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1 Anti-inflamatórios: AIEs Síntese e Liberação Os glicocorticoides não são armazenados na suprarrenal, mas são sintetizados sob a influência do ACTH circulante secretado na adeno-hipófise e liberados de forma pulsátil para a corrente sanguínea. Embora eles sejam sempre presentes, existe um ritmo circadiano bem definido em sua secreção nos humanos sadios, cuja concentração sanguínea é maior durante a manhã e sofre gradual redução ao longo do dia, atingindo o ponto mais baixo à noite. O precursor dos glicocorticoides é o colesterol. Mecanismo de Ação Os efeitos relevantes dos glicocorticoides iniciam-se pelas interações dos fármacos com receptores intracelulares específicos de glicocorticoides, pertencentes à superfamília dos receptores nucleares. Os fármacos mais comumente usados são hidrocortisona, prednisolona e dexametasona. Efeitos Metabólicos e Sistêmicos Gerais Os principais efeitos metabólicos ocorrem no metabolismo de carboidratos e proteínas. Os glicocorticoides causam tanto redução da captura e utilização da glicose quanto aumento da gliconeogênese, resultando em tendência à hiperglicemia. Ocorre aumento concomitante do armazenamento de glicogênio, que pode ser resultado da secreção de insulina em resposta ao aumento de açúcar no sangue. De modo geral, há síntese reduzida de proteínas e aumento da quebra de proteínas, particularmente no músculo, o que pode levar à atrofia do tecido. A administração de grandes doses de glicocorticoides, por um longo período de tempo, resulta na redistribuição da gordura corporal característica da síndrome de Cushing. Os glicocorticoides tendem a produzir balanço negativo de cálcio, por reduzirem a absorção de Ca2+ no trato gastrointestinal e por aumentarem sua eliminação pelos rins. Esse processo pode causar osteoporose. Carboidratos: redução da captação e utilização de glicose, e aumento da gliconeogênese; o que causa tendência à hiperglicemia. Proteínas: aumento do catabolismo e redução do anabolismo. Lipídeos: efeito permissivo sobre os hormônios lipolíticos e redistribuição da gordura, como se observa na síndrome de Cushing. Efeitos de Retroalimentação Negativa na Adeno-hipófise e no Hipotálamo Os glicocorticoides endógenos e exógenos exercem efeito de retroalimentação negativa na secreção de CRF e ACTH, inibindo a secreção de glicocorticoides endógenos e, potencialmente, levando à atrofia do córtex da suprarrenal. Hipotálamo e adeno-hipófise: efeito de retroalimentação negativa, resultando em 2 liberação reduzida de glicocorticoides endógenos. o Sistema cardiovascular: redução da vasodilatação, redução da exsudação de líquidos. o Sistema musculoesquelético: redução da atividade osteoblástica e aumento da atividade osteoclástica. Efeitos Anti-inflamatórios e Imunossupressores Os glicocorticoides endógenos mantêm um tônus anti-inflamatório de baixo grau e são secretados em resposta a estímulos inflamatórios. Os glicocorticoides exógenos são os fármacos anti-inflamatórios por excelência, e, quando administrados terapeuticamente, inibem as manifestações do sistema imune, tanto inato como adaptativo. Revertem praticamente todos os tipos de reações inflamatórias causadas por patógenos invasores, por estímulos químicos ou físicos, ou por respostas imunes desencadeadas inadequadamente, como ocorre na hipersensibilidade ou na doença autoimune. As ações sobre as células inflamatórias incluem: o Menor saída de neutrófilos dos vasos sanguíneos e redução da ativação de neutrófilos, macrófagos e mastócitos, seguida de redução da transcrição gênica de fatores de adesão celular e citocinas; o Redução geral da ativação de células T- helper (Th), redução da expansão clonal das células T, e “troca” da resposta imune do tipo Th1 para Th2; o Redução da função dos fibroblastos, menor produção de colágeno e glicosaminoglicanos; As ações nos mediadores das respostas inflamatória e imune incluem: o Produção reduzida de prostanoides devido à expressão reduzida de COX-2; o Produção reduzida de várias citocinas, incluindo IL-1, IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, TNF-α, fatores de adesão celular e GM-CSF; o Redução da concentração de componentes do complemento no plasma; o Redução da produção de óxido nítrico induzido pela sintetase de óxido nítrico 2; o Redução da liberação de histamina pelos basófilos; o Redução da produção de imunoglobulina G (IgG); o Síntese aumentada de fatores anti- inflamatórios, como IL-10, receptor solúvel de IL-1 e anexina-1. Sugere-se que as ações anti-inflamatórias e imunossupressoras dos glicocorticoides endógenos tenham um papel crucial contrarregulatório, pois previnem a ativação excessiva da inflamação e de outras reações poderosas de defesa que poderiam, elas mesmas, se descontroladas, ameaçar a homeostase. Inflamação aguda: redução do recrutamento e da atividade dos leucócitos; Inflamação crônica: redução da atividade das células mononucleares, redução da angiogênese, fibrose diminuída; Tecidos linfoides: redução da expansão clonal das células T e B e redução da ação das células T secretoras de citocinas. Troca da resposta Th1 para Th2. 3 Redução da produção e da ação de muitas citocinas, inclusive interleucinas, fator de necrose tumoral-α e do fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos; Produção reduzida de eicosanoides; Produção reduzida de IgG; Redução dos componentes do complemento no sangue; Aumento da liberação de fatores anti- inflamatórios como interleucina-10, IL-1ra e anexina-1. Efeitos Adversos A terapia de reposição com glicocorticoides em doses baixas normalmente não traz problemas, mas em doses elevadas ou administração prolongada ocorrem efeitos adversos graves. Os principais efeitos adversos são: o Supressão da resposta a infecções ou lesões; o Síndrome de Cushing; o Osteoporose (redução da função dos osteoblastos e aumento da atividade dos osteoclastos); o Hiperglicemia; o Desgaste muscular e fraqueza muscular; o Inibição do crescimento (em crianças); o Euforia, depressão e psicose; o Glaucoma, aumento da pressão intracraniana e aumento da incidência de catarata. A retirada abrupta desses fármacos após terapia prolongada pode resultar em insuficiência aguda da suprarrenal, devida a supressão da capacidade do paciente para sintetizar corticosteroides. Aspectos Farmacocinéticos Os glicocorticoides podem ser administrados por via oral, sistêmica ou intra-articular; administrados em aerossóis para o interior do trato respiratório; como gotas, nos olhos, ou em forma de spray, no nariz; aplicados em cremes ou pomadas sobre a pele; ou como enemas de espuma no trato gastrointestinal. A administração tópica reduz a possibilidade de efeitos tóxicos sistêmicos, a não ser que sejam empregadas em quantidades muito grandes. A hidrocortisona tem meia-vida plasmática de 90 minutos, embora seus principais efeitos biológicos tenham latência de 2 a 8 horas. A inativação biológica ocorre nos hepatócitos e em outros locais. Usos Clínicos Os glicocorticoides são utilizados em terapia de reposição em pacientes com insuficiência adrenal, no tratamento de doenças como: o asma o eczema o conjuntivite alérgica o rinite o reações alérgicas graves o artrite reumatoide o doenças inflamatórias intestinais o anemia hemolítica o púrpura trombocitopênica idiopática Eles são usados também na prevenção da doença do enxerto versus hospedeiro após transplante de órgãos ou medula óssea; em doenças neoplásicas, como a doença de Hodgkin e a leucemia linfocítica aguda; e para reduzir o edema cerebral em pacientes com tumores cerebrais metastáticos ou primários (dexametasona).