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1 Atualização em Curativos e Coberturas 2 www.eduhot.com.br Sumário História ........................................................................................................................ 4 Florence Nightingale, A Precursora Da Enfermagem Moderna .............................. 4 Evolução Da Tecnologia De Curativos ..................................................................... 6 Uso De Novas Tecnologias Para O Tratamento De Feridas .................................... 7 O Papel Da Enfermagem No Cuidado Ao Paciente Com Feridas ........................... 8 Feridas ........................................................................................................................ 9 Curativos................................................................................................................... 15 Critérios Gerais Para Realização De Curativos ...................................................... 15 Tipos De Curativos ................................................................................................... 16 Tipos De Cicatrização .............................................................................................. 17 Fatores Que Interferem Na Cicatrização ................................................................. 18 Abordagem Das Feridas .......................................................................................... 20 Aspectos A Serem Considerados Na Realização De Um Curativo ....................... 21 Requisitos Para Um Curativo .................................................................................. 22 Finalidades Do Curativo .......................................................................................... 23 Objetivos Do Curativo .............................................................................................. 24 Técnicas Básicas ..................................................................................................... 25 Técnicas E Procedimentos Em Curativos E Feridas ............................................. 25 Técnicas De Limpeza E Desbridamento De Feridas .............................................. 25 Objetivos Da Limpeza .............................................................................................. 26 Métodos De Limpeza ................................................................................................ 27 Conceitos Relacionados À Limpeza ....................................................................... 28 Atualização em Curativos e Coberturas 3 www.eduhot.com.br Substancias Utilizadas Na Limpeza Das Feridas ................................................... 28 Desbridamento ......................................................................................................... 36 Técnicas De Desbridamento.................................................................................... 38 Avaliação Da Ferida A Ser Limpa E Desbridada .................................................... 43 Coberturas E Novas Tecnologias Para O Cuidado De Ferida ............................... 45 Escolha De Coberturas ............................................................................................ 46 Tipos De Coberturas ................................................................................................ 48 Finalidades Das Coberturas .................................................................................... 49 Especificações Das Coberturas .............................................................................. 50 Coberturas Disponíveis No Mercado ...................................................................... 72 Enfermagem Na Abordagem De Curativos E Coberturas ..................................... 78 Como O Enfermeiro Deve Avaliar Uma Ferida? ..................................................... 80 Cuidados No Tratamento Das Feridas .................................................................... 81 Quais São Os Aspectos A Serem Considerados Na Realização Docurativo?.....81 Referências ............................................................................................................... 83 Atualização em Curativos e Coberturas 4 www.eduhot.com.br HISTÓRIA Ao longo da História, a humanidade desenvolveu diferentes concepções filosóficas, míticas, religiosas e científicas em relação ao corpo humano, cada uma com sua própria explicação, de acordo com o momento histórico e com a realidade sociocultural de cenários diversos. Em um breve caminhar, buscar-se-á ressaltar o corpo ferido no contexto histórico e seu significado. Para isso, será adotada como referencial a teoria geral do imaginário, de Durand (1999) a qual permite a explicação dos mitos e a compreensão dos sentidos e dos significados encontrados na linguagem e no pensamento do homem através dos períodos históricos, tornando-se o mito como um revelador dos sentidos. Nota-se que a arte de curar sempre esteve vinculada à religiosidade, ao misticismo e à utopia, mas seja qual for o ângulo de visão, científico ou religioso, a natureza humana e sua criação são fatos transcendentais, repletos de mistérios, descobertas e, principalmente, de questionamentos. Ciência e religião tentam explicar o mundo de formas diversas e ora se opõem, ora se completam em suas teorias. Seja qual for o cenário, pode-se observar que as feriadas sempre ocuparam lugar de destaque nas civilizações e, certamente, os curativos quer eram feitos primitivamente com toda a sorte de substâncias, algumas delas inacreditáveis, como o esterco de animais e teias de aranhas. Nesse sentido. As plantas medicinais, a argila e a água representaram uma verdadeira evolução no tratamento de feridas naqueles tempos remotos, persistindo até os dias de hoje. Florence Nightingale, A Precursora da Enfermagem Moderna Chegando ao mundo contemporâneo, vamo-nos diante dos séculos XIX e XX com pouca evolução no tratamento de feridas, até que um novo ícone despontou no campo de feridas e dos curativos: nascida em Florença, na Itália, Florence Nightingale (1820-1910) enfermeira e ambientalista, precursora da enfermagem moderna, revolucionou não somente a saúde como também a Fonte:https://www.researchgate.net/figure/Flo rence-Nightingale-as-the-Lady-with-the- Lamp-During-the-Crimean-War-she-walked- through_fig1_326654339. 2017 https://www.researchgate.net/figure/Florence-Nightingale-as-the-Lady-with-the-Lamp-During-the-Crimean-War-she-walked-through_fig1_326654339 https://www.researchgate.net/figure/Florence-Nightingale-as-the-Lady-with-the-Lamp-During-the-Crimean-War-she-walked-through_fig1_326654339 https://www.researchgate.net/figure/Florence-Nightingale-as-the-Lady-with-the-Lamp-During-the-Crimean-War-she-walked-through_fig1_326654339 https://www.researchgate.net/figure/Florence-Nightingale-as-the-Lady-with-the-Lamp-During-the-Crimean-War-she-walked-through_fig1_326654339 Atualização em Curativos e Coberturas 5 www.eduhot.com.br reorganização dos hospitais, causando impacto nas áreas administrativas e assistencial. Seu destaque maior foi como pioneira no tratamento dos feridos na Guerra da Criméia (1854-1856) em Scutari, na Turquia, evento este que criou grande demanda de curativos. Após ter constatado que a falta de higiene e as doenças infectocontagiosas eram responsáveis pelo alto índice de óbitos entre os soldados feridos, Florence lançou mão dos princípios de gestão ambiental, arejando os ambientes, removendo os leitos de locais contaminados para locais limpos, higienizando os doentes, utilizando boa dieta, roupas limpas e removendo os focos de infecções. Com isso, conseguiu reduzir a taxa de mortalidade do hospital de campanha de 42,7% para 2,2%. Como Florence cuidava das feridas? Ela utilizava principalmente, os princípios de higiene e limpeza rigorosa dos ambientes,evitando assim a proliferação de microrganismo infecciosos; promovia a higiene mental para os portadores de feridas e amputados, todos tinham o direito de escrever cartas para seus parentes e isso trazia mais tranquilidade, melhorando seu sistema imunológico. No cuidado direto, a enfermeira promovia higiene corporal dos pacientes e a limpeza das feridas, enfaixando-as em seguida. Repouso, higiene mental, corporal e dos ambientes, técnicas de posicionamento, alimentação correta e controle das infecções foram critérios que ela utilizou, critérios indispensáveis até os dos dias de hoje, por sua coerência e efetividade, e que devem ser colocadas em prática, independentemente de qualquer tipo de medicamento ou de cobertura que se possa utilizar para cuidar de feridas. Fonte: https://brewminate.com/florence-nightingale-and-the-crimean-war/. 