Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RECURSOS FISIOTERAPÊUTICOS NA UTI LABORATÓRIO DE ARRANJO: BIG BAND Faculdade de Minas 2 Sumário FACUMINAS ............................................................................................................. 3 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 2. JAZZ NO BRASIL ............................................................................................ 5 3. BIG BAND:ORIGEM E PERFIL ........................................................................ 9 3.1 O Big Band – Era do Swing ............................................................... 11 3.2 O Estilo Big Band .................................................................................. 15 3.3 O Naipe na Big Band ............................................................................ 17 3.4 A Estruturação dos Naipes ................................................................... 19 4. CONSIDERAÇÕES SOBRE ESCRITA PARA JAZZ ORQUESTRA .............. 20 4.1 Plano Composicional ............................................................................ 22 4.2 Técnicas e estratégias compositivas .................................................... 23 4.3 Traços Rítmicos .................................................................................... 25 4.4 Traços Harmônicos – Aspectos Verticais e Horizontais ....................... 25 5. ACOMPANHAMENTO ................................................................................... 27 5.1 Trompetes e trombones ........................................................................ 27 5.2 Trompetes e saxofones ........................................................................ 28 5.3 Trompetes, trombones e saxofones ..................................................... 28 5.4 Barítono e trombones ........................................................................... 29 5.5 Barítono e trompetes ......................................................................................... 30 5.6 Barítono, trompetes e trombones ...................................................................... 31 6. CONCLUSÃO ................................................................................................ 33 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 34 Faculdade de Minas 3 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 1. INTRODUÇÃO Big band é uma expressão da língua inglesa que indica um grande grupo instrumental associado ao jazz. Esse tipo de formação foi muito popular dos anos 20 aos anos 50, período que conhecido como a Era do Swing. É uma das formações musicais mais usadas pelos artistas de jazz. Uma big band consiste, basicamente, de 12 a 25 músicos e contém primordialmente 4 naipes de instrumentos: os saxofones (2 saxofones altos - 1°e 3° sax altos; 2 saxofones tenores - 2° e 4° sax tenores; e 1 saxofone barítono - 5° sax barítono. Ocasionalmente 1 ou 2 saxofones sopranos), os trompetes, e trombones (3 trombones tenores e 1 trombone baixo),[1] e a 'cozinha', é como é denominada nas big bands o naipe que executa predominantemente a base harmônica do grupo, e é formado de: guitarra, bateria, baixo ou contrabaixo, e piano. Algumas big bands usam um terceiro naipe em sua formação que a amplia na execução harmônica e também em alguns solos, o naipe de cordas, composto de: violino, viola, violoncelo, e contrabaixo. Algumas Big Bands podem ainda admitir outros instrumentos como flauta, clarinete e instrumentos de percussão que variam de uma banda a outra dependendo do estilo e arranjo musical. Os termos banda de jazz, orquestra de jazz e dance band, também são usados. As músicas tocadas pelas big bands possui, geralmente, arranjos mais elaborados, muito frequentemente sendo previamente preparados e escritos em partituras. Ali, os solos e improvisações são executados nos momentos determinados no arranjo. É das Big Bands também que provém a expressão band leader, que é assim chamado o artista no qual influencia toda a banda, que se inspira e o segue, por exemplo: na linguagem e dinâmica ao interpretar certas frases da musica. Esse artista geralmente é o 1º trompetista. Dentre as maiores big bands estão, por exemplo, as dos artistas: Maynard Ferguson, Dizzy Gillespie, Count Basie, Duke Ellington, Glenn Miller, Benny Goodman, Frank Sinatra https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_inglesa https://pt.wikipedia.org/wiki/Jazz https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1920 https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1920 https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1950 https://pt.wikipedia.org/wiki/Swing_(Jazz) https://pt.wikipedia.org/wiki/Saxofone https://pt.wikipedia.org/wiki/Trompete https://pt.wikipedia.org/wiki/Trombone https://pt.wikipedia.org/wiki/Big_band#cite_note-1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Guitarra https://pt.wikipedia.org/wiki/Bateria_(instrumento_musical) https://pt.wikipedia.org/wiki/Baixo https://pt.wikipedia.org/wiki/Contrabaixo https://pt.wikipedia.org/wiki/Piano https://pt.wikipedia.org/wiki/Violino https://pt.wikipedia.org/wiki/Viola https://pt.wikipedia.org/wiki/Violoncelo https://pt.wikipedia.org/wiki/Flauta https://pt.wikipedia.org/wiki/Clarinete https://pt.wikipedia.org/wiki/Percuss%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Arranjo_(m%C3%BAsica) https://pt.wikipedia.org/wiki/Partitura https://pt.wikipedia.org/wiki/Band_leader https://pt.wikipedia.org/wiki/Maynard_Ferguson https://pt.wikipedia.org/wiki/Maynard_Ferguson https://pt.wikipedia.org/wiki/Dizzy_Gillespie https://pt.wikipedia.org/wiki/Count_Basie https://pt.wikipedia.org/wiki/Duke_Ellington https://pt.wikipedia.org/wiki/Glenn_Miller https://pt.wikipedia.org/wiki/Benny_Goodman https://pt.wikipedia.org/wiki/Benny_Goodman https://pt.wikipedia.org/wiki/Frank_Sinatra Faculdade de Minas 5 2. JAZZ NO BRASIL Numa tentativa de definir limites para o início do jazz, a maioria dos autores, como Hobsbawm (2004), define o começo do séc. XX como marco inicial para tal. No entanto, parafraseando Bellest e Malson (1989), definir uma data seria um tanto arbitrário demais, fragilizando ainda mais o entendimento de suas influências, raízes e seu sentido. Para a nossa