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Introdução à Regulação Econômica

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DEFINIÇÃO
O funcionamento dos mercados de concorrência perfeita e monopólio. As formas de regulação e
experiências de agências reguladoras no Brasil.
PROPÓSITO
Compreender a relação entre estrutura de mercado e as formas de regulação do Estado.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as estruturas de mercado responsáveis pela necessidade de algum mecanismo
regulatório
MÓDULO 2
Descrever aspectos teóricos e a experiência brasileira de regulação econômica
 
Fonte: freepik
INTRODUÇÃO
Você já deve ter visto várias manchetes de jornal como essas duas – que são hipotéticas, mas são
bastante realistas! Vamos estudar neste tema por que encontramos questões assim quase todos
os dias no noticiário econômico.
A regulação é uma política pública comum, e é bastante usada no domínio econômico. Ao
identificar uma situação com preços muito altos, qualidade ruim ou produção aquém do
necessário, o governo pode intervir para tentar melhorar a situação.
A teoria econômica desenvolveu diversos modelos para estudar quando e como essa intervenção
deve ser feita.
No primeiro módulo, estudaremos alguns arranjos de mercado que geram resultados econômicos
insatisfatórios.
No segundo, veremos como as ferramentas regulatórias lidam com esse problema.
MÓDULO 1
 Identificar as estruturas de mercado responsáveis pela necessidade de algum
mecanismo regulatório
 
Fonte: @rawpixel.com / Freepik
ESTRUTURAS DE MERCADO
Entre os produtos que podemos comprar, existem aqueles que são vendidos por inúmeras
empresas e outros que são oferecidos por poucas empresas ou somente por uma. A quantidade
de empresas é um dos fatores mais relevantes para entender o funcionamento de um mercado.
Outro fator diz respeito à capacidade que as empresas têm de diferenciar os seus produtos.
Podemos observar no mercado uma diferença entre bens:
BEM HETEROGÊNEO
Aparelhos de celular produzidos por empresas distintas podem ser extremamente diferentes.
BEM HOMOGÊNEO
O sal vendido por diferentes empresas é muito semelhante, e quase não é possível diferenciá-los.
Por último, a existência de barreiras à entrada ou à saída de empresas também é um fator que
determina a estrutura de um mercado.
 ATENÇÃO
Barreiras são constituídas por um conjunto de aspectos que dificultam o início ou o fim da
atuação de uma empresa num determinado mercado. Essas barreiras podem ser financeiras
(investimento inicial elevado), técnicas (tecnologia difícil de dominar) ou legais (burocracia ou
patentes). É difícil ou até impossível entrar no mercado na presença dessas barreiras.
No que diz respeito a esses fatores determinantes das estruturas de mercado, existem dois casos
extremos que serão observados na sequência.
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Fonte: @onlyyouqj / Freepik
MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA
]
De forma simplificada, dizemos que um mercado está atuando em concorrência perfeita se:
Existem várias empresas produzindo
Os bens são homogêneos
Não há nenhuma barreira à entrada e à saída de empresa
Esse é, por exemplo, o caso de uma feira livre em que as empresas são representadas por
diversos produtores de cenoura.
Nessa feira, não é possível diferenciar as cenouras vendidas, pois o produto é homogêneo –
portanto, pouco importa quem produziu cada cenoura.
Qualquer um pode levar suas cenouras até essa feira e vendê-las, pois não existe nenhuma
barreira que dificulte a entrada ou a saída de um feirante.
 
