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GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
Prof. Rafael Moreira
geopolítica brasileira
Prof. Rafael Moreira
Edital
GEOPOLÍTICA BRASILEIRA: 1 O Brasil político: nação e território. 1.1 Organização do Estado 
Brasileiro. 1.2 A divisão inter-regional do trabalho e da produção no Brasil. 1.3 A estrutura 
urbana brasileira e as grandes metrópoles. 2 Distribuição espacial da população no Brasil e 
movimentos migratórios internos. 3 A evolução da estrutura fundiária e problemas demográ-
ficos no campo. 4 Integração entre indústria e estrutura urbana, rede de transportes e setor 
agrícola no Brasil. 5 Geografia e gestão ambiental. 5.1 Macrodivisão natural do espaço brasi-
leiro: biomas, domínios e ecossistemas. 5.2 Política e gestão ambiental no Brasil. 6 O Brasil e 
a questão cultural. 7 A integração do Brasil ao processo de internacionalização da economia. 
8 O século XX: urbanização da sociedade e cultura de massas 
BANCA: CESPE
CARGO: Policial Rodoviário Federal
Módulo 1
7concurseiro.vip
TÓPICO 1: O BRASIL POLÍTICO: NAÇÃO E TERRITÓRIO
1.1 Organização do Estado Brasileiro
Brasil é uma República Federativa Presidencialista, formada pela União, 
Estados, Distrito Federal e municípios, em que o exercício do poder é atribuído 
a órgãos distintos e independentes, submetidos a um sistema de controle 
para garantir o cumprimento das leis e da Constituição.
O Brasil é uma República porque o Chefe de estado é eleito pelo povo, por 
período de tempo determinado. É Presidencialista porque o presidente 
da República é Chefe de Estado e também Chefe de governo. É Federativa 
porque os estados têm autonomia política.
A União está dividida em três poderes, independentes e harmônicos entre si. 
São eles o Legislativo, que elabora leis; o Executivo, que atua na execução 
de programas ou prestação de serviço público; e o Poder Judiciário, que 
soluciona conflitos entre cidadãos, entidades e o estado.
O Brasil tem um sistema pluripartidário, ou seja, admite a formação legal de vários partidos. O 
partido político é uma associação voluntária de pessoas que compartilham os mesmos ideais, 
interesses, objetivos e doutrinas políticas, que tem como objetivo influenciar e fazer parte do 
poder político.
Como funciona a estrutura política
FEDERAÇÃO
* Ler artigos 1º a 18 da Constituição Federal.
A Federação é uma forma de Estado, caracterizada por um pacto (aliança) entre Estados. Outra 
forma de Estado é a de Estado Unitário.
Na Federação há mais de um centro de poder incidindo sobre a mesma população e o mesmo 
território, ex.: esferas federal, estadual e municipal.
No Estado Unitário há apenas um centro de poder.
 
8 concurseiro.vip
Formas de Governo:
(a) Monarquia;
(b) República.
Na Monarquia, o poder é hereditário e vitalício.
Na República, há alternância de poder, e o administrador é responsável politicamente perante 
o povo.
Sistema de Governo:
(a) Parlamentarismo;
(b) Presidencialismo.
No Presidencialismo, as figuras de Chefe de Estado e de Chefe de Governo se confundem 
na Pessoa do Presidente. O Presidente é, ao mesmo tempo, Chefe de Estado no âmbito 
internacional e Chefe de Governo no âmbito interno.
No Parlamentarismo, há duas figuras distintas: o Chefe de Governo, exercido pelo 1º Ministro; 
e o Chefe de Estado, exercido pelo Rei (Parlamentarismo Monárquico) ou Presidente 
(Parlamentarismo Republicano).
No Brasil:
Período Colonial e imperial: forma unitária de Estado.
A primeira Constituição a consagrar a forma federativa de Estado foi a Constituição Republicana 
de 1891 – Sistema Federativo Dual.
SOBERANIA E AUTONOMIA
A soberania representa a unidade de um Estado no plano internacional; representa a unidade 
de um Estado perante os demais Estados.
A autonomia não interessa ao plano internacional; interessa apenas ao plano interno.
Nenhum ente da federação brasileira possui soberania; todos eles são dotados apenas de 
autonomia.
A União não possui a soberania. A soberania pertence ao Estado Brasileiro, isto é, à República 
Federativa do Brasil. No entanto, a soberania é exercida pela União.
Portanto, a titularidade é da República Federativa, ao passo que o exercício fica a cargo da 
União.
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9concurseiro.vip
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios 
e do Distrito Federal,...
Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, 
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
“Formada pela união indissolúvel” – consagra o princípio da indissolubilidade do pacto 
federativo. A CF não permite aos entes da federação o chamado direito de secessão, 
notadamente aos Estados. O instrumento para evitar a secessão é a intervenção federal (art. 
34, I).
UNIÃO
Detém competência legislativa exclusiva: a competência exclusiva não pode ser delegada.
A primeira competência exclusiva pode ser constatada no artigo 49 da CF, o qual trata da 
competência do Congresso Nacional. As competências do Congresso Nacional são veiculadas 
por decreto legislativo (ato normativo primário).
A segunda competência exclusiva é a do artigo 48 da CF, o qual também trata de competências 
do Congresso Nacional, cujas matérias só podem ser veiculadas por lei (pois dependem de 
sanção do Presidente da República).
A terceira competência exclusiva é a do artigo 51 da CF, que trata da competência da Câmara 
dos Deputados. A despeito de o artigo mencionar que a competência é privativa, trata-se de 
competência exclusiva (indelegável). As competências da Câmara são veiculadas por meio de 
resolução (ato normativo primário).
Por derradeiro, a competência exclusiva do artigo 51, o qual trata das competências do Senado. 
A despeito de o artigo mencionar que a competência é privativa, trata-se de competência 
exclusiva (indelegável). Aqui, também, as matérias são veiculadas por resolução (ato normativo 
primário).
ESTADOS-MEMBROS
A denominação varia conforme o País: Länder, na Alemanha; Província, na Argentina; Cantões, 
na Suíça.
O importante não é a denominação, mas sua autonomia. Quatro são as autonomias que 
caracterizam os Estados-Membros:
Auto-organização: é a capacidade de criar suas próprias Constituições. Os princípios 
estabelecidos na Constituição Federal devem ser observados pelas Constituições Estaduais, por 
força do princípio da simetria (Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições 
e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.)
 
10 concurseiro.vip
MUNICÍPIOS
Os Municípios sempre foram dotados de autonomia, de forma que isso não é novidade da 
CF/88. A novidade é que, a partir da 1988, os Municípios passaram a ser consagrados como 
entes federativos (arts. 1º e 18).
Em que pese a clareza do texto constitucional, alguns autores não admitem que os Municípios 
sejam consagrados como entes federativos. Segundo José Afonso da Silva, (a) não existe 
federação de Municípios, mas somente de Estados; (b) os Municípios não participam da 
vontade nacional, pois não são representados no Congresso Nacional. Para esses autores, 
dentre eles José Afonso da Silva, os Municípios teriam caráter meramente administrativo, 
sendo considerados autarquias territoriais.
Auto-organização (art. 29): Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois 
turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da 
Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, 
na Constituição do respectivo Estado...
A Lei Orgânica situa-se abaixo da Constituição Federal e abaixo da Constituição Estadual.
DISTRITO FEDERAL
O DF, ao longo dos anos, assumiu várias naturezas.
Hoje, para alguns, o DF seria tanto um Estado quanto um Município (natureza híbrida). Isso se 
justifica pelo fato de o DF possuir competências atribuídas aos Estados e aosMunicípios.
Para José Afonso da Silva, o DF não é nem Estado e nem Município. O DF é uma unidade 
federada com autonomia parcialmente tutelada.
O DF é mais que um Estado, pois detém, além da competência legislativa atribuída aos Estados, 
a competência legislativa atribuída aos Municípios. Por outro lado, o DF também é menos que 
um Estado, pois competências há que só foram atribuídas aos Estados.
Segundo o STF, o Distrito Federal se aproxima mais da configuração de um Estado que de um 
Município. Isso se justifica, dentre outras razões, pelo fato de o DF ter Poder Judiciário próprio, 
Governador próprio etc.
1.2 A divisão inter-regional do trabalho e da produção no Brasil
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O tópico 7 (A integração do Brasil ao processo de internacionalização 
da economia) também está sendo abordado nesse contexto.
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Evolução da formação do espaço geográfico brasileiro
Cana-de-açúcar
O processo de colonização do Brasil esteve inserido na lógica de acumulação primitiva de 
capital ou mercantilismo (séculos XV ao XVIII), período marcado pela 1ª Divisão Internacional 
do Trabalho, em que diferentes regiões forneciam bens agrícolas, vegetais e minerais 
para as metrópoles, que por sua vez ficavam responsáveis pela fabricação dos produtos 
manufaturados. Nesse contexto, o Oriente era o produtor de especiarias, a África fornecia a 
mão de obra escrava, a América Latina se destacava principalmente pela mineração, enquanto 
que a Europa Ocidental produzia as manufaturas. O Brasil foi responsável pelo fornecimento 
de matérias-primas em diferentes períodos: pau-brasil, cana-de-açúcar, mineração, café.
A expansão mercantilista de Portugal iniciada no século XV foi pautada na conquista e 
expropriação material e cultural, alcançando status de nação expansionista ao quebrar o 
monopólio italiano e abrir novos caminhos pela costa da África. O Brasil, diferente de países 
como Peru e México, não possuía uma sociedade hierarquizada e tão bem organizada, nem 
mesmo contava com grandes jazidas de ouro e prata. Mas a rivalidade entre os centros 
expansivos europeus fez com que os portugueses tratassem de explorar e ocupar ao máximo 
o território brasileiro. Tal determinação de origem perpetuou-se em sociedades que tinham 
na conquista do solo um dos seus vetores de estruturação, em certo sentido até os dias atuais.
As sesmarias e as capitanias hereditárias pareciam feudos, tinham antecedentes feudais, 
mas sua essência não era feudal, funcionavam como mecanismos de expansão do sistema 
capitalista mercantil.
O cultivo da cana-de-açúcar (que obteve seu auge entre o final do século XVI e meados do século 
XVII), baseado no sistema colônia-metrópole, estruturou o comércio e o desenvolvimento 
das cidades nordestinas, principalmente na faixa litorânea. Portugal ampliou seu comércio 
açucareiro com os recursos investidos principalmente em Pernambuco, com base no trabalho 
indígena e capital estrangeiro (holandês). Para produzir de acordo com as necessidades da 
colônia, foram trazidos os negros africanos. Esse sistema consolidou a estrutura fundiária 
encontrada na região até os dias atuais, marcada por uma concentração de terras e influência 
de oligarquias e famílias tradicionais nas decisões políticas e econômicas.
A economia açucareira norteou outras atividades, como a criação de gado (carne, transporte, 
energia para os engenhos, sebo, lenha para as caldeiras), sendo que esta atividade acabou 
por se expandir para áreas do sertão, constituindo a base de sua economia. Ao final do século 
XVII, o açúcar produzido nas Antilhas aumentou a oferta do produto no mercado internacional, 
abaixando vertiginosamente seu preço. Com o declínio da produção açucareira, a pecuária 
absorveu grande parte da população.
 