pesquisa, realmente não é relevante uma estimativa muito precisa quanto à data, mas sim suas verdadeiras influências e raízes. Em The Oxford Companion to Jazz editado por Bill Kirchner (2000) através de diversos artigos divididos como capítulos, podemos ter um apanhado geral sobre suas raízes africanas e europeias, o começo do jazz e o blues no jazz. De modo cronológico, há uma visão macro; que, aos poucos, vai se tornandomais especifica, sobre os diversos aspectos que formam o jazz, como instrumentação, ritmo, harmonia, etc e principalmente dos compositores e das influências exercidas pelo jazz em algumas culturas, como a brasileira. Stephanie Crease, que assina o artigo sobre o jazz e a música brasileira, no The Oxford Companion to Jazz, citado anteriormente, faz um comparativo sobre a influência africana na música brasileira através dos escravos trazidos pelos portugueses, no nosso caso, assim como na América. A autora fala ainda sobre ss músicas usadas nos rituais religiosos com sua polirritmia e danças e a ação exercida pela música portuguesa e dos senhores de escravos, mas apenas destaca a música moderna brasileira através da Faculdade de Minas 6 bossa nova como influenciada pelo jazz, seja nas harmônicas, no colorido e nas dissonâncias usadas, e o caráter improvisativo de alguns compositores do séc. XX como Tom Jobim e Hermeto Pascoal, por exemplo. Por outro lado, o jornalista e historiador Hobsbawn (1989) aborda um sentido mais especifico ao escrever sobre a história do jazz. O contexto social abordado dá um panorama completo sobre os acontecimentos dentro e fora do jazz de modo a conduzir cronologicamente os acontecimentos históricos significativos e a evolução do jazz. Uma visão mais jornalista e antropológica do jazz servindo, muitas vezes, de critica para acontecimentos como a crise de 1929, mas nos colocando dentro dos acontecimentos mais relevantes dentro da história do jazz. A parte mais relevante para esta pesquisa é o período chamado de Swing Era que vai dos anos 30 aos meados dos anos 40 do séc. XX. Não há como determinar uma data exata para o início de um período quando se trata de música. Nesse caso, o ínicio se dá devido à evolução das orquestras de jazz nos anos 20, do citado século, chegando ao início da próxima década já praticamente com o que podemos chamar de Big Bands da Swing Era. Embora a era do swing como música de jazz de consumo tenha se iniciado realmente, com todo força, apenas em 1935, com a explosão da orquestra de Benny Goodman, sua evolução já havia começado cerca de dez anos antes, com a primeira big band real da história, conduzida por um negro de nome Fletcher Henderson (Pellegrini 2004, p.100). Podemos observar através dessa colocação que é necessária uma visão mais crítica a respeito dos fatos históricos, uma vez que Meeder (2008), Hobsbawm (2004) e Goya (1997) enfatizam o inicio da Swing Era em 1935 devido à explosão da orquestra de Benny Goodman com o programa de rádio chamado Let’s Dance, que sem dúvida popularizou este gênero no país. Mas levando em conta também que, na sua história, o jazz traz algumas pequenas contradições como sendo de raiz negra africana, a maior parte de sua história consta de nome de música e artistas brancos. Por exemplo, a primeira gravação de uma música de jazz foi feita pela Original Dixieland Jazz Band, formada exclusivamente por músicos brancos. Não estamos assim excluindo esta e outros conjuntos e orquestras que constituem “um marco importante na afirmação do jazz Faculdade de Minas 7 realizando concertos, digressões e gravações musicais” (Aguiar e Borges 2004, p. 123). Apenas estamos querendo elevar um tom mais crítico aos fatos históricos escritos por historiadores brancos e também, devido ao grande preconceito racial da época em questão, reafirmar o questionamento quanto à real data do início deste como estilo, e não apenas como período. A virada da década de 20 para 30, marcada pela grande depressão causada pela crise de 29, conduz o jazz por novos caminhos. A indústria fonográfica entra numa queda ainda maior neste período. Ao mesmo tempo, no entanto, o rádio se tornou acessível e em meados da década de 1930 eles se tornaram a principal forma de entretenimento em casa. Transmissões de grandes bandas de hotéis e salões de todo o país foram determinantes para conduzir a uma ressurreição nas vendas de discos, e ajudou a criar uma base de fãs leais e conhecedores5 (Meeder 2008, p.62). Assim o jazz se espalha pela América e pelo mundo. Os “grandes salões de baile exigiam grandes orquestras” (Bellest e Malson 1989, p. 70), proporcionando assim a evolução técnica dos instrumentistas, elevando o nível composicional e profissionalizando os arranjadores. Esta era a principal característica do estilo Swing, as grandes formações, as chamadas big bands. Dentre tantas, podemos destacar as big bands de Tommy Dorsey, Paul Whiteman, Fletcher Henderson, Duke Ellington e Benny Goodman. Este último relatado por muitos autores como “o rei do swing” (Berendt 2007, p.297, Schuller 1989, p. 06, Simom 1992, p. 329, Meeder 2008, p. 71, Goya 1997, p. 140, Bellest e Malson 1989, p. 70 e Pellegrini 2004, p. 253). Em 1936, Louis Armstrong publicou um livro intitulado Swing That Music, no qual sustentou que o swing era o principio básico do jazz de Nova Orleans. A principal diferença entre o jazz e o swing, dizia ele, era que este adotava algumas técnicas ortodoxas da música europeia, servindo-se de orquestrações escritas e de executantes musicalmente instruídos (isto é, capazes de ler música). O jazz primitivo de Nova Orleans era para Armstrong o Papai do swing6 (Chase 1957, p 441). Esta colocação de Chase vem a confirmar que uma das características adotadas pelas big bands, a pergunta-resposta em forma de riff-still7, vem indubitavelmente das bandas de New Orleans com suas marchas e seus funerais. Outro grande meio que Faculdade de Minas 8 ajudou a disseminar o jazz pelo mundo foi o cinema. “Até por volta de 1931, os musicais eram os grandes responsáveis pelos recordes de bilheteria” (Berchmans 2006, p.107). De 1935 a 1950, o cinema vive sua “época de ouro8”, que promoveu uma grande explosão na produção de filmes nos Estados Unidos e também no Brasil, com a Atlântida e Vera Cruz, por exemplo, que “nos anos 40 