Fonte: @user15285612 / Freepik
A principal característica desse tipo de mercado é que nenhuma empresa consegue ter influência
sobre o preço de mercado, ou seja, as empresas são tomadoras de preços, pois, quando chegam
ao mercado, os vendedores têm de seguir os preços que estão vigorando.
Um feirante não conseguiria vender suas cenouras por um preço mais alto, pois, na barraca ao
lado, as mesmas cenouras estariam sendo vendidas a preços de mercado. Esse feirante também
não venderia suas cenouras mais barato, visto que seria possível vender a mesma quantidade de
cenouras a preços de mercado, obtendo assim mais receita. Dessa forma, a única forma de
aumentar a receita de uma empresa está associada à quantidade do bem que ela produzirá.
Nessa estrutura de mercado, dizemos que o bem será vendido a preço de mercado. Isso significa
que a empresa vai preocupar-se apenas com a quantidade de produção, que é a quantidade
eficiente tanto para a empresa quanto para os consumidores, ocorrendo quando o preço é igual ao
chamado “ custo marginal”. O custo marginal é uma variação nos custos, diante de uma
produção extra em uma unidade. Se a produção de uma cenoura a mais custa ao produtor R$
2,00, esse é o custo marginal. No mercado competitivo, esse também será o preço: ninguém vai
cobrar menos (porque teria prejuízo) nem mais (porque um concorrente poderia cobrar um pouco
menos e roubar o mercado).
 ATENÇÃO
O custo marginal inclui todos os custos relevantes - por exemplo, o tempo e o esforço do
vendedor. Quando dizemos que o preço é igual ao custo de mercado, significa que a remuneração
não é extraordinária, mas está dentro do que se pode obter no mercado. Formalmente, incluímos
na nossa medida de custo o chamado custo de oportunidade.
CUSTO DE OPORTUNIDADE
É o que o vendedor obteria caso mudasse para outra atividade econômica.
 
Fonte: stevepbm/ Pixabay
MONOPÓLIO
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Uma estrutura de mercado monopolista apresenta três características principais:
Uma única empresa produtora do bem ou serviço
Não existem outros produtos semelhantes
Existem barreiras à entrada de empresas
Alguns fatores dificultam ou impedem a entrada de competidores:
MONOPÓLIO NATURAL
Dificulta que uma nova empresa ofereça um produto com preço equivalente ao da empresa já
estabelecida porque exige um grande investimento inicial. Por exemplo: distribuição de energia
elétrica.
PROTEÇÃO DE PATENTES
Confere à empresa a exclusividade dos direitos de propriedade e uso de determinado produto. Por
exemplo, medicamentos tipicamente são vendidos por apenas uma empresa por algum período de
tempo.
TRADIÇÃO NO MERCADO
Ocorre nos casos que certa empresa ou região domina implicitamente determinado mercado, à
exemplo da Suíça na produção de relógios.
No caso de um monopólio, a empresa escolhe a quantidade a ser produzida com um preço que
maximiza o seu lucro – ao contrário de uma firma no mercado competitivo, a firma monopolista
não toma os preços como dados. Quanto mais os consumidores estiverem dispostos a pagar,
maior será o preço que o monopólio poderá cobrar.
A CAPACIDADE QUE UMA EMPRESA TEM DE MANTER
O PREÇO ACIMA DO QUE TERÍAMOS EM
CONCORRÊNCIA PERFEITA CHAMA-SE PODER DE
MERCADO.
Um exemplo é a patente. Veja um pouco mais:
EXEMPLO – A DURAÇÃO ÓTIMA DE UMA PATENTE
A patente oferece aos inventores o direito exclusivo de beneficiar-se de suas invenções por um
período limitado de tempo. A patente oferece, pois, uma espécie de monopólio limitado. Tal
proteção à patente visa encorajar a inovação. Na ausência de um sistema de patentes, é provável
que tanto as pessoas quanto as empresas não se dispusessem a investir muito em pesquisa e
desenvolvimento, uma vez que as descobertas que fizessem seriam copiadas pelos concorrentes.
Nos Estados Unidos, a patente é válida por dezessete anos. Durante esse período, os
proprietários da patente têm o monopólio da invenção; quando expirado o prazo de validade,
qualquer um estará livre para utilizar a tecnologia descrita na patente. Quanto maior a duração da
patente, mais ganhos que os inventores podem obter e, portanto, mais incentivos terão para
gastar em pesquisa e desenvolvimento. Entretanto, quanto maior a duração do monopólio, maior
será a geração de ônus. A vida longa para a patente tem como benefício encorajamento da
inovação e com um custo incentivo ao monopólio. A vida “ótima” de uma patente é o período que
equilibra esses dois efeitos conflitantes.
(VARIAN, 2015 p. 640-641)
 
Fonte: freepik
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UNIÃO INDEVIDA DAS EMPRESAS
Outraação que pode prejudicar a concorrência de um mercado ocorre quando empresas se unem
de maneira indevida.
A colusão ocorre quando as empresas de um mesmo setor – com bens homogêneos – se unem,
com o intuito de restringir a produção de cada empresa para aumentar os preços e o lucro.
A colusão entre empresas, mais conhecida como cartel, corresponde a uma prática restritiva de
concorrência. Ela se dá por meio de acordo entre empresas que possuem atividades concorrentes
e têm como objetivo obter maior controle daquele mercado. Em geral, isso se relaciona com o
preço de venda ou com o aumento dos preços, com a restrição de vendas e produção e com a
partilha de consumidores e mercado.
 
