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1 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. Envelhecimento MUDANÇAS MORFOFUNCIONAIS DO ENVELHECIMENTO A senescência são os efeitos naturais do envelhecimento sobre órgãos ou sistemas. Já a senilidade são efeitos das doenças que ocorrem simultaneamente ao envelhecimento naquele órgão ou naquele sistema. Desse modo, podemos ter alterações cardíacas, por exemplo, naturais do envelhecimento, como o enrijecimento do coração, mas além disso, podemos além disso, ter efeitos de uma HAS sistêmica não controlada ao longo da vida e que aumentou a massa ventricular e com isso piora esse enrijecimento cardíaco, nesse caso, há efeitos da senescência e da senilidade. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/saude-e- ciencia/caminhoneiro-se-expoe-ao-sol-por-28-anos-fica- com-uma-metade-do-rosto-muito-mais-envelhecida-que- outra-5103862.html Esse homem era caminhoneiro e trabalhava muito com apenas um lado exposto ao sol. Do lado esquerdo da imagem mostra a pele com envelhecimento normal e do lado direito mostra a pele com o envelhecimento com senilidade, em que o excesso de exposição ao sol, adiantou esse envelhecimento. Outro conceito importante, deriva do conceito de homeostase (que é a propriedade que o corpo tem de manter o seu equilíbrio dinâmico necessário para realizar as suas funções, um exemplo disso, é que o corpo está o tempo todo se esforçando para manter o PH sanguíneo normal, níveis adequados de sódio, potássio...) Mas com o envelhecimento acontece um fenômeno chamado de homeostenose, que é a perda de reservas orgânicas e funcionais e da capacidade de adaptação a sobrecargas. Característica inerente ao envelhecimento. Um outro conceito fundamental é o de reserva funcional (em que essa reserva funcional é uma espécie de “poupança da saúde”). Um jovem tem 100% da capacidade pulmonar, por exemplo, e no dia ele está usando 20%, supondo que ele sofra um estresse orgânico, ele vai precisar usar mais da sua reserva, mas como ele tem uma boa reserva, isso não alterará muito a sua função. No caso do idoso, que está passando por homeostenose, as reservas funcionais diminuem e 2 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. capacidade máxima pulmonar dele por exemplo, chega a mais ou menos 70% e quando esse idoso sofre algum estresse orgânico, ele vai precisar usar mais da sua reserva, porém, há um problema aí, já que o limite do idoso não é mais como o do limite jovem e aí fica mais difícil de o organismo desse idoso alcançar a homeostase, que seria o equilíbrio, gerando uma descompensação. OBS: envelhecimento ou senescência, não é uma doença, é um processo biológico universal, mas apesar de não ser uma doença, nessa fase as reservas funcionais diminuem e esse processo, ainda é um mecanismo misterioso. ALTERAÇÕES NAS CÉLULAS Nas células, no núcleo é notado um encurtamento dos cromossomos. No citoplasma, é notado grânulos pigmentares castanhos (lipofuscina). As organelas também vão envelhecendo e vão ficando retorcidas e alterando suas funções. Ou seja, todo esse processo vai fazendo com que a célula fique envelhecida. ALTERAÇÕES TECIDUAIS Com relação aos tecidos, há um aumento das fibras de colágeno que também ficam mais resistentes a colagenase (a enzima que destrói o colágeno). E também ocorre uma diminuição e perda da qualidade das elastinas. Desse modo, os tecidos tendem a ficar duros, enrijecidos, e isso acontece em todos os órgãos e explica o porque que algumas alterações orgânicas vão acontecendo, como o enrijecimento cardíaco, por exemplo. Composição corpórea A estatura vai diminuindo ao longo dos anos e em geral, se perde 1 cm por década a partir dos 40 anos e essa perda é mais acentuada a partir dos 70 anos. Além disso, a cabeça e p tórax vão ficando maior. Nariz e orelhas continuam crescendo, por cartilagens continuam crescendo. Ocorre também um aumento da gordura corporal e uma diminuição da água intracelular, diminuindo a massa celular e também diminuindo a quantidade de potássio que até então tinha em grandes quantidades nas células. Por outro lado, há um aumento de gordura, principalmente nas mulheres e na região abdominal. Além disso, percebe também uma coisa importante em que o efeito das drogas no idoso pode mudar, porque se ele tem menos água intracelular e tem mais gordura extracelular, a farmacocinética das drogas, se elas forem hidrofílicas ou lipofílicos, mudam. Então se um remédio for lipofílico, ele tende a ter um efeito mais prolongado no idoso, que está com um excesso de gordura, então ele fica com essa droga acumulada mais tempo nesse organismo. PELE E ANEXOS Algo típico do envelhecimento são as famosas rugas e elas acontecem porque acontece uma diminuição da espessura da pele e uma diminuição da elasticidade, com isso, vão formando mais sulcos nessa pele, gerando as rugas. 