foram responsáveis por um enorme volume de produções cinematográficas” (Berchmans, 2006, p. 109). Compositores jazzistas também compuseram trilhas para filmes, como Duke Ellington em Anatomia de um Crime (1959), Henry Mancini (1924-1994) em A Marca da Maldade (1958), Miles Davis (1926 – 1991) em Ascensor para o Cadafalso11 (1958) e Charles Mingus (1922 – 1979) em Sombras12 (1959). No Brasil, temos nomes como Radamés Gnattali (1906 – 1988) que assina a trilha de Almas Adversas (1948) de Leo Marten e Ganga Bruta (1933) de Humberto Mauro, e Guerra-Peixe (1914 – 1993) em O Canto do Mar (1954) de Alberto Cavalcanti e O Homem dos Papagaios (1953) de Armando Couto. A maioria dos tratados de orquestração não traz muitas referências ao jazz. Adler (1989), na sua segunda edição do The Study of Orchestration, traz algumas poucas páginas sobre o jazz, mas apenas retratado como efeitos aplicados a um grupo de sopros: o chamado por ele de jazz effects, mostrando em três exemplos as suas aplicações. Casella (1948) aponta para a influência do jazz no desenvolvimento da técnica e de alguns instrumentos a partir do contato com o jazz e sua “nova forma de tocar” quando afirma que: Nos últimos quarenta anos as características do oboé não tem variado muito. Suas qualidades fundamentais tem alcançado, certamente, um grande desenvolvimento para a expressão de novos sentimentos, mas a fisionomia essencial do instrumento, que é o principal meio de promover sentimentos do grupo das madeiras, permanece quase inalterada. Isto se deve em parte ao fato de que somente há muito tempo o oboé foi tentado pela técnica do jazz e consequentemente não tem conhecimento desta potentíssima força alteradora, a evolução, por exemplo, da clarineta e do trompete13 (Casella 1948, p.25). Esse pensamento traz para dentro do universo da literatura da música o poderio do jazz não somente como gênero ou expressão musical,mas também de uma força Faculdade de Minas 9 transformadora que promove a inovação e um novo patamar técnico para os instrumentistas, abrindo assim novas possibilidades composicionais. 3. BIG BAND:ORIGEM E PERFIL A proposta deste capítulo é evidenciar alguns elementos essenciais à evolução do jazz instrumental dos jazz bands até a sua consolidação no estilo big band. A abordagem restrita a apenas alguns elementos do processo evolutivo do jazz se prende ao fato de que este não é um estudo histórico sobre o desenvolvimento desta música. Todos os elementos aqui tratados têm como objetivo direcionar a nossa visão para os procedimentos e ocorrências existentes no estilo do jazz arranjado da big band. Embora autores como James L. Collier defendam que os dance bands, que atuavam nos clubes e hotéis mais recatados das cidades americanas tocando uma música menos “quente” e mais ao estilo europeu, tenham exercido grande influência no processo de formação da big band, de nossa parte entendemos que o surgimento da big band é o resultado do aprimoramento das habilidades técnicas e do conhecimento formal dos músicos dos jazz bands. Ao verificarmos que no exato momento em que o músico de jazz se desperta para sua evolução, tanto na educação formal quanto musical, começa a acontecer este processo de transformação da música dita “anárquica” em música formalmente estruturada. Esta transformação culminou no surgimento do estilo musical da big band que, aceito pela cultura e pela sociedade americana, tornou-se a principal corrente da música americana das décadas de 1930 e 1940. Além desses fatos, é notório que o modelo estilístico presente na big band tem relações mais estreitas com os jazz bands que com os dance bands. Para a construção do seu discurso musical, os músicos dos jazz bands estavam livres de quaisquer imposições de estrutura, forma e estética existentes na música européia que fossem diferentes daquelas pertencentes ao estilo de New Orleans. Deles não se exigia uma coloração tímbrica particular, ou uma maneira específica de atacar Faculdade de Minas 10 uma nota, ou um tipo especial de vibrato, ou qualquer outra ação padronizadora; pelo contrário, cada instrumentista executava o seu instrumento à sua própria maneira o que proporcionava ao fraseado um resultado tão espontâneo e individual quanto aquele que se consegue com a fala. E essa espontaneidade era característica no estilo. Pelo jeito como tocavam, e pela forma como eram correlacionadas as suas execuções em busca do resultado próprio do estilo, podemos deduzir que a polifonia que acontecia nos jazz bands era desenvolvida de maneira diferente daquela da tradição polifônica ocidental, tanto por seus aspectos de técnica contrapontística quanto por seus aspectos estéticos. Pelo fato de alguns ouvidos não encontrarem na música dos jazz bands o ordenamento formal e estrito existente na concepção de orquestração da música européia, eles a consideravam uma música “anárquica”. Porém, longe do pensamento de anarquia, existia um “ordenamento” inerente ao próprio estilo que era rigorosamente respeitado pelos músicos dos jazz bands sendo o seu resultado deliciosamente desfrutado por aqueles que apreciavam a essa música. As transformações no estilo do jazz de New Orleans resultaram das mudanças ocorridas com os próprios músicos e nas relações destes, e da música de jazz, com a sociedade. Faculdade de Minas 11 Uma das modificações que mais interferiu na estrutura formal do estilo foi exposição do solista ao primeiro plano do jazz band. Numa música onde o caráter coletivo era um dos determinantes do estilo o deslocamento do foco para apenas um elemento constituiu-se numa manobra habilidosa realizada no decurso do tempo. Esta manobra foi o ordenamento das funções que passaram a existir nos jazz bands: a de solista principal e aquela que passou a ocupar o espaço intermediário entre o solista e a seção rítmica, a de acompanhamento do solista ou “background intermediário”. 