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Livro Filosofando - Unidade 1 - Cap 02

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Capitulo 
As origens 
da filosofia 
Para os povos antigos, o mito era 
um componente importante da cultura, 
permeando todos os segmentos sociais 
e suas instituições. Para os gregos 
da Antiguidade, as divindades eram 
personificações de elementos da natureza, 
das virtudes e dos defeitos da humanidade. 
Os deuses gregos, habitantes do monte 
Olimpo, eram imortais, embora tivessem 
comportamentos semelhantes aos dos 
homens. Às vezes benevolentes, também 
agiam por inveja ou vingança. 
Atena é a deusa grega da sabedoria 
e da justiça, entre outras virtudes que 
lhe eram atribuídas. A coruja, sua ave 
predileta, com frequência a acompanha 
nas representações de sua figura. Mais 
conhecida como a coruja de Minerva - nome 
latino da deusa Atena -, a coruja tornou-se o 
símbolo da filosofia, por ser Atena a deusa 
da razão. A coruja, por sua vez, dá margens 
a inúmeras interpretações. Ela é uma ave 
noturna sempre alerta, com visão aguda 
capaz de enxergar no escuro, além de girar 
quase completamente a cabeça, o que lhe 
permite olhar para todos os lados. Segundo 
o filósofo alemão Friedrich Hegel, a coruj a 
alça voa no inicio do entardecer, tal como 
a filosofia, que inicia a sua reflexão após o 
trabalho do dia, ou seja, a reflexão filosófica 
tem por base a realidade vivida. 
Minerva (Atena), reprodução 
fe ita no sécul o XVIII de uma 
estátua romana do século I. 
22 Unidade 1· Descobrindo a filosofia 
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D A consciência mítica 
O mito é a forma mais remota de crença, um 
meio do indivíduo se relacionar com o sobrenatural. 
De modo geral, o mito está impregnado do desejo 
humano de afugentar a insegurança, os temores e 
a angústia diante do desconhecido, do perigo e da 
morte. Para tanto, os relatos míticos se sustentam 
pela crença em forças superiores (cuja existência não 
precisa ser comprovada), que protegem ou ameaçam, 
recompensam ou castigam. 
Os mitos gregos eram transmitidos por poetas 
ambulantes chamados aedos e rapsodos , que os 
recitavam de cor em praça pública. Nem sempre é 
possível identificar a autoria desses poemas, por 
resultarem de produção coletiva e anônima. Homero 
e Hesíodo foram dois representantes significativos 
que marcaram a história grega. Atribuem-se a Ho-
mero, um desses poetas, dois poemas épicos, as 
epopeias I/íada e Odisseia. 
Na vida dos gregos, as epopeias desempenharam 
um papel pedagógico significativo. Narravam epi-
sódios da história grega- o período das Idades do 
Bronze e do Ferro- e transmitiam os valores culturais 
mediante o relato das realizações dos deuses e dos 
antepassados. Po r expressarem uma concepção de 
vida, desde cedo as crianças decoravam passagens 
desses poemas. 
Hesíodo é outro poeta que teria vivido por volta 
do final do século VIII e princípios do VII a.C. Na sua 
obra Teogonia , relata as origens do mundo e dos deu-
ses, em que as forças emergentes da natureza vão 
se transformando nas próprias divindades. Por isso 
a teogonia é também uma cosmogonia, na medida 
em que narra como todas as coisas surgiram do Caos 
para compo r a ordem do Cosmo. 
Teogonia. Do grego théos, "deus", e gónos, "origem". 
Cosmogonia. Do grego kósmos, "mundo", "ordem", 
"beleza", e gónos. 
Caos. Para os gregos, o vazio in icial. 
No início de sua Teogonia , Hesíodo relata como, 
a partir das divindades primordiais Caos, Gaia (ou 
Geia, a Terra) e Eros, surgiram as outras divinda-
des. Inicialmente, Gaia deu origem a Urano (o Céu), 
com o qual se uniu, gerando muitas outras divinda-
des, dentre as quais Cronos (Tempo), que toma o po-
der do pai e, por sua vez, é destronado pelo filho Zeus. 
D A filosofia nasceu 
no Ocidente 
O pensamento filosófico surgiu na Grécia, entre o 
século VII e o VI a.C., mais propriamente nas colônias 
gregas, com Tales de Mileto, Pitágoras de Sarnas e 
Heráclito de Éfeso. Embora reconheçamos a impor-
tância de sábios que viveram no mesmo período no 
Oriente, suas doutrinas ainda não eram propriamente 
filosóficas. Em que aqueles sábios se distinguem dos 
pensadores gregos? 
Os sábios que viveram no Oriente no século VI a.C. 
foram: Confúcio e Lao-Tsé na China, Sidarta Gautama 
Buda na Índia e Zaratustra na Pérsia [atual Irã). 
A diferença está no fato de que os sábios orientais 
não se aprofundaram em questões abstratas, mas 
criaram doutrinas que facilitavam as boas condu-
tas para o convívio harmônico. Em outras palavras, 
tratava-se de uma sabedoria vinculada a aspectos 
práticos do comportamento humano e não propria-
mente teóricos e argumentativos. Além disso, muitas 
vezes esse saber não se desprendia do componente 
mítico-religioso. 
