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Ciclo 5 Ética, Preconceitos e Fundamentalismos Antropologia, Ética e Cultura

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11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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ANTROPOLOGIA, ÉTICA E CULTURA
CICLO 5 – ÉTICA, PRECONCEITOS E FUNDAMENTALISMOS
  
  
INTRODUÇÃO
Diante dos desafios presentes, quando se procura entender quem é o ser humano em suas mais diferentes formas de linguagem, um tema que
se apresenta como fundamental é a ética. O que significa? Como entendê-la? Quais as implicações que coloca para o ser humano? Essas e outras questões
serão respondidas na continuidade.
DISTINÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL
Facilmente, o senso comum e a ciência identificam a ética com a moral. No entanto, há diferença entre elas.
De acordo com Scopinho (2013, p. 71):
A moral se refere à regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, uma
tradição cultural etc. Trata-se, portanto, de um fenômeno histórico-social particular, sem o compromisso com a universalidade. Isso significa dizer que
existem tantas morais quantas forem as formas de convivência e de estrutura social entre os povos. Por exemplo, a moral católica tem sua importância
dentro do contexto cultural de tradição católica. O mesmo acontece com a moral islâmica, que se apresenta como uma forma de comportamento dentro
de um contexto religioso de tradição muçulmana. Assim, cada tradição religiosa tem suas formas próprias de manifestação e expressão, embora todas
elas apresentem uma característica comum, que é fazer parte de uma determinada cultura, apresentando-se, portanto, com características
eminentemente antropológicas.
https://mdm.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-2021-01-grad-ead
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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As religiões, em geral, apresentam várias possibilidades de interpretação, porque isso depende de cada contexto religioso. Assim, em cada situação, são
estabelecidos critérios morais diferenciados. Um exemplo disso é uma situação experimentada dentro da religião católica, que, em um contexto, diz que o cristão
não deve se envolver em transformação política, econômica, social e cultural da sociedade. No entanto, há outra vertente, a da Teologia da Libertação,
mostrando que o cristão deve se inserir na transformação da sociedade, pois entende que “[...] a fé não como um instrumento mágico de salvação, mas um
instrumento histórico de humanização” (MURAD, 1994, p. 85).
Tendo como enfoque a Teologia da Libertação, algumas tradições religiosas, cristãs ou não, em especial, o catolicismo, contribuíram para o processo de
transformação da sociedade. O mesmo não ocorreu com alguns movimentos apostólicos conservadores, que não fazem a opção por uma dimensão política,
econômica, social e cultural. A opção dessa vertente religiosa converge para a dimensão espiritual. Assim, para essa vertente, é mais importante o aspecto
religioso, não o social. Essa opção religiosa pode ser encontrada no islamismo, mas também em parcelas consideráveis do catolicismo.
Como vimos anteriormente, a moral refere-se à regulação dos valores e comportamentos; já “[...] a ética deve ser entendida como o julgamento da validade das
morais ou como uma reflexão crítica sobre a moralidade. Nesse caso, todo comportamento moral passa pelo juízo ético” (SCOPINHO, 2013, p. 72).
Se tomarmos como exemplo um caso citado por Ferreira Gullar, vamos perceber que o comportamento moral contribui para entender a distinção entre a ética e a
moral:
[...] E li também que RukhsanaNaz, de 19 anos, grávida de sete meses de seu namorado de infância, foi morta pelo irmão – estrangulada com um fio de
náilon – enquanto a mãe lhe segurava as pernas para que ela não se debatesse. Em defesa da honra. A mãe, enquanto ajudava o filho na sua macabra
tarefa, chorava desesperadamente, mas nem por isso desistiu da decisão homicida. Gostaria de não ter que fazer aquilo, mas não podia deixar de fazê-
lo. Um poder maior que seu amor de mãe a obrigava. Que poder é esse? O poder das ideias, dos valores culturais – sejam eles, religiosos, morais ou
ideológicos – que regem a vida das pessoas. Por isso, creio não haver exagero em dizer que o homem, filho da natureza, é de fato um ser cultural que
vive num mundo por ele inventado (GULLAR, 2005, p. 10 apud SCOPINHO, 2013, p. 72).
Como afirma Leonhardt (2008, p. 154), “[...] o homem é um ser eminentemente cultural, infere-se que as atividades humanas − destacando-se o labor, o trabalho
e a ação − dimanam dessa causa, são produtos da cultura”.
Podemos perceber que, no caso citado por Ferreira Gullar, é preciso colocar um posicionamento ético. Contudo, a ética não deve ser entendida como teoria. Para
Scopinho (2013, p. 73):
Ela tem que ser percebida como um conjunto de princípios e disposições voltados para a ação, histórica e socialmente produzida, cujo objetivo é balizar
as ações humanas. A ética existe, portanto, como uma referência para os seres humanos em sociedade, de tal modo que os próprios seres humanos
possam se tornar cada vez mais humanos, estabelecendo critérios para a análise do comportamento moral. Diante do exemplo apresentado por F.
Gullar, caberia a seguinte pergunta: qual deve ser o posicionamento ético diante da moral assumida pela família de RukhsanaNaz?
https://www.politize.com.br/islamismo-como-e-a-religiao-muculmana/
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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Tanto a moral quanto a ética não são um conjunto de verdades fixas e imutáveis. Nelas, devemos levar em consideração o caráter histórico e cultural, pois os
momentos históricos e as concepções culturais interferem muito no entendimento ético e moral. Entretanto, é importante considerar que a ética se apresenta
como o julgamento da moral.
Antes de avançar, clique aqui e saiba mais sobre moral na visão de Aristóteles.
Desse modo, a ética é a referência a princípios humanitários fundamentais, que estão presentes em todos os povos, nações, religiões etc. A ética é o principal
regulador do desenvolvimento histórico e social da humanidade. Ou seja, ela é imprescindível.
De acordo com Amaral (2012):
Ethos (raiz de “ética”), em grego, designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do mundo para, moldando-a ao seu jeito, construir um
abrigo protetor e permanente. A ética, como morada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano está sempre tornando
habitável a casa que construiu para si. Ético significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável:
materialmente sustentável, psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela ONU, no ano de 1948, é apontada como sendo o objetivo a ser buscado por cada pessoa, cada
sociedade, enfim, por toda a humanidade.
No que diz respeito à ética, podemos encontrar, na Declaração, no artigo segundo, dois itens que contribuem para um entendimento sobre a questão pluralidade
cultural:
1 – Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2 – Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa,
quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania (ONU, 2020, p. 5).
Agora, clique aqui para ler a Declaração Universaldos Direitos Humanos e conheça na íntegra todos os princípios expressos.
https://www.pucsp.br/pos/cesima/schenberg/alunos/paulosergio/teologia.htm
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pluralidade.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
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Assim, cada ser humano está convocado a incorporar os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de modo a colaborar para que o
mundo seja melhor e mais sustentável, o que traria uma consequência ética inevitável.
Se considerarmos que a moralidade vigente, muitas vezes, é exercida sob pressão de interesses religiosos, políticos e econômicos culturalmente determinados,
podemos afirmar que ela sofre frequentes e graves degenerações e distorções, além de desconsiderar a importância da ética, pautada nos direitos humanos e no
pleno exercício da cidadania.
Será que você compreendeu todo o conteúdo estudado neste tópico? Verifique sua aprendizagem respondendo à questão a seguir.
CAMPOS DE ATUAÇÃO DA ÉTICA
A ética está presente em todos os campos de atuação das pessoas. Tanto que é possível pensar de várias maneiras a aplicação da ética, de
acordo com o compromisso que é estabelecido pelo princípio ético em questão. Esse compromisso, para ser ético, deve direcionar-se ao benefício coletivo.
Retomando de outra maneira aquilo que já estudamos, navegue no infográfico a seguir, adaptado da obra do professor Vanderlei de Barros Rosas (2002), e veja
algumas concepções de ética, como elas são organizadas em relação às regras morais e aos seus direcionamentos.
O ser humano é um ser ético e moral, fazendo-o, por essa razão, distinto dos demais seres da natureza. Assim, podemos afirmar que ética e moral
significam, respectivamente:
 A ética refere-se a princípios humanitários fundamentais vinculados a uma determinada sociedade; a moral diz respeito a valores e comportamentos
considerados legítimos por todos os grupos sociais.
 Ética e moral apresentam-se como um conjunto de verdades fixas e imutáveis, sem referência ao contexto histórico-social em que estão situadas.
 A ética apresenta-se como um conjunto de princípios e disposições voltados para a ação, cujo objetivo é balizar as ações humanas; a moral, por sua
vez, é entendida como regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, tradição
cultural etc.
 Não existe distinção entre ética e moral, pois ambas se referem ao comportamento humano em qualquer sociedade historicamente constituída.
 A ética tem uma dimensão específica, como, por exemplo, a ética profissional, entre outras; a moral é o princípio regulador do desenvolvimento
histórico-cultural da humanidade.