3.1 O Big Band – Era do Swing Foi nos U.S.A. (e em muitos outros paises, ainda que com menor intensidade que na origem americana) uma era esplendorosa, de “glamour”, de classe e de qualidade musical ! ! ! A imensa maioria dos biógrafos delimitam a “era das Big Bands” (ou “era do swing”) no período de 1935 a 1945, já que nesse intervalo podemos contabilizar mais de 05 centenas de bandas atuando (isso mesmo, mais de 500 ! ! !), ai incluídas desde as mais célebres, as lideradas por maestros, por trumpetistas, por saxofonistas, por pianistas, por cantores, as denominadas “Mickey-Mouse” (lideradas por negociantes, ou por músicos, mas com arranjos “quadrados”, sem inovações), por arranjadores, as bandas de “território”, enfim uma verdadeira constelação de bandas, que alegravam, eram ouvidas e faziam dançar todas as classes sociais americanas. Muitas delas com larga permanência no mercado, outras muitas com passagem meteórica por esse cenário, outras que mesmo após a “era do swing” permaneceram por décadas posteriores, com ou sem o líder que as constituiu. Ainda que o período de cerca de 11 anos indicado acima constitua a época áurea dessas formações, é evidente que as ”Big Bands” não surgiram de uma hora para outra; é claro que tiveram sucessivas “raízes” anteriores. Faculdade de Minas 12 Apenas como exemplos e entre tantos outros, já em setembro de 1923 tínhamos a “Washington Black Sox Orchestra” (organizada pelo banjoista Elmer Snowden) aportando em New York, para temporada semestral no “Clube Hollywood”, que a partir de 1925 passou a denominar-se “Kentucky Club”, com o grupo já então liderado por Duke Ellington que havia substituído Elmer Snowden. Outro exemplo que remonta às “raízes”, é o fato da existência dos salões de baile (os denomiados “ballrooms”) desde a década de 1920, evidentemente com as danças animadas por formações “orquestrais”, constituidas por maior quantidade de músicos que a característica do JAZZ tradicional, como as de Paul Whiteman e de Jimmie Lunceford, alegrando multidões de dançarinos. Assim, as “Big Bands” foram, de início, formações para “fazer dançar” nesses “ballrooms”. Utilizando as palavras felizes de Augusto Pellegrini (“Jazz – Das Raízes Ao Pós-Bop”, editora CODEX, 1ª edição, 2004, Brasil), “.....Durante os anos 1920, os Estados Unidos passaram por grandes transformações sociais e tecnológicas. Os chamados roaring twenties (ferozes anos 20) fizeram crescer a especulação nas bolsas de valores, massificaram a música por meio dos discos de vitrola (“Juke Boxes”), colocaram som no cinema, até então mudo, testemunharam o crescimento da indústria de uma forma geral e originaram uma nova classe emergente, a classe dos novos ricos, grandes consumidores de espetáculos e shows musicais... Em Nova York, a nova mania da dança influenciava decisivamente os grupos orquestrais... A novidade estrutural do swing consistiu na mudança do 2/2, utilizado no jazz tradicional de Nova Orleans ou de Chicago, para um 2/4 ou 4/4. Consistiu também no diferente fraseado dos instrumentos e no desenvolvimento dos riffs,...”. Somese a esse cenário o “crack” de 1929, a grande depressão pela quebra da bolsa de valores americana, que levou o grande público à busca desenfreada de diversão, no cinema e, em grande parte, nos “ballrooms”. Isso significa que as “raízes” das “Big Bands” foram plantadas e crescentes bem antes dessa fase áurea, assim como a atração por essas formações permaneceram até muito depois, sendo certo que ainda hoje podemos apreciar muitas delas em atuação. Como observação é importante assinalar que a palavra “swing” é utilizada tanto para definir a “era swing” (se assim podemos qualificar essa “etapa” do JAZZ, que convencionalmente situamos nessas décadas 1930/1940, precedendo ao “bebop”),quanto é adotada para referir-se ao “balanço rítmico”, a pulsação característica do JAZZ - dizemos que determinada execução “tem swing” - que define a “escola swing” das “Big Bands”, em que o talento dos improvisadores e, ainda que com Faculdade de Minas 13 simplicidade de estrutura, os arranjos com variações dos timbres e texturas entre as diversas sessões de instrumentos, cria a “tensão”, o interesse e a vontade de dançar do ouvinte. Nada se compara à profusão de salões (espaços nos hotéis, locais para assistir às “Big Bands” ou essencialmente como “ballrooms”) já existentes ou inaugurados a partir da década de 1930: Savoy, Cotton Club, Terrace Room (New York Hotel), Moonlight Terrace (Baltmore Hotel), Manhattan Room (Pensylvania Hotel), Grill Room (Lexington Hotel), Roosevelt Grill, Blue Room (Lincoln Hotel), Green Room (Edson Hotel), Palm Room (Comodore Hotel), Roseland, Paradise Restaurant, Paramount, Strand, Lowe’s State, Glen Island Casino, Meadowbrook, todos esses em New York ou em suas cercanias, alem de dezenas de outros espalhados por todos os U.S.A. como, por exemplos e entre tantos e tantos outros, Raymor em Boston, Blue Room (Hotel Roosevelt) em New Orleans, Trianon e Aragon em Chicago, Palomar Ballroom em Hollywwod, Mark Hopkins Hotel em San Francisco, Steel Píer em Atlantic City etc. A partir de 1942 e em decorrência do esforço militar dezenas de músicos e líderes de “Big Bands” ingressaram nas Forças Armadas americanas, ficando claro que nos anos da IIª Guerra Mundial as “Big Bands” foram a grande animadora das tropas americanas que lutavam contra o nazismo, seja Faculdade de Minas 14 apresentando-se nos campos de treinamento, seja indo diretamente ao “front” de batalha para levarlhes, mais que música, as lembranças da pátria remota e do lar. Outra forma de fazer com que os combatentes desfrutassem do som das “Big Bands” (e de seus demais artistas favoritos). A formação básica de uma “Big Band” era a de 03 sessões básicas de instrumentos: a primeira sessão sendo a de metais (trumpetes e trombones, com 03 ou 04 músicos em cada instrumento, quantidade que podia ser ampliada), a segunda sessão constituida de palhetas (saxofones alto, tenor e barítono, podendo incluir clarinete, com um total variando de 03 a 05 ou 06 músicos) e uma terceira sessão sendo a rítmica, ou “cozinha”, com piano, guitarra, contrabaixo e bateria. Assim, uma “Big Band” alinhava cerca de 15 a 20 músicos, com eventual inclusão de uma sessão de cordas, além de, quase sempre, contar com 01 ou 02 cantores (as), mais grupo vocal com título próprio. Muitas das “Big Bands” foram essencialmente “dançantes”, com pouco JAZZ em suas execuções (ainda que tal característica não lhes tenha tirado o brilho e a qualidade), enquanto outras, além de “dançantes”, tiveram alto grau de JAZZ, especialmente pelos espaços reservados para os solos de seus integrantes. A figura