3 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. Além da diminuição da epiderme, as papilas dérmicas desaparecem no idoso, então enquanto que a derme e a epiderme no jovem está bem fixa uma na outra, no idoso isso tende a desaparecer e faz com que a derme e a epiderme fiquem sobreposta e mais susceptível a descolamento. Há uma diminuição também na densidade dos corpúsculos na derme do idoso, com isso, essa pele fica mais seca e mais ásperas, há a diminuição de pressão e temperatura dessa pele, além disso, há palidez, por conta da diminuição de melanócitos e capilaridade. Na região das pálpebras, além de haver maior flacidez, a produção de lagrima diminui, mas o lacrimejamento pode aumentar (nem sempre ocorre em todos os idosos). Algumas das alterações típicas do idoso são: melanose senil que são manchas hiperpigmentadas planas, que são bastante típicas. Outra alteração comum são as equimoses e púrpuras, devido a fragilidade da pele e extravasamento de sangue. Outra alteração é a queratose seborreica que são manchas hiperpigmentadas, mas são salientes, espessas. E outra alteração frequente, são as lesões neoplásicas que acontecem principalmente em regiões expostas na pele. Com relação aos pelos, os pelos tendem a diminuir por todo o corpo desse idoso, mas ele aumenta em alguns lugares como nas narinas, na sobrancelha, nas orelhas... e nas mulheres aumentam no busto e no mento. Os cabelos tendem a ficarem mais ralos e raros, isso porque o numero de bulbos capilares ativos diminuem. E tendem a ficar brancos porque há a perda de melanócitos nos bulbos capilares. SISTEMA OSTEOARTICULAR Há algumas mudanças bem importantes. Ocorre uma perda na massa óssea e isso porque há um desbalanço entre reabsorção óssea e formação óssea, em que a reabsorção é maior que a formação, principalmente nas mulheres pós-menopausa. Além disso, há uma perda de colágeno, há também uma calcificação das suturas cranianas. Há também, uma perda da qualidade das cartilagens articulares, há achatamento das vertebras, cifose dorsal. Os discos intervertebrais perdem água e proteoglicanos e com isso está associado com o arqueamento das pernas, diminuição da espessura vertebral. SISTEMA MUSCULAR A massa muscular diminui e as fibras vermelhas e brancas também diminuem tanto em numero como em tamanho. Entre os 20 anos e 90 anos, o humano perde cerca de 50% da sua massa magra. Além disso, há um aumento do tecido adiposo, hipotrofias conforme pouco uso, rigidez de tendões e ligamentos e o diafragma se mantem. 4 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. SISTEMA CARDIOVASCULAR São muitas as alterações e de elevada importância. Acontece uma diminuição no volume, na espessura cardíaca, em que há menos miocárdio e mais tecido fibroso, além de mais gordura, substancias amiloides e lipuscina. Além disso, ocorre um processo de fibrocalcificação do coração, principalmente das válvulas. Com relação ao tecido de condução,ele também vai ficando com mais colágeno, adipócito, até um ponto de chegar a perder 90% das células do nódulo sinoatrial e com isso a fibrilação atrial é mais frequente no idoso. E as artérias ficam mais enrijecidas, mais calcificadas, com mais colágeno e menos elastina. Do ponto de vista fisiológico, acontece uma diminuição no teor adrenérgico no coração então ele tem uma menor resposta a estímulos e fica com menor complacência também. Além disso, há um maior tempo de ejeção da sístole e diástole e com isso, o risco de insuficiência diastólica é maior, ele tem uma maior dificuldade de relaxar. Com todas essas alterações há uma maior dependência do enchimento ventricular ativo, ou seja, o coração do idoso depende mais da sístole atrial, que com o tempo vai fiando também prejudicada. Do ponto de vista funcional, o volume sistólico, o debito cardíaco e a fração de ejeção nas situações de sobrecarga, costumam ser menores, então ele tem menos resposta a