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Direito Constitucional 
Aplicado 
 
 
Milena Barbosa de Melo e Silvia Cristina 
da Silva 
 
 
 
Artigo científico 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL APLICADO 
 
Milena Barbosa de Melo1 
Silvia Cristina da Silva2 
 
RESUMO 
 
O estudo que se apresenta tem como objetivo primordial apresentar uma maneira 
eminentemente simplificada sobre constituição, poder constituinte e controle de 
constitucionalidade. Portanto, será possível no decorrer da leitura compreender não 
apenas definições técnicas, mas essencialmente sua materialização concreta, ou 
seja, será possível que o leitor consiga entender como o estudo funciona na prática. 
O artigo foi dividido em três capítulos, e inicia tratando de questões gerais, mas 
bastante essenciais sobre o conceito de constituição e suas classificações, bem 
como a Constituição Brasileira passa a se apresentar. Em seguida foi possível 
compreender o funcionamento do poder constituinte e, por fim, no terceiro capítulo 
se apresentou as minúcias que giram em torno do processo de constitucionalidade. 
 
Palavras-chave: Constituição. Poder Constituinte. Controle de Constitucionalidade. 
Desenvolvimento. Democracia. 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O presente texto tem como objetivo apresentar os elementos de substancial 
importância para o processo de realização das atividades no âmbito do sistema 
constitucional brasileiro. Sendo assim, o estudo será dividido em três capítulos nos 
quais será possível compreender não apenas definições e funcionamento sobre a 
Constituição, poder constituinte e controle de constitucionalidade, mas 
essencialmente, perceber o processo de funcionamento de todo o ordenamento 
jurídico brasileiro a partir de uma perspectiva meramente constitucional. 
 Será, portanto, possível que se entenda como se deu o surgimento da 
Constituição Federal (CF) de 1988, comumente denominada de Constituição Cidadã. 
Ademais, em seguida, será possível compreender o processo de classificação 
específico de cada Constituição e, em especial da Constituição Brasileira. No 
capítulo 2, o leitor poderá compreender o funcionamento do Poder Constituinte para 
que, ao fim da leitura, seja possível perceber o processo de realização do controle 
de constitucionalidade de determinados dispositivos constitucionais. 
 Sendo assim, no último capítulo o leitor poderá aperfeiçoar os estudos 
voltados ao controle de constitucionalidade, sabendo exatamente qual tipo de 
instrumento deverá ser interposta em qual situação e, por fim, não menos 
importante, será possível entender o funcionamento do controle de 
constitucionalidade no âmbito dos tratados internacionais como uma ferramenta 
essencial para fomentar a segurança nacional. O estudo apresentado foi construído 
a partir de coleta de dados para sistematização das jurisprudências e, ainda, por 
meio de pesquisa bibliográfica. 
 
1 Doutora em Direito Internacional pela Universidade de Coimbra- Portugal. Professora Universitária- 
UEPB. Consultora e pesquisadora Jurídica. E-mail: milenabarbosa@gmail.com 
2 Mestre Interdisciplinar em Educação, Ambiente e Sociedade – UNIFAE. Professora Universitária. E-
mail: silviaadvbidi@gmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
1 CONSTITUIÇÃO: INÍCIO E FIM 
 
O processo de construção e funcionamento de uma sociedade invoca, de 
maneira direta, uma projeção superior de organização, situação que acaba por ser 
evidenciada pelo exercício do poder pelo líder que se encontra naquela sociedade. 
 
1.1 Aspectos Conceituais da Constituição 
 
Muitas são as formas de organização do Estado, de maneira que se percebe 
a impossibilidade de universalizar uma única maneira para estabelecimento das 
regras que serão aplicadas por cada ente estatal. 
Desta maneira, torna-se possível identificar que, em determinados países, o 
processo normativo atravessa características eminentemente participativas, mas em 
outros países a condição de participação da sociedade pode ser dada de maneira 
menos interativa. Contudo, muito embora exista a diferenciação nesse processo de 
participação democrática nos países, não se pode olvidar que, mesmo nos países 
com liberdades fundamentais restritas, existe uma regra suprema que tem por 
objetivo não apenas descrever as instituições, mas, também, observa um caráter de 
extrema importância que é o de influenciar a sua organização e, em consequência, o 
seu funcionamento. 
 Partindo da importância excepcional de existir um texto superior que tenha 
como objetivo primordial a organização e funcionamento de qualquer Estado, 
identifica-se a presença de um instrumento que reveste tais exigências e, que 
durante o processo de evolução e consolidação de um território, veio a ser 
sedimentada, nomeadamente, Constituição. 
Nesse sentido, torna-se razoável indicar a compreensão acerca do 
fundamento basilar da constituição realizada por Silva (1999 p. 37) “ao indicar como 
lei fundamental no processo de funcionamento do Estado e, nesse caso, acaba por 
englobar a forma de governo, direitos e garantias que são fundamentais para a 
sociedade, exercício do poder”. Em resumo, pensar a Constituição a partir deste 
paradigma, identifica-se apenas como um instrumento que seria responsável por 
organizar o equacionamento das relações que surgem com os elementos 
constitutivos do Estado, nomeadamente, povo, poder e território. 
Entretanto, muito embora se saiba que existe uma forte ligação entre o 
instrumento constitucional e, ainda, os elementos constitutivos, não se pode deixar 
de observar que a compreensão da definição do conceito e funcionamento do 
Estado devem perpassar também em outros aspectos, nomeadamente, sociológico 
político, jurídico e cultural. 
A compreensão de Constituição a partir de uma perspectiva sociológica indica 
que deve possuir em seus meandros características da força social, como é a 
proposta apresentada por Ferdinand Lassale (1985) que a formação de uma 
constituição deve transcorrer a somatória dos fatores reais do poder dentro de uma 
sociedade. 
Já no sentido político indica-se a compreensão de que a formação de uma 
Constituição decorre do conjunto de expressões políticas que emanam de uma 
sociedade e, ao ser sistematizada pelo instrumento que exerce o poder, estabelece-
se um conjunto de preceitos essenciais. 
 
 
 
 
O sentido jurídico da Constituição é evidenciado por Hans Kelsen, no qual 
indica que o documento constitucional reveste uma característica evidentemente de 
uma obrigação do “dever-ser” e, portanto, afasta a concepção naturalista do texto 
legal da constituição, visto que ressalta a participação direta do homem na 
construção das normas constitucionais e, portanto, especifica que o referido texto 
decorre da vontade anunciada pelo conjunto de pessoas que se encontram naquele 
território. Ademais, torna-se importante observar o preceituado por Lenza (2018 p. 
28) ao observar que: 
 
E, por fim, como visto, a Constituição Nacional encontrará o seu fundamento 
de validade na norma hipotética fundamental, esta, o fundamento de 
validade de todo o sistema. Trata-se de norma suposta, e não posta, uma 
vez que não editada por nenhum ato de autoridade. Figura no plano logico-
jurídico, prescrevendo a observância do estabelecido na Constituição e nas 
demais normas jurídicas do sistema, estas últimas fundamentadas na 
própria Constituição. A norma fundamental, hipoteticamente suposta, 
prescreve a observância da primeira constituição histórica. 
 
Nesse sentido, observa-se, tão somente que, nessa concepção, o sistema 
constitucional é apresentado numa seara eminentemente verticalizada, onde as 
normas inferiores deverão estar em consonância com o evidenciado pela norma 
superior. 
No caso da concepção da Constituição a partir de um sistema cultural 
observa-se que o texto constitucional decorre de fatos culturais que são identificados 
pela sociedade que, em conformidade ao estabelecido por Canotilho: 
 
as Constituições positivas são um conjunto de normas fundamentais, 
condicionadas, pela Cultura total, eao mesmo tempo condicionantes destas 
emanadas da vontade existencial da unidade política e, reguladoras da 
existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e limite do 
poder político. (CANOTILHO, 2005, p. 70). 
 
Ao analisar as concepções, observa-se que existe uma situação bastante 
clara: o unilateralismo, ou seja, muito embora existam evidências positivas em cada 
ponto apresentado, não se pode limitar a compreensão do texto constitucional a 
apenas uma concepção, seria, portanto, pecar por restrição de valores e 
fundamentos essenciais para a construção de um todo. É justamente nesse aspecto 
que se evidencia a necessidade de se estruturar uma compreensão uniforme de 
Constituição, de maneira que todos os elementos venham a ser evidenciados. Numa 
concepção abrangente, o processo de construção de uma Constituição pertencente 
a um Estado de direito é revista de compostos coletivos, onde variados elementos 
da vida em sociedade são levados em consideração para a construção de um texto 
que irá estruturar e ordenar todas as atividades. 
E, neste aspecto, observa-se o evidenciado por Silva (1999) ao apontar que 
uma Constituição é um conjunto de elementos que, unidos pela situação coletiva e 
social, apresenta uma estrutura especial cujo objetivo substancial é a realização de 
atividades benéficas para o território. Portanto, tem a possibilidade de criar e recriar, 
sempre que necessário, levando em consideração a necessidade apresentada pela 
sociedade. 
Sendo assim, o objetivo primordial de uma determinada Constituição é 
estruturar um sistema estatal em suas variadas atribuições, nomeadamente, a 
fixação do regime político, especificação dos direitos e garantias fundamentais da 
sociedade, o fundamento dos direitos econômicos, culturais e, por fim, sociais. 
 
 
 
 
Dessa maneira, observa-se que, independentemente de sua concepção, uma 
Constituição deverá zelar pelo bem coletivo e, em assim fazendo, os interesses da 
sociedade estarão fundamentalmente protegidos. Destaca-se, portanto, que o 
objetivo de uma Constituição deverá ter pressupostos amplamente interdisciplinares, 
visto que se torna essencial equacionar diversos interesses sociais. 
 
1.2 Classificação das Constituições 
 
 
No que tange a especificação das espécies de Constituição que pode ser 
identificada nos estudos desenvolvidos no Âmbito do Direito Constitucional, há 
diversas classificações. O que deve ser levado em consideração nesse estudo é que 
a classificação ocorre a partir de critérios específicos, nomeadamente: 
 
• Origem; 
• Modo de elaboração; 
• Conteúdo; 
• Forma; 
• Estabilidade. 
 
