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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA - DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA Prof. André Olah Neto Revisão Maio/2010 UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 1 ÍNDICE PREFÁCIO: 6 I) INTRODUÇÃO: 7 01) Definição do campo de atuação 02) Classificação geral dos materiais 03) Critérios de seleção e aplicação dos materiais 04) Opções de fabricação de produtos metálicos 05) Classificação dos processos de fabricação 06) Tipos de processos de fabricação 07) Classificação dos processos de conformação 08) Critérios de escolha do processo de conformação 09) Questionário II) VARIÁVEIS DO PROCESSO DE CONFORMAÇÃO: 23 01) Conformabilidade dos materiais 02) Requisitos exigidos em um material conformado 03) Fatores que definem a aplicação do material 04) Fatores que definem as características do produto final 05) Fatores que afetam a conformabilidade 06) Materiais ideais para conformação 07) Efeito das variáveis metalúrgicas 08) Fatores importantes a serem considerados 09) Efeito da temperatura 10) Efeito da velocidade de deformação 11) Efeito do atrito e da lubrificação 12) Questionário III) FENÔNEMOS ENVOLVIDOS NA CONFORMAÇÃO: 38 01) Deformação elástica x plástica 02) Encruamento 03) Recristalização 04) Efeito do carbono na conformabilidade 05) Conformação a quente 06) Questionário IV) SIDERURGIA: 53 01) Seqüência de fabricação do aço 02) Coqueria 03) Pelotização 04) Produção do ferro gusa 05) Produção do aço 06) Lingoteamento 07) Refusão 08) Influência do processo siderúrgico nas propriedades dos aços UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 2 09) Questionário V) PRODUTOS SIDERÚRGICOS: 74 01) Classificação dos produtos siderúrgicos 02) Nomenclatura de produtos metalúrgicos 03) Requisitos dos produtos siderúrgicos 04) Classificação dos produtos planos 05) Propriedades dos produtos planos 06) Controle de qualidade dos produtos planos 07) Fabricação do aço e seus produtos 08) Formas de se produzir produtos siderúrgicos 09) Questionário VI) LAMINAÇÃO: 92 01) Definição do processo 02) Objetivos da laminação 03) Laminadores 04) Classificação dos laminadores 05) Disposição ou arranjos dos laminadores 06) Seqüência de fabricação 07) Aquecimento de lingotes ou placas 08) Laminação de desbaste 09) Laminação contínua de chapas a quente 10) Laminação contínua de chapas a frio 11) Revestimento de chapas 12) Operações de acabamento de chapas 13) Laminação de perfis 14) Laminação de barras 15) Cilindros de laminação 16) Questionário VII) PROCESSOS ESPECIAIS DE LAMINAÇÃO: 112 01) Corte de chapas 02) Fabricação de tubos sem costura 03) Laminação de tubos com costura 04) Endireitamento de barras e tubos 05) Alisamento por relaminação 06) Laminação de roscas 07) Laminação de eixos ranhurados 08) Repuxamento 09) Laminação de anéis 10) Aplainamento e estiramento 11) Classificação dos tubos sem costura 12) Questionário UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 3 VIII) TREFILAÇÃO: 122 01) Definição e aplicação 02) Ferramentas de trefilação 03) Trefilação de vergalhões e barras 04) Trefilação de arames e fios 05) Trefilação de tubos 06) Trefilação de aços ao carbono 07) Trefilação de fios e tubos capilares 08) Forças de conformação na trefilação 09) Lubrificação 10) Questionário IX) EXTRUSÃO: 140 01) Definição 02) Aplicação 03) Tipos de processos 04) Linhas e forças de escoamento 05) Equipamentos 06) Ferramenta de extrusão 07) Extrusão a frio 08) Extrusão a quente 09) Variáveis do processo de extrusão 10) Extrusão de tubos 11) Extrusão hidrostática 12) Recalque 13) Extrusão de peças a frio 14) Questionário X) FORJAMENTO: 160 01) Definição e aplicação 02) Classificação dos processos 03) Forjamento livre 04) Forjamento em matriz 05) Equipamentos de forja 06) Condições de forjamento 07) Martelamento rotativo 08) Forjamento por eletro-recalque 09) Questionário XI) ESTAMPAGEM: 181 01) Introdução 02) Estampagem de corte 03) Estampagem de conformação e repuxo 04) Questionário UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 4 XII) DOBRAMENTO: 195 01) Introdução 02) Variáveis do processo 03) Tipos de dobramento 04) Ferramentas de dobramento 05) Equipamentos de dobramento 06) Cálculo da força de dobramento 07) Questionário XIII) CURVAMENTO: 205 01) Introdução 02) Curvamento de chapas e placas 03) Curvamento de tubos 04) Variáveis do processo 05) Questionário XIV) CORTE: 212 01) Introdução 02) Corte por cisalhamento 03) Corte por abrasão 04) Corte por fusão 05) Questionário XV) FURAÇÃO: 221 01) Introdução 02) Furação por cisalhamento 03) Furação por usinagem 04) Furação por fusão 05) Questionário XVI) CONFORMAÇÃO POR ESTIRAMENTO: 227 01) Introdução 02) Tipos de processos XVII) CONFORMAÇÃO POR EXPLOSÃO E HIDRÁULICA: 229 01) Conformação por explosão 02) Conformação por pressão hidráulica XVIII) METALURGIA DO PÓ: 323 01) Introdução 02) Seqüência do processo de fabricação 03) Fabricação do pó 04) Preparação do pó 05) Compactação do pó 06) Sinterização 07) Calibração UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 5 08) Tratamento térmico 09) Aplicações típicas 10) Questionário BIBLIOGRAFIA: 250 UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 6 PREFÁCIO O presente material consiste em um dos módulos da disciplina Processo de Fabricação, que tem como principal objetivo contribuir para a formação profissional do engenheiro, transmitindo ao aluno universitário uma visão generalista dos processos de conformação mais usuais encontrados no meio industrial. Não têm absolutamente o propósito de ser um material específico e abordar cada um dos processos de forma mais profunda ou específica, no sentido de servir de subsídio para resolver os problemas do dia a dia. Neste trabalho é dada uma ênfase especial não somente aos processos de conformação em si, mas também aos produtos que podem ser obtidos a través dos mesmos, assim como suas características e aplicações típicas. O material inicia-se com uma abordagem geral a respeito dos processos de fabricação, discutindo-se os aspectos específicos de conformabilidade, absolutamente fundamental para se entender os princípios e os fenômenos associados. Nesta etapa também se discute alguns conceitos metalúrgicos envolvidos. Após se aborda o processo siderúrgico de fabricação do aço importante para se entender como o aço é fabricado e os problemas ou impactos associados quando da sua conformação. Na seqüência são estudados os processos de conformação, como a laminação, extrusão, trefilação, forjamento e estampagem. Por último aborda-se o processo de metalurgia do pó. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 7 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO 01) DEFINIÇÃO DO CAMPO DE ATUAÇÃO : Os processos de conformação podem ser enquadrados dentro do seguinte contexto em relação ao mundo dos materiais: Figura 1.1 – Classificação genérica dos processos de conformação.MUNDO DE MATERIAIS MATERIAIS METÁLICOS PROCESSOS DE FABRICAÇÃO PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 8 02) CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS : Os materiais podem ser classificados conforme tabela a seguir: Tabela 1.I – Classificação geral dos materiais. Materiais eletrônicos Ferritas e semicondutores Cerâmicas construtivas Porcelana Cerâmica natural Vidros CERAMICAS Cerâmicas de engenharia Alumina, carbetos, nitretos. COMPOSITOS Parcialmente cristalizado Termoplásticos Amorfos Polímeros naturais Borrachas POLIMEROS Termofixos Epóxi Aços carbono Baixo, médio e alto carbono. Aços liga Baixa liga, ferramentas, inoxidáveis. Ligas de ferro Ferros fundidos Cinzento, nodular, maleável, branco, vermicular. Ligas leves Zinco, alumínio, magnésio, titânio. Ligas pesadas Cobre, estanho, chumbo, níquel. Metais refratários Tungstênio, tântalo, molibdênio. METAIS Não-ferrosos Metais preciosos Ouro, prata, ligas de platina. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 9 03) CRITÉRIOS DE SELEÇÃO E APLICAÇÃO DOS MATERIAIS : A seleção e a aplicação dos materiais pode ser feita com base nos seguintes critérios: 3.1) CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO: • Propriedades e características intrínsecas (Ex: resistência mecânica); • Custo de aquisição (preço); • Qualidade; • Disponibilidade; • Possibilidade de reaproveitamento (reciclagem). 3.2) CARACTERÍSTICAS DE PROCESSO: • ASSOCIADO ÀS PROPRIEDADES DO MATERIAL = conformabilidade, fundibilidade, soldabilidade, polibilidade, etc; • ASSOCIADO AO CUSTO DE PROCESSAMENTO = produtividade. 3.3) FORMAS DE APRESENTAÇÃO: • CONFORMADAS = laminadas, forjadas, extrudadas, trefiladas, etc; • FUNDIDAS = microfundidas, fundidas em areia, fundidas em coquilhas, etc; • METALURGIA DO PÓ = peças, barras, chapas, etc. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 10 04) OPÇÕES DE FABRICAÇÃO DE PRODUTOS METÁLICOS: Figura 1.2 – Fluxograma de obtenção dos materiais metálicos. MATÉRIA-PRIMA Processos de solidificação rápidos Não- conven- cional FUSÃO FUNDIÇÃO METALURGIA DO PÓ NÃO-CONVEN- CIONAL LINGOTE- AMENTO Placas, blocos, tarugos. Contínuo Estático Conven- cional Pressão, vácuo, centrifugação, reofundição. Vazamento conven- cional PRODUTO SEMI- ACABADO Soldagem Refusão superficial Confor- mação Tratamento térmico Usinagem PRODUTO ACABADO UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 11 05) CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE FABRICAÇÃO: 5.1) EM FUNÇÃO DE SUA ORIGEM: a) PRIMÁRIOS = são os processos utilizados para da forma às peças, podendo ser agrupados em cinco famílias básicas, quais sejam: • CONFORMAÇÃO; • FUNDIÇÃO; • SOLDAGEM; • METALURGIA DO PÓ; • USINAGEM. b) SECUNDÁRIOS: são os processos utilizados para melhorar determinadas propriedades ou características obtidas a partir dos processos primários, tais como: • TRATAMENTO TÉRMICO; • TRATAMENTO SUPERFICIAL; • ACABAMENTO. 5.2) EM FUNÇÃO DO TIPO DE ENERGIA ENVOLVIDA: Na conformação dos materiais sempre está envolvida uma energia. A diferença entre os processos é quanto a forma de aplicação desta energia, se através de força mecânica, se através de temperatura, ou através de ambos ao mesmo tempo, atuando de forma combinada. a) MECÂNICOS = são processos que utilizam preponderantemente as “forças” (tensões / esforços) para dar a forma necessária na obtenção de um determinado produto. São classificados em função do tipo de esforço e da magnitude do trabalho. Ex = usinagem e conformação mecânica a frio; b) METALÚRGICOS = são processos que utilizam preponderantemente o “calor” (temperatura / energia térmica) para, através da mudança do estado físico, dar a forma a um determinado produto. São classificados em função da temperatura de trabalho. Ex = fundição; c) INTERMEDIÁRIOS = são processos que utilizam tanto a “força como o calor”, que através da transformação da estrutura cristalina, dão forma aos produtos. Ex = conformação mecânica a quente; 5.3) EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA DE TRABALHO: a) TRABALHO A FRIO = ocorre em condições de temperatura e deformação tais que os fenômenos de recuperação (encruamento) não são efetivos. • Usinagem (desbaste, acabamento, etc); UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 12 • Conformação mecânica a frio (trefilação, extrusão, laminação, etc); • Estampagem (deformação e corte); TEMPERATURA TRABALHO < TEMPERATURA RECRISTALIZAÇÃO b) TRABALHO A QUENTE = ocorre em condições de temperatura e deformação tais que os fenômenos de recuperação (encruamento) ocorrem simultaneamente com a deformação; • Conformação mecânica a quente (laminação, forjamento, extrusão, etc); TEM. DE CRISTALIZAÇÃO < TEMP. TRABALHO < TEMP. FUSÃ O c) FUSÃO PARCIAL = ocorre em condições de temperatura onde existe uma fusão parcial do material base ou do material de adição; • Sinterização (metalurgia do pó); • Soldagem (elétrica, oxiacetilênica, laser, por atrito, ponto, etc); • Brasagem; TEMPERATURA TRABALHO => TEMPERATURA DE FUSÃO d) FUSÃO TOTAL = ocorre em condições de temperatura onde existe fusão total do material; • Fundição (areia, coquilha, sob-pressão, etc); • Lingoteamento; TEMPERATURA TRABALHO >>> TTEMPERATURA. FUSÃO. 5.4) EM FUNÇÃO DAS TENSÕES APLICADAS: a) DEFORMAÇÃO PLÁSTICA = onde as tensões de conformação aplicadas são menores que a tensão de ruptura do material e seus volumes e massas são mantidos constantes (Ex: laminação, extrusão, forjamento, etc); TENSÃO APLICADA < TENSÃO RUPTURA b) REMOÇÃO METÁLICA = onde as tensões de conformação aplicadas são maiores que a tensão de ruptura do material e os volumes e massas variam durante o processo, pois ocorre remoção de material (Ex: usinagem, estampagem de corte, etc). TENSÃO APLICADA > TENSÃO DE RUPTURA UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 13 Figura 1.3 - Diagrama de equilíbrio Fe-C parcial (até 2% de carbono), mostrando os campos de trabalho. Figura 1.4 - Diagrama tensão-deformação típico de um aço dúctil, de baixo teor de carbono, mostrando as regiões de trabalho Trabalho a frio Trabalho a quente Fusão parcial Fusão total Temperatura de recrista- lização Temperatura de final da fusão (linha liquidus). Campo elástico Campo plástico Ruptura Tensão de escoamento Tensão de ruptura Tensão máxima Temperatura de início de fusão (linha sólidus). UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 14 06) TIPOS DE PROCESSOS DE FABRICAÇÃO: Os processos de fabricação de materiais metálicos podem ser classificados da seguinte maneira: 6.1) USINAGEM: Tabela 1.II – Classificação dos processos de usinagem. ESTADO TIPO PROCESSO A FRIO A QUENTE FUSÃO PARCIAL FUSÃO TOTAL Torneamento X Fresamento X Furação X Aplainamento X Descascamento X Mandrilhamento X Serração X DESBASTE GROSSO Limagem X Eletroerosão X Corte a laser X DESBASTE FINO Corte por água X Retífica X Brunimento X Brochamento X ACABA- MENTO Rolagem X UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 15 6.2) CONFORMAÇÃO: Tabela 1.III – Classificação dos processos de conformação. ESTADO TIPO PROCESSO A FRIO A QUENTE FUSÃOPARCIAL FUSÃO TOTAL Chapas X X Tarugos X X Perfis X X Tubos sem costura X X Fio máquina X X LAMINAÇÃO Roscas X X Perfis X X EXTRUSÃO Tubos X X Barras e perfis X Tubos X TREFILAÇÃO Arames e fios X Livre X X FORJAMENTO Matriz X X Bruta X ESTAMPAGEM Fina X Puncionamento X X CORTE Tesura X X Dobragem X Calandragem X Repuxamento X Estiramento X Por explosão X OUTROS Tubos com costura X 6.3) METALURGIA DO PÓ: Tabela 1.IV – Classificação dos processos de metalurgia do pó. ESTADO PROCESSO A FRIO A QUENTE FUSÃO PARCIAL FUSÃO TOTAL Peças X Barras X Chapas X UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 16 6.4) SOLDAGEM: Tabela 1.V – Classificação dos processos de soldagem. ESTADO TIPO PROCESSO A FRIO A QUENTE FUSÃO PARCIAL FUSÃO TOTAL Fraca X Forte X HETE- RÔGENA Brasagem X Caldeamento X Solda topo X Solda ponto X Por atrito X Aluminiotermia X Maçarico ar/comb X Oxídrico X Oxiacetilenica X A arco - MIG X A arco – MAG X A arco – TIG X AUTÔGENA POR PRESSÃO AUTÔGENA POR FUSÃO Eletrodo revestido X UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 17 6.5) FUNDIÇÃO: Tabela 1.VI – Classificação dos processos fundição. ESTADO TIPO PROCESSO A FRIO A QUENTE FUSÃO PARCIAL FUSÃO TOTAL Por sopro X Por tiro X AREIA A VERDE Por compressão X Em casca X Cura a frio X Cura a quente X AREIA SINTÉTICA Gás carbônico X Por gravidade X Centrífuga X Baixa pressão X Sob pressão X EM COQUILHA Contínua X Cera perdida X MODELO PERDIDO Isopor X 07) CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO: 7.1) EM FUNÇÃO DO TIPO DE ESFORÇO APLICADO: Como mostrado na tabela a seguir, em função do tipo de esforço aplicado, os processos de fabricação podem ser classificados em: • TIPO COMPRESSÃO DIRETA: neste caso a força é aplicada à superfície do material, o qual escoa perpendicularmente a direção de compressão (Ex: forjamento e laminação); • TIPO COMPRESSÃO INDIRETA: neste caso as forças primárias aplicadas sobre o material são trativas, mas as forças realmente atuantes, que promovem a deformação são do tipo compressivo indireta, resultante da reação do material com a matriz (ferramenta). Desta forma o material escoa sob um estado de tensões combinadas (Ex: trefilação, extrusão e embutimento); • TIPO TRATIVO: neste caso são envolvidos unicamente esforços de tração sobre o material (Ex: estiramento de chapas finas sob o contorno de uma matriz); • DE DOBRAMENTO: envolve a aplicação de momentos fletores sobre o material (Ex: dobramento); • DE CIZALHAMENTO: envolve a aplicação de forças cisalhantes que provoca o rompimento controlado do material junto ao plano de cisalhamento (Ex: estampagem de corte). UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 18 7.2) EM FUNÇÃO DO TIPO DE PRODUTO OBTIDO: Como mostrado na tabela a seguir, em função do tipo de produto obtido, os processos de fabricação podem ser classificados em: • PRIMÁRIOS = são denominadas operações de “processamento” onde os produtos obtidos têm formas simples e nem sempre tem aplicações finais, devendo ainda sofrer outros etapas de processamento (Ex: redução de lingotes, chapas grossas, barras, etc); • SECUNDÁRIOS = são denominadas operações de “fabricação” e envolvem métodos para produzir materiais já na formas acabada, final (Ex: conformação de chapas finas, trefilação de arames e tubos, etc). UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 19 Tabela 1.VII – Processos e produtos típicos obtidos a partir de conformação. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 20 Figura 1.5 – Classificação dos processos de conformação. 08) CRITÉRIOS DE ESCOLHA DO PROCESSO DE CONFORMAÇÃO: O conjunto de critérios que devem ser considerados quando da escolha, utilização ou implantação de um determinado processo de conformação são: 8.1) CARACTERÍSTICA DO MATERIAL: • Conformabilidade; • Disponibilidade de tipo, tamanho e forma; • Qualidade. 8.2) REQUISITOS TÉCNICOS EXIGIDOS NO PRODUTO: UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 21 • Forma ou geometria da peça; • Acabamento superficial exigido; • Tamanho ou peso da peça; • Tipo de aplicação; • Precisão dimensional (tolerância de forma e dimensão); • Propriedades mecânicas; • Resistência ao desgaste; • Resistência ao impacto; • Nível de qualidade (rigidez das especificações). 