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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CONCEPÇÕES ÉTICAS
Fonte: adaptado de Rosas (2002).
http://www.dnit.gov.br/download/institucional/comissao-de-etica/artigos-e-publicacoes/artigos-sobre-etica/Afinal%20o%20Que%20e%20Etica.pdf
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Podemos dizer que o infográfico retrata o caráter humano da ética, ou seja, destaca que, enquanto criação humana, a ética não está isenta e sua aplicação se
filia a objetivos bem específicos. A ética normativa compromete-se com a obediência, a ética teleológica vincula-se com o capital, e a ética situacional defende
uma organização política vigente durante um período. Você já pensou se alguma dessas três formas ou compromissos éticos predomina na sua vida e qual
deles? É uma reflexão válida, especialmente para nos atermos a como organizamos nossas prioridades. Mesmo sendo éticos, a vida pode nos surpreender com
situações inesperadas, e as respostas que temos para o dia a dia nem sempre são as melhores diante do contexto vivenciado.
AMPLIE SEUS CONHECIMENTOS!
Como vimos, a ética é fundamental na sociedade. Assim, sugerimos que você aprofunde seus conhecimentos sobre esta temática realizando a leitura do artigo
Ética e modernidade, de Carlos Roberto Drawin. Clique no botão ao lado e boa leitura!
Clique Aqui
Agora, vamos conhecer alguns campos de aplicação da ética e os compromissos específicos assumidos por eles. Você notará que, de alguma maneira, todas se
vinculam, também, à defesa dos Direitos Humanos.
ESPAÇO DA CONVIVÊNCIA HUMANA, O OUTRO
O ser humano é um ser de relação. Ele está sempre se relacionando com outro ser humano, seu semelhante. Nesse caso, como deve ser a atitude ética? A
resposta é clara e precisa: atitude de amor à humanidade.
Nesse sentido, podemos considerar que algumas condições essenciais e de base ética precisam ser construídas. Trata-se, nesse caso, especialmente, do
desenvolvimento da alteridade – ou seja, conhecer e aprender com o “lado do outro” – debatida ao longo dos ciclos anteriores de estudos.
JUSTIÇA SOCIAL
A noção de justiça social é muito presente na atualidade, pautada, inclusive, na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Porém, sua discussão
remonta a noções que foram se transformando até chegarem aos dias atuais. Por isso, vamos esclarecer alguns pontos centrais.
De acordo com Lacerda (2016), a definição de justiça social do jesuíta Luigi Taparelli (1793-1862) faz menção apenas a uma noção liberal de liberdade pessoal
e de igualdade perante a lei. Isso significa tratar a liberdade como direito de cada um, garantido a todos pela lei, mas sem menção específica às condições
econômicas, sem considerar se as condições materiais permitem ou não o exercício dessa liberdade. Por uma vertente semelhante, caminharam outros autores
https://doi.org/10.1590/S1414-98931991000100002
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https://mdm.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-2021-01-grad-ead/2020/06/19/ciclo-5-etica-preconceitos-e-fundamentalismos/ 7/33
que trataram a expressão, como Antônio Rosmini (1797-1855) e Serafino Pachini (na sua obra Trattato della giustizia sociale, de 1865). Quem esteve mais
próximo do significado atualmente atribuído à justiça social foi Louis De Potter (1786-1859).
Segundo o autor, a única via que pode conduzir a humanidade à felicidade é a justiça, pois somente por meio dela a liberdade de todos pode ser
assegurada. A liberdade dissociada da justiça conduz à anarquia, situação que inviabiliza os projetos de vida e, consequentemente, a felicidade das
pessoas. Até aqui, as palavras do autor nada trazem de novo em relação à ideia liberal então consolidada. Um pouco mais à frente, no entanto, algo
diferente vem à tona. Para De Potter, a “justiça social” exige também que não existam privilégios em demasia para os homens que tiveram a sorte de
nascer favorecidos, e que os privilégios existentes não sejam tão vultosos de modo a “privar um único dos membros da sociedade das necessidades da
vida ou das vantagens da educação social” (LACERDA, 2016, p. 70-71).
Portanto, inicialmente, a justiça social estava ligada à igualdade perante à lei e à liberdade pessoal, sem fazer menção à questão econômica ou à desigualdade
de condições sociais. Contudo, De Potter tocou nesse tema, remetendo a evitar que os privilégios de uns privem outros.
Alfred Fouillée (1899) tratou desse tema em um artigo, elucidando uma noção de justiça social um pouco mais próxima daquela que é comum na atualidade. De
acordo com Lacerda (2016, p. 73):
O artigo de Fouillée é interessante porque usa a expressão “justiça social” em um sentido bem mais próximo do definitivo. A vida social, cuja proteção se
dápelas vias da justiça, não pode ser pensada pela eliminação do coletivo em prol do indivíduo, nem pela supressão deste em benefício daquele, mas
como um arranjo de compatibilização entre coletividade e individualidade. A liberdade também não deve ser entendida como simples “poder de praticar
ações”, mas mais corretamente como “poder efetivo” de fazer aquilo que se persegue como ideal de felicidade, o que vai necessariamente exigir um
espírito de solidariedade da sociedade em proveito daqueles que são destituídos de bens ou que possuem poucas riquezas.
A discussão caminhou muito, até que, no século 20, tivemos uma compreensão mais clara de justiça social, a qual usamos como referência. Foi ficando evidente
que a justiça social não dizia respeito apenas a uma lei de Estado que regulamentasse a relação entre indivíduos, assegurando a liberdade, mas incluindo
questões de âmbito da igualdade em seu sentido material. No bojo dessas discussões, estavam consideradas as condições de miséria vistas na Europa do
século 19. Contudo, o debate avançou de modo a contemplar não apenas o sentido material, mas também espiritual, ensejando a submissão da economia a um
caráter ético.
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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Por isso, a justiça social deve ser compreendida como algo mais que o direito a certo nível de bem-estar material, pois é dever da sociedade política
distribuir também educação e bens culturais àqueles que não os possuem. Deste modo, além da distribuição dos recursos materiais, compete às
estruturas estatais repartir equitativamente “também os interesses morais derivados da dignidade da pessoa humana, os educacionais, comuns a
todos os homens e ainda, também, na medida do possível, os culturais em sentido amplo”. De fato, é o que se diz hoje: fala-se em salário justo e em
assistência aos carentes, mas também em direito à saúde, à educação, à cultura, ao lazer etc. (LACERDA, 2016, p. 85).
Portanto, justiça social remonta a um contexto de defesa da dignidade humana e da utilização dos mecanismos estatais compatíveis a isso para a sua
consecução efetiva. Na Constituição Federal de 1988, está exposto o posicionamento oficial do Brasil a esse respeito:
Ao contrário do direito constitucional americano, no qual os debates centrais se dão em torno do conceito de igualdade, o direito constitucional brasileiro
se articula em torno do conceito de dignidade da pessoa humana, conforme determina o art. 1º, inciso III, da Constituição Federal. Em termos de Teoria
da Justiça: ao passo que a Constituição Americana pode ser vista como um esforço por realizar a ideia de igualdade presente no conceito de justiça
particular (distributiva e comutativa), a Constituição Brasileira tem na justiça social, fundada na ideia de dignidade da pessoa humana, o cerne do seu
ideal de justiça (GARCIA JÚNIOR, 2016).
Posto isso, considerando especialmente o contexto brasileiro e sua base conceitual de justiça, é de suma importância fazer uma análise criteriosa com relação ao
sistema econômico, político e jurídico para perceber se a sua estrutura está causando desigualdade, injustiça, discriminação ou exclusão dos direitos.
Se alguma dessas situações estiver acontecendo, pode-se considerar que esse sistema é eticamente ruim, mesmo que ele seja moralmente constituído. Não
pode haver uma miséria estrutural, e, se ela ocorrer, a ética apontará que deve haver transformações radicais na estrutura do sistema econômico.
Antes de prosseguir, clique aqui e leia o artigo Origens e consolidação da ideia de justiça social, de Bruno Amaro Lacerda, para
aprofundar seus conhecimentos sobre justiça social.
MEIO AMBIENTE
Quando o ser humano transforma a natureza pelo trabalho, ele cumpre a finalidade de sustentar e humanizar o próprio ser humano. Contudo, isso deve levar em
consideração a preservação da natureza, e não a sua destruição, como acontece em muitos países. “Mais do que nunca, preservar e cuidar do meio ambiente é
uma responsabilidade ética diante da existência humana” (SCOPINHO, 2013, p. 75). Relaciona-se com a terceira geração de Direitos Humanos, identificada
como defesa da solidariedade/fraternidade universal. De inspiração na tomada de consciência posterior à primeira metade do século 20, entende-se a
necessidade de preservação ambiental, tomando o meio ambiente natural como patrimônio da humanidade.
https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/viewFile/P.0034-7191.2016V112P67/341
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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A pessoa humana faz parte da coletividade humana e, por isso, tem direitos de solidariedade por parte dessa coletividade. Isso inclui os direitos ao meio
ambiente pacífico, organizado e equilibrado (noção ecológica de equilíbrio). Propõe o estímulo geral à preservação ambiental, defesa do patrimônio histórico e
cultural, combate à exploração predatória dos recursos naturais e proibição de atividades contrárias à paz.