2018 https://brewminate.com/florence-nightingale-and-the-crimean-war/ Atualização em Curativos e Coberturas 6 www.eduhot.com.br Evolução da Tecnologia de Curativos No decorrer do século XX, evoluíram cada vez mais os procedimentos e as técnicas assépticas. Mas foi a partir da década de 1980 que vários fatos incrementaram os processos de assepsia e controle das infecções nas instituições de saúde, tais como a obrigatoriedade do uso de equipamentos de proteção individual (EPI), a criação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) o treinamento de profissionais, a utilização de isolamento de contato com líquidos corporais e potencialmente infectados, como sangue, urina, fezes, escarro, saliva, drenagem de feridas, etc. a epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) influenciou o direcionamento dessas ações. Foi também nessa década qie teve início uma verdadeira revolução na produção e ampla utilização de coberturas e curativos industrializados. Exemplo disso são os curativos com hidrocoloide com agentes em formato gelatinoso, geralmente carboximetilcelulose sódica (NaCMC), pectina e gelatina que surgiram como coberturas amplamente utilizadas em feridas. Os hidrocoloides atuam por interação com os exsudatos, formando um composto úmido gelatinoso entre o curativo e o leito da ferida. Esses curativos promovem o desbridamento autolítico, otimizando assim, a formação do tecido de granulação e também auxiliam na diminuição da dor, embora os mecanismos que lhes conferem esse atributo ainda não estejam bem elucidados. Talvez a maior revolução no tratamento de feridas tenha ocorrido com a descoberta de que é a umidade, e não o ressecamento do leito da ferida, o fator que favorece a cicatrização. Por que curativos úmidos? Diferentemente do que foi preconizado em outras épocas, atualmente se reconhece que a manutenção do leito da ferida em meio ao meio úmido tem diversas vantagens no processo de cicatrização, quando comparado ao meio seco, como por exemplo: ➢ Hidratação dos tecidos; ➢ Aceleração dos processos de angiogênese, epitelização e granulação; ➢ Formação de barreiras protetora contra microrganismos; ➢ Promoção da remoção de tecido necrótico e fibrina; ➢ Diminuição da dor; ➢ Menor risco de trauma no curativo. Dentre os recursos colocados à disposição dos profissionais de saúde e dos Atualização em Curativos e Coberturas 7 www.eduhot.com.br especialistas pela tecnologia moderna para a prevenção e o tratamento de feridas, destacam-se os hidropolímeros, as coberturas de hidrogel e o alginato de cálcio, cada um com suas qualidades, especificidades e indicações precisas. Esses tipos de curativos caracterizam-se por: ➢ Manter a temperatura constante e o meio úmido no leito da ferida; ➢ Funcionam pela manutenção da umidade; ➢ Absorvem e retém o excesso de exsudato em sua estrutura porosa, que se expande, moldando-se ao leito da ferida. É importante ressaltar que todos os estudos atuais comprovam que o meio ambiente e o estado geral do paciente têm relação direta com a cicatrização e que seu nível de imunidade, nutrição, presença de comorbidades, idade e outros fatores são decisivos para que haja sucesso no tratamento, independentemente da cobertura utilizada. Uso de Novas Tecnologias para o Tratamento de Feridas A prática de cuidados de lesões cutâneas, ao longo do tempo, que passou por profundas transformações, desafiando o conhecimento de todos aqueles que se dedicam à arte de cuidar. Nessa retrospectiva, pode-se observar que é inegável que os avanços tecnológicos na área de Saúde revolucionaram o setor, trazendo maiores perspectivas tanto para a saúde como para as tecnologias disponíveis para o cuidado. Porém, não se pode perder de vista a subjetividade do cuidado e a relação humanizada entre profissionais de saúde e pacientes, fatores estes tão importantes nos dias de hoje quanto antigamente. Aparelhos e técnicas inovadoras salvam muitas vidas, mas é certo também que esses métodos de tratamento nem sempre são acessíveis e adequados a todas as pessoas; prova disso é que no Brasil, a rede de atenção primária à saúde ainda utiliza rotineiramente substâncias inadequadas, inespecíficas e até proscritas para o tratamento de feridas. Quanto ao uso de novas tecnologias para o tratamento de feridas, o desafio Atualização em Curativos e Coberturas 8 www.eduhot.com.br para os profissionais de saúde hoje está em saber usá-las adequadamente, sem aceita-las passivamente e sim refletindo e criticando as questões que permeiam sua utilização e os impactos por elas gerados. As tecnologias de cuidado não se restringem apenas aos recursos materiais, mas também estão relacionadas aos recursos humanos, saberes e práticas colocados a serviço do cuidado. Assim, desde o toque até a utilização de um equipamento, todos fazem parte dessas tecnologias, sendo considerados indispensáveis, principalmente, a interação, a comunicação e o acolhimento. Isso significa que, além dos equipamentos, devem ser incluídos os conhecimentos e as ações humanizadas necessárias para operá-los, em todos os lugares, em qualquer época e a qualquer momento. O PAPEL DA ENFERMAGEM NO CUIDADO AO PACIENTE COM FERIDAS A atuação do enfermeiro deverá enfatizar como ele e a equipe de enfermagem cuidam das pessoas com diversos tipos de feridas em diferentes situações, seja na urgência ou emergência, no cotidiano da prática clínica em situações agudas ou crônicas. A enfermagem deve oferecer ao mesmo tempo, a assistência individualizada, diferenciada e holística que caracteriza tão bem o seu ponto de vista profissional, permanecendo 24 horas ao lado do paciente, numa contínua reavaliação de suas ações. A assistência de enfermagem será sistematizada através de planejamento, implementação e avaliação dos cuidados, com base no diagnóstico de enfermagem feito mediante levantamento e identificação de todas as necessidades básicas afetadas do paciente e do seu grau de dependência em relação à enfermagem. O enfermeiro é responsável pela manutenção do equilíbrio e pelo bem-estar do paciente, promovendo todos os cuidados diários para o atendimento de suas necessidades básicas, como conforto, segurança, higiene, alimentação, oxigenação, prevenção de infecções, implementação da terapêutica, entre outros, Atualização em Curativos e Coberturas 9 www.eduhot.com.br independentemente do seu diagnóstico clínico. Por isso, a importância da identificação do grau de dependência do paciente através do diagnóstico de enfermagem. No caso de pacientes com feridas, por ser um procedimento de alta complexidade, o enfermeiro está respaldado legalmente para tratá-las, pela Lei Federal do Exercício Profissional nº 7.498 de 1986, e pelas resoluções do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). De acordo com essa legislação, o enfermeiro tem autonomia para prescrever produtos que são utilizados na prevenção de úlceras, na higienizaçãoe proteção da pele, bem como alguns tipos de coberturas, conforme padronização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Conforme preconiza a Resolução COFEN nº 271 de 2002, cabe ao enfermeiro prescrever medicamentos e solicitar exames de rotina e complementares, se estiverem vinculados aos programas de saúde pública e/ou a protocolos aprovados em instituições de saúde. Caso possua formação específica, o enfermeiro poderá também tratar seus pacientes com feridas por meio de acupuntura e terapias não convencionais. FERIDAS Ferida é o resultado de uma variedade ilimitada de ofensas traumáticas a qualquer parte do corpo; feridas são rupturas estruturais e fisiológicos dos tegumentos que estimulam que as respostas reparadoras. Conforme a intensidade do trauma, a ferida pode ser considerada superficial (quando atinge somente estruturas da superfície) ou profunda (quando vasos sanguíneos mais calibrosos, músculos, nervos, fáscias, tendões, ligamentos ou ossos são atingidos). Ao longo dos tempos, o tratamento de feridas agudas e crônicas obteve uma melhora considerável, o que deve ser atribuído ao melhor entendimento do processo de cicatrização, assim como da anatomia e fisiologia da pele. A cicatrização das feridas, ocasionadas por lesão de agentes mecânicos, térmicos, químicos e bacterianos, decorre do esforço dos tecidos para restaurar as estruturas normais e sua função. O processo de cicatrização é restabelecido quando a continuidade da superfície e a força da pele são suficientes para a atividade normal. O conhecimento dos eventos Atualização em Curativos e Coberturas 10 www.eduhot.com.br fisiológicos da cicatrização de feridas é de grande importância para a dermatologia. A regeneração da pele é a restauração perfeita da arquitetura do tecido preexistente. O entendimento das etapas da cicatrização de feridas é muito importante para o seu tratamento. A reparação de feridas passa pelas seguintes fases básicas: • Inflamatória; • Proliferativa (que inclui reepitelização, síntese da matriz e neovascularização); • Maturação. Caracterização dos tipos de tecidos encontrados nas feridas De modo geral, os tecidos encontrados numa ferida podem ser vitalizados, quando vascularizados, de cor viva, clara, brilhante e sensível a dor, coloração escura e odor. Muitas feridas são consideradas mistas por conter mais de um tio de tecido, recobrindo a lesão ao mesmo tempo, nesse caso, deve-se considerar o tipo de tecido predominante no leito da lesão. Alguns dos tecidos mais frequentemente encontrados em uma ferida são descritos a seguir, para o seu reconhecimento e melhor compreensão. Tecido de Granulação É um dos tecidos mais importantes do processo de cicatrização, tem coloração rósea ou avermelhada, aparência brilhante e úmida, é rico em colágeno, o que resulta da proliferação das células endoteliais. É formado basicamente por fibroblastos e vasos sanguíneos novos, que surgem como resultado do processo de angiogênese. Esses vasos conferem o aspecto granuloso avermelhado ao tecido de granulação, ele se localiza na superfície da lesão, é indolor, porem sangra ao mínimo toque. Por isso durante a realização da limpeza da feria e do curativo, esse tecido não pode ser friccionado, removido ou tocado, mais deve ser protegido e mantido em meio úmido para proliferar, preenchendo a cavidade até, finalmente, torna-se uma cicatriz de tecido fibroso. Atualização em Curativos e Coberturas 11 www.eduhot.com.br Tecido de Epitalização Aparece na ferida como um novo tecido róseo ou brilhante (pele), que se desenvolve a partir das bordas, ou como “ilhas” na