8.3) CARACTERÍSTICA DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO: • Produtividade; • Nível de qualidade exigida – repetibilidade, reprodutividade; • Capacidade produtiva; • Volume de produção exigida (seriação, escala, quantidade); 8.4) FINANCEIRO: • Custo final desejado (matéria prima + fabricação); • Volume necessário de investimento; 8.5) OUTROS ASPECTOS: • Efeito sobre o meio-ambiente; • Tempo ou prazo disponível. 09) QUESTIONÁRIO: • Faça uma classificação dos “processos de fabricação” em função da temperatura de trabalho. • Faça uma classificação dos “processos de conformação mecânica”, mais usuais quanto a: tipo de solicitação, tipo de esforço aplicado, temperatura de trabalho e produto. • Quais os critérios que podem ser levados em consideração na escolha de um processo de fabricação? • Quais as vantagens e eventuais implicações de se realizar conformação de metais a quente? • Quais as implicações quando não se obedece aos limites do trabalho mecânico a quente? • Qual o efeito da temperatura de recristalização sobre a resistência mecânica, ductilidade, nível de tensões interno e tamanho do grão do material? • Quais as vantagens e implicações de se realizar a conformação a frio? • Quais os componentes ou os fatores envolvidos em um processo de conformação e qual seu efeito sobre o resultado? • O que é mais caro, realizar conformação a frio ou a quente? Porque? UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 22 • Faça uma analogia entre um produto conformado a frio e a quente quanto as suas características e propriedades finais. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 23 CAPÍTULO II VARIÁVEIS DO PROCESSO DE CONFORMAÇÃO 01) CONFORMABILIDADE : 1.1) DEFINIÇÃO: No processo de conformação de metais a conformabilidade é a principal característica a ser levada em consideração e pode ser definida como a capacidade ou a facilidade que um determinado material tem de ser deformado, atingindo a forma desejada, sem romper. 1.2) COMO MEDIR A CONFORMABILIDADE: a) DE FORMA DIRETA: • ENSAIO DE TRAÇÃO = de uma forma direta, onde se analisa a ductilidade do material através de: � A forma da curva tensão X deformação; � O alongamento sofrido pelo corpo de prova; � A estricção sofrida pelo corpo de prova; � Valor da tensão de escoamento; � Valor da tensão de ruptura; � Campo plástico = relação entre a tensão de ruptura e escoamento. • OUTROS ENSAIOS MECÂNICOS = através do ensaio de compressão ou flexão, onde se mede a ductilidade, ou seja, a capacidade do material ser conformado; • ENSAIO DE EMBUTIMENTO = através da intensidade de deformação de uma chapa até a sua ruptura; b) DE FORMA INDIRETA: • ENSAIO DE DUREZA = através da capacidadeou da resistência à penetração do material por um penetrador. A princípio quanto mais mole o material maior a ductilidade; • ANÁLISE METALOGRÁFICA = quantidade de ferrita, tamanho dos grãos e presença de inclusões afetam a ductilidade; • ANÁLISE QUÍMICA = teor de C, Si, Mn, P e S e eventual presença de outros elementos de liga. O que e como avaliar uma estrutura cristalina, através do método de metalografia: MATRIZ METÁLICA = avaliar a quantidade e o tipo de fases presente na estrutura, como a ferrita, perlita, bainita, martensita, austenita retida. Com isto é possível estimar: UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 24 • A composição química, como o teor aproximado de carbono, bem como a presença eventual de elementos de liga; • O tratamento térmico realizado (recozimento, normalização, austempera, tempera, etc), bem como se este tratamento teve algum tipo de problema; • As propriedades como a dureza, resistência mecânica, resistência ao desgaste, etc. INCLUSÕES = avaliar o tipo e a quantidade ou nível de inclusões, como os sulfetos, óxidos, silicatos e aluminatos, feito de forma comparativa utilizando-se tabela, ou a presença de alguma outra fase precipitada na forma de metal puro. Com isto é possível estimar: • Características de fabricação, como a conformabilidade, usinabilidade, etc; • As propriedades como a resistência mecânica, etc; COMPOSTOS OU FASES INTERMETÁLICAS = avaliar a presença de carbonetos, nitretos. Com isto é possível estimar: • A composição química como o teor aproximado de carbono, bem como a presença eventual de elementos de liga; • As propriedades mecânicas, como a dureza e a resistência ao desgaste, etc. GRÃO = avaliar o tamanho e a forma de grão. Com isto é possível estimar: • Se o material sofreu algum tipo de conformação mecânica a frio; • Se o material sofreu algum problema no tratamento térmico; • As propriedades mecânicas, associada principalmente a tenacidade do material. 1.3) PORQUE ESTUDAR A CONFORMAÇÃO MECÂNICA? É importante estudar a conformação mecânica para determinar ou avaliar: • Os esforços necessários para promover a conformação do material até a forma desejada; • O porte, o tipo e a potência do o equipamento a ser utilizado; • A deformação sofrida pelo metal; • Os efeitos da conformação. 1.4) QUAIS OS TIPOS DE DEFORMAÇÃO? • ELÁSTICA = deformação não permanente. Importante para avaliar o comportamento do “produto” durante o seu uso ou aplicação; • PLÁSTICA = deformação permanente. Importante para avaliar o comportamento em “processo” quando da conformação. 02) REQUISITOS EXIGIDOS EM UM MATERIAL CONFORMADO : Os requisitos exigidos tanto na peça conformado, no produto final, como no processo de fabricação, os quais são afetados diretamente pela conformabilidade do material, são: UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 25 a) ASSOCIADO AO PRODUTO: • Precisão dimensional (de forma e dimensão); • Acabamento superficial; • Tipo de estrutura cristalina; • Propriedades mecânicas (dureza, resistência, tenacidade); • Resistência ao desgaste; • Isenção de defeitos, tanto superficiais como internos; • Custo competitivo; b) ASSOCIADO AO PROCESSO: • Produtividade; • Repetibilidade (qualidade); 03) FATORES QUE DEFINEM A APLICAÇÃO DO MATERIAL : Figura 2.1 – Fatores que definem a aplicação de um material. TRABALHO MECÂNICO COMPOSIÇÃO QUÍMICA TRATAMENTO TÉRMICO ESTRUTURA CRISTALINA PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS DESEMPENHO CUSTO CUSTO BENEFÍCIO APLICAÇÃO PROCESSO PRODUTO MAT-PRIMA PROCESSO UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 26 04) FATORES QUE DEFINEM AS CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO FINAL : Figura 2.2 – Relacionamento entre matéria-prima, processo de fabricação e produto final. DEFINIÇÕES: • PROPRIEDADES = é todo requisito de uma peça, produto, ser ou material que pode ser medida de forma direta e repetitiva, bem como possui uma unidade e um método de medição definido, aceito e normalizado. Exemplos = resistência a tração, dureza, temperabilidade, peso, altura, tamanho, etc. • CARACTERÍSTICA = é todo requisito que pode ser avaliado, mas não necessariamente medido de forma direta, mas somente de forma comparativa, e não tem uma unidade específica, embora possa ser igualmente importante. Exemplos = usinabilidade, conformabilidade, beleza, etc. 05) FATORES QUE AFETAM A CONFORMABILIDADE : 5.1) ASSOCIADO AO PROCESSO: • TIPO DE SOLICITAÇÃO = compressão, tração, flexão ou esforços combinados; • TIPO DE PROCESSO = laminação, extrusão, trefilação, forjamento, estampagem; • TIPO DE OPERAÇÃO = desbaste, acabamento; • TIPO DE EQUIPAMENTO = tamanho, robustez, potência; PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA-PRIMA PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO FINAL CONFORMABILIDADE, PROPRIEDADES MECÂNICAS, ALONGAMENTO. PRODUTIVIDADE, DESEMPENHO, REPETIBILIDADE, RENDIMENTO QUALIDADE, CUSTO, PRECISÃO, ACABAMENTO, DESEMPENHO, ETC. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 27 • TEMPERATURA DE CONFORMAÇÃO = a frio ou a quente; • VELOCIDADE DE CONFORMAÇÃO ; • COEFICIENTE DE ATRITO = entre o material e a ferramenta; 5.2) ASSOCIADO AO MATERIAL: • TIPO DE MATERIAL = cada material apresenta uma resistência à deformação característica, determinada pela sua resistência mecânica (aço, cobre, alumínio, etc); • MICROESTRUTURA = tipo de estrutura cristalina (ferrita, perlita, martensita) e fases secundárias presentes (carbonetos, nitretos). Podem ser mais duras e mais frágeis, portanto mais difíceis de conformar; • NÍVEL DE INCLUSÕES = definido pelo teor de impurezas presente (óxidos, silicatos, sulfetos, nitretos, etc), que, dependendo de sua forma e quantidade, prejudicam consideravelmente a conformação; • COMPOSIÇÃO QUÍMICA = teor de elementos de liga e teor de elementos residuais; • TEMPERATURA DE FUSÃO = define a temperatura de conformação. Ligas eutéticas apresentam menor temperatura de fusão; • GRAU DE ENCRUAMENTO = define o nível de tensões internas e a resistência a deformação; • TAMANHO DO GRÃO = influência na resistência do material; • TRATAMENTO TÉRMICO = o tipo de tratamento prévio realizado define o nível de inclusões e o tipo de estrutura cristalina presente; 06) MATERIAS IDEAIS PARA CONFORMAÇÃO : A princípio, com algumas poucas exceções, todos os materiais metálicos, ferrosos ou não ferrosos, podem ser conformáveis, com maior ou menor dificuldade, envolvendo limitações, dependendo do processo utilizado. No entanto, existem algumas ligas que, para facilitar o trabalho de conformação e reduzir os custos