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A ocupação das regiões brasileiras
Na Bahia e no Sudeste do Brasil, a penetração portuguesa foi mais expressiva já nos fins do 
século XVI. No Sudeste, os bandeirantes avançaram na procura de metais preciosos e índios 
para escravizar. Na Bahia, esse movimento foi realizado através da pecuária, que se expandiu 
no sentido interior e também se preocupava com a manutenção das terras colonizadas frente 
aos indígenas, que representavam para os portugueses uma ameaça à integridade das vilas e 
fazendas do litoral.
No século XVIII, a penetração alcançou expressão significativa, principalmente na área 
correspondente à Bacia do São Francisco e Sertão setentrional nordestino, através do 
estabelecimento de grandes propriedades onde se estabeleciam e criavam bovinos, caprinos, 
ovinos, suínos e equinos. As bandeiras paulistas provocaram o descobrimento de jazidas de 
metais preciosos, com destaque para o ouro e o diamante. Tais descobertas contribuíram para 
um grande deslocamento populacional para essas áreas, formando aglomerados descontínuos 
em torno dos garimpos, principalmente o núcleo das Gerais, localizado entre o oeste de Goiás, 
sul do Mato Grosso e sul de Minas Gerais. A cana-de-açúcar também foi introduzida na região e 
ganhou relevância no litoral e em algumas áreas interioranas.
No Sul, o povoamento se concentrou na porção ocidental com o ingresso de jesuítas, onde 
foi desenvolvida a pecuária e a agricultura de subsistência. As bandeiras que se sucederam na 
região destruíram esses núcleos, provocando a desestruturação do sistema, com a escravização 
dos índios e expulsão dos jesuítas. Porém, a pecuária se estabeleceu, configurando o papel de 
principal fornecedor de gado para mineiros e paulistas.
A Amazônia teve um processo de ocupação mais lento em função das condições naturais e pela 
presença de tribos indígenas mais hostis do que aquelas encontradas no restante do país. Ainda 
assim, a ocupação da foz do rio Amazonas e a formação de Belém garantiram a consolidação 
dos colonizadores portugueses em relação aos espanhóis, permitindo a interiorização através 
da navegação fluvial na busca pelas drogas do sertão.
Após a Revolução Industrial (século XVIII), ocorreu um rearranjo estrutural, em que a divisão do 
trabalho mundial se dividiu entre produtores de matéria-prima e os detentores de tecnologia, 
com o fim do trabalho escravo, substituído pelo trabalho assalariado. O Brasil manteve as 
relações de escravatura até o final do século XIX, mantendo-se na condição de fornecedor de 
matérias-primas até o final da 2ª Guerra Mundial.
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13concurseiro.vip
Mineração
O ciclo do ouro é considerado o período em que a extração e exportação do ouro figurava 
como principal atividade econômica na fase colonial do país e teve seu início no final do século 
XVII, época em que as exportações do açúcar nordestino decaiam pela concorrência mundial 
do mercado consumidor.
Devemos notar que entre 1750 e 1770, Portugal arcava dificuldades econômicas internas 
decorrentes de má administração e desastres naturais, além do que sofria pressão pela 
Inglaterra, a qual, ao se industrializar, buscava consolidar seu mercado consumidor, bem como 
sua hegemonia mundial.
Assim, a descoberta de grandes quantidades de ouro no Brasil, tornava-se um motivo de 
esperanças de enriquecimento e estabilidade econômica para os portugueses.
Sem espanto, notamos que os primeiros exploradores a procurarem ouro e metais valiosos no 
Brasil, tinham o escopo de levá-los à metrópole, onde seriam desfrutados.
Entretanto, estas incursões pioneiras no litoral e interior do país não ocasionaram muitos 
resultados, além do conhecido, que fora a conquista do território.
As grandes jazidas de ouro foram descobertas em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, onde 
foram divididas em forma de lavras (lotes auríferos para exploração, a exemplo das sesmarias 
latifundiárias de monocultura).
Durante o auge deste ciclo, no século XVIII, foi gerado um grande fluxo de pessoas e mercadorias 
nas regiões citadas, desenvolvendo-as intelectual (chegada de ideias iluministas trazidas pela 
eliterecém intelectualizada) e economicamente (produção alimentar para subsistência e 
pequenas manufaturas).
Nesse período, estima-se que a população brasileira tenha passado de 300 mil para cerca de 3 
milhões de pessoas
Com o advento da exploração aurífera, esta atividade passou a ser a mais lucrativa na colônia, 
o que acarretou a transferência da capital colonial de Salvador para o Rio de Janeiro, de modo 
a assegurar a fiscalização das regiões de mineração que se acercavam.
Por fim, o ciclo do ouro perdurou até o ocaso do século XVIII, quando se esgotaram as minas, 
aproximadamente em 1785, em pleno desenrolar da Revolução Industrial.
Esse período representou o momento de maior abuso e dominação do Brasil pelos países 
europeus, posto que a Coroa portuguesa cobrava altos impostos sobre o minério extraído, os 
quais eram taxados nas Casas de Fundição, onde as pedras eram derretidas e transformadas 
em barras e receberiam um selo que dariam legitimidade para ser negociado, pois haviam 
desvios e sonegações que, quando descobertos, eram penalizados duramente.
Percebemos que os altos impostos, as taxas, as punições e os abusos de poder político exercido 
pelos portugueses sobre o povo que vivia na região e no Brasil como um todo, gerava conflitos 
que culminariam em várias revoltas e, concomitantemente em que essa economia trouxera um 
crescimento demográfico ao país e desenvolvera uma economia baseada na atividade pecuária 
em diversas regiões isoladas do território brasileiro.
 