Em contraposição, os primeiros filósofos gregos, 
mesmo quando sofriam influências religiosas, pro-
blematizavam a realidade: buscavam explicitar o 
princípio constituinte das coisas. Perguntavam, por 
exemplo: Qual é o ser de todas as coisas? Quando 
as coisas mudam, existe algo que permanece idên-
tico? O que é o movimento? Que tipos de mudança 
existem? As respostas dadas a essas questões 
sustentavam-se pela razão (/ógos). Lógos é teoria que 
precisa ser fundamentada com argumentos. Por isso, 
costuma-se considerar a Grécia o berço da filosofia. 
É interessante observar que a primazia concedida 
pelos gregos ao racional ocorreu igualmente com a 
geometria. Por exemplo, os egípcios e também os 
hindus e chineses de épocas mais recuadas sabiam 
identificar diversas propriedades geométricas que 
eram aplicadas em conhecimentos empíricos- ba-
seados na experiência - para realizar construções 
muitas vezes grandiosas. No entanto, foram os 
filósofos gregos Tales e Pitágoras que ampliaram 
e deram um sentido diferente ao conhecimento da 
geometria, não apenas por interesse prático, e sim 
para elaborar demonstrações racionais e abstratas. 
Lógos. Conceito com várias acepções: palavra; linguagem; 
razã o; di scurso; norma ou regra; aquilo que é fundamental. 
Termos derivados: diálogo, dialét ica, lógica. 
As origens da f ilosofia · Capítulo 2 23 {C 
D Uma nova ordem humana 
Alguns autores chamaram de "milagre grego" a 
passagem da mentalidade mítica para o pensamento 
crítico racional e filosófico, dando destaque para o 
caráter repentino e único desse processo. Outros 
estudiosos, porém, criticam essa visão simplista e 
afirmam que a filosofia na Grécia não foi fruto de um 
salto, do "milagre" realizado por um povo privilegiado, 
mas é a culminação do processo gestado ao longo 
do tempo. 
No período arcaico (século VIII ao VI a.C.), a Gré-
cia sofreu transformações muito específicas nas 
relações sociais e políticas, proporcionando a lenta 
passagem do mito para a reflexão mais racionalizada. 
A nova visão do mundo e do indivíduo que então 
se esboçava resultou de inúmeros fatores, que ve-
remos a seguir. 
a) A redescoberta da escrita 
Na Grécia, a escrita já existira no período mi-
cênico, mas desapareceu no século XII a.C., para 
ressurgir apenas entre os séculos IX e VIII a.C., por 
influência dos fenícios. A escrita fixa a palavra para 
além de quem a proferiu, o que exige maior rigor e cla-
reza, e estimula o pensamento crítico. Desse modo, 
a escrita traz a possibilidade maior de abstração, de 
uma reflexão aprimorada. 
b) A moeda 
Com o desenvolvimento do comércio marítimo, 
o mundo grego se expandiu com a colonização da 
Magna Grécia (atual sul da Itália e Sicília) e da Jônia 
(hoje litoral da Turquia). A moeda veio facilitar os 
negócios e impulsionar o comércio, enriquecendo 
os comerciantes, o que acelerou a substituição de 
valores aristocráticos por valores da nova classe 
em ascensão. 
Além desse efeito político de democratização de 
um valor, a moeda sobrepunha aos símbolos sagra-
dos o caráter racional de sua concepção: a moeda 
é uma convenção humana, noção 
abstrata de valor que estabe-
lece a medida comum entre 
valores diferentes.Moeda em prata da cidade 
de Atenas (c. 440 a.C.l. 
A esquerda, perfil da deusa 
Palas Atena. A direita, a coruja, 
que simboliza a deusa Atena. 
2Q Unidade 1· Descobrindo a fi losofia 
c) A lei escrita 
Legisladores como Drácon, Sólon e Clístenes si-
nalizaram uma nova era, porque, até então, a justiça 
dependia da interpretação da vontade divina ou da 
arbitrariedade dos reis. Com a lei escrita, a norma 
se tornava comum a todos e sujeita à discussão e 
à modificação. 
Assim afirma Jean-Pierre Vernant, helenista e 
pensador francês: 
Os que compõem a cidade, por mais diferentes que 
sejam por sua origem, sua classe, sua função, aparecem 
de uma certa maneira "semelhantes" uns aos outros. Esta 
semelhança cria a unidade da pólis. [ ... ] O vínculo do homem 
com o homem vai tomar assim, no esquema da cidade, a 
forma de uma relação recíproca, reversível, substituindo as 
relações hierárquicas de submissão e de domínio. 
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 
2. ed. Rio de Janeiro/Sao Paulo: Difel, 1977. p. 42. 
d) O cidadão da pólis 
O nascimento da pólis, por volta dos séculos 
VIII e VII a.C., foi um acontecimento decisivo. 