Fonte: @macrovector / Freepik
Por meio dessa prática, coordenam-se as decisões para restringir ou falsear a concorrência,
gerando ganhos superiores ao que se obtém em livre-concorrência. Ganhos que, posteriormente,
podem ser repartidos, direta ou indiretamente, entre as empresas envolvidas.
A existência de colusão acaba interferindo na autonomia na determinação de preços e nas
condições de venda. Portanto, por meio do cartel, as empresas visam favorecer-se, criando
condições mais vantajosas para elas do que teriam caso atuassem concorrencialmente,
prejudicando, assim, terceiros – especialmente os consumidores.
Assista sobre essa prática ilegal no vídeo abaixo:
Cartel: Os diamantes são eternos
MONOPÓLIO NATURAL: QUANDO O
MERCADO SÓ COMPORTA UM PRODUTOR
Vamos olhar com mais atenção para o caso do monopólio natural, particularmente importante para
regulação econômica. Caso você pesquise qual a distribuidora de eletricidade da sua cidade, é
bem provável que você descubra que há apenas uma.
 
Fonte: Freepik
Para que uma empresa distribua eletricidade é necessário que seja feito um grande investimento
em fios de transmissão, postes, caixas de luz, subestações de energia, entre tantas outras
infraestruturas e tecnologias que possibilitem a utilização de energia elétrica. Cada infraestrutura
representa um custo fixo, ou seja, independentemente da quantidade de eletricidade que uma
residência consome, o custo envolvido nessa instalação é o mesmo.
Os custos fixos de uma empresa de distribuição de energia elétrica são extremamente altos. Por
outro lado, uma vez que toda a infraestrutura foi construída, o custo de distribuir energia é baixo.
Em outras palavras, os custos marginais, que dependem da quantidade de energia fornecida por
mês, são baixos.
Agora, imagine se o mercado de distribuição de energia elétrica fosse composto por diversas
empresas concorrentes. Cada empresa precisaria instalar seus próprios postes, fios de
transmissão e subestações de energia, tornando todo o fornecimento mais custoso. Dessa forma,
fica evidente que uma única empresa seria capaz de fornecer o serviço a um custo menor do que
qualquer concorrente, e no volume necessário para atender todo o mercado.
Existem tipos de mercado que impossibilitam ou dificultam que mais de uma empresa atue na
exploração ou prestação de serviço. Em geral, isso ocorre quando há altos custos fixos e baixos
custos marginais. Denominamos esse tipo de mercado como monopólio natural.
Para impedir que, em um monopólio natural, uma empresa pratique preços abusivos, é comum
que haja atuação ou controle total de operação por parte do governo.
 ATENÇÃO
O controle total pelo governo ocorre quando o Estado assume o papel de provedor daquele
bem, atuando como uma empresa (empresa estatal). Alternativamente, o estado pode criar uma
agência regulatória (órgão estatal) para auxiliar no controle desse tipo de monopólio através de
medidas regulatórias.
No caso da eletricidade, uma agência regulatória é criada para garantir que haverá uma
quantidade de energia suficiente para todos a um preço adequado. Além disso, a agência também
pode atuar controlando a entrada de distribuidoras no mercado, de forma a garantir que nenhuma
enfrente prejuízos, dado os altos custos fixos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUAL É A PRINCIPAL CARACTERÍSTICA DO MERCADO DE
CONCORRÊNCIA PERFEITA?
A) Os bens não são homogêneos
B) Nenhuma empresa consegue ter influência sobre o preço do mercado
C) Existem barreiras à entrada e à saída das empresas no mercado
D) Não há outros produtos
2. A COLUSÃO É UMA PRÁTICA EMPRESARIAL QUE BUSCA:
A) Gerar um monopólio por meio da fusão de empresas
B) Estimular a concorrência
C) Aumentar o lucro, por meio de um comportamento pouco competitivo de todos os participantes
D) Gerar patentes
GABARITO
1. Qual é a principal característica do Mercado de concorrência perfeita?
A alternativa "B " está correta.
 
Um mercado em concorrência perfeita é caracterizado por agentes econômicos (consumidores e
firmas) tomadores de preço. Isso significa que ninguém consegue influenciar o preço de mercado.
2. A colusão é uma prática empresarial que busca:
A alternativa "C " está correta.
 