situações de estresse e por isso, há um maior risco de descompensação, devido a diminuição da reserva. SISTEMA RESPIRATÓRIO Há bastantes alterações, em que as vias respiratórias ficam bastante calcificadas, as cartilagens ficam bastante calcificadas. Existe menor atividade ciliar, menos produção de muco, menos IgA de defesa, o reflexo de tosse é diminuído e desse modo, a proteção contra agentes estranhos fica diminuída. Acontece aumento das fibras de colágeno, com menos elasticidade e há um maior risco de colabamento dos alvéolos. A caixa torácica fica mais enrijecida e com isso a complacência da caixa torácica é menor. Além disso, os músculos acessórios respiratórios também diminuem de massa e por isso ficam mais fracos. O diafragma é o que assume o papel mais importante no processo respiratório do idoso, pois ele está ativo o tempo todo. Há também alterações nos quimiorreceptores e com isso há uma menor resposta a variação na pressão de O2 e CO2 no organismo. Ocorre um menor volume de reserva expiratória e inspiratória. SISTEMA NERVOSO 5 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. Com relação ao SNC, o cérebro diminui de peso e de volume, podendo afetar a cognição do idoso. Isso faz com que os giros cerebrais fiquem mais evidentes. Também acontece acumulo de pigmento celular (lipofuscina), e o hipocampo ocorre acumulo de placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares, típicos da doença de Alzheimer (porém na senescência, também há esse acumulo, então fica o questionamento porque algumas desenvolvem e outras não a doença). Há uma menor atividade global do sistema de acetilcolina e catecolaminas. Há uma menor sensibilidade dos baro e quimiorreceptores e exterorreceptores, importantes na adaptação da temperatura. E há também uma menor velocidade de condução das fibras nervosas, acontecendo reflexos diminuídos no idoso. Além disso há alterações de neurotransmissores tanto no simpático como no parassimpático. SISTEMA DIGESTÓRIO: A principal função do sistema digestório é transferir as substâncias nutritivas, vitaminas, minerais e líquidos para o sangue, daí alcançando os tecidos, e excretar o conteúdo não absorvido. Apesar de os efeitos do envelhecimento no trato gastrintestinal serem modestos, as alterações podem modificar a incidência e a apresentação de vários problemas do sistema digestório nos idosos. ■ Na BOCA temos que as cáries dentárias continuam sendo um dos principais problemas dos idosos, inclusive na raiz pela retração das gengivas, raramente encontradas nos adultos jovens. As cáries radiculares e coronais foram preditores significativamente mais importantes de perda dentária do que a condição periodontal. Esse fato justifica a aplicação de flúor nos idosos em paralelo à adição de flúor na água. A baixa mineralização óssea observada em várias partes do esqueleto, na boca, se manifesta pela perda do osso alveolar que, associado à gengivite, constitui outra causa da perda dentária em adultos. A maior alteração na maxila e na mandíbula com a idade é consequente às extrações dentárias com atrofia do osso alveolar trazendo como resultado a diminuição da altura da face e mudando o perfil facial. Contribui para essa alteração a diminuição da força de mastigação pela redução da massa muscular do masseter e pterigoide. A mucosa oral se torna fina, lisa e seca. Perde a elasticidade e parece edemaciada. A língua também é lisa devido à perda das papilas, podendo trazer alterações no paladar e sensação de queimação. Isso pode ocorrer também devido à deficiência de ferro e das vitaminas B. É comum o aparecimento de varicosidades, principalmente na língua, não estando associada a outras doenças. A capacidade de cicatrização da mucosa oral se mantém inalterada Atrofia de glândulas salivares e alteração na composição da saliva tendendo a ficar mais espessa e menos eficaz. 