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PDT Propedêutica do aparelho respiratório Fatores anatômicos das crianças Sistemas condutores de ar - Respiração predominantemente nasal do 4º ao 6º mês de vida - Narina com resistência de 50% ao fluxo de ar - Pequenas obstruções podem se tornar críticas - Falta da respiração bucal acessória Outros sistemas - Língua relativamente grande e mandíbula relativamente pequena - Occipício proeminente - Estreitamento das vias aéreas ao nível cricóide logo abaixo das cordas vocais (traquéia em “V”) - Suporte cartilaginoso fraco (desencadeando compressão dinâmica da traquéia) - Menor quantidade de tecido de sustentação pulmonar Diafragma - É retificado - Contração leva as costelas inferiores para dentro da caixa torácica - Tem tendência a descer menos durante a inspiração Caixa torácica - Costelas e esterno não são totalmente ossificados - Os músculos intercostais são mal desenvolvidos - Há desperdício de uma parte da força do diafragma pela distorção da caixa torácica Vias aéreas inferiores - Menor diâmetro dos alvéolos (desencadeando maior tendência ao colapso) - Menor número de alvéolos (resultando em menor área de trocas gasosa com metabolismo mais acelerado e tendência a acidose respiratória) - Poro de kohn e canais bronquialveolares de lambert se desenvolvem com a idade (entre 2-6 anos) - Pouca capacidade de ventilar unidades obstruídas ou desfazer atelectasias - Em crianças até 5 anos de idade a resistência ao fluxo de ar é 4-16 vezes maior PDT Fatores fisiológicos das crianças - A pressão abdominal diminui CRF em posição supina - Pouco controle dos músculos abdominais durante fase REM do sono (recém nascido tem 80%, criança com 3 meses 38% e um adulto 20%) - Pouca resposta à elevação do CO2 - Hipoxemia deprime movimentos respiratórios - Menor massa muscular - Menos fibras tipo I - Frequência respiratória aumentada * Em decorrência de alterações fisiológicas e anatômicas crianças tem mais facilidade de entrar em insuficiência respiratória do que um adulto Parâmetros FR * FR pode aumentar 10 ipm por grau de febre Síndromes clínicas • Infecções das vias aéreas 1. Vias aéreas superiores Englobam - Cavidade nasal - Seios da face ou seios paranasais - Faringe (parte posterior das cavidades nasal e bucal, constituindo uma via de passagem única para o ar e os alimentos dos sistemas respiratório e digestivo) - Laringe (comunica-se superiormente com a faringe e inferiormente com a traqueia) - Cordas vocais e glote (as cordas vocais são membranas finas localizadas na laringe e a abertura entre elas constitui a glote) - Traqueia Infecções (IVAS) - São as principais causas de consultas pediátricas no serviço de emergência - São doenças benignas e autolimitadas - Ocorrem de 8 a 10 episódios de IVAS por ano - Podem ser de etiologia viral ou bacteriana - São elas: A) Rinofaringite aguda (resfriado comum) - É a mais comum das IVAs - É desencadeada pela inflamação aguda da mucosa do nariz, dos seios paranasais e da faringe - Acometem com mais frequência crianças menores de 5 anos - Quadro clínico = irritação nasal, dor de garganta, coriza, espirros, obstrução nasal, febre baixa, dor muscular, cefaleia, mal- estar, inapetência (inquietação, choro fácil, recusa alimentar, vômitos, alteração do sono e dificuldade respiratória -> em lactentes) - Exame físico = congestão e hiperemia da mucosa nasal, mucosa faríngea, membranas timpânicas e da conjuntiva ocular - Complicações = otite, sinusite e pneumonia B) Rinossinusite aguda - É a inflamação da mucosa de um ou mais seios paranasais - Quadro clínico = rinorréia hialina purulenta, tosse diurna com piora noturna, obstrução nasal, febre, halitose, cefaleia Idade FR máxima Até 2 meses 60 2-12 meses 50 12-36 meses 40 Até 5 anos 30 Maiores de 5 anos 20 PDT - Fatores predisponentes = alergias, convívio com fumantes, ar condicionado, imunodeficiências, creche - O diagnóstico é presuntivo e é feito quando há: . Secreção nasal persistente, de qualquer tipo, em qualquer período do