exponencial, em torno da qual tudo girava, era a do “líder”, entre os quais muitos se tornaram ícones da música americana, por suas personalidades que impregnaram todo o trabalho das respectivas bandas: o líder definia a banda. Todas as “Big Bands” possuíam seus arranjos escritos, que eram o guia para os músicos em suas respectivas estantes, daí a importância dos “arranjadores” dessa “era swing”, muitos dos quais foram tão ou mais famosos que as próprias bandas. A “febre” das “Big Bands” foi de tal forma importante, que em 1946 foi publicado nos U.S.A. o livro “BIG BOOK OF SWING” (autor Bill Treadwell), em que o Autor classifica e apresenta as “Big Bands” e seus líderes (“kings”, “corny”, “society”, “cowboy”, “circus”, “crazy”, “hawaiian” etc), desfila uma belo painel dos cantores e cantoras (“crooners” e “lady crooners”), reserva um capítulo para um “dicionário do swing” e, é sério, descreve em dois capítulos “como escrever a música com swing” e “como montar uma Big Band” ! ! ! Mesmo com tantas centenas de “Big Bands” atuando, a nosso juízo e preferência pessoal são 06 as que mais destaque tiveram para o JAZZ, enquanto outras 06 cunharam um “som” tão marcante, que são destaque obrigatório em qualquer lista de preferências. Assim, as bandas de Benny Goodman (clarinetista denominado o “Rei do Swing”), de Count Basie (que aportou o “Jazz de Kansas City” para o cenário e destacando, além de Faculdade de Minas 15 excepcionais solistas, sua famosa “all american rhythm section” = Count Basie, Freddie Green, Walter Page e Jo Jones, respectivamente piano, guitarra, baixo e bateria), de Duke Ellington (pianista com arranjos escritos especialmente para seus músicos, daí dizer-se que o instrumento tocado por Ellington não era o piano, mas sua orquestra), de Tommy Dorsey (“The Sentimental Gentleman”, trombonista com som de veludo, uma formação “top” de músicos e de vocalistas, com arranjos de alta qualidade), de Woody Herman (clarinetista que ao longo dos anos montou diversas formações de músicos, denominados de “herds” = rebanhos) e de Stan Kenton (pianista com arranjos mais requintados e tinturas de clássicos), definem o melhor do JAZZ nas “Big Bands”. 3.2 O Estilo Big Band Nos anos que antecederam o advento da big band os músicos se dividiam em dois grupos: o grupo daqueles que tocavam uma música estrita, séria, onde o rigor para com a interpretação da notação exigia de cada músico demonstração de conhecimento técnico e teórico; e o grupo em que se tocava uma música cuja improvisação coletiva realizada de maneira livre era puro entretenimento. Exatamente aí, entre o “sisudo” e o “anárquico”, é que surge Fletcher Henderson com a sua concepção orquestral para o jazz. Esta era uma concepção que estabelecia a ordem sem a perda da liberdade. Era o surgimento do conjunto que, organizado em naipes, serviria como base de apoio ao solista. A abordagem de Henderson consistia em agrupar os instrumentos de sopro em naipes, e harmonizá-los - de cima para baixo - em blocos de notas que se sucediam simetricamente. Os seus arranjos eram construídos com ênfase no solista que evoluía com liberdade enquanto a orquestra se encarregava de preencher os espaços com riffs num “jogo” de pergunta-resposta entre os naipes. Faculdade de Minas 16 Quando, no final dos anos 1930, a swing era atingiu o seu auge, verificou-se que todas as idéias de Henderson estavam lá, aprimoradas certamente. Por volta da segunda metade dos anos trinta, no auge da Era Swing, quando a big band de quatorze músicos tinha se tornado uma instituição jazzística, a música que ela tocava apresentava quase que exclusivamente acordes em bloco, escrita homofônica para naipe, e estruturas verticais paralelas. Quando Fletcher Henderson organizou os seus primeiros arranjos no estilo big band eles eram propostos aos músicos, ou às vezes sugeridos por estes, e então memorizados, pois nem todos os instrumentistas da época dominavam a leitura musical. Estes “head-arrangements”, inicialmente, nem sempre eram desenvolvidos por toda a extensão da composição permitindo aos músicos construírem, em alguns momentos, passagens espontâneas que nem sempre funcionavam com a mesma clareza que a obtida nas partes arranjadas. Por volta de 1928 a orquestra de Henderson contava com quatro metais (três trompetes e um trombone) e três palhetas (dois saxofones-alto e um saxofone-tenor, que também tocavam clarinetas); além da seção rítmica composta por banjo, piano, baixo Faculdade de Minas 17 (tuba) e bateria. Com esta configuração orquestral Henderson já produzia e executava arranjos com as características estilísticas da big band. Mesmo com o foco dirigido para a orquestra de Fletcher Henderson, alguns historiadores afirmam que Don Redman foi o primeiro a ultrapassar os limites da escrita separada em “corais” formados pelas palhetase pelos metais, como fazia Ferde Grofé para os dance bands, ao criar uma escrita onde os naipes se contrapunham num modelo antifônico de “call-and-response” e também desenvolver uma escrita que permitia aos naipes soarem como se estivessem improvisando, os soli. Após ter sido criada a linguagem do jazz arranjado, o que se seguiu foi uma série de ajustes que favoreciam as idéias dos arranjadores. A configuração definitiva de uma big band tradicional começou a ser estabelecida por Don Redman, que deu o primeiro passo ao montar uma big band com quatorze figuras (quatro saxofones, três trompetes, três trombones, piano, baixo, guitarra e bateria), e concluída por Benny Carter, em 1933, ao introduzir, pela primeira vez, cinco saxofones (dois altos, dois tenores e um barítono) numa big band, estabelecendo a composição do naipe mais clássico deste conjunto orquestral. 