A sua originalidade está no fato de ter como centro a 
á gora (praça pública), espaço onde eram debatidos os 
problemas de interesse comum. Elaborava-se desse 
modo o novo ideal de justiça, pelo qual todo cidadão 
tinha direito ao poder. A noção de justiça assumia 
caráter polftico, e não apenas moral, ou seja, não di-
zia respeito apenas ao indivíduo e aos interesses da 
tradição familiar, mas à sua atuação na comunidade. 
Assim ficava garantida a ·s na · - a igualdade 
perante a lei -, do mesmo modo que a 's.e a ·a, a 
igualdade do direito da palavra na assembleia. De 
fato, a pólis se fez pela autonomia da palavra, não 
mais a palavra mágica dos mitos, palavra dada pelos 
deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra 
humana do conflito, da discussão, da argumentação. 
Expressar-se por meio do debate fez nascer a 
polltica, que permite ao indivíduo tecer seu destino 
na praça pública. Da instauração da ordem humana 
surgiu o cidadão da pólis, figura inexistente no mundo 
da comunidade tribal e das aristocracias rurais. 
U ETIMOLOGIA 
Isonomia. Do grego ísos, "igual", e nómos, "lei". 
!segaria. Do grego ísos e agoreúein, "discursar em 
público". 
Assembleia. Em grego se diz agorá, local de reunião para 
decidir assuntos comuns. Designa também a praça 
principal das pólis onde se instalava o mercado. 
e) A consolidação da democracia 
O apogeu da democracia ateniense ocorreu no 
século V a.C., quando Péricles governava. Os cidadãos 
livres, fossem ricos, fossem pobres, tinham acesso 
à assembleia. Tratava-se da democracia direta, em 
que não eram escolhidos representantes, mas cada 
cidadão participava ele mesmo das decisões de 
interesse comum. 
É bom ressaltar, porém, que a maior parte da 
população se achava excluída do processo político, 
tais como os escravos, as mulheres e os estrangei-
ros (metecos), mesmo que estes fossem prósperos 
comerciantes. Apesar disso, o que vale enfatizar é a 
mutação do ideal político e uma concepção inovadora 
de poder, a democracia. 
~ PARA SABER MAIS 
É difícil fazer o cálculo demográfico de Atenas, mas 
no decorrer do século V a.C. a população variou 
entre 250 mil e meio milhão de habitantes, dos 
quais a maioria era constituída por escravos. 
Excluídos os estrangeiros, as mulheres e as crian-
ças, restavam apenas entre lO a 14% de cidadãos 
propriamente ditos capacitados para participar 
das discussões na ágora e decidir por todos. 
Vernant analisa a importância da política na 
Grécia antiga: 
É no plano político que a razão, na Grécia, 
primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. 
A experiência social pode tornar-se entre os gregos o 
objeto de uma reflexão positiva, porque se prestava, 
na cidade, a um debate público de argumentos. O 
declínio do mito data do dia em que os primeiros sábios 
puseram em discussão a ordem humana, procuraram 
defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis 
à sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da 
medida. Assim se destacou e se definiu um pensamento 
propriamente político, exterior à religião, com seu 
vocabulário, seus conceitos, seus princípios, suas vistas 
teóricas. [ ... ] A razão grega é a que de maneira positiva, 
refletida, metódica, permite agir sobre os homens, não 
transformar a natureza. Dentro de seus limites como em 
suas inovações, é filha da cidade. 
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 2. ed. 
Rio de Janeiro/São Paulo: Difel.l977. p. 95. 
i Cl9 PARA REFLETIR 
Alguns estudiosos explicaram o surgimento da 
filosofia na Grécia como um "mi lagre" realizado por 
um povo privilegiado: como podemos contradizer 
essa afirmação? 
D Os primeiros filósofos: 
os pré-socráticos 
A filosofia grega antiga corresponde a um longo pe-
ríodo que começou por volta do final do século VII a.C. 
e se estendeu até o século III d.C. Os primeiros filó-
sofos foram chamados de pré-socráticos devido a uma 
classificação posterior da filosofia antiga que tinha 
como referência a figura de Sócrates, representante 
do pensamento clássico, e que antecedeu e influen-
ciou dois grandes filósofos: Platão e Aristóteles. 
Grande parte das obras dos primeiros filósofos 
foi perdida, restando-nos apenas fragmentos e 
comentários feitos pelos filósofos posteriores, ou 
seja, pela doxografia. O centro de suas investiga-
ções era a natureza, por isso são conhecidos como 
naturalistas, ou filósofos da physis, termo grego 
para "mundo físico", "natureza". Sabemos também 
que geralmente escreviam em prosa, abandonando 
a forma poética característica das epopeias, dos 
relatos míticos. 
Qual foi a novidade desses primeiros filósofos? 
Até então as explicações sobre a origem e a ordem 
do mundo tinham por base os mitos transmiti-
dos por Homero e Hesíodo, que constituíam as 
teogonias e as cosmogonias (origem no tempo). 
Agora, em vez de explicar a ordem cósmica pela 
interferência divina, os filósofos buscavam respos-
tas por si mesmos, por meio da razão. Portanto, 
as questões tornam-se cosmológicas: o sufixo 
lógos denota o predomínio da razão, da explicação 
argumentativa. 