Dessa maneira, de acordo com o critério “origem”, as constituições poderão 
ser promulgadas e outorgadas. Uma constituição promulgada tem como pressuposto 
essencial a participação popular, visto que será construída a partir da votação de 
uma Assembleia Nacional Constituinte, cujos membros foram eleitos através da 
realização de sufrágio para exercer as funções na referida Assembleia. Nesse 
sentido, observa-se o especificado por Silva (1999, p. 43) que “são populares ou 
democráticas as constituições que se originam de um órgão constituinte composto 
de representantes do povo, eleitos para o fim de as elaborar e estabelecer”. 
 Portanto, torna-se perceptível que o pressuposto essencial para a construção 
de uma constituição promulgada é a participação popular e, de fato, isso se torna 
possível quando existe a possibilidade de a população se inserir no contexto político. 
No caso do ordenamento jurídico brasileiro é comum a realização desse processo de 
participação na construção do texto Constitucional de maneira que, não apenas a 
Constituição Federal de 1988 se encaixe no referido rol, mas também as 
constituições de 1891, 1934 e 1946. 
 De maneira contrária ao especificado nas constituições promulgadas, 
observa-se que nas constituições outorgadas não existe a participação da população 
no decorrer do processo de elaboração do texto da Constituição e, portanto, será o 
próprio agente que detém o poder político que irá impor as determinações sem 
anuência da população. Este tipo de Constituição não se coaduna com as 
especificações observadas em países democráticos, mas países que detém uma 
visão política autoritarista. Muito embora o Brasil, nos dias atuais, apresente uma 
Constituição que é constituída a partir da participação popular, já existiu, em sua 
história, a presença de textos constitucionais outorgados pelo poder político, como 
foi o caso das Constituições de 1824, 1937, 1967 e 1969. 
 Dando seguimento ao estudo das classificações das Constituições tem-se 
aquela que decorre da forma de elaboração do texto constitucional, que pode ser 
dogmática e histórica. No primeiro caso, objetiva-se a elaboração de um texto 
constitucional a partir de teorias e dogmas que prevalecem no momento em que o 
documento está sendo estruturado. No segundo caso, a Constituição é elaborada 
 
 
 
 
resultante do processo evolutivo da história do Estado. A partir da perspectiva de 
Lenza (2018, p. 41) “a constituição histórica é fruto de um lento e contínuo processo 
de formação ao longo do tempo e, portanto, reúne não apenas, a história, mas 
também os costumes do país”. 
 Em seguida, no terceiro ponto, observa-se a classificação de uma constituição 
quanto ao conteúdo e, assim, as constituições podem ser formais ou materiais. No 
primeiro aspecto observa-se que a Constituição tem como pressuposto essencial a 
maneira como o texto constitucional se apresenta, ou seja, numa Constituição formal 
prevalece a maneira como ela é construída e, não essencialmente, o conteúdo de 
suas normas. Portanto, compreende-se que uma Constituição só pode ser 
classificada como formal quando é apresentada de maneira solene em um 
documento escrito a partir do exercício do poder constituinte e, ainda, só poderá 
sofrer algum tipo de modificação quando existir um processo próprio que permita a 
modificação. Diante do exposto, observa-se que a Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988 é eminentemente formal, visto que qualquer dispositivo 
previsto na constituição tem caráter constitucional e, portanto, só poderá ser 
modificada se atravessar um processo de modificação peculiar que, no caso do 
Brasil, seria através da Emenda Constitucional. Referente à classificação material, a 
Constituição observa o seu conteúdo e, não a maneira como ela foi incorporada no 
texto constitucional. Dessa maneira, será observado que mesmo as normas que 
façam parte de uma constituição escrita, mas não possuam o caráter específico 
necessário, não poderão ser consideradas normas constitucionais. 
 Quanto à forma, as Constituições podem ser classificadas tanto na 
modalidade escrita, como na modalidade não escrita. Vários questionamentos 
podem surgir neste momento no sentido de tentar compreender como é que uma 
Constituição pode não estar devidamente formalizada em algum texto específico, 
mas é o que ocorre, por exemplo, na Inglaterra, onde as normas constitucionais não 
estão dispostas em um documento único e formal. O que pode ser destacado neste 
ponto é que são Constituições em que a utilização dos costumes, jurisprudência e 
normas internacionais são preponderantes. Segundo Lenza (2018, p. 38) “a 
classificação da constituição como escrita é estabelecida por um complexo de 
normas que foram sistematizadas em um único documento”. Ademais, observa-se 
que as normas que compõem um sistema escrito são evidentemente fundamentais 
para a formação de um Estado. Portanto, nesse aspecto, observa-se que a 
Constituição Brasileira de 1988 encontra-se no panorama de Constituição Escrita, 
pois seu texto é devidamente sistematizado e organizado em um documento único a 
partir das normas que são essenciais para o funcionamento do Estado de direito. 
 E, por fim, observa-se uma classificação que se refere à estabilidade da 
estrutura constitucional que pode ser segundo grande parte da doutrina: rígida, 
flexível e semirrígida.No primeiro aspecto, observa-se que rígida é aquela 
Constituição capaz de permitir modificações em seu texto a partir de medidas 
específicas e formais. Isso implica, necessariamente, a realização de um processo 
eminentemente complexo, que difere, contudo, do processo que se aplica na criação 
de legislação infraconstitucional. No que se refere às constituições flexíveis observa-
se a possibilidade de modificação do texto constitucional através do mesmo 
processo que se destina à criação de uma lei ordinária. E, por fim, no que tange às 
constituições semirrígidas existe a inclusão das duas formas apresentadas 
anteriormente e, portanto, o processo de mudança no texto constitucional para 
questões consideradas materialmente constitucionais só pode ocorrer através de um 
procedimento rigoroso e, as demais questões tratadas no documento constitucional 
 
 
 
 
podem ser modificadas a partir de um processo padrão que estabelece a criação de 
uma lei ordinária. No caso, o sistema constitucional brasileiro adota a classificação 
rígida, visto que o processo de modificação do texto constitucional só pode ocorrer 
através de procedimento rigoroso próprio, ou seja, através de procedimento 
constitucional. 
 
 
1.3 Aplicabilidade das Normas Constitucionais 
 
Ao se deparar com textos constitucionais surge, automaticamente, uma 
questão eminentemente importante que vem a ser a estruturação do estado de bem 
estar social a partir das diretrizes estabelecidas nas normas construídas para este 
feito. E, consequentemente, o Sistema Normativo Constitucional acaba por ser 
enquadrado como o sistema legal mais importante de todo o ordenamento jurídico 
de um país e, portanto, deve ser observado que todas as demais normas que 
compõem o complexo jurídico daquele país devem estar em consonância com o 
especificado em seu texto. 
Assim, ao se perceber o fenômeno da hierarquia normativa na estrutura 
constitucional, observa-se que a eficácia do conjunto de regras constitucionais só 
poderá ser observada quando houver, de fato, equilíbrio entre todos os entes 
normativos dispostos no ordenamento jurídico brasileiro. 
Nesse sentido, a construção da aplicabilidade das normas constitucionais só 
pode ser observada em constituições rígidas, em virtude justamente, da sua 
estrutura hierarquizada e, portanto, as normas que estão num patamar inferior no 
conjunto constitucional devem, necessariamente, estar em consonância ao 
estabelecido pelo texto Constitucional de um país. Ademais, no que tange ao texto 
constitucional, observa-se que devem apresentar eficácia, mas alguns pontos podem 
versar sobre questões eminentemente jurídicas e outras com um caráter social. 
Nessa mesma compreensão, Temer (2002, p. 23) especifica que: 
 
eficácia social se verifica na hipótese de a norma vigente, isso é, com 
potencialidade para regular determinadas relações, ser efetivamente 
aplicada a casos concretos. Eficácia jurídica, por sua vez, significa que a 
norma está apta a produzir efeitos jurídicos na medida em que a sua 
simples edição resulta na revogação de todas as normas anteriores que 
com ela conflitam. (TEMER, 2002, p. 23). 
 
Observa-se que, muito embora as normas constitucionais devessem estar em 
pleno sistema de funcionamento e aplicabilidade no sistema social de um país, essa 
questão irá depender, contudo, do tipo de conteúdo que estiver contido em seu texto 
normativo. Sendo assim, as normas constitucionais podem ser de eficácia plena, 
contida e limitada. (NASCIMENTO, 2005, sp) 
No primeiro ponto, nomeadamente normas de eficácia plena encontram-se 
aqueles dispositivos normativos que possuirão vigência e eficácia apenas com o 
processo de publicação de seu texto. Em seus estudos sobre aplicabilidade das 
normas, Silva (1999, p. 101) especifica que: 
 
normas constitucionais de eficácia plena são as que receberam do 
constituinte normatividade suficiente à sua incidência imediata. Situam-se 
predominantemente entre os elementos orgânicos da constituição. Não 
necessitam de providência normativa ulterior para sua aplicação. Criam 
 
 
 
 
situações subjetivas de vantagem ou de vínculo, desde logo exigíveis. 
(SILVA, 1999, p. 101). 
 
Portanto, parece apropriado observar que o sistema observado nas normas 
de eficácia plena reveste a condição de auto aplicabilidade, bastante similar, 
contudo, ao apresentado pelo sistema constitucional norte americano. As normas de 
eficácia plena afastam a necessidade de utilização da existência de um instrumento 
posterior para que a norma cumpra seu efeito legal. Não existe, portanto, nenhum 
questionamento sobre sua funcionalidade, pois ela apresenta um sistema claro e 
direto. 
No sentido de facilitar o processo de compreensão no que se refere às 
normas de eficácia plena indica-se a especificação do preceituado nos seguintes 
dispositivos constitucionais, nomeadamente o artigo 2º da Constituição Federal ao 
estabelecer que os poderes executivo, legislativo e judiciário estão diretamente 
relacionados com a União; o artigo 14º § 2º ao especificar § 2º determinadas 
restrições para o processamento de alistamento eleitoral. 
Ainda no que se refere ao processo de compreensão das normas 
constitucionais de eficácia plena, observa-se o julgado a seguir, onde fica claro que 
o STF reconhece, de fato, a autonomia da defensoria pública estadual conforme a 
EC45/02 e, portanto, torna improcedente o pedido realizado pelas partes ao 
contestar essa possibilidade. 
 
O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente a ação direta para declarar 
a inconstitucionalidade da alínea "c" do inciso IV do artigo 2º da Lei nº 
12.775, de 22 de março de 2005, do Estado de Pernambuco, nos termos do 
voto do Relator. Votou o Presidente. Licenciada a Senhora Ministra Ellen 
Gracie (Presidente). Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Gilmar Mendes 
(Vice-Presidente). Plenário, 02.04.2007 (ADI3569, Rel Min. Sepúlveda 
Pertence, 02.04.2007, DJ, 11.05.2007). 
 
As normas de eficácia contida possuem uma estruturação diferenciada, pois 
apesar de se perceber eficácia no ato da publicação da norma, exige-se a 
materialização de um dispositivo normativo infraconstitucional para que a eficácia 
seja de fato, sedimentada. Dessa maneira, segundo Lenza (2018, p. 136) “ao tratar 
de normas constitucionais de eficácia contida observa que a norma 
infraconstitucional poderá, de certa forma, ocasionar uma redução na abrangência e 
eficácia da norma constitucional”. No caso que se apresenta com as normas de 
eficácia contida existe, verdadeiramente, um caráter limitativo e restritivo da norma 
constitucional e, portanto, sua eficácia depende de instrumentos normativos que 
surjam posteriormente à publicação da norma em comento. 
Por isso, torna-se conveniente observar o especificado por Silva (1999, p. 7) 
ao perceber que normas constitucionais de eficácia contida são: 
 
aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os 
interesses relativos à determinada matéria, mas deixou margem à atuação 
restritiva por parte da competência discricionária do Poder Público, nos 
termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas 
anunciados. (SILVA, 1999, p. 7). 
 