3.3 O Naipe na Big Band Entendemos que um naipe na big band é mais que um grupo de instrumentos de uma mesma família, pois, ao observarmos a sua origem, ou seja, o jazz band, onde cada instrumento melódico inspirou a formação dos naipes, notamos que a sua função neste estilo de escrita não é a de um aglomerado de sons distintos, mas, ao contrário, na big band, o naipe se torna uma única sonoridade. Assim como cada músico dos jazz bands tinham a liberdade de articular o seu instrumento na busca da sonoridade que melhor lhe conviesse, o arranjador da big band, de maneira semelhante, manipula sonoramente o naipe, como um único instrumento, na busca da sonoridade que melhor se ajuste à sua intenção musical. A maneira como o arranjador “trabalha” a relação entre as distintas sonoridades que constituem um naipe não visa, em primeiro lugar, modificar o colorido Faculdade de Minas 18 harmônico existente no ambiente da melodia; a sua intenção está geralmente dirigida para a alteração da textura sonora resultante do trecho melódico. Em geral o ouvido não se prende às vozes internas das voicings quando estas trafegam simetricamente como blocos homofônicos, apenas percebe como que se o todo melódico tenha assumido uma nova textura constituída de partes que, embora audíveis, compõem esta nova unidade sonora. A harmonia básica de uma melodia é intrínseca a ela. A textura aplicada esta melodia, não. Esta é produto da maneira (e dos meios) como ela é elaborada. No exemplo confeccionado sobre os três primeiros compassos de “Take the ‘A’ train” , a seguir, a “sonoridade” da harmonia está presente no ambiente da melodia de textura simples: Quadro 1 Faculdade de Minas 19 Quadro 2 Estes dois exemplos anteriores demonstram que o som do naipe também pode ser entendido como um “novo” instrumento, mais que uma simples sobreposição de sons, é a formação de uma “nova” sonoridade. A homofonia construída em blocos de notas, em que cada nota melódica é harmonizada por notas de igual valor, sejam elas repetidas ou não, se presta a construir densidade melódica, não tem o caráter contrapontístico. 3.4 A Estruturação dos Naipes Uma big band convencional é composta de três naipes de sopros mais a seção rítmico-harmônica. O naipe de saxofones é composto de cinco instrumentos distribuídos em dois saxofones-alto, dois saxofones-tenor e um saxofone-barítono, enquanto os oito instrumentos da família dos metais estão divididos em dois naipes distintos: o naipe dos trompetes e o naipe dos trombones, com quatro elementos em cada um deles. Esta concepção estrutural dos naipes numa big band foi herdada de Fletcher Henderson. Inicialmente, pelo que podemos observar nos arranjos de Fletcher Henderson, a construção dos blocos era realizada a partir da nota da melodia em posição fechada, ou seja, as vozes do naipe eram sobrepostas próximas umas das outras num perfil acórdico de terças superpostas. Faculdade de Minas 20 Assim como os blocos de notas qualificam o estilo da escrita para a big band e o perfil desses blocos qualifica diferentes texturas, ou densidades, obtida em cada naipe, a manipulação personalizada desses perfis qualifica o estilo do arranjador. Os perfis básicos partem do procedimento adotado por Fletcher Henderso e Don Redman de harmonizar cada nota melódica, com as notas dos acordes, a partir dela mesma. Os perfis de bloco de notas de um acorde adotados pelos arranjadores que se tornaram clichês sonoros, conseqüentemente, após um processo de sistematização, assumiram o status de procedimento-padrão para a distribuição das vozes de um naipe, ou seja, tornaram-se técnicas de arranjo em bloco. 4. CONSIDERAÇÕES SOBRE ESCRITA PARA JAZZ ORQUESTRA Compreender a escrita para jazz orquestra foi um ponto fundamental para iniciar um plano que desse seguimento ao diálogo proposto aqui. Com base na literatura americana sobre o assunto, pudemos observar o processo de construção e elaboração de uma peça para esta formação. Levando em consideração a especificidade na escrita para jazz orquestra, fizemos um levantamento sobre o assunto e suas considerações como forma de embasamento teórico para a condução dos processos na peça Dialoog, de forma a não sair da meta esperada com relação à escrita contemporânea, porém jazzística. Lowell e Pulling (2003), no livro Arranging for Large Jazz Ensemble, abordam desde o âmbito de cada instrumento até o processo final do arranjo e/ou composição. Exercícios para uma compreensão das conduções de vozes, dos dobramentos e do contraponto são preliminares para um aprofundamento mais adiante da escrita para segundo plano (acompanhamento), planos principais e comunicação entre os naipes. Faculdade de Minas 21 Composing for Jazz Orchestra, de William Russo (1973), faz um apanhado desde a elaboração dos acordes, passando por condução de vozes, rearmonização, as famílias dos instrumentos e combinações entre elas, até chegar a um plano de orquestração, misturas de vozes e naipes, dando, passo a passo, os procedimentos para uma escrita bem sucedida neste sentido. Weiner (2005) faz um importante apanhado, em vários capítulos escritos por diversos autores, sobre o idioma dos instrumentos de metais (brass) no contexto popular falando sobre sua evolução dentro do universo em questão, passando pela textura jazzística musical e social destes instrumentos indo até as características improvisativas deste período, falando de personagens e músicos representativos relacionados a alguns instrumentos. Isso traz não somente novas informações a respeito da condução da peça a ser composta, mas também um melhor respaldo técnico para a análise. Dentro da literatura musical brasileira, podemos destacar Almada (2000) que, em seu livro Arranjo, fez um minucioso e profundo estudo sobre o arranjo, abordando inclusive a escrita vocal, os tipos de backgrounds e as conduções de vozes (harmonizações) com as diversas técnicas de aberturas para essas vozes. Através deste estudo, é possível se inteirar no universo do arranjo e se familiarizar com as diversas possibilidades de sonoridades que podem ser obtidas e suas derivações. Também ainda dentro desse universo, Guest (1996) compila, em três volumes, o passo a passo de um estudo sobre arranjo, desde a concepção de base até as mais rebuscadas rearmonizações. Mas diferentemente de Almada, Guest aborda de uma forma mais prática para o dia a dia do músico que precisa se inteirar com essa realidade, voltada para o jazz e a música popular brasileira com exercícios teóricos e exemplos práticos, gravados para uma audição de referência. Com base nestes estudos direcionados para a escrita para jazz orquestra, pudemos levantar importantes considerações a respeito dos procedimentos corretos para uma correta decisão com relação a conduções de vozes e suas aberturas, estruturas verticais ehorizontais e perspectivas harmônicas desejáveis para a peça, dentro do universo brasileiro contemporâneo. Intervalo característico entre as vozes de modo a considerar uma harmonia mais jazzística, notas de tensão e seus usos e condução de Faculdade de Minas 22 vozes horizontais (pensamento mais horizontal) foram os pontos mais importantes neste levantamento. Assim podemos considerar que um pensamento mais horizontal com base nos intervalos entre as vozes, blue notes, notas de tensão e uma harmonia resultante com o uso desses parâmetros traduz uma linguagem condizente com o estilo jazzístico aqui proposto, sem desconsiderar a orquestração como base para uma escrita clara e uniforme dentro dos dois universos a serem explorados. 