superfície da lesão. Quando o tecido conjuntivo acaba de preencher o ferimento, resta apenas uma pequena porção da superfície ainda descoberta. É o processo de reepitalização que tecerá o acabamento ou arremate final. Após esse processo e rapidamente as células epiteliais crescem, garantindo a continuidade do revestimento. A princípio, a camada epitelial de revestimento é extremamente fina e deixa transparecer o tecido conjuntivo, que é avermelhado e mais denso. Com o passar do tempo, o epitélio torna-se mais espesso, sedimentando o processo. Tecidos Necróticos A necrose é o resultado da morte celular e tecidual, com consequente perda da Atualização em Curativos e Coberturas 12 www.eduhot.com.br função orgânica e do metabolismo celular de forma irreversível, tendo como característica um tecido de coloração preta, marrom ou acastanhada, que adere ao leito ou às bordas da ferida e pode se tornar mais endurecido ou amolecido, dependendo de sua natureza. Além disso, os tecidos necróticos podem esconder grande quantidade de exsudato purulento sob seu manto, evidenciando uma ferida infectada. A classificação da necrose é baseada na forma que o tecido adquire com a morte celular. A importância dessa classificação é a possibilidade de identificar a causa da infecção, o que facilita o tratamento. Os principais tipos de necrose incidentes nas feridas são os seguintes: ❖ Esfacelo, necrose de liquefação - tipo de necrose que acomete a lesão, composta de bactérias, leucócitos, fragmentos celulares, exsudatos, fibrina, elastina e colágeno. Sua aparência é a de um tecido fibrinoso ou minucioso, de consistência amolecida, semifluida ou liquefeita, com coloração amarelada, marrom, acinzentada ou acastanhada, que tanto pode estar firmemente aderido à ferida como também frouxamente aderido a ela. Geralmente, é associada à infecção bacteriana e se forma a partir do processo de invasão leucocitária e enzimática, ambas ocorrem como reação imunológica do organismo. Com a liberação em cascata de grande quantidade de enzimas lisossômicas, dá-se a digestão do tecido necrótico, ocasionando a destruição completa da arquitetura tecidual. Isso resulta na formação de uma massa residual, amorfa, por isso o termo liquefação. Atualização em Curativos e Coberturas 13 www.eduhot.com.br ❖ Escara ou necrose coagulativa – embora o termo escara tenha sido usado durante muito tempo como sinônimo de úlcera por pressão, ele se refere a um tipo determinado de tecido necrótico, a necrose coagulativa ou de coagulação – que é o padrão mais comum de necrose – tendo como causa principal a isquemia local. O termo coagulação refere-se ao aspecto físico semelhante à albumina coagulada que o tecido assume após a morte celular, devido à desnaturação de proteínas citoplasmática e a perda de água. Com desidratação, a célula necrótica passa do estado líquido para o sólido, dando origem a um tecido morto que se apresenta opaco, turvo, seco e com coloração que vai do amarelo-pálido ao acinzentado. ❖ Maceração ou Tecido Macerado – tecido esbranquiçado que surge nos bordos da lesão, das pregas cutâneas e das fístulas quando há excesso de umidade da ferida por aumento de exsudação. A permanência de curativos por longo tempo, sem substituição, contribui para a umidade excessiva. Portanto, ao ser observado que a cobertura está extremamente saturada, deve-se aumentar a frequência da limpeza e a troca do curativo para evitar que a pele fique macerada. Cuidados de higiene especiais devem ser observados nos pacientes acamados ou imobilizados, principalmente naqueles que apresentam incontinência urinária e/ou fecal. Atualização em Curativos e Coberturas 14 www.eduhot.com.br ❖ Necrose Caseosa – é um tipo de necrose que está relacionado às infecções tuberculosas, tendo como características o aspecto similar ao de um queijo, tornando-se friável, amolecido e como coloração que varia do esbranquiçado ao acinzentado. ❖ Necrose Gangrenosa – a necrose gangrenosa, ou simplesmente gangrena,é provocada por isquemia ou pela ação de microrganismos; devido às suas características, pode levar a amputação do membro por ela acometido. Nesse tipo de necrose, os tecidos sofrem modificações por agentes externos, como, por exemplo, ar ou bactérias. Ela pode ser úmida ou seca, dependendo da quantidade de água nela existente. A forma seca ocorre quando há perdas de líquidos por evaporação, insuficiência de nutrientes ou quando os tecidos sofrem a ação de substâncias químicas, tornando-se endurecidos e escuros, tendendo à mumificação. Por outro lado, a forma úmida associa-se, Atualização em Curativos e Coberturas 15 www.eduhot.com.br normalmente, à proliferação de microrganismos presentes na lesão. A gangrena exala odor pútrido e frequentemente apresenta formação de bolhas gasosas. Esse tipo também pode ser definido como a evolução de uma necrose de coagulação, e não como um tipo isolado de necrose. CURATIVOS Processo que envolve desde o procedimento de LIMPEZA até a seleção da COBERTURA específica para determinada lesão. OBJETIVANDO AUXILIAR no tratamento da ferida ou prevenir a colonização dos locais de inserção de dispositivos invasivos, sejam diagnósticos ou terapêuticos. O curativo deve ser realizado de forma asséptica, com o manuseio correto das pinças e a manutenção da técnica asséptica. O paciente com feridas deve receber tratamento diferenciado, considerando-se que, geralmente, se encontra fragilizado. A AUTO-ESTIMA afetada, a dura e prolongada recuperação, a perspectiva das complicações e sequelas são fantasmas que acompanham seu tratamento. A técnica aplicada durante o curativo deve atender aos princípios que otimizem o processo de cicatrização. CRITÉRIOS GERAIS PARA REALIZAÇÃO DE CURATIVOS A pele é o maior órgão de absorção em extensão do corpo humano e apresenta três camadas: epiderme, derme e hipoderme ou tecido subcutâneo. Nosso organismo é formado por mecanismos superficiais e profundos, que servem como base para a resposta imune e dificultam a penetração, a implementação e a multiplicação de microrganismos. Eles são barreiras mecânicas responsáveis pela Atualização em Curativos e Coberturas 16 www.eduhot.com.br integridade da pele e das mucosas, constituídas pelas próprias microbiotas destas. A ferida representa uma ruptura na continuidade da pele de qualquer segmento corporal, externo ou interno, originada por agentes físicos, químicos, mecânicos e também biológicos, podendo acarretar danos celulares e tissulares. Quaisquer que sejam as origens, causas e consequências de uma ferida, o foco prioritário de atenção deve ser o seu portador e todos os seus aspectos, biopsicossociais e espirituais, sempre lembrando que essa ferida necessita da intervenção terapêutica de uma equipe multidisciplinar para prevenir agravos, reduzir os danos e favorecer a revitalização tecidual, ações que permitirão o seu retorno à sociedade o mais rápido possível. Tipos de Curativos Os primeiros curativos que foram desenvolvidos tinham como única finalidade proteger as lesões. Esses curativos são chamados de passivos, e são usados até hoje. No entanto, as coberturas para feridas evoluíram e surgiram os curativos ativos. Os modernos curativos hidro ativos e bioativos criam um ambiente ótimo para a cura da lesão e também liberam substâncias que potencializam o processo de cicatrização. Dessa forma, eles aceleram a regeneração e restabelecem a função tecidual mais rapidamente. Os curativos podem ser classificados: Passivos - são aqueles que simplesmente ocluem e protegem a ferida, não valorizando sua atuação nem as demandas da lesão. A gaze é um exemplo. Interativos - participam do controle ambiental da ferida, favorecendo a restauração do tecido. Polímeros, filmes, espumas, hidrogéis, hidrocoloides, entre outros, são exemplos disso. Bioativos - estimulam diretamente substâncias ou reações de cascata da cicatrização, como os fatores de crescimento e o uso de fitoterápicos (barbatimão). Atualização em Curativos e Coberturas 17 www.eduhot.com.br Abertos - as feridas são limpas e recebem medicação, porém sem cobrir o local da lesão, mantêm a ferida exposta. Oclusivo - não permite trocas entre a ferida e o ambiente, ou seja, impede a entrada de ar e absorve completamente os fluidos, evitando a formação de crostas; Semioclusivo - permite que a ferida “respire” e capta o exsudato, mantendo os líquidos eliminados fora do contato com a ferida; Oclusivos secos - são os fechados com gaze ou compressa, com a intenção de proteger a ferida. Oclusivos úmidos - a ferida é fechada com gaze ou compressa umedecida com soro fisiológico, cremes, pomadas ou soluções prescritas. Oclusivos compressivos - depois de feitos os cuidados no leito da lesão, é mantida a compressão por meio de bandagens ou cintas elásticas sobre a ferida. Usados em casos de hemorragia, evisceração e outras. Tipos de Cicatrização Existem três formas pelas quais uma ferida pode cicatrizar, que dependem da quantidade de tecido lesado ou danificado e da presença ou não de infecção: primeira intenção, segunda intenção e terceira intenção (fechamento primário retardado). ➢ Primeira intenção: é o tipo de cicatrização que ocorre quando as bordas são apostas ou aproximadas, havendo perda mínima de tecido, ausência de infecção e mínimo edema. A formação de tecido de granulação não é visível. Exemplo: ferimento suturado cirurgicamente (Figura 2). ➢ Segunda intenção: neste tipo de cicatrização ocorre perda excessiva de tecido com a presença ou não de infecção. A aproximação primária das bordas não é possível. As feridas são deixadas abertas e se fecharão por meio de contração e epitelização. ➢ Terceira intenção: designa a aproximação das margens da ferida (pele e subcutâneo) após o tratamento aberto inicial. Isto ocorre principalmente quando há presença de infecção na ferida, que deve ser tratada primeiramente, para então ser suturada posteriormente. Atualização em Curativos e Coberturas 18 www.eduhot.com.br Fatores que interferem na cicatrização Vários fatores locais e gerais podem interferir em maior ou menor grau no processo de cicatrização, entretanto em muitos deles o cirurgião pode interferir para otimizar o resultado final. Fatores locais Os fatores locais são relacionados às condições da ferida e como ela é tratada cirurgicamente (técnica cirúrgica). ➢ Vascularização das bordas da ferida: A boa irrigação das bordas da ferida é essencial para a cicatrização, pois permite aporte adequado de nutrientes e oxigênio. Entretanto, a boa vascularização depende das condições gerais e comorbidades do paciente, bem como do tratamento dado a esta ferida. ➢ Grau de contaminação da ferida: uma incisão cirúrgica realizada com boa técnica e em condições de assepsia tem melhor condição de cicatrização do que um ferimento traumático ocorrido fora do ambiente hospitalar. O cuidado mais elementar e eficiente é a limpeza mecânica, remoção de corpos estranhos, detritos e tecidos desvitalizados. ➢ Tratamento das feridas: assepsia e antissepsia, técnica cirúrgica correta (diérese, hemostasia e síntese), escolha de fio cirúrgico (que cause mínima reação tecidual), cuidados pós-operatórios adequados (curativos e retirada dos PRIMEIRA INTENÇÃO SEGUNDA INTENÇÃO PRIMEIRA INTENÇÃO Atualização em Curativos e Coberturas 19 www.eduhot.com.br pontos), são alguns dos aspectos importantes a serem observados em relação ao tratamento das feridas. Fatores gerais Os fatores gerais estão relacionados às condições clínicas do paciente, e estas podem alterar a capacidade do paciente de cicatrizar com eficiência. ➢ Infecção: é provavelmente a causa mais comum de atraso na cicatrização. Se a contagem bacteriana na ferida exceder105 microrganismos/g de tecido ou se qualquer estreptococo B-hemolítico estiver presente, a ferida não cicatriza por qualquer meio, como suturas primárias, enxertos ou retalhos. ➢ Idade: quanto mais idoso o paciente menos flexível são os tecidos. Há uma diminuição progressiva de colágeno. ➢ Hiperatividade do paciente: a hiperatividade dificulta a aproximação das bordas da ferida. O repouso favorece a cicatrização. ➢ Oxigenação e perfusão dos tecidos: doenças que alteram o fluxo sanguíneo normal podem afetar a distribuição dos nutrientes das células, assim como a dos componentes do sistema imune do corpo. Essas condições afetam a capacidade do organismo de transportar células de defesa e antibióticos, o que dificulta o processo de cicatrização. O fumo reduz a hemoglobina funcional e leva à disfunção pulmonar, o que reduz o aporte de oxigênio para as células e dificulta a cura da ferida. ➢ Nutrição: uma deficiência nutricional pode dificultar a cicatrização, pois deprime o sistema imune e diminui a qualidade e a síntese de tecido de reparação. As carências de proteínas e de vitamina C são as mais importantes, pois afetam diretamente a síntese de colágeno. A vitamina A contrabalança os efeitos dos corticóides que inibem a contração da ferida e a proliferação de fibroblastos. A vitamina B aumenta o número de fibroblastos. A vitamina D facilita a absorção de cálcio e a E é um co-fator na síntese do colágeno, melhora a resistência da cicatriz e destrói radicais livres. O zinco é um co-fator de mais de 200 metaloenzimas envolvidas no crescimento celular e na síntese protéica, sendo, portanto, indispensável para a reparação dos tecidos. ➢ Diabetes: a diabetes melito prejudica a cicatrização de ferida em todos os estágios do processo. O paciente diabético com neuropatia associada e Atualização em Curativos e Coberturas 20 www.eduhot.com.br aterosclerose é propenso à isquemia tecidual, ao traumatismo repetitivo e à infecção. ➢ Medicamentos: Os corticosteroides, os quimioterápicos e os radioterápicos podem reduzir a cicatrização de feridas, pois interferem na resposta imunológica normal à lesão. Eles interferem na síntese proteica ou divisão celular agindo diretamente na produção de colágeno. Além do mais, aumentam a atividade da colagenase, tornando a cicatriz mais frágil. ➢ Estado imunológico: nas doenças imunossupressoras, a fase inflamatória está comprometida pela redução de leucócitos, com consequente retardo da fagocitose e da lise de restos celulares. Pela ausência de monócitos a formação de fibroblastos é deficitária. Além destes fatores acima mencionados, longos períodos de internação hospitalar e tempo cirúrgico elevado são também aspectos complicadores importantes para o processo de cicatrização. Abordagem das Feridas Quando surge uma ferida, qualquer que seja a sua etiologia, a integridade da pele é alterada, existindo uma solução de continuidade. Imediatamente após a ruptura da pele, o processo de cicatrização é iniciado, dividindo-se em três fases: 1ª. FASE INFLAMATÓRIA: Essa fase começa no momento da lesão. As plaquetas, hemácias e fibrinas, trazidos pela corrente sanguínea, facilitam as trocas. O coágulo protege a lesão da contaminação. A lesão tecidual ocasiona a liberação de histamina, serotonina e bradicinina, que causam vasodilatação, aumentando o fluxo sanguíneo, o que ocasiona sinais flogísticos, como calor e rubor. O edema é ocasionado pela maior permeabilidade capilar, que aumenta o extravasamento de líquido do meio intra para extracelular. A resposta inflamatória é facilitada por mediadores bioquímicos, que aumentam a permeabilidade vascular, da mesma forma que os de ação curta, como a histamina, a serotonina e os mais duradouros, como a bradicinina e a prostaglandina. Na fase inflamatória, os primeiros componentes do sistema imune a chegarem na ferida são os monócitos e os neutrófilos, que são os responsáveis pela fagocitose Atualização em Curativos e Coberturas 21 www.eduhot.com.br de corpos estranhos. Posteriormente ocorre a ação dos macrófagos, que ativam fibroblastos e células endoteliais 2ª. FASE PROLIFERATIA OU FIBROBLÁSTICA: Nessa fase, ocorre a formação dp tecido de granulação, composto por novos vasos sanguíneos, a partir de brotos endoteliais, fibroblastos, macrófagos, um arcabouço de colágeno que está ainda em formação, ácido hialurônico e fibronectina. Esse processo se inicia 72 horas após a lesão e prolonga-se por até 2 a 3 semanas. O colágeno ´´e produzido por fibroblastos, ficando responsável pela consistência e força da cicatriz e formando a matriz celular. O colágeno é o material responsável pela sustentação e pela força tensil da cicatriz, produzido e degradado continuamente pelos fibroblastos. Posteriormente, ocorre a epitalização por meio da migração de queratinócitos para as bordas da ferida. 3ª. FASE DE REMODELAÇÃO OU MATURAÇÃO: Nessa fase, ocorre o aumento da resistência; no início da terceira semana do processo de cicatrização, há um equilíbrio entre a produção e a degradação de fbras de colágenos. Caso ocorra desequilíbrio nessa fase, forma-se cicatrizes queloidianas ou hipertróficas. Após um ano, a força tensil é estabilizada, mas nessa fase permanece por todo o período de existência da ferida. ASPECTOS A SEREM CONSIDERADOS NA REALIZAÇÃO DE UM CURATIVO Entre os critérios para definir a cobertura ideal a ser utilizada estão: ➢ Proporcionar umidade adequada ao leito da ferida; ➢ Proteger a ferida contra as agressões do meio externo; Atualização em Curativos e Coberturas 22 www.eduhot.com.br ➢ Remover o excesso de exsudação para evitar a maceração; ➢ Promover temperatura adequada no leito da ferida; ➢ Ser de fácil utilização, aplicação e manejo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Enfermagem em Feridas e Estética (Sobenfe) os princípios básicos para a realização de um curativo são: ✓ Limpar com álcool a 70% o local onde será colocado o material; ✓ Higienizar as mãos antes e depois o procedimento; ✓ Comunicar ao paciente o que será feito; ✓ Utilizar luvas estéreis para retirar a cobertura secundária; ✓ Limpar a ferida com soro fisiológico a 0,9%; ✓ Utilizar seringa de 20 ml e agulha 40x12 para a limpeza da lesão; ✓ Não secar o leito da lesão; ✓ Utilizar coberturas que mantenham o ambiente favorável à cicatrização (úmido); ✓ Ocluir com adesivos hipoalergênicos; ✓ Observar as reações do paciente; ✓ Registrar o procedimento; ✓ Desbridar, se necessário; ✓ Preencher túneis e cavidades; ✓ Utilizar cobertura para a realização do curativo de acordo com o tecido; ✓ Proteger as bordas da lesão; ✓ Não utilizar substâncias tóxicas. Requisitos para um curativo Os princípios mais importantes a serem observados nas coberturas são: ➢ Permitir as trocas gasosas; ➢ Fornecer isolamento térmico; ➢ Ser impermeável aos microrganismos; ➢ Estar livre de substâncias estranhas e toxinas contaminantes; ➢ Ter boa capacidade de absorção. Principais requisitos: Atualização em Curativos e Coberturas 23 www.eduhot.com.br ✓ Boa tolerância térmica, pois a mudança da temperatura ppode prejudicar o processo de cicatrização no leito da ferida, ocasionando a vasoconstricção ou vasodilatação; ✓ Proporcionar conforto ao paciente. O curativo deve estar bem aderido à pele para não causar irritação, prurido e desconforto térmico. Ressalta-se também que a finalização da técnica do curativo deve ser bem feita, demonstrando cuidado, limpeza e conhecimento técnico-científico; ✓ Promover a cicatrização. Para isso, é importante que a cobertura utilizada promova a angiogênese – processo de desenvolvimento dos vasos