A colusão entre empresas (cartel) corresponde a uma prática restritiva de concorrência. Ela se dá
por meio de acordo entre empresas que possuem atividades concorrentes e tem como objetivo
obter um maior controle daquele mercado. Dessa forma, é possível aumentar os preços e obter
maiores lucros.
MÓDULO 2
 Descrever aspectos teóricos e a experiência brasileira de regulação econômica
 
Fonte: Aymanejed / Pixabay
REGULAÇÃO DE MERCADO E A
INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL
Regulação de mercado é uma forma de influenciar as práticas das empresas. Pode se dar por
meio da autorregulação, quando os próprios agentes econômicos formulam a ordem que devem
seguir, ou por meio da intervenção do Estado na economia, seja por tributação, concessão de
subsídios, controle de acesso ao mercado ou até pelo tabelamento de preços.
Na estrutura de mercado de concorrência perfeita, não vislumbramos necessidade de interferência
governamental. No entanto, em casos nos quais as estruturas de mercado se aproximam de um
monopólio, é necessário que o estado interfira para que a concorrência seja garantida. Boa parte
da ação estatal de regulação em defesa da concorrência se dá por meio de agências reguladoras.
O PAPEL DAS AGÊNCIAS DE REGULAÇÃO
Agência reguladora é o órgão governamental que normatiza as atividades de interesse público,
sendo responsável por fiscalizar e legislar sobre como um setor da economia deve operar. De
forma mais específica, determina os parâmetros mínimos de funcionamento das empresas de
certo setor.
Ou seja, as agências reguladoras possuem poder normativo, ao regulamentar e normatizar
diversas atividades de interesse coletivo, respeitando os limites das legislações existentes naquele
território.
ELAS ATUAM PARA INCENTIVAR A CONCORRÊNCIA E
PARA EVITAR PRÁTICAS ABUSIVAS DAS EMPRESAS
COM PODER DE MERCADO.
 