~ PARA SABER MAIS 
Períodos da filosofia grega 
Pré-socrático (século VII e VI a.C.J. Os primeiros 
filósofos ocupavam-se com questões cosmológi-
cas, iniciando a separação entre a filosofia e o pen-
samento mítico. 
Período clássico (século V e IV a.C.J. Ampliação dos 
temas e maior sistematização do pensamento. 
Foi a época dos sofistas, de Sócrates, Platão e 
Aristóteles. 
Pós-socrático (século III a.C. e li d.C.) Durante o 
helenismo, preponderou o interesse pela física e 
pela ética. Surgiram as correntes filosóficas do 
estoicismo, do hedonismo e do ceticismo. 
Doxografia. Do grego dóxa, "opinião", e gráphein, "escre-
ver". Chama-se doxografia à compilação de doutrinas de 
pensadores. Pode-se conhecer um filósofo não só pelas 
suas obras, mas também pelo testemunho de pensadores 
do seu tempo ou posteriores. 
Se observarmos as transformações sociais, econômicas e culturais ocorridas no período arcaico, podemos entender que houve uma lenta transformação 
da mentalidade grega que deu oportunidade para a reflexão crítica, a problematização e, portanto, para a filosofia. Se quiser, o aluno pode citar quais 
foram essas transformações (a escrita, a moeda etc.). As origens da filosofia • Capitulo 2 25 
A filosofia na Grécia Antiga 
o 
, 
Filósofos da Grécia Antiga 
Perlodo pré-socrâlico 
"- • Periodo clássico 
Perlodo helenislico Demócrito 
Protágoras MAP NEGRO 
Empédocles 
I 
eereia 
MAGNA 
GRÉCIA 
eAgrigenlo 
Leucipo 
Aristóteles r 
I 
I Epicuro 
Abdera 
1 
Pitágoras 
Plrro es1: çtlta •li_ 
l 
JÓNIA ,.. Heráclito 
Clazomena / 
Éflda • • • • Éfeso 
Anaxágoras 
Platáo 
Sócrates 
Ale,nas S~o~s e Mileto 
·• ' • \odes 
u 
Tales Panécio 
Anaximandro 
Anaximenes 
Posid6nio 
Zenáo 
e Citio 
N 
1Observe no mapa os 
principais filósofos gregos 
que correspondem ao período 
pré-socrático. Identifique em 
que região (Jônia ou Magna 
Grécia) e em que cidade eles 
se estabeleceram. Em seguida, 
observe que os filósofos do 
perlodo clássico (Sócrates, 
Platão) viviam em Atenas. Embora 
Aristóteles tenha nascido em 
Estagira, cidade da Macedônia, 
foi em Atenas que fundou sua 
escola. Localize também os 
filósofos do helenismo. que se 
deslocaram da Grécia continental 
e se espalharam pelas ilhas. 
Fonte: ABRÃO, Bernadete Siqueira (et ai.J. Enciclopédia do Estudante. História da 
filosofia: da Antiguidade aos pensadores do século XXI. São Paulo: Moderna, 2008. p. 17. v. XII. 
) O princípio de todas as coisas 
O que intriga os primeiros filósofos é principal-
mente o movimento, conceito que em grego tem um 
sentido bem amplo, podendo significar mudança de 
lugar, aumento e diminuição, qualquer alteração ou 
um movimento substancial, quando alguma coisa é 
gerada ou se deteriora. Então se perguntam: o que faz 
com que, apesar de toda mudança, haja algo na reali-
dade que sempre permanece o mesmo? Assim, sob a 
multiplicidade das coisas eles buscam a identidade. 
Ou seja, procuram um princípio original e racional (em 
grego, arkhé). O termo princípio pode ser entendido 
como origem, mas também como fundamento. 
Observe como a filosofia nasce de um pro-
blema, uma indagação nova, que procura ir além 
do já sabido. Por isso, existe uma ruptura entre 
mito e filosofia, porque o mito é uma narrativa cujo 
conteúdo não se questiona, enquanto a filosofia 
problematiza e, portanto, convida à discussão. 
A filosofia rejeita explicações baseadas no sobrenatu-
ral. Mais ainda: a filosofia busca a coerência interna e a 
definição rigorosa dos conceitos, e organiza-se em dou-
trina, surgindo, portanto, como pensamento abstrato. 
Vejamos alguns desses primeiros filósofos que, por 
poderem pensar de modo autônomo, divergiram entre si. 
) Os filósofos jônios: tudo é um 
Os primeiros pré-socráticos, como Tales, 
Anaximandro, Anaxímenes e Heráclito, todos na-
turais da Jônia, são conhecidos como monistas, 
) 26 Unidade 1- Descobrindo a filosofia 
porque identificam apenas um elemento constitutivo 
de todas as coisas. 
Tales: o princípio é a água 
Tales de Mileto (c. 620-546 a.C.), de origem fenícia, 
viveu em Mileto, na Jônia. É considerado o primeiro 
filósofo e um dos "sete sábios da Grécia". Como ma-
temático, transformou o saber empírico da geometria 
prática dos egípcios em conhecimento científico. 