sanguíneos do tecido de granulação e da reepitelização da ferida. É necessário que tanto o organismo como a área afetada criem condições favoráveis para aresolução da ferida; ✓ Boa absorção para garantir a drenagem das secreções, a fim de que o leito da ferida não seja um meio de cultura, favorecendo o crescimento de microrganismo. ✓ Proteger contra infecções (impermeabilidade às bactérias); ✓ Falta de adesão à ferida. É importante que o leito da ferida esteja úmido para promover a formação do tecido de granulação e também para que não provoque traumas durante a retirada do curativo; ✓ Permeabilidade ao raio-X. ✓ Uso justificado tanto do ponto de vista ecológico quanto do ponto de vista econômico. Finalidades do curativo ✓ Remover corpos estranhos e quaisquer objetos e partículas que liberem toxinas que possam contaminar a ferida. ✓ Reaproximar bordas separadas, a fim de que a cicatrização ocorra por primeira intenção, com resposta inflamatória rápida e com o mínimo de perda tecidual e resulte em cicatrizes discretas; ✓ Proteger a ferida contra contaminações e infecções, ou seja, ser impermeável aos microrganismos; Atualização em Curativos e Coberturas 24 www.eduhot.com.br ✓ Promover hemostasia, com o objetivo de estancar o sangramento e dar início ao reparo tecidual. ✓ Preencher espaços mortos e evitar a formação de sero-hematomas, com o objetivo de contribuir para a formação de novos vasos (angiogênese); ✓ Favorecer a aplicação de medicamento tópico; ✓ Fazer desbridamento mecânico e remover tecidos necróticos, pois o meio necrótico é considerado de cultura para proliferação de microrganismos; ✓ Reduzir o edema, visto que este interfere na proliferação celular e na síntese proteica, pois, além de diminuir o fluxo sanguíneo e o metabolismo local, favorece a necrose celular e o crescimento bacteriano. ✓ Facilitar a drenagem de exsudatos, para que haja a formação de novos vasos e do tecido de epitelização; ✓ Manter a umidade da superfície da ferida, pois o meio úmido promove a formação do tecido de epitelização e a diminuição da dor no local da ferida, que é causada pelas terminações nervosas oxidadas, resultado da sua exposição ao ar; ✓ Fornecer isolamento térmico para que a temperatura baixa não prejudique a funcionalidade mitótica das células; ✓ Promover e proteger a cicatrização da ferida, a fim de prevenir infecções; ✓ Limitar a movimentação dos tecidos em torno da ferida, para que o tecido de granulação não seja retirado inadvertidamente; ✓ Dar conforto psicológico, pois os fatores que causam sofrimento desse tipo podem ser considerados estressores, tais como a ansiedade, motivação, educação, autoimagem, medo, etc.; ✓ Diminuir a intensidade da dor. Objetivos do curativo ➢ Tratar e prevenir infecções; ➢ Absorver exsudatos; ➢ Tratar e cicatrizar as feridas; ➢ Eliminar os fatores desfavoráveis que retardam a cicatrização; ➢ Diminuir a incidência de infecções crizadas; Atualização em Curativos e Coberturas 25 www.eduhot.com.br ➢ Estancar a hemorragia. Técnicas básicas É importante ressaltar que o tipo de cobertura deve ser adequado à lesão e que a sua eleição deve ser feita após a avaliação criteriosa desta e do estado geral do paciente. Um curativo pode ser realizado sob duas diferentes técnicas básicas, estéril e limpa. TÉCNICA ESTÉRIL: é utilizada quando o curativo é realizado em ambiente hospitalar ou em outra instituição de Saúde, utilizando-se material esterilizado como, pinças ou luvas para manejo do material e solução fisiológica a 0,9% para higienização e hidratação, além de cobertura estéril. TÉCNICA LIMPA: é utilizada quando o curativo é realizado em ambiente domiciliar pelo responsável/familiar ou até mesmo pelo próprio indivíduo. O ambiente e o material devem estar limpos, podem ser utilizadas para esse fim: água corrente, água destilada ou solução fisiológica a 0,9%. A cobertura deverá ser estéril, a luva de procedimento ao ser usada nesse tipo de procedimento tem como finalidade proteger quem o realiza. TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EM CURATIVOS E FERIDAS Técnicas de Limpeza e Desbridamento de Feridas Atualização em Curativos e Coberturas 26 www.eduhot.com.br Limpar e desbridar uma ferida são procedimentos primordiais para a garantia do sucesso de cada uma das etapas fisiológicas da cicatrização. Ademais, a ação das coberturas, por mais eficazes que sejam, ficará prejudicada caso seja aplicada numa ferida cuja limpeza esteja precária, seu leito repleto de exsudação e com presença de tecidos desvitalizados. Um curativo bem feito, portanto, começa com a limpeza correta e o desbridamento de tecidos inviáveis, quando necessário. Esses procedimentos antecedem a utilização de qualquer cobertura. A limpeza é tão importante que muitas feridas cicatrizam sem apresentar intercorrências quando submetidas apenas a esse processo, através de irrigação da lesão com soro fisiológico (SF) morno a 0,9%, com seringa de 20 ml e agulha 25x8 ou 40x12 e manutenção do meio úmido, com cobertura primária não medicamentosa, como gaze, compressa ou filme. Esse procedimento intensifica o processo de autólise (desbridamento natural de uma ferida) A limpeza e a irrigação são procedimentos realizados com o objetivo de remover os detritos e exsudatos do leito da ferida. O desbridamento deve ser realizado quando existe a necessidade de remover tecidos desvitalizados presentes na lesão, que são inviáveis ao bom andamento do processo de cicatrização. A limpeza, tanto do leito quanto das bordas da lesão e da pela ao redor da ferida, possibilitará a avaliação adequada, a identificação de microrganismos causadores de infecção, a melhor absorção dos medicamentos tópicos utilizados, melhores fixação e adequação da cobertura escolhida. Um dos fatores igualmente importante para o processo cicatricial é a higiene geral do paciente, pois padrões deficientes de higiene corporal costumam repercutir diretamente na higiene da lesão. Esses padrões podem estar ligados aos fatores socioeconômicos e/ou ocupacional do paciente, afetando a cicatrização, pois aumentam o risco de contaminação da ferida. Portanto, nos domicílios ou nos hospitais, é imprescindível o banho completo do paciente antes da realização do curativo, assim como a limpeza das úlceras crônicas localizadas em áreas próximas a efluentes ou expostas a sujidades. Elas devem ser lavadas com água tratada e sabão neutro, antes do procedimento de limpeza direta da lesão. Objetivos da Limpeza Atualização em Curativos e Coberturas 27 www.eduhot.com.br O curativo é um procedimento terapêutico que consiste em limpeza e aplicação de uma cobertura estéril na ferida ou lesão. A limpeza, como parte integrante do curativo, visa eliminar os fatores desfavoráveis presentes na ferida e promover a sua rápida cicatrização. Por meio de técnicas e procedimentos de limpeza, é feita a remoção de corpos estranhos e a drenagem de secreções, exsudatos inflamatórios e demais elementos, que contribuem para a proliferação de microrganismos, retadando a cicatrização; logo, o procedimento de limpeza da ferida também é fundamental para prevenir a contaminação exógena e a infecção da área lesada. A limpeza completa permite detectar precocemente os sinais flogísticos e de outras alterações significativas da pele e da lesão. Além disso, uma limpeza adequada da ferida também contribuirá para: ✓ Reduzir o odor; ✓ Manter a umidade; ✓ Diminuir infecções cruzadas; ✓ Remover microrganismos e partículas; ✓ Reduzir dor e o edema; ✓ Dar conforto ao paciente; ✓ Manter a higienização dos sítios de inserção de dispositivos; ✓ Proteger a pele circundante dos efeitos da maceração; ✓ Preparar a ferida para receber uma cobertura adequada. MÉTODOS DE LIMPEZA É importante compreender o significado dos diferentes métodos de limpeza relacionados ao tratamento e aos cuidados com feridas. Muitos desses conceitos referem-se a materiais,substâncias e superfícies que podem entrar em contato com a pele e as mucosas dos pacientes durante a realização da limpeza e do curativo. A limpeza física consiste na irrigação, uso de compressas úmidas, curativos apropriados e banhos e duchas para limpar a ferida. Vários produtos costumam ser utilizados como agentes de limpeza não somente da ferida, mas também do material e das superfícies que entram em contato com o paciente e com a lesão. Atualização em Curativos e Coberturas 28 www.eduhot.com.br Conceitos Relacionados à Limpeza Antissepsia Medida que visa diminuir o crescimento através da sua supressão ou inativação, mediante aplicação de um agente antisséptico nas camadas superficiais ou profundas de tecidos e mucosas. Assepsia Conjunto de técnicas utilizadas para evitar instalação de microrganismos em locais onde eles ainda não existiam. São precauções da contaminação de superfícies, utensílios e tecidos, que supostamente, estão isentos de microrganismo. Degermação Visa reduzir a microbiota da pele, por meio do uso de agentes degermantes. Descontaminação Remoção de um contaminante químico, físico ou biológico, que esteja alojado em uma área ou superfície. Desinfecção Eliminação ou destruição de microrganismos na forma vegetativa (exceto os esporos), presentes nos artigos e objetos inanimados, independentemente de serem patogênicos ou não. A desinfecção pode ser de baixo, médio ou alto nível e pode ser feita mediante o uso de agentes físicos ou químicos, como por exemplo, as preparações alcoólicas. Esterilização Visa destruir todo e qualquer microrganismo, inclusive a forma esporulada, mediante a aplicação de agentes físicos, como a autoclave, ou químicos como o glutaraldeído. Substancias Utilizadas