Fonte: Wikipedia
 A Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações - é um exemplo de agência reguladora.
Dentre as suas principais funções encontram-se:
minimizar os efeitos dos monopólios naturais;
desenvolver mecanismos de suporte à concorrência;
defesa dos direitos do consumidor;
elaboração de normas para o setor regulado;
realizar a fiscalização dessas normas; e
gerir os contratos de concessão de serviços públicos delegados.
Os principais mecanismo de atuação se dão da seguinte forma:
NOS CONTROLES DE PREÇO
Estipulando o preço ou intervalo de preço a ser cobrado, ao levar em conta os custos e as
receitas, com o objetivo de limitar os lucros.
NOS CONTROLES DE QUANTIDADE DE PRODUÇÃO
Restringindo a quantidade do produto ou serviço a ser vendido para que toda a demanda seja
atendida.
NOS CONTROLES DE ENTRADA E SAÍDA
Decidindo qual empresa vai produzir determinado bem ou prestar certo serviço por um tempo
determinado, ao conferir uma “permissão” para tal.
TIPOS DE REGULAÇÃO
Para garantir que os preços operados em um mercado sejam competitivos, a ação regulatória
pode operar de diversas maneiras.
Duas perspectivas são:
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CUSTOS
INCENTIVOS
CUSTOSPara estimar o preço a ser praticado pela empresa regulada, a agência reguladora toma como
base todos os custos que a firma possui para produzir. Dessa forma, a agência define os preços
garantindo que sejam geradas receitas suficientes para que esses custos sejam compensados,
garantindo uma taxa de retorno razoável. Em outras palavras, esse método baseia-se na
regulação da taxa de retorno. Com esse tipo de regulação, porém, a empresa pode não ter
incentivos para incorporar melhorias em sua linha de produção e reduzir o seu custo. Esse
desincentivo de redução de custo pode gerar problemas, como veremos na próxima seção.
INCENTIVOS
Uma das principais formas de regulação por incentivo é chamada de preço-teto. Nesse caso,
para que os consumidores tenham acesso a um preço adequado, a agência reguladora
estabelece um preço máximo permitido. Logo, resta à empresa regulada adequar-se, de forma
que seja possível obter algum tipo de lucro. Essa forma de regulação cria um incentivo para a
redução de custos, pois quanto menores eles forem maiores serão os ganhos da empresa em
questão.
PREÇO-TETO
Usa-se com frequência a expressão em inglês: price cap .
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TEORIA ECONÔMICA DA REGULAÇÃO
Vamos aprofundar um pouco a discussão sobre ferramentas regulatórias que começamos
anteriormente. Em 1945, Ronald Coase (vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 1991)
observou que problemas informacionais são centrais para a regulação econômica.
Dentre esses problemas, vamos destacar um que está presente em toda a literatura acadêmica e
na discussão de política pública:
O regulador não conhece os custos de produção tão bem quanto a firma regulada.
Agora, vamos nos concentrar no caso de um mercado com uma única firma – ou seja, o regulador
está lidando com um monopolista, e precisa escolher o preço que permitirá que ele cobre dos
consumidores.
Pense, por exemplo, em uma estrada administrada por uma empresa concessionária:
QUAL DEVE SER O VALOR DO PEDÁGIO? 
SERÁ QUE DEVEMOS DAR ALGUM TIPO DE SUBSÍDIO À
EMPRESA E 
EXIGIR QUE ELA COBRE UM VALOR MENOR? 
QUAIS SÃO OS CUSTOS DE CADA TECNOLOGIA À
DISPOSIÇÃO DESSE MONOPOLISTA? 
SERÁ QUE, SE OS ADMINISTRADORES DA FIRMA SE
ESFORÇAREM, 
É POSSÍVEL REDUZIR ESSES CUSTOS?
SE IGNORARMOS ESSAS QUESTÕES, PODEMOS DAR
SUBSÍDIOS EXAGERADOS, FAZER UMA POLÍTICA DE
PREÇO EQUIVOCADA, OU COMPROMETER A
PRODUTIVIDADE DAS FIRMAS.
Ao longo da história, os reguladores sempre usaram regras simples para lidar com esse problema.
Frequentemente se determina uma taxa de retorno aceitável: a firma tem o direito de colocar um
preço acima de seu custo marginal, de forma a compensar seus custos fixos e garantir uma
remuneração adequada. Esse tipo de regulação, porém, tem um problema grave: não gera
qualquer incentivo para que a firma busque reduzir seus custos, dado que o governo compensa
quaisquer aumentos de custo.
Se a regulação baseada em taxas de retorno é problemática, o que devemos adotar? O regulador
deve ter sempre dois objetivos em mente:
CUSTO MARGINAL
O custo de produzir uma unidade adicional.
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Fonte:Shutterstock
Buscar a eficiência da firma regulada: por exemplo, a concessionária de uma rodovia deve investir
em uma tecnologia adequada nas suas operações, evitando excesso de custos.
 
Fonte:Shutterstock
Evitar que a firma obtenha retorno excessivo às custas dos consumidores (por meio de um preço
alto) ou dos contribuintes (por meio de subsídios, ou abatimentos de impostos). Por exemplo, o
pedágio não deve ser alto demais, e a concessionária não deve receber um volume exagerado de
subsídio.
 COMENTÁRIO
É difícil, porém, alcançar esses dois objetivos simultaneamente. Já vimos que a regulação
baseada em taxa de retorno evita retornos exagerados à firma (ou seja, atende o objetivo 2), mas
não gera incentivo para redução de custos (e, portanto, não atende o objetivo 1).
Podemos pensar em um tipo de regulação diametralmente oposto: o governo paga um valor fixo à
firma, que deve garantir a provisão do serviço. Agora, há um grande incentivo para que a firma
reduza custos, pois qualquer redução se transforma em lucro: atendemos o objetivo 1. Mas há um
problema: se o governo acha que o custo da firma é alto, o valor fixo também precisará ser alto, o
que significa que uma empresa com custos baixos terá uma remuneração exagerada! Dessa
forma, não atendemos o objetivo 2.
COMO LIDAR COM ESSE DILEMA?
Para simplificar a exposição, vamos considerar que a firma não cobra nenhum valor aos
consumidores, e recebe diretamente do governo todos os recursos necessários para financiar sua
operação: no nosso exemplo, não há pedágio, e o governo faz os pagamentos acordados à firma.
Esse é o caso de uma licitação: por exemplo, quando o governo compra respiradores para
hospitais públicos.
O governo observa os custos da firma, por meio de relatórios contábeis, mas não sabe quanto os
seus administradores se esforçaram para reduzir esses custos – e não é possível dizer o custo
pessoal desses administradores para obter alguma redução: eles podem ser eficientes e capazes
de obter grandes reduções de custos, ou podem não ser tão competentes assim. Ou seja, temos o
problema que Coase (1945) identificou: há assimetria informacional entre o regulador e a firma
regulada.
A solução para esse dilema envolve a possibilidade de um reembolso parcial para ao menos uma
parte das firmas. Ou seja, o pagamento tem duas partes. Primeiro, temos um pagamento fixo, que
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não depende do custo reportado pela firma. Segundo, o governo transfere à firma uma parte dos
seus custos reportados. Por exemplo, o governo paga à firma um valor fixo de R$ 500,00, e
reembolsa 30% dos custos que ela reporta em seus relatórios contábeis.
Mas isso não é tudo. Para concluir a descrição do contrato, vamos pensar que há dois tipos de
firma: uma eficiente e outra ineficiente:
 