Para exemplificar os impactos ambientais nas populações futuras e a necessidade de um compromisso ético orientado pelo princípio da fraternidade, vamos
tratar de um caso específico, em que a questão ética quanto ao meio ambiente é fundamental, impactando o Brasil e preocupando o mundo. Acompanhe o
estudo de caso a seguir.
 
ESTUDO DE CASO: A CIDADE DE MARIANA-MG ANTES E DEPOIS DO ROMPIMENTO DA BARRAGEM
Informações gerais sobre a cidade:
População estimada em 2019: 60.724 pessoas (em 2015, havia 58.802 habitantes).
Primeira capital do estado de Minas Gerais.
Rica em metais preciosos e minérios.
Possui significado histórico para o Brasil, tendo mais de 300 anos de história e edificações do período colonial.
Possui forte cultura local, com produção artesanal e turismo devido aos aspectos históricos da região, além das paisagens naturais e riqueza ambiental.
Possui alguns locais muito importantes, como o distrito de Bento Rodrigues, com cerca de 612 habitantes e 317 anos, que possuía igrejas centenárias
antes do desastre de 05/11/2015.
Há também as Áreas de Preservação Permanente em sua região.
Estrada Real no século 16: caminho que era feito pelo ouro e diamantes extraídos da região de Mariana até o porto do Rio de Janeiro e que, de lá, era
transportado para Portugal (IBGE, 2020; MARIANA.MG, 2020).
 
FORMA DE ANÁLISE – CONCEITOS
Para realizar uma análise rápida, usaremos dois conceitos simples, mas bastante consistentes: Área de Preservação Permanente (APP) e Espírito do Lugar.
 
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
https://mdm.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-2021-01-grad-ead/2020/06/19/ciclo-5-etica-preconceitos-e-fundamentalismos/ 10/33
De acordo com Lopes (2016, p. 8):
Conforme dispõe o artigo 3º, II do Novo Código Florestal – Lei n.º 12.651/2012, considera-se Área de Preservação Permanente – APP a ‘área protegida,
coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas’ (BRASIL, 2012).
 
ESPÍRITO DO LUGAR
De acordo com Pereira Costa et al (2016, p. 7-8):
Segundo a Declaração de Quebec (2008, p. 03), o espírito do lugar é o conjunto de bens materiais (sítios, paisagens, edificações, objetos) e imateriais
(memórias, depoimentos orais, documentos escritos, rituais, festivais, ofícios, técnicas, valores, odores), físicos e espirituais, que dão sentido, valor,
emoção e mistério ao lugar. A noção do espírito do lugar permite uma melhor compreensão do caráter ao mesmo tempo vivo e permanente dos
monumentos, dos sítios edas paisagens culturais. Ela fornece uma visão mais rica, dinâmica, ampla e inclusiva do patrimônio cultural. O espírito do
lugar existe, sob uma forma ou outra, em praticamente todas as culturas do mundo e é uma construção humana destinada a atender a necessidades
sociais. Os grupos que habitam o lugar, sobretudo quando se trata de sociedades tradicionais, deveriam ser estreitamente envolvidos com a salvaguarda
de sua memória, de sua vitalidade e de sua perenidade, ou mesmo de sua sacralidade. Ainda sobre a Declaração de Quebec (2008, p. 04), observa-se a
preocupação dos autores em se identificar as ameaças que colocam em perigo o espírito do lugar: levando-se em conta que a ocorrência de mudanças
climáticas, do turismo de massa, dos conflitos armados e do crescimento urbano conduzem a transformações e a rupturas nas sociedades, faz-se
necessária uma melhor compreensão dessas ameaças, a fim de se tomarem medidas preventivas e de se planejarem soluções duráveis.
Resumidamente, esses dois conceitos-chave podem ser traduzidos da seguinte maneira: Área de Preservação Permanente (APP) constitui uma área protegida
devido à sua importância para o bem-estar das populações humanas; e Espírito do lugar, em síntese, é o conjunto dos bens materiais e imateriais, físicos e
espirituais (que figuram no espírito humano) que dão sentido/valor a um lugar. Com esses dois conceitos, de notável relevância ética, vamos analisar
suscintamente o significado humano do desastre de Mariana e o impacto sociocultural que ele alcança.
Para conhecer melhor a cidade de Mariana e região, assista aos vídeos a seguir, que retratam a cidade antes da tragédia:
Vídeo 1 | Vídeo 2
 
http://mdm.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-2020-01-grad-ead/wp-content/uploads/sites/379/2020/06/video.png
https://www.youtube.com/watch?v=hbvJlV4Emxo
https://www.youtube.com/watch?v=1mSCuCzNzm4
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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Em 05/11/2015, ocorreu o rompimento da barragem de Fundão, localizada no município de Mariana-MG, a qual armazenava rejeitos sólidos da mineração
realizada pela empresa Samarco, cujos maiores acionistas são a Companhia Vale do Rio Doce e a anglo-australiana BHP Billinton. Esse tem sido considerado o
maior desastre ambiental do Brasil e o maior envolvendo ruptura de barragem do mundo.
 
MARIANA DEPOIS DO DESASTRE
De acordo com o relatório da própria empresa Samarco, cerca de 32,6 milhões de m³ de rejeitos saíram do reservatório da barragem e atingiram, também, a
barragem de Santarém, que armazenava água usada no beneficiamento de minério. O resultado relatado no site da própria empresa foi: 19 pessoas mortas,
destruição dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana-MG, e de uma parte do distrito de Gesteira, em Barra Longa-MG. A empresa afirma
ainda no relatório de 07/11/2016, página 9:
Propriedades rurais, que somavam cerca de 2,2 mil hectares, ficaram inundadas, impedidas de produzir. O material fluiu rio abaixo em direção ao Rio
Gualaxo do Norte e, na sequência, para o Rio Doce, prejudicando o abastecimento público de água dos municípios da região. Cerca de 80% dos rejeitos
que desceram da Unidade de Germano ficaram concentrados entre a área pós-Fundão e a Usina Risoleta Neves, ou Candonga, nas proximidades de
Santa Cruz do Escalvado (MG), numa extensão de 113km. O restante seguiu do Rio Doce para o mar, causando transtornos em municípios mineiros e
do litoral norte capixaba. Muitos desses problemas demandarão tempo para ser contornados. A Samarco, porém, está comprometida a atenuar danos
socioeconômicos e socioambientais ocasionados pelo rompimento da barragem (SAMARCO, 2020).
Para maiores informações acerca do rompimento da Barragem do Fundão, clique aqui e acesse o relatório completo da
empresa Samarco.
Veja a dimensão da tragédia ocorrida em 2015.
Vídeo 1 | Vídeo 2
 
Assim, considerando o impacto humano e ambiental, vamos traçar um panorama à luz dos dois conceitos elencados para análise.
 
https://www.samarco.com/wp-content/uploads/2017/01/Book-Samarco_final_baixa.pdf
http://mdm.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-2020-01-grad-ead/wp-content/uploads/sites/379/2020/06/video.png
https://www.youtube.com/watch?v=sZ7MnzComGs
https://www.youtube.com/watch?v=mv5afPAx1YY
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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APLICANDO OS CONCEITOS
A definição de uma APP (Área de Preservação Permanente) deve-se à sua importância, de tal modo que, em hipótese alguma, essa área deve ser afetada. Exige
cuidado contínuo, pois não se sabe se podemos recuperar sua estabilidade natural – e sua recuperação nunca fará que seja novamente igual. Portanto, o dano a
uma Área de Preservação Permanente pode ser considerado irreparável; por isso, no caso analisado de Mariana-MG, pode-se diminuir o efeito e permitir
novamente a vida na região, mas a área afetada precisará recomeçar e reescrever sua história e suas memórias – inclusive memórias de esforço para melhoria
ambiental da região.
Desse modo, quanto ao Espírito do Lugar, ele também foi afetado de maneira definitiva. Não será mais possível retomar o que ele foi. É necessário refletir sobre
o que ele foi antes da tragédia e construir o que pode ser depois. É preciso buscar a memória do local, porém com o objetivo de traçar uma nova história. Tendo
sido um acontecimento de impacto tão grande na região e o maior rompimento de barragem já registrado em qualquer lugar do mundo, é imprescindível
aprender com ele e evitar que o mesmo ocorra em outras partes do Brasil e do mundo.
Contudo, o Decreto n.º 9.142, de 22 de agosto de 2017, do então presidente Michel Temer, extinguia a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), criada
em 1984, localizada entre os estados do Amapá e do Pará, e abria espaço para a mineração privada na região. A reserva mineral engloba unidades de
conservação ambiental, além de territórios indígenas. O governo defendeu, naquele momento, que isso não afetaria a área e até ajudaria na preservação. As
repercussões sobre o efeito desse decreto promoveram o debate sobre a possibilidade de ocorrer novamente um “imprevisto”, como o que ocorreu em Mariana-
MG, resultando em novos desastres. Diante disso, o decreto foi revogado em 25 de setembro de 2017, mantendo as garantias anteriores.