na Limpeza das Feridas A cicatrização de uma ferida pode ser dificultada pelo uso de substâncias impróprias para a limpeza. Existem soluções irritantes e citotóxicas, que se usada Atualização em Curativos e Coberturas 29 www.eduhot.com.br indevidamente, podem ser lesivas aos fibroblastos, retardando o processo de cicatrização. O uso de antissépticos, como produtos de limpeza, requer avaliação das vantagens e desvantagens, validade, aplicabilidade e toxicidade. Algumas das soluções utilizadas para a limpeza de feridas são: ✓ Soro fisiolófico 0,9% (NaCL 0,9%); ✓ Clorexidina; ✓ Álcool a 70%; ✓ Solução Ringer Lactato; ✓ Polivinilpirrolidona a 10%, iodo a 1% (PVP-I); ✓ Solução de Papaína, entre outros. Entre todos esses produtos, o SF a 0,9% é o ideal para a limpeza e tratamento de feridas com cicatrização por segunda intenção ou terceira intenção, porque as limpa e umedece, favorecendo a formação de tecido de granulação e amolecendo os tecidos desvitalizados. Substâncias e produtos utilizados para limpeza, desinfecção e antissepsia Classificam-se essas substâncias Antissépticos Utilizados para destruir microrganismos ou inibir sua reprodução ou metabolismo, quando aplicadas por via tópica em superfícies cutâneas ou mucosas e em feridas infectadas. São hipoalergênicas, de baixa causticidade e perdem sua efetividade sob influência de luz, temperatura, pH e tempo de exposição Antimicrobianos Substância utilizada para destruir microrganismos ou inibir sua reprodução em superfícies inanimadas. Atualização em Curativos e Coberturas 30 www.eduhot.com.br Detergentes Preparação química que promove limpeza, purificação ou clareamento de superfícies inanimadas. Degermantes Preparação química que por meio de ação física, produz a limpeza e, simultaneamente, por meio antimicrobiano, reduz o numero de microrganismos da pele. Desinfetantes São substâncias capazes de reduzir o número de microrganismos patogênicos viáveis, presentes em uma superfície ou instrumento, em um determinado tempo de exposição, sem, no entanto, eliminar as formas esporuladas. Sabões Compostos sódicos, com ação tensoativa, que facilitam a remoção de sujidades e microrganismos transitórios da pele. Porém, pelo fato de n possuírem poder antisséptico, seu uso para lavagem das mãos não é reconhecido. Alguns desses produtos são descritos a seguir: Álcool etílico a 70%, líquido ou gel Atualização em Curativos e Coberturas 31 www.eduhot.com.br O álcool a 70% é um antisséptico e germicida que age por desnaturação de proteínas. Ele tem ação imediata, permanecendo por até três horas após sua aplicação na superfície utilizada. Esse produto é eficaz contra Gram-negativos e positivos, porém tem atividade reduzida na presença de matéria orgânica. O álcool é muito utilizado para antissepsia da pele íntegra (higienização, venopunção), curativo do coto umbilical e feridas cirúrgicas sem complicações, porém é contraindicado em feridas abertas e mucosas. O álcool em gel costuma ser a melhor opção para fricção antisséptica das mãos, devendo ser utilizado quando elas estiverem secas, pois a ação germicida só se efetiva com a evaporação, o que não é possível acontecer quando é aplicado nas mãos ainda úmidas. O álcool a 70% também é utilizado para limpeza de artigos semicríticos e superfícies fixas. Iodóforos Os iodóforos são complexos formados entre o iodo e um agente solubilizante ou carregador, que aumenta sua solubilidade e sustenta a liberação gradual de iodo. O agente solubilizante mais presente na prática clínica é a polivinilpirrolidona (PVP) também conhecida como iodopovidona, que ligada ao iodo, forma o PVP-I a 10% com 1% de iodo ativo. Esse produto é utilizado sob várias formas, tais como: ✓ Degermante, muito utilizada para degermação pré-operatória; Atualização em Curativos e Coberturas 32 www.eduhot.com.br ✓ Tópica, usada em antissepsia de mucosas e curativos, em feridas superficiais e pequenas queimaduras; ✓ Tintura (solução alcoólica), usada como luva química, para antissepsia de campo operatório após o uso do PVP-I degermante e para demarcar a área cirúrgica. O iodo atua diretamente na estrutura das proteínas dos microrganismos, eliminando-os e prevenindo o desenvolvimento de resistência bacteriana. Quando ligado ao PVP é liberado gradativamente nos tecidos. É virucida, tuberculicida, fungicida, amebicida, nematocida e insenticida e tem alguma ação esporicid; é bactericida para Gram-positivos e negativos. Apesar de ser comprovado que o iodo é um animicrobiano altamente eficaz, ele possui um número de características indesejáveis que tem limitado seu uso; é doloroso em feridas abertas, irrita os tecidos e também pode causar reações alérgicas. As reações adversas que podem ocorrer são de hipersensibilidade, resultando em erupções cutâneas, as quais podem variar desde uma reação eczematosa branda até a dermatite esfoliativa. Além disso, provoca manchas de coloração amarela acastanhada na pele, com cheiro desagradável e, geralmente, não é estável em soluções. A citotoxidade do PVP-I tem sido avaliada em uma série de estudos in vivo e clínicos. Tais estudos geraram dados conflitantes quanto a citotoxidade dos iodósforos; no entanto, existe unanimidade quando à citotoxidade do iodo ser dependente da sua concentração. Portanto, para seu uso exclusivamente externo seja recomendado, é desejável que as coberturas proporcionem uma liberação sustentada de iodo livre em concentrações microbicidas, sem os efeitos da citotoxidade, reduzindo a carga microbiana e o risco de infecção da ferida, sem atrasar seu reparo. Coberturas a base de iodo são indicadas para tratamento de feridas crônicas, pequenas queimaduras e escoriações, principalmente quando a infecção já está presente na lesão ou quando ainda é uma suspeita; Atualização em Curativos e Coberturas 33 www.eduhot.com.br A atividade do iodo pode ser afetada pela presençade matéria orgânica, como proteína e exsudatos da ferida; por isso, é recomendado que as coberturas com PVP-I sejam trocadas com frequência quando usadas para tratar feridas exsudativas altamente infectadas. Clorexidina Alcoólica Bactericida do grupo das biguanidas, ela age mais eficazmente sobre microrganismos Gram-positivos, porém a neutralização da sua ação pode ser observada na presença de soro, sangue, sabão e detergentes. A clorexidina alcoolica age contra vírus da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) o citomegalovírus e a influenza, sendo que sua atuação se inicia com quinze segundos de exposição, com efeito residual por cinco a seis horas. Ela atua como antisséptico da pele e das mucosas, por meio de solução aquosa a 4%, sendo utilizada em casos de alergias ao PVP-I, em surtos e epidemias de Staphylococcus aureus, para antissepsia das mãos e para banho de recém-nascidos. A solução em álcool a 70% de 0,5% de clorexidina é utilizada em centro cirúrgico para antissepsia complementar e também demarcação de campo cirúrgico, e para antissepsia de mãos e antebraços no pré-operatório, sob forma de solução aquosa a 4% acrescida de detergente líquido. Essas coberturas não devem ser usadas em pacientes com sensibilidade conhecida ou suspeita a iodo, queimaduras extensas, insuficiência renal ou história pregressa de qualquer distúrbio da tireoide. Além disso, elas também não são indicadas para mulheres gestantes ou em fase de amamentação e para bebês recém-nascidos e lactentes, com idade inferior a seis meses, pois o iodo pode ser absorvido através da pele. Atualização em Curativos e Coberturas 34 www.eduhot.com.br Hipoclorito de Na a 1% Desinfetante hospitalar para superfícies fixas que possui ação bactericida, atua como elemento ooxidativo em cadeias proteicas de microrganismos. Glutaraldeído Esterilizante com ações bactericida, fungicida, virucida e esporicida. Altera o ácido desoxirribonucleico (DNA, deoxyribonucleic acid) o ácido ribonucleico (RNS, ribonucleic acid) e a síntese de proteínas dos microrganismos. Sua atividade esporicida se dá através da reação com sua superfície do esporo, provocando o endurecimento das suas camadas externas. É indicado para a esterilização de artigos sensíveis ao calor, que não podem ser submetidos à esterilização em autoclave. Materiais tradicionalmente usadas para limpeza de feridas Novos produtos para feridas, como gaze vaselinada, espumas, algodão não filamentado, fitas adesivas hipoalergênicas e porosas, filmes e outros produtos que não causam dor nem traumatizam a pele quando retirados, têm substituído, como êxito, a gaze, o algodão e o esparadrapo tradicionais, que costumam deixar resíduos e aderir à lesão, dificultando a troca de curativos. Eles causam reação inflamatória, aumentam o risco de infecção e não devem ser friccionados no leito da ferida, nem colocados diretamente sobre o tecido de ATENÇÃO: Quando o curativo anterior for de difícil remoção e possuir filamentos de gaze ou outras coberturas aderidos ao leito da ferida, deve-se encharcar toda a superfície com SF 0,9%, deixando penetrar a umidade por alguns segundos até que todo material fique solto e possa ser removido sem traumáticas os tecidos. Atualização em Curativos e Coberturas 35 www.eduhot.com.br granulação. GAZE VASELINADA FITAS ADESIVAS HIPOALERGÊNICAS E POROSAS FILMES TRANSPARENTES Atualização em Curativos e Coberturas 36 www.eduhot.com.br DESBRIDAMENTO Através do processo de autólise, o próprio organismo promove, de forma natural, a desintegração das células desvitalizadas pelas ações leucocitária e enzimática. Contudo, nas feridas crônicas, esse processo interno de autólise quase sempre é insuficiente, devido à proliferação de tecidos