dia, ou tosse com duração maior de 10 dias, sem sinais de melhora . Piora da evolução da doença, ou seja, recidiva da secreção nasal ou piora da tosse com aparecimento de febre depois de certa melhora . Instalação do quadro de forma mais grave, com febre elevada (T> 39°C), secreção nasal purulenta por mais de três dias consecutivos C) Otite média aguda - É a inflamação do ouvido médio e de seus anexos - Decorre da presença de líquido na orelha média (as tubas auditivas se abrem no espaço anterior do ouvido médio e o conectam á nasofaringe, assim a ocorrência de um processo infeccioso na nasofaringe pode se estender facilmente para o ouvido médio causando a OMA) - Fatores predisponentes = imaturidade do sistema imunológico, alterações anatômicas da tuba auditiva, crianças em posição ortostática, exposição ao tabaco e creches (contato com outras crianças) - O aleitamento materno é considerado um fator protetor - Quadro clínico = irritabilidade, anorexia (recusa alimentar), vômitos, febre, otalgia, otorreia, inapetência - Exame físico (otoscopia) = abaulamento da membrana timpânica, ausência de mobilidade da membrana e membrana timpânica eritematosa ou opacificada D) Faringotonsilite/faringoamigdalite aguda - Decorre de processos inflamatórios que acometem a faringe, as amigdalas e os tecidos adjacentes - Quadro clínico: . Faringoamigdalite eritematosa = hiperemia e congestão da superfície da faringe e das amígdalas . Faringoamigdalite eritematopultáceas = hiperemia e edema associados a exsudato amarelado não aderente nas criptas e na superfície das amígdalas . Faringoamigdalite pseudomembranosa = placas esbranquiçadas aderentes ao tecido amigdaliano . Faringoamigdalite ulcerosa = úlceras e vesículas E) Laringite viral aguda (crupe) - É a inflamação subglótica da laringe - Pode desencadear obstrução variável da via aérea (congestão + edema) - Acomete frequentemente lactentes e pré escolares (pico maior aos 2 anos de idade) - Etiologia = parainfluenza I e II, VSR, adenovírus ou influenza - Quadro clínico pródromo (sintomas precursores) = coriza, obstrução nasal, tosse seca e febre baixa - Quadro clínico específico (evolução da infecção) = tosse rouca, choro rouco/ disfonia/afonia, estridor (sintoma típico), taquidispneia PDT * Como diferenciar uma obstrução por laringite viral de uma obstrução por corpo estranho: Principais sintomas - Coriza - Dor de garganta - Espirros - Prurido - Tosse - Obstrução nasal - Respiração oral - Ronco - Apnéia - Sonolência diurna 2. Vias aéreas inferiores Englobam: - Brônquios direito e esquerdo - Brônquios lobares - Brônquios segmentares - Bronquíolos - Bronquíolos terminais Infecções (IVAi) - São elas: A) Bronquiolite aguda viral - É uma doença inflamatória que provoca obstrução das pequenas vias aéreas - É definida como o 1º epsódio de sinbilância em lactentes com menos de 2 anos - Caracteriza-se por episódios de sibilância induzidas por infecção viral em lactentes - Acomete pacientes menores de 2 anos (tipicamente menores de 6 meses) - Os vírus são a principal causa infecciosa (dentre eles VRS, adenovírus, metapneumovírus, parainfluenza e mycoplasma) Epidemiologia (VRS) . O VRS é o responsável por 80% das bronquiolites . Praticamente 100% das crianças se infecta até os 2 anos . Até 40% dos que vêm ao hospital entre o 3º e 5º dia acabam sendo internados Fisiopatologia 1- Após período de incubação de 3 a 8 dias o vírus que tem tropismos pelas vias aéreas de menor calibre passa a produzir lise celular e necrose de epitélio respiratório 2- Ocorre um processo inflamatório local com edema tecidual (submucosa) e aumento de secreção que se acumula na luz dos brôquíolos 3- Ocorre processo obstrutivo com aumento da resistência á passagem de ar inspirado e expirado 4- Ocorre acúmulo de ar no pulmão, o qual fica hiperinsuflado(pois entra mais ar do que sai) podendo resultar em obstrução total de brônquios e reabsorção do ar inclausurado (com ruptura de septos alveolares ou atelectasias) * Infecção viral -> infiltrado linfocítico -> edema