Ainda assim, podemos considerar que tal imprevisto já aconteceu, na cidade de Brumadinho, em 25 janeiro de 2019, quando a barragem B1 da Mina Córrego do
Feijão se rompeu e vitimou quase 300 pessoas, atingindo cerca de 133 hectares de Mata Atlântica (UFMG, 2019).
Assista ao documentário Memórias Rompidas – Tragédia em Mariana, que mostra detalhes do rompimento da Barragem de Brumadinho, ocorrido em
2019.
Clique aqui e conheça as ações de recuperação ambiental e social em Brumadinho promovidas pela empresa Vale.
Concluindo, permanece, no âmbito ético, a preocupação com o equilíbrio ambiental, preocupação essa que impacta diretamente na vida material e espiritual de
pessoas em todo o planeta.
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/brumadinho/pesquisa/1/21682
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/entenda-quais-sao-os-impactos-ambientais-do-rompimento-da-barragem-em-brumadinho
http://mdm.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-2020-01-grad-ead/wp-content/uploads/sites/379/2020/06/video.png
https://www.youtube.com/watch?v=uxGORp0HGic
http://www.vale.com/brasil/pt/aboutvale/servicos-para-comunidade/minas-gerais/atualizacoes_brumadinho/paginas/acoes-da-vale-em-brumadinho.aspx
11/02/2021 Ciclo 5 – Ética, Preconceitos e Fundamentalismos – Antropologia, Ética e Cultura
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PRONTO PARA SABER MAIS?Conheça outros desastres ambientais ocorridos no Brasil clicando no botão ao lado.
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  EDUCAÇÃO
A educação está amplamente ligada à dignidade do ser humano, integrando os objetivos de justiça social, conforme vimos. É pela educação
que é apresentada a ação interativa. Na educação, o ser humano relaciona-se com o outro ser.
Para tratar de maneira introdutória o tema, vamos partir de um esquema simples, em que a função da educação e sua complexidade é colocada numa relação de
equilíbrio ou harmonização entre indivíduo e sociedade. Acompanhe:
 
Fonte: Sanches (2017, p. 97).
Assim, na base do papel da educação, está o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, assim como do indivíduo para a sociedade e com a sociedade.
De acordo com a Constituição brasileira de 1988:
https://etica-ambiental.com.br/desastres-ambientais-do-brasil/
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  
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).
Na continuidade, artigo 206, a Constituição defende, ainda, em seus três primeiros incisos:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; (BRASIL, 1988).
Dessa maneira, podemos traçar um panorama em que a educação, dentro da compreensão ética defendida pela Constituição brasileira de 1988, está
diretamente ligada ao princípio da promoção da dignidade humana e do desenvolvimento integral do ser humano, de maneira livre e democrática.
A segunda geração de Direitos Humanos, contemplada pela Declaração Universal de Direitos Humanos (1948), também faz menção direta à educação, entre
outras coisas. Ela propõe a defesa da igualdade; dos direitos sociais, culturais e econômicos. De inspiração nas consequências negativas da Revolução Industrial
(século 18), que alcançam os séculos 19-20, ela inclui os direitos de acesso à alimentação, saúde, moradia, educação, condições dignas de trabalho com salário
justo e de participação da vida cultural. Propõe, ainda, a defesa em relação à miséria, doença e ignorância (esse é um ponto em que a educação é fundamental),
promovendo o acesso de todos à riqueza produzida pela humanidade, assim como aos recursos e ao progresso científico de que ela (a humanidade) dispõe para
benefício humano.
Dando continuidade aos seus estudos, clique aqui e aprofunde seus conhecimentos sobre a importância da educação e os
posicionamentos o�ciais da ONU, da UNESCO e do Brasil.
BIOÉTICA
Um campo que demanda uma abordagem mais aprofundada é o campo da bioética. Bioética, por definição, reúne duas áreas distintas, que
são a da biologia, enquanto estudo da vida, e a da ética, tal qual estamos estudando. De acordo com Azevedo (2010, p. 255), esta disciplina:
Teve na sua origem, entre outros, um profissional humanista, Van Potter, que considerou a Bioética como “ponte para um futuro com dignidade e
qualidade de vida humanas”, onde a responsabilidade assume a dimensão mais importante para a sua efectividade, como ética prática ou aplicada.
http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-1796.html
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Conforme Azevedo (2010, p. 55) destaca, a Enciclopédia de Bioética de Reich (REICH, W. T. Encyclopedia of bioethics. 2. ed. New York: 1995. 1: XXI) define
esse campo da ética como “[...] o estudo sistemático da conduta humana no âmbito das ciências da vida e da saúde”.
O termo “bioética”, usado desde o início do século 20, ganha força devido às mudanças na sociedade, especialmente no campo científico.
O avanço científico e tecnológico vem propiciando inúmeras possibilidades ao homem, notadamente no que diz respeito às pesquisas que visam
desvendar os “mistérios” do ser humano.
Nessa corrida em busca de respostas, surgiram os mais variados conflitos entre ciência e ética. Visando dirimir tais conflitos, surge, na década de 70, a
bioética, cuja finalidade é auxiliar a humanidade no sentido de estabelecer diálogos entre os diversos ramos do conhecimento, objetivando a reflexão
acerca das soluções para questões éticas provocadas pelos avanços científicos, principalmente no que diz respeito aos direitos humanos (QUAGLIO;
DANIEL, 2008).
Portanto, a bioética implica no tratamento ético às questões que se relacionam à biologia, especialmente no trato com seres humanos. Possui aplicação prática
para a justiça e para a preservação da autonomia de todas as pessoas, mesmo aquelas que possuem dificuldades físicas (princípio da beneficência e justiça).
Quem possui condição plena de exercer sua autonomia, considerando, nesse caso, suas condições físicas, deve garantir também o mesmo direito às pessoas
que não possuem as mesmas condições. Também diz respeito ao trato consciente com seres vivos de modo geral, na realização de experimentos e em atitudes
de interesse social, como eutanásia, aborto, suicídio, pesquisas com células-tronco etc. É uma área interdisciplinar, que envolve direito, sociologia, filosofia,
antropologia, biologia, história, teologia, saúde, entre outras.
SAIBA MAIS!
Como você viu, a bioética envolve diversos aspectos – e agora é a hora de você se aprofundar em cada um deles. Clique no botão ao lado e boa leitura!
Clique Aqui
A bioética é identificada com a quarta geração de Direitos Humanos, que propõe a defesa do patrimônio genético da humanidade. De inspiração no recente
processo de globalização da economia capitalista (a partir da década de 1970 e especialmente depois do fim da Guerra Fria, em 1989), essa geração de Direitos
Humanos tem como norte as inovações tecnológicas no mundo capitalista, podendo interferir, inclusive, na estrutura genética do ser humano. Inclui, assim, a
preservação do patrimônio genético do ser humano, regulamentando e limitando o alcance de pesquisas científicas nessa área. Propõe que nenhum indivíduo
http://www.scielo.mec.pt/pdf/nas/v19n4/v19n4a05.pdf
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pode ser submetido a determinadas manipulações provenientes de experimentos genéticos, uma vez que se trata de proteger não apenas esse indivíduo, mas
toda a espécie humana.
Para maiores informações sobre os tratados internacionais de Direitos Humanos, recomendamos que você faça a leitura do
artigo Tratados internacionais no Direito Brasileiro, de Mário Luiz Silva.
Sobre os direitos civis e políticos, clique aqui e leia um artigo de Carlos Weis.
Assim, a bioética encontra, na interdisciplinaridade, o caminho para a conceituação da responsabilidade do pesquisador quanto ao alcance de suas pesquisas
e dos métodos usados para se alcançar os resultados. O interesse coletivo, assim entendido, deve ser respeitado tanto ao conceber os fins almejados quanto no
uso dos meios para alcançá-los. Acompanhe os vídeos a seguir.
Portanto, a ética pode ser definida como um princípio regulador da sociedade, cuja finalidade é possibilitar o exercício da cidadania e o reconhecimento dos
plenos direitos da pessoa humana, tanto individuais quanto sociais. Mas ainda permanece a questão: é possível, de fato, concretizar uma ética e respectiva ação
moral que respeitem a condição humana na sua totalidade?
PRONTO PARA SABER MAIS?
Paraum maior esclarecimento dos conteúdos tratados anteriormente relacionados à ética, recomendamos a leitura da publicação de Leonardo Boff, Saber
cuidar: ética do humano. Clique no botão ao lado e boa leitura!
Clique Aqui
  ÉTICA COISIFICADORA OU HUMANIZADORA?