6 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. ■No ESÔFAGO pode haver disfagia leve por dissincronia, ou seja, uma falta de sincronia entre o processo de mastigação e de descida do alimento ao longo do esôfago (presbiesôfago), que não chega a comprometer o dia a dia do idoso. ■ No ESTÔMAGO com a idade há diminuição das células parietais e aumento dos leucócitos intersticiais. Com isso diminui a secreção do ácido clorídrico e de pepsina, dificultando a digestão de alimentos, principalmente, os ricos em proteína. Outras enzimas também estão envolvidas diretamente com a digestão como, por exemplo, a gastrina. Elas sofrem modificações em todas as fases desde a síntese, passando pela liberação e resposta devido às alterações dos receptores. Ainda pode ocorrer a ruptura da barreira da mucosa gástrica, permitindo que o ácido clorídrico e a pepsina do lúmen do estômago entrem nas células da mucosa, destruindo-as. O rompimento dessa barreira acontece também com o uso de antiinflamatórios, álcool, cafeína e por bactérias. Mais de 50% dos indivíduos idosos estão infectados pelo H. pylori, com a prevalência aumentando com a idade. Corroborando a lesão celular, a prostaglandina, um lipídio que estimula a secreção de bicarbonato protegendo as células da mucosa, está diminuída. Além disso, observa-se dificuldade do esvaziamento gástrico pela diminuição de sua motilidade normal, a gastroparesia. Em decorrência de todas essas modificações fisiológicas, o estômago fica mais exposto a lesões, com a gastrite e a úlcera péptica sendo responsáveis por metade dos sangramentos digestivos altos ocorridos nos pacientes acima de 60 anos ■No INTESTINO DELGADO as vilosidades que cobrem toda a mucosa intestinal e aumentam a área de absorção de nutrientes, estão diminuídas, o que vai afetar a absorção desses alimentos e diminui também o fluxo sanguíneo. No INTESTINO GROSSO (Cólon) as alterações encontradas são praticamente exclusivas do envelhecimento. Acontece uma atrofia das túnicas da parede do intestino e alterações peristálticas que na maioria das vezes levam a constipação. Maior chance do aparecimento de divertículos nos cólons. Menor número de neurônios do plexo mioentérico, o que facilita também a diminuição dos movimentos peristálticos; ■ No FÍGADO acontece a perda de massa, menor capacidade de metabolização, talvez sem grande perda de hepatócitos, mas a função dessas células tem estado diminuída. Com isso, também tem maior sensibilidade a drogas. O Suco pancreático mantém a qualidade. SISTEMA ENDÓCRINO: O sistema endócrino, como o sistema nervoso, coordena respostas fisiológicas aos fatores ambientais, melhorando a sobrevida individual. As alterações hormonais influenciam o declínio funcional, as incapacidades, as doenças da pessoa idosa e a longevidade. ■ A HIPÓFISE vai ter menor vascularização e aumento do tecido conjuntivo, basicamente quase todos os sistemas sofrem um enrijecimento e uma diminuição de massa, ou seja, há um acúmulo7 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. de colágeno e uma diminuição de elastina. Aumentam as chances de desenvolver microadenomas (que podem ser produtores de hormônios ou não). Diminuição de IGF-1, da pulsatilidade da PRL (prolactina); Aumento relativo do ADH (tendência à hiponatremia e SSIHAD - síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético). Os níveis de melatonina tanto diurnos quanto noturnos diminuem na maioria das pessoas, interferindo no sono, visto que este hormônio tem efeito hipnótico. Este hormônio também apresenta ação protetora contra os danos oxidativos. Em relação as Suprarrenais, temos menos células e mais tecidos conjuntivos também. Aumento da chance de formação de nódulos, muitas vezes não funcionante. Há uma diminuição de androgênios e aldosterona e com isso por feedback aumenta do ACTH e cortisol; Nas situações de Estresse as respostas de catecolaminas e glicocorticoides é mais prolongada, o que causa um estado de inflamação de resposta ao estresse mais acentuado no idoso. Maior catabolismo, menor imunidade, altera metabolismo de hidratos de carbono; ■ Em relação ao PÂNCREAS, sabemos que a massa pancreática tende a diminuir e as ilhotas têm menor atividade, que faz com que o idoso tenha uma menor tolerância à glicose tendo uma maior resistência a insulina, menor sensibilidade dos tecidos à insulina e ao glucagon, e com isso temos maior liberação de ácidos graxos e proinsulina. Essa é uma das justificativas pelas quais a glicemia de jejum do idoso tende a ser um pouco mais elevada discretamente e a glicemia pós- prandial também tende a ser mais alta, com tudo isso a média glicêmica que se reflete na Hb glicada tende a ser mais alta só que ainda assim é menor em relação ao jovem. Menor secreção de insulina, mas maior nível plasmático por menor Clearance renal. ■ A TIREOIDE diminui a massa, tem mais tecido conjuntivo e tem maior probabilidade de ocorrência de