de mucosa -> obstrução dos brônquios * Infecção viral -> necrose do epitélio ciliar -> aumento de muco -> obstrução dos brônquios PDT Quadro clínico . O início é gradual, marcado por sintomas de infecção de vias aéreas superiores (febre baixa, coriza, tosse leve) . A progressão dos sintomas (após 3-5 dias) é marcada por: piora da tosse, desconforto respiratório de graus variado, sibilância e expiração prolongada, cianose, agitação, letargia e insuficiência respiratória * 40% dos pacientes podem evoluir com quadro respiratório baixo, principalmente lactentes menores de 6 meses * Em lactentes muito jovens pode ser observado apneia (em decorrência da insuficiência respiratória e imaturidade do centro respiratório) Diagnóstico . É feito através de clínica e confirmado através de exames de imagem (as alterações radiológicas que podem ser observadas são hiperinsuflação pulmonar, infiltrados intersticiais peribrônquicos, colapso pulmonar e coração em gota) B) Asma - É uma doença inflamatória crônica das vias aéreas - É caracterizada por episódios recorrentes de chiado, falta de ar e tosse, geralmente associados a obstrução variável ao fluxo aéreo, parcial ou completamente reversível com tratamento/espontaneamente - Quando não tratada pode resultar em mudanças estruturais irreversíveis (ex: fibrose subepitelial, hiperplasia e hipertrofia muscular, neovascularização, hipersecreção mucosa) - É a doença crônica mais frequente na infância (acomete até 20% dos escolares) - É a terceira causa de internação no Brasil Quadro clínico . Chiado frequente mais que 1x/mês . Tosse ou chiado após atividade física ou após rir . Tosse noturna na ausência de IVAS . Piora com desencadeantes típicos (ao fazer exercício, brincar com animais) Quando suspeitar . Melhora dos sintomas com medicações de asma . Quando houver outros sintomas atópicos (ex: rinite, eczema atópico) . IGE precocemente elevada . Eosinofilia > 4% • Infecções pulmonares Englobam: - Parênquima (alvéolos) - Interstício 1. Parênquima pulmonar A) Pneumonia Sinais e sintomas - Coriza - Obstrução nasal - Febre - Tosse (seca/produtiva ou coqueluchoide) - Prostração/Gemência - Dispneia - Taquipneia - Dor abdominal PDT Achados do exame físico - Estertores - Respiração soprosa - Sinais de DP (frêmito, MV, ausculta da voz abolidos, signorelli positivo e dor torácica) Exame físico Inspeção - Avalia-se o padrão respiratório através da determinação da FR, do esforço e do ritmo respiratório - Observa-se também a simetria da caixa torácica durante os movimentos respiratórios, e a presença de deformidades torácicas - Deve-se medir a circunferência do tórax (através de uma fita métrica ao nível dos mamilos no meio da inspiração) * No recém nascido os diâmetros ântero- posterior e transverso são iguais, dando ao tórax a forma arredondada * No lactente a forma do tórax é elíptica * A partir dos 7 anos o tórax é cilíndrico (semelhante ao adulto) * O aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax e tórax em forma de tonel é observado em crianças portadoras de DPOC e no enfisema Frequência respiratória - Deve ser avaliada com o paciente em repouso ou preferencialmente dormindo - Observa-se o número de vezes que há elevação do abdome - Valores de referência: Esforço respiratório - Os sinais que apontam para presença de desconforto respiratório são: . Retrações torácicas (tiragens intercostais) . Uso da musculatura acessória (a utilização do esternocleidomastóideo como acessório da respiração é observada pela retração da fossa supraclavicular durante a inspiração, pescoço curto também pode ser encontrado como manifestação do uso da musculatura acessória) . Batimento das asas do nariz (pode estar presente quando a inspiração está muito curta e é um sinal sensível de desconforto respiratório) . Ortopnéia . Respiração paradoxal (é a inversão do movimento normal da parede do tórax e abdome durante a inspiração) Ritmo respiratório - Pausas respiratórias de menos de 6 segundos são comuns em crianças menores de 3 meses (se essas