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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: DIREITO CIVIL V Professor Guilherme Calmon - Caso concreto Data: 16/11/2020 Prazo de entrega: 23/11/2020 GABARITO Questões de análise e crítica sobre caso concreto. A avaliação corresponde a 2,0 (dois) pontos do total da AV2. As respostas devem ser postadas no ambiente do Microsoft Teams no campo “tarefas”, e será aceita a postagem até às 23:30 do dia 23 de novembro. Para cada uma das questões, deve haver, no mínimo, 8 linhas e, no máximo, 20 linhas. CASO CONCRETO: João de Sousa, Andrea Camargo e Clarissa de Andrade, após consensualmente se reconhecerem como uma família baseada no “poliamor” por três anos consecutivos, em 12/10/2017, resolvem comparecer ao Tabelionato da Comarca de Rio Bonito, no Estado do Rio de Janeiro, para lavratura da escritura declaratória de união poliafetiva entre os três. Acompanhados por um advogado especialista em Direito de Família, os três resolvem inserir cláusulas sobre regime de comunhão parcial de bens quanto aos imóveis e regime de separação de bens no que tange aos bens móveis, sobre a dispensa do dever de lealdade na união familiar mantida entre eles, bem como prever a existência do direito de assistência material e moral. Como Clarissa era a mais nova – com 25 anos de idade -, ainda sem vínculo de emprego, ela é incluída em cláusula da escritura como dependente econômica dos dois declarantes para fins de ser instituída como beneficiária de plano de saúde nos empregadores dos outros dois. Apesar de alertados pelo tabelião acerca das polêmicas envolvendo as uniões poliafetivas no Direito de Família, os três reafirmaram seus propósitos de formalizarem sua família por escritura pública e, por isso, esta é lavrada com estipulação a respeito dos temas acima referidos. Sucede que, em 2018, na apreciação do Pedido de Providências n° 1.459- 08.2016.2.00.0000, o Conselho Nacional de Justiça determinou que os Cartórios de Notas (Tabelionatos) não lavrassem escrituras públicas declaratórias de uniões poliafetivas por considerarem que tais relações não correspondem à união estável, muito menos ao casamento. Em 10 de dezembro de 2019, Andrea Camargo deixa o apartamento que residia juntamente com João e Clarissa, após várias brigas ocorridas durante o ano, e ingressa com ação de dissolução de união estável poliafetiva na Vara da Comarca de Rio Bonito, buscando receber parte dos bens imóveis adquiridos a título oneroso por João nos anos de 2014 a 2019, além da herança recebida por Clarrisa por morte de seu pai, bem como pede alimentos contra João e Clarissa. Levando em conta o julgamento do Conselho Nacional de Justiça acima referido (que se encontra disponível no site do CNJ), responda às seguintes questões abaixo e proceda à análise do julgado, de acordo com a orientação abaixo: 1ª) Como juiz(a) da ação de dissolução de união estável poliafetiva, como você julgaria a demanda proposta por Andrea? Quais são os fundamentos? (valor: 1,0 ponto) Em observância à posição adotada pelo Conselho Nacional de Justiça no julgamento do Pedido de Providências n. 1459-08, referido no enunciado da questão, o julgamento seria de improcedência total dos pedidos formulados pela autora Andrea Camargo, eis que a relação mantida entre os três não poderia ser configurada como de união estável (0,5 ponto). A fundamentação decorre da circunstância de não haver a presença dos requisitos para a configuração da entidade familiar baseada na conjugalidade que é a unicidade do vínculo, além de não haver ainda reconhecimento social dessas relações, como constou da maioria dos votos dos Conselheiros do CNJ (0,5 ponto). De todo modo, ainda que se cogitasse de possível união estável poliafetiva, somente haveria efeitos no âmbito dos bens adquiridos a título oneroso por João, mas não os bens herdados por Clarissa, além desta não ter como prestar alimentos à Andrea pois ela não tinha possibilidade. 2ª) PARA ANÁLISE: A solução dada pelo CNJ no julgado acima referido se revela coerente com o estágio atual do Direito de Família brasileiro? Analise o tema, inclusive sob a perspectiva da Súmula 380, do STF (valor: 1 ponto). A solução apresentada pelo CNJ quanto à proibição da lavratura de escrituras públicas declaratórias de uniões poliafetivas, se por um lado foi acertada quanto à não configuração de uma entidade familiar baseada na conjugalidade por mais de duas pessoas (devido ao reconhecimento social da monogamia) (0,5 ponto), se mostrou equivocada pois desconsiderou a possibilidade de, com base nos pressupostos da Súmula 380, do STF, identificar a existência de uma sociedade de fato entre os três para o fim de permitir o reconhecimento do direito à divisão dos bens adquiridos a título oneroso durante a relação, com base nas noções de affectio societatis e esforço conjunto na aquisição dos bens (0,5 ponto). Desse modo, a lavratura da escritura para formalizar a existência de uma união fundada na noção de sociedade de fato não deveria ter sido proibida. Boa sorte!
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