Fonte: Freepik
EFICIENTE
Com administradores capazes de promover grandes reduções de custos.

 
Fonte: Freepik
INEFICIENTE
Terá muita dificuldade para obter qualquer melhora.
O REGULADOR NÃO SABE DISTINGUI-LAS.
O regulador deve então disponibilizar um tipo de contrato para cada firma:
PREÇO FIXO
O primeiro contrato é chamado de preço fixo: o governo faz apenas uma transferência fixa à
firma, sem qualquer reembolso adicional por custos reportados. Esse tipo de contrato atrairá
apenas a firma eficiente, que é capaz de reduzir custos, e é portanto devidamente incentivada a
trabalhar para obter essa redução.
REEMBOLSO PARCIAL
O segundo contrato permite o reembolso parcial, e atrairá a firma ineficiente, que não seria
capaz em qualquer hipótese de obter grandes reduções de custo.
Você pode se perguntar:
Por que o regulador não oferece o mesmo tipo de contrato para as duas firmas – eficiente ou
ineficiente?
 RESPOSTA
A resposta é simples: a transferência fixa para a firma ineficiente precisaria ser muito alta,
exatamente para compensar sua ineficiência! Para piorar, a firma eficiente poderia abrir mão de
trabalhar pela redução de custos e reportar custos altos, passando-se assim por uma firma
ineficiente para obter lucro ainda mais alto. Para evitar isso, a transferência para as firmas
eficientes seria ainda mais alta, o que tornaria a provisão do serviço extremamente cara para a
sociedade. O regulador deve oferecer à firma ineficiente um contrato que não seja atraente para a
firma eficiente!
No fim das contas, a firma ineficiente é submetida a um esquema regulatório em que não há
grande incentivo à redução de custos, mas também não há grandes lucros: é o reembolso parcial
de custos. É comum dizer que esse tipo de esquema tem ‘baixo poder’, no sentido de não
promover grande incentivo à redução de custo. A firma eficiente, por usa vez, recebe uma
transferência fixa, o que gera incentivo para redução de custo mas permite um lucro mais alto – é
um contrato de ‘alto poder’.
Em suma, o esquema regulatório ideal não deve se limitar a soluçõesextremas: seja uma
transferência fixa de recursos a qualquer empresa regulada, que gera incentivo à redução de
custos, mas permite lucros muito altos; seja um reembolso completo, que não permite lucro
exagerado mas também não gera incentivo para a redução de custos.
Observe que, tecnicamente, consideramos na discussão que o regulador oferece um ‘menu’ de
contratos regulatórios para que a firma escolha um deles – como o regulador não conhece todos
os custos da firma regulada, ele desenha esses contratos para induzir a autosseleção desejada.
OU SEJA, CADA FIRMA DEVE ESCOLHER O CONTRATO
‘DESENHADO’ PARA ELA: A FIRMA EFICIENTE
ESCOLHE O CONTRATO DE PREÇO FIXO, E A FIRMA
INEFICIENTE ESCOLHE O CONTRATO COM
REEMBOLSO.
 COMENTÁRIO
No mundo real, o regulador não disponibiliza exatamente um menu de contratos em um processo
regulatório ou em uma licitação. Na prática, há negociações do governo com as firmas, em que
cada uma (eficiente ou ineficiente) faz propostas diferentes e obtém tipicamente um contrato
distinto, o que acaba por emular a oferta de um menu por parte do governo.
Por último, é importante registrar que a teoria desenvolvida nessa seção possui uma implicação
importante: qualquer fator que diminua a incerteza do regulador a respeito da eficiência das firmas
permite que o regulador opte por contratos de ‘alto poder’ – esse é o contrato ideal para gerar
redução de custo, e a única coisa que impede sua adoção generalizada é a assimetria
informacional.
 