4.1 Plano Composicional Com o pensamento de compor algo diferente das obras já compostas com essa intenção, e após a compreensão do funcionamento interno de uma jazz orquestra, o primeiro passo foi a elaboração de um plano que possibilitasse os meios para uma fluência do discurso compositivo. Numa breve leitura do livro On Sonic Art de Trevor Wishart (1996) como base para um referencial sobre gesto musical, podemos observar que: A característica essencial dessa comunicação direta musical é o que vou chamar de gesto musical. Em um sentido eu seria mais lógico para deixar de lado o adjetivo de qualificação musical como o conceito de gesto tem muito mais aplicação universal, tanto para outras formas de arte e à experiência humana em geral. (...) Gesto é essencialmente uma articulação do contínuo. É, portanto, de especial relevância para qualquer forma artística ou de abordagem de forma artística que tenta acordo para a continuidade (Wishart 1996, p. 17). Partindo desse principio de definição de gesto na música e de que “é essencialmente uma articulação do contínuo”, podemos transpor isso para a prática musical através de uma articulação com base em material pré-existente, não necessariamente motívica, mas que corresponda a uma continuidade. Como forma de gerar continuidade e, ao mesmo tempo, contraste entre as partes da peça, foi usada, no plano composicional, a ideia de gestos como elo entre as partes, como forma de agregar e separar ao mesmo tempo ideias iniciais e novos materiais Faculdade de Minas 23 adicionados no decorrer do desenvolvimento da composição. Assim o pensamento foi compor planos para cada seção, ligadas por gestos contínuos e contrastantes entre as seções. O plano de composição não está ligado ao princípio baseado num material gerar ideias e sim o contrário. O uso dessa metodologia permitiu explorar mais as possibilidades do material a ser destinado para tal fim. Com isso, a meta seria extrair o máximo de um pequeno fragmento composicional, e levando em consideração as possibilidades técnicas da orquestra (instrumentação escolhida) e dos instrumentos individuais. Ou seja, o plano foi planejar durante o trabalho do material escolhido de forma a promover uma continuidade entre as mudanças obtidas com as variações e a manipulação do material inicial. 4.2 Técnicas e estratégias compositivas A priori, não houve uma intenção em abordar uma técnica específica para esta composição. Para a solução dessa problemática, foram levantadas primeiramente algumas considerações que viabilizassem a construção de um pensamento composicional coerente com o objetivo aqui exposto. Com base no material principal exposto anteriormente, elegemos o uso de algumas operações básicas da teoria dos conjuntos como forma de estratégia para obter material composicional para uma peça dividida em algumas partes. O primeiro passo foi uma breve introdução na qual se pudesse perceber o conjunto, explorando, a partir de cada nota deste conjunto, os intervalos entre as notas, ou seja, colocar cada nota como base e assim obter um resultado sonoro com todas as notas deste e suas possibilidades num pequeno espaço de tempo, servindo de exposição do material a ser usado na peça e também como preparação para a primeira seção. Faculdade de Minas 24 Neste exemplo, podemos observar o material primo e suas inversões.Como este (material principal) e sua T1I são as mesmas notas, optamos por desprezar esta como uso individual, por ter o mesmo padrão sonoro, mas que será usado como forma de melodia descendente do conjunto. A ideia foi, através de uma curta introdução, apresentar todo o material a ser explorado na peça de maneira rápida e clara em que o ritmo e a dinâmica fossem ferramentas para o material incialmente exposto. Aqui podemos notar que os conjuntos usados (material e suas inversões) são apresentados apenas como uma ideia inicial, dando ao ouvinte uma primeira impressão do que virá nas demais seções. . Faculdade de Minas 25 4.3 Traços Rítmicos Um primeiro ponto importante a ressaltar em Dialoog é o uso do ritmo não priorizando o tempo forte dos compassos. Ou seja, com base na influência aqui pesquisada, utilizamos desta opção de privilegiar a rítmica de maneira a não acentuar no tempo primo ou forte dos compassos. Este padrão rítmico é executado pelo fagote, trombone, violoncelo e contrabaixo, sendo estes dois últimos em pizzicato. Essa ideia de tirar o acento do tempo forte se estende por toda peça e está presente em muitos momentos, principalmente nos materiais melódicos. Esta é também uma maneira de colocar a contemporaneidade dentro do contexto da peça em contraste e em constante diálogo com a influência aqui analisada no processo composicional da peça em questão. 