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Essa economia também derivou em pobreza e desigualdade, pois ao final deste ciclo, a 
população ficara à margem da sociedade, tendo de se sujeitar a agricultura de subsistência 
para sobreviver.
Após este período, o Brasil permanecia como simples exportador de produtos primários, 
estancado neste ciclo vicioso e sem conseguir envergadura técnica capaz de promover o seu 
desenvolvimento econômico.
Borracha
O chamado ciclo da borracha pode ser dividido em duas fases. A primeira vai da década de 
1870, quando o surto migratório ganha forma na região norte do Brasil, até os anos 1912, 
quando há uma retração da economia gomífera ocasionada pelo crescimento da concorrência 
internacional. A segunda fase foi alavancada pela Segunda Guerra Mundial, no contexto da 
Era Vargas e marcada por uma verdadeira Batalha da Borracha, onde milhares de soldados 
sangravam as seringueiras para suprir demandas da indústria norte-americana. Ambas foram 
acompanhadas por grandes fluxos migratório de outras regiões do país.
Como base da economia gomífera no ciclo da borracha, o sistema de aviamento não pode ser 
pensado sem seus principais elementos: o seringal, o seringalista e o seringueiro. O seringal 
era formado por uma espécie de barracão, onde moravam os “patrões” e algumas famílias de 
trabalhadores, formando um vilarejo. Era geralmente localizado próximo a rios para facilitar o 
abastecimento de mercadorias e escoamento da produção. Como unidade produtiva e social 
o seringal também se constituía pela posse de uma imensa área conectada por caminhos onde 
se localizavam as seringueiras. O seringalista era conhecido como “patrão”, o dono dos meios 
de produção que comandava seus capatazes, gozando dos privilégios de mando. O seringueiro 
provinha das camadas mais pobres da população e, na maioria das vezes, era o migrante 
nordestino que, imerso num sistema de endividamento do qual dificilmente conseguia escapar, 
vivia numa condição semiescravista, à mercê dos “patrões”.
Pode-se considerar que, para além dos recursos naturais extraídos ao longo daquele período, 
outros recursos altamente explorados foram o sangue e o suor de milhares de nordestinos 
que desfaleceram na Amazônia sem poder resistir às doenças e aos enganos do modo de 
produção gomífera. Além disso, as condições em que se criavam os seringais, nem sempre 
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eram amistosas. Estas resultaram, muitas vezes, em grandes conflitos com os grupos indígenas 
da Amazônia. O resultado foi que milhares de seringueiros foram mortos pelos índios e muito 
mais indígenas foram mortos nesses confrontos. Etnias inteiras foram dizimadas em troca do 
estabelecimento dos seringais. Se as vidas dos seringueiros eram muitas vezes desvalorizadas, 
as vidas dos indígenas nem parecem ter sido postas a preço tamanha a crueldade com que 
foram perseguidos e escravizados em pleno despontar do século XX.
Café
O Ciclo do Café no Brasil se iniciou durante o século XVIII, período em que o produto foi 
introduzido no país após ter alcançado grande popularidade na Europa. As primeiras plantações 
do gênero foram registradas no Rio de Janeiro por volta de 1760. De fato, ao longo do século 
XIX e início do século XX, o café se transformou no principal produto brasileiro vendido no 
mercado internacional.
Como já dito, as primeiras plantações se deram no Rio de Janeiro, mais precisamente na Baixada 
Fluminense. O modo de produção adotado pelos produtores era bastante parecido com aquele 
registrado no período colonial: latifundiários que utilizavam mão-de-obra escrava. Por isso, a 
partir de 1850, com a proibição do trabalho escravo, o modelo de produção fluminense acabou 
se tornando ultrapassado.
No entanto, a demanda gerada pelo mercado europeu e norte-americano em torno do café 
tornou viável a mudança dos modos de produção e de cultivo do produto. Assim, durante o 
século XIX se registrou no oeste paulista uma verdadeira expansão cafeeira. Contudo, os 
paulistas adotaram outra filosofia de trabalho, optando pelo uso de novas tecnologias e do 
trabalho assalariado. Em outras palavras, os mesmos estavam de acordo com uma mentalidade 
capitalista e empresarial, que nada tinha a ver com o quase colonial modelo fluminense.
O Ciclo do Café provocou significativas mudanças socioeconômicas no Brasil. As riquezas do 
produto proporcionaram certa estabilidade econômica, algo que não se via desde a época do 
Primeiro Reinado. Foi possível a realização de importantes obras de infraestrutura, como a 
construção de portos e ferrovias.
O café permitiu que a economia brasileira se modernizasse, ganhando uma nova dinâmica. Foi 
a partir desse momento que começaram a surgir as primeiras associações de trabalhadores 
e os primeiros sindicatos. Em contrapartida, o Ciclo do Café também fortaleceu ainda mais 
os grandes produtores rurais, os quais ganharam notório poder político, especialmente no 
período conhecido como República Velha.
O papel do Estado na industrialização brasileira
O processo de industrialização no Brasil, iniciado no século XIX, apresentou várias fases de 
declínio e crescimento, mas o traço comum a todas elas foi a presença, em maior ou menor 
grau, de ações do Estado impulsionando a formação e a consolidação do parque industrial 
brasileiro.
 
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Histórico da industrialização: período pré-1930
Na segunda metade do século XIX, proliferaram fábricas nacionais de tecidos, chapéus, sapatos, 
couros, vidros, sabão e cerveja para o consumo interno. Milhares de migrantes europeus 
formavam a classe operária nascente e propiciaram importante base para a industrialização 
brasileira.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) gerou uma crise de abastecimento com fortes reflexos 
no Brasil. Com as dificuldades de importação, o crescimento industrial ganhou impulso, e o 
parque industrial nascente diversificou-se. Além das indústrias de bens de consumo, surgiram 
fábricas de bens de produção, como pequenas siderúrgicas, metalúrgicas e fábricas de cimento.
O período pós-1930
Dois fatores foram fundamentais para o processo de industrialização posterior aos anos 1930: 
a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, e a Revolução de 1930, com a subida de 
Getúlio Vargas ao poder.
Com a diminuição das exportações (principalmente de café) por causa da crise, diminuíram os 
recursos para importação, levando o Brasil a produzir internamente o que antes era oriundo de 
outros países.A tomada de poder por Getúlio Vargas consolidou a participação, nas estruturas do governo, 
de uma burguesia industrial nascente. A existência de estrutura para os negócios com o 
café, de mercado interno para produtos industriais e a vontade política de levar adiante a 
industrialização geraram um novo ciclo de industrialização por substituição de importações, 
com inúmeras iniciativas, sobretudo de imigrantes.
A Segunda Guerra Mundial acentuou ainda mais o processo de industrialização por substituição 
de importações. A própria industrialização aumentou o mercado interno para produtos 
industrializados, pois os operários começaram a formar um novo mercado consumidor.
A Petrobras e as demais empresas estatais de bens de capital forneceriam o suporte necessário 
para a implantação de indústrias de bens de consumo, as quais ficariam a cargo do setor 
privado. Para fornecer suporte técnico e financeiro à atuação do setor privado, foi criado o 
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), em 1952.
O período desenvolvimentista e os 
Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND)
A partir da década de 1940, o Estado brasileiro passou a apostar em um planejamento integrado 
da economia, com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico no país. Essa atitude 
marcou o período conhecido como desenvolvimentista, que se estendeu até a década de 1980.
Para superar os obstáculos ao desenvolvimento, como sistema de transporte e distribuição 
de combustíveis inadequados e sistema retrógrado de distribuição de energia, entre outros, o 
governo investiu na expansão das indústrias siderúrgicas e de bens de capital.
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O plano de metas do governo JK
O plano de metas foi um planejamento econômico e social integrado, lançado durante o 
mandato de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que objetivava o desenvolvimento do país por 
meio de um direcionamento adequado dos investimentos do governo.
As metas atingiam diretamente os setores de energia, transporte, alimentação e educação. 
Também a construção da nova capital, Brasília, incluía-se no esforço de desenvolvimento e 
integração nacional.
O tripé da industrialização: 
empresas multinacionais,nacionais e estatais
Uma das características que marcaram o processo de industrialização brasileira foi o emprego 
de capital nacional, estrangeiro e a criação das estatais, devido à política nacionalista e 
desenvolvimentista, segundo a qual o Estado deveria oferecer as condições de infraestrutura 
necessárias ao processo de implantação da indústria, inclusive como investidor nos setores 
estratégicos da economia, sobretudo geração de energia e produção e transformação mineral.
O período posterior à Segunda Guerra foi de grande crescimento econômico mundial 
impulsionado pela reconstrução.
Várias empresas estrangeiras adotaram uma política de expansão de suas instalações 
para países em desenvolvimento. Atraídas pelos incentivos do governo, várias empresas 
multinacionais dos ramos automobilístico, farmacêutico, elétrico, eletroeletrônico e químico 
se estabeleceram no Brasil.
A existência de indústrias nacionais é importante para a economia de um país para evitar a 
perda de divisas com as remessas de lucros para os países de origem, como ocorre com as 
multinacionais, e também para possibilitar o desenvolvimento tecnológico nacional, que é 
gerado pelas empresas estrangeiras e que acaba se concentrando nos países de origem.
As empresas estatais foram criadas no período desenvolvimentista para atuar em áreas em 
que nem as empresas privadas nem as multinacionais tinham interesse em atuar devido à 
necessidade de alto investimento e à incerteza quanto ao lucro. Nos anos 1990, houve uma 
forte política de privatização dessas empresas.
Os PND
Após a instauração do regime militar, em 1964, a necessidade de superar o obstáculo do atraso 
tecnológico levou à priorização de pesquisas e investimentos em diversas áreas: petroquímica, 
extração mineral, siderurgia, construção naval, mecânica, agropecuária e comunicação. 
O planejamento direcionava as ações do governo, destacando-se os Planos Nacionais de 
Desenvolvimento. Esse período ficou conhecido como “milagre econômico”, marcado por 
investimentos públicos em obras de infraestrutura e pelo aumento de empresas estatais 
atuando em setores considerados estratégicos, como o energético, o de transportes e o de 
extração mineral.
 