 Dessa maneira, observa-se que existe realmente a previsão normativa de 
determinado direito no sistema constitucional, mas que, posteriormente, surgem 
determinadas circunstâncias que apresentam uma limitação ao ponto normativo e, 
portanto, uma norma infraconstitucional deverá surgir para que o aspecto normativo 
 
 
 
 
tenha eficácia de fato. Vejamos, por exemplo, as questões relacionadas ao exercício 
da profissão de médico e advogado, onde inicialmente a questão pode ser 
enquadrada no livre exercício da profissão, ou seja, tendo o direito de desempenhar 
a função que se deseja, mas a liberdade não é irrestrita, pois depende que o 
profissional esteja devidamente inscrito no órgão correspondente, no caso do 
médico o conselho regional de medicina e, no caso do advogado a OAB. Observa-
se,portanto que, após a edição da norma que estabelece o exercício livre da 
profissão, posteriormente surge a necessidade de que o profissional esteja 
devidamente inscrito na associação profissional correspondente. 
 Por fim, observa-se o caso das normas de eficácia limitada que compreende-
se como aqueles dispositivos normativos que não possuem a força real para 
produzir todos os efeitos normativos que são inerentes à condição de um dispositivo 
constitucional e, portanto, necessitam, para que se torne eficaz, de uma norma 
infraconstitucional que venha integrá-la no sistema normativo. Assim, , observa-se 
que existe o estabelecimento de um dever para o legislador pátrio, que inspiram o 
processo de organização estatal e, ainda constroem um sentido teleológico no 
processo de aplicabilidade das normas. 
 Ao observar a existência de normas de eficácia limitada pode surgir o 
questionamento da sua real necessidade no âmbito do sistema jurídico de um país. 
A resposta pode ser encontrada tão somente ao se perceber que as referidas 
normas possuem um caráter valorativo e, portanto, acabam por conceder ao sistema 
normativo como um todo a possibilidade de se ampliar a sua aplicação e, 
consequentemente o favorecimento de toda a sociedade. Contudo, mesmo em se 
tratando de normas constitucionais de eficácia limitada, torna-se possível identificar 
na Constituição Federal de 1988, exemplos essenciais, nomeadamente, o artigo 7º, 
XX que “especifica a proteção do trabalho da mulher através de medidas 
específicas. Fica evidente que, nesse caso, a norma constitucional especifica 
apenas a importância de respeito do gênero feminino no mercado de trabalho” e, por 
isso, para que “haja a integração da mulher no mercado de trabalho brasileiro, outras 
normas que integrem a mulher de maneira adequada ao que supõe a Constituição 
Federal se torna essencial”. 
1.4 A Constituição Brasileira de 1988 face à sua classificação 
 
No que se refere ao processo classificatório da Constituição Brasileira de 
1988 encontra-se um aspecto eminentemente particular, pois apresenta a seguinte 
classificação: promulgada, escrita, analítica, formal, rígida e dogmática. 
Os aspectos que hoje podem ser encontrados no processo classificatório da 
Constituição Federal representam, de fato, o aperfeiçoamento que surge em 
decorrência do processo evolutivo no âmbito da ordem jurídica e social na sociedade 
brasileira. E, durante todo o texto constitucional, torna-se possível perceber que a 
sistematização dos conteúdos constitucionais favorece aspectos do estado de bem 
estar social. 
A Constituição Federal de 1988 é promulgada, pois foi pensada em conjunto 
com um sistema social democrático, visto que, após quase 20 anos de ditadura e, 
com a manifestação da população através dos atos representados pelas “Diretas 
Já”. Surge, inevitavelmente um aumento significativo da participação popular nas 
decisões do governo, que foi sedimentada através da criação de uma comissão 
própria de estudos constitucionais cujo objetivo era realizar pesquisas acerca dos 
interesses da população brasileira e, em seguida, apresentar soluções fundamentais 
 
 
 
 
para que as necessidades fossem integradas no trabalho a ser desenvolvido pela 
assembleia nacional constituinte. 
Como consequência do processo de organização da Constituição de 1988 
surge um texto extenso com 245 artigos e, diante do seu aspecto de participação da 
sociedade, denominou-se de constituição cidadã. E, muito embora seja um conjunto 
normativo complexo e extenso e, em virtude de alguns dispositivos normativos terem 
eficácia contida ou limitada, existe a necessidade de uma norma infraconstitucional 
com o objetivo de tornar eficaz aquele dispositivo constitucional. 
A CF de 1988 estrutura vários elementos e, em especial, alguns pontos que 
modificaram a maneira de como o sistema político-social deveria se apresentar, 
nomeadamente, a previsão de uma eleição direta que poderá ocorrer através de 
dois turnos, implementou a independência do poder judiciário, ampliação dos direitos 
do trabalhadores, a possibilidade de se emitir medidas provisórias onde será 
permitido ao presidente emitir em situações de emergência determinadas regras e 
que, posteriormente serão apreciadas pelo congresso nacional. Por fim, um extenso 
texto de especificação e proteção dos direitos fundamentais. 
 Em seguida, observa-se que a CF de 1988 tem o caráter de rigidez, pois 
observa que o texto Constitucional, como um todo, só pode ser modificado a partir 
de um método jurídico próprio. Portanto, a CF de 1988 sendo rígida vem admitir 
ainda a possibilidade de modificação em seu texto, mas este procedimento só pode 
ocorrer a partir de uma medida judicial rigorosa, de maneira que a modificação do 
sistema constitucional se dará, portanto, através de emenda constitucional. 
No que se refere ao processo de extensão da CF de 1988, aplica-se a 
classificação de ser analítica, em virtude do grande volume de informações que se 
apresente em seu texto constitucional. Durante o texto constitucional é possível 
identificar a presença de elementos que evidenciam o valor de uma sociedade 
democrática, o respeito à diversidade e, em especial, respeito à vida. Deixa claro 
que o sistema brasileiro tem o dever de estabelecer políticas de igualdade no 
sentido de reduzir a pobreza. Apresenta também um rol extenso de direitos e 
garantias que são essenciais na vida de qualquer indivíduo que esteja no território 
brasileiro, sendo ele, nacional ou estrangeiro. Portanto, a CF de 1988 traz com 
minúcias a importância do valor humano e, ainda, de como alcançar uma vida digna 
e fraterna e, isso pode ser percebido logo no início com o evidenciado no texto 
Constitucional que está descrito da seguinte forma: 
 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional 
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de 
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução 
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a 
seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 
(BRASIL, 1988). 
 
A Constituição Federal de 1988 ainda é escrita e, muito embora, se questione 
que todas as constituições sejam, rememora-se o evidenciado no tópico anterior 
sobre a constituição inglesa. Dessa maneira, no caso do texto brasileiro, existe a 
formalização do conteúdo constitucional através de um escrito único, afastando, 
portanto, a utilização direta do sistema costumeiro. O que se percebe com os 
elementos apresentados acerca da Constituição Federal de 1988 é que o texto seria 
o resultado de reivindicações da população no que tange aos direitos e garantias 
 
 
 
 
fundamentais, mas que apesar das lutas observadas no âmbito da sociedade 
brasileira, observa-se que existe a evidência em muitos pontos do respeito ao 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, bem-estar, justiça e 
igualdade, dentre outros. 
Sendo assim, não se pode olvidar a grande responsabilidade que não apenas 
os governantes, mas também que toda a sociedade possui, no que tange ao 
respeito e motivação da democracia. É essencial, portanto, respeitar todos os 
preceitos estabelecidos pela constituição, não apenas por ser uma carta suprema, 
mas essencialmente por favorecer uma ordem jurídica fundamental de um Estado. 
 
2 CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS E O PODER CONSTITUINTE 
 
Como visto, o termo Constituição pode ser compreendido em diferentes 
acepções. No sentido amplo, Constituição pode ser compreendida como ato de 
constituir, firmar, formar ou organizar, de outro lado, juridicamente a Constituição 
pode ser entendida como a Lei fundamental e suprema de um Estado, a qual, em 
suas normas, define a estrutura ea organização do Estado, estabelecendo a forma 
de Estado, a forma de Governo, o sistema de Governo e demais normas 
relacionadas aos Poderes do Estado (MORAIS, 2019). 
No entanto, é fato que a Constituição traduz também o contexto histórico em 
que surge, é mantida ou até modificada. Nesse sentido, Ferraz (1994) afirma que a 
Constituição não se desliga do fator social e do contexto dos valores que pretende 
realizar. 
Esse contexto histórico revelado por meio da Constituição pode ser muito 
bem percebido na história das Constituições Brasileiras, isso porque tivemos ao 
menos sete Constituições de 1824 a 1988. 
Assim, analisaremos as seguintes Constituições Brasileiras: de 1824, 1891, 
1934, 1937, 1946, 1967, Emenda Constitucional 1/1969, e 1988. 
A Constituição de 1824 foi antecedida de marcos históricos, dos quais a 
Constituição não pode se dissociar. A sequência histórica entre a vinda da corte 
Portuguesa para a colônia Brasil, o retorno de D. João XI a Portugal, e o posterior de 
Dia do Fico, de 1822, promovido por D. Pedro I ao negar o retorno para Portugal, 
antecedem a independência do Brasil que gerou a necessidade da elaboração de 
uma Constituição. 
No período pós-independência do Brasil, D. Pedro I convocou a primeira 
Assembleia Constituinte e Legislativa, mas as ideias liberais confrontavam os 
interesses e pretensões pela permanência do poder de um só homem, divergência 
que resultou na dissolução arbitrária da Assembleia (LENZA, 2018). 
Logo após dissolver a Assembleia, D. Pedro I cria o Conselho de Estado com 
o objetivo de tratar dos negócios de maior monta e, portanto, elaborar uma 
Constituição que estivesse de acordo com os interesses totalitários (LENZA, 2018). 
Em 25 de março de 1824, foi outorgada a Constituição Política do Império do 
Brasil, a qual durou cerca de 65 anos, tendo como características o centralismo 
político e administrativo, pela manutenção do absolutismo e unitarismo do Poder do 
Estado, além do Poder Moderador. 
A Constituição de 1824 estruturou o Estado Brasileiro como sendo um Estado 
unitário e governado por uma Monarquia Constitucional, o território brasileiro passou 
de capitanias hereditárias para províncias, a religião oficial era a da Igreja Católica 
Apostólica Romana, mas permitiam-se cultos domésticos e particulares de outra 
religião (LENZA, 2018). 
 
 
 
 
Outro ponto interessante previsto na Constituição de 1824 foi a instituição do 
Rio de Janeiro como capital do Império e posterior transformação deste em 
Município da Corte, tendo sua submissão direta ao Poder Central e não ao poder da 
Província, isso por meio de adição a Constituição sob o fundamento do Ato Adicional 
de 1834 e Lei n. 12/1832 (LENZA, 2018). 
Contudo, o ponto mais importante da Constituição de 1824 foi a previsão do 
Poder Moderador. Na contramão da Teoria da Montesquieu, na qual o poder do 
Estado seria separado em três Poderes, no caso, o Poder executivo, o Poder 
Legislativo e o Poder Judiciário, o Brasil, por meio da Constituição de 1824, 
inspirando-se nas ideias de Benjamin Constant, instituiu um quarto Poder, o Poder 
Moderador (LENZA, 2018). 
Segundo Lenza (2018), quanto ao Poder Moderador, há duas linhas de 
pensamento, a primeira linha mais liberal, na qual o Poder Moderador representaria 
um Poder de coordenação entre os demais Poderes. Já na linha mais conservadora 
seria um Poder superior que possibilitaria intervenções e imposições do Poder 
Moderador sobre os demais Poderes. 
Nesse sentido, o Poder Moderador literalmente moderava e moldava a 
vontade dos demais Poderes à vontade do Poder Central e absoluto do Imperador. 
Vale lembrar ainda que, o Poder legislativo no Império era constituído por 
duas câmaras, uma temporária que passava pelas eleições indiretas, e uma vitalícia, 
a dos Senadores. Em todos os Poderes o Imperador tinha sua influência. O voto, 
nesse período era censitário e baseado em critérios econômicos. 
A Constituição do Império do Brasil era semirrígida e continha alguns direitos 
civis e políticos. No entanto, apesar de dar alguns passos na direção dos ideais 
liberais, o Brasil permaneceu sendo uma nação escravocrata até a Lei Áurea em 
1888. 
Antes de passarmos ao Decreto n. 1, de 15 de novembro de 1889 que 
instituiu o Primeiro Governo Provisório da República, vale ressaltar que, durante o 
período de vigência da Constituição de 1824 o Brasil vivenciou alguns movimentos 
populares bastante relevantes, que buscavam a separação ou melhores condições 
de vida. Lenza (2018), destaca os seguintes movimentos como marcos históricos: 
Cabanagem (Pará, 1835); Farroupilha (Rio Grande do Sul, 1835); Sabinada (Bahia, 
1837); Balaiada (Maranhão, 1838); e Revolução Praieira (Pernambuco, 1848). 
O decreto que instituiu o primeiro Governo Provisório da República antecedeu 
justamente a Constituição de 1891. 
A Monarquia foi enfraquecendo e perdendo apoios basilares de sua 
manutenção, o que resultou na Proclamação da República pelo Marechal Deodoro 
da Fonseca, em 15 de novembro de 1889. 
A insatisfação dos Militares após a guerra do Paraguai, o Manifesto do Centro 
Liberal e o Manifesto Republicano enfraqueceram a Monarquia, que sofreu uma 
grande perda quando, em 1874, passou a ter grandes entraves com a Igreja 
Católica. De todo modo, apesar da queda da Monarquia e ascensão de um Estado 
republicano, a participação popular nesse processo foi mínima para não dizer nula. 
Nesse sentido, Lenza (2018, p. 131) afirma: “Isso porque, como visto, tratava-
se mais de um golpe de Estado militar e armado do que qualquer movimento do 
povo. A República nascia, assim, sem legitimidade”. 
As províncias passaram a ser Estados reunidos na forma de Estado Federal, 
o qual constituiu os Estados Unidos do Brasil. 
 