A expressão “ética coisificadora” não é uma expressão adequada quando falamos sobre ética, mas ajudará a entender o que pretendemos
demonstrar quando falamos de uma ética humanizadora, ou seja, o real sentido da palavra ética.
https://jus.com.br/artigos/22917
http://www.dhnet.org.br/direitos/novosdireitos/direitoscivis/weiss_direitos_civis_politicos.pdf
http://cursa.ihmc.us/rid=1GMSLFWNB-5RXV9C-GSQ/Saber%20Cuidar%20-%20Etica%20do%20Humano.pdf
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UMA ÉTICA COISIFICADORA DO SER HUMANO
Vamos entender o que é ética coisificadora por meio de um exemplo apresentado pelas ciências. As implicações éticas das ciências modernas, desde o seu
início até a sua evolução, são alvos de muitas discussões. A ciência tem alcançado um grau de desenvolvimento nunca antes percebido pela humanidade,
portanto, ela apresenta valores que não podem ser menosprezados. No entanto, podemos considerar que nem sempre houve uma contribuição para o
reconhecimento da plena dignidade humana. Esse fato coloca a necessidade de se considerar a relação entre ciência, ética e cidadania. A compreensão de cada
um dos termos não é uma tarefa fácil por apresentar diversas abordagens a respeito, o que não torna a temática irrelevante (GALLO, 1997).
Podemos perceber que existe uma postura ética que não se preocupa com este assunto, pois não acredita na sua importância. Para essa interpretação, a ciência
não necessita desse tipo de indagação, por se apresentar com características particulares. Scopinho e Daniel (2013, p. 108) afirmam que a ética “[...] é entendida
a partir de uma concepção positivista, que estuda a sociedade da mesma maneira que se estuda a vida social das formigas ou das abelhas”.
A ideia de que a sociedade pode ser entendida como coisa (E. Durkheim) trouxe várias implicações para o estudo das ciências não somente na área das ciências
exatas e biológicas, mas também na área das ciências humanas.
A mentalidade positivista esteve presente em várias ciências, desde a Sociologia até a Psicologia, passando pela Teoria da Evolução e pela Física. A Psicologia,
por exemplo, que começa a ser entendida como ciência somente a partir do século 19, reflete esse tipo de pensamento. Fundamentando-se numa concepção
positivista da mente humana, ela não se preocupou com questões ligadas à alma (psyque). A tendência behaviorista, na sua formulação inicial, ressaltava o
estudo do indivíduo apenas interagindo com o meio, baseando-se na relação entre estímulo e resposta. Essa concepção teve dificuldade em trabalhar com o
método da introspecção, que salientava as questões da alma, e não somente o indivíduo e o meio (JAPIASSU, 1995).
As implicações éticas tornam-se evidentes quando se nega a condição humana na sua complexidade. Quanto aos seus diferentes ângulos de compreensão,
podemos afirmar que há um risco em interpretá-la como coisa. Esse processo de coisificação apresenta sérias consequências para a sociedade e para o próprio
ser humano. Uma delas é a valorização excessiva das ciências, privilegiando uma minoria, enquanto a grande maioria padece as consequências dessa evolução.
A pesquisa científica avança nos diferentes campos da realidade, enquanto uma parcela considerável da população não tem as mínimas condições para
sobreviver (ASSMANN, 1994).
Um exemplo disso é a sociedade brasileira, que convive com uma diferença exorbitante de ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres,
classificando o Brasil como um dos países com pior distribuição de renda do mundo, com excelentes centros de pesquisa e, ao mesmo tempo, com uma situação
de extrema miséria. Ou no continente africano, onde os seus membros morrem por motivos de doenças como a AIDS, ou por causa de guerras civis, sem o apoio
de organismos internacionais. Isso porque, como é um continente que não interessa política e economicamente, seus problemas são irrelevantes para o
capitalismo globalizado.
A sociedade contemporânea tomou proporções alarmantes, criando relações de dependência e intercâmbio entre todos os países do planeta. Essa situação não
considera a dignidade da pessoa humana. A abordagem é apenas de ordem econômica em detrimento da solução dos problemas sociais, tidos como
insignificantes para a manutenção de um pretenso crescimento econômico.
Diante desse quadro, podemos afirmar que:
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[...] parece que não existem saídas plausíveis. A apatia e a falta de perspectivas geram um sentimento de desânimo generalizado. Basta olhar para a
política no Brasil, diante dos casos de fraude e corrupção cada vez mais evidentes nos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário. Ou o papel
da imprensa diante destes fatos e de tantos outros que envolvem vários campos da sociedade civil e política. Na maioria das vezes, se percebe que ela
não quer contribuir para o esclarecimento dessas questões, mas quer apenas criar sensacionalismo e uma divulgação que não considera as causas
reais desses acontecimentos. E a violência explícita e implícita presente na sociedade? Não podemos deixar de nos preocupar com toda essa
problemática. Por isso, torna-se necessário pensar um projeto ético que resgate a cidadania e o valor do ser humano não apenas como objeto de
consumo, de propaganda e de pesquisa (SCOPINHO, DANIEL, 2013, p. 110).
UM PROJETO ÉTICO HUMANITÁRIO
Existe saída diante de um projeto social que não prioriza o ser humano na sua integralidade? Como ser protagonista numa sociedade em que a grande parte da
população apenas recebe as informações e decisões sem se comprometer com uma ação que transforme a realidade? Podemos ter uma postura coisificadora da
sociedade e agir de uma forma passiva?
Podemos afirmar, com segurança, que é possível concretizar um projeto ético humanitário, e, para obtê-lo, precisamos ter vontade para isso. Esse deve ser o
compromisso de todos – e o caminho é o da solidariedade, que se concretiza em atitudes de humanos para com humanos. Só assim será possível obter relações
sociais com características justas e equitativas, sem esquecer o respeito pela natureza.
A solidariedade nos faz reconhecer o outro como pessoa. Nenhum ser humano é objeto, é coisa; ele deve ser respeitado em todas as suas dimensões.
A solidariedade implica no compromisso com aqueles que são excluídos da sociedade. É possível criar um processo de inclusão, no qual todos possam ter os
direitos plenamente reconhecidos, mas enquanto existir tamanha desigualdade social e enquanto tantas pessoas tiverem de viver embaixo de pontes e viadutos,
ou “puxando carroças” para sobreviverem, é sinal de que ainda há muita coisa para ser feita. Talvez, diante disso, possamos sentir uma impressão de impotência.
O que pode ser feito para transformar essa realidade? Basta dar um pedaço de pão para quem precisa, ou dar uma esmola para um mendigo que nos interpela
na rua? Se isso não for suficiente, como reverter uma estrutura geradora dessa situação?
O primeiro ponto a ser discutido é a necessidade de se fazer alguma coisa dentro das nossas possibilidades. Dessa maneira, toma-se consciência do problema.
Contudo, muitas pessoas não se deparam com esse tipo de questionamento. Existe um desconhecimento que ocorre ou por ignorância ou por negligência e
omissão. Se o problema atinge a todos, somos chamados a compartilhar com a transformação; do contrário, estaremos legitimando a situação vigente. Podemosrecuar, mas, se o fizermos, estaremos nos colocando como coniventes com a maneira com a qual a sociedade está se organizando, tanto no desenvolvimento
das ciências como nas relações políticas e econômicas.
Quando se trata de relações sociais, somos motivados para criar uma ética humanitária. A sociedade precisa oferecer condições de vida básica, para que o ser
humano viva dignamente. E levantar esses aspectos é considerar duas grandes áreas prioritárias: saúde e educação.
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Somente com uma população saudável, na qual a medicina, por exemplo, não seja apenas curativa, mais preventiva, é que será possível garantir os direitos à
saúde, ao trabalho, ao lazer, à habitação, entre outros. Uma vida saudável, que englobe todos esses elementos, exige também uma educação não somente
alfabetizadora, mas conscientizadora (FREIRE, 2000). Atualmente, essa tarefa pode ser concretizada por várias instâncias da sociedade, que vai desde o ensino
institucional até outras formas de organização, como sindicatos, ONGs e empresas. A luta deve ser de todos, especialmente daqueles que estão inseridos
diretamente na prática pedagógica, atuando como agentes de conscientização libertadora e promotora da vida.
Para esclarecer aspectos relacionados à ética, seu princípio humanizador e antropológico, clique aqui e faça a leitura da
publicação de Ana Leonor Santos, Para uma Ética do como se. Contingência e Liberdade em Aristóteles e Kant (2008).
Com relação à natureza, podemos afirmar não se tratar só de deixar de cortar árvores – isso também, mas, muito mais que isso, é preciso recuperar e manter o
ecossistema, pois a natureza não pode ser tratada como um objeto de exploração e de consumo.
Quando tomamos conhecimento de acontecimentos como o desmatamento da floresta amazônica, a dizimação dos índios (que cada vez mais perdem o direito à
terra), a destruição da camada de ozônio, entre tantos outros, nossa posição não pode ser de passividade. É preciso se manifestar, apoiando iniciativas
presentes na comunidade ou criando novas iniciativas pessoais ou com um grupos de amigos, sensíveis aos problemas. Se nos calarmos, quem irá se manifestar
é a própria natureza, e, quando isto acontecer, poderá ser tarde demais para pensar numa solução viável e capaz de reverter o caos.
