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A MOTRICIDADE: DO ATO MOTOR AO ATO MENTAL. Mas o grande eixo é a questão da motricidade; os outros surgem porque Wallon não consegue dissociá-lo do conjunto do funcionamento da pessoa. A psicogênese da motricidade (não se estranhe a expressão, porque, em Wallon, "motor" é sempre sinônimo de "psicomotor") se confunde com a psicogênese da pessoa, e a patologia do movimento com a patologia do funcionamento da personalidade. Por esse motivo foi tão aproveitado por Le Boulch, cuja psicocinética e propostas de educação psicomotora se caracterizam pela abrangência da sua compreensão do significado psicológico do movimento. No antagonismo entre motor e mental, ao longo do processo de fortalecimento deste último, por ocasião da aquisição crescente do domínio dos signos culturais, a motricidade em sua dimensão cinética tende a se reduzir, a se virtualizar em ato mental. A sensória-motricidade incontinente do segundo ano de vida tende -- lentamente -- a diminuir, dando lugar a períodos cada vez maiores de imobilidade possível; este enfraquecimento da função cinética e proporcional ao fortalecimento do processo ideativo. Mas a quietação assim obtida é um produto difícil, dependente da maturação dos centros corticais de inibição assim como das estruturas responsáveis pelo controle automático do tônus (em particular, o cerebelo). Ela corresponde à redução da atividade muscular à sua função tônico-postural. • AS FASES DA INTELIGÊNCIA: Nesta concepção do desenvolvimento da pessoa, a inteligência ocupa o lugar de meio, de instrumento colocado à disposição da ampliação daquela. Construindo-se mutuamente, sujeito e objeto, afetividade e inteligência, alternam-se na preponderância do consumo da energia psicogenética. Na primeira etapa, correspondente ao primeiro ano de vida, dominam as relações emocionais com o ambiente e o acabamento da embriogênese: trata-se nitidamente de uma fase de construção do sujeito, onde o trabalho cognitivo está latente e ainda indiferenciado da atividade afetiva. Ele consiste essencialmente na preparação das condições sensórias motoras (olhar, pegar, andar) que permitirão, ao longo do segundo ano de vida, a exploração intensa e sistemática do ambiente. Este sim será o momento em que a inteligência poderá dedicar-se a construção da realidade; tendo obtido certa diferenciação, tomar-se-á aquilo que Wallon chamou de inteligência prática ou das situações, e cuja extrema visibilidade a tornou tão bem conhecida com o nome de sensório-motora. Com a função simbólica e a linguagem, inaugurar-se-á o pensamento discursivo, que mantém com aquela uma relação de construção recíproca. Suas primeiras manifestações, captáveis em diálogos sustentados, Wallon as obteve a partir de cinco anos, revestidas de características que sintetizou com a denominação de _sincretismo. O pensamento discursivo é, pois, sincrético em sua origem; sua forma mais elementar, ao contrário do que julgaram os associacionistas, é uma molécula, o par. Este parece ser mais um exemplo de como a análise genética e a análise estrutural podem levar a resultados diversos. Seu trabalho será uma nova superação do sincretismo agora no plano do pensamento, do discurso, do objeto. A função da inteligência, para o adulto como para a criança, Wallon a entende como residindo na explicação da realidade. Explicar supõe definir: são estas, pois, as duas grandes dimensões em torno das quais se organizam os diálogos que compõem sua investigação. Seu entendimento sobre definição é quase clássico: a atribuição das qualidades específicas de um objeto, resultando em integrá-lo a uma classe maior, e diferenciá-lo das vizinhas. Diferenciação e integração constituem os processos básicos envolvidos. Este recorte nítido permitirá subtrair os objetos à confusão sincrética, e, por conseguinte estabelecer entre eles uma rede de relações nítidas. É esta trama relacional que, para Wallon, constitui a explicação das coisas: aqui ele se afasta da noção clássica, onde explicar é estabelecer as condições de necessidade de um fato. Para Wallon, explicar é determinar condições de existência, entendimento que abarca os mais variados tipos de relações: espaciais, temporais, modais, dinâmicas, além das causais _strictu _sensu. Ele é consequência da opção epistemológica walloniana: para a sua concepção dialética da natureza, tudo esta ligado a tudo, além de estar em permanente devir.
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