nódulos em mulheres. Geralmente os valores de tiroxinas T4 e T3 estão em níveis normais baixos e os do TSH normais altos. A diminuição dos hormônios tireoidianos, especialmente a conversão de T4 em T3, sugere uma ação protetora para o organismo contra o catabolismo, levando à diminuição da taxa do metabolismo basal (46 kcal em homens e 43 em mulheres de 14 a 16 anos para 35 e 33 de 70 a 80 anos, respectivamente) e ao aumento progressivo do tecido adiposo corporal. Este, metabolicamente menos ativo que a massa magra, diminui a demanda pelo hormônio tireoidiano, fechando o ciclo. Os hormônios tireoidianos estimulam o consumo de oxigênio em quase todos os tecidos, aumentando a taxa do metabolismo celular e contribuindo para a manutenção da temperatura corporal. Seu efeito calorigênico diminui com o aumento da idade, aumentando a suscetibilidade de hipotermia nos idosos. A resposta ao calor também está comprometida devido à menor sudorese. A redução da resposta febril ao ataque de diferentes agentes se dá pela incompetência termorregulatória observada, em que a participação dos hormônios tireoidianos, junto com a resposta termostática do hipotálamo, é fundamental. O aumento do colesterol sérico, assim como das lipoproteínas de baixa densidade, observado no envelhecimento, pode ser devido ao declínio da função tireoidiana. ■ E nas PARATIREOIDES as glândulas responsáveis pela secreção dos hormônios paratireoidiano (PTH) e calcitonina, não sofrem atrofia, talvez discreto aumento, pois elas acumulam tecido 8 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. adiposo, e parecem não alterar suas funções de forma marcante. Algumas diferenças étnicas e de gênero têm sido observadas. Mulheres negras e asiáticas, pós-menopausa, apresentam baixos níveis de PTH e elevados níveis de cálcio em relação às mulheres brancas. Os homens mantêm baixos níveis desse hormônio, coincidindo com menor incidência de osteoporose que as mulheres. Já o aumento do PTH pode ser devido a piora do clearance renal ou acúmulo de fragmentos biologicamente inativos. Pode ser ainda uma resposta compensatória pela redução de cálcio intestinal. Os níveis do cálcio sérico são mantidos ao longo da vida, porém o mecanismo da regulação muda com o avanço da idade. Sabe-se que a manutenção dos níveis plasmáticos do cálcio, na infância e na fase adulta, é mantida mediante ingesta de cálcio sem perda óssea. Na idade avançada a calcemia é mantida pela reabsorção do cálcio ósseo mais do que pela absorção intestinal do cálcio ofertado pela dieta ou pela reabsorção do mineral pelo rim. Uma possível explicação para essa mudança pode ser uma diminuição na capacidade do PTH de estimular a produção da forma ativa da vitamina D, a qual estimula a absorção de cálcio intestinal. Embora a reabsorção óssea seja reconhecida quando o PTH está elevado, existem evidências de que a administração intermitente do PTH aumenta a força mecânica e a massa óssea pela transformação das células precursoras em osteoblastos. Este hormônio também aumenta a formação óssea, prevenindo a apoptose dos osteoblastos. SISTEMA URINÁRIO: -ALTO: ■ Nos RINS temos diminuição da massa renal e menor quantidade de néfrons totais funcionantes. Em seu lugar observam-se tecido gorduroso e fibrose generalizada com espessamento da membrana basal, podendo acontecer Esclerose glomerular. Também o processo Aterosclerose das artérias e arteríolas intra-renais e com isso temos uma queda progressiva da filtração glomerular e das funções tubulares. A função renal começa a diminuir de maneira progressiva, chegando a sua metade aos 85 anos. Aos 60 anos, o rim pesa em média 250 g; aos 70 anos, 230 g; e aos 80 anos, 190 g. Paralelamente ocorre diminuição do fluxo plasmático de 600 mℓ/min para 300 mℓ/min. Para compensar, os rins mantêm uma vasodilatação com o aumento das prostaglandinas contribuindo para o aumento da lesão renal com o uso de anti-inflamatórios não esteroides. O rim pode ser afetado diretamente como acontece nas lesões do néfron ou indiretamente como no caso de doenças cardiovasculares. Da mesma forma a lesão renal pode levar a alterações a distância como distúrbios hidreletrolíticos e hipertensão arterial. Ainda, pela sua função excretora, o declínio da função renal pode levar a intoxicação medicamentosa, particularmente perigosa no idoso. -Alterações das funções glomerular e tubular As alterações