Neste momento, clique aqui e leia a Carta Encíclica Veritatis Splendor, escrita pelo Papa João Paulo II, que aborda questões do
ensinamento da moral da igreja.
Assim, apresentamos alguns elementos daquilo que estamos denominando ética humanitária. A metodologia ou o caminho a ser seguido depende de cada um;
o fato é que não podemos ficar parados, esperando os problemas aparecerem. Temos que fazer a nossa parte!
Sugerimos, neste momento, que você dê uma pausa na sua leitura e reflita sobre sua aprendizagem, respondendo à questão a seguir.
Quando o ser humano é, respectivamente, coisificado e humanizado?
 Jamais o ser humano pode ser entendido como “coisa”, pelo fato de que sua humanidade o torna diferente de qualquer outro objeto presente na
sociedade e na natureza; ele sempre dever ser entendido no desenvolvimento pleno da sua humanidade.
http://www.lusosofia.net/textos/santos_ana_leonor_para_uma_etica_do_como_se.pdf
http://www.rainhamaria.com.br/Pagina/193/CARTA-ENCICLICA-VERITATIS-SPLENDOR
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  CRÍTICA AOS PRECONCEITOS E FUNDAMENTALISMOS
Para realização de um projeto ético humanitário, é preciso superar algumas questões que, muitas vezes, estão enraizadas em nossa mente e
até mesmo na nossa forma de ver e atuar no mundo. Referimo-nos, aqui, a dois assuntos que são fundamentais quando se quer refletir sobre as implicações
éticas no mundo contemporâneo: preconceitos e fundamentalismos. A seguir, vamos entender cada um deles.
PRECONCEITO
Em seu sentido mais simples, podemos identificar o preconceito como uma ideia formada sobre algo que não se conhece, ou um conceito que antecede o
conhecimento/experiência daquilo que está sendo conceituado.
Podemos considerar, ainda, que se trata de um comportamento comum diante daquilo que é desconhecido: sem um precedente claro que permita se formar um
valor a respeito, é feita uma tentativa aproximativa. Ou seja, constitui uma forma de transformar o desconhecido em “conhecido”, sem passar pela experiência,
baseando-se, portanto, em crenças e motivações afetivas.
Mas por que evitar a experiência de conhecer o diferente? Bom, muitas vezes a diversidade em que vivemos pode nos expor ao reconhecimento de riscos. É
comum buscarmos uma vida previsível, organizada e segura, de acordo com nossos entendimentos e costumes, crenças e hábitos. Contudo, uma circunstância
ou pessoa pode nos expor ao conhecimento de que as coisas não são exatamente da maneira que acreditávamos. O preconceito pode ser uma saída para fugir
dessa indesejável experiência.
 O ser humano é coisificado quando perde sua identidade humana e se torna instrumento de interesses que o fazem objeto de uso e exploração; por
sua vez, é humanizado quando as condições materiais e espirituais são valorizadas e reconhecidas, fazendo-o respeitado na sua dignidade e alteridade.
 Objeto e sujeito são duas formas de linguagem que não podem ser usadas para atribuir significado aos seres humanos; por isso, não tem sentido a
forma como a pergunta está sendo apresentada.
 Ser e não ser são duas dimensões que dizem respeito a todos os seres da natureza; portanto, o ser humano, em determinado momento, pode ser
sujeito e não objeto ou, em outro momento, pode deixar de ser sujeito e se tornar objeto.
 O ser humano é coisificado quando as condições materiais e espirituais são valorizadas e reconhecidas, fazendo-o respeitado na sua dignidade e
alteridade; por sua vez, é humanizado quando perde sua identidade humana e se torna instrumento de interesses que o fazem objeto de uso e
exploração.
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De um lado, a experiência é fortemente impedida pelos riscos que enuncia de conhecer algo que é distinto daquilo que se formou, ou daquilo a que se
reduziu o objeto preconcebido; de outro lado, o pensamento é reduzido a tarefas também já preconcebidas pelas necessidades industriais. A realidade,
não se mostrando em sua diversidade, impede o movimento da consciência em direção ao combate ao sofrimento existente, pois este é iludido sem por
isso deixar de existir. Do mal-estar resultante provém o preconceito (CROCHIK, 1996, p. 69).
Considerando a sociedade contemporânea, com seu ritmo de vida definido pelo trabalho contínuo e mecanizado, temos um caminho definido e que parece ser
coerente, dentro do qual colocamos nossos afetos, família, amigos e sistema de crenças. Ao assumir esse caminho, o indivíduo o interioriza e toma-o como uma
realidade única e universal.
Assim, aquilo que se interpõe a esse modo de entender a vida pode ser preconceituosamente negado ou taxado como inadequado, desconsiderando a
complexidade e diversidade humana inerente à vida em sociedade. O indivíduo, ao sentir-se confrontado por uma realidade diferente da sua, enfrenta uma
espécie de constrangimento. Ao defender-se desse constrangimento, o preconceito surge como uma forma de se retirar do dilema e impingi-lo ao outro.
Mas há algumas implicações de tal atitude. De acordo com Novo (2019):
Preconceito nada mais é do que uma ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial. Quer dizer, pode ser
caracterizado como um juízopreconcebido, geralmente manifestado na forma de atitude discriminatória perante pessoas, lugares, tradições, crenças etc.
Preconceito é um juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude discriminatória perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de
comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento crítico ou lógico.
Dessa maneira, o preconceito pode gerar uma compreensão equivocada de pessoas e situações, levando à discriminação e a classificações precipitadas. O
preconceito não parte de uma análise do objeto e, por isso, resulta em conclusões que o excluem, substituindo-o por uma apreciação que possa fazê-lo “caber”
dentro de um estigma.
ATENÇÃO!
Estigma vem do latim stigma, stigmătis. “Marca de ferro em brasa, ferrete (impresso em escravos como sinal de desgraça). Estigma. Corte, cicatriz”
(REZENDE, 2014).
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É um conceito ou categoria de análise usada em estudos sociológicos, antropológicos, na área da saúde e também na psicologia, assim como na
linguística. Diz respeito a uma rotulação, como uma marca destinada àqueles que cometerem desvios de conduta. “Na definição goffmaniana, um
estigma, que incide sobre indivíduos e grupos socialmente desabonados, aplica-se não de maneira direta, considerando-se características em si
mesmas negativas, mas a partir da violação das expectativas normativas sustentadas culturalmente sobre a apresentação social de um indivíduo em
diferentes contextos de interação social” (BIAR, 2015, p. 113).
Para saber mais, clique aqui.
Caniato (2008, p. 22) elucida que o preconceito é uma forma de defender a hegemonia. Isso significa que apenas alguns grupos de pessoas que se comportem
e/ou pensem da mesma maneira sejam tomados como corretos, e os demais são taxados como errados. Trata-se, portanto, de um conflito entre formas de
entender e viver a vida, em que está em jogo defender a concentração de oportunidades e poder em um grupo específico.
Embora categorizações excludentes existam em todos os agrupamentos humanos, no contexto classista da sociedade capitalista, o preconceito
preenche, mais ou menos intencionalmente, uma função ideológica encobridora da primazia de oportunidades para os grupos hegemônicos (CANIATO,
2008, p. 22).
Todavia, o preconceituoso defende que seu posicionamento é o mais correto, que não deve ser questionado e que aqueles que o questionam são expressões de
um mal proeminente – ou estão abaixo do nível aceitável.
Muitas vezes, o preconceito manifesta-se diante do conflito entre posicionamentos ou características de pessoas e grupos sociais.
As representações preconceituosas, uma das expressões da violência social, manifestam-se por meio de signos de periculosidade distintos e com
atribuição de perversidades a indivíduos e grupos diferentes. Isso porque a escolha de quem deve ser hostilizado atende a interesses político-
econômicos hegemônicos de cada época (CANIATO, 2008, p. 22).
Diante da diferença, com o intuito de caracterizar no comportamento das pessoas a dualidade “bem” e “mal” ou “certo” e “errado”, o preconceito é um recurso de
organização do poder na sociedade, que sempre foi utilizado e segue as determinações de cada período histórico. Desconsiderando a possibilidade de
coexistência de diferentes processos humanos, esse recurso define quem é bem-vindo e quem deve ser rejeitado, estigmatizando as diferenças e tratando-as
como símbolos da maldade.
http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/view/cld.2015.131.11
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Esse processo de “dividir para reinar”, portanto, sofre as consequências de determinações históricas e, na contemporaneidade, exprime-se de forma
cada vez mais encoberta e sutil. Consequências destrutivas permeiam a vida dos estigmatizados pelo preconceito, em especial quando tais
representações são internalizadas inconscientemente pelos indivíduos destinatários do preconceito, que se tornam “portadores” de tais atribuições de
malignidade (CANIATO, 2008, p. 22).
