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ADI - DECISÃO STF

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I – DO OBJETO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.357:
Inicialmente, aponta-se que o objeto da ADI 6.357 que fora ajuizada pelo Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, representando pelo então Advogado-Geral da União, André Luiz de Almeida Mendonça, tem como objeto o pedido para que o Supremo Tribunal Federal confira interpretação conforme a Constituição Federal (1988), especificamente em relação aos artigos 14, 16, 17 e 24 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF – LC 101/2000), e ao art. 114, caput, in fine, e §14, da Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano de 2020 (Lei n° 13.898/2019).
O ajuizamento do referido pedido liminar tem por escopo o afastamento de exigências previstas nos referidos dispositivos das citadas Leis Orçamentárias, para que seja possível a criação e a expansão de programas de prevenção ao combate da COVID-19, bem como visa a proteção da população que certamente apresentará estado de vulnerabilidade em meio à pandemia, fazendo com que seja necessário a tomada de providências do Poder Executivo em todos os âmbitos da federação, o que acarreta em alterações orçamentárias já estabelecidas em Lei. 
II – DOS FUNDAMENTOS UTILIZADOS NA INICIAL DA AGU:
Certo é, que os dispositivos visados na inicial da AGU para serem alvo de interpretação conforme à Constituição, quando colocados em um cenário em que os Poderes Executivos Municipais, Estaduais, Distrital e da União necessitam adotar medidas de urgência no intuito de combater problemas oriundos da pandemia causada pela COVID-19, engessam – e muito -, a tomada de decisões dos governos a fim de evitar ao máximo, os impactos causados pela citada pandemia.
Pontua-se, que os dispositivos previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal orientam que para que seja possível a realização de aumento de gastos tributários (indiretos) e despesas obrigatórias de caráter continuado, faz-se necessário que o governo apresente as estimativas de impacto orçamentário, tudo isso em compatibilidade com a Lei de Diretrizes Orçamentárias. 
Ademais, é exigido legalmente, a demonstração da origem dos recursos utilizados pelo governo, bem como é imprescindível que este apresente uma forma de compensação dos efeitos financeiros causados nos exercícios posteriores. Note-se, que tais previsões legais foram estabelecidas em respeito à máxima do Direito Tributário, qual seja, o princípio da legalidade, bem como visam controlar o gasto público, sob pena de incidência de sanções em razão de irresponsabilidade fiscal por parte dos governantes. 
Contudo, por óbvio, tais previsões vão ao encontro de conceitos tributários em um cenário prático de normalidade e, consequentemente, não são razoáveis quando aplicados à um mundo real que enfrenta uma das maiores pandemias mundiais da história global. Dessa maneira, a AGU foi incisiva ao mirar garantias trazidas pela Carta Magna que, em linhas gerais, se sobrepõem às regras previstas nas Leis Orçamentárias em vigor, conforme entendeu a AGU. 
Assim, bens jurídicos de extremo valor foram trazidos à pauta, como a saúde e os direitos trabalhistas. Sobre o tema, pontuou a Advocacia-Geral da União que em um contexto de pandemia mundial causada por um vírus que pode apresentar características de letalidade, os citados bens jurídicos gozam relevância exacerbada em face, como foi mencionado, de mecanismos legais de aplicação de recursos públicos. 
Insta salientar, que em sua inicial, a AGU não foi omissa em apresentar a relevância dos mecanismos estabelecidos nos dispositivos legais que são objetos da ADI, mas sim, procurou demonstrar que suas aplicabilidades não se enquadram em um cenário de tomada de decisões urgentes e que necessitam de alto gasto de recursos públicos. 
Desse modo, após mencionar a necessidade de interpretação dos supramencionados dispositivos de acordo com a Constituição, foram apresentadas políticas públicas objetivando ampliar a proteção da parte da população colocada em estado vulnerável em razão da pandemia mundial existente. Assim, foram apresentadas políticas públicas de auxílio emergencial aos trabalhadores informais, pagamento de percentual do valor do seguro-desemprego para os trabalhadores formais, distribuição de alimentos para idosos, além de outros programas de redistribuição de recursos. 
Pelo exposto, a AGU entendeu que o deferimento liminar do pedido de interpretação conforme à Carta Maior dos já mencionados dispositivos das Leis Orçamentárias, atenderiam não só a proteção à saúde pública, bem como a economia do país, já que com os auxílios conferidos aos trabalhadores que são prejudicados financeiramente em razão da adoção de isolamentos sociais, fariam com que o cenário econômico de normalidade fosse mantido, em virtude da manutenção de taxas básicas como oferta e demanda, evitando, assim, situações de inflação econômica. Lembra-se, por fim, que as medidas de relativização dos dispositivos orçamentários previstos em Lei, seriam aplicados somente aos entes políticos que houvessem decretado estado de calamidade pública, em respeito ao princípio da razoabilidade. 
III – DOS FUNDAMENTOS UTILIZADOS PELO MIN. RELATOR NA DECISÃO LIMINAR:
Na fundamentação de sua decisão, o Min. Alexandre de Moraes, relator da ADI, em respeito ao artigo 93, IX, CF, seguiu o entendimento da AGU apresentado no bojo da inicial. Assim, o relator pontuou a necessidade de aplicação das Leis Orçamentárias, todavia, entendeu que as mesmas devem ser relativizadas em um cenário de urgência em razão de uma pandemia mundial que precisa ser combatida por todos os meios necessários, salientando a aplicação da decisão a todos os entes federativos que houverem decretado estado de calamidade pública. Frisou o relator, a temporariedade de tal relativização, que somente pôde ser feita em razão dos prejuízos causados pela COVID-19, o que, in casu, não faz com que as Leis Orçamentárias sejam colocadas em segundo plano, mas sim, por uma ponderação de interesses, a proteção à bens jurídicos e à economia do país sejam postas em primeiro lugar. Assim, concedeu a liminar, já que foram demonstrados pela AGU o fumus boni iuris e do periculum in mora, pelos fatos apresentados na inicial ajuizada pela Advocacia-Geral da União.

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