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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes Coordenador: Prof. Dr. Francisco José de Figueiredo Tutora: Jéssica Beck Carneiro Disciplina: BIOGEOGRAFIA Avaliação Presencial 2 (AP2) Data:____ Aluno: ___________________________________________________________Nota:___________ Matrícula: __________________________________________________________________________ Polo:_________________________________________________________________________________ Curso:________________________________________________________________________________ QUESTÕES 1) Por que o processo de dispersão saltatória tem sido muito questionado no contexto de espaço relativo da biogeografia histórica moderna na explicação de padrões biogeográficos? (2.0 pts.) A dispersão saltatória, ou seja, aquela amplamente admitida dentro de um contexto ultrapassado de espaço absoluto (no qual se admitia que os continentes sempre estiveram nas suas respectivas posições ao longo do tempo geológico), dá-se importância à progressão espacial de um táxon em particular, dando ênfase a sua capacidade de cruzar barreiras preexistentes. Sendo assim, isto representa um padrão particular e não um padrão replicado. Padrões de distribuição à longa distância só poderiam ser explicados por dispersão aleatória ou por eventos esporádicos (e.g., tsunami, animais com baixa capacidade de dispersão pegando carona com formas aladas, correntes marítimas transportando troncos de árvore com assembleia de animais). Portanto, é de baixa testabilidade e de uso muito restrito na reconstrução de um padrão biogeográfico. Curso de Licenciat ura em Ciências Biológica s à Distância Disciplina 2) A aplicação do provincialismo a priori da biogeografia descritiva tem se revelado problemática. Discuta. (2.0 pts.). O provincialismo a priori foi reconhecido por León Croizat como um grande motivo para a criação de uma classificação biogeográfica artificial. Isso se deve principalmente ao fato de que esta prática não esclarece as relações históricas entre as áreas de endemismo. Reinos, províncias e distritos foram criados a priori, mas essas unidades biogeográficas levavam em consideração similaridades de fauna e flora, tanto presenças quanto ausências. Por exemplo, a região Neártica (América do Norte) possui poucas formas endêmicas, uma vez que vários táxons de lá também são observados na Paleártica. Caso contrário é observado na Neotropical, que apresenta muitos casos de endemismos. Na prática do provincialismo a priori, alguns táxons recebiam maior peso (=importância) do que outros na classificação biogeográfica. Por exemplo, dava-se muita importância à distribuição de mamíferos e aves. Daí a existência de termos tais como Lemurogea, Arctogea, Didelphogea etc. Além disso, os limites de certas regiões biogeográficas eram pouco precisos, variavam de autor para autor e com o grupo taxonômico de interesse. Várias espécies transitam por biomas diferentes e não respeitam unidades biogeográficas, ou seja, o provincialismo a priori. Sendo assim, este não contribuiria para uma definição biogeográfica das espécies. 3) Qual a relação entre refúgio biogeográfico e especiação? (2,0 pts.). Por refúgio entende-se uma área restrita onde determinado bioma (e.g., floresta ou savana) se manteve estável em períodos de grande mudança climática global, particularmente nos ciclos glacial-interglacial. Temos assim uma “colcha-de-retalhos” no lugar de um “tapete contínuo” de vegetação. Nesses fragmentos de áreas que em período anterior eram bastante expandidos, se concentraram animais e plantas que também tinham distribuição mais ampla no período climaticamente favorável. Com a fragmentação das populações e suas concentrações nesses refúgios isolados, ocorreu divergência genética e diferenciação populacional ao longo do tempo geológico a ponto de deflagrar processos de especiação. Com isso, deu-se o aumento do número de espécies e, consequentemente, da diversidade biológica. A formação dos refúgios está intimamente relacionada com eventos de vicariância e diferentes tipos de especiação (e.g., alopátrica, parapátrica) Cabe ressaltar que animais e plantas não buscam abrigo nesses refúgios como se estivessem escapando da predação, da competição ou buscando novos recursos alimentares. É diferente do sentido usado em ecologia. Os refúgios são produtos da retração e fragmentação dos biomas em períodos climaticamente desfavoráveis. É um fenômeno histórico. Com a fragmentação, plantas e animais ficaram “ilhados” e tenderam a se diferenciar. Em período de expansão do bioma, a tendência foi a ocorrência de simpatrias, já com as novas espécies formadas. 4) Que se entende por traço individual, traço generalizado e nó biogeográfico? (2,0 pts). Dentro da pan-biogeografia, traço individual se refere ao setor geográfico onde ocorreu a evolução de determinado táxon. É obtido através da conexão no mapa de suas localidades de ocorrência através de linhas que seguem um critério de mínima distância. Nesse momento ainda não é possível determinar se o isolamento de populações desse táxon nas localidades é fruto de dispersão ou de vicariância, nem em que sequência isto ocorreu. Só a ecologia pode indicar porque o táxon se mantém lá, identificando parâmetros ambientais que estão atuando naquele momento. Por traço generalizado entende-se a sobreposição de traços individuais de táxons não relacionados filogeneticamente. A coincidência remete a uma causa comum, histórica, para o padrão biogeográfico detectado: vicariância. Assim, o traço generalizado é melhor explicado por uma sequência histórica de eventos de vicariância que levaram à fragmentação das áreas. Os nós são áreas complexas onde traços (individuais ou generalizados) de sentidos diferentes convergem. Muitas vezes eles indicam áreas de contato de placas tectônicas promovendo intercâmbio de biotas. 5) De que forma a alternância dos ciclos glacial-interglacial podem afetar os padrões biogeográficos? (2.0 pts.). Em períodos glaciais houve fragmentação das florestas tropicais em função de predominância de clima seco e frio. Vegetação típica desse clima se espalhou geograficamente constituindo barreira eficiente para a separação de espécies tipicamente tropicais. O nível do mar abaixou nesses períodos glaciais (período de regressão marinha) e nos polos, as geleiras avançaram até latitudes mais baixas. Na região neotropical com a fragmentação das florestas tivemos a produção de refúgios nos quais populações de espécies de plantas e animais tropicais ficaram isoladas. Em períodos interglaciais, com clima quente e úmido, as barreiras entre os refúgios desapareceram de modo que as espécies novas, antes isoladas, entraram em simpatria. Nesses períodos ocorreram vários episódios de transgressão marinha. Assim, a mar avançou pelos continentes promovendo vários eventos de vicariância e geodispersão. A alternância entre ciclos glacial-interglacial pode ser vista como uma “bomba” para o aumento da diversidade taxonômica, pois está ligada a especiação geográfica, o tipo de especiação considerado mais comum.
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