 
 
 
O Decreto n. 1/1889 foi redigido por Rui Barbosa e instituía o Governo 
Provisório no Brasil, o qual deveria consolidar o Regime e promulgar a Constituição 
República, a primeira com a forma de governo Republicano. 
A Constituição de 1891 foi promulgada em 24 de fevereiro, decorrente da 
Assembleia Constituinte eleita em 1890. 
Sob a influência da Constituição dos Estados Unidos da América de 1787 e 
com a relatoria do Senador Rui Barbosa, o Brasil adotou a Federação como forma 
de Estado, a República como forma de Governo e o presidencialismo como sistema 
de governo. Observa-se que foi na Constituição de 1891 que foi instituído no Brasil o 
Federalismo, inclusive com previsão expressa à proibição de dissolução de qualquer 
dos Estados Membros, bem como a previsão do presidencialismo como sistema de 
governo. 
Em relação à Constituição de 1824, a de 1891 previu o Rio de Janeiro como 
Distrito Federal, mas manteve esse com status de Município e delimitou uma área 
para a construção do que seria a capital do Estado. 
Também foi com a Constituição de 1891 que o Brasil passou a ser um Estado 
Laico ou não confessional, cessando assim as relações políticas entre Estado e 
igreja, tais como o padroado e o beneplácito régio. 
Adotou-se ainda a Teoria Clássica de Montesquieu quanto a separação do 
Poder do Estado em três Poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, sendo 
estes harmônicos e independentes entre si, extinguindo-se, portanto, o antigo Poder 
Moderador (LENZA, 2018). 
Quanto ao Poder Legislativo, este era exercido em duas casas, uma de 
representação do povo, na qual eram escolhidos os Deputados, mediante o sufrágio 
direto, porém de representação minoritária e, o Senado que seria a representação 
dos próprios Estados, eleitos de igual modo. 
O Poder Executivo, por sua vez, era exercido pelo Presidente da República, 
eleito por voto direto, mas não democrático, para um mandato de 04 anos, sem 
direito a recondução. Nos Estados-membros existiam os ditos presidentes estaduais 
ou governadores. 
Também foi com a Constituição de 1891 que passamos a chamar o órgão 
máximo do Poder Judiciário de Supremo Tribunal Federal. Também nesse período 
foi reconhecida a vitaliciedade para juízesFederais e a irredutibilidade de 
vencimentos (LENZA, 2018). 
 A Constituição era classificada como rígida, exigindo-se maior solenidade 
para sua alteração, além da instituição de cláusulas pétreas. Também foram 
previstos direitos sociais e garantias, sendo extinta a pena de banimento ou morte, 
ressalvado o Estado de Guerra. Uma garantia constitucional expressa pela primeira 
vez foi a do Habeas Corpus. 
Em setembro de 1926 houve uma reforma constitucional que abalou a 
autonomia dos Estados, aumentado a possibilidade de intervenção da União nos 
Estado-membros, além de um movimento que se revelava bastante autoritário. 
O Período compreendido entre 1889 a 1929 ficou conhecido como a 
República Velha, essa, por sua vez, teve o seu fim em 1930 com a Revolução de 30 
e a instauração de um Governo Provisório, por meio do Decreto n. 19.398 de 1930. 
Cumpre ressaltar que, nesse período, existia a famosa política do café com 
leite, em que os Estados de São Paulo e Minas Gerais alternavam-se no Poder e, 
consequentemente, na Presidência, havendo, no entanto, uma quebra quando 
Washington Luís buscou colocar como seu sucessor Júlio Prestes, também paulista 
(PINTO FERREIRA apud LENZA, 2018). 
 
 
 
 
Villa (2011) destaca que a década 1920 foi marcada pelas rebeliões 
tenentistas, além da coluna Prestes, que revelaram as contradições políticas 
existentes, as quais foram acentuadas após a vitória de Júlio Prestes, indicação do 
então governo de Washington Luís, nas eleições presidenciais contra Getúlio 
Vargas. Apesar da vitória, os rumores de fraude nas eleições tomaram o país, além 
da grave crise econômica reflexo da crise mundial de 1929. Ainda a esse respeito, 
Villa (2011, p. 30) aponta que “Depois de vários combates, da prisão e exílio de 
Washington Luís, no mês seguinte, Vargas assumiu a Presidência”. 
Ainda sobre os episódios sócio-políticos que resultaram na queda da 
República velha e na Revolução de 1930, Lenza (2018) aponta o assassinato de 
João Pessoa, que deflagrou o movimento militar no Rio Grande do Sul, e, é nesse 
contexto que uma Junta Militar transferiu o poder para um governo provisório. 
No mesmo norte, Villa (2011) afirma que a Revolução de 1930 não deixou 
resquícios do regime legal anterior, sendo, inclusive, fechado o Poder Legislativo e, 
para o poder executivo estadual passaram a nomear interventores (a exceção de 
Minas), além do controle do Judiciário ser exercido por aqueles que, naquele 
momento, estavam encabeçando o poder. 
Todo esse cenário é bastante crucial para a compreensão do governo 
provisório da Revolução de 30, bem como da Constituição de 1934. 
O Governo Provisório deteve os poderes do Estado até a promulgação da 
Constituição de 1934. A promulgação ocorreu em razão de pressões e irresignação 
com relação aos métodos arbitrários do Governo Provisório. Essas pressões 
tiveram como marco principal a Revolução Constitucionalista de São Paulo, no ano 
de 1932 (LENZA, 2018). 
Mas, como aponta Lenza (2018), o ponto positivo ocorrido durante o Governo 
Provisório foi o Código Eleitoral com a instituição da Justiça Eleitoral, além de 
medidas como o voto feminino e o sufrágio universal, direto e secreto. 
No dia 16 de julho de 1934 foi promulgada a nova Constituição, esta, por sua 
vez, deixou de lado a predominância do liberalismo econômico e da democracia 
liberal, características da República velha sob a égide da Constituição de 1891 
(LENZA, 2018). 
Com relação à Constituição de 1934, Lenza (2018, p. 137) afirma que “sofreu 
forte influência da Constituição de Weimar da Alemanha de 1919, evidenciando, 
portanto, os direitos humanos de 2ª geração ou dimensão e a perspectiva de um 
Estado social de direito (democracia social)”. 
Mantiveram-se na Constituição de 34 a forma de Estado, a forma de Governo 
e o sistema de Governo, respectivamente, Federação, República e o 
presidencialismo. 
Quanto à Capital da República, a sede permaneceu no Município do Rio de 
Janeiro, com a observação aposta nas disposições transitórias da Constituição de 
que, após pesquisas, a Capital deveria ser transferida para uma localidade mais 
central do Estado Brasileiro e que, assim, o Distrito Federal passaria a ser um 
Estado. No, entanto, antes que essa transferência ocorresse, o Rio de Janeiro foi 
elevado a uma condição de Supermunicípio, equivalendo sua autonomia a 
autonomia de um Estado, observado os limites constitucionais da época. O Estado 
Laico foi mantido nesse período. (LENZA, 2018). 
Um ponto de divergência da República de 1934 para a República Velha é que 
não seriam mais duas casas de representação no Legislativo, mas sim uma em que 
Deputados e Senadores atuariam em colaboração, o que a doutrina chama de 
unicameralismo imperfeito (LENZA, 2018). 
 
 
 
 
A Câmara dos Deputados era composta por deputados eleitos diretamente e 
também por representantes de organizações, eleitos por estas, que traduziam uma 
influência fascista. 
Vale destacar que, foi em 1934 que os remédios constitucionais do Mandado 
de Segurança e Ação Popular tiveram uma previsão expressa no texto 
constitucional. 
No entanto, como a própria história revela, a Constituição de 1934 foi 
bastante efêmera e esbarrou no golpe de 1937. 
O cenário era, mais uma vez, de instabilidade, mas agora instaurado por feroz 
antagonismo entre a direita e a esquerda. A direita alinhava-se a influências 
fascistas e tinham um desejo declarado pelo autoritarismo. Já a esquerda era 
baseada nos ideais socialistas, comunistas e sindicais, e pendiam para a 
instauração do socialismo no Brasil. A Ação Integralista Brasileira era a 
representação da direita, e a representação da esquerda estava na Aliança Nacional 
Libertadora. 
Esse choque de forças contrárias e, de certo modo, radicais, resultou em 
medidas totalitárias pelo então governo da República. Getúlio Vargas, que somente 
terminaria seu mandato em 1938, após a intentona comunista liderada por Luís 
Carlos Prestes, decretou o estado de sítio em 1935, e no mesmo ano fechou a 
Aliança Nacional Libertadora com base na Lei de Segurança Nacional. 
O Congresso, em apoio a Vargas, declarou o estado de guerra e, diante 
desse cenário proclamou-se o golpe como uma salvação à ameaça do Comunismo. 
Assim, em 1937 instaurou-se uma ditadura ou como também chamam o 
Estado Novo, sendo outorgada a Constituição que ficou conhecida como a Polaca, 
em razão de sua influência fascista pela Constituição Polonesa de 1935 (LENZA, 
2018). 
Destaca-se nesse período, o fechamento do parlamento, o domínio sobre o 
judiciário, e a nomeação de interventores para os Estados, ruindo assim a autonomia 
destes e, portanto, comprometendo o próprio federalismo. 
 De outro lado, para atrair o apoio popular, desenvolveu-se nesse período 
uma política populista, tendo como carro chefe a Consolidação das Leis 
Trabalhistas. 
Por fim, no tocante às características do Estado nos moldes da Constituição 
de 1937, temos o esvaziamento prático do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, 
mesmo com a manutenção da teoria tríplice de Montesquieu. O Legislativo seria 
exercido sob a ótica do Conselho da Economia Nacional e do Presidente da 
República, sendo inexistente, no entanto, os senadores nessa configuração de 
Legislativo (LENZA, 2018). Tanto os Deputados quanto o Presidente da República 
eram eleitos de modo indireto. 
Todavia, vale destacar que havia previsão para o parlamento com 
representação dos Deputados, mas segundo a própria Constituição de 37, a 
Assembleia e o Senado estavam dissolvidos, exercendo, o Presidente, o Poder de 
expedir leis e decretos, até que fossem marcadas eleições para o novo parlamento 
(LENZA, 2018). 
Os direitos sociais sofreram forte encolhimento, além da inexistência de 
previsão de remédios constitucionais como o Mandado de Segurança e a Ação 
Popular, sem mencionar a atuação da Polícia Especial e a forte censura prévia que 
atingia a livre manifestação do pensamento, prevendo, inclusive, a pena de morte 
porcrimes considerados políticos. 
 