envolvidos, são preferencialmente utilizadas, como: 6.1) AÇOS DE BAIXO TEOR DE CARBONO, SEM LIGA: • A princípio, com maior ou menor dificuldade, é possível conformar todos os metais ou as ligas de aço, desde que sejam adequadas às condições necessárias (equipamento, velocidade e temperatura); • As melhores ligas Fe-C para conformar são as de baixo teor de carbono (ideal menor que 0,08% - aço SAE 1008 - em alguns casos chegam até a 0,03% - SAE 1003) e sem elementos de liga; • Estas ligas possuem estruturas 100 % ferríticas, que são as ideais por serem mais moles e dúcteis e não conterem fases secundárias duras e frágeis, como os carbonetos de ferro (cementita) que são mais difíceis de conformar; • Quanto maior o teor de carbono, maior a quantidade de perlita (constituído de ferrita + cementita) até atingir 0,8% C (100 % perlita); UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 28 • Quanto maior os elementos de liga, dependendo o tipo, maiora quantidade de cementita ou outras fases duras e quebradiças presentes no aço; • Quanto maior o teor de carbono e dos elementos de liga, mais difícil conformar, maiores os esforços envolvidos, menor a velocidade de conformação, menor a produtividade, menor a produção e, conseqüentemente, maior o custo de conformação; • Existem ligas de aço com até 2% de C e com teores elevados de elementos de liga (até 30%) que, a princípio, só podem ser conformadas a elevadas temperaturas a custos bastante elevados, associados à baixa produtividade; • Os ferros fundidos também são ligas Fe-C, mas, absolutamente, não podem ser conformadas, devido aos elevados teores de carbono (> 3,0%) que promovem a presença de grafita ou excesso de cementita na estrutura, que são muito frágeis e quebradiços, promovendo a ruptura do material durante a conformação; 6.2) LIGAS DE COBRE: • Cobre comercialmente puro (Ex: fios de cobre para fins elétricos); • Latões são os preferidos (ligas Cu-Zn); 6.3) LIGAS DE ALUMÍNIO: • O alumínio comercialmente puro é preferencialmente o mais utilizado para a conformação; 6.4) LIGAS MOLES: • Chumbo; • Estanho; 07) EFEITO DAS VARIÁVEIS METALÚRGICAS : Quando a adição certos elementos químicos presentes tipicamente nas ligas ultrapassa certos limites, existe perda de solubilidade e pode ocorrer a formação ou precipitação de uma segunda fase. Neste caso o metal passa a ser constituído de uma mistura de duas ou mais fases como os carbonetos, nitretos, sulfetos e aluminatos. Muitas destas fases são mais duras e mais frágeis, portanto mais difíceis de serem conformadas; As propriedades destas misturas dependem fundamentalmente da natureza das fases presentes. Consideramos como matriz o material que está presente em maior quantidade e, como segunda fase, o material restante. Quando a segunda fase é mais dura que a matriz, a mistura será mais resistente que a matriz. Quando for mais macia, poderá haver um amaciamento da mistura em relação à matriz. Importante é também considerar as propriedades, a quantidade, a forma e a distribuição desta segunda fase sobre a conformabilidade do metal. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 29 Raciocínio vale também para a influência do tamanho do grão, tanto em metais puros como em ligas. Quanto menor o tamanho do grão, maior a área da superfície dos contornos do grão e mais resistência terá o metal. Durante a conformação as partículas de segunda fase tendem a se alinhar na direção da conformação, bem como os grãos tendem a se alongar no mesmo sentido, ou seja, na direção longitudinal do produto. 08) FATORES IMPORTANTES A SEREM CONSIDERADOS: a) As forças aplicadas durante o processo de conformação, em condições normais, devem ser maiores que a tensão de escoamento, mas inferiores a tensão de ruptura, levando o material a deformação sem provocar sua fratura ou a geração de trincas localizadas, que seriam suficientes para sucatear a peça e se perder todo o trabalho realizado; b) A tensão de escoamento é fortemente dependente da taxa de deformação sofrida pelo material durante o processo (devido ao encruamento sofrido) e da temperatura. Isto dificulta sensivelmente a simulação da deformação em laboratório e conseqüentemente a previsão do comportamento do material antecipadamente em função do tipo de peça (complexidade geométrica) que está sendo conformada; c) O fato do material, durante a conformação, estar em contacto com a ferramenta faz com que o atrito ao longo da interface de contato material-ferramenta e a temperatura gerada em função disto interfiram no processo; d) O tipo e a intensidade de contacto, entre a superfície material-ferramenta, determina o comportamento do processo durante a deformação, associado a: • Distribuição das tensões envolvidas; • Tipo e intensidade da deformação; • Velocidade de deformação; e) As variáveis do processo de fabricação que podem afetar as condições da superfície de contacto são: • Tipo de metal conformado; • Tipo e dureza do metal da ferramenta; • Coeficiente de atrito entre o material e a ferramenta; • Resistência ao desgaste da matriz (rugosidade superficial); • Acabamento superficial da ferramenta; f) O comportamento da superfície da ferramenta no decorrer do processo de conformação determina: • Acabamento superficial do produto; • Precisão dimensional do produto; • Esforços de conformação envolvidos; • Tendência de ruptura durante conformação. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 30 09) EFEITO DA TEMPERATURA: 9.1) DEFORMAÇÃO A QUENTE: A resistência mecânica dos metais cai quando aumenta-se a temperatura do metal. Th = T / Tf Tf = Temperatura de fusão Figura 2.3 – Efeito da temperatura de trabalho sobre o valor do limite de escoamento. A deformação a quente ocorre quando Th => 0,6 Tf. Neste caso se dá o amaciamento simultâneo do material com o aumento da temperatura. Isto faz com que a tensão de escoamento diminua. Para alguns metais a temperatura ambiente pode ser suficiente para o processamento a quente (Ex: Chumbo – Tf 327 oC). Para outros metais é necessário elevar consideravelmente a temperatura (Ex: Nb – Tf 2417 oC). 9.2) CONSEQÜÊNCIAS DA CONFORMAÇÃO A QUENTE: Quanto maior a temperatura homóloga....... • Mais fácil de conformar; • Menor o esforço e a energia necessária para promover a conformação; • Maior o volume de material conformado por unidade de tempo; • Maior produtividade; • Menor potência necessária para executar a operação; • Menor capacidade e tamanho do equipamento (menos investimento) • Menor custo (mais barato). 9.3) EFEITOS COLATERAIS DA CONFORMAÇÃO A QUENTE: Os efeitos colaterais quando é realizado a conformação a quente são: • Maiores taxas de oxidação do metal com o ar (formação de carepas); • Pior o acabamento superficial do produto; • Necessidade se limitar temperatura; • Alguns metais (Zr e Ti) oxidam-se violentamente e o oxigênio absorvido torna o metal completamente frágil. Limite de escoamento Temperatura homóloga - Th UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 31 9.4) DEFORMAÇÃO A FRIO: A capacidade de um metal sofrer deformação a frio é limitada pela ocorrência de fratura. Para evitar este efeito utilizam-se ciclos de “deformação / cristalização estática” quando se deseja conferir aos metais grande deformação a frio. Neste ciclo o material endurecido é aquecido em temperaturas acima de 0,5 Tf, ocorrendo um amaciamento. O ciclo pode ser aplicado inúmeras vezes. Quando realizado a deformação a quente o amaciamento ocorre logo após a deformação. Neste caso considera-se um ciclo de recristalização dinâmica, pois ocorre concomitantemente com a deformação. Do ponto de vista do produto é importante conhecer-se o histórico termodinâmico que ele foi submetido durante o seu processamento, pois define a sua microestrutura (tamanho do grão, distribuição e tamanho de microestruturas, orientação dos grãos), que por sua vez define suas propriedades. 9.5) LIMITES DE TRABALHO A QUENTE: • LIMITE INFERIOR = é a menor temperatura para a qual a taxa de recristalização é rápida o bastante para eliminar o encruamento sofrido durante a conformação. Para um determinado metal ou liga a menor temperatura de trabalho dependerá de fatores tais como a quantidade de deformação anteriormente sofrida (residual) e o tempo que o material permanecerá submetido a temperatura em questão; • LIMITE SUPERIOR = é determinado pela temperatura em que ocorre o início da fusão (linha solidus no diagrama de equilíbrio) ou onde ocorre excesso de oxidação. Estatemperatura é limitada a cerca de 38 oC abaixo do ponto de fusão, no sentido que não existam segregações de baixo ponto de fusão que gerem fragilidade a quente do material, levando à sua ruptura prematura quando da conformação. 