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Concentração e desconcentração industrial no Brasil
Do princípio da industrialização até os anos 1970, houve intensa concentração industrial na 
Região Sudeste e no Rio Grande do Sul, devido a peculiaridades do desenvolvimento industrial 
brasileiro, como a localização, até 1960, da capital federal no Rio de Janeiro. A importância 
da economia cafeeira na região, que favoreceu a implantação de indústrias, portos, estradas 
de ferro, etc., gerou capitais para serem aplicados no desenvolvimento industrial e, a partir 
da segunda metade do século XIX, atraiu imigrantes que formaram a massa de mão de obra e 
também importante mercado consumidor dos produtos industrializados.
O fim das barreiras comerciais entre os estados, política criada por Getúlio Vargas, proporcionou 
um incremento da indústria do Sudeste e prejudicou o fortalecimento das indústrias locais nas 
outras regiões, tornando o estado de São Paulo o principal polo industrial do país. Em 1941, 
foi criada em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), 
privatizada em 1993 e uma das maiores do mundo na atualidade.
Após 1970, houve um processo de desconcentração industrial, por ação do Estado, que buscava 
diminuir os desequilíbrios regionais, e por outros fatores, como as dificuldades de transporte 
nas grandes cidades, a possibilidade de redução de custos com mão de obra e com a aquisição 
de terrenos para a construção de plantas industriais de grande porte, além da chamada 
“guerra fiscal” (isenção de impostos, doação de terrenos, infraestrutura, etc.) empregada pelos 
municípios e estados para atrair empresas.
Mas há duas condições primordiais para a desconcentração industrial: o transporte eficaz e o 
progresso da ciência e da técnica. As telecomunicações, por exemplo, permitiram a separação 
entre a unidade produtiva e os escritórios de gerenciamento.
Características atuais da industrialização brasileira
A crise provocada pelo alto endividamento externo nos anos 1970 criou forte recessão 
econômica, levando Estado a diminuir sua atuação no desenvolvimento industrial. A década de 
1980 ficou conhecida como a “década perdida”.
Nos anos 1990, houve uma série de privatizações de empresas estatais, nas quais setores 
importantes da indústria nacional foram vendidos a grupos estrangeiros.
A abertura comercial colocou as indústrias brasileiras em uma concorrência mais intensa com as 
indústrias do restante do globo, e uma das estratégias adotadas para enfrentar a concorrência 
externa foi a transferência de unidades produtivas para áreas com mão de obra mais barata e 
sindicatos mais fracos.
Especialização produtiva de algumas regiões
Apesar de a indústria ainda estar fortemente concentrada na Região Sudeste, tem ocorrido um 
significativo aumento da industrialização do Centro-Oeste, liderado pelo setor agroindustrial.
Em alguns casos, a concentração e a especialização em setores proporcionam uma série de 
benefícios para a atividade industrial, como o estímulo a outras indústrias da cadeia produtiva, 
e tornam-se determinantes para uma região, sendo responsáveis pela geração de emprego 
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e pelo dinamismo econômico local, como o setor têxtil de malharia em Blumenau (SC), de 
tecidos sintéticos em Americana, Nova Odessa e Sumaré (SP) e o de lingerie em Nova Friburgo 
e Petrópolis (RJ); o setor calçadista no Vale do Rio dos Sinos (RS), em Juiz de Fora, Uberlândia 
e Uberaba (MG), Birigui e Franca (SP); o setor de equipamentoselétricos em Jaraguá do Sul, 
Blumenau e Itajaí (SC).
Diversificação industrial no Brasil
O parque industrial brasileiro é bastante diversificado e beneficia-se do amplo mercado interno 
e forte potencial exportador. Os principais setores são: automobilístico, autopeças, metalúrgico 
e siderúrgico, alimentício, petroleiro, têxtil, químico e construção civil, setor este importante 
na geração de empregos e no qual o Brasil tem grande domínio tecnológico e matérias-primas 
em abundância, o que explica seu dinamismo.
A economia brasileira a partir de 1985
O Plano Cruzado
Tancredo Neves, eleito indiretamente em 1985, não chegou a ser empossado porque faleceu. 
Nessa eleição, os eleitores foram os parlamentares – deputados federais e senadores – e os 
representantes dos partidos políticos que formavam o Colégio Eleitoral.
Seu vice, José Sarney, que apoiou o regime militar desde seu início, assumiu o cargo de 
presidente em 15 de março do mesmo ano. Durante seu mandato, preocupou-se em 
implementar reformas, visando estabilizar a economia e obter apoio popular.
Embora tenha implantado posteriormente outros três pacotes na tentativa de estabilizar a 
moeda, seu governo ficou marcado pelo primeiro deles, o Plano Cruzado, lançado em 28 de 
fevereiro de 1986. Entre as principais medidas destacavam-se a troca da moeda nacional – mil 
cruzeiros passaram a valer um cruzado – e o congelamento de preços e salários.
Com exceção do mínimo (que subiu 16%), todos os salários foram definidos com base no poder 
de compra médio dos últimos seis meses e acrescidos de um abono de 8%. Essas medidas, 
associadas à manutenção das datas de reajuste das categorias profissionais, ao aumento dos 
prazos de financiamento dos crediários para a compra de bens de consumo e ao controle da 
taxa de câmbio, promoveram rápido aumento no poder de compra dos assalariados.
O plano contou com grande apoio da população e de parcela expressiva de economistas 
dos partidos de oposição. A população foi estimulada a denunciar os estabelecimentos 
comerciais, principalmente supermercados que aumentavam os preços de suas mercadorias, 
desobedecendo ao congelamento imposto pelo plano. As taxas de inflação tiveram uma 
queda vertiginosa, mantendo-se baixas até outubro de 1986, e levaram o PMDB, partido do 
presidente, a eleger os governadores de 22 das 24 unidades da Federação (estados e Distrito 
Federal) então existentes (atualmente são 27).
 
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Com o aumento da demanda, rapidamente começaram a sumir produtos das prateleiras, 
e a escassez – que em alguns casos era real, mas em outros era provocada por fabricantes 
e comerciantes, que se recusavam a vender seus produtos pelo preço congelado – levou à 
cobrança de ágio na comercialização.
Nessa época, como o Brasil possuía uma das economias mais fechadas do mundo ocidental 
(nossa abertura comercial se iniciou em 1990), não havia possibilidade de o governo liberar a 
importação de bens de consumo para combater o aumento dos preços.
No caso da carne, os pecuaristas se recusavam a abater o gado, e a escassez do produto criou 
um mercado paralelo, com a carne sendo vendida a preços muito superiores aos definidos pelo 
congelamento.
O retorno dos reajustes de preços ocorreu com rapidez e, consequentemente, a inflação voltou 
a subir em decorrência da:
 • cobrança de ágio na comercialização de produtos;
 • falta de concorrência dos produtos importados;
 • contínua elevação nas cotações do dólar em relação à moeda nacional – que provocava a 
elevação de preços em todos os produtos importados, como petróleo, trigo e máquinas;
 • manutenção do déficit público, que alimentava novamente a ciranda financeira.
Logo após as eleições de outubro de 1986 (para a escolha de novos governadores, senadores, 
deputados federais e estaduais), foi lançado o Plano Cruzado II, com grandes reajustes nas tarifas 
públicas e forte aumento nos impostos indiretos, reduzindo o poder de compra da população. 
Em fevereiro de 1987 foi abolido o controle oficial de preços e a correção monetária voltou a 
ser mensal, para acompanhar o descontrole inflacionário, cuja consequência é a diminuição 
dos salários reais. Também foi decretada a moratória do pagamento da dívida externa, o que 
bloqueou imediatamente o ingresso de capital estrangeiro no país e criou grandes dificuldades 
de negociação no mercado internacional.
Nos anos seguintes, o governo José Sarney se caracterizou por perda de popularidade e pelo 
lançamento de outros dois planos econômicos (Plano Bresser e Plano Verão), todos com sérios 
problemas para ser postos em prática. Apesar das sucessivas tentativas de controle, uma das 
principais heranças do governo Sarney foi uma altíssima inflação: 53% em dezembro de 1989, 
atingindo 85% em março de 1990, quando o mandato se encerrou.
Ao longo da década de 1980, a ciranda financeira e as altas taxas de inflação, com a 
consequente perda do poder de compra dos salários, foram responsáveis por um período 
de estagnação na produção industrial e de baixo crescimento econômico (segundo o Banco 
Mundial, o PIB brasileiro cresceu em média 2,7% nos anos 1980). A necessidade de controlar 
a inflação e ajustar as contas externas – fortemente comprometidas com o aumento do preço 
do petróleo e das taxas de juros no mercado internacional – havia levado o governo do general 
João Baptista Figueiredo (1979-1985), o último do regime militar, a se preocupar com ajustes 
de curto prazo na política econômica. O mesmo ocorreu na gestão de Sarney. Essa prioridade 
significou uma década inteira sem planejamento econômico de longo prazo, com exceção de 
alguns setores (política de reserva de mercado para informática e incentivo à exportação de 
celulose, por exemplo). Houve, nesse período, uma queda de 5% na participação da produção 
industrial no PIB brasileiro.
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No campo da política econômica e do papel do Estado, o governo Sarney foi responsável por 
um incipiente processo de privatização de empresas estatais, começando a retirar o Estado do 
setor produtivo para concentrar sua ação na fiscalização e na regulamentação. Foram vendidas 
dezessete empresas estatais, das quais as mais importantes foram a Aracruz Celulose, a 
Caraíba Metais e a Eletrossiderúrgica Brasileira (Sibra). A seguir, estudaremos esse tema mais 
detalhadamente.
O Plano Collor
Fernando Collor, eleito em 1990 para suceder Sarney, foi o primeiro presidente a chegar ao 
poder via voto popular após o fim do regime militar. Um dia depois da posse, o novo governo 
lançou um plano de estabilização econômica, que ficou conhecido como Plano Collor, baseado 
no confisco generalizado por dezoito meses dos depósitos bancários em dinheiro superiores 
a 50 mil cruzeiros (cerca de R$ 6.800,00, em valores de dezembro de 2012 usando o IPCA 
como indexador, ou R$ 3.200,00, caso se utilize o dólar como referência). Com isso, a equipe 
econômica esperava reduzir o consumo e, consequentemente, frear a inflação. A falta de 
dinheiro em circulação reduziu a inflação, de 85% ao mês em março, para 14% em abril de 
1990.
A liberação antecipada dos recursos retidos poderia ser feita pelo Ministério da Fazenda, que 
estudava os pedidos caso a caso. Podiam ser liberados depósitos de empresas ara pagamento de 
salários e dinheiro de pessoas doentes que necessitavam de tratamento médico, entre outros 
casos. Como havia exceções que permitiam a liberação dos recursos bloqueados, aumentavam 
as pressões exercidas por políticos e lobistas para obtê-las, o que se tornou grande fonte de 
corrupção. As práticas de corrupção, comandadas pelo tesoureiro da campanha eleitoral de 
Collor, foram amplamente divulgadas pela imprensa. As demais empresas e trabalhadores 
receberam seu dinheiro de volta em dezoito parcelas, que começaram a ser pagas após dezoito 
meses de confisco. Segundo cálculos divulgados na época, o poder de compra do dinheiro 
devolvido havia se reduzido em aproximadamente 40%,uma vez que os índices de reajuste 
utilizados foram menores que os da inflação.
A permissão para a elevação dos preços de alguns serviços privados e tarifas públicas levou 
ao retorno da espiral inflacionária já no início de 1991, antes que o plano completasse seu 
primeiro ano. Os índices da inflação ocorrida após o Plano Collor foram menores que os índices 
anteriores a esse plano porque havia falta de dinheiro em circulação no mercado.
A consequente recessão (em 1992 houve uma queda de 0,5% no PIB) levou a um grande 
aumento do desemprego e da economia informal, uma vez que o plano não promoveu 
crescimento econômico, distribuição de renda, nem combate ao déficit público.
Além do confisco monetário, o Plano Collor apoiava-se em outros três pontos:
 • diminuição da participação do Estado no setor produtivo por meio da privatização de 
empresas estatais (dezoito empresas, com destaque para Usiminas e Embraer) e da 
concessão à iniciativa privada da exploração de rodovias, portos, ferrovias e hidrelétricas, 
entre outros;
 • eliminação dos monopólios do Estado em telecomunicações e petróleo, e fim da 
discriminação ao capital estrangeiro, que, entre outros investimentos, poderia participar 
dos leilões de privatização;
 