Talvez por ter viajado muito e conhecido as cheias 
do Rio Nilo, intuiu que a água deveria ser o princípio 
de tudo, por estar ligada à vida, à germinação, mas 
também à decomposição e à putrefação. Por con-
siderar a água um "deus inteligente", concluiu que 
"todas as coisas estão cheias de deuses". 
É atribufda a Tales de Mileto a demonstração do 
teorema de geometria: dois triângulos são con-
gruentes quando as medidas de dois ângulos e do 
lado compreendido entre eles são exatamente as 
mesmas em ambos os triângulos. Teria ainda calcu-
lado a altura de uma pirâmide comparando a som-
bra dela com a sombra de uma estaca de madeira 
e, como astrônomo, teria previsto um eclipse solar. 
Anaximandro: o princípio 
é o indeterminado 
Anaximandro (c . 610-547 a.C.) representa um 
avanço em relação a Tales, porque não recorre a 
um princípio material como a água, e sim ao ápeiron, 
termo grego que significa "indeterminado", "ilimitado" 
e que daria origem a todos os seres materiais. Desse 
modo, não se trata de algo que possamos conhecer 
pelos sentidos, mas pelo pensamento. Para explicar a 
mudança, Anaximandro recorre à luta dos contrários. 
Como surge o mundo? Por um movimento circular 
turbilhonante que irrompe em diversos pontos do 
ápeiron. Nesse movimento, separam-se do ilimitado-
-indeterminado as duas primeiras determinações ou 
qualidades: o quente e o frio, dando origem ao fogo 
e ao ar; em seguida, separam-se o seco e o úmido, 
dando origem à terra e à água. Essas determinações 
combinam-se ao lutar entre si e os seres vão sendo 
formados como resultado dessa luta, quando um dos 
contrários domina os outros. O devir é esse movimento 
ininterrupto da luta entre os contrários e terminará 
quando forem todos reabsorvidos no ápeiron. 
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: 
das pré-socrát icos a Aristóteles. 
São Paulo: Brasi liense, 1994. p. 52. v. 1. 
Anaximenes: o princípio é o ar 
Para Anaxímenes (c. 588- 528 a.C.), o princípio é 
o ar, que pela rarefação e condensação faz nascer e 
transformar todas as coisas. Para ele, porém, o ar é 
mais do que o aspecto físico de um elemento, porque 
o termo grego que corresponde ao ar é pneüma, que 
também significa respiração, sopro de vida, espírito: 
"Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, 
assim também o sopro e o ar abraçam todo o cosmo". 
Heráclito: tudo flui 
Heráclito (535-'-175 a.C.) nasceu em Éfeso, na Jônia, 
e também procurou compreender a multiplicidade do 
real. Ao contrário de seus contemporâneos - como 
Parmênides -, Heráclito não rejeitava as contradições 
e queria apreender a realidade na sua mudança, no 
seu devir. Todas as coisas mudam sem cessar, e o que 
temos diante de nós em dado momento é diferente do 
que foi há pouco e do que será depois: "Nunca nos ba-
nhamos duas vezes no mesmo rio", pois na segunda vez 
não somos os mesmos, e também as águas mudaram. 
Para Heráclito, o ser é o múltiplo, não apenas 
no sentido de que há uma multiplicidade de coisas, 
mas por estar constituído de oposições internas. 
O que mantém o fluxo do movimento não é o simples 
aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários, 
pois "a guerra é pai de todos, rei de todos". É da luta 
que nasce a harmonia, como síntese dos contrários. 
Para ele, o dinamismo de todas as coisas pode ser 
explicado pelo fogo primordial, expressão visível da ins-
tabilidade, símbolo da eterna agitação do devir: "o fogo 
eterno e vivo, que ora se acende e ora se apaga". 
Assim diz Marilena Chaui: 
Não se trata do fogo (ou do quente ou do calor) que 
percebemos em nossa experiência. O fogo-quente-
-calor de nossa experiência é uma das qualidades 
determinadas e múltiplas do mundo, juntamente com o 
frio, o seco, o úmido. O fogo primordial- que Heráclito 
também chama de lógos- é aquilo que, por sua própria 
natureza e força interna, se transforma em todas as 
outras e é nelas transformado sem cessar. 
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-
-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 68-69. v. l. 
t i' ...... ~::: Objeto educacional digital ,.,, _ Orientações para o = professor no livro 
digital 
Pitágoras 
) Os pitagóricos: o número 
é a harmonia 
Pitágoras (século VI a.C.) nasceu na Ilha de Sa-
mos, na costa da Jônia, e posteriormente deslocou-
-se para Crotona, na Magna Grécia. Quase nada se 
sabe sobre Pitágoras nem de suas obras. É certo 
que existiu uma Escola Pitagórica de cunho filosó-
fico-religioso que mantinha a doutrina restrita aos 
adeptos. Atribui-se a ele o uso primeiro da palavra 
filosofia. Por não se considerar sábio- sophós, em 
grego-. dizia-se apenas amigo (phí/os) da sabedoria. 