pausas ocorrem em grupos de 3 ou mais, separadas por menos de 20 segundos, chamamos de respiração periódica) Idade FR máxima Até 2 meses 60 2-12 meses 50 12-36 meses 40 Até 5 anos 30 Maiores de 5 anos 20 PDT - A respiração periódica é comum em recém nascidos prematuros após o 1º dia até a 44ª semana, e nos a termo é observada entre a 1ª semana e 2 meses - A respiração cheyne-stones (caracterizada por uma profundidade em vaivém dos volumes correntes, com períodos de apnéia após cada sequencia) é encontrada em crianças com insuficiência cardíaca congestiva, traumatismo craniano e hipertensão intracraniana - A respiração de biot (caracterizada por várias respirações de profundidade irregular intercaladas com períodos de apnéia de duração variável) geralmente significa hemorragia cerebral Palpação - Confirma alterações observadas durante a inspeção (ex: deformidades torácicas, ausência do músculo peitoral, presença de gânglios anormalmente aumentados) - Detecta alterações da expansibilidade e da transmissão da voz através da caixa torácica Palpação do frêmito tóraco-vocal 1- Aplica-se a palma da mão sobre a superfície do tórax, comparando simetricamente de cima para baixo as faces anterior, lateral e posterior 2- Na criança pequena avalia-se o frêmito através do choro e nas maiores pede-se para pronunciarem “33” * O frêmito pode estar aumentado quando há condensação pulmonar e diminuído ou ausente nas atelectasias, no enfisema pulmonar e no derrame Percussão - É realiza poucas vezes na pediatria, devido as pequenas dimensões do tórax da criança - Deve ser realizada com leves batidas do dedo médio sobre a falange distal do dedo médio da outra mão - Detecta-se áreas com som timpânico, macicez e submacicez: . Timpanismo é normalmente encontrado entre o 6º e 10º espaço intercostal esquerdo e corresponde á bolha gástrica . Submacicez significa condensação pulmonar (encontrada nas pneumonias e atelectasias) . Macicez é o sinal clínico mais importante para diagnóstico dos derrames pleurais, pode ser encontrada também em pneumotórax hipertensivo e atelectasias Ausculta - Compreende a audição dos ruídos normais e anormais do aparelho respiratório durante a inspiração e a expiração, e da ressonância vocal - Deve ser realizada com estetoscópio e abranger toda a extensão dos pulmões Ruídos respiratórios . O múrmurio vesicular da criança é mais forte e mais rude que o do adulto (quando diminuído ou ausente pode significar pneumotórax, atelectasias, enfisema e fase inicial de pneumonia) (quando aumentado pode significar bronquite aguda) . O sopro tubário é um ruído intenso inspiratório e expiratório (ou somente expiratório) encontrado nas condensações e cavidades . Os roncos são ruídos intensos, contínuos e audíveis tanto á inspiração como á expiração, podendo desaparecer com a tosse ou inspiração profunda (quando presentes PDT significam estenose ou secreções em brônquios de grande calibre) . Sinbilos são produzidos por edema, secreção ou espasmo da musculatura brônquica que acometem os brônquios de pequeno calibre . Estertores crepitantes são finas bolhas audíveis ao final da inspeção, são provocados pelo descolamento das paredes alveolares do líquido existente nos alvéolos (são observados nas pneumonias e na ICC) . Estertores subcrepitantes decorrem da passagem do ar pelos brônquios ou bronquíolos, são audíveis com a inspiração e expiração (são observados em quadros de bronquite) * Causas de estridor em crianças menores de 6 meses = laringotraqueomalácea, paralisia de corda vocal, estenose subglótica,hemangioma de vias aéreas e anel vascular * Causas de estridor em crianças maiores de 6 meses = crupe, epiglotite, traqueite bacteriana, aspiração de corpo estranho e abcesso retrofaringeo Ressonância vocal . É a transmissão de palavras, choro e tosse ao estetoscópio . Pode estar aumentada nas consolidações pneumônicas e diminuídas no enfisema pulmonar * Broncofonia é a percepção da voz auscultada, é normais na região da bifurcação da traquéia e mais intensa no lado direito