9.6) VANTAGENS DA CONFORMAÇÃO A QUENTE: • Menor resistência mecânica do material, menor os esforço e energia envolvida, maior facilidade para conformar; • Maior a velocidade de conformação, maior a produtividade, menor custo de fabricação; • Propicia o escoamento plástico sem surgimento de trincas; • Ajuda a eliminar heterogeneidades da estrutura dos lingotes, como as segregações ocorridas durante a solidificação; • Elimina as bolhas de gases formadas durante a solidificação do lingote, através do caldeamento; • Elimina estruturas colunares com grãos grosseiros, típico do produto bruto de fusão, que são “quebradas” e refinados, obtendo-se grãos equiaxiais de menor tamanho; • Obtenção de uma estrutura recristalizada, homogênea, sem encruamento ou tensões internas, sem necessidade de recristalizações posteriores, como ocorre na conformação a frio; UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 32 • Aumento da ductilidade e da tenacidade em relação aos fundidos, em decorrência das alterações estruturais causadas pelo trabalho a quente; 9.7) VANTAGENS DA CONFORMAÇÃO A FRIO: • Possibilidade de obter materiais com menores dimensões, não possível de ser obtido pelo processo a quente, pois neste caso o material romperia durante a conformação; • Melhor acabamento superficial, pois não ocorre oxidação superficial provocada entre o material e a atmosfera do forno; • Menores perdas de material associada à oxidação excessiva que ocorre na conformação a quente, com formação de carepas; • Ausência de descarbonetação superficial, também associado a oxidação superficial típico no processo de conformação a quente; • Melhor resistência mecânica do material, associado ao encruamento sofrido durante o processo de conformação. 10) EFEITO DA VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO : Quando se deforma um metal a maior parte da energia cedida a este metal se transforma em calor. Quanto maior for a velocidade de deformação, menor será a dissipação de calor e conseqüentemente, maior será a temperatura do produto fabricado. Esse problema é de particular importância na deformação a quente, onde o aumento da temperatura considerado pode causar a fusão do metal, caso a temperatura inicial for alta demais. A velocidade de deformação também influi sobre a tensão necessária para deformar um metal, particularmente para altos valores de Th. 11) EFEITO DO ATRITO E DA LUBRIFICAÇÃO : 11.1) ATRITO: Mecanismo pelo qual se desenvolvem forças na superfície de dois corpos em contato, que se traduzem numa resistência ao deslizamento de um corpo sobre o outro. Figura 2.4 – Efeito do atrito. F H W R UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 33 U = F / R Onde: U = Coeficiente de atrito; F = Força necessária para vencer o atrito e movimentar o corpo; R= Resistência do corpo contra a superfície de apoio; O atrito está presente em todos os processos de conformação e é necessário levá-lo em consideração, pois: • Geralmente é desfavorável ao estado de tensão necessária para promover a deformação; • Necessário aplicar mais esforço para vencê-lo; • Produz fluxos irregulares de metal durante o processo de conformação, influenciando no nível de tensões residuais do produto e na heterogeneidade da microestrutura (encruamento e deformação do grão); • Influência a qualidade superficial do produto; • Eleva a temperatura do metal durante a conformação, a ponto de comprometer as propriedades mecânicas; • Aumenta o desgaste das ferramentas; • Aumento o consumo de energia necessária à deformação; • Apesar dos seus inconvenientes, sem o atrito alguns processos de conformação são absolutamente imprescindíveis (Ex: laminação); 11.2) CONSIDERAÇÕES: • A força de atrito desenvolvida na superfície de contacto entre dois corpos é proporcional à força normal atuante sobre ela, e é independente da área desta força; • Uma vez iniciado o deslizamento, a força H necessária para manter o corpo em movimento é menor que a força necessária para iniciar este movimento. Em conseqüência a força de atrito F’ será: F’ = u’ R < F • Observa-se que se cria uma “força de atrito dinâmico”, associado a um “coeficiente de atrito dinâmico”; • Para velocidades baixas admite-se que o coeficiente de atrito é independente da velocidade, mas para velocidades elevadas observa-se uma nítida diminuição do coeficiente de atrito, ou seja: u’ << u 11.3) LUBRIFICAÇÃO: A lubrificação entre as superfícies tem a função de diminuir e controlar o coeficiente de atrito. O lubrificante pode ser sólido, líquido ou gasoso e sua eficiência é determinada pelas características mecânicas da película formada. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 34 A lubrificação pode ser do seguinte tipo: • LUBRIFICAÇÃO SECA = nos processos de forjamento de aço pode-se empregar finas chapas de cobre ou chumbo como lubrificante. Mais freqüente é o uso de lubrificantes sólidos, como polímeros, sabão, etc; • LUBRIFICAÇÃO LÍQUIDA = neste caso a película entre os corpos é líquida (Ex: óleos) e o parâmetro característico mais importante a ser considerado é a sua viscosidade; • LUBRIFICAÇÃO LIMITE = estes lubrificantes reagem quimicamente com o metal, formando compostos que se mantém aderentes a este, evitando, dessa forma, o contato metálico direto entre dois corpos. Um fator que afeta fortemente a lubrificação é a temperatura de interface. A viscosidade dos lubrificantes decresce rapidamente com a elevação da temperatura e os compostos da lubrificação limite (normalmente orgânicos) se decompõe a temperaturas da ordem de 200 a 250 oC. O trabalho das forças de atrito que se desenvolve na interface eleva rapidamente a temperatura, dependendo das condições da superfície (coeficiente de atrito) e da condutibilidade térmica do material. O trabalho de conformação plástica também deve ser considerado, pois grande parte da energia se transforma em calor. 11.4) CARACTERÍSTICAS DE UM LUBRIFICANTE IDEAL: As principais características encontradas em um lubrificante são: • Manter inalteradas as condições de lubrificação hidrodinâmicas ou lubrificação limite a altas pressões e temperaturas; • Diminuir o atrito superficial até valores compatíveis a necessidade do processo; • Dissipar eficazmente o calor gerado durante o processo de deformação; • Impedir a adesão metálica entre a matriz e o metal processado; • Reduzir a transferência do metal entre a superfície do metal e a ferramenta; • Eliminar as partículas abrasivas (pós-metálicos, escamas de óxidos, partículas formadas durante a conformação, etc), da superfície de trabalho; • Manter as condições aceitáveis de acabamento superficial e características metalúrgicas dos produtos acabados; • Não deixar resíduos quando o material for termicamente tratado; • Ser de fácil remoção da superfície do produto nas operações de acabamento; • Não apresentar características tóxicas; • Possuir condutividade elétrica aceitável para assegurar o desaparecimento de cargas elétricas estáticas produzidas pelo atrito. 11.5) TIPOS DE LUBRIFICANTES: Os lubrificantes mais comuns utilizados nos processos de conformação são: • ÁGUA = utilizada quando se deseja refrigerar e remover contaminadores simultaneamente UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 35 • ÓLEOS MINERAIS PUROS = geralmente pouco usados. Mais utilizado quando agregados a óleos e ácidos graxos. Aplicado em estampagem profunda ou extrusão; • ÓLEOS E ÁCIDOS GRAXOS = são os mais utilizados, formandosabões metálicos. São saponificados e combinados com óleos minerais. Utilizado na trefilação de arame; • CERAS = são razoavelmente boas e conseguem suportar altas pressões. Ex: ceras parafínicas, ceras amaciadoras, ceras naturais, etc). Empregados na estampagem profunda, na extrusão e na laminação; • SABÕES = sabão metálico em pó. (Ex: oleato de cálcio, estearato de cálcio, etc). Empregados na estampagem profunda e trefilação de arames; • SÓLIDOS MINERAIS = são constituídos de elementos passivos e ativos. Os ativos melhoram propriedades sob alta pressão e temperatura (Ex: grafita e bissulfato de molibdênio). Os passivos melhoram a adesão ao metal (Ex: cal, talco, caulim, carbonatos, mica, etc); • SÓLIDOS METÁLICOS = metais duros podem ser cobertos por metais macios (Ex: chumbo, cádmio, cobre, índio, etc). Aplicado na trefilação de barras e tubos; • VIDROS = usados em operações que alcançam temperaturas suficientes altas para plastificar o vidro. Aplicado na extrusão a quente de aços, trefilação de tubos; • MATERIAIS SINTÉTICOS = queimam sem deixar resíduo (Ex: polietilenoglicol, silicone, etc). • PLÁSTICOS = aplicado na forma de lâminas (Ex: polietileno, náilon, teflon, etc). Aplicado no embutimento profundo e estampagem. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 36 11.6) VALORES DE COEFICIENTE DE ATRITO: Tabela 2.I – Valores de coeficiente de atrito. PROCESSO COEF. ATRITO LAMINAÇÃO A FRIO: Aço ao carbono – cilindro de aço polido - lubrificado 0,04 a 0,05 Aço ao carbono - cilindro de aço polido – imersão – boa lubrificação 0,05 a 0.10 Aço ao carbono – cilindro rugoso 0,30 Al, Cu, Pb - cilindro de aço polido 0,10 Al, Cu, Pb - cilindro rugoso 0,40 LAMINAÇÃO A QUENTE: Aço ao carbono – cilindro de aço – 400 a 1000 oC polido - lubrificado 0,40 Aço ao carbono – cilindro de aço – 1000 oC 0,30 Aço ao carbono – cilindro de aço – 1100 oC 0,20 Aço ao carbono – cilindro fundido 50 % maior Alumínio - cilindro de aço – 375 oC 0,54 Cobre - cilindro de aço – 750 oC 0,35 Níquel e chumbo - cilindro de aço – 900 a 180 oC 0,32 Bismuto e cádmio - cilindro de aço – 150 a 180 oC 0,25 Estanho e zinco - cilindro de aço – 100 a 110 0 oC 0,17 TREFILAÇÃO: Aço ao carbono – matriz WC – diferentes lubrificantes 0,03 a 0,06 Cobre - matriz WC – lubrificação forçada de óleo 0,03 Latão - matriz de aço – lubrificação forçada de óleo 0,10 Cobre e inox - matriz WC – cera 0,07 Cobre e inox - matriz WC – óleos minerais 0,30 ESTAMPAGEM PROFUNDA: Alumínio – lubrificado com sebo 0,10 Cobre – lubrificado com óleo sob pressão 0,15 Latão - lubrificado com óleo sob pressão 0,08 a 0,12 Bronze - lubrificado com óleo sob pressão 0,14 UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 37 12) QUESTIONÁRIO: • Quais os fenômenos envolvidos na deformação “elástica” dos metais e qual sua importância? Quais os fenômenos envolvidos na deformação “plástica” de metais e qual sua importância na engenharia? • Explique o fenômeno de encruamento sob o ponto de vista da estrutura cristalina. • Qual as diferenças nas propriedades entre um material recozido e um encruado? • Porque os materiais rompem quando deformados excessivamente? • O que é “tenacidade” e “ductilidade” e através de que ensaios podem ser medidas? • O que é conformabilidade e qual sua importância? • Como é que pode ser medida a conformabilidade? • Quais os fatores que podem afetar a conformabilidade dos aços? • Explique de que forma o carbono pode afetar a ductilidade dos aços. • O que é recristalização e como ela pode afetar a conformabilidade dos materiais? • Quais a diferença de propriedades entre um material conformado a quente e a frio? • Qual a temperatura normal de conformação a quente de um aço baixo carbono, e qual o critério para escolha desta temperatura? • Quais os defeitos cristalinos típicos nos aços • O que são discordâncias e qual sua influência sobre a conformação dos aços? • Qual a relação entre tensão e deformação quando da deformação de um aço • Como se justifica o comportamento frágil e dúctil de uma material e como pode ser avaliado • O que é “anisotropia” plástica e qual a sua importância quando da deformação de um material? • O que são inclusões, quais os principais tipos, como podem ser classificadas e qual sua importância quando da conformação dos aços? • Como pode ser avaliado o tamanho de grão dos aços e qual sua importância no processo de conformação? UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 38 CAPÍTULO III FENÔMENOS ENVOLVIDOS NA CONFORMAÇÃO 01) DEFORMAÇÃO ELÁSTICA X PLÁSTICA : Os defeitos presentes nas estruturas cristalinas pontuais (lacunas, interstícios), em forma de linha (discordâncias) como os espaciais (contornos de grão), a princípio favorecem a conformação, pois provocam a ausência de algumas ligações interatômicas. Como o número de defeitos presentes na estrutura cristalina é muito grande, menor a quantidade de ligações a serem rompidas quando o material está sujeito à aplicação de uma carga. Isto gera a redução da resistência mecânica natural do material, bem como um menor esforço para deformar. O efeito das cargas aplicadas sobre um material pode ser avaliado através do diagrama tensão X deformação, através da medição das deformações sofridas, como mostrado a seguir. Figura 3.1 - Curva tensão deformação típica. As deformações sofridas pelo material quando da aplicação de uma carga sobre o mesmo, podem ser do tipo: Campo plástico Campo Elástico Tensão Ruptura Tensão Escoamento UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 39 1.1) DEFORMAÇÃO ELÁSTICA: Ocorre quando os átomos se movem uns em relação aos outros, no entanto, não existe qualquer ruptura da ligação entre os átomos. Ocorre deslocamento dos átomos entre si, que voltam a posição inicial após a retirada da carga. Figura 3.2 - Esquema mostrando a deformação elástica da estrutura cristalina, quando submetida a compressão. Figura 3.3 - Esquema da deformação da estrutura quando submetida à flexão ou cisalhamento. Tensão deformação no regime elástico: Figura 3.4 – Relação entre tensão e deformação no regime elástico. A deformação plástica se inicia quando a máxima tensão de cisalhamento, associada ao estado máximo de tensões causado pelo carregamento externo (Tmax), atingir um valor crítico (To), característico de cada material. A tensão a deformação de um material (Te) é determinada de forma genérica pela seguinte equação: Tensão Deformação UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 40 Te = A en Onde: A = coeficiente de resistência à deformação (Kg/mm2) - tabelado n = coeficiente de encruamento - tabelado e = deformação Tabela 3.I – Constantes “A” e “n” para diferentes tipos de materiais. MATERIAL A (Kg/mm2) n Aço (0,05 % C) 54 0,26 Aço 1010 recozido 70 0,20 Aço 4135 recozido 103 0,17 A1 6061 recozido 21 0,20 A1 6061 envelhecido 42 0,05 Cobre recozido 32 0,54 Latão 70/30 recozido 91 0,49 1.1) DEFORMAÇÃO PLÁSTICA: Ocorre quando as forças de conformação envolvidas são de tal intensidade que as ligações entre os átomos se rompem, mas voltam a se ligar em seguida, quase que instantaneamente, com outros átomos ao seu redor que também tiverem a sua ligação rompida; Neste caso, quando se aplica certa carga as discordâncias tendem a se movimentar dentro da estrutura cristalina, facilitando o processo de deformação, pois menor o número de ligações a serem rompidas, associado ao grande número de discordâncias presentes. A facilidade de ocorrer deformaçãoplástica dos metais é, portanto, explicado pela capacidade das discordâncias se movimentarem dentro da estrutura cristalina, dentro do grão, através dos “planos de escorregamento” (Figura 4, 5 e 6). Figura 3.5 - Planos de átomos escorregando entre si, através dos planos de escorregamento, devido a aplicação de forças de conformação. . UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 41 Figura 3.6 - Esquema mostrando o plano de escorregamento entre conjuntos de átomos. Figura 3.7 – Deformação plástica através do movimento da discordância na estrutura cristalina. Quanto maior a quantidade de planos de escorregamento existentes na estrutura cristalina, maiores as possibilidades ou alternativas das discordâncias se movimentarem e, conseqüentemente, maior a facilidade de se promover a deformação, maior a ductilidade e a plasticidade do material. Existem estruturas cristalinas com um maior ou menor quantidade de planos de escorregamento disponíveis, o que explica sua maior ou menor propensão a aceitarem deformação, como por exemplo: • FERRITA = apresenta uma estrutura cristalina do tipo CCC com grande número de planos de escorregamento, apresentando, portanto, uma boa conformabilidade; • AUSTENITA = apresenta uma estrutura CFC, com planos de escorregamento em quantidade até maior que a ferrita, portanto o material apresenta um potencial de conformação excepcional, preferível quando o trabalho de conformação é muito intenso; Plano de escorregamento UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 42 • PERLITA = devido à presença de fases precipitadas de cementita (Fe3C) entre as lamelas de ferrita, esta estrutura apresenta uma conformabilidade muito restrita devido à limitada capacidade de movimentação das discordâncias neste meio; • MARTENSITA = apresenta uma estrutura cristalina ortorrômbica, com muitos poucos planos de escorregamento. Por isto é praticamente impossível de ser conformada, no entanto, é muito dura e resistente, tanto mecanicamente como ao desgaste; Quando as forças aplicadas sobre o material são muito elevadas, ou seja, maiores do que a própria resistência do material ocorre a ruptura definitiva das ligações atômicas, gerando deformações tão intensas que não existe mais a religação. Isto provoca uma ruptura permanente na estrutura cristalina do material, gerando as trincas, fissuras, fraturas ou mesmo colapso; 02) ENCRUAMENTO: Apesar de, num primeiro momento, os defeitos (principalmente na forma de discordâncias) favorecerem a deformação, na continuidade do processo eles prejudicam, pois as discordâncias, quando de movimentam dentro da estrutura cristalina, ou mais propriamente dentro do grão, associada à aplicação de uma carga, interagem das seguintes formas: • Discordância com os defeitos pontuais (lacunas, interstícios); • Discordância com discordância (cunha com cunha, cunha com hélice e cunha com cunha); • Discordância com precipitados presentes na estrutura; • Discordância com contorno de grão. Quando se dá a interação das discordâncias ocorre o ancoramento das mesmas, impedindo a continuação de seu movimento e, conseqüentemente, restringindo a deformação elástica. A este fenômeno se dá o nome de “encruamento” (Figura 3.8). Figura 3.8 - Esquema mostrando o ancoramento da discordância em contorno de grão. Quando ocorre o encruamento, a continuidade da aplicação da força de conformação levará certamente a ruptura do material, o que não é desejável na maioria dos processos de conformação, exceto quando se deseja o corte da peça. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 43 Quando a discordância se move dentro da estrutura cristalina também pode ocorrer um processo de multiplicação, quando ela se interage com outras discordâncias. Este fenômeno faz com que exista o aumento do número de discordâncias acompanhado da possibilidade de um maior número de interações, como mostrado na figura a seguir. Figura 3.9 – Esquema mostrando o processo de multiplicação de discordância quando de sua movimentação e interação com outras discordâncias. Com o aumento da taxa de conformação, maior o encruamento, gerando modificação das propriedades do material, principalmente associado à resistência mecânica e ao alongamento (Figura 9). Com o encruamento o material modifica seu caráter de dúctil para frágil. Figura 3.10 - Aumento da resistência mecânica e diminuição do alongamento com o aumento da taxa de conformação. Na figura a seguir é mostrado o efeito da taxa de conformação a frio sobre as características mecânicas do material, especificamente sobre a resistência e ductilidade. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 44 Figura 3.11 - Efeito da taxa de conformação sobre a resistência mecânica e ductilidade. A taxa de conformação sofrida pelo material pode ser avaliada através da análise metalográfica, por intermédio da deformação do grão, como mostrado na figura a seguir. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 45 Figura 3.12 - Tabela mostrando micrografias com diferentes taxas de conformação. 03) RECRISTALIZAÇÃO : Quando o material é conformado a quente, acima da temperatura de recristalização, também existe o encruamento, no entanto, como a vibração dos átomos é muito intensa nesta condição, ocorre uma rápida recuperação da estrutura cristalina, não se sentindo efeito sobre a dificuldade de conformação. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 46 Figura 3.13 - Deformação a quente e a frio, mostrando o efeito da recristalização a elevada temperatura e encruamento a baixa. Quando da deformação a frio verifica-se que o fenômeno de encruamento é permanente, provocando dois efeitos distintos sobre o material, quais sejam: • FAVORÁVEL = aumenta a resistência mecânica e a dureza, bem como a resistência ao desgaste e a fadiga, em alguns casos; • DESFAVORÁVEL = reduz a conformabilidade do material, diminuindo o alongamento e a ductilidade, restringindo conseqüentemente a capacidade de conformação. Figura 3.14 - Efeito da recristalização sobre curva tensão-deformação de um material duro (encruado) e mole (recozido). UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 47 O encruamento, portanto limita o processo de conformação, pois a partir de um certo ponto a tentativa de continuação do processo de conformação pode levar ao colapso ou a ruptura da estrutura cristalina, gerando trincas ou fraturas na peça. No caso de grandes volumes de conformação existe a necessidade que a deformação seja feita em etapas, intercaladas por um processo de recuperação da estrutura. Isto é feito através da recristalização, que consiste no rearranjo da estrutura cristalina por intermédio do tratamento térmico de recozimento, onde a peça permanece durante um certo tempo dentro de um forno, a temperatura acima da crítica, seguido de um resfriamento muito lento (dentro do próprio forno). Com a recristalização as ancoragens das discordâncias são eliminadas ou dissolvidas e a estrutura cristalina é completamente recuperada, permitindo a continuação do processo de conformação, pois são restabelecidas as propriedades originais do material. O efeito do processo de recristalização é bastante dependente da temperatura. A baixas temperaturas verifica-se somente o alívio das tensões geradas durante o processo de conformação. Quando se atinge temperaturas próximas da crítica verifica-se a queda acentuada da resistência mecânica e o aumento do alongamento, que se intensificam quando a temperatura entre na zona crítica. Nesta condição verifica-seuma recristalização do grão, que atinge tamanhos muito reduzidos, mas que tendem a aumentar consideravelmente quando se atinge temperaturas mais elevadas. Constata-se, portanto, que a recristalização após a conformação, além de permitir a recuperação do material, é uma efetiva forma de se controlar e refinar o tamanho do grão da estrutura, permitindo se desenvolver algumas propriedades principalmente associados a tenacidade. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 48 Figura 3.15 - Efeito da temperatura de recristalização sobre o nível de tensões internas, resistência mecânica, alongamento e tamanho do grão. Apesar disto verifica-se que quando do recozimento aumentando-se a temperatura para valores muito elevados ou aumentando-se demasiadamente o tempo pode-se aumentar o tamanho de grão, como visto na figura a seguir. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 49 Figura 3.16 – Mecanismo de aumento do tamanho do grão com o aumento do tempo e ou temperatura de recristalização. 04) EFEITO DO CARBONO NA CONFORMABILIDADE : Os aços de baixo teor de carbono (Ex: ABNT 1004, com 0,04%C) são preferencialmente os melhores aços para serem conformados, pois apresentam uma estrutura totalmente ferrítica, que é mole, com elevada ductilidade e reduzida resistência mecânica. Os aços com médio teor de carbono (Ex: ABNT 1040, com 0,40%C) apresentam uma estrutura ferrítica perlítica. A perlita por sua vez é constituída de lamelas intercaladas de ferrita e cementita, que é muito dura, frágil, quebradiça e apresenta elevada resistência mecânica, portanto mostra uma maior resistência à conformação. Figura 3.17 – Formação da perlita, composto por lamelas intercaladas de ferrita e cementita. Lamelas de ferrita Lamelas de cementita UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 50 Os aços de elevado teor de carbono (EX: ABNT 1080, com 0,80%C) apresentam uma estrutura totalmente perlítica, portanto são muito mais difíceis de conformar. Por último, os aços de maiores teores de carbono (Ex: aços com mais que 0,80% C) apresentam além de uma estrutura quase que totalmente perlítica, carbonetos de cementita precipitados junto aos contornos de grão, o que o tornam praticamente indeformáveis, pelo menos a temperatura ambiente. Figura 3.18 – Diagrama ferro-carbono, mostrando as diferentes estruturas em função do teor de carbono. A solubilidade do carbono nos aços, pelo menos a temperatura ambiente, é muito pequena, portanto, em aços com maiores teores de carbono, ele se precipita na estrutura atômica na forma de cementita (Fe3C). Esta, por ser muito dura, quando precipita nos planos de escorregamento, age como um ancoramento ou travamento dos mesmos, dificultando ou mesmo impedindo sua movimentação, aumentando por conseqüência a resistência mecânica do material e diminuindo a conformabilidade. 05) CONFORMAÇÃO A QUENTE: Porque conformar os aços a elevada temperatura? A conformabilidade dos aços pode ser substancialmente melhorada quando se aumenta a temperatura de conformação, onde se promovendo uma total recristalização da estrutura do Temperatura de recristalização UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 51 material, o que só de dá de forma plena acima das temperaturas de equilíbrio “Ac3” e “Acm” do diagrama Fe-C. Nesta condição a cementita presente a baixas temperaturas, juntamente com a ferrita, se transforma em austenita, através da reação eutetóide, como pode ser observado a seguir: Perlita + Ferrita Austenita A austenita apresenta uma conformabilidade muito maior do que as outras fases, associado aos seguintes fatores: • O carbono presente, qualquer que seja a quantidade, está totalmente em solução sólida, pois a solubilidade de carbono na austenita nesta condição de temperatura é muito elevada de até 2,11% (a 1123 oC), quanto a 0,02% na ferrita a 723 oC. Nesta condição não existem fases precipitadas na estrutura e os planos de escorregamento se deslizam livremente entre si; • A resistência mecânica da austenita é muito menor que a da cementita, da perlita ou até mesmo da ferrita que já é mole por si só. Com isto a resistência que se impõe a deformação é muito menor; • A estrutura austenítica (CFC) apresenta um maior número de planos de escorregamento que a própria estrutura ferrítica (CCC), portanto têm mais alternativas de escorregamento, aumentando a conformabilidade; • O encruamento formado durante a deformação, através do ancoramento de discordâncias, é simultaneamente removido, pois o grau de recristalização, associado maior mobilidade atômica a elevada temperatura (maior vibração) é muito elevado. Por esta razão os aços de elevado teor de carbono são somente conformados à elevada temperatura, ou mesmo os aços de baixo teor de carbono quando se deseja atingir elevada produtividade. Figura 3.19 - Variação típica do valor de tensão de escoamento de um material com a temperatura. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 52 06) QUESTIONÁRIO: UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 53 CAPÍTULO IV SIDERURGIA 01) SEQUENCIA DE FABRICAÇÃO DO AÇO: O aço é obtido a partir da seguinte seqüência de fabricação: Figura 4.1 – Seqüência esquemática de fabricação do aço – processo siderúrgico. MINÉRIO DE FERRO (Fe2O3 – ferro) CARVÃO MINERAL (Carbono- redutor) CALCÁREO (CaO – fluxante) PELOTIZAÇÃO (homogeneização) COQUERIA (produção Coque) ALTO FORNO (redução do minério de ferro e fusão do metal) FERRO GUSA DESSULFURAÇÃO DESCARBONETAÇÃO (Conversor) DESGASEIFICAÇÃO OU DESOXIDAÇÃO AÇO LÍQUIDO Ar (O2) Escória LINGOTEAMENTO LINGOTEAMENTO LAMINAÇÃO UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 54 02) COQUERIA: 2.1) OBJETIVO: O carvão tem objetivo de fornecer carbono ao sistema que age como elemento redutor e como gerador de calor. 