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AP2 2016.2 Biogeo - com gabarito

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes 
Coordenador: Prof. Dr. Francisco José de Figueiredo 
Tutora: Jéssica Beck Carneiro 
 
 
Disciplina: BIOGEOGRAFIA 
 
 
Avaliação Presencial 2 (AP2) Data:____ 
Aluno: ___________________________________________________________Nota:___________ 
Matrícula: __________________________________________________________________________ 
Polo:_________________________________________________________________________________ 
Curso:________________________________________________________________________________ 
 
QUESTÕES 
 
1) Por que o processo de dispersão saltatória tem sido muito questionado no 
contexto de espaço relativo da biogeografia histórica moderna na explicação de 
padrões biogeográficos? (2.0 pts.) 
 
 A dispersão saltatória, ou seja, aquela amplamente admitida dentro de 
um contexto ultrapassado de espaço absoluto (no qual se admitia que os 
continentes sempre estiveram nas suas respectivas posições ao longo do tempo 
geológico), dá-se importância à progressão espacial de um táxon em particular, 
dando ênfase a sua capacidade de cruzar barreiras preexistentes. Sendo assim, 
isto representa um padrão particular e não um padrão replicado. 
 
Padrões de distribuição à longa distância só poderiam ser explicados por 
dispersão aleatória ou por eventos esporádicos (e.g., tsunami, animais com 
baixa capacidade de dispersão pegando carona com formas aladas, correntes 
marítimas transportando troncos de árvore com assembleia de animais). 
Portanto, é de baixa testabilidade e de uso muito restrito na reconstrução de um 
padrão biogeográfico. 
 
 
 
Curso de 
Licenciat
ura em 
Ciências 
Biológica
s à 
Distância 
Disciplina 
 
2) A aplicação do provincialismo a priori da biogeografia descritiva tem se revelado problemática. 
Discuta. (2.0 pts.). 
 
 O provincialismo a priori foi reconhecido por León Croizat como um 
grande motivo para a criação de uma classificação biogeográfica artificial. Isso 
se deve principalmente ao fato de que esta prática não esclarece as relações 
históricas entre as áreas de endemismo. 
 
 Reinos, províncias e distritos foram criados a priori, mas essas unidades 
biogeográficas levavam em consideração similaridades de fauna e flora, tanto 
presenças quanto ausências. Por exemplo, a região Neártica (América do 
Norte) possui poucas formas endêmicas, uma vez que vários táxons de lá 
também são observados na Paleártica. Caso contrário é observado na 
Neotropical, que apresenta muitos casos de endemismos. 
 
 Na prática do provincialismo a priori, alguns táxons recebiam maior 
peso (=importância) do que outros na classificação biogeográfica. Por 
exemplo, dava-se muita importância à distribuição de mamíferos e aves. Daí a 
existência de termos tais como Lemurogea, Arctogea, Didelphogea etc. 
 
 Além disso, os limites de certas regiões biogeográficas eram pouco 
precisos, variavam de autor para autor e com o grupo taxonômico de interesse. 
 
Várias espécies transitam por biomas diferentes e não respeitam unidades 
biogeográficas, ou seja, o provincialismo a priori. Sendo assim, este não 
contribuiria para uma definição biogeográfica das espécies. 
 
 
3) Qual a relação entre refúgio biogeográfico e especiação? (2,0 pts.). 
 
 Por refúgio entende-se uma área restrita onde determinado bioma (e.g., 
floresta ou savana) se manteve estável em períodos de grande mudança 
climática global, particularmente nos ciclos glacial-interglacial. Temos assim 
uma “colcha-de-retalhos” no lugar de um “tapete contínuo” de vegetação. 
Nesses fragmentos de áreas que em período anterior eram bastante expandidos, 
se concentraram animais e plantas que também tinham distribuição mais ampla 
no período climaticamente favorável. Com a fragmentação das populações e 
suas concentrações nesses refúgios isolados, ocorreu divergência genética e 
diferenciação populacional ao longo do tempo geológico a ponto de deflagrar 
processos de especiação. Com isso, deu-se o aumento do número de espécies e, 
consequentemente, da diversidade biológica. A formação dos refúgios está 
intimamente relacionada com eventos de vicariância e diferentes tipos de 
especiação (e.g., alopátrica, parapátrica) 
 
 Cabe ressaltar que animais e plantas não buscam abrigo nesses refúgios 
como se estivessem escapando da predação, da competição ou buscando novos 
recursos alimentares. É diferente do sentido usado em ecologia. Os refúgios 
são produtos da retração e fragmentação dos biomas em períodos 
climaticamente desfavoráveis. É um fenômeno histórico. Com a fragmentação, 
plantas e animais ficaram “ilhados” e tenderam a se diferenciar. Em período de 
expansão do bioma, a tendência foi a ocorrência de simpatrias, já com as novas 
espécies formadas. 
 
 
4) Que se entende por traço individual, traço generalizado e nó biogeográfico? 
(2,0 pts). 
 
 Dentro da pan-biogeografia, traço individual se refere ao setor 
geográfico onde ocorreu a evolução de determinado táxon. É obtido através da 
conexão no mapa de suas localidades de ocorrência através de linhas que 
seguem um critério de mínima distância. Nesse momento ainda não é possível 
determinar se o isolamento de populações desse táxon nas localidades é fruto 
de dispersão ou de vicariância, nem em que sequência isto ocorreu. Só a 
ecologia pode indicar porque o táxon se mantém lá, identificando parâmetros 
ambientais que estão atuando naquele momento. 
 
 Por traço generalizado entende-se a sobreposição de traços individuais 
de táxons não relacionados filogeneticamente. A coincidência remete a uma 
causa comum, histórica, para o padrão biogeográfico detectado: vicariância. 
Assim, o traço generalizado é melhor explicado por uma sequência histórica de 
eventos de vicariância que levaram à fragmentação das áreas. 
 Os nós são áreas complexas onde traços (individuais ou generalizados) 
de sentidos diferentes convergem. Muitas vezes eles indicam áreas de contato 
de placas tectônicas promovendo intercâmbio de biotas. 
 
 
5) De que forma a alternância dos ciclos glacial-interglacial podem afetar os 
padrões biogeográficos? (2.0 pts.). 
 
 Em períodos glaciais houve fragmentação das florestas tropicais em função de 
predominância de clima seco e frio. Vegetação típica desse clima se espalhou 
geograficamente constituindo barreira eficiente para a separação de espécies 
tipicamente tropicais. O nível do mar abaixou nesses períodos glaciais (período de 
regressão marinha) e nos polos, as geleiras avançaram até latitudes mais baixas. Na 
região neotropical com a fragmentação das florestas tivemos a produção de refúgios 
nos quais populações de espécies de plantas e animais tropicais ficaram isoladas. 
 Em períodos interglaciais, com clima quente e úmido, as barreiras entre os 
refúgios desapareceram de modo que as espécies novas, antes isoladas, entraram em 
simpatria. Nesses períodos ocorreram vários episódios de transgressão marinha. 
Assim, a mar avançou pelos continentes promovendo vários eventos de vicariância e 
geodispersão. A alternância entre ciclos glacial-interglacial pode ser vista como uma 
“bomba” para o aumento da diversidade taxonômica, pois está ligada a especiação 
geográfica, o tipo de especiação considerado mais comum.

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