Dito de outra maneira, devido ao preconceito ser manifestado como se fosse algo natural, propondo-se a definir o mais correto a ser feito, muitas vezes, é difícil
entender quando ele está sendo aferido. A não identificação do preconceito pode levá-lo a ser tomado como verdade no ambiente social, assim como à sua
integração na psique do indivíduo estigmatizado. Assim, até a vítima passa a olhar-se com preconceito, podendo estender essa forma de ver aos outros.
Por tratar-se de um processo comum em várias sociedades e que acompanhou a história da humanidade, o preconceito é objeto de estudos que demonstram a
sua presença e alcance na atualidade, tanto do ponto de vista social quanto psíquico.
Uma das questões centrais sobre o preconceito refere-se a como se dá a relação entre os aspectos psíquicos e sociais na sua constituição. Conforme as
pesquisas de Allport (1946) e de Adorno et al. (1965) mostram, o preconceito não é inato; ele se instala no desenvolvimento individual como um produto
das relações entre os conflitos psíquicos e a estereotipia do pensamento – que já é uma defesa psíquica contra aqueles – e o estereótipo, o que indica
que elementos próprios à cultura estão presentes (CROCHIK, 1996, p. 47).
Em outras palavras, o preconceito não nasce com as pessoas ou grupos sociais, ele é construído ao longo de um processo mais abrangente. Esse processo é ao
mesmo tempo psíquico (depende das características internas do indivíduo) e cultural (está de acordo com a cultura que rodeia esse indivíduo e da qual ele faz
parte).
Assim entendido, há certo grau de complexidade entre o preconceito, aquele que o manifesta e suas vítimas.
Por outro lado, essas pesquisas indicam também que o indivíduo que apresenta o preconceito em relação a um objeto tende a apresentá-lo em relação a
outros objetos, o que revela uma relativa independência do indivíduo que porta o preconceito e o objeto ao qual esse se destina (CROCHIK, 1996, p. 47).
Desse modo, o preconceito pode estabelecer mais que uma relação de repulsa de alguém (pessoa ou grupo social) a esse ou aquele indivíduo/grupo: pode
constituir um padrão de atitude que direciona a ação geral de determinadas pessoas em relação a todas as coisas.
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Contudo, como são diversos os estereótipos presentes nos preconceitos que são dirigidos a diferentes objetos, algo destes últimos deve estar presente
para a constituição daqueles, ainda que não se refira aos próprios objetos, mas à percepção que se tem deles. Ou seja, ao mesmo tempo que podemos
afirmar que o indivíduo predisposto ao preconceito independe dos objetos sobre os quais aquele recai, podemos dizer também que o objeto não é
totalmente independente do estereótipo apropriado pelo preconceito que lhe diz respeito. O estereótipo em relação ao negro não é o mesmo daquele
que se volta contra o judeu que, por sua vez, é diferente do estereótipo sobre o deficiente físico (CROCHIK, 1996, p. 47-48).
Todavia, concluiu-se que há uma participação ativa de quem é vítima do preconceito, muito embora não seja uma questão de escolha individual ser ou não vítima
de preconceito. O que ocorre é que a atribuição de preconceitos depende também daqueles que a eles são expostos, levando, assim, a diferentes resultados e
mesmo diversos tipos de preconceitos.
Como foi dito anteriormente, devido à força com que o preconceito é imposto dentro da organização social, muitas vezes, a própriavítima do preconceito passa a
acreditar nele, aceitando a “maldade” ou inadequação que lhe é atribuída. Por isso, também, preconceitos diferentes são atribuídos a diferentes tipos de pessoas
em diferentes momentos da história.
Cabe a nós inteirarmo-nos sobre o assunto, considerarmos que cada tipo de preconceito tem a sua trajetória sociocultural, com dilemas que não podem ser
tratados de maneira simplista e fora de uma investigação mais profunda e abrangente.
Circunstanciando-o de maneira rápida na sociedade atual, temos alguns agravantes que precisam ser considerados. Segundo Crochik (1996, p. 59):
Como a racionalidade da produção capitalista é voltada para o lucro e não para as necessidades humanas, e como com as transformações sociais
ocorridas neste século a racionalidade do mundo do trabalho se propaga às outras esferas de vida, o objetivo da sociedade torna-se o de ser um mundo
perfeitamente administrado. Ou seja, como a racionalidade virou o fim do próprio sistema social, mas não mais um meio para que todos possam ter uma
vida digna, a sociedade tornou-se irracional.
Se a cultura que se reduziu à sociedade da sobrevivência torna-se irracional, o seu princípio de realidade contém também algo dessa irracionalidade.
Portanto, o preconceito, em suas diferentes formas de expressão, coloca uma questão muito séria que se refere às relações humanas e à vivência em sociedade.
A defesa de uma sociedade moderna e racional, que funcione com critérios claros e previamente definidos, pode impor, como apontou Crochik (1996), uma
submissão das pessoas a esse sistema organizativo racionalizante, de modo que mantê-lo se torne mais importante que buscar as melhores condições de vida.
Nesse sentido, podemos dizer que a busca cega pela afirmação de uma racionalidade ligada ao trabalho e à produção de lucro é a demonstração mais evidente
de como a irracionalidade está presente em nossa forma de viver.
Dito resumidamente, uma vez que essa racionalidade da produção de lucro não se apresenta necessariamente como forma mais eficiente de viver em todos os
contextos, a sua defesa irrestrita se torna ofensiva às condições de vida de muitas pessoas – e até mesmo de quem a defende. Nesse ínterim, a continuidade
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dessa defesa passa a ser irracional, culminando no uso do preconceito para acusar os que não se adequam ao sistema e isentar de responsabilidade o próprio
sistema.
O Ministério Público do Estado de São Paulo lançou, em 2014, uma cartilha chamada Tolerância, esclarecendo que: “Na raiz da intolerância está o preconceito,
que pode ser racial, econômico, de gênero, social, sexual, religioso, esportivo, político, etário, de pessoa com deficiência, dentre outros” (MPSP, 2015).
Em concordância com a Constituição brasileira (1988) e com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a proposta é um exemplo dentre os esforços
empreendidos pelo poder público do Brasil, a partir de cada um de seus entes (estados, municípios e União), no combate à violência gerada pela intolerância.
Agora, propomos que você assista a seguir a um vídeo do canal do Ministério Público do Estado de São Paulo no YouTube, com a cantora Deena Love cantando
uma música que integra a campanha Tolerância, ilustrando diversas formas de discriminação e preconceito comuns no cotidiano.
Cabe a cada um de nós refletir sobre nossas próprias ações e motivações e cultivar o respeito mútuo.
Contudo, esse desafio alcança um campo ainda mais abrangente, em que a afirmação de crenças e posições ideológicas assume um nível destrutivo que tem se
mostrado cada vez mais frequente no mundo todo, que é o dos fundamentalismos (tema que veremos na sequência).
Pronto para testar seus conhecimentos? Responda à questão a seguir e identifique se o seu aprendizado está eficiente.
FUNDAMENTALISMO
Sobre a definição de preconceito, assinale a afirmativa correta.
 O preconceito pode ser um mal necessário sempre que estamos diante de uma situação que não temos condições de entender.
 Preconceito é uma maneira de julgar as coisas e descobrir a diferença entre o correto e o justo, de um lado, e o incorreto e o injusto, de outro.
 O preconceito trouxe, pelo menos, um bem e um mal: o bem foi que, através dele, o indivíduo pôde se impor diante da adversidade; e o mal foi que
essa imposição pode ser equivocada devido à falta de uma análise exaustiva da adversidade.
 Trata-se de uma palavra fundamental para elucidar todas as dificuldades do cientista e do pesquisador em suas análises críticas. Constitui o excesso
de elaboração da criticidade sobre um tema.
 Em seu sentido mais simples, podemos identificar o preconceito como uma ideia formada sobre algo que não se conhece, ou um conceito que
antecede o conhecimento/experiência daquilo que está sendo conceituado.
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/Tolerancia_cartilha_Impressao.pdf
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  Outro aspecto que dificulta a implantação de uma ética humanista diz respeito a toda e qualquer forma de fundamentalismo.
Inicialmente, vamos destacar duas definições, oferecidas pelo Dicionário Michaelis On-line (2020) sobre o tema:
1. Movimento dos cristãos protestantes dos Estados Unidos da América, nascido nos primórdios do século XX, que pregava a rejeição das tendências
liberais das igrejas protestantes, nas quais julgavam encontrar uma aceitação, ainda que incipiente, de ideias e teorias seculares ou ateias, como, por
exemplo, o marxismo e o evolucionismo biológico de Darwin. (As igrejas fundamentalistas tendem a ser separatistas e frequentemente não se associam
a outras igrejas que não observem a interpretação literal da Bíblia.)