 
 
 
Outros pontos traumáticos da Constituição de 1937, fruto de um golpe, foram 
a suspensão de direitos individuais, a proibição de greves, a tortura como 
instrumento de repressão e outros, tudo debaixo da égide de uma Constituição e leis 
por ela resguardadas. 
O fim do golpe se aproximou quando Getúlio decidiu enviar a Força 
Expedicionária Brasileira para ajudar os países Aliados a combater os Países do 
Eixo, ou seja, países fascistas nos quais Getúlio inspirou-se para a Constituição de 
1937. Assim, esse e outros eventos geraram insatisfação popular, mas 
principalmente das Forças Armadas. 
O Próprio Vargas assinou o Ato Adicional convocando eleições diretas, mas, 
ainda assim, foi tirado do poder pelos Generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro, ou 
seja, retirado pelas Forças Aramadas. 
Após a retirada de Vargas, o presidente do Supremo Tribunal Federal, José 
Linhares, assumiu a presidência e iniciou o processo de redemocratização, 
revogando dispositivos da Constituição de 1937 que impediam o exercício 
democrático. 
Em 1945, a Lei Constitucional deu poderes ao Parlamento que seria eleito 
para atuar como Poder Constituinte. A Assembleia Constituinte ocorreu em 1946, 
promulgando em 18 de setembro de 1946 a Constituição de 46, que marcou 
definitivamente o fim do Estado Novo e a redemocratização do país. 
Na Constituição de 1946 foram retomados conceitos do Estado Liberal e do 
Estado social, assim buscou-se, por meio da Constituição, um equilíbrio entre a livre 
iniciativa e os direitos sociais (LENZA, 2018). 
Portanto, o país retomava sua plenitude como uma Federação Republicana e 
democrática, com sistema presidencialista. 
O Distrito Federal, localizado no Estado do Rio de Janeiro, passou a constituir 
o Estado da Guanabara, o qual foi posteriormente fundido com o Rio após a criação 
de Brasília. 
O mandado de segurança e a Ação popular foram restabelecidos, o 
Legislativo retornou a ideia de bicameralismo, e eleições diretas, o Presidente 
também seria eleito por voto popular. O Judiciário retomou o funcionamento natural. 
Após a situação política do Presidente Jânio e da negativa ao vice João 
Goulart, o Congresso instituiu o parlamentarismo, o qual foi derrubado por meio do 
referendo de 1963, com imediato retorno do presidencialismo. 
Em 1964, no entanto, sob a acusação de estar a serviço do comunismo 
internacional, João Goulart foi derrubado pelo movimento militar, instaurando-se a 
nova ordem revolucionária (LENZA, 2018). 
A partir de então começaram as edições dos Atos Institucionais, em abril de 
1964 foi elaborado o AI n.1, no qual previu-se a possibilidade de aposentadoria de 
civis e militares, decretação de estado de sítio, e suspensão de direitos políticos sem 
observar os limites constitucionais. 
O AI 2/65 estabeleceu eleições indiretas para a presidência, o AI 3 fez o 
mesmo a nível estadual. Já em 1966, o Congresso foi fechado, sendo reaberto 
somente para a aprovação da Constituição de 1967, o que ocorreu mediante o AI 
4/66 (LENZA, 2018). 
A Constituição de 1967 colocou em uma Carta Magna todas as intenções dos 
Atos Institucionais, e seguindo na linha da Constituição de 1937, restringiu direitos 
individuais e retirou garantias. 
Apesar de intitular o Estado como Federação, o federalismo nesse período 
aproximou-se bastante de um Estado unitário, tendo em vista a supressão da 
 
 
 
 
autonomia dos Estados e a centralização do poder no Presidente da República e 
esvaziamento dos demais poderes (LENZA, 2018). 
Em 1968 foi baixado o Ato Institucional n. 5, por meio de Emenda à 
Constituição, com uma serie de poderes conferidos ao Presidente que excediam 
ainda mais o autoritarismo do regime, e, além de já esvaziado, o Poder Legislativo 
foi suspenso com o decreto de recesso compulsório do Congresso Nacional, fora o 
fato de excluir de apreciação judicial atos praticados em nome do AI 5. 
Já em 1969 ocorreu a baixa pelo Militares da Emenda Constitucional n.1/69, 
autores como Lenza (2018) a consideram como uma forma de Constituição, tendo 
em vista seu caráter revolucionário. 
Foi por intermédio da Emenda Constitucional de 1969, que se 
constitucionalizaram os Atos Institucionais, mantendo o rigor de todos aqueles que já 
tinham sido produzidos anteriormente, além de aumentar o mando presidencial de 
quatro para cinco anos. 
Após essa emenda, tivemos a Lei Falcão que buscava restringir a 
propaganda eleitoral e assim prejudicar opositores, e o Pacote de Abril de 1977 que 
modificou a forma de emendar a Constituição e outras medidas. Mas, a partir do 
pacote de junho de 1978 iniciou-se o que seria a abertura política para mais uma 
redemocratização, marcada pela revogação do AI 5. 
 O último governo militar foi o de Figueiredo que se findou em março de 1985, 
esse período foi marcado pela Lei da Anistia, Reforma Partidária, e pelo retorno às 
eleições diretas estaduais. Em 1983 ocorreu o movimento das Diretas Já. 
Em 1988, após a Assembleia Constituinte presidida por Ulysses Guimarães, 
promulgou-se a Constituição, por ele mesmo, denominada de Constituição Cidadã 
(LENZA, 2018). 
A Constituição de 1988 estabeleceu direitos e garantias fundamentais, nos 
colocou novamente como uma Federação Republicana e Democrática, e, após o 
plebiscito de 1993 previsto pelo Art. 3º das Disposições Transitórias, firmou-se como 
sistema de governo o presidencialismo. Lembrando que o voto passou a ser direto, 
secreto e universal. 
Os pontos marcantes de nossa atual Constituição são: as cláusulas pétreas, o 
bicameralismo, a independência e harmonia entre os Poderes do Estado, o pleno 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar 
social, o desenvolvimento, a promoção da igualdade, a justiça, separação da ordem 
econômica e da ordem social e outros valores supremos (LENZA, 2018). 
Associada a estes pontos, devemos acrescentar as classificações da 
Constituição Cidadã que foram traduzidas no capítulo anterior. 
As Constituições Brasileiras refletem um ciclo grande de influência das 
disputas políticas internas para a compreensão do fundamento do Estado e de sua 
soberania traduzida pelo ordenamento Jurídico. 
Após a análise das características das constituições e seus aspectos 
históricos, passaremos a compreensão do que seria o Poder Constituinte, cuja 
atuação foi discutida em algumas das constituições mencionadas acima. 
 
2.1 O Poder Constituinte 
 
Barroso (2019), ao tratar de Poder Constituinte observa que, assim como a 
Constituição surge historicamente antes de uma conceituação enquanto fenômeno, 
o mesmo ocorre com o Poder Constituinte, ou seja, existindo uma organização 
 
 
 
 
política haverá uma força inicial que constituiu aquela organização, conferindo-lhe 
uma forma, normas e instituições. 
No mesmo sentido, Barroso (2019) aponta que a teoria constituinte perpassa 
pela estruturação do próprio Estado Moderno e do Constitucionalismo Moderno, 
passando, portanto, pela soberania e pela legitimidade política. 
Por fim, Barroso (2019, p. 117) conceitua o Poder constituinte como: “trata-se 
do poder de elaborar e impor a vigência de uma Constituição. Situa-se na 
confluência entre Direito e Política, e sua legitimidade repousa na soberania 
popular”. 
Morais (2019, p. 25), de igual modo, conceitua o Poder Constituinte como “a 
manifestação soberana da suprema vontade política de um povo, social e 
juridicamente organizado”. Bulos (2018, p. 395) destaca o Poder Constituinte como 
“a potência que faz a constituição, e, ao mesmo tempo, a competência que a 
modifica”. 
Joseph Sieyès foi o responsável por estabelecer a diferença entre o Poder 
Constituinte e o Poder Constituído, o qual o fez no decorrer da Revolução Francesa. 
Assim, segundo Sieyès, o Poder Constituinte seria a vontade da nação, em portanto, 
incondicionado e permanente, tendo como uma barreira somente o direito natural 
(apud BARROSO, 2019). 
Seguindo a linha do pensadorfrancês, o Poder Constituído seria formado e 
teria suas atribuições e competências delineadas pelo Poder Constituinte, e pelo 
qual também seria delimitado. No mesmo sentido, lançou o conceito de 
representação política, mudando a ideia de soberania popular pura de Rousseau 
para a soberania nacional (apud BARROS, 2019). 
Barroso (2019), ao analisar as Constituições frente aos ciclos históricos 
políticos apresentados por Jon Elster, destacou os cenários ou eventos históricos em 
que é possível observar claramente a atuação do Poder Constituinte, tais como: “a) 
uma revolução; b) a criação de um novo Estado (normalmente pela emancipação de 
uma colônia ou pela libertação de algum tipo de dominação); c) a derrota na guerra; 
d) uma transição política pacífica”. 
Tomando por base o pensamento de Barroso (2019), no Brasil as inúmeras 
Revoluções motivaram o exercício do Poder Constituinte. 
No tocante à titularidade, para Sieyès, a titularidade do Poder Constituinte é a 
Nação, uma vez que tem ligação com a ideia de soberania (MORAIS, 2019). Na 
modernidade, por outro lado, entende-se que a titularidade do Poder Constituinte 
pertence ao povo (LENZA, 2018). 
Bulos (2018), ao tratar das maneiras pelas quais o poder constituinte se 
expressa, refere-se a estas como formas de manifestação. Já Morais (2019) se 
refere como espécies de Poder Constituinte. Nesse caso, apenas para fins didáticos, 
trataremos aqui de espécies de Poder Constituinte. 
Inicialmente, podemos perceber duas espécies de Poder Constituinte, o 
primeiro dito Originário, o segundo chamado de Derivado. Este, por sua vez, 
subdivide-se em derivado reformador, derivado decorrente e derivado revisor. Além 
dessas duas espécies, há ainda o Poder Constituinte Difuso e o Supranacional. 
 
2.2.1 Poder Constituinte Originário 
 
O Poder Constituinte Originário pode ser conceituado como “aquele que 
instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica 
precedente” (LENZA, 2018, p. 209). 
 
 
 
 
Nesse sentido, Morais (2019) pontua que há Poder Constituinte tanto na 
criação da Constituição pela primeira vez em um Estado, quanto também haverá na 
criação de uma nova Constituição posterior àquela. A este respeito, Lenza (2018) os 
coloca como Poder Constituinte histórico quando se trata da primeira Constituição, e 
Poder Constituinte revolucionário quando referente àquelas posteriores (MORAIS, 
2019). 
Embora o poder constituinte originário não esteja condicionado a nenhuma 
forma, pelas experiências da própria história, podemos dizer que o Poder Originário 
será exercido mediante Assembleia Nacional Constituinte (também chamada de 
convenção) ou por meio da outorga, em razão de um Movimento Revolucionário 
(MORAIS, 2019). 
A título de exemplo, vamos pensar no Brasil: a primeira constituição do Brasil 
foi a de 1937, decorrente de um movimento, do mesmo modo que a primeira 
Constituição do Brasil (1824). Já as Constituições de 1891 e 1988 foram 
promulgadas por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte. 
Enquanto na outorga prevalece a vontade unilateral, na Assembleia há a 
vontade deliberada a partir de representação popular (MORAIS, 2019). 
São características do Poder de 1º Grau, segundo Lenza (2018): inicial, 
autônomo, ilimitado juridicamente, incondicionado, soberano, um poder de fato e 
político e, por último, permanente. 
Inicial, pois instaura uma nova ordem jurídica, e tem como base da nova 
ordem a Constituição. Autônomo, uma vez que a estrutura e as normas da Nova 
Constituição serão assentadas por quem está no exercício do Poder Constituinte. 
Ilimitado, isso porque não tem dever de respeito à norma anterior. Incondicionado e 
soberano, pois não está adstrito a nenhuma forma pré-estabelecida para 
manifestação de sua vontade constituinte. É um poder de fato e um poder Político, 
pois possui uma força social e, portanto, que antecede a nova ordem jurídica, a qual 
será manifestada através do Poder Constituinte resultando na criação da 
Constituição. E é, permanente, uma vez que não se esgota na elaboração da 
Constituição (LENZA, 2018). 
A doutrina ainda classifica o Poder Constituinte em originário formal e 
material. Formal é o ato de criação, o qual reveste o complexo normativo com status 
constitucional. E, material, diz respeito justamente à substância daquilo que é norma 
constitucional, assim, o material é anterior ao formal (LENZA, 2018). 
 