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 • abertura da economia ao ingresso de produtos e serviços importados por meio da redução 
e/ou eliminação dos impostos de importação, reservas de mercado e cotas de importação.
Essas medidas tiveram continuidade durante os governos de Itamar Franco (que sucedeu 
Fernando Collor) e Fernando Henrique Cardoso, como veremos adiante.
A abertura comercial, a privatização e as concessões de serviços
A abertura do mercado brasileiro aos bens de consumo e de capital, iniciada em 1990 e 
facilitada pela redução dos impostos de importação, merece uma análise à parte por causa de 
sua influência no processo de industrialização do Brasil. A compra no exterior de máquinas e 
equipamentos industriais de última geração promoveu a modernização do parque industrial 
e o aumento da produtividade, e, portanto, da capacidade de competição no mercado 
internacional; entretanto, a modernização da produção causou grande elevação nos índices de 
desemprego estrutural.
No setor de bens de consumo, a entrada de produtos importados de países que aplicavam 
elevados subsídios às exportações e pagavam baixíssimos salários (com destaque para a China, 
nos setores de calçados, têxteis e de brinquedos) provocou a falência de muitas indústrias 
nacionais, contribuindo para elevar mais ainda o desemprego. Por outro lado, a concorrência 
com mercadorias importadas fez com que a qualidade de muitos produtos nacionais melhorasse 
e provocou significativa redução dos preços, beneficiando os consumidores.
Na indústria automobilística, embora num primeiro momento tenha havido grande redução 
no número de trabalhadores por unidade fabril, verificou-se significativo aumento no número 
de instalações industriais, com a entrada de novas fábricas, que até então não produziam no 
Brasil (Honda, Toyota, Renault, Peugeot e outras), e novos investimentos de outras empresas, 
que já estavam instaladas antes da abertura às importações, como a construção de uma nova 
fábrica da Ford em Camaçari (BA) ou da GM em Gravataí (RS) (observe os dados dos gráficos 
da página seguinte). A abertura econômica propiciou um aumento no número de fábricas e 
uma diversificação de marcas, além de uma dispersão espacial (até então existiam indústrias 
apenas em São Paulo e Minas Gerais), como pode ser observado no mapa da página seguinte. 
Com isso, em 2008, o Brasil transformou-se no quinto produtor mundial de automóveis.
Tanto a privatização de empresas estatais quanto a concessão de exploração dos serviços 
de transporte, energia e telecomunicações a empresas privadas nacionais e estrangeiras 
apresentaram aspectos positivos e negativos, dependendo da forma como foram realizadas as 
transferências e dos problemas relacionados à administração e à fiscalização.
A maioria das empresas privatizadas, quando eram estatais, dependia de recursos do governo 
e não pagava diversos tipos de impostos. Ao privatizá-las, os governos federal, estaduais e 
municipais trocaram uma fonte de prejuízos por uma maior arrecadação de impostos. Por 
exemplo, no setor siderúrgico, a única estatal lucrativa era a Usiminas, que, estrategicamente, 
foi a primeira a ir a leilão, para que os investidores acreditassem na disposição de reforma 
estrutural do Estado brasileiro; atualmente, cerca de 80% do seu capital pertence a investidores 
brasileiros e 20% a investidores japoneses. Todas as demais companhias siderúrgicas – a 
Nacional (CSN), a de Tubarão (CST) e a Paulista (Cosipa, comprada pela Usiminas em 2009), 
entre outras – eram deficitárias. Com isso passaram a ser lucrativas, a pagar altas somas de 
impostos nas três esferas do governo e aumentaram o volume de exportação do país.
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Nos setores de transportes e telecomunicações, além de as empresas serem deficitárias, os 
sistemas estavam muito deficientes e o Estado tinha dificuldade política e baixa capacidade 
de investimento para recuperá-los. As rodovias estavam em péssimo estado de conservação e 
uma linha telefônica era considerada um patrimônio pessoal (três anos antes da privatização 
do sistema Telebrás), chegando a custar 5 mil reais (praticamente 5 mil dólares) no mercado 
paralelo em 1995. Além disso, as tarifas estavam muito defasadas.
Seu valor era estabelecido segundo conveniências políticas e manipulado para que não 
pressionasse as taxas de inflação, o que elevava o déficit público e acabava por alimentar a 
própria inflação.
Com a privatização e a concessão de exploração dos serviços públicos, esses setores receberam 
investimentos privados, se expandiram e passaram a operar em condições melhores que 
anteriormente, à custa de aumento nas tarifas (observe os dados dos gráficos seguintes).
Na década de 1990, os governos eram acusados pelos partidos de oposição de vender o 
patrimônio do Estado e abandonar a infraestrutura nas mãos da iniciativa privada, com claro 
prejuízo para a população. Porém, desde aquela época até os dias atuais, o Estado continua 
legalmente comandando todos os setores concedidos e privatizados por intermédio da ação 
de agências reguladoras: Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional 
de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional do Petróleo (ANP), Agência Nacional de 
Transportes Terrestres (ANTT), entre outras.
 
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Por meio dessas agências, o Estado brasileiro regula e fiscaliza os serviços e controla o valor das 
tarifas praticadas em cada um dos setores. O aumento no preço do pedágio, do pulso telefônico 
ou da energia elétrica obedece às condições estabelecidas nos contratos de concessão. Para 
aumentar os preços, as empresas concessionárias devem cumprir metas de investimento, 
comprovar aumento de custos ou registrar em contrato que o reajuste estará atrelado a algum 
índice de inflação. Em alguns casos, até o percentual de lucro que as empresas podem obter 
está estabelecido em contrato.
Entre os casos de má gestão, tanto por parte do governo quanto das empresas concessionárias, 
destaca--se o da energia elétrica. Em 2001, foi imposto um racionamento à população e, em 
2009 e 2012, ocorreu um colapso no abastecimento que deixou grande parte do país sem 
energia elétrica por algumas horas (conhecido como “apagão”), conforme veremos no capítulo 
seguinte.
Esses fatos se explicam pela falta de planejamento estratégico, fiscalização e investimentos no 
setor. As empresas de telefonia continuam com sérios problemas técnicos e de atendimento 
ao consumidor, prestando serviços com qualidade inferior à de congêneres dos países 
desenvolvidos, onde fica a sede de algumas delas. Não é raro os sistemas entrarem em 
pane e ocorrer desrespeito às normas legais de atendimento ao cliente. Em razão disso, 
frequentemente,as agências reguladoras lavram multas, ou mesmo chegam a proibir a 
expansão do atendimento.
No entanto, a indexação de algumas tarifas públicas causa problemas à população e ao custo 
de produção industrial. Como geralmente os salários não são indexados (os reajustes são 
negociados por setor e sindicato), não acompanham os reajustes das tarifas, que ano a ano 
aumentam seu peso nos orçamentos familiares.
Plano Real
Com a renúncia de Collor, seu vice-presidente, Itamar Franco, assumiu o comando do governo 
brasileiro por pouco mais de dois anos – de outubro de 1992 até o final de 1994. Nos primeiros 
sete meses de seu mandato, três ministros passaram pela pasta da Fazenda, as taxas de inflação 
se mantiveram muito altas (observe o gráfico da página seguinte) e o crescimento econômico 
muito baixo (segundo o Banco Mundial, entre 1990 e 1994, o PIB brasileiro cresceu apenas 
2,2% em média).
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Em maio de 1993, o presidente transferiu seu ministro das Relações Exteriores, Fernando 
Henrique Cardoso, para o Ministério da Fazenda. A intenção era a de colocar no cargo um 
político com livre trânsito entre os vários partidos políticos com representação no Congresso 
Nacional na época.
O governo tentaria iniciar o processo de estabilização econômica por intermédio de uma 
negociação política, conduzida diretamente pelo ministro da Fazenda. A primeira medida 
adotada foi a de cortar três zeros da moeda corrente e passar a chamá-la de cruzeiro real – ato 
ineficiente e de fundo meramente psicológico, que não reduziu a inflação.
O Plano Real, que permitiu controlar a inflação depois de sete pacotes malsucedidos, foi 
lançado em março de 1994 e se baseava na paridade entre a nova moeda, o real, e o dólar, 
com cotação de R$ 1,00 = US$ 1,00.
Para controlar o câmbio, o governo elevou as taxas de juros, com a intenção de atrair capitais 
especulativos do exterior e aumentar as reservas de dólares do Banco Central. Na lógica desse 
plano, à medida que a estabilização da moeda se consolidasse e o Congresso Nacional aprovasse 
as reformas estruturais necessárias ao controle do déficit público (principalmente a reforma 
da previdência, a tributária e a trabalhista), haveria maior ingresso de capitais produtivos e 
o Banco Central poderia reduzir as taxas de juros sem comprometer o desenvolvimento 
econômico.
Antes da substituição do cruzeiro real pelo real, foi criada a Unidade Real de Valor (URV), cuja 
cotação diária acompanharia a cotação da moeda norte-americana.
A partir de 1 de março de 1994, a URV passou a valer um dólar e a população deveria 
acompanhar a variação de preços na cotação das duas moedas: o cruzeiro real, que perdia 
valor diariamente, e a URV, cujo valor deveria variar pouco. Na prática, a inflação em cruzeiro 
real era a inflação brasileira, mas a população não deveria aceitar aumentos de preços em 
URVs, porque isso significaria inflação em dólar, que nos Estados Unidos era inferior a 5% ao 
ano. Depois de três meses, quando considerou aceitáveis os índices de inflação em URV, o 
governo substituiu o cruzeiro real pelo real e garantiu a conversão inicial da nova moeda pela 
cotação R$ 1,00 = US$ 1,00.
Estrutura e distribuição da indústria brasileira
Em 2010, a atividade industrial era responsável por 23% do PIB brasileiro. Segundo o 
IBGE (Sistema de Contas Nacionais 2005-2009), as atividades mais importantes em 2009 
e responsáveis por quase 75% do total do valor da transformação industrial do país foram: 
fabricação de produtos alimentícios e bebidas (21%), fabricação de veículos automotores 
(12%), produtos químicos e farmacêuticos (11%), derivados de petróleo e biocombustíveis 
(10%), metalurgia e produtos de metal (10%), máquinas, equipamentos e materiais elétricos 
(7%), informática, eletrônicos e ópticos (3%). Porém, embora os produtos não industrializados 
tenham obtido grande crescimento entre 2000 e 2010 – de US$ 9 bilhões para US$ 73 bilhões, 
principalmente por causa do aumento da importação de matérias-primas e de alimentos pela 
China e outros países emergentes –, a exportação de produtos de alta e média tecnologias 
cresceu de cerca de US$ 20 bilhões para US$ 47 bilhões nesse mesmo período.
 