2. Movimentos ou correntes de quaisquer religiões que defendem a retomada das doutrinas consideradas fundamentais.
Nesse caso, temos o fundamentalismo situado no espaço e no tempo, identificado com o cristianismo protestante nos Estados Unidos da América desde o início
do século 20. Nesse contexto – espacial e temporal –, conforme definições anteriores, é traçado um perfil de atitude, que é o combate realizado por cristãos
protestantes a qualquer tipo de aceitação de ideias externas ao pensamento cristão ortodoxo. Assim, era defendido o cristianismo pautado na compreensão literal
da Bíblia.
Também é apresentada uma definição geral de fundamentalismo, que é traduzido como a atitude de seguir uma doutrina a tomando como fundamental.
O mesmo dicionário relaciona esse verbete com a definição de fundamentalismo islâmico, o qual trata da seguinte maneira:
[...] crença em que o mundo islâmico só passará por um processo de revitalização se retornar aos princípios e às práticas tradicionais do islamismo, o
que implica, em particular, a volta a um tipo de vida que vigorava no século VII na comunidade estabelecida por Maomé, em Medina, regida pela lei
islâmica (sharia) e, se necessário, defendida pela guerra santa (o jihad) e que tinha como uma de suas características principais a interpretação literal do
Alcorão e da sharia (DICIONÁRIO MICHAELIS ON-LINE, 2020)
Na mídia, é muito comum a palavra “fundamentalismo” ser utilizada no contexto do islamismo para tratar dos conflitos que permeiam o Oriente Médio atualmente
e ao longo de sua história, possibilitando confundir a religiosidade Islã com tal movimento de doutrinação – embora sejam duas coisas distintas. De modo geral, o
fundamentalismo não é identificado como a doutrina em si, mas como a postura de um grupo de seguidores diante da doutrina a que são adeptos. Podemos,
inclusive, fazer uma abordagem dos fundamentalismos de acordo com a psicologia analítica. Acompanhe no vídeo a seguir. 
 
Háuma discussão ampla, sendo difícil chegar a um ponto inequívoco sobre o tema. De todo modo, podemos estabelecer alguns pontos de orientação.
Por definição, podemos considerar que fundamentalismo diz respeito a considerar uma doutrina como tão fundamental que seus fundamentos precisam ser
tratados de maneira única, ortodoxa, sem interpretação ou variação de entendimento. E sendo assim tão importante segui-la, não há espaço para discordância: a
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doutrina deve ser seguida cegamente e defendida plenamente, tornando-se o principal sentido de existência de seus seguidores. A doutrina passa a ser o
fundamento de todas as coisas, o fundamento da existência da vida, sendo apropriado viver e morrer – talvez até matar – em nome dela.
Assim, ter a própria vida rigorosamente fundamentada em uma doutrina, arbitrariamente excluindo qualquer espaço de diversidade de pensamento e opinião,
pode ser considerado uma forma de fundamentalismo.
Por esse caminho de entendimento, podemos nos questionar pessoalmente: eu sou fundamentalista? Eu coloco as crenças que tenho em uma doutrina acima do
respeito ao ser humano e à sua vida? Esses questionamentos ficam para cada um de nós, como um debate interior muito importante sobre o alcance e a
responsabilidade das nossas ações cotidianas.
Em 11 de setembro de 2001, o ataque ao Word Trade Center, ou às chamadas “Torres Gêmeas”, nos Estados Unidos da América, trouxe esse debate para o
mundo todo. Naquele caso, era o fundamentalismo islâmico que reivindicava os ataques. Por isso, até hoje, quando pensamos em fundamentalismo, é comum vir
à mente o Islã. Mas isso é injusto com aqueles que, ao professarem essa fé, mantêm o respeito a todos os representantes das demais religiosidades.
No bojo das discussões sobre os Ataques Terroristas de 11 de setembro, como ficaram conhecidos, o jornal Folha de S. Paulo publicou, em 21 de outubro de
2001, um artigo do ensaísta Sérgio Paulo Rouanet, no qual o autor defendia que o conflito envolvia três fundamentalismos distintos: o fundamentalismo islâmico,
o judaico e o cristão. Contudo, a definição de fundamentalismo teria sua origem no território americano.
O próprio nome nasceu nos EUA, a partir de uma série de fascículos publicados entre 1909 e 1915, em que pastores de várias denominações
relacionaram os “fundamentals” ou pontos fundamentais da fé cristã, dos quais nenhuma das igrejas poderia se desviar. O principal desses pontos era a
infalibilidade da Bíblia. O fundamentalismo protestante expôs-se ao ridículo mundial quando um professor secundário do Estado de Tennessee foi
processado por ter ensinado o evolucionismo na escola, contrariando uma lei estadual. Mas os fundamentalistas continuam vivos e atuantes (ROUANET,
2001).
De acordo com ele, apesar de suas distinções doutrinárias, esses três fundamentalismos possuem alguns aspectos em comum:
Os três fundamentalismos têm em comum o tradicionalismo em questões morais e uma posição retrógrada quanto ao estatuto da mulher. São puritanos
e misóginos. Mas esse tradicionalismo não implica uma rejeição em bloco da modernidade.
Todos eles aceitam a modernidade técnico-econômica (ROUANET, 2001).
Nessa perspectiva, os fundamentalistas não são, em sua base, contrários a alguns fenômenos que caracterizam a modernidade, tais como a industrialização e o
comércio, ou o acúmulo de riqueza e a propriedade. Mas fazem menção a modelos ultraconservadores de família – conforme as noções específicas das
doutrinas que os fundamentam – e à certa rigidez moral. Tudo isso é tomado pelos adeptos como aquilo que é inequivocamente e indubitavelmente certo.
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/549136-os-tres-fundamentalismos
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Aqueles que não são adeptos de tal moralidade, portanto, são considerados, pelos fundamentalistas, como aqueles que estão errados, devendo ser doutrinados,
ignorados e/ou combatidos.
Retomando brevemente a discussão do tópico anterior, se considerarmos ética como um princípio orientador, cujo compromisso central é preservar o equilíbrio
das relações humanas e o bem-estar coletivo; e moral como código de conduta ou regra que prevê a aplicação do princípio ético, podemos dizer que o
fundamentalismo – ao supervalorizar a obediência à regra moral – acaba desvinculando a doutrina religiosa da possibilidade de manifestar uma ética enquanto
princípio humanizador, solidário e pacífico. 
Tal fenômeno tem sido amplamente discutido em diversas áreas do conhecimento, tanto considerando as dinâmicas psíquicas quanto o seu alcance coletivo. Do
ponto de vista psicológico, é importante chamar a atenção para o processo interior do qual ele é resultante.
Rocha (2014) considera que os fundamentalistas se relacionam com a religião, da qual são adeptos, semelhantemente ao modo como um apaixonado
lida com o objeto de sua paixão amorosa. Investem sua libido no ideal religioso, como os apaixonados o fazem em relação ao seu objeto de amor. Da
mesma forma como o objeto da paixão é idealizado com todas as perfeições, de tal modo que o apaixonado não consegue se imaginar sem ele, o
fundamentalista também percebe seus ideais religiosos como algo que lhe traz plenitude e sem os quais não poderia viver. Por esses ideais, ele sente
que vale a pena viver e morrer e, em situações de extremismo, até matar (OLIVEIRA, 2018, p. 146-147).
Todavia, assim exposto, o fundamentalismo passa por um processo de idealização no sujeito, o qual se vê “apaixonado” pela defesa de ideais que, muitas vezes,
professam um mundo em que as pessoas não devem se render às paixões seculares.
O seu alcance no processo histórico também chama a atenção:
A historiadora das religiões Karen Armstrong (2001) constata que um dos fatos mais alarmantes do século XX foi o surgimento de uma devoção militante
popularmente conhecida como fundamentalismo e demonstra que, no final da década de 1970, os fundamentalistas começaram a rebelar-se contra a
hegemonia do secularismo e empreender esforços para tirar a religião da posição subalterna que ela ocupou com a modernidade. Sua hipótese de base
é que o fundamentalismo pode ser compreendido como uma reação à cultura científica e secular que nasceu no Ocidente e que se arraigou no resto do
mundo, destituindo as verdades religiosas. Para a autora, as estratégias de ataque utilizadas pelos fundamentalistas aos preceitos secularistas e liberais
revelam o temor da aniquilação e a tentativa de preservar sua identidade por meio do resgate de certas doutrinas e práticas do passado (COELHO;
JORGE, 2017, p. 12).
Dito de outra maneira, em se tratando de mudanças no ambiente social que se orientam pela cultura científica, por concepções laicas e que interferem
diretamente na formação da identidade das pessoas, religiosos de diferentes origens reagiram se afirmando, afirmando a identidade pessoal pautada em
concepções religiosas milenares e consideradas como verdades atemporais, retomando ortodoxamente também as suas práticas.
Como resultado, podemos identificar uma resistência às instituições modernas e às suas formas de funcionamento.
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O sociólogo Manuel Castells (1999) assume a mesma direção de análise e argumenta que os movimentos fundamentalistas objetivam o resguardo da
identidade religiosa abalada com o enfraquecimento das formas tradicionais de socialização. Ao forjarem uma identidade de resistência (CASTELLS,
1999), constroem trincheiras de sobrevivência

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