2.2.2 Poder Constituinte Derivado 
 
Como bem aponta Bulos (2018, p. 409), o Poder Constituinte Derivado é 
aquele que “altera, formalmente, a constituição”. 
O Poder Constituinte Derivado, como o próprio nome pressupõe, está inserido 
na Constituição e dela decorre. Desse modo, conhece limitações expressas na 
própria Constituição, sendo passível de controle de constitucionalidade (MORAIS, 
2019). 
Este Poder divide-se em reformador, decorrente e revisor. 
O Poder constituinte derivado reformador traduz a possibilidade de alterar a 
Constituição, por meio de um procedimento especial, solene e específico para a 
reforma, especificações contidas na própria Constituição. (MORAIS, 2019). 
Essa característica mais solene para reforma é própria daqueles Estados que 
possuem Constituições rígidas (vide capítulo anterior). 
 
 
 
 
O Brasil, por exemplo, só pode alterar a Constituição mediante um 
procedimento formal e mais complexo do que para a elaboração de Leis ordinárias 
ou Complementares, esse processo está descrito nos artigos 59 e 60 da 
Constituição Federal. A Constituição Brasileira pode ser modificada mediante 
Emenda Constitucional, observado limites, tais como quórum, votação em cada 
Casa, além das cláusulas pétreas. 
O Poder Constituinte derivado decorrente “Consiste na possibilidade que os 
Estados-membros têm, em virtude de sua autonomia político-administrativa, de se 
auto organizarem por meio de suas respectivas constituições estaduais, sempre 
respeitando as regras limitativas estabelecidas na Constituição Federal” (MORAIS, 
2019, p. 28). 
Lenza (2018), seguindo a Classificação de Anna Ferraz, divide o Poder 
constituinte derivado decorrente em duas modalidades, a primeira seria o decorrente 
inicial- aquele que elabora a constituição estadual-, e, o segundo seria o decorrente 
de revisão estadual - nesse há uma finalidade de modificação da constituição 
estadual, seguindo os limites da própria constituição estadual e da federal. 
Observa-se que, nos Municípios, não há manifestação do Poder Constituinte 
derivado decorrente, pois para os Municípios há a elaboração de uma Lei orgânica. 
O mesmo ocorre para os territórios Federais, os quais integram a União e não 
possuem uma autonomia federativa, não existindo manifestação de poder derivado 
decorrente (LENZA, 2018). 
O Distrito Federal possui uma Lei Orgânica ligada diretamente à União, uma 
vez que sua autonomia é parcialmente tutelada pela União (LENZA, 2018). 
O Poder constituinte derivado revisor é, assim como o decorrente e 
reformador, proveniente do Poder Originário e foi por ele delimitado e condicionado. 
No artigo 3º das Disposições Transitórias foi estabelecido que “a revisão 
poderia ocorrer após cinco anos da promulgação da Constituição, por voto da 
maioria do Congresso, por meio de uma sessão unicameral. O exercício do poder 
revisor somente pode ocorrer uma única vez”. 
O Poder revisor diz respeito justamente a uma revisão e ou atualização, mas 
apesar de na Constituição Brasileira aparentar ser mais simplificado do que o caso 
do Poder Reformador, vale ressaltar que o poder revisor é mais condicional e 
temporal que os demais modos do Poder Derivado. 
 
2.2.3 Poder Constituinte Difuso 
 
Bulos (2018, p. 435) conceitua o Poder Constituinte Difuso como “aquele que 
atua na etapa da mutação constitucional. É chamado de difuso porque não vem 
formalizado nas constituições. Mesmo assim, está presente na vida dos 
ordenamentos jurídicos”. 
Quanto à natureza, Bulos (2018) classifica o Poder difuso como sendo um 
poderde fato, pois é decorrente do fato social, político e econômico. 
Lenza (2018) destaca que na alteração por meio do poder difuso não há uma 
modificação do texto, mas um processo informal, o qual resulta em uma alteração no 
sentido da interpretação do texto. 
Exemplo clássico de Mutação Constitucional ou apenas de um processo 
informal de modificação da Constituição foi o ocorrido com a possibilidade do 
casamento homoafetivo, em 2011, pelo Supremo Tribunal Federal. 
Bulos (2018) aponta como características do Poder Difuso: Latência que é um 
poder que somente aparece quando necessário, sendo exercido por aqueles a quem 
 
 
 
 
compete aplicar a constituição; permanência, pois tem atuação permanente, embora 
não seja expressamente previsto; informalidade, pois não se enquadra nem no 
poder originário, nem no poder derivado, mas decorre de um processo informal; e 
continuidade, pois geralmente aparece em razão de uma lacuna que será, por meio 
de um processo informal, colmatada dando continuidade ao a obra do Constituinte. 
A principal manifestação do Poder difuso é, sem dúvidas, a mutação 
constitucional. No entanto, o estudo profundo desta cabe melhor quando 
compreendida a hermenêutica constitucional. 
 
2.2.4 Poder Constituinte Supranacional 
 
Segundo Lenza (2018, p. 225) “O Poder constituinte supranacional busca a 
sua fonte de validade na cidadania universal, no pluralismo de ordenamentos 
jurídicos, na vontade de integração e em um conceito remodelado de soberania”. 
Bulos (2018) acrescenta que o poder supranacional almeja romper as 
fronteiras dos Estados, em nome de uma integração, alcançando assim uma 
comunidade de nações. Essa ideia e supranacionalismo é também chamado de 
transnacional, está diretamente ligada à metaconstitucionalidade. 
 São exemplos de uma meta constituição, segundo Bulos (2018), a 
Constituição da União Europeia. 
No entanto, o tema ainda está em debate e certamente passará por muitos 
até que haja uma consolidação, principalmente porque lida com a ideia de um 
constitucionalismo global. 
. 
 
3 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
No âmbito da estruturação da Constituição Federal foi especificado um 
instrumento de substancial importância que se destina tão somente à defesa e 
preservação de valores evidenciados no texto Constitucional através da utilização de 
um instrumento de extrema importância, nomeadamente controle de 
constitucionalidade. A partir do pressuposto que se evidencia é tão somente uma 
forma de se adequar determinados atos normativos ao que está estabelecido na 
Constituição. 
 
3.1 Aspectos essenciais no processo de compreensão do controle de 
constitucionalidade 
 
 O pressuposto essencial para se realizar o processo de controle de 
constitucionalidade, no âmbito constitucional, é tão somente que seja um texto 
rígido, ou seja, que se observe um procedimento demasiadamente rigoroso para o 
processo de modificação normativa. Segundo Barroso (2006): 
 
Um dos fundamentos do controle de constitucionalidade é a proteção dos 
direitos fundamentais, inclusive e sobretudo os das minorias, em face das 
maiorias parlamentares eventuais. Seu pressuposto é a existência de 
valores materiais compartilhados pela sociedade que devem ser 
preservados das injunções estritamente políticas. A questão da legitimidade 
democrática do controle judicial é um dos temas que têm atraído mais 
intensamente a atenção dos juristas, cientistas políticos e filósofos da 
 
 
 
 
Constituição, e a ele se dedicará um tópico desta exposição. (BARROSO, 
2006, p. 125). 
 
 Pensar em controle de constitucionalidade de maneira direta seria observar a 
essência do escalonamento do processo normativo e, portanto, posicionando o 
sistema constitucional no degrau de supremacia normativa, onde qualquer norma 
que surja, posteriormente, no sistema jurídico tenha eminentemente um caráter 
especial de adequação. Nesse sentido Silva (1999, p. 70) aponta que a realização 
do controle de constitucionalidade: 
 
significa que a constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do país, 
a que confere validade, e que todos os poderes estatais são legítimos na 
medida em que ela os reconheça e na proporção por ela distribuídos. É, 
enfim, a lei suprema do Estado, pois é nela que se encontram a própria 
estruturação deste e a organização de seus órgãos; é nela que se acham as 
normas fundamentais de Estado, e só nisso se notará sua superioridade em 
relação às demais normas jurídicas (SILVA, 1999, p. 70). 
 
 Nessa perspectiva, é oportuno observar que o instrumento do controle de 
constitucionalidade enaltece sobremaneira a supremacia da Constituição, visto que 
não permitirá de forma alguma a presença de normas no ordenamento jurídico 
brasileiro que venham a tornar o sistema dúbio. 
 E, por isso, a realização do processo de controle de constitucionalidade deve 
ocorrer recheado de motivos justos e adequados e, portanto, conseguir enquadrar 
aquela norma como inadequada no sistema jurídico brasileiro. 
 No substrato prático, o controle de constitucionalidade pode ser observado no 
artigo 60º da Constituição quando evidencia a possibilidade de emenda à 
constituição, a partir da discussão e votação de determinada proposta em cada casa 
do congresso nacional, mas que seja realizada em dois turnos e atingindo três 
quintos dos votos dos respectivos membros. 
Muito embora o controle de constitucionalidade seja identificado em várias 
constituições que antecedem a de 1988, apenas nesta é possível perceber uma 
expansão significativa das formas de controle, inclusive no que tange ao rol de quem 
pode interpor uma ação de constitucionalidade. Sendo assim, para além de 
especificar o rol dos legitimados para propor o controle de constitucionalidade se 
criou novos instrumentos processuais que vem a reforçar o controle concentrado a 
ser realizado pelo STF. Ademais, apresentou-se a possibilidade de propor controle 
de constitucionalidade no âmbito das omissões legislativas, e foi facultada a 
possibilidade da ADCT (arguição de descumprimento de preceito fundamental). 
Diante das inovações trazidas pela EC 26/1985 Silva (1999, p. 544-545) 
observa que: 
O Brasil seguiu o sistema norte-americano, evoluindo para um sistema 
misto e peculiar que combina o critério difuso por via de defesa com o 
critério concentrado por via de ação direta de inconstitucionalidade, 
incorporando também, agora timidamente, a ação de inconstitucionalidade 
por omissão (arts. 102, I, a e III, e 103). A outra novidade está em ter 
reduzido a competência do Supremo Tribunal Federal à matéria 
constitucional. Isso não o converte em Corte Constitucional. Primeiro porque 
não é o único órgão jurisdicional competente para o exercício da jurisdição 
constitucional, já que o sistema perdura fundado no critério difuso, que 
autoriza qualquer tribunal e juiz a conhecer da prejudicial de 
inconstitucionalidade, por via de exceção. Segundo, porque a forma de 
recrutamento de seus membros denúncia que continuará a ser um Tribunal 
que examinará a questão constitucional com critério puramente técnico-
 
 
 
 
jurídico, mormente porque, como tribunal, que ainda será, do recurso 
extraordinário, o modo de levar a seu conhecimento e julgamento as 
questões constitucionais nos casos concretos, sua preocupação, com é 
regra no sistema difuso, será dar primazia à solução do caso e, se possível, 
sem declarar inconstitucionalidades (SILVA, 1999, p. 544-545). 
 