Como matemático, Pitágoras considerava o núme-
ro o princípio de tudo, desde que se entenda número 
como a harmonia ou a proporção. Ou seja, o número 
representa uma estrutura racional. 
Outra característica interessante do pitago-
rismo está na influência que mais tarde exercerá 
sobre Platão. Trata-se de uma sensível mudança na 
religiosidade grega, até então centrada na tradição 
homérica e no culto dos deuses do Olimpo. Já os pi-
tagóricos herdaram o orfismo, religião vinda da Trá c ia 
e baseada nos mistérios órficos e no culto a Dioniso. 
A diferença se fez na passagem para um culto vol-
tado para a interioridade, de crença na imortalidade 
da alma, na transmigração das almas, na superio-
ridade da alma sobre o corpo, o que exige ascese 
e purificação. Desse modo, a Escola Pitagóricanão 
trata apenas dos aspectos físicos dos princípios do 
cosmo, mas constrói uma filosofia que visa orientar 
um determinado modo de vida. 
Drfismo. Movimento religioso da Gréc ia antiga que pode 
t er influenciado alguns pré-socráticos e Platão. 
Ascese. Termo com diversos signif icados. No contexto, 
exerclcio de uma vida austera, pelo controle das paixOes, 
visando à perfe ição moral e, em alguns casos, rel igiosa. 
As origens da filosofia ·Capitulo 2 27 
I Os eleatas: o principio é o ser 
Parmênides e Zenão foram os filósofos que atua-
ram na cidade de Eleia, sul da Magna Grécia, e eram 
conhecidos como eleatas. A principal característica 
da escola era admitir a imobilidade do ser. 
Alguns estudiosos atribuíram a Xenófanes 
(c. 570-475 a.C.) a fundação da Escola Eleática. 
Nascido na Jônia, Xenófanes viveu exilado na Magna 
Grécia como um sábio errante, um aedo, que recitava 
suas obras em vários lugares. Era conhecido pelas 
críticas à religião pública (de Homero e Hesíodo) e 
às convenções, o que o caracteriza também como 
um cético. 
Parmênides: as coisas são 
Parmênides (c. 530-460 a.C.) influenciou de 
modo decisivo o pensamento ocidental. Sua impor-
tância decorre da guinada na busca do princípio 
de todas as coisas: para ele, as coisas são entes, 
o ser. 
A partir desse pressuposto, Parmênides criticou a 
filosofia heraclitiana. Ao "tudo flui" de Heráclito, con-
trapôs a imobilidade do ser: é absurdo e impensável 
afirmar que uma coisa pode ser e não ser ao mes-
mo tempo. O ser é único, imutável, infinito e imóvel. 
À contradição opõe o princípio segundo o qual "o ser 
é" e o "não ser não é". 
Não há como negar, entretanto, a existência do 
movimento no mundo, pois as coisas nascem e mor-
rem, mudam de lugar e se expõem em infinita multi-
plicidade. Segundo Parmênides, porém, o movimento 
existe apenas no mundo sensível, e a percepção pelos 
sentidos é ilusória, porque baseada na opinião, e, por 
isso mesmo, não é confiável. Só o mundo inteliglvel é 
verdadeiro. 
Uma das consequências da teoria de Parmênides 
é a identidade entre o ser e o pensar: ao pensarmos, 
pensamos algo que é, e não conseguimos pensar algo 
que não é. Desse modo, os eleatas abrem caminho 
para a ontologia (estudo do ser), que será objeto dos 
filósofos do período clássico. 
Zenão de Eleia: Aquiles e a tartaruga 
Zenão de Eleia (século V a.C.) foi o principal 
discípulo de Parmênides e ficou conhecido pelos 
exemplos que ilustram o cerne da teoria parmenídia: 
"pensamos algo que é, e não conseguimos pensar 
algo que não é". Recorre, então, a uma aporía, ter-
mo grego que significa "dificu ldade insolúvel". Se 
Aquiles, o mais veloz dos homens, apostasse corri-
da com uma tartaruga, o mais lento dos animais, e 
permitisse que ela saísse na frente, jamais poderia 
alcançá-la. Explicando: para percorrer um espaço 
~) 28 Unidade 1 • Descobrindo a filosofia 
de A a B, Aquiles deveria alcançar o ponto médio 
M, mas para chegar a ele, teria de passar por M1, 
que é a metade de M, ou seja, metade da metade, e 
assim sucessivamente. Por consequência, Aquiles 
percorreria uma distância cada vez menor e nunca 
alcançaria a tartaruga. 
Evidentemente, isso não quer dizer que Parmêni-
des e Zenão negassem o movimento, mesmo porque 
é óbvio que Aquiles venceria a tartaruga. Eles ressal-
tam que o movimento é percebido pelos sentidos, e 
estes não nos conduzem à verdade, ao contrário, nos 
colocam diante de aporias, dificuldades insolúveis. 
Só a razão nos leva à verdade. 