ocorridas com o envelhecimento na função glomerular não comprometem o bem- estar da pessoa idosa. Entretanto, como acontece com outros órgãos, não há reserva para seu pleno funcionamento em caso de sobrecarga. Sob estresse como infecção ou dieta rica em proteína, a taxa de filtração glomerular piora significativamente, aumentando a permeabilidade 9 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. celular com perda de proteína bem maior que os traços normalmente observados na urina. É possível a manutenção da função tubular em nível suficiente ao longo dos anos. Entretanto, muitas pessoas idosas sofrem perda da habilidade de concentrar ou diluir a urina de tal forma que se tornam incapazes de equilibrar o organismo frente a uma desidratação ou a uma sobrecarga hídrica. Se administrarmos solução hipertônica de cloreto de sódio a uma pessoa idosa o hormônio antidiurético (ADH) se elevará, porém não haverá retenção de água como normalmente se poderia esperar. Esse fato nos leva a concluir que o problema de concentração urinária não é devido à diminuição do ADH e sim à diminuição de resposta do túbulo coletor ao ADH. Para manter o funcionamento do rim adequadamente, a pessoa idosa deverá ingerir 2,5 a 3 ℓ de líquidos ao dia. Existem outros fatores que colaboram para a dificuldade em manterem-se hidratados como a diminuição do reflexo da sede, a solidão, a imobilidade e outros. Como mencionado, há diminuição da capacidade renal de concentração econservação do sódio, estando os idosos mais propensos à hiponatremia e à hipopotassemia quando em uso de diurético ou na vigência de dietas restritivas. A ureia contribui para estabelecer um gradiente osmótico na medula renal e concentra a urina nos túbulos coletores. Como a pessoa idosa muitas vezes faz uma dieta pobre em proteínas e tem déficit na produção hepática de ureia a uremia também pode estar diminuída. O padrão do ritmo urinário apresenta-se modificado na pessoa idosa, passando a eliminar água e eletrólitos mais à noite que durante o dia. Essa alteração, conhecida como poliúria noturna, ocorre por múltiplos fatores como a diminuição da capacidade renal de concentração e conservação do sódio, assim como alteração da função do sistema renina-angiotensina- aldosterona. Outras alterações funcionais do sistema renal são redução da acidificação da urina e piora da excreção de cargas ácidas. Esse é mais um fator contribuinte para a nefrotoxicidade relacionada a medicamentos e a contrastes intravenosos, diminuição da hidroxilação da vitamina D e da regulação do sistema renina angiotensina. Entretanto, a produção da eritropoetina em resposta à hemoglobina parece não sofrer alteração. BAIXO: ■ A BEXIGA diminui a sua elasticidade e também têm a perda de sua musculatura, com isso tem uma menor complacência, menor eficiência e aumenta o risco de resíduo, ou seja o idoso tende a ter um esvaziamento incompleto, fica com o resíduo e tem mais chance de ter Urgência Miccional e mais risco de transbordamento. Os receptores de volume são menos eficientes e isso também faz com que surja a vontade imperiosa de urinar. ■ A URETRA também tem diminuição na sua musculatura e por isso especialmente em mulheres existe o maior risco de incontinência urinária de esforço, que é desencadeada por toque ou qualquer situação em que haja aumento da pressão intra-abdominal Sistema Genital: 10 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. Com a diminuição dos hormônios sexuais existe uma atrofia, no caso das mulheres nos ovários, útero e vagina. A diminuição de estrógenos faz com que aumente FSH (principalmente 5 anos do início da menopausa) e LH também. Com essa diminuição hormonal a Vagina tende a ficar menos elástica e úmida, isso facilita infecções e dispaurenia. A Atrofia dos ligamentos uterinos, vesicais e retais faz com que haja a queda dos órgãos. Em relação as Mamas acontecem atrofia das glândulas e mais tecido adiposo graças a isso elas ficam menos firmes. Menos pelos púbicos. No sistema genital masculino, o processo tende a ser menos evidente, já que a queda hormonal é mais lenta e progressiva. Então existe uma diminuição da produção de testosterona, mas ainda assim fica em níveis normais (Testosterona total normal e Testosterona livre cai). Acontece aumento discreto de LH e FSH. E menor número de espermatozoides. A Próstata perde a sua musculatura, fica mais fibrótica e