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Essa modernização do parque industrial ganhou impulso com a instalação de diversos 
parques tecnológicos (ou tecnopolos) espalhados pelo país, que estimulam a parceria 
entre as universidades, as instituições de pesquisa e as empresas privadas, e buscam maior 
competitividade e desenvolvimento de produtos.
No Brasil, os parques tecnológicos aparecem em todas as regiões, num total de 55 espalhados 
pelo país em 2012. Os principais estão localizados em:
 • São Paulo, Campinas e São José dos Campos (SP); Santa Rita do Sapucaí e Viçosa (MG); e 
Rio de Janeiro (RJ), no Sudeste;
 • Recife (PE); Fortaleza (CE); Campina Grande (PB); e Aracaju (SE), no Nordeste;
 • Porto Alegre (RS); Florianópolis (SC); e Cascavel (PR), no Sul;
 • Brasília (DF), no Centro-Oeste;
 • Manaus (AM) e Belém (PA), no Norte.
Entre os aspectos positivos da dinâmica atual da indústria brasileira, podemos destacar:
 • grande potencial de expansão do mercado interno, com desconcentração de produção e 
consumo (que vem se fortalecendo pelas políticas de transferência de renda promovidas 
pelos governos federal, estaduais e municipais);
 • o aumento nas exportações de produtos industrializados, mesmo que em ritmo inferior ao 
dos produtos primários, em virtude das crescentes importações chinesas;
 • o aumento na produtividade;
 • a melhora da qualidade dos produtos.
A indústria ainda enfrenta, porém, vários problemas que aumentam os custos e dificultam a 
maior participação no mercado externo, tais como:
 • preço elevado da energia elétrica;
 • problemas de logística: deficiências e altos preços nos transportes;
 • baixo investimento público e privado em desenvolvimento tecnológico;
 • baixa qualificação da força de trabalho – como citado na epígrafe deste capítulo, mão de 
obra barata não é mais vantagem;
 • elevada carga tributária;
 • barreiras tarifárias e não tarifárias impostas por outros países à importação de produtos 
brasileiros.
Devido a esses problemas, a partir da metade da década passada, a participação percentual 
do setor industrial na composição do PIB vem sofrendo reduções, como vimos de forma mais 
abrangente no capítulo anterior.
A abertura da economia brasileira na década de 1990 facilitou a entrada de muitos produtos 
importados, forçando as empresas nacionais a se modernizar e incorporar novas tecnologias ao 
processo produtivo para concorrer com as empresas estrangeiras. Como observamos na tabela 
acima, apesar da modernização, continua havendo aumento no contingente de trabalhadores 
na indústria de todos os gêneros, porém, como vimos, esse aumento não acompanhou o ritmo 
de ingresso de mão de obra no mercado de trabalho.
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Desconcentração da atividade industrial
Em função de fatores históricos e de novos investimentos em infraestrutura de energia e 
transportes, entre outros, o parque industrial brasileiro vem se desconcentrando e apresenta 
uma maior dispersão espacial dos estabelecimentos industriais em regiões historicamente 
marginalizadas. Observe a tabela abaixo, que revela a redução relativa da participação do 
Sudeste e o aumento das demais regiões no valor da produção industrial.
Embora desde o início do século XX o eixo São Paulo-Rio de Janeiro seja responsável por mais 
da metade do valor da produção industrial brasileira, até a década de 1930, a organização 
espacial das atividades econômicas era dispersa. As atividades econômicas regionais 
progrediam de forma quase totalmente autônoma. A região Sudeste, onde se desenvolvia o 
ciclo do café, quase não interferia nem sofria interferência das atividades econômicas que se 
desenvolviam no Nordeste (cana, tabaco, cacau e algodão) ou noSul (carne, indústria têxtil 
e pequenas agroindústrias de origem familiar). As indústrias de bens de consumo, a maioria 
ligada aos setores alimentício e têxtil, escoavam a maior parte da sua produção apenas em 
escala regional. Somente um pequeno volume era destinado a outras regiões, não havendo 
significativa competição entre as empresas instaladas nas diferentes regiões do país, 
consideradas até então arquipélagos econômicos regionais.
Com a crise do café e o impulso à industrialização, comandada pelo Sudeste, esse quadro 
se alterou. Intensificou-se um processo de integração dos mercados regionais, comandado 
pelo centro econômico mais dinâmico do país, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro, interligando 
os arquipélagos econômicos regionais. Houve um aumento da participação de produtos 
industriais do Sudeste nas demais regiões do país, o que levou muitas indústrias, principalmente 
nordestinas, à falência.
Além de terem se iniciado historicamente com mais força no Sudeste, as atividades industriais 
tenderam a concentrar-se nessa região por causa de dois outros fatores básicos:
 • a complementaridade industrial: as indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo 
às automobilísticas; as petroquímicas, próximo às refinarias; etc.;
 • a concentração de investimentos públicos no setor de infraestrutura industrial: 
pressionados pelos detentores do poder econômico, os governantes costumam atender às 
suas reivindicações. O governo gasta menos concentrando investimentos em determinada 
região em vez de distribuí-los pelo território nacional, sobretudo no início do processo de 
industrialização, quando os recursos eram mais escassos.
 