I Os pluralistas: há mais que 
um princípio 
O princípio não é único, como diziam os monistas, 
mas há múltiplos princípios. Os principais represen-
tantes dessa tendência são Empédocles, Anaxágoras 
e os atomistas Leucipo e Demócrito. 
Empédocles: os quatro elementos 
Empédocles (c. 490-432 a.C.) nasceu em Agrigen-
to, cidade da atual Sicília, Magna Grécia. Segundo sua 
teoria, tudo que existe deriva de quatro elementos: 
terra, água, ar e fogo. Essa mistura que ele chama 
de "raízes" é movida por uma força interna do amor 
e do ódio: enquanto o amor une, o ódio separa, num 
ciclo de repetição eterno. Em um de seus fragmentos, 
podemos ler: 
Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para 
nenhuma das coisas mortais, como não há fim na morte 
funesta, mas somente composição e dissociação dos 
elementos compostos: nascimento não é mais do que 
um nome usado pelos homens. 
BORHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socróticos. 3. ed. 
São Paulo: Cultrix, 1977. p. 69. 
~ PARA SABER MAIS 
A teoria dos quatro elementos perdurou por muito 
tempo. Apenas no século XVIII Lavoisier provou 
que aquela teoria cléssica era falsa, ao realizar em 
laboratório a decomposição da égua e estabelecer 
o método cientifico da qufmica. 
Como se vê, Empédocles discorda de Parmênides, 
para quem o ser é imóvel, e também critica a crença 
de que apenas podemos conhecer pelo pensamento, 
desprezando os sentidos. 
Anaxágoras: as sementes e o Naus 
Anaxágoras (499-428 a.C.), nascido em Cla-
zômena, mudou-se para Atenas, onde foi mestre 
de Péricles. Sustentava que o princípio não é úni-
co, nem quatro, como dizia Empédocles, mas as 
coisas são formadas por minúsculas partículas, 
as "sementes" (homeomerias ou spérmata). Es-
sas sementes foram ordenadas por um princípio 
inteligente, uma Inteligência cósmica (nous, em 
grego). Por motivos controversos, talvez por ter 
sido o primeiro a recorrer a um espírito superior 
que ordena o cosmo e por se recusar a prestar 
culto aos deuses gregos, foi preso e expulso 
da cidade, precisando abandonar a escola que 
fundara em Atenas. 
Aristóteles afirma que Anaxágoras se des-
tacou entre todos os pré-socráticos como o 
primeiro a apresentar a concepção de uma 
inteligência ordenadora, "em comparação dos 
que anteriormente afirmaram coisas vãs". 
Demócrito: os átomos 
Leucipo (século V a.C.) foi o fundador da Escola de 
Abdera, e Demócrito (c. 460-370 a.C.), seu principal 
seguidor. Mas é possível identificar em Leucipo a pre-
dominância de preocupações cosmológicas, enquan-
to Demócrito desenvolveu também questões éticas, 
tema que iria adquirir grande importância durante o 
período socrático. Por isso, pode ser considerado um 
filósofo de transição. 
Leucipo e Demócrito representam a corrente dos 
atomistas, por considerarem o elemento primordial 
constituído por átomos, partículas indivisíveis, não 
criadas, indestrutíveis e imutáveis. De tão minús-
culos, não são percebidos pelos sentidos, mas pela 
inteligência. Os átomos são dotados naturalmente 
de movimento e, para fundamentar essa hipótese, 
desenvolvem a teoria da existência do vazio. Depen-
dendo dos diferentes modos de se agregarem, as coi-
sas são geradas e se corrompem em uma alternância 
sem fim. A explicação de tudo depende, portanto dos 
átomos, do vazio e do movimento. Não existe uma 
causa inteligente que organize o mundo, que resulte 
do encontro mecânico, "ao sabor do acaso". 
Com essa teoria, os atomistas tentavam superar 
a contradição entre Heráclito e Parmênides. Afirma-
vam que os átomos não têm qualidades sensíveis 
(sabor, odor, quente, frio, cor), mas apenas proprie-
dades geométricas (grandeza e formal. Por isso, a 
nossa percepção das qualidades sensíveis é objeto 
apenas de opinião (dáxa), enquanto o conhecimento 
verdadeiro é dado pelos átomos. Assim afirma De-
mócrito: "É opinião o frio e opinião o calor; verdade 
os átomos e o vazio". 
Heráclito e Demócrito (século XV), pintura de Do nato 
Bramante baseada no afresco do Palácio de Panigarola 
em Milão. A imagem representa uma velha história 
sobre Heráclito e Demócrito, segundo a qual a 
primeiro era a "filósofo que chora" e a outro a "filósofo 
que ri ". Certamente, para destacar seus diferentes 
temperamentos: Heráclito era reservado e de poucas 
palavras, enquanto Demócrito gostava de gozar a vida. 
D Avaliação do periodo 
dos pré-socráticos 
Os pré-socráticos deram o primeiro impulso à 
atividade do filosofar: buscaram a unidade na mul-
tiplicidade, examinaram a relação entreo ser e o 
pensar, desenvolveram a dialética, a arte da discus-
são, deram os primeiros passos para uma lógica e 
estimularam a argumentação. 