2.2) TIPOS DE CARVÕES: Existem alto-fornos que operam com coque metalúrgico e outros a carvão vegetal: • CARVÃO MINERAL - COQUE = obtido a partir do carvão mineral, que é extraído de minas profundas, que após lavado, para extração das cinzas e outras impurezas, é coqueificado para extração dos materiais voláteis. O coque, principalmente o nacional de má qualidade, tem um teor de enxofre relativamente elevado, o que é ruim, pois parte deste enxofre é transferida para o ferro gusa e conseqüentemente para o aço, afetando sua qualidade, necessitando ser dessulfurado; • CARVÃO VEGETAL = é obtido a partir da madeira, e o teor de enxofre é bastante reduzido. 2.3) CARACTERÍSTICAS DO COQUE O coque metalúrgico para apresentar um bom desempenho deve possuir as seguintes características: • PODER CALORÍFICO = deve gerar a maior quantidade possível de calor durante a combustão, o que depende principalmente do teor de carbono; • TEOR DE CARBONO = garante um bom poder de redução; • TEOR DE CINZAS = deve ser o menor possível para não prejudicar o poder calorífico e não gerar excesso de escória; • MATERIAIS VOLÁTEIS = deve ser o menor possível; • TEOR DE ENXOFRE = deve ser o menor possível, pois este acaba se incorporando ao metal, prejudicando suas características finais. 2.4) COQUEIFICAÇÃO: A coqueificação consiste em aquecer o carvão mineral no sentido de remover os materiais voláteis (alcatrão, etc), tornando-o mais puro, aumentando a concentração de carbono e, por conseqüência aumentando tanto o seu poder caloríficocomo sua capacidade de redução do minério de ferro; A coqueificação é realizada em grandes fornos chamados de coqueria, dotados de inúmeras colméias independentes. O processo gera grande quantidade de diferentes tipos de gases, que são utilizados para o aquecimento como a geração de inúmeros sub-produtos (plásticos, benzeno, xilol, toluol, ácidos, fertilizantes, sulfatos, nylon, etc). UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 55 Figura 4.2 – Processo de fabricação do coque - Coqueria. 03) PELOTIZAÇÃO : 3.1) TIPOS DE MINÉRIOS: O minério de ferro pode se encontrar na natureza sob dos seguintes tipos de minérios: • HEMATITA = (Fe2O3) - apresenta 50 a 70 % de ferro; • MAGNETITA = (Fe3O4) - apresenta 45 a 68% de ferro; • LIMONITA = (Fe2O3.H20) - apresenta 20 a 50% de ferro; • SIDERITA = (FeCO3) - pouco freqüente - apresenta 10 a 40 % de ferro; • PIRITA = (FeS2) - não apresenta interesse siderúrgico 3.2) OBTENÇÃO: O minério de ferro é extraído da natureza a partir de minas a céu aberto; 3.3) PELOTIZAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO A pelotização tem o objetivo de melhorar a forma operacional do alto-forno, melhorar a produtividade, reduzir consumo de coque e reduzir desperdícios de minério de ferro (principalmente aquele na forma de pó) por arraste de partículas. A pelotização ocorre através das seguintes etapas: a) MOAGEM = consiste em transformar o minério de ferro extraído das minas em um pó, através de britagem, moagem e pulverização, seguida de classificação por peneiramento e concentração; UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 56 b) PELOTIZAÇÃO = consiste em agregar o pó através da adição de cimento e água ao minério de ferro e pelotizá-lo, através de um processo especial, obtendo-se pelotas de tamanho controlado; c) SECAGEM = consiste em eliminar a umidade fazendo com que exista a aglomeração das partículas e as pelotas adquiram certa rigidez para que possam ser manipuladas. Figura 4.3 – Processo de fabricação das pelotas de minério de ferro - Pelotização 04) PRODUÇÃO DO FERRO GUSA: 4.1) ALTO-FORNO: O alto-forno é o equipamento utilizado para a obtenção de ferro-gusa, a partir do minério de ferro. É um equipamento de grande capacidade produtiva, com um diâmetro interno entre 5 a 10m e altura entre 30 a 40m, que normalmente opera de forma contínua, com uma capacidade de produção de 2.000 a 3.000 t/dia de ferro gusa. O objetivo do alto-forno é transformar o minério de ferro (óxido) em ferro (metal), através de um processo de redução, onde ocorre uma reação química do carbono (presente do coque) com o óxido (presente no minério), a elevada temperatura. A carga do alto-forno é composta por minério de ferro, coque e calcário (carregado pela porta de carga no topo do alto-forno) e ar (injetado através das ventaneiras do forno); UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 57 Figura 4.4 - Processo de fabricação do ferro-gusa – Alto-forno. 4.2) OBJETIVO DO COQUE: O coque adicionado no alto-forno, juntamente com o minério de ferro, tem a seguintes funções: a) PROMOVER GERAÇÃO DE CALOR = próxima da zona das ventaneiras do alto-forno ocorre uma reação extremamente exotérmica, liberando grande quantidade de calor, necessário ao processo, a partir da seguinte reação: C (coque) + O2 (ar) = CO2 b) GERAR GÁS REDUTOR = o gás CO2 ascende (sobe) para a parte superior do forno e entra em contato com o coque incandescente e gera o gás CO, que é o principal elemento redutor, a partir da seguinte reação: CO2 + C (coque) = 2 CO c) PROMOVER A REDUÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO = o gás redutor (CO) reage com o minério de ferro (óxido), promovendo a sua redução, através das seguintes reações: UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 58 3 Fe2O3 (minério) + CO = 2 Fe3O4 + CO2 Fe3O4 + CO = 3 FeO + 4 CO2 FeO + CO = Fe + CO2 OU Fe2O3 + 3C = 2 Fe + 3 CO 4.3) ETAPAS DO PROCESSO DE REDUÇÃO: O processo de redução no alto-forno passa por três etapas sucessivas, quais sejam: a) NA PARTE SUPERIOR = a carga sólida é carregada pelo topo do forno e desce e no sentido ascendente recebe os gases quentes que provocam o aquecimento e a secagem da carga; b) NA PARTE INTERMEDIÁRIA = na parte intermediária do forno ocorre a combustão do coque e a redução do minério de ferro; c) NA PARTE INFERIOR = zona de fusão e escorificação. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 59 Figura 4.5 – Partes de um alto-forno. 4.4) OBJETIVO DO CALCÁRIO: O calcário age como forte escorificante, através do seguinte processo: • O minério de ferro possui impurezas (40 a 60%) que se volatilizam ou geram escória durante o processo de redução e fusão dentro do alto-forno; • O coque possui na sua constituição impurezas como os materiais voláteis e as cinzas, que também geram escória; • Parte do refratário do forno se derrete em função da elevada temperatura e do atrito com a carga e também gera escória; • Estas escórias formadas necessitam ser removida para possibilitar uma operação contínua do forno; • O calcário é um fundente, rico em cálcio e magnésio, que é adicionado com o objetivo de reduzir o ponto de fusão da escória, tornando-a fluída (líquida); • A escória, por ser mais leve, se separa e flutua sobre o ferro líquido, permitindo ser removida dentro do alto-forno por um orifício separado. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 60 • A decomposição dos carbonatos contidos no calcário dá-se a aproximadamente 800 oC, onde ocorre uma calcinação, a partir da seguinte reação: CaCO3 = CaO (cal) + CO2 CaCO3 + C = CaO + 2 CO MgCO3 = MgO + CO2 4.5) CARACTERÍSTICAS DO FERRO LÍQUIDO: No estado em que sai do alto-forno, o ferro líquido é chamado de “ferro-gusa” e possui elevados teores de carbono além de outras impurezas, como o enxofre e o fósforo em teores relativamente elevados. Neste estado apresenta características tecnológicas muito pobres, com grandes restrições quanto a sua aplicação. Nesta condição a composição química aproximada é a seguinte: • Carbono = 3,0 a 4,5% • Silício = 0,5 a 4,0% • Manganês = 0,5 a 2,5% • Fósforo = 0,05 a 0,20%) • Enxofre = 0,01 a 0,20%. O carbono elevado é absorvido do coque, o silício vem do refratário do forno e/ou do minério e o enxofre também é absorvido do coque. O ferro gusa é utilizado para: • PRODUÇÃO DE AÇO = na aciaria, ainda no estado líquido, onde é feira a redução do carbono e das outras impurezas, principalmente o enxofre, bem como adicionado outros elementos de liga, quando for o caso, transformando-o em aço. • FUNDIÇÃO = após lingotado o gusa é utilizado na fundição como matéria-prima, tanto para a produção de peças fundidas de ferro fundido como de aço. Neste caso o gusa líquido necessita ser lingotado, como mostrado a parti da figura a seguir. UDESC – CCT – DEM PROCESSOS DE FABRICAÇÃO POR CONFORMAÇÃO MECÂNICA ANDRÉ OLAH NETO 61 Figura 4.6 – Lingoteamento contínuo de ferro gusa. 4.6) ESCÓRIA DO ALTO FORNO: A escória gerada pelo alto-forno é retirada do seu interior no estado líquido, sendo posteriormente solidificada. Apresenta a seguinte composição aproximada: • SiO2 = 28 a 38%; • Al 2O3 = 10 a 22%; • CaO + MgO = 44 a 48%; • FeO + MnO = 1 a 3%; • CaS = 3 a 4%. A escória é posteriormente utilizada como sub produto para correção da acidez de solo, indústria cementeira, fabricação de tijolos, etc. 4.7) GASES LIBERADOS PELO ALTO-FORNO: Os gases gerados pelo alto-forno, a partir das inúmeras reações que ocorrem no seu interior durante o processo de redução,
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