4.4 Traços Harmônicos – Aspectos Verticais e Horizontais Na realidade, apesar da harmonia ser um importante fator no jazz, em Dialoog, o pensamento é, quase que em sua totalidade, horizontal. Ou seja, as harmonias e os aspectos verticais são quase todos frutos de um resultado da superposição das linhas horizontais nesta peça. Mas podemos destacar pontos de interação harmônica relevantes para este memorial. No último gesto (o que antecede a marcha), o uso do material temático da última seção está sobreposto. Assim os dois conjuntos obtidos estão assim dispostos: Faculdade de Minas 26 C D E G A B G A Bb C D F Esse processo de superposição das notas obedeceu à regra de que o si deveria ficar ligado ao fá – trítono, intervalo muito explorado pelos jazzistas. Dessa forma, há uma pseudo-harmonia implícita, mesmo somente havendo duas notas. Ainda com base no pensamento harmônico, há um interessante aspecto sobre o “pseudo-cromatismo”, explorado em alguns momentos da peça. O uso deste recurso em Dialoog se dá como citação,ou até mesmo como uma forma de “improvisação”, ou melhor, como uma forma de trazer o caráter improvisativo para a peça. O uso do material, neste trecho, subindo de tom em tom, o que pode não ser chamado de cromatismo, mas traz aqui, a grande relevância da impressão improvisativa e harmônica queeste simples recurso composicional pode trazer nesta peça. Já nos compassos 26 e 27, podemos observar mais um exemplo, vejamos: Faculdade de Minas 27 Aqui podemos ver a passagem do material temático dos violinos para a clarineta e oboé. A mudança de timbre nesse caso, proporciona uma comunicação entre os instrumentos de diferentes famílias de forma a estabelecer mais um aspecto de diálogo dentro diálogo dentro da orquestra, aqui também com a intenção improvisativa do jazz. Outro aspecto improvisativo de caráter horizontal, mas que normalmente está baseado numa harmonia, é o walking bass. Sua construção se baseia num processo compositivo feito pelo músico em tempo real, em que essa linha, como é mais conhecida, é criada com base no material harmônico. Como em propriamente dita, foi usadoum pensamento horizontal com base neste material predeterminado. 5. ACOMPANHAMENTO 5.1 Trompetes e trombones Por ser impossível sempre ter o acorde completo em cada um dos naipes dos metais (trompetes e trombones), Proveta considera, em muitos casos, o naipe de metais como um naipe só, abrindo as vozes, a partir da nota tocada pelo primeiro trompete e obtendo, portanto, o acorde completo nos metais. Faculdade de Minas 28 5.2 Trompetes e saxofones Apesar de os trompetes e os saxofones tocarem simultaneamente, os trompetes atingem numa região bem aguda, tornando seu timbre muito brilhante e potente, sobressaindo, portanto, aos saxofones. 5.3 Trompetes, trombones e saxofones Como já foi citado anteriormente, Proveta combina os metais de uma forma a compor o acorde completo, utilizando, assim, os saxofones como um elemento adicionado ao naipe de metais, utilizando tensões para trazer um novo colorido a massa sonora e não para preencher as lacunas ou as notas ausentes no acorde. Faculdade de Minas 29 5.4 Barítono e trombones Devido à grave tessitura dos trombones e do saxofone barítono, Proveta emprega com muito freqüência essa combinação. Faculdade de Minas 30 5.5 Barítono e trompetes Com uma tessitura bem diferenciada, aguda nos trompetes e grave no saxofone barítono, essa combinação é pouco utilizada por Proveta ocorrendo somente no solo de clarinete. Faculdade de Minas 31 5.6 Barítono, trompetes e trombones Proveta adiciona aos metais o saxofone barítono, intercalando os metais para formar o acorde completo e mantendo o barítono na nota mais grave do acorde. Esse fato que pode ser observado em 10 compassos do arranjo exemplificados, abaixo, no solo de segundo tenor nos compassos 155 e 157: Faculdade de Minas 32 Faculdade de Minas 33 6. CONCLUSÃO Apesar de haver muitos estudos a respeito do jazz em trabalhos acadêmicos, artigos, revistas e livros especializados, o assunto aqui abordado ainda carece de abordagens analíticas, principalmente no ambiente de concerto brasileiro. Neste sentido, esperamos que esse trabalho não só se torne uma colaboração significativa para o tema específico, mas também para a literatura musical. Embora a visão analítica dentro da especificidade do tema não tenha uma metodologia pré-determinada, houve a necessidade de se estabelecer parâmetros e regras para uma análise coerente e esclarecedora dos importantes pontos abordados. Como os manuais de orquestração, de harmonia e análise comumente citados e também o repertório do período em foco não estabelecem uma visão analítica do processo, foi preciso aliciar material e literatura a respeito do tema como base para organizar um pensamento organizacional e crítico para desvendar os fenômenos analisados dentro de suas abordagens. Com o desejo de ampliar os conhecimentos analíticos e desbravadores frente ao universo ainda pouco explorado na música brasileira de concerto, estabelecemos como objetivo principal a conexão entre esta última e o gênero musical americano, o jazz, mais especificamente o jazz na Swing Era. Assim pudemos, através de diferentes abordagens, estabelecer pontos divergentes entre os compositores com base na linguagem fundamentada em cada obra, como nacionalista convencional e não convencional, e popular convencional e não convencional. Faculdade de Minas 34 REFERÊNCIAS POMEROY, Herb. A música de Duke Ellington e Line Writing. Anotações de sala de aula no Berklee College of Music, 1978 • POMEROY, Herb. Line Writing. Anotações de sala de aula no Berklee College of Music, 1988 • SALZER, Felix. Structural Hearing: Tonal Coherence in Music. 1ª edição. New York. Dover Publications Inc. 1982 REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 59 – AGOSTO/2010 • SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da Composição Musical. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1991. • SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. São Paulo. Editora UNESP. 1999 MENDONÇA, Gustavo da S. Furtado. 2006. A Guitarra Elétrica e o Violão: O Idiomatismo na Música de Concerto de Radamés Gnattali. Rio de Janeiro, RJ. UNIRIO. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Música. Centro de Letras e Artes da Universidade do Rio de Janeiro. MESTICO, Sammy. 1993. The Complete Arranger. Fenwood Music Co.: USA. MILAZZO, Elaine. 2004. Afastamentos Composicionais no Choro Torturado de Camargo Guarnieri. Porto Alegre, Rio Grande Do Sul. UFRS. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Música. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. MORANGELLI, Michael. 1999. Jazz: a short history. Disponível em http://www.thereelscore.com/PortfolioStuff/PDFFiles/HistoryJazz.pdf Acessado em 12 de dezembro de 2009. Faculdade de Minas 35 ARRANJO LINEAR: UMA ALTERNATIVA ÀS TÉCNICAS TRADICIONAIS DE ARRANJO EM BLOCO-Joel Barbosa de Oliveira Masson, Érica. M388e Elementos da escrita de Nailor Azevedo Proveta para instrumentos de sopro em seus arranjos para Big Band / Érica Masson – Campinas, SP: [s.n.], 2008.
Compartilhar