Observe como as discussões dos filósofos 
pré-socráticos foram assumindo nível maior de elabo-
ração e rigor, se comparadas às primeiras reflexões 
da filosofia nascente. Vale lembrar que os últimos 
filósofos pré-socráticos já adentravam o século V a.C. 
Anaxágoras foi mestre de Péricles e, pelos diálogos 
de Platão, sabemos que Sócrates, quando jovem, 
teria encontrado Parmênides. 
Além disso, a filosofia pré-socrática continuou 
sendo importante na época clássica. Por exemplo, 
as teorias de Platão e Aristóteles enfrentaram o 
desafio de superar a oposição entre o pensamento 
de Heráclito e o de Parmênides, entre movimento e 
imobilidade, entre os sentidos e a razão. 
As origens da filosofia • Capitulo 2 29 
LEITURA COMPLEMENTAR 
As conotações essenciais da filosofia antiga 
A filosofia como "amor de sabedoria" 
N Conforme a tradição, o criador do termo 'filosofia' foi 
Pitágoras, o que, embora não sendo historicamente seguro, 
é no entanto verossímil. O termo certamente foi cunhado 
por um espírito religioso, que pressupunha ser possível só 
aos deuses uma 'sofia' ('sabedoria'), ou seja, a posse certa 
e total do verdadeiro, enquanto reservava ao homem ape-
nas uma tendência à sofia, uma contínua aproximação do 
verdadeiro, um amor ao saber nunca totalmente saciado-
de onde, justamente, o nome 'filosofia', ou seja, 'amor pela 
sabedoria'. 
Todavia, o que entendiam os gregos por essa amada e 
buscada 'sabedoria'? 
Desde seu nascimento, a filosofia apresentou três 
conotações, referentes: 
a) ao seu conteúdo; 
b) ao seu método; 
c) ao seu objetivo. 
O conteúdo da filosofia 
No que se refere ao conteúdo, a filosofia quer explicar a 
totalidade das coisas, ou seja, toda a realidade, sem exclu-
são de partes ou momentos dela. A filosofia, portanto, se 
distingue das ciências particulares, que assim se chamam 
exatamente porque se limitam a explicar partes ou seto-
res da realidade, grupos de coisas ou de fenômenos. E a 
pergunta daquele que foi e é considerado como o primeiro 
dos filósofos - 'Qual é o princípio de todas as coisas?' -
mostra a perfeita consciência desse ponto. E, como vere-
mos, alcança-se a totalidade da realidade e do ser precisa-
mente descobrindo a natureza do primeiro 'princípio', isto 
é, o primeiro 'porquê' das coisas. 
O método da filosofia 
No que se refere ao método, a filosofia procura ser 
'explicação puramente racional daquela totalidade' 
que tem por objeto. O que vale em filosofia é o argu-
mento da razão, a motivação lógica, o lógos. Não basta 
à filosofia constatar, determinar dados de fato ou 
reunir experiências: ela deve ir além do fato e além das 
experiências, para encontrar a causa ou as causas apenas 
com a razão. É justamente este o caráter que confere 
"cientificidade" à filosofia . Pode-se dizer que tal cará-
ter é comum também às outras ciências, que, enquanto 
tais, nunca são mera constatação empírica, mas são sem-
pre pesquisa de causas e de razões. A diferença, porém, 
está no fato de que, enquanto as ciências particulares 
são pesquisa racional de realidades e setores particula-
res, a filosofia, conforme dissemos, é pesquisa racional de 
toda a realidade {do princípio ou dos princípios de toda 
a realidade) . 
[ .. . ] 
O escopo da filosofia 
O escopo ou fim da filosofia está no puro desejo de 
conhecer e contemplar a verdade. Em suma, a filosofia 
grega é desinteressado amor pela verdade. 
Conforme escreve Aristóteles, os homens, ao filosofar, 
'buscaram o conhecer a fim de saber e não para conseguir 
alguma utilidade prática '. Com efeito, a filosofia nasceu 
apenas depois que os homens resolveram os problemas 
fundamentais da subsistência e se libertaram das necessi-
dades materiais mais urgentes. 
E Aristóteles conclui : 'Portanto, é evidente que nós não 
buscamos a filosofia por nenhuma vantagem a ela estra-
nha. Ao contrário, é evidente que, como consideramos 
livre aquele que é fim para si mesmo, sem estar submetido 
a outros, da mesma forma, entre todas as outras ciências, 
só a esta consideramos livre, pois só ela é fim a si mesma '. 
É fim a si mesma porque tem por objetivo a verdade, 
procurada, contemplada e desfrutada como tal. 
Compreendemos, portanto, a afirmação de Aristóteles: 
'Todas as outras ciências serão mais necessárias do que 
esta, mas nenhuma será superior'." 
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia.Filosof ia 
pagã ant iga. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2007. p. 11-12. v. 1. 
.. Explique qual é a diferença entre filosofia e ciência, do ponto de vista 
do conteúdo. 
11 O que significa a frase de Aristóteles ao dizer que a filosofia tem um 
fim em si mesma? 
30 Unidade 1· Descobrindo a filosofi a

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