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A primeira grande ação governamental para dispersar o parque industrial aconteceu em 1968, 
quando foi criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e instalado um 
polo industrial naquela cidade, o que promoveu grande crescimento econômico. A seguir, 
como resultado dos Planos Nacionais de Desenvolvimento dos governos Médici (1969-1974) 
e Geisel (1974-1979), no final da década de 1970 e início da seguinte, começaram a ser 
inauguradas as primeiras usinas hidrelétricas nas regiões Norte e Nordeste: Tucuruí, no rio 
Tocantins (PA); Sobradinho, no rio São Francisco (BA); e Boa Esperança, no rio Parnaíba (PI). 
Quando o governo passou a atender ao menos parte das necessidades de infraestrutura das 
regiões historicamente marginalizadas, começou a haver um processo de dispersão do parque 
industrial pelo território, não apenas em escala nacional, mas regional, com industrialização 
dispersa pelo território de várias regiões e estados brasileiros.
Além da alocação de infraestrutura, ao longo da década de 1990, as indústrias passaram a se 
dispersar em busca de mão de obra mais barata e onde os sindicatos são menos atuantes, 
provocando a intensificação da guerra fiscal entre estados e municípios que reduzem impostos 
e oferecem outras vantagens, como doação de terrenos, para atrair as empresas.
Mesmo no estado de São Paulo, o mais equipado do país quanto à infraestrutura de energia e 
transportes, historicamente houve maior concentração de indústrias na Região Metropolitana 
de São Paulo.
Entretanto, atualmente, seguindo uma tendência já verificada em países desenvolvidos, tem 
ocorrido um processo de deslocamento das indústrias em direção às cidades médias em 
todas as regiões do país, como as que receberam a instalação dos parques tecnológicos. Isso é 
possível graças ao grande desenvolvimento da informática e à modernização da infraestrutura 
de produção de energia, transporte e comunicação, criando condições de especialização 
produtiva por intermédio da integração regional. As regiões tendem, atualmente, a se 
especializar em poucos setores da atividade econômica e a buscar em outros mercados (do 
Brasil ou do exterior) as mercadorias que satisfaçam as necessidades diárias de consumo da 
população.
O Brasil agropecuarista
A atual configuração espacial das atividades agropecuárias e da zona rural é resultado da ação 
da sociedade sobre a natureza ao longo da História, o que ocorreu de modo muito desigual 
entre os diversos países e regiões do planeta.
Há países, como a França, e regiões, como o Oeste Paulista, onde é utilizada tecnologia de 
ponta na produção agrícola; em outros, como vários países da África Subsaariana e áreas do 
Sertão nordestino, ainda se pratica agricultura de subsistência, com técnicas rudimentares de 
produção.
As condições socioeconômicas, os aspectos físicos e ambientais, os diferentes hábitos 
alimentares, o nível de desenvolvimento tecnológico, a estrutura legal, o destino da produção, 
o modelo de política agrária, os índices de produtividade, entre outros fatores, determinam a 
configuração socioespacial e a sustentabilidade ambiental das atividades agropecuárias.
Nas atividades agropecuárias, tanto a diversidade quanto a alteração das relações de trabalho 
com a natureza são resultado da existência de diferentes sistemas de produção.
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Revolução Verde
A partir da década de 1950, os Estados Unidos e a ONU incentivaram a implantação de 
mudanças na estrutura fundiária e nas técnicas agrícolas em vários dos então chamados países 
subdesenvolvidos, muitos dos quais ex-colônias recém-independentes. Em plena Guerra Fria, 
a intenção dos norte-americanos era evitar o surgimento de focos de insatisfação popular por 
causa da fome. Eles temiam pela instalação de regimes socialistas em alguns países do então 
Terceiro Mundo. Além do mais, a indústria química, que se desenvolveu voltada para o setor 
bélico, apresentava certa capacidade ociosa nesse período.
Esse conjunto de mudanças técnicas na produção agropecuária que ficou conhecido por 
Revolução Verde consistia na modernização das práticas agrícolas (utilização de adubos 
químicos, inseticidas, herbicidas, sementes melhoradas) e na mecanização do preparo do solo 
– do cultivo e da colheita – visando ao aumento da produção de alimentos.
Com esse objetivo os Estados Unidos ofereceram financiamentos para a importação dos 
insumos, maquinaria e capacitação de técnicos e professores para as faculdades e cursos 
técnicos agrícolas. Os governos dos então países subdesenvolvidos passaram a promover 
pesquisa e divulgação de técnicas de cultivo entre os agricultores e a fornecer créditos 
subsidiados.
Entretanto, a proposta era a adoção do mesmo padrão de cultivo em todas as regiões onde 
se implantou a Revolução Verde, desconsiderando a variação das condições naturais, das 
necessidades e possibilidades dos agricultores. Como consequência, a médio e longo prazos 
essas inovações causaram impactos socioeconômicos e ambientais muito graves. Apesar de 
terem proporcionado aumento de produtividade por área cultivada e crescimento considerável 
da produção de alimentos − principalmente de cereais e tubérculos −, isso ficou restrito às 
grandes propriedades que possuíam terras em condições ideais para a modernização − relevo 
plano para possibilitar a mecanização e condições climáticas favoráveis, entre outros. Em 
países onde não foi realizada a reforma agrária e cujos trabalhadores agrícolas não tinham 
propriedade familiar, sobretudo na África e no Sudeste Asiático, a mecanização da produção 
diminuiu a necessidade de mão de obra, contribuiu para o aumento dos índices de pobreza e 
provocou êxodo rural.
O sistema mais utilizado pelos países que seguiram as premissas da Revolução Verde foi a 
monocultura, o que resultou em sérios impactos ambientais, como mostra o texto da página 
seguinte.
Além dos desequilíbrios ambientais causados pela monocultura, a modernização substituiu as 
inúmeras variedades vegetais por algumas poucas. Grandes indústrias iniciaram o processo de 
controle sobre o comércio e a pesquisa que modificam a semente dos vegetais cultivados e 
passaram a controlar toda a cadeia de insumos. Como essas sementes modificadas não são 
férteis, os agricultoressão obrigados a comprar novas sementes a cada safra se quiserem 
obter boa produtividade. Isso se tornou um grande obstáculo para os pequenos agricultores, 
pois trouxe a necessidade de compra e reposição constante de sementes e fertilizantes que se 
adaptem melhor a elas, aumentando muito o custo de produção.
 
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A agropecuária no Brasil
Como vimos no capítulo anterior, em 2012 a agropecuária brasileira, considerada em sua 
totalidade desde as culturas de roça até os complexos agroindustriais, foi responsável por 6% 
do PIB do país. Contudo, tendo em conta toda a cadeia produtiva envolvida nos agronegócios 
(insumos, tratores, irrigação, transportes, energia, etc.), sua participação alcançou 37% de 
toda a produção econômica nacional. ela tem, assim, importante efeito multiplicador no 
crescimento do PIB e na pauta de exportações. Desde a década de 1980 até os dias atuais, o 
crescimento do PIB agrícola foi maior que o dos demais setores da economia.
Para entender os sistemas agrícolas existentes no brasil, vamos estudar neste capítulo o uso da 
terra (veja o gráfico ao lado), o tamanho e a distribuição das propriedades rurais, as relações 
de trabalho, a reforma agrária e a diversidade da produção agropecuária na atualidade.
Quando se analisa a modernização da agricultura, e comum que se pense apenas na 
modernização das técnicas – substituição de trabalhadores por maquinas, uso intensivo de 
insumos e desenvolvimento da biotecnologia – e que se esqueça de observar as consequências 
dessa modernização nas relações sociais de produção e na qualidade de vida da população.
O campo brasileiro foi dominado pela grande propriedade ao longo da História. Entre 
as décadas de 1950 e 1980, a monocultura e a mecanização foram estimuladas como 
modelo de desenvolvimento e crescimento econômico por sucessivos governos. Enquanto 
isso, a agricultura familiar esteve relegada a segundo plano na formulação das políticas 
agrícolas, resultando no deslocamento de grandes contingentes de pequenos proprietários 
e trabalhadores rurais do campo para as cidades, devido as dificuldades de produção 
e comercialização. Aqueles agricultores que não conseguiram acompanhar o ritmo das 
inovações tecnológicas tiveram dificuldades de competir no mercado porque obtinham baixa 
produtividade e, consequentemente, baixa renda. Essa e uma situação que perdura até os dias 
de hoje em muitas regiões do pais.
Diferentemente do ocorrido em países desenvolvidos, em nosso pais muitos dos empregos 
no setor urbano -industrial eram mal remunerados e não proporcionavam condições 
adequadas de moradia, alimentação e transporte nem outras necessidades cotidianas básicas. 
Os agricultores dos países europeus ocidentais e dos Estados Unidos que migraram para as 
cidades o fizeram predominantemente por fatores de atração (maior densidade de comercio 
e serviços, salários mais altos, melhor qualidade de vida, etc.). No Brasil os fatores de repulsão 
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(concentração de terras, baixos salários, desemprego, etc.) foram os que mais contribuíram, e 
ainda contribuem, para explicar o movimento migratório rural-urbano. E impossível entender 
as grandes desigualdades sociais do Brasil, que apresenta uma das maiores concentrações 
de renda do mundo, sem considerar esse fato. A opção pelo fortalecimento da agricultura 
familiar e a realização de reforma agraria, sobretudo nas décadas em que a população era 
predominantemente rural, poderiam ter possibilitado melhores condições de vida a milhões 
de famílias.
Uma das consequências da modernização das técnicas e a completa subordinação da 
agropecuária ao capital industrial – além da valorização das terras agricultáveis –, que promove 
a concentração das propriedades e a intensificação do êxodo rural. A rápida e cada vez maior 
acumulação de capital de um lado, por parte dos grandes produtores, e o estabelecimento 
de precárias relações de trabalho de outro lado determinam a dupla face da modernização 
agrícola brasileira.
Fronteira Agrícola do Brasil
A fronteira agrícola representa uma área mais ou menos definida de expansão das atividades 
agropecuárias sobre o meio natural. Geralmente, é nessa zona que se registram casos de 
desmatamento ilegal e de conflitos envolvendo a posse e o uso da terra sobre as chamadas terras 
devolutas, espaços naturais pertencentes à união e que não são delimitados por propriedades 
legais, servindo de moradia para índios e comunidades tradicionais e familiares.
A localização dessa área de expansão foi se modificando ao longo da história. Durante o 
período após o descobrimento, quando a Coroa Portuguesa decidiu implementar uma 
produção agrícola no país, a zona litorânea composta predominantemente pela Mata Atlântica 
constituiu-se, então, como a primeira fronteira agrícola brasileira.
Posteriormente, sobretudo ao longo do século XX, as práticas agrícolas expandiram-se de forma 
mais intensa para o interior do território nacional, em função tanto da política de Marcha para 
o Oeste, implementada por Getúlio Vargas, quanto da política de substituição de importações 
promovida por Juscelino Kubitschek.
Nesse ínterim, a região de expansão passou a ser a região Centro-Oeste, com frentes migratórias 
de produtores advindos do Sul e do Sudeste do Brasil. O resultado foi a transformação de 
estados como Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em verdadeiros celeiros, produtores 
principalmente de grãos, com destaque para a soja voltada para a exportação. Além disso, 
houve também uma intensiva devastação do Cerrado, que conta atualmente com menos de 
20% de suas reservas originais.
Atualmente, a fronteira agrícola brasileira encontra-se em direção à região Norte do país, 
registrando uma grande quantidade de conflitos na área da Floresta Amazônica, com 
destaque para o caso Doroth Stang, uma ativista estadunidense naturalizada brasileira que foi 
assassinada por fazendeiros na cidade de Anapu (PA).
A frente de expansão agrícola é costumeiramente realizada pelos posseiros, que iniciam um 
processo de cultivo sobre as terras devolutas, envolvendo agricultura familiar e de subsistência, 
com uma produção, em muitos casos, organizada em cooperativas.
 
