aço até sua total austenitização e, posteriormente, resfriá-lo ao ar. A austenitização é realizada em temperaturas acima de A1 ou Acm, e o resfriamento ao ar livre deve ser mais rápido do que no recozimento. A normalização pode ser usada para: • Refinar o grão. Devido à recristalização e homogeneização da estrutu- ra, pode-se alcançar melhores resultados na têmpera e revenimento; • Melhorar a usinabilidade; • Refinar estruturas brutas de fusão, como peças fundidas, por exemplo; • Atingir propriedades mecânicas desejadas. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 30 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 30 05/03/20 14:51 GRÁFICO 9. CICLOS TÉRMICOS (ESQUEMÁTICOS) DE RECOZIMENTO PLENO E NORMALIZAÇÃO Ciclo de aquecimento Normalização Recozimento Ferrita + austenita Perlita + austenita Ciclo de resfriamento Ac3 Ac1 Ms Tempo Fonte: ASM, 1991, p. 87. (Adaptado). Têmpera A têmpera tem como objetivo a obtenção de uma estrutura martensítica, mais dura e frágil. O material deve ser aquecido até sua total austenitização e depois resfriado rapidamente. A martensita se forma porque os átomos de carbono não se compõem em ferrita e cementita, difundindo-se com o ferro. Eles formam uma nova fase, contida nos interstícios da estrutura CCC do fer- ro. Nessa estrutura, a solubilidade do carbono é baixa e por isso ele deforma, ou seja, alarga, a célula unitária e forma uma estrutura chamada tetragonal de corpo centrado, resultando na geração de muitas tensões no reticulado. Algumas características da peça, como forma, tamanho e teor de carbono, determinam o meio de resfriamento a ser utilizado: líquido ou gasoso. Para meios líquidos, podem ser utilizados água, água contendo sal ou aditivos cáus- ticos, óleo e soluções aquosas de polímeros. Para os gasosos, tem-se ar ou hélio e argônio. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 31 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 31 05/03/20 14:51 Como resultado, a têmpera reduz a ductilidade, tenacidade e gera ten- sões internas. Para minimizar estes inconvenientes, o revenimento é feito no material. A têmpera é realizada em três etapas: aquecimento, permanência e res- friamento. • Aquecimento: o material é aquecido até sua austenitização (50 °C acima da A3 para aços hipoeutetóides e 50 °C acima da linha A1 para os hipereutetóides). A ferrita e a perlita que existem nos hipoeutetóides aus- tenitizam, ao passo que nos hipereutetóides a perlita austenitiza, mas a cementita continua imutável. • Permanência: é o tempo suficiente para o carbono solubilizar-se na austenita (CFC) e na peça inteira (centro e superfície). Na indústria, costu- ma-se utilizar 2 minutos/mm de espessura. • Resfriamento: é a redução da temperatura em tempo suficiente para que a austenita se transforme em martensita, mas sem transformar-se em nenhuma outra estrutura durante o processo. ASSISTA Para mais informações acerca da têmpera, assista a este vídeo, que mostra com mais detalhes o processo de têmpera total de anéis para rolamentos. Revenimento O material, após ter sido submetido à têmpe- ra, está com sua estrutura um pouco distorcida e acumula muitas tensões internas. Por isso, um tra- tamento de revenimento se faz necessário, a fim de evitar a formação de trincas e diminuir sua dureza e fragilidade. O material é aquecido a uma temperatura abaixo da temperatura de austenitização. De- pois, ele é mantido nesta temperatura por certo tempo, dependendo das propriedades desejadas. Quanto maior o tempo, maior a ductilidade e menor a dureza. O mesmo se diz para a temperatura de tratamento. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 32 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 32 05/03/20 14:51 GRÁFICO 10. TÊMPERA REALIZADA EM UM AÇO, SEGUIDO DE REVENIMENTO Tempo (escala log) Revenido para a dureza desejada Transformação Austenita + bainita Austenita Perlita Bainita Temperatura A Mi Mf Su pe rfí cie d a pe ça Ce nt ro d a pe ça Au ste nita + pe rlita Fonte: CHIAVERINI, 2008, p. 65. (Adaptado). Tratamentos termoquímicos Estes tratamentos são caracterizados pelas reações dos elementos conti- dos no ambiente com o material. Eles buscam aumentar a dureza superfi cial, mas manter a região interna, ou núcleo, dúctil. Também aprimoram outras ca- racterísticas, como resistência ao desgaste e corrosão a altas temperaturas. Por meio da difusão, elementos como carbono, boro, nitrogênio e outros são inseridos, ou seja, penetram, na estrutura, ou região superfi cial, do material. É importante salientar que o potencial do meio, isto é, a característica do ambiente de tratamento, como gás, líquido, sólido, é um fator importante no provimento do elemento de adição (C, N ou B). Além disso, características da peça, como solubilidade e difusão, determinam