inviáveis, necessitando de desbridamento. Sabendo-se que um dos obstáculos para o processo adequado de cicatrização é a presença de tecidos desvitalizados e/ou necrosado na ferida – e que eles representam uma barreira mecânica ao avanço da cicatrização, uma vez que cronificam a lesão e aumentam o risco de infecção – pode-se depreender que o desbridamento é uma etapa, apoiada por evidências científicas, indispensável para a cura da lesão. O desbridamento, além de acelerar as fases de proliferação e remodelação tissular, elimina o substrato que permite o crescimento dos microrganismos, melhora o restabelecimento estrutural e funcional da pele e, ainda, permite uma melhor avaliação da lesão. Entende-se como desbridamento o conjunto de mecanismos fisiológicos ou externos dirigidos à remoção de tecidos necróticos, exsudatos, coleções serosas ou purulentas e/ou corpos estranhos associados e todos os tecidos e materiais não viáveis presentes no leito da ferida. CURATIVO DE ESPUMA Atualização em Curativos e Coberturas 37 www.eduhot.com.br Os tecidos necróticos geralmente são de cor preta ou castanho-escuro. Quando em forma de placa bem definida, de cor acastanhada, espessa, sólida, seca, de textura coriácea, denomina-se escara. Os esfacelos são de material fibrinoso, amarelo esverdeado ou grisalho embranquecido, de difícil preensão pela consistência amolecida. Observam-se os graus intermediários entre os esfacelos e a placa necrótica que, frequentemente, coexistem numa mesma ferida. Antes de optar pelo desbridamento, o paciente deve ser avaliado de modo global. Como as feridas crônicas, em sua maioria são dolorosas e o desbridamento pode contribuir para aumentar a dor, é necessário considerar-se um esquema terapêutico para que esse sintoma seja controlado. A vascularização da área da lesão deve ser avaliada por: ➢ meio da temperatura; ➢ Coloração; ➢ Frequência dos pulsos adjacentes. Nas úlceras por pressão localizadas nos calcanhares, que apresentam necrose seca (escara) sem edema, eritema, flutuação ou drenagem, não é recomendado o desbridamento imediato; a lesão deverá ser observada para se avaliar essa necessidade. Atualização em Curativos e Coberturas 38 www.eduhot.com.br Técnicas de Desbridamento Além da situação do paciente, vários outros critérios precisam ser considerados antes de se optar por uma técnica de desbridamento, tais como: ➢ Seletividade requerida; ➢ Características quantidade, profundidade e localização do tecido a ser desbridado; ➢ Presença e características do exsudato; ➢ Dor; ➢ Infecção ou colonização crítica; ➢ Entre outros. Como as técnicas são compatíveis entre si, geralmente a sua associação é recomendada para que o processo seja rápido e eficaz. O desbridamento é denominado seletivo quando a remoção de tecido desvitalizados sem que o tecido vivo seja afetado, e não seletivo quando é feita a remoção de tecidos desvitalizados juntamente com o tecido vivo subjacente, tal como no desbridamento cirúrgico. As técnicas de desbridamento mais utilizadas são descritas a seguir. Desbridamento Autolítico É o desbridamento promovido pelo próprio organismo de forma natural, através de um processo biológico de reparação e cicatrização denominado autólise, que atua desintegrando as células degeneradas, por meio das ações leucocitária e enzimática. Para acelerar a autólise é fundamental que o leito da ferida seja mantido úmido, o que pode ser obtido com a irrigação com SF a 0,9% e de coberturas primárias que promovem um meio úmido adequado, estimulam a migração leucocitária e a ação das proteases e colagenases sobre a necrose. É considerado o método mais lento, embora deva ser estimulado em todos os tipos de feridas. Atualização em Curativos e Coberturas 39 www.eduhot.com.br Coberturas que retêm a umidade, como filmes transparentes, hidrocoloidesextrafinos e gazes embebidas em ácidos graxos essenciais (AGE) hidrogel e alginato de cálcio, ajudam a promover o desbridamento autolítico. Desbridamento Cirúrgico Consiste na remoção completa do tecido necrótico e desvitalizado por meio de procedimento cirúrgico. Recomenda-se que sejam desbridadas cirurgicamente as feridas que apresentam necrose de coagulação ou liquefação. O desbridamento cirúrgico por ser não seletivo comumente é indicado para grandes lesões com ressecções amplas. Como ele implica a remoção do tecido necrótico e parte do tecido saudável, pode provocar hemorragia. Geralmente se realiza em uma única sessão por um cirurgião, no centro cirúrgico, com anestesia ou sedação. É a técnica mais rápida e efetiva e, por isso, a mais utilizada quando o paciente necessita de intervenção urgente. O custo dessa técnica é alto e exige conhecimentos, aptidões, destreza e consentimento do paciente. Atualmente existem dispositivos específicos para o desbridamento no bloco cirúrgico, como a hidrocirurgia com jato de água á vácuo. Alguns hospitais incluem em seus protocolos a técnica de square, que aparentemente diminui o risco de comprometimento de tecidos sãos durante o desbridamento cirúrgico. A referida técnica consiste em esquadrinhar o tecido necrótico com uma lâmina de bisturi, traçando pequenos quadrados de 2mm a 0,5 cm. Esses pequenos fragmentos serão, posteriormente, removidos cuidadosamente e individualmente. Atualização em Curativos e Coberturas 40 www.eduhot.com.br Essa técnica também é utilizada para permitir a absorção na ferida de coberturas com desbridantes enzimáticos. Desbridamento Instrumental No desbridamento instrumental, o tecido desvitalizado vai sendo gradativamente removido de forma seletiva, em diferentes sessões, até o nível de tecido viável. É rotineiramente feito pelo enfermeiro a beira do leito ou na sala de curativos, com material esterilizado, técnica asséptica e medidas de biossegurança. O equipamento essencial inclui material cortante, como bisturi, tesouras, pinças e coberturas hemostáticas. É uma técnica rápida e seletiva, que permite a combinação com outros métodos, como o enzimático e o autolítico. É indicada para a retirada de tecido necrótico, desvitalizado ou de zonas de hiperqueratose, secas ou com exsudação abundante, com suspeita de alta carga bacteriana ou sinais clínicos de infecção. Recomenda-se uma formação específica que proporcione competências (conhecimentos, habilidade e atitudes) para os profissionais que realizam essa técnica, visto que o desbridamento instrumental é um procedimento invasivo. Atualização em Curativos e Coberturas 41 www.eduhot.com.br Desbridamento Enzimático Trata-se de um método seletivo, que atua em tempo menor ao método autolítico e maior que ao instrumental, sendo possível a sua combinação com outros métodos. Consiste na aplicação tópica de substancias enzimáticas e proteolíticas, que atuam como desbridantes enzimáticos, diretamente sobre o tecido necrótico, facilitando sua remoção. A escolha da enzima depende do tipo de tecido que se quer desbridar, e deve ser aplicada somente nas áreas de necrose. As enzimas exógenas (colagenases, fibrolisinas) funcionam sinergicamente com as enzimas endógenas, degradando a fibrina, o colágeno e a elastina. É recomendável proteger a pele perilesional, devido ao risco de maceração. Atualmente, a colagenase bacteriana procedente do Clostridium histolyticums é a mais utilizada como desbridante enzimático em países da Europa. Atualização em Curativos e Coberturas 42 www.eduhot.com.br Desbridamento Mecânico O desbridamento mecânico é traumático e não seletivo. Consiste na aplicação de força mecânica, como fricção com gaze, esponjas e jatos de água, diretamente sobre o tecido necrótico, a fim de facilitar sua remoção. Tais forças atuam sobre os tecidos da ferida por meio da abrasão mecânica. Esse processo pode prejudicar o tecido de granulação ou de epitelização, além de causar dor. É uma técnica em desuso, devido à existência de alternativas menos traumáticas que trazem menos riscos ao leito da ferida. Técnica Larval Terapia aplicada há alguns anos em países europeus como uma alternativa não cirúrgica, na qual são utilizadas larvas estéreis da mosca Lucilia sericata (mosca verde) criada em laboratório. Essas larvas produzem enzimas potentes que liquefazem o tecido desvitalizado para ingeri-lo e depois eliminá-lo, respeitando o tecido não danificado. Alguns autores sustentam que essas enzimas têm a capacidade de combater infecções clínicas. A escara necrótica é difícil de ser penetrada pelas larvas e precisa ser amolecida previamente. É uma técnica utilizada para o desbridamento de lesões de diferentes etiologias, como úlceras por pressão, úlceras vasculares e lesões produzidas por fungos e outras de difícil acesso para procedimentos cirúrgicos ou instrumentais, com Atualização em Curativos e Coberturas 43 www.eduhot.com.br grande quantidade de tecido necrótico e exsudato profuso. Não existe relto de efeitos secundários nem alérgicos. A referida terapia apresenta como vantagem a redução significativa da carga bacteriana das lesões, incluindo o MRSA. AVALIAÇÃO DA FERIDA A SER LIMPA E DESBRIDADA Antes de iniciar a limpeza e/ou desbridamento é preciso inteirar-se do tipo, das dimensões e da evolução da ferida. Para isso, é necessário não somente a leitura atenta do prontuário do paciente, de forma a conhecer o parecer dos demais profissionais sobre o assunto, as também providenciar um contato direto e prévio com ele, visando captar suas percepções sobre a ferida e o que ela representa em sua vida. Esse olhar humanizado da enfermagem é o que fará a diferença, tudo mais é decorrente dessa interação, inclusive o êxito do tratamento. Um exame físico completo e criterioso da ferida será o