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Aula 11 - Barroco II - Gregório de Matos

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BARROCO II
Gregório de Matos
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Flagelação de Cristo		 João Batista no deserto  A morte da Virgem
Michelangelo Merisi da Caravaggio
Gregório de Matos e Guerra nasceu na Bahia, em 1636, de família abastada. Estudou primeiro com os jesuítas na cidade natal e, a partir de 1650, na metrópole, formando-se em Direito, em Coimbra, no ano de 1681. 
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Em Portugal, casou, exerceu a profissão de advogado, tendo sido também magistrado. Algum tempo depois de ter enviuvado, retornou à pátria. 
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Na Bahia, levou uma vida boêmia e indisciplinada de “advogado de poucas causas e menores recursos”, improvisando versos, cantando à viola, caçoando de toda gente, tendo construído uma reputação, no mínimo, polêmica, mas de muita popularidade. 
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Casou de novo, teve filhos e a proteção de alguns bispos e governadores.
Foi exilado para Angola, de onde voltou em 1695, indo viver no Recife, onde morreu no ano seguinte.
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Para alguns, Gregório teria plagiado Gôngora, Quevedo, Petrarca e Camões, dadas as semelhanças de poemas seus com os desses autores.
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Gregório, espírito inquieto, mais via pontos negativos do que positivos na sociedade e nas pessoas, tanto que criticou quase tudo e quase todos:
a incapacidade administrativa dos portugueses; a atitude de bajulação dos brasileiros; o clero; a corrupção e o relaxamento de costumes.
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Apesar de ter ficado conhecido por sua produção satírica, Gregório foi também grande poeta lírico, expressando em sua obra as contradições vividas pelo homem do Barroco, tanto que sua obra poética tem várias vertentes, conforme veremos a seguir.
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Por meio da sátira – parte mais vasta de sua poesia –, o poeta registra o cotidiano sob inúmeros ângulos e com riqueza de detalhes. Vai da brincadeira inconsequente à denúncia virulenta, até com alguma dose de agressividade. Pela contundência e constância de suas críticas, ficou conhecido como “Boca do Inferno”.
Obra: Poesia Satírica
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Na linha satírica, Gregório critica principalmente a ambição desmedida dos colonos, bem como as transgressões morais em que todos incorrem. Não se trata, portanto, de crítica dirigida apenas aos poderosos. Seus alvos prediletos, todavia, eram, de fato, governadores, administradores, religiosos (ou religiosas) e comerciantes.
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A cada canto um grande conselheiro,
Quer nos governar cabana e vinha, *
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequente olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para a levar à Praça e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.*
Estupendas usuras* nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
Cabana e vinha: no sentido de negócios particulares.
Picardia: esperteza ou desconsideração.
Usuras: juros ou lucros exagerados.
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Os poemas enquadrados neste gênero são, muitas vezes, descritivos, focalizando preferencialmente a beleza da mulher amada. As confissões amorosas são expressas sempre com a angústia que caracterizava o estilo barroco, e se baseavam na oposição entre o amor espiritual, direcionado a, ou recebido de Cristo, portanto, purificador, redentor, e o amor carnal – pecaminoso, mas, inevitável, segundo se percebe implicitamente, nos versos do poeta.
Obra: Poesia lírico-amorosa
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Em vários poemas, o poeta faz uso do carpe diem – aproveitamento do tempo presente –, levado pela ânsia de agilizar a realização carnal do amor, com a mulher a quem dirigia sua atenção e seu desejo, sempre físico.
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Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, se não em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
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Os temas básicos da poesia religiosa barroca aparecem em Gregório de Matos: a inevitabilidade do pecado, o medo da punição divina, a busca incessante e desesperada do perdão. 
Obra: Poesia lírico-religiosa
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Pequei Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória
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Esta vertente da poesia de Gregório de Matos é a menos importante, em função dos raros poemas que permitem esse enquadramento. Esses poucos poemas são representativos de sua visão angustiada diante da decadência de valores morais a que assistia.
Obra: Poesia lírico-reflexiva
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Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
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Gregório produziu ainda alguns poemas encomiásticos em que presta homenagem ou tece elogios a algo ou a alguém. O texto, a seguir, é uma homenagem ao capitão João Roiz dos Reis, grande amigo do poeta:
Obra: Poesia encomiástica
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Meu Capitão dos Infantes,
que por vossas boas artes
sois homem de muitas partes
nascendo só em Abrantes:
por vossos ditos galantes,
discretos, e cortesãos,
e por largueza de mãos
a todos nos pareceis
não somente João dos Reis,
senão o Rei dos Joãos.
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As obras completas de Gregório de Matos, ou seja, o acervo que sobreviveu além da vida do autor, são fruto de um trabalho de pesquisa da Academia Brasileira de Letras que, entre os anos de 1923 e 1933, fez publicar seis volumes de poemas do autor, separando-os de acordo com a divisão abordada neste estudo sobre esse poeta, o qual, sob alguns pontos de vista, é figura ímpar da literatura brasileira.
Obra
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"Boca do Inferno": alto teor crítico
Obra poética: painel social da Bahia do século XVII
Poesia:
Satírica – alvo: o povo e até os poderosos
Amorosa – fescenina (erótica)
Religiosa
Reflexiva
Ecomiástica
Tensões barrocas
Amor carnal x amor espiritual
Pecado x perdão
Carpe diem x salvação da alma
resumo
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