com isso tende a aumentar de peso, e existe um aumento do risco de nódulos prostático. O Pênis tem o tecido erétil menos elástico, dai as veze levam a algumas disfunções sexuais no homem. Sistema Hematológico: O conceito de que havia alterações significativas do sistema hematopoético está sendo revisto. Parece que o processo de envelhecimento é mais lento nas células hematopoéticas, quando comparadas com as outras células. Especula-se que a reserva das células pluripotenciais possa ser poupada, contribuindo para a explicação da longevidade do indivíduo. Já a função da medula óssea não se modifica. No nascimento quase toda a medula óssea apresenta atividade hematopoética, mas desde a infância ela começa a ser progressivamente substituída por tecido adiposo. No adulto sua atividade concentra-se na pélvis e no esterno. Por volta dos 70 anos a celularidade da medula óssea no osso ilíaco é 30% menor que no adulto jovem. Apesar dessa modificação a contagem celular no sangue periférico é mantida. - Multiplicação celular O potencial proliferativo da maioria das células-tronco hematopoéticas é limitado e diminui com o envelhecimento. Uma vez que a célula entre no ciclo de divisão torna-se mais suscetível a mutações devido à redução da fidelidade de reparo do DNA. Essa pode ser a explicação do surgimento de leucemia secundária ao transplante de medula óssea. A perda de telômero em tecidos normais começa no adulto jovem e progride gradualmente com o envelhecimento. A perda sequencial do DNA telomérico da parte final do cromossomo a cada divisão celular poderia alcançar um ponto crítico que serviria de gatilho para o envelhecimento e para influenciar o equilíbrio entre renovação e multiplicação das células-tronco. O encurtamento do telômero é observado nos portadores da síndrome de Werner, nos quais ocorrem alterações precoces do envelhecimento. - Eritropoese A vida das hemácias, em torno de 120 dias, exige contínua renovação dessa população celular pela medula óssea, mesmo nos muito idosos, visto que sua principal função é transportar 11 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. oxigênio através da circulação para todas as células e tecidos do corpo, de acordo com suas necessidades. Embora o envelhecimento não seja causa de anemia observa-se mudança do perfil hematológico, sugerindo uma exaustão das células-tronco hematológicas pluripotenciais, tornando os idosos mais suscetíveis a esta doença. Também ocorre aumento da produção de radicais livres, os quais alteram as funções celulares e a integridade de suas membranas. Com isso, as hemácias deformadas são retiradas de circulação e a medula óssea acelera a produção em uma tentativa de reparar o dano. Entretanto, a aceleração desse processo pode alterar a composição das membranas das hemácias, não conseguindo o equilíbrio da renovação dessas células, podendo surgir anemia e agregação das hemácias. Os principais moduladores hormonais da eritropoese são a eritropoetina (EPO), a testosterona e a interleucina (IL)-3. Os trabalhos mostram não haver diferença significativa nos níveis dessas substâncias nos indivíduos idosos relativas à produção hematopoética. O feedback entre hemoglobina e EPO está mantido, mas a secreção de EPO em resposta à anemia por deficiência de ferro está diminuída. Isso ocorre porque as citocinas pró- inflamatórias, como a IL-6, aumentam com o avanço da idade, reduzindo a resposta das células- tronco. Admite-se que haja maior produção de IL-6 pelos monócitos, pelas células T, células endoteliais e células ósseas. SISTEMA IMUNOLÓGICO: Diversas alterações não deveriam afetar demasiadamente, mas quando o idoso vai ficando mais velho elas acabam tendo maior impacto clínico. E essas alterações acontece tanto no sistema humoral quanto no celular. Acontece uma involução do timo (95% ao redor dos 50 anos) e com isso, um risco aumentado de doenças neoplásicas, infecciosas e auto-imunes porque essa vigilância imunológica tende a diminuir. 12 Mudanças morfofuncionais do envelhecimento | Larissa Gomes de Oliveira. REFERENCIAS FREITAS, Elizabete Viana de; PY, Ligia. Tratado de geriatria e gerontologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. VERAS, et al. Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo de cuidado. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2018, v. 23, n. 6
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