 Portanto, dentro desse panorama, observa-se que qualquer situação jurídica 
que venha a modificar o texto constitucional, mas não tenha passado pelo devido 
processo de controle de constitucionalidade poderá incorrer em nulidade do ato. 
Ademais, não se pode deixar de mencionar o futuro da norma que, em tendo sofrido 
o processo de controle de constitucionalidade, tenha se deparado com obstáculos 
substanciais e, portanto, não podem, de maneira alguma, ser incorporadas no 
sistema jurídico constitucional. Por isso, a norma quese pretendia integrar ao regime 
jurídico constitucional passa a ser considerada como regra nula. 
 
 
 
 
 
 
 
3.2 O Controle de constitucionalidade concentrado e difuso 
 
 O sistema de controle de constitucionalidade possui duas vias para a 
realização do processo, nomeadamente, o difuso e o concentrado. No primeiro caso 
o controle de constitucionalidade pode ser exercido por qualquer tribunal e, em 
consequência, por qualquer juiz e, portanto, todo o conjunto normativo que compõe 
o ordenamento jurídico brasileiro se sujeita ao processo de controle. O que deve ser 
evidenciado, contudo, nessa questão específica é o respeito ao órgão jurisdicional 
competente. Nesse sentido, torna-se importante observar o especificado por Lenza 
(2018, p. 178) ao expressar que: 
 
o controle difuso, repressivo, ou posterior, é também chamado de controle 
pela via de exceção ou defesa, ou controle aberto, sendo realizado por 
qualquer juízo ou tribunal do Poder Judiciário. Quando dizemos qualquer 
juízo ou tribunal, devem ser observadas, é claro, as regras de competência 
processual, a serem estudadas no processo civil. (LENZA, 2018, p. 178). 
 
 
Nesse sentido, o controle difuso ocorre, tão somente, no exame de um caso 
concreto e, por isso, a declaração de inconstitucionalidade ocorrerá de maneira 
incidental. Destaca-se, portanto que o pedido será realizado tendo como fundamento 
essencial a incompatibilidade do pedido com o texto constitucional. O que interessa 
neste processo específico é tão somente que seja declarado o caso como 
inconstitucional, para que as partes envolvidas não tenham mais obrigação jurídica. 
Contudo, as diretrizes normativas permanecerão vigentes para os interesses de 
terceiros. 
 No caso de a declaração de inconstitucionalidade decorrer de um caso em 
que envolva lei ou ato normativo do poder público, segue-se o estabelecido no artigo 
97º da Constituição Federal de 1988 ao informar que será necessário a maioria 
absoluta do plenário para conseguir a declaração ora mencionada, nomeadamente: 
“Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros 
do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de 
lei ou ato normativo do poder público”. 
Será justamente através do controle de constitucionalidade difuso que o juiz 
irá verificar se o caso que se apresenta encontra-se devidamente compatível com o 
ordenamento constitucional brasileiro e, em caso de ser emitida uma declaração de 
constitucionalidade, os atos e normas deverão deixar de ser utilizados. A referida 
ação poderá ocorrer através da realização de ações constitucionais e, ainda por 
meio de ações ordinárias. 
Como forma de exemplificar os atos de controle de constitucionalidade no 
âmbito difuso, indica-se o caso da suspensão da Lei n. 183/08 do Município de São 
Gonçalo, bem como um contrato administrativo que foi elaborado entre o referido 
município ora mencionado e uma empresa privada. 
É de extrema importância constatar que a finalidade do processo de controle 
difuso não é de extrair a norma que possui algum vício do complexo jurídico 
nacional, mas tão somente de fomentar a possibilidade de que determinados direitos 
subjetivos, que possivelmente sejam prejudicados, venham a ser defendidos. Por 
isso, é importante observar que uma declaração de inconstitucionalidade quando é 
declarada tem efeito retroativo entre as partes que estão inseridas na lide. 
Dando continuidade ao estudo que se apresenta, observa-se, nesse 
momento, o controle de constitucionalidade concentrado, que reveste elementos 
 
 
 
 
eminentemente diferentes do controle difuso, visto que no caso do controle 
concentrado, o processo estará restrito a um único tribunal e, ainda, poderá ser 
observada em determinadas situações especificas. 
Arguição de descumprimento de preceito fundamental é um ato que está 
previsto no artigo 102, parágrafo 1º da CF/88 da seguinte maneira: 
 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: § 1º A arguição de descumprimento de 
preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo 
Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela 
Emenda Constitucional nº 3, de 17/03/93). 
 
O objetivo que se deseja, a partir da interposição de uma ADPF, é tão 
somente sanar as lacunas que podem existir a partir das restrições identificadas 
quanto à incerteza de ser possível propor ou não a ação direta de 
inconstitucionalidade. Por isso, seu efeito é eminentemente subsidiário, visto que a 
referida ação só pode ser interposta quando não existir nenhum outro meio cabível 
para sanar o dano que irá ser causado. 
Destaca-se, contudo, a possibilidade de uma ADPF ser convertida em ação 
direta de inconstitucionalidade, mas para que seja possível essa situação, torna-se 
essencial o preenchimento de determinados elementos normativos nomeadamente, 
pedido da ação, legitimação, objetivo e, por fim o fundamento. 
A ação declaratória de constitucionalidade está prevista do artigo 103 mais 
especificamente nos parágrafos 2º e 3º, respectivamente da seguinte maneira: 
 
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação 
declaratória de constitucionalidade 
§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar 
efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a 
adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão 
administrativo, para fazê-lo em trinta dias. 
§ 3º Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, 
em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-
Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado. 
 
Destaca-se que sua previsão normativa decorre do especificado na EC03/93 
e tem por objetivo especifico fortalecer os aspectos apresentados no controle de 
constitucionalidade concentrado. No que tange aos efeitos da ADECON, observa-se 
o mesmo que é identificado no caso da ADPF, ou seja, possui efeito erga omnes e, 
ainda, acaba por vincular todos os órgãos do poder executivo e, ainda, do poder 
judiciário, excluindo esse caso apenas o poder legislativo. 
A ação direta de inconstitucionalidade por omissão implicitamente prevista 
na Constituição Federal de 1988 no artigo 103 § 2º tem por objetivo analisar 
situações em que o poder público foi omisso em determinadas circunstâncias. 
Portanto, o processo que se desenrola no âmbito da referida ação possui caráter 
objetivo, visto que irá tão somente analisar processos que apresentem omissão de 
cunho inconstitucional. Portanto, a ação em análise se destina tão somente ao 
processo de suprir uma falha na norma ou ainda, na medida que seria necessária 
para tornar aquela norma eficaz. 
Nesse sentido, observa-se o especificado por Tavares (2002 p. 338): 
 
No caso da ação direta de inconstitucionalidade para combater a omissão 
há expressa referência constitucional a ‘omissão de medida’, sem qualquer 
restrição de qual medida (não se fala, por exemplo, em ‘omissão de medida 
 
 
 
 
normativa’), o que leva à conclusão de abertura do remédio para situações 
de omissão não normativa (TAVARES, 2002, p. 338). 
 
Ação direta de inconstitucionalidade interventiva tem por objetivo estabelecer 
um processo de controle de constitucionalidade acerca de medidas provenientes de 
atos do Estado e, ainda do Distrito Federal, em que fique evidenciado violação dos 
direitos sensíveis que estão previstos na CF/88. Nesse sentido Barreto (2013 p. 167) 
expõe que: 
 
A ADI interventiva é cabível quando a lei ou ato normativo estadual ou 
distrital é contrário aos princípios sensíveis da Constituição Federal, assim 
chamados em razão de que podem acarretar a sanção política mais severa. 
(BARRETO, 2013, p. 167). 
 
E, nesse sentido, como direitos sensíveis, observa-se o especificado no 
artigo 34, VII da Constituição Federal de 1988, nomeadamente: 
 
VII - assegurar a observânciados seguintes princípios constitucionais: 
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; 
b) direitos da pessoa humana; 
c) autonomia municipal; 
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e 
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, 
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e 
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de 
saúde. (BRASIL, 1988) 
 
E, por fim, os efeitos da referida ação no sistema jurídica brasileiro pode 
revestir um caráter jurídico e, ainda, o caráter político. No primeiro caso ocorre o 
processo de nulidade do ato e, portanto, deverá ser retirado da ordem jurídica, com 
efeito ex tunc. E, no segundo caso, o governo federal poderá realizar uma 
intervenção direta no Estado federado que tiver violado o preceito constitucional 
sensível. 
 
 
3.3 Controle de constitucionalidade repressivo e preventivo 
 
 O Controle de Constitucionalidade ocorre de maneira preventiva ou de 
maneira repressiva. A primeira possibilidade pode ocorrer quando do momento de 
estruturação de uma norma jurídica ou ainda, de um ato normativo. Dessa maneira, 
o processo a ser observado no âmbito do controle de constitucionalidade preventivo 
é tão somente a possibilidade de se impedir que o erro constitucional seja aplicado 
para todos os demais elementos normativos de cunho constitucional. 
A competência para propor ação de controle de constitucionalidade 
preventiva, no âmbito do poder legislativo é tão somente a Comissão de Constituição 
e Justiça que vem a ser o órgão responsável pela apreciação e, ainda, averiguação 
de adequação de norma que se deseja incluir na Constituição Federal. E, no que se 
refere a competência para propor a ação em análise no âmbito do poder executivo é 
tão somente o chefe do poder executivo que, através de medidas impeditivas como 
é o caso do veto, poderá inviabilizar a publicação da norma. Destaca-se que o chefe 
do poder executivo deverá apresentar o referido veto a partir de fundamentos 
jurídicos consistentes. E, por fim, no que tange ao controle de constitucionalidade 
preventivo no âmbito do poder judiciário caberá não apenas aos magistrados, mas 
 
 
 
 
também aos parlamentares apresentar, se for o caso, de maneira devidamente 
justificada o que se deseja inviabilizar. 
Nesse sentido, observa-se o especificado por Lenza (2018, p. 166) no que 
tange o controle de constitucionalidade preventivo: 
 
O controle prévio é o controle realizado durante o processo legislativo de 
formação do ato normativo. Logo no momento da apresentação de um 
projeto de lei, o iniciador, a “pessoa” que for deflagar o processo da 
apresentação de tese, já deve verificar a regularidade material do aludido 
projeto de lei. O controle prévio também é realizado pelo Legislativo, pelo 
Executivo e pelo Judiciário (LENZA, 2018, p. 166). 
 
Para figura a importância do processo realizado no âmbito do controle de 
constitucionalidade preventivo, observa-se a atuação da Comissão de Constituição e 
Justiça quando aprova uma correção ocorrida no processo de elaboração numa lei 
previdenciária no ano de 2004. 
 
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou na semana 
passada, em caráter conclusivo, o Projeto de Lei 7052/02, do Senado, que 
altera a Lei 10256/01, que trata da seguridade social. O relator, deputado 
José Eduardo Cardozo (PT-SP), explica que o objetivo do projeto é excluir 
do artigo 5º da lei a referência à revogação de um parágrafo, 
equivocadamente mantido no texto da Lei 10.256/01, por erro na elaboração 
de sua redação final. A Lei 10.256/01, entre outras medidas, prevê nova 
contribuição social destinada à Seguridade Social a ser paga pelas 
agroindústrias. O artigo 5º dessa lei determina a data em que começaria ser 
paga essa nova contribuição social. Equivocadamente, no entanto, na 
redação desse dispositivo há menção à revogação do parágrafo 4º do artigo 
25 da Lei 8.212/91, que nada tem a ver com essa lei. A falha teve origem no 
processo de tramitação do projeto de lei que deu origem à Lei 10256/01. A 
proposta, aprovada pela Câmara, revogava o parágrafo da Lei 8212/91. 
Remetida à deliberação do Senado Federal, essa revogação foi excluída do 
texto do projeto de lei, mas permaneceu, contudo, a menção ao dispositivo 
na cláusula de vigência no artigo 5º. O projeto aprovado pela CCJ altera a 
menção a esse artigo (CAMARA LEG, 2004, sp). 
 