a capacidade dela em absorver o elemento. Existem diversos tipos de tratamentos, entre eles: cementação, nitretação e boretação. Cementação Consiste no processo em que a peça é aquecida em um ambiente rico em carbono. O elemento penetra na superfície do material por difusão, dissolven- TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 33 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 33 05/03/20 14:51 do-se na estrutura. A temperatura de aquecimento deve ser suficiente para austenitizar o aço. O tempo de permanência no banho deve ser proporcional à camada rica em carbono que se deseja. Normalmente, este tratamento é feito para aços com até 0,3% C. Além disso, a quantidade de carbono diminui à medida que se direciona para o centro da peça. Após a cementação, o aço deve ser temperado e revenido. GRÁFICO 11. INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA E DO TEMPO NA PROFUNDIDADE DE PENETRAÇÃO 5.0 0.20 4.0 0.16 3.0 0.12 2.0 0.08 1.0 0.04 0 0 0 5 10 15 Tempo de cementação (h) Pr of un di da de d e pe ne tra çã o to ta l ( po le ga da ) Pr of un di da de d e pe ne tra çã o to ta l ( m ilí m et ro ) 20 25 30 955 oC 927 oC 899 oC 871 oC Fonte: ASM, 1991 p. 727. (Adaptado). O Gráfico 11 mostra a profundidade de penetração de carbono, em mm e polegadas, de acordo com o tempo, em horas, para um material tratado a 871 °C, 899 °C, 927 °C e 955 °C. Nitretação Semelhante à cementação, a nitretação consiste na introdução de nitrogênio na superfíciedo material. A quantidade de carbono da composição superficial não se altera e a camada de nitrogênio possui uma espessura menor. A tempe- ratura de tratamento é menor que a de austenitização (500 °C e 560 °C) e o ferro ligado ao nitrogênio formará o nitreto de ferro, que possui alta dureza. Após a nitretação, o aço deve ser temperado, a fim de alcançar a dureza requerida. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 34 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 34 05/03/20 14:51 Existem alguns tipos de nitretação, entre eles: gasosa líquida e iônica. Peças nitretadas possuem alta dureza e, por isso, é recomendável que o resfriamento no tratamento seja rápido, visto que assim o nitrogênio fica retido em solução sólida. GRÁFICO 12. PROFUNDIDADE DE PENETRAÇÃO OBTIDA PARA ALGUNS AÇOS NITRETADOS Pr of un di da de d e ni tre ta çã o (m m ) Horas 1,0 0,15%C 0,45%C Aço-liga ao cromo 0,5 0 5 10 Fonte: CHIAVERINI, 2008, p. 134. (Adaptado). O Gráfico 12 mostra a porcentagem de nitretação, em mm, de acordo com a quantidade de horas do material dentro do forno (0, 5 e 10 horas), para um aço com 0,15% de C, 0,45% de C e aço-liga ao cromo. Boretação Consiste na formação de boreto de ferro na superfície do material, que possui elevada dureza, a partir de um tratamento utilizando carboneto de boro, em tem- peraturas entre 800 °C a 1050 °C. Da mesma maneira que a nitretação, a porcenta- gem de carbono na superfície não sofre influência neste tratamento. A dureza é mais alta que a da cementação e nitretação, e o material apresenta alta resistência à corrosão, assim como ao desgaste. Em contrapartida, o acabamento da peça é dificulta- do, assim como a sua resistência à fadiga é baixa. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 35 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 35 05/03/20 14:51 Sintetizando Nesta unidade foram apresentados conceitos de microestruturas, como elas surgem e seus componentes internos. Enfatizou-se a importância do co- nhecimento sobre as fases e seus constituintes, uma vez que muitas proprie- dades dos materiais provêm das fases presentes, bem como de sua morfologia e distribuição na microestrutura. Além disso, foram apresentados os principais mecanismos de endurecimento nos metais. Estes mecanismos podem provo- car alterações nas fases e suas microestruturas, alterando as propriedades dos materiais. Deve-se atentar para o fato de que sempre ocorre uma combinação de mecanismos para o endurecimento dos metais. Por fim, foram apresenta- dos conceitos sobre tratamentos térmicos, e os principais tratamentos nos metais, em especial os aços, foram expostos, a fim de formar uma base de co- nhecimentos sobre estes processos. Alguns podem ser aplicados a uma gama enorme de ligas de aço, ao passo que outros não. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 36 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 36 05/03/20 14:51 Referências bibliográficas ASM. Heat treating. Cleveland, OH: ASM International, 1991 (ASM Handbook, v. 4). CALLISTER, W. D., Materials science and engineering: an introduction. 3. ed. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 2011. CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos. 5. ed. São Paulo: ABM, 1982. CHIAVERINI, V. Tratamentos térmicos das ligas metálicas. São Paulo: ABM, 2008. COSTA E SILVA, A. L.; MEI, P. R. Aços e ligas especiais. São Paulo: Edgard Blu- cher, 2006. DIETER, G. Metalurgia mecânica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. HONEYCOMBE, R. W. K.; BHADESHIA, H. K. D. H. Steels – microstructures and properties. 2 ed. Londres: Edward Arnold, 1995. TÊMPERA total de Anéis para Rolamentos até Ø1.800mm. Postado por Aços Roman | A.R. Rolamentos. (3 min. 10s.). son. color. leg. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=YoHtp8YF0dg>. Acesso em: 13 jan. 2019. VAN VLACK, L. H. Princípios de ciências dos materiais. 5. ed. São Paulo: Cam- pus, 1984. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 37 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID1.indd 37 05/03/20 14:51 TRATAMENTOS ISOTÉRMICOS E TERMOMECÂNICOS 2 UNIDADE SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 38 05/03/20 14:39 Objetivo da unidade Tópicos de estudo Compreender os conceitos iniciais a respeito dos tratamentos isotérmicos, termomecânicos e termoquímicos dos aços e ferros fundidos. Tratamentos isotérmicos Metais Ligação metálica para forma- ção dos cristais Microestrutura e equilíbrio de fases Curvas isotérmicas Tratamentos termomecânicos Comportamento mecânico das ligas de aço Objetivos e variações Analisando os diagramas de fase ferro-carbono Exemplos TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 39 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 39 05/03/20 14:39 Tratamentos isotérmicos Para se classifi car os mais diversos materiais de uso em engenharia, é co- mum se usar um sistema baseado na composição química e no arranjo atômi- co que formam sua microestrutura. Dessa forma, eles podem ser classifi cados como cerâmicos, poliméricos ou metálicos. Essas são as três classifi cações básicas, afi nal, a cada dia, novas pesquisas propõem a combinação desses três tipos para usos específi cos: os chamados compósitos, que são desenvolvidos em estudos avançados. Todavia, a grande maioria das aplicações da engenharia utiliza uma das três formas básicas: polímeros (popularmente chamados de plásticos), cerâmicos ou metálicos. Quando se trata de tratamentos térmicos, termoquímicos e superfi ciais, os estudos são direcionados ao mundo dos metálicos em suas mais diversas funções, como em aplicações aeroespaciais, ligas de aço e alumínio, materiais estruturais, diferentes tipos de aços, entre outros. Na Figura 1, pode-se verifi car uma estrutura metálica em que estão aplicados vários elementos diferentes: os perfi s W, que são extrudados, os parafusos e por- cas, que são forjados, e os cordões de solda. Cada um desses elementos, apesar de classifi cado como aço, possui características mecânicas diferentes devido às diferentes formas de fabricação e exposições térmicas às quais foi submetido. Figura 1. Estrutura metálica. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/02/2020. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 40 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 40 05/03/20 14:40 Metais Metais básicos de aplicação em engenharia, como o ferro, alumínio, cobre, níquel e bronze podem possuir elementos não metálicos na sua composição, como o carbono e o nitrogênio. Os chamados aços são ligas de ferro com per- centuais de carbono em suas estruturas cristalinas. Os diferentes tipos são defi nidos pelo percentual de carbono e outros elementos, como magnésio e molibdênio, que defi nem grande parte de suas características mecânicas. Os materiais metálicos possuem uma estrutura cristalina ordenada, o que os confere uma alta resistência. Essa ordenação molecular permite suportar deformações plásticas e elásticas antes de se romper, característica que pos- sibilita a conformação de chapas de aço nos mais diversos formatos, como a lateral de um carro. A maleabilidade e a conformação são chamadas de ducti- lidade, que é exatamente o contrário de “dureza”. Logo, quanto mais duro um aço, menos dúctil ele é, isto é, ele vai se deformar pouco antes de quebrar. Outra característica marcante dos metais é a alta capacidade de condutividade térmica e elétrica, visto que os elétrons da estrutura cristalina têm grande liber- dade de movimento. Com isso, os metais acabam sendo excelentes opções para inúmeras aplicações, como em estruturas, vasos de pressão, motores, elementos de máquinas, como engrenagens e parafusos, soluções de soldagem, turbinas, ar- mas, peças de design, entre outras utilidades industriais e do nosso dia a dia. DIAGRAMA 1. CLASSIFICAÇÃO DE MATERIAIS METÁLICOS Ligas metálicas Ferros fundidos Aço ferramenta Aço inoxidável Alta liga Não ferrosas (ligas de Al, Cu, Mg, Ti) Baixa liga (baixo a alto teor de carbono) Ferrosas Aços Fonte: CALLISTER; RETHWISCH, 2014. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS41 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 41 05/03/20 14:40 No Diagrama 1, observamos que as ligas metálicas podem ser ferrosas ou não ferrosas (como alumínio, cobre e titânio) de acordo com a presença de ferro em sua composição. Os aços são exemplos de ligas metálicas ferro- sas que possuem carbono em sua composição. Eles são usados em muitas aplicações da engenharia pela versatilidade conferida em suas propriedades mecânicas de acordo com os percentuais de carbono e demais elementos de liga adicionados em sua composição. Além disso, permitem a utilização de técnicas de tratamentos térmicos que conferem características estruturais e superficiais extremamente úteis em aplicações específicas, como, por exem- plo, quando se faz necessário aumentar a dureza superficial de algum com- ponente que será exposto à grande abrasão (como dentes de engrenagens ou pistas de rolamentos). As características mecânicas dos metais têm relações com as proprieda- des de suas microestruturas. Essas microestruturas podem ser controladas com o uso de tratamentos térmicos adequados, assim, é fundamental, para o profissional responsável pela definição dos materiais de um projeto, enten- der os mecanismos de fases e os possíveis componentes de uma composição microestrutural de qualquer liga metálica, e por quais maneiras essas estru- turas com características específicas podem ser obtidas. Afinal, uma solução sólida é obtida quando os componentes de um soluto são colocados em um solvente sem que haja a alteração da estrutura cristalina do metal. Assim como nem todo açúcar se dissolve na água depois de certa quantidade, existe um limite de soluto que consegue se dissolver na composição do metal, ocu- pando os espaços intersticiais da estrutura cristalina do solvente ou substi- tuindo alguns átomos originais. Este percentual de soluto é denominado limite de solubilidade, que, em porcentagem atômica, é descrito como %a e, em porcentagem de peso, é descrito como %p. Esses limites variam de acordo com a temperatura, assim como o açúcar que, quanto mais quente estiver a água, mais açúcar se dissolve. Se o percentual de soluto ultrapassar esse limite de solubilidade, ocorrerá formação de uma solução sólida ou algum composto adicional sem ligação atômica com o solvente. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 42 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 42 05/03/20 14:40 Ligação metálica para formação dos cristais As ligas metálicas tipicamente estruturam-se de forma cristalina com ligações metálicas. Nessas ligações, os elétrons de valência livres formam nuvens, e os de- mais formam núcleos iônicos com cargas positivas. Os elétrons, em ligações metálicas, têm liberdade, o que consolida a proprieda- de de boa condutividade elétrica que os metais possuem. Dessa forma, fi ca clara a relação que a estrutura cristalina e os tipos de ligações atômicas têm com as propriedades dos materiais. Assim como a condutividade elétrica, a ductilidade dos metais se preconiza pelo tipo de ligação metálica conferida por seus átomos. A ductibilidade pode ser melhor compreendida como a capacidade do material de suportar grandes cargas, e sofrer deformação elástica e permanente antes de ocorrer a ruptura. Assim, a fl exibilidade dos metais se dá pela característica não direcional das ligações metálicas. Assim, pode-se dizer que as peças metálicas são sólidos cristalinos formados por ligações metálicas. Logo, são materiais em que os arranjos atômicos são or- ganizados, e a estrutura cristalina defi ne o formato dos arranjos que os átomos se distribuem no espaço. Essas montagens cristalinas são tridimensionais e de padrão repetitivo. Para entender essa distribuição, pode-se observar a Figura 2, onde os átomos são mostrados como esferas. Percebe-se que há repetição de arranjo atômico de longo alcance; e o que se repete é o agrupamento chamado de célula unitária. A Figura 2 ilustra o conceito de célula unitária por meio do modelo de esferas rígidas. Ao observá-la, podemos entender que o cubo formado como a tal célula unitária consolida a estrutura cristalina. Figura 2. Célula unitária elementar de uma estrutura cristalina. Fonte: CALLISTER; RETHWISCH, 2014. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 43 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 43 05/03/20 14:41 Sendo os metais sólidos cristalinos, durante a solidificação que ocorre nas usi- nas metalúrgicas no momento da fabricação das ligas de aço, esses cristais ge- ram orientações cristalográficas aleatórias que, quando se encontram, criam os contornos de grão. Cada agrupamento de cristais com a mesma orientação crista- lográfica costuma ser chamado de grão. CURIOSIDADE Existe um software interativo chamado de Crystal Walk. Com ele é pos- sível simular a construção de estruturas cristalinas e visualizá-las tridi- mensionalmente. O entendimento das ligações atômicas e da formação cristalina dos aços é fundamental para a definição de tratamentos isotérmicos. As ligações dos átomos nas proximidades dos contornos de grão são irregulares, o que pode causar um crescimento na energia nessas regiões, aumentando a resistência do material devido ao aumento das forças de coesão. Porém, pode ter um efeito negativo em algumas aplicações, uma vez que os contornos se tornam regiões mais susceptíveis à corrosão. Para situações como essas, em que o engenheiro precisa melhorar alguma propriedade específica de um determi- nado metal, o ideal é buscar tratamentos térmicos e superficiais alternativos. Os grãos em uma amostra policristalina monofásica geralmente estão em muitas orientações diferentes e, portanto, são possíveis muitos tipos de limites. A natureza de qualquer limite depende da desorientação dos dois grãos adjacentes e da orientação do plano do limite em relação a eles. As redes de quaisquer dois grãos podem coincidir girando um deles por um ân- gulo adequado em torno de um único eixo. Em geral, o eixo de rotação não será simplesmente orientado em relação ao grão ou ao plano de limite de grão, mas existem dois tipos especiais que são relativamente simples. Estes são limites puros de inclinação e limites puros de torção, conforme ilustrado na Figura 3. Um limite de inclinação ocorre quando o eixo de rotação é paralelo ao plano do limite, enquanto um limite de torção é formado quando o eixo de rotação é perpendicular ao limite. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 44 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 44 05/03/20 14:41 Eixo de rotação (a) (b) θ θ Plano de fronteira Plano de fronteira Eixo de rotação Figura 3. As orientações relativas dos cristais e o contorno que forma. Fonte: PORTER et al., 2009. (Adaptado). O nível de resistência de um metal tem relação direta com tamanho de grão. Afi nal, quanto menores os grãos, o metal acaba sendo mais resistente devido ao aumento da quantidade de barreiras que impedem o movimento. Porém, grãos maiores podem ser importantes em algumas aplicações, sendo possível obtê-los com o uso de tratamentos térmicos específi cos. Microestrutura e equilíbrio de fases Para compreender os mecanismos de transformação envolvidos nos tra- tamentos isotérmicos, primeiramente é fundamental compreender que cada material possui propriedades específi cas e fases que variam em função de sua composição química e da temperatura. Um exemplo mais básico de nosso dia a dia é a própria água, que possui um diagrama de fases que conhecemos na prática: em certas condições ela está líquida, mas, dependendo da temperatura e pressão, ela pode solidifi car como gelo ou vaporizar. O Diagrama 2 mostra as fases da água, sendo que as variáveis relevantes são: temperatura, apresentada no eixo horizontal, em °C, e a pressão, apresentada no eixo vertical, em atm. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 45 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 45 05/03/20 14:41 DIAGRAMA 2. DIAGRAMA DE FASE DA ÁGUA Fonte: CALLISTER; RETHWISCH,2014. (Adaptado). Assim como a água, todas as demais substâncias possuem sua identidade descrita como um diagrama de fases. No caso dos metais, as variáveis mais im- portantes são a composição ou percentual de certo elemento de liga, e a tem- peratura, que diferentemente da água, apresentam temperatura e pressão. O Diagrama 3 exemplifi ca as fases de uma liga metálica de chumbo-es- tanho. No eixo horizontal é listado o percentual de estanho (% Sn) e no ver- tical a temperatura - tanto um eixo quanto o outro mostram bases diferen- tes para auxiliar a compreensão do usuário. No eixo horizontal inferior, o percentual de estanho é em relação ao peso percentual; no superior, em percentual atômico, assim como a temperatura, em que o eixo vertical à esquerda apresenta a escala em °C, tendo o eixo vertical à direita com as temperaturas em °F. Nesse diagrama, fi ca evidente que, dependendo do percentual de chumbo (Pb) e estanho (Sn) da liga, e da temperatura, o material apresenta regiões monofásicas sólidas, como a, regiões bifásicas sólidas, como a + b, regiões puramente líquidas e, ainda, regiões onde ocorrem soluções sólico+líquido, como as a + L e a b + L. 1.000 -20 0 20 40 60 80 100 120 Pr es sã o (a tm ) Temperatura (ºC) Sólido (gelo) Líquido (água) Gás (vapor d’água) 100 10 1,0 0,1 0,01 0,001 TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 46 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 46 05/03/20 14:41 DIAGRAMA 3. DIAGRAMA DE FASE DE UMA LIGA CHUMBO (Pb)-ESTANHO (Sn) Fonte: CALLISTER; RETHWISCH, 2014. (Adaptado). Curvas