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No entanto, essa frente de expansão costuma ser rapidamente sucedida por uma frente 
pioneira, representada por grandes fazendeiros, que, através do processo de grilagem 
(falsificação de documentos e títulos de propriedades), afirmam serem eles os donos das terras 
utilizadas por posseiros e até mesmo grupos indígenas.
Portanto, a principal necessidade do meio rural atualmente envolve uma ação pública que de 
fato resolva os problemas do uso da terra no Brasil, controlando os conflitos e fiscalizando as 
fraudes, haja vista que mais da metade dos documentos de posse de terra no país é ilegal, 
conforme pesquisa realizada pelo geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira.
Expansão recente da fronteira agrícola no Brasil
A fronteira agrícola vem se expandindo ao longo das quatro últimas décadas, principalmente 
pelo uso intensivo de conhecimento e tecnologia. Procura-se, aqui, fazer uma breve discussão 
da expansão da fronteira agropecuária no Brasil entre os anos de 1990 e 2013, buscando 
identificar os desafios logísticos estruturais ao fomento do agronegócio. Vários estudos 
apontam para o crescimento da produtividade agropecuária ao longo do tempo. Embora este 
crescimento seja significativo, há uma enorme concentração produtiva. Frente ao cenário 
de crescimento, é preciso compreender os padrões regionais, no intuito de assessorar 
o planejamento de políticas públicas de desenvolvimento regional, inclusive em regiões 
tradicionalmente desfavorecidas.
Em relação aos produtos de maior valor agregado, em qual se daria a direção da expansão 
da fronteira agropecuária no Brasil e quais seriam os principais gargalos relacionados ao 
crescimento produtivo? Norteado por este questionamento, busca-se realizaruma análise de 
economia regional, calculando indicadores que possam mensurar a dinâmica da espacialização 
produtiva. Além disso, procura-se investigar a dimensão da tecnologia na capacidade 
de poupar recursos escassos, no caso o fator produtivo terra. Por um lado, é nítido que há 
uma expansão da produção em direção ao Cerrado brasileiro (cerca de 22% da superfície do 
território brasileiro) com a incorporação do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), 
notadamente na produção de grãos. Por outro, tem-se uma intensificação da atividade 
pecuária em regiões tradicionais – no Sul do país, seja na suinocultura, seja na avicultura – com 
a inclusão das regiões limítrofes do Centro-Oeste e do Pará, com a bovinocultura.
O agronegócio intensivo em conhecimento foi organizado com a criação da Empresa Brasileira 
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1973. Em 1960, o Brasil era, inacreditavelmente, um 
país importador de alimentos, como milho, arroz, cereais e carne de frango. Porém, a técnica 
de calagem transformou o solo ácido do Cerrado em terras aráveis. A expansão agrícola exigiu 
a “tropicalização” da soja e a inoculação de bactérias na semente buscou capturar nitrogênio 
do solo, permitindo mais produção com menos fertilizantes. Como resultado, o preço marginal 
da terra caiu e a mecanização se expandiu. Além disso, observou-se a utilização frequente e 
crescente do plantio direto, prática que contribui para a preservação dos recursos naturais e 
que melhora a fertilidade do solo. Com a adaptação de cultivares de soja mais produtivas e 
com um ciclo produtivo menor, foi possível antecipar a produção de safrinha (segunda safra), 
o que estimulou bastante o aumento produtivo. Ressalte-se que a soja sempre foi um insumo 
importante na produção de carnes e, concomitantemente, a melhoria das pastagens e os 
cruzamentos genéticos multiplicaram o rendimento pecuário global, reduzindo o tempo médio, 
por exemplo, de abate bovino por animal (em torno de dezoito a vinte meses). A produtividade 
também se elevou na avicultura e na suinocultura.
As inovações induzidas institucionalmente foram decisivas para tornar o Brasil um grande 
exportador líquido de alimentos de 1990 em diante. Pelo mapa 1, nota-se que, como já 
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observado por Vieira Filho, a expansão da fronteira agrícola nas quatro últimas décadas se 
deu via incorporação do bioma do Cerrado na produção e pela aproximação dos limites da 
região amazônica. Esta movimentação trouxe, por um lado, uma preocupação com relação à 
sustentabilidade ambiental, mas, por outro, sinalizou uma dinâmica renovada de crescimento 
para o Matopiba, principalmente a partir de 2000. De qualquer forma, é preciso compreender 
o crescimento produtivo e a sua especialização no tempo, no intuito de definir fatos estilizados 
que possam assessorar o modelamento de políticas públicas voltadas ao fomento do 
agronegócio.
Entre 1990 e 2013 têm-se os percentuais por regiões da produção de cultivos selecionados 
(soja, milho, cana, café e algodão), bem como o percentual do número de efetivo na produção 
de animais (bovino, suíno e frango). Pode-se verificar (tabela 1) que as células em destaque 
mostram os maiores percentuais apresentados no referido ano para o tipo de atividade 
estudada. Ao se analisar a produção de soja, milho e algodão, nota-se uma mudança espacial. 
Em relação à soja e ao milho, a expansão se dá do Sul em direção ao Centro-Oeste com 
crescimento recente também no Matopiba. Nesse caso, em contraposição à região Sul, os 
ganhos de escala produtiva aliados às novas tecnologias de cultivo foram essenciais para esta 
mudança. Ao se estudar a produção de algodão, verificou-se uma reestruturação produtiva 
significativa no período, concentrando-se no Centro-Oeste (65,7%) e no Matopiba (30,8%). 
Segundo Vieira Filho (2014a), a tecnologia de sementes geneticamente modificadas vem 
crescendo em várias regiões brasileiras de forma heterogênea, incluindo a produção de soja, 
em 2002, de algodão, em 2004, e de milho, em 2008, ano em que os cultivos transgênicos foram 
autorizados pela legislação. No que se refere à produção de cana-de-açúcar, não há alteração 
da principal região produtora, que continua sendo o Sudeste, basicamente o estado de São 
Paulo – com mais da metade da produção nacional. Marginalmente, a produção nordestina 
sucroalcooleira perde sua representatividade pela produção mecanizada do Centro-Oeste. No 
que tange ao café, a participação do Sudeste (cerca de 87,5% da produção) é intensificada com 
o principal produtor sendo o estado de Minas Gerais, que ampliou sua produção em quase 
20%. Na atividade pecuária, há mudanças, mas estas não se mostram significativas. Observou-
se relativo deslocamento intraregional no Centro-Oeste da produção bovina entre os estados 
do Mato Grosso do Sul para os de Goiás e de Mato Grosso, bem como simultânea intensificação 
da produção de suínos na região Sul e concentração da produção de frangos no Sudeste e Sul 
do país.
 
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Apenas para uma dimensão da importância do setor agropecuário para o Centro-Oeste, 
pode-se ver a expressiva participação de mercado na produção das principais commodities 
(algodão, cana, milho e soja). Nota-se que, ao longo dos anos de 1990 e 2013, a participação 
foi crescente. No que se refere ao algodão, cerca de 66% da produção nacional vêm do Centro-
Oeste. Percentuais elevados são igualmente observados nesta região na produção de soja e 
milho, aproximando-se de 50%. Quanto ao percentual da produção de cana-de-açúcar, no 
mesmo período, o peso regional do Centro-Oeste praticamente triplicou, embora fique em 
torno de 17%. São Paulo ainda se mantém como a principal região produtora de cana, mas o 
Centro-Oeste já compete em escala com a produção nordestina, que é pouco intensificada em 
tecnologia. Quanto ao efetivo de bovinos, o Centro-Oeste detém praticamente um terço do 
rebanho nacional (33,6%).
Pela tabela 2, no que tange ao abate de bovinos, o Centro-Oeste ainda possui parcela elevada. 
Quando distribuída por estado, tem-se uma ligeira regionalização dos abates, que saem do 
Mato Grosso do Sul e de Goiás para o Mato Grosso. De fato, em termos macroeconômicos, 
a bovinocultura brasileira, que se localizava no Sul e no Sudeste, ao se incorporar às novas 
fronteiras agrícolas, foi direcionada ao Centro-Oeste, primeiramente no Mato Grosso do Sul. 
Posteriormente, com o incremento da produção de cana-de-açúcar nesse último estado, 
a produção pecuária se deslocou na direção da região amazônica, não só em Mato Grosso e 
Rondônia, mas também para o Pará.
As expansões da agropecuária no Mato Grosso (soja, milho, algodão e criação bovina) e da 
pecuária no Pará (criação bovina) representaram uma ameaça ao desmatamento da Floresta 
Amazônica de 1990 até meados da década de 2000. Todavia, com a pressão da sociedade civil 
organizada junto ao setor público, os indicadores de desmatamentos foram declinantes após 
a criação do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM), 
em 2004. A maior fiscalização do poder público associada à pressão da sociedade (moratória 
da soja e ações para responsabilizar a cadeia produtora de carnes na gestão ambiental das 
propriedades rurais)4 foi essencial para o ponto de inflexão da taxa de desmatamento na 
Amazônia Legal, o qual pode ser visto no gráfico 1.
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De qualquer forma, é fato que o setor agropecuário sofreu enorme crescimento na direção 
da região central do Brasil. Porém, é necessário realizar uma análise mais acurada. Conforme 
a tabela 3, tem-se o cálculo do coeficiente de redistribuição da produção em três períodos 
distintos: i) de 1990 a 2000; ii) de 2000 a 2013; e iii) de 1990 a 2013. Vale lembrar que, quanto 
mais próximo de 1, maior é a redistribuição produtiva no espaço e no tempo. Ao contrário, 
menor será a redistribuição. A atividade

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