Fonte: @macrovector / freepik
Uma maneira de reduzir essa incerteza é o uso de leilões por uma posição de monopolista – por
exemplo, um leilão para concessão de uma rodovia. No leilão, as firmas mais eficientes, que são
capazes de obter maiores lucros na operação, têm um incentivo claro a dar lances maiores, o que
acaba por revelar informação ao regulador. O uso de leilões, seja em regulação de monopolista ou
em licitações, é bastante comum, exatamente por ser uma ferramenta útil para lidar com
assimetria informacional.
Acompanhe, no vídeo abaixo, considerações sobre alguns tópicos adicionais sobre a regulação
das empresas.
A Regulamentação das Firmas Dominantes
REGULAÇÃO NO BRASIL
No Brasil, existem algumas agências reguladoras, como:
 
Fonte: Wikipedia
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): setor de telefonia (fixa e móvel), internet e TV
por assinatura.
 
Fonte: Wikipedia
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS): operadoras de plano ou seguro saúde.
 
Fonte: Wikipedia
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): comercialização de alimentos, bebidas,
medicamentos, produtos e serviços de saúde (hospitais, clínicas e laboratórios).
 
Fonte: Wikipedia
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac): companhias aéreas.
O governo federal regula diferentes áreas da economia. Vamos olhar para o serviço postal, um
setor que nos ajudará a entender diversas ferramentas regulatórias.
SEPRAC
A Seprac avalia e define as tarifas de dois setores: correios e planos de saúde. Vamos olhar
para o primeiro, um setor com diversas peculiaridades.
 
Fonte: Correios
O serviço postal, no Brasil, deve ser prestado diretamente pelo governo federal, que autoriza
eventuais ajustes nas tarifas postais. De acordo com o Ministério da Fazenda, esse processo deve
cobrir custos operacionais, além de buscar a expansão e a melhoria dos serviços. Ou seja,
encontramos as preocupações que vimos anteriormente: o governo quer aumentar a qualidade,
cobrir custos, evitando prejuízo ou lucros excessivos; mas também deve buscar uma alocação
eficiente de recursos.
A estrutura desse serviço, no Brasil, envolve uma empresa pública: a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos (ECT), que atua como monopolista em alguns serviços, e compete com
empresas privadas em outros.
Ao governo federal, cabe a regulação de preços nos serviços sujeitos a monopólio: como vimos, a
falta de concorrência é um dos principais fatores que pode prejudicar a alocação de recursos pelo
setor privado.
A ECT é sujeita a um regime regulatório de teto de preços, mas a legislação admite a
compensação de alguns custos extraordinários: há ênfase na busca pela eficiência, mas o
regulador reconhece que é necessário proteger a firma de riscos. Especificamente, admite-se um
reajuste extraordinário se “ficar comprovado que circunstâncias supervenientes e inimputáveis à
ECT passaram a afetar de forma significativa a exploração dos serviços postais” (BRASIL, 2018).
 COMENTÁRIO
A ideia é simples: o teto de preços busca incentivar a empresa regulada a implementar esforços
para reduzir custos, e, portanto, não faz sentido penalizá-la (ou premiá-la) por uma variação de
custo ‘inimputável’ a ela. Em resumo, temos uma parte do contrato que busca incentivar a
empresa a reduzir custos, e outra parte que busca apenas cobrir custos que não podem ser
reduzidos.
Observe que o governo usa então uma série de mecanismos distintos para lidar com imperfeições
de mercado. Primeiro, o governo faz a provisão de parte dos serviços postais por meio de uma
empresa pública. Segundo, busca-se usar um mecanismo de concorrência para parte dos
serviços. Terceiro, as ferramentas regulatórias são aplicadas para os serviços prestados de forma
exclusiva (monopolista) pela própria empresa pública.
PRESTE ATENÇÃO AO SEGUNDO PONTO INDICADO NO
PARÁGRAFO ANTERIOR: O GOVERNO BUSCA USAR
MECANISMOS DE PROMOÇÃO DA CONCORRÊNCIA.
TRATA-SE DE UMA FERRAMENTA COMPLEMENTAR À
REGULAÇÃO QUE ESTUDAMOS NESTE MÓDULO.
No Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) é a autoridade
responsável por estimular a competição. Mas isso é assunto para outro tema!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ESTIPULAR O PREÇO DA EMPRESA REGULADA BASEADA NA
REGULAÇÃO DA TAXA DE RETORNO (RTR) PODE TRAZER ALGUMAS
VANTAGENS E DESVANTAGENS. SEMELHANTEMENTE, O
ESTABELECIMENTO DE PREÇOS-TETOS TRAZ VANTAGENS E
DESVANTAGENS. DESSA FORMA, VEMOS QUE EM AMBOS OS TIPOS DE
REGULAÇÃO, EXISTEM FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS. 
SELECIONE UMA ALTERNATIVA CORRETA SOBRE OS TIPOS DE
REGULAÇÃO, COM RELAÇÃO A VANTAGENS OU DESVANTAGENS.
A) Basear-se na RTR traz a vantagem de garantir que os consumidores pagam um valor de
produto mais próximo aos custos da empresa.
B) Basear-se nos custos, nos moldes de RTR, induz que a empresa atue de forma a se tornar
altamente produtiva.
C) Independentemente dos preços-tetos, a empresa regulada sempre estipulará um preço acima
daquele estipulado pela agência reguladora.
D) Os preços-tetos inibem o ambiente de promoção da produtividade.
2. DENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO, ASSINALE A QUE NÃO
REPRESENTA UMA FUNÇÃO DAS AGÊNCIAS DE REGULAÇÃO:
A) Atuar a gestão de contratos de concessão de serviços públicos delegados
B) Elaborar normas para o setor regulado
C) Buscar a defesa dos direitos do consumidor
D) Maximizar os efeitos dos monopólios naturais
GABARITO
1. Estipular o preço da empresa regulada baseada na Regulação da Taxa de Retorno (RTR)
pode trazer algumas vantagens e desvantagens. Semelhantemente, o estabelecimento de
preços-tetos traz vantagens e desvantagens. Dessa forma, vemos que em ambos os tipos
de regulação, existem fatores positivos e negativos. 
Selecione uma alternativa correta sobre os tipos de regulação, com relação a vantagens ou
desvantagens.
A alternativa "A " está correta.
 