isotérmicas Cada liga metálica possui características particulares de formação de mi- croestruturas cristalinas que variam de acordo com o tempo de exposição à determinada temperatura e de acordo com a forma de resfriamento. Essas ca- racterísticas são descritas nos diagramas de transformação isotérmica, muito conhecidos no mundo da engenharia como as curvas de tempo-temperatu- ra-transformação ou simplesmente por seus acrônimos TTT. Elas nada mais são que diagramas que defi nem as relações entre o tempo de resfriamento e as transformações microestruturais que, por sua vez, são dependentes do tempo de permanência de determinada liga à certa temperatura constante. No Diagrama 4 fi ca ainda mais evidente o efeito das transformações iso- térmicas. Existem duas curvas que defi nem os tempos de começo e fi nal das transformações de fase do aço em questão: a da esquerda mostra o começo da transformação e a curva da direita o término. Nos pontos A, B e C, a estru- tura é 100% austenítica; entre os pontos C e D, a estrutura é uma solução de austenita+perlita; e do ponto D em diante, a estrutura é 100 % perlita. 0 0 0 20 20 40 40 60 Composição %a Composição %p Sn 60 80 80 100 100 (Sn)(Pb) 100 600 500 400 300 200 300 Te m pe ra tu ra (° C) Te m pe ra tu ra (° F) 200 α + L α + β100 Líquido 18.3 61.9 97.8 183° 232°C D F G E B C A β + Lα β 327 °C TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 47 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 47 05/03/20 14:41 DIAGRAMA 4. TRANSFORMAÇÃO ISOTÉRMICA DO AÇO CARBONO EUTETOIDE (0,77% C) Fonte: CALLISTER; RETHWISCH, 2014. (Adaptado). Esses tratamentos isotérmicos, de modo geral, podem ter duas finalidades básicas: amolecimento ou endurecimento. O amolecimento é recomendado em casos de necessidade de remoção de tensões residuais oriundas dos processos de fabricação, como laminação, for- jamento e trefilação, ou ainda, em regiões soldadas. Esses processos encruam o material e, por meio de tratamentos isotérmicos, consegue-se restaurar a ductilidade. Um tratamento de amolecimento muito comum em um ambien- te industrial é a normalização. O aço é aquecido acima da sua zona crítica de temperatura e, em seguida, é removido do forno e colocado para resfriar em temperatura ambiente. Outra forma de amolecer o aço é utilizando do tratamento de recozimento. Ele é muito parecido com a normalização, porém, ao invés de retirar a peça do forno, desliga-se o forno, e o resfriamento é muito mais lento. 727 ºC Austenita (estável) Temperatura eutetoide Ferrita α Perlita fina Perlita grosseira Fe3C Transformação austenita → perita 700 600 A B C D 500 1 s 1 10 10² TEMPO (s) TE M PE RA TU RA ºC TE M PE RA TU RA ºF 10³ 104 105 1 min 1 h 1 dia 1400 1200 1000 800 γ γ γ γ γ γ γ Indica que uma transformação está ocorrendo TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 48 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 48 05/03/20 14:41 Já para o endurecimento, esses tratamentos isotérmicos são indicados quando a finalidade é o aumento da resistência mecânica ou o desgaste. Pode contribuir em casos de projetos de estruturas estáticas, para o aumento da resistência à fadiga, ou ainda, para situações de abrasão em que o aumento da resistência superficial é indispensável, como em casos de mancais de desliza- mentos, virabrequins e hélices de turbinas. Um tratamento de endurecimento bastante recorrente é a têmpera. Nesse caso, o aço é aquecido acima da sua zona crítica de temperatura e, em seguida, é resfriado rapidamente em água ou óleo. Trata-se de um processo usado des- de a antiguidade pelos romanos que, na época, usavam para endurecer suas espadas e ferramentas. O resfriamento rápido busca evitar a formação de per- lita e bainita, tornando a microestrutura basicamente formada por martensita, muito mais dura que as anteriores, porém mais frágil. Para um tratamento ser classificado formalmente como isotérmico, deverá existir uma fase de resfriamento em que a temperatura permanece constante por certo tempo. Logo, a têmpera, a rigor, não seria um tratamento isotérmico, assim como a normalização e o recozimento também não são, por se carac- terizarem como decréscimos constantes de temperatura, mas, em momento algum acontece a fixação da temperatura por um determinado tempo. Porém, apesar desses processos clássicos não se enquadrarem como transformações isotérmicas, algumas de suas derivações podem ser enquadradas, como é o caso da martêmpera e da austêmpera. A austêmpera é um tratamento isotérmico indicado a aços de alto teor de carbono. Nesse processo, o aço é aquecido a uma temperatura superior a 800 ºC (dependendo do teor de carbono) até se tornar totalmente austenítico. Esse processo é representado no Gráfico 1, e o primeiro passo de aquecimen- to é indicado na posição um. A partir daí, inicia-se o resfriamento rápido até temperaturas mostradas na posição dois da figura, entre 260 °C e 440 ºC (dependendo do teor de carbono). Ele permanece nessa tempera- tura logo acima da linha horizontal superior de formação de martensita por um tempo, cruzando as duas curvas TTT de início e de fim de transformação, e modificando a austenita em bainita, como mostrado na posição três. Por fim, o aço é resfriado ao ar livre até a posição quatro. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 49 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 49 05/03/20 14:41 GRÁFICO 1. CURVA TTT DE UM AÇO COM ALTO TEOR DE CARBONO – AUSTÊMPERA ASSISTA A austêmpera é um processo especializado que fornece controle de distorção excepcional e resistência à alta du- reza. Isso é obtido por meio da transformação isotérmica do aço para produzir microestrutura predominantemente bainítica. Veja um exemplo no vídeo Displacements due to bainite transformation (deslocamentos devido à transfor- mação de bainita, em tradução livre). A martêmpera é um tratamento isotérmico indicado a aços-liga com o ob- jetivo principal de aliviar tensões e reduzir o risco de trincas em peças. Também nesse processo, inicialmente, o aço é aquecido acima de 800 ºC (dependendo do teor de carbono) até se tornar totalmente austenítico, conforme mostrado na posição um do Gráfico 2. A partir daí, o resfriamento se diferencia da aus- Tempo em segundos Cur va de iníc io de tra nsf orm açã o Curv a de fim de tran sform ação Posição 1Posição 2 Posição 3 Posição 4 Linha A1 Campo da austenita A1 ºC 440 260 Produto final: bainita FIM DO PROCESSO Mi Mf Fonte: CHIAVERINI, 2008. (Adaptado). TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 50 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 50 05/03/20 14:41 têmpera, principalmente por ocorrer em dois estágios: primeiramente, o aço é colocado em um banho de sal ou óleo até atingir a posição dois – a temperatura é um pouco acima da linha horizontal superior da martensita (Mi). Estabiliza-se a temperatura por certo tempo até atingir a posição três (antes da curva de início de transformação) para então seguir para o próximo estágio de resfria- mento, quando ele é colocado à temperatura ambiente até estabilizar abaixo da linha horizontal inferior da martensita (Mf). GRÁFICO 2. CURVA TTT DE UM AÇO-LIGA – MARTÊMPERA Nota-se ainda que, após a martêmpera, é indicado um processo de re- venimento. Em condições reais, são usados os aços-liga caracterizados com estrutura de martêmpera revenida, reduzindo, assim, as tensões residuais e a probabilidade de geração de trincas, o que aumenta a resistência à fadiga desse material. Tempo em segundos Cur va de iníc io de tra nsf orm açã o Curva de fi m de trans form ação Posição 1 Posição 2 Posição 3 Posição 4 Linha A1 Campo da austenita Martensita Martensita revenida Revenida A1 ºC 440 260 Produto final: martensita revenida FIM DO PROCESSO Mi Mf Fonte: CHIAVERINI, 2008. (Adaptado). TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 51 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 51 05/03/20 14:41 A vantagem de martemperar à temperatura baixa re- side no gradiente térmico reduzido entre a superfície e o centro, à medida que a peça é temperada até a temperatura isotérmica e, em seguida, resfriada a ar até a temperatura ambiente. As tensões residuais desenvolvi- das durante esse tratamento térmico são menores do que as desen- volvidas durante a têmpera convencional, porque as maiores variações térmicas ocorrem enquanto o aço está na condição austenítica relativamente plástica, além da transformação fi nal e as mudanças térmicas ocorrerem em toda peça aproximadamente ao mesmo tempo. A martêmpera também reduz ou elimina a suscetibilidade a rachaduras. Outro detalhe é a possibilidade da martêmpera em sal fundido. Com isso, pode-se controlar melhor a cementação ou descarbonetação da superfície. Quando o banho de austenitização é em sal neutro, controlado pela adição de gás metano ou retifi cadores proprietários para manter sua neutralidade, as peças são protegidas com um revestimento residual deste sal até imersão no banho fi nal de resfriamento. Assim, sendo a martensita uma estrutura cristalina de alta resistência, ela tem características de fragilidade, por isso a indicação de um processo de re- venido após a martêmpera. Esse processo prevê o aquecimento do aço a uma temperatura abaixo da temperatura de transformação eutetoide (o cotovelo da curva TTT do aço em questão). Nesse ponto, a temperatura é estabilizada por certo tempo para ser resfriada. Com isso, é reduzida a fragilidade da marten- sita, o que reduz, também, um pouco da resistência do material, mas com um ganho considerável de ductilidade. Tratamentos termomecânicos Nos últimos anos, tem havido mais interesse na interdependência das opera- ções de trabalho a quente e tratamento térmico. Em muitas aplicações críticas, as propriedades fi nais desejadas não são atingíveis por tratamento térmico se a operação de trabalho a quente não tiver sido realizada sob temperatura con- trolada e parâmetros de deformação. Isso requer um estudo conhecido como processamento termomecânico. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 52 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 52 05/03/20 14:41 Os tratamentos termomecânicos envolvem a aplicação simultânea de varia- ção de temperatura e deformações em ligas metálicas, com a fi nalidade de mu- dar sua forma e, fi nalmente, refi nar sua microestrutura em prol de melhores propriedades. A deformação em processos produtivos para essa fi nalidade é a laminação a quente, visto que o processo é capaz de lidar com grandes quan- tidades de aço e ainda pode ser submetido a controle e automação precisos. Toneladas de materiais passam por um forno de retenção e são introduzi- dos na sequência de rolos de laminação a temperaturas que costumam variar de 1200 a 1300 °C. Eles são progressivamente laminados em uma variedade de formas, dependendo da programação. Essa deformação a quente leva a uma quebra da microestrutura grosseira original, que existe no estado fundido por recristalização repetida do aço enquanto na condição austenítica, ao mesmo tempo reduzindo gradualmente à escala de comprimento e magnitude de qual- quer segregação química. Quaisquer inclusões não metálicas, isto é, óxidos, sulfuretos e silicatos, são quebradas. Algumas são deformadas e distribuídas por todo o aço de uma maneira mais refi nada e uniforme. A laminação a quente não se limita à produção apenas de chapas regulares. Com o projeto apropriado de rolo e sequência de rolamento, ela pode ser aplicada para fazer hastes, trilhos, vigas para construção de infraestruturas, entre outros. EXPLICANDO Atualmente, o processo de laminação a quente é uma operação refi nada em que mais de um bilhão de toneladas de aço são produzidas anualmente usando matrizes automatizadas de equipamentos, o que resulta em níveis impressionantes de produtividade e repetibilidade. As composições dos aços de baixa liga são escolhidas cuidadosamente para fornecer ótimas propriedades mecânicas quando a deformação a quente e o resfriamento subsequente estiverem completos. Comportamento mecânico das ligas de aço O tratamento termomecânico de ligas de aço está diretamente relacionado com os comportamentos mecânicos que um metal deverá ter para suprir às necessida- des defi nidas pelo engenheiro de projetos. Para isso, é fundamental o perfeito en- tendimento dos mecanismos de formações microestruturais e da interrelação disso com os tempos e temperaturas que defi nem o diagrama TTT do material específi co. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS E SUPERFICIAIS 53 SER_ENGMEC_TRATERMOSUP_UNID2.indd 53 05/03/20 14:41 As características mecânicas das ligas ferro-carbono estão diretamente re- lacionadas com suas microestruturas cristalinas, que podem ser controladas por meio de tratamentos térmicos e processamentos termomecânicos. O com- portamento dos componentes cristalinos mais frequentemente encontrado nas ligas de aço é: • Perlita: aumentando o percentual de cementita, aumentar-se-á, por con- seguinte, a resistência do material, ou seja, seus limites de escoamento e de resistência à tração serão mais altos. Isso se dá pela dureza da perlita, contudo, há sempre um preço a se pagar: se a resistência aumenta, a fragilidade tam- bém aumenta, afinal, a cementita é mais frágil que a ferrita. Lembrando que fragilidade é sinônimo de baixa ductilidade, isto é, baixa capacidade de defor- mação elástica e plástica antes de se romper; • Cementita global: aquecendo uma liga de aço até uma temperatura logo abaixo da eutetoide (o “cotovelo” da curva TTT) e mantendo nessa temperatu- ra por longo período, a cementita se transforma de lamelar para uma forma próxima a uma esfera, chamada cementita global. Essa transformação deixa o aço mais dúctil e, em contrapartida, menos resistente. É um tipo de tratamen- to bastante comum em chapas ou barras de aço que deverão ser dobradas e conformadas. Após essas conformações, a peça final pode passar por outros tratamentos que aumentam sua resistência e dureza novamente; • Bainita: sendo uma estrutura cristalina mais refinada em relação à perlita (ferrita e cementita), o aço adquire uma característica de maior resistência; • Martensita: de todas as formas cristalinas do aço, essa é a estrutura mais resistente que pode ser obtida por meio de tratamentos térmicos e termome-
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