 De maneira bastante distinta, observa-se o especificado no âmbito da 
compreensão do que seria um controle de constitucionalidade na modalidade 
repressiva, ao estabelecer que seria a possibilidade de apreciar a validade da norma 
de acordo com os preceitos constitucionais após a promulgação da lei e ainda, do 
ato normativo. Dessa maneira, o objetivo central do controle de constitucionalidade 
repressivo é tão somente apresentar a partir de fundamentos jurídicos específicos a 
exclusão do dispositivo normal que se encontra em desacordo com o sistema 
constitucional. 
Nesse sentido, Masson (2015) aponta que: 
 
[...] depois que o processo legislativo já está finalizado, temos o controle 
repressivo, que alcança as espécies normativas já prontas e acabadas, que 
estejam produzindo (ou ao menos aptas a produzir) seus efeitos. Também 
adotado no direito brasileiro, seu intuito é o de higienizar o ordenamento, 
cuja harmonia é afetada pelo ato inconstitucional. (MASSON, 2015. p. 
1063). 
 
E, ainda no que se refere ao processo de reconhecimento da Constituição 
Federal como norma suprema que deve ser protegida de qualquer norma que, 
http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/49806
 
 
 
 
porventura, esteja em plena vigência no âmbito do sistema jurídico brasileiro 
Novelino (2013) observa que: 
 
Tendo em conta que todos os poderes estão igualmente subordinados à 
Constituição, não se pode impedir o Chefe do Executivo (municipal, 
estadual ou federal) de negar cumprimento a uma lei ou ato normativo que 
entenda ser inconstitucional, independentemente de ter sido elaborado pela 
União, pelo Estado-membro ou pelo Município. Neste caso, deve justificar o 
motivo da recusa por escrito e dar publicidade ao ato. Por uma questão de 
coerência, o Presidente da República ou o Governador de Estado deve 
ajuizar, simultaneamente à negativa de cumprimento, uma ADI impugnando 
o ato combatido. (NOVELINO, 2013, p. 309). 
 
Via de regra, o processo de controle de constitucionalidade posteriormente à 
promulgação da lei é feito pelo poder judiciário a partir de demandas específicas 
apresentadas por quem de direito e o objetivo é tão somente que determinada lei ou 
ato normativo deixe de ter eficácia no ordenamento jurídico. Entretanto, ao se referir 
aos elementos relacionados com Medida Provisória, o controle de 
constitucionalidade na modalidade repressiva pode ser exercido pelo Poder 
Legislativo e, portanto, torna-se claro que será de responsabilidade da comissão 
mista de deputados e senadores a análise do texto das medidas provisórias. Sendo 
assim, compreende-se a necessidade de se emitir um parecer acerca da questão 
proposta por uma das casas no plenário do Congresso Nacional. 
Para fundamentar o estabelecido acima, observa-se o especificado na 
seguinte decisão: 
 
O controle de constitucionalidade da lei ou dos atos normativos é da 
competência exclusiva do Poder Judiciário. Os Poderes Executivo e 
Legislativo, por sua chefia – e isso mesmo tem sido questionado com o 
alargamento da legitimação ativa na ação direta de inconstitucionalidade -, 
podem tão só determinar aos seus órgãos subordinados que deixem de 
aplicar administrativamente as leis ou atos com força de lei que considerem 
inconstitucionais” (ADI 221-MC/DF, Rel. Min. Moreira Alves; DJ de 
22.10.1993, p. 22251, Ement. V. 01722-01, p. 28). 
 
 
3.4 Controle de Constitucionalidade e os Tratados Internacionais 
 
 Em virtude de o Brasil estar inserido no contexto internacional, pode 
apresentar a necessidadepatente de firmar determinados acordos que são 
elaborados por um conjunto de países e que, quando assinados pelo Brasil, existe o 
compromisso de ser realizar a tentativa de apreciação da norma internacional pelo 
sistema jurídico interno do país. 
Como o Brasil reveste um caráter eminentemente dualista com primazia de 
direito interno, passa a considerar o direito interno e o direito internacional como 
duas ordens jurídicas distintas. Por isso, torna-se necessário se utilizar de uma 
ferramenta procedimental para análise do seu processo de incorporação da mesma 
maneira que ocorre corriqueiramente internamente no ordenamento jurídico 
brasileiro. 
 Dessa maneira observa-se que, mesmo tendo um caráter eminentemente 
internacional e, que o funcionamento dos laços diplomáticos venha a depender da 
incorporação desse acordo internacional, não se pode, de maneira alguma, 
incorporar regras internacionais sem antes passar pelo controle efetivo dos órgãos 
 
 
 
 
competentes. Destaca-se ainda a possibilidade de se utilizar um tratado 
internacional, que está devidamente prevista no § 2º do artigo 5º da Constituição ao 
observar que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. (BRASIL, 1998) 
 O referido dispositivo abre a possibilidade de que acordos internacionais 
passem a ter validade no ordenamento jurídico brasileiro e, para que isso ocorra, 
faz-se essencial o cumprimento das exigências normativas internas do ordenamento 
jurídico brasileiro. Tal questão encontra justificativa bastante plausível no 
ordenamento jurídico brasileiro que é a proteção e segurança do sistema nacional. 
Segundo Dallari (2005): “o conceito de soberania é uma das bases da ideia de 
Estado Moderno, tendo sido de excepcional importância para que este se 
definisse, exercendo grande influência prática nos últimos séculos, sendo ainda 
uma característica fundamental do Estado”. (DALLARI, 2005, p. 70). 
 O processo de avaliação da possibilidade de incorporação de um Tratado 
Internacional se dá logo após a assinatura do documento que, posteriormente, o 
Ministro das Relações Exteriores apresenta a demanda ao Presidente da República 
e, que, em seguida caso esteja de acordo com o especificado no documento 
internacional encaminha uma solicitação para o Congresso Nacional. Destaca-se 
ainda que, o que deve ser apresentado nas duas casas do Congresso Nacional não 
seria o Tratado Internacional em si, mas especialmente, um projeto de lei que irá 
abarcar as diretrizes esculpidas pelo documento internacional. 
Quando o documento está nas mãos do Congresso Nacional a análise 
deverá ser realizada tanto na Câmara dos Deputados como também no Senado 
Federal. Em caso de aprovação, o ato respectivo que dará publicidade de que o 
Brasil passa a aceitar as determinações apresentadas pelo documento internacional 
é o Decreto Legislativo. Em seguida, o documento é encaminhado para que o Chefe 
do Executivo e, nesse caso, o presidente da república vem a se manifestar 
formalmente no processo e, caso concorde com o que está especificado no 
documento, poderá determinar a promulgação do documento através de um decreto 
de execução. Por fim, é de extrema importância especificar que o tratado 
internacional que não verse sobre Direitos Humanos, ao ser ratificado pelo 
ordenamento jurídico brasileiro, ingressa com caráter de norma infraconstitucional. 
Nesse sentido, vale a pena analisar o especificado no julgamento da ADIn 
1480-DF, que preceitua o seguinte: 
 
É na Constituição da República - e não na controvérsia doutrinária que 
antagoniza monistas e dualistas - que se deve buscar a solução normativa 
para a questão da incorporação dos atos internacionais ao sistema de 
direito positivo interno brasileiro. O exame da vigente Constituição Federal 
permite constatar que a execução dos tratados internacionais e a sua 
incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo 
Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação de 
duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacional, que resolve, 
definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou 
atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da República, que, além 
de poder celebrar esses atos de direito internacional (CF, art. 84, VIII), 
também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é - da competência para 
promulgá-los mediante decreto. O iter procedimental de incorporação dos 
tratados internacionais - superadas as fases prévias da celebração da 
convenção internacional, de sua aprovação congressional e da ratificação 
pelo Chefe de Estado - conclui-se com a expedição, pelo Presidente da 
República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe 
 
 
 
 
são inerentes: (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação 
oficial de seu texto; e (c) a executoriedade do ato internacional, que passa, 
então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo 
interno. (BRASIL, 2001). 
 
No que se refere aos Tratados Internacionais que versam sobre Direitos 
Humanos haverá uma posição diferenciada no processo de incorporação no âmbito 
do sistema jurídico brasileiro, visto que o Art. 5º § 3º da CF evidencia que: 
 
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 3º Os tratados e convenções 
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa 
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos 
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 
(BRASIL, 1998). 
 
 Nesse sentido, observa-se que, nos casos de os Tratados Internacionais 
versarem sobre Direitos Humanos, o sistema nacional passa a recepcionar a norma 
com o caráter de Emenda Constitucional. 
 E, ainda no quesito referente ao processo de controle de constitucionalidade 
dos acordos e convenções internacionais, observa-se o especificado no quesito da 
dupla compatibilidade vertical material, no qual se observa que a lei ordinária, para 
que seja válida, deve ser compatível materialmente tanto com a Constituição 
Brasileira, como também com os tratados que versam sobre direitos humanos. E, 
caso não seja possível dimensionar essa compatibilidade, ou seja, caso a norma 
internacional que deseja ser incorporada conflite com o preceituado tanto na 
constituição como também nos tratados internacionais, não será possível 
estabelecer um processo de incorporação direta. Ao se analisar de maneira direta, 
essa maneira vertical de controle estabelece um ritmo duplo para que um acordo 
internacional seja incorporado no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro. 
 O que resta analisar nesse ponto é tão somente a importância dos Tratados 
Internacionais no âmbito do sistema jurídico-político brasileiro, visto que, 
externamente o país apresenta o interesse em fazer parte de um cenário de 
conjunto de solidariedade e cooperação técnica e, internamente, apresenta tão 
somente a responsabilidade jurídica no processo de estabelecimento das demandas 
jurídicas internacionais. O que seria oportuno, na verdade, é a busca incessante do 
equilíbrio entre o interesse jurídico interno (segurança jurídica) e, ainda o interesse 
de participar de uma dinâmica internacional que venha a favorecer o 
desenvolvimento do estado de bem-estar social. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 No presente estudo foi possível perceber que o sistema constitucional 
brasileiro não se fecha em si mesmo e, portanto, possui ampla diversidade de 
elementos normativos que traduz a importância do sistema normativo constitucional 
para o funcionamento adequado do estado de bem estar social. 
Observou-se ainda que, todo o processode criação e sistematização 
Constitucional atravessou momentos de incerteza, mas que a partir da edificação da 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 o panorama da sociedade, 
em especial do cidadão modificou, visto que por ser uma Constituição analítica, 
 
 
 
 
existiu o cuidado de cuidar de maneira plena dos direitos e garantias fundamentais 
do indivíduo. 
Foi possível constatar ainda que a participação da população quando da 
construção do sistema normativo se tornou ponto de inflexão para que se 
conseguisse editar um texto tão abrangente e perspicaz. Destaca-se ainda que, o 
referido cuidado no ato do processo de elaboração do texto Constitucional, pode ser 
observado também nos instrumentos técnicos voltados para o processo de 
adequação da norma constitucional, ou seja, os instrumentos que servem para 
realizar o devido processo de controle de constitucionalidade. 
Não se pode deixar de lado ainda a capacidade que o país precisa cada vez 
mais desenvolver no que se refere ao processo de internacionalização das normas, 
visto que não se pode esquecer que o Brasil deve ser sempre parte de um corpo 
político internacional. 
 
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