A RTR considera os custos das empresas para calcular o preço, e limita o retorno que elas podem
obter. Dessa forma, impede que o preço fique distante do custo que a empresa tem para prestar o
serviço.
2. Dentre as alternativas abaixo, assinale a que não representa uma função das Agências de
Regulação:
A alternativa "D " está correta.
 
Os monopólios naturais geram distorções no mercado, e as Agências de Regulação buscam
minimizar essas distorções, através de diferentes ferramentas regulatórias.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que mercados de concorrência perfeita possuem preços competitivos, ao passo que
monopólios se valem de seu poderde mercado para operar com preços mais elevados.
Existem casos nos quais uma única empresa sozinha é capaz de operar melhor: são os chamados
monopólios naturais. Para garantir o bom funcionamento dos mercados onde a competição não é
perfeita, o Estado entra na figura de regulador.
Para isso, são criadas agências reguladoras, que têm como objetivo minimizar as distorções
geradas por empresas com poder de mercado. Além disso, o tipo de regulação pode variar,
buscando ao mesmo incentivar a firma a reduzir seus custos e evitar lucros exagerados. Por
último, estudamos algumas práticas regulatórias no Brasil.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Portaria n. 97, de 26 de março de 2018. Estabelece normas e critérios para o reajuste e a
revisão das tarifas e dos preços públicos praticados pela Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos - ECT - nos serviços postais prestados em regime de exclusividade. Diário Oficial da
União , 27 mar. 2018. Disponível em:
https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/8048742/. Acesso em:
ago. 2020.
LAFFONT, J. J. Regulation and development. Cambridge University Press, 2015.
SALGADO, L. H. Agências regulatórias na experiência brasileira: um panorama do atual desenho
institucional. Rio de Janeiro: Ipea, 2003. (Texto para Discussão, v. 941).
Varian, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
EXPLORE+
Para conhecer mais sobre as agências regulatórias no Brasil, leia o texto Agências
regulatórias na experiência brasileira: um panorama do atual desenho institucional de Lucia
Helena Salgado.
Para saber mais sobre a aplicação de ferramentas regulatórias a países em
desenvolvimento, leia o livro Regulation and Development, do economista francês Jean-
Jacques Laffont.
CONTEUDISTA
Rhayana Holz Vieira
 CURRÍCULO LATTES
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