elemento básico para o enfermeiro cientificar-se dos tipos de tecidos encontrados na lesão; essas ações irão complementar o planejamento da assistência integral ao paciente, que deve ser observado em todas as suas etapas. Nessa trajetória, vários instrumentos poderão ser utilizados, tais como a escala de avaliação de risco de Braden ou outra similar, que se refere tanto ao portador da ferida como também ao estadiamento desta em graus, para que as características dos tecidos e a profundidade da lesão possam ser avaliadas, conforme proposta pelo National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP). Será apresentado, a seguir, o Sistema RYB de avaliação por cores, que se mostrou bastante útil na prática clínica e que tem ajudado os profissionais a se Atualização em Curativos e Coberturas 44 www.eduhot.com.br situarem no sentido de optarem ou não pelo desbridamento da ferida. O Sistema RYB de avaliação por cores é uma forma de avaliar as feridas por meio do conceito das três cores que se referem ao(s) tecido(s) vitalizado(s) ou não, encontrados no leito da ferida, que são: ➢ Vermelho – RED ➢ Amarela – YELLOW ➢ Preta – BLACK Deve ser usado para avaliar feridas abertas, de acordo com as características da lesão quanto à sua cicatrização e possíveis fatores que estejam interferindo no processo cicatricial. Os princípios do Sistema RYB são: ➢ Proteger a VERMELHA, limpar a AMARELA e desbridar a PRETA; ➢ Tratar inicialmente a PRETA, depois a AMARELA e, por fim a VERMELHA; ➢ Quando a lesão apresentar mais de uma cor, deverá ser avaliada pela predominante. COR SIGNIFICADO O QUE FAZER Red – vermelha Vermelho vivo e limpo Cor viva, limpa e brilhante caracteriza o tecido de granulação saudável. Proteger e limpar sem traumatizar, cobrir e isolar. Vermelho escuro com aparência friável Processo infeccioso em andamentoVermelho opaco, tendendo ao cinza Redução ou retardo daa granulação e da cicatrização Yellow – amarela Amarelo forte Aspecto desvitalizado, exsudato purulento,grande quantidade de material fibrótico e componentes de degradação celular. Limpeza eficiente com solução fisiológica morna 0,9% e desbridamento Obs: por vezes há uma mistura ds cores amarela Sistema RYB Atualização em Curativos e Coberturas 45 www.eduhot.com.br Amarelo avermelhado Tecido de granulação e material fibrótico e de degradação celular. e vermelha, indicando granulação, mas persistindo a presença de ecidos fibrótico. Amarelo acinzentado Material fibrótico e de degradação celular. Black - Preta Tecido necrótico (preto, cinza ou marron) com exsudato purulento, material fibrótico e de degradação celular, que favorecem a proliferação de microrganismos. Desbridamento instrumental ou cirúrgico. Tecido negro seco Grangrena seca, com aparência ofuscada, tecido necrótico. Tecido cinzento Tecido escuro, com aparência úmida. COBERTURAS E NOVAS TECNOLOGIAS PARA O CUIDADO DE FERIDAS Embora o processo de reparação tecidual seja sistêmico, para que seja efetivo é necessário favorecer as condições locais da lesão com tratamento tópico adequado. Nesse sentindo, nas últimas décadas, houve uma verdadeira revolução tecnológica baseada em pesquisas cientificas, que avaliam biomateriais e produtos diversos para o tratamento de feridas. Industrias investem na elaboração de coberturas, que têm por objetivo acelerar o processo de cicatrização e minimizar o desconforto dos pacientes, facilitando a assistência e diminuindo os custos hospitalares e o tempo de internação. Para serem efetivas, as coberturas precisam ser compatíveis com a fisiologia de reparação tecidual, além de atender às finalidades do curativo, que são as seguintes; ✓ Promover o isolamento térmico; ✓ Proteger a ferida de traumas mecânicos e invasão bacteriana; ✓ Remover tecidos necróticos; Atualização em Curativos e Coberturas 46 www.eduhot.com.br ✓ Remover corpos estranhos; ✓ Eliminar processos infecciosos; ✓ Obliterar espaços mortos; ✓ Absorver exsudatos; ✓ Manter a umidade no leito da ferida. Os benefícios do meio úmido são percebidos por meio da rápida recuperação tecidual, que ao ser favorecida pela hidratação da lesão, permite a presença dos fatores de crescimento e a migração celular, responsáveis pela formação do tecido de granulação, pela angiogênese e pelo desbridamento autolítico. Os curativos úmidos aceleram a cicatrização em até 50%, pois retêm água e enzimas que favorecem a formação de fibrina e protegem as terminações nervosas, diminuindo a dor. As novas tecnologias ´precisam ser esteireis ou sem partículas contaminadas. Além disso, devem auxiliar na remoção dessas partículas, quando existentes na lesão, sem causar traumas, estar disponíveis, ter flexibilidades, facilidade de manuseio e boa relação custo-benefício. Diversos materiais podem ser utilizados para essa finalidade, desde que mantenham os tecidos viáveis e possibilitem a liberação dos fatores de crescimento, estimulando a proliferação de neotecido e a regeneração da lesão. Para alcançar esses objetivos, os curativos evoluíram para uma nova geração de produtos bioativos, cada vez mais sofisticados e apropriados para interagir ativamente nas fases de cicatrização, estimulando-as. A maioria é direcionada para executar funções similares às substâncias endógenas, que por vários motivos, não as executam adequadamente. Entendemos como cobertura, para fins didáticos, todo material, substância ou produto que se aplica sobre uma ferida, formando uma barreira física, com capacidade de proteção e regeneração celular. Dessa forma, o tratamento eficaz de qualquer lesão subentende, dentre outros cuidados, a escolha do tipo de cobertura mais apropriada para cada tipo específico de ferida nas diferentes situações clínicas e cirúrgicas. Escolha de Coberturas Vários tipos de coberturas podem ser utilizados para promover ambientes adequados e facilitar o processo de cicatrização. Diante de tanta diversidade, cabe à equipe multiprofissional optar por aquelas que melhor atendem às expectativas, Atualização em Curativos e Coberturas 47 www.eduhot.com.br escolhendo-as mediante critérios pré-definidos. Inicialmente, os produtos apresentados no mercado com finalidade de agir como cobertura foram feitos de materiais plásticos, como o polietileno e o polivinile, e, posteriormente, evoluíram para as atuais coberturas, como o hidrocoloide, o hidrogel, as esponjas e os alginatos. As coberturas mais recentes incrementam a cicatrização e diminuem a dor, exemplo disso são as películas produzidas com filme transparente de poliuretano, que permitem a observação diária da lesão e a detecção precoce de complicações, proporcionando, junto com os hidrocoloides, uma cicatrização melhor tanto estética como funcional. Os riscos e as desvantagens oclusivas incluem a dificuldade de aderência às áreas cruentas e irregulares e a absorção de exsudato nem sempre eficiente. Tais situações são indesejáveis, pois induzem a trocas frequentes de curativo, ocasionando a destruição do tecido epitelial neoformado. Novos produtos caracterizados na literatura como “inteligentes” continuam sendo testados para minimizar esses problemas. De modo geral, a cobertura adequada deve oferecer mais proteção e menos risco de desenvolvimento de infecções, promovendo boa cicatrização no meio úmido. A facilidade de aplicação e remoção e os princípios gerais dos cuidados com as feridas, como limpeza, desbridamento, processo de cicatrização, deve ser mantida, obedecendo-se aos requisitos, critérios, objetivos e às respectivas finalidades. É ideal que a seleção de um produto para a cobertura preveja a existência de estudos pré-clinicos e clínicos que comprovem sua indicação e eficácia. Deve haver clareza quanto à composição, ao registro e à aprovação nos órgãos de fiscalização, bem como a avaliação dos custos em relação aos benefícios esperados. Para direcionar o processo de escolha, é fundamental uma acurada avaliação da lesão, identificando cuidadosamente o estágio do processo cicatricial, a fim de tê- lo como base para a decisão da cobertura a ser utilizada. A avaliação da ferida deve ser sistemática e periodicamente realizada, com critérios bem estabelecidos em protocolos de avaliação. Muitos produtos utilizados na prática clínica ainda prescindem desses critérios, ficando a escolha e a cargo da equipe multiprofissional e interdisciplinar. Normalmente, os produtos são escolhidos com base na experiência do profissional, mas, independentemente disso, deve-se fazer um levantamento de informações Atualização em Curativos e Coberturas 48 www.eduhot.com.br técnico-cientificas, que são fundamentais para a seleção de produtos, de acordo com a demanda do serviço e as características da clientela. É importante considerar que um único produto não é suficiente para resolver todos os tipos de feridas e ser compatível a cada uma das fases de cicatrização, por isso, normalmente, utiliza-se a combinação de um ou mais tipo de coberturas, como por exemplo, o uso de espuma de prata, na fase de exsudação, e do hidrocoloide, quando a ferida se apresentar sem exsudação e infecção, para manter o meio úmido e favorecer a epitelização, a granulação e acelerar a cicatrização. Os formatos e as dimensões de uma cobertura devem ser adequados a lesão. Para isso, grande parte das coberturas pode ser recortada no momento do uso para se moldar ao leito da lesão. Curativos prontos para uso também estão disponíveis em tamanhos e formas variadas. Recomenda-se que a cobertura seja específica às características da lesão e do paciente, em dimensões e formatos, de acordo com a fase cicatricial
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