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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ANATOMIA HUMANA ELZA RIBEIRO MARTINS ALMEIDA Marcadores Tumorais Rio de Janeiro, RJ – 05 de Abril de 2020 2 ELZA RIBEIRO MARTINS ALMEIDA MARCADORES TUMORAIS Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade Estácio de Sá, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Pós- graduação em Anatomia Humana, sob a coordenação do Prof. Frederico Meirelles. Rio de Janeiro, RJ - 05 de Abril de 2020 3 Elza Ribeiro Martins Almeida Título: Marcadores Tumorais Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade Estácio de Sá, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Pós- graduação em Anatomia Humana, sob a coordenação do Prof. Frederico Meirelles. ___________________________ Prof. Frederico Meirelles Coordenador do Curso de Pós-graduação em Anatomia Humana Mestre/Universidade Estácio de Sá Rio de Janeiro, 05 de Abril de 2020 Dedico este trabalho a todos da minha família que, com paciência e carinho, me motivaram e me deram muita força durante todo o curso, principalmente durante minhas ausências. Não teria conseguido sem sua compreensão. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família, aos colegas e professores do curso de Pós. Muito grata também especialmente ao Prof. Frederico Meirelles, sem o qual ficaria inviável a conclusão desse curso. 6 “O cientista não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas”. Claude Lévi-Strauss 7 RESUMO O presente trabalho objetiva analisar o avanço da ciência a partir da identificação dos marcadores tumorais (ou marcadores biológicos), que são substâncias encontradas no sangue, na urina, em fluidos e tecidos corporais. Normalmente estão elevados nos casos de câncer ou em outras condições. Existem muitos marcadores tumorais diferentes, cada um dos quais fornece indícios (às vezes não muito precisos) de uma ou algumas doenças particulares. Os marcadores tumorais geralmente são detectados e quantificados por meio de técnicas de imuno-histoquímica. Num marcador tumoral, como em outros exames de laboratório, deve-se avaliar especificidade e sensibilidade. Especificidade diz respeito à presença do marcador numa única condição ou num restrito número de condições. Sensibilidade diz respeito à correlação entre o grau evolutivo da doença e o nível encontrado do marcador. Palavras-chaves: Marcadores tumorais. Marcadores biológicos. Biomarcadores. Câncer. Oncologia. 8 ABSTRACT The present work aims to analyze the advance of the science from the identification of the Tumor Markers (or Biological Markers), which are substances found in the blood, in the urine, in body fluids and tissues. Usually elevated in cancer cases or in other conditions. There are several different tumor markers, each one of them can provide an indication (sometimes not so precise), of one or some particular diseases. Normally, the tumor markers are detected and quantified through immunohistochemistry techniques. In a tumor marker, as in other laboratory exams, it is necessary to evaluate their specificity and sensitivity. The specificity concerns the presence of the marker in one sole condition or in a restrict number of conditions. The sensitivity refers to the correlation between the evolutive degree of the disease and the level of the marker found. Key-words: Tumor markers. Biological markers. Cancer. Oncology. Biomarkers. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 01 Eletroforese de proteínas com inflamação aguda 24 Figura 02 Eletroforese de proteínas com inflamação crônica 24 Figura 03 Foto original de uma célula em microscopia eletrônica 25 Figura 04 Testes de triagem com CEA 26 Figura 05 Representação esquemática de uma célula 29 Figura 06 Principais Marcadores Tumorais 30 Figura 07 Tipos de cânceres mais comuns em 2018 33 Figura 08 Câncer de Próstata 37 Figura 09 Câncer de Mama 38 Figura 10 Câncer de Pulmão 39 Figura 11 Câncer Colorretal 41 Figura 12 Câncer de Colo de Útero 44 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Mortalidade por tipo de Câncer em 2017 ........................................... 32 Tabela 2 e 3 Estimativas de incidência do INCA para 2020 .................................... 34 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AFP Alfa-fetoproteína ALK Linfoma anaplásico quinase (do Inglês: Lymphoma Anaplastic Kinase) BCL-2 Célula B de linfoma 2 (do inglês: B-cell lymphoma 2) BRCA1 Gene do câncer de mama 1 (do inglês: Gene Breast cancer 1) BRCA2 Gene do câncer de mama 2 (do inglês: Gene Breast cancer 2) BTA Antígeno tumoral da bexiga (do Inglês: Bladder Tumor Antigen) CA19-9 Antígeno do câncer pancreático CA-50 Antígeno do câncer colorretal CA-125 Antígeno do câncer seroso do ovário CD44 Glicoproteína de membrana celular envolvida em interações célula-célula, migração e adesão celular. CEA Antígeno carcinoembrionário (do Inglês: CarcinoEmbryonic antigen). DCC Deletado do câncer colorretal (do Inglês: deleted in colorectal carcinoma) dMMR Reparo de incompatibilidade deficiente (do Inglês: Mismatch Repair Deficient) EGFR Receptor do fator de crescimento epidérmico (do Inglês: Epidermal Growth Factor Receptor) ER Receptor de estrogênio (do Inglês: Estrogen Receptor) 12 ERBB2 Receptor 2 do fator do crescimento epidérmico humano (do Inglês: Human Epidermal Growth factor receptor 2) FDA Administração de Alimentos e Medicamentos (do Inglês: Food and Drug Adiministration) HCG Gonadotrofina coriônica humana (do Inglês: Human Chorionic Gonadotropin) HER2 Receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano (do Inglês: Human Epidermal growth factor Receptor-type 2) HNPCC Câncer colorretal hereditário não poilpoide (do Inglês: Hereditary Non-Polipoid Colorectal Cancer) HPV Papilomavírus humano (do Inglês: Human Papilomavirus) ICB Intituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo LDH Desidrogenase lática (do Inglês: Lactic Dehydrogenase) LIM 55 Laboratório de Investigação Médica da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) MCA Antígenos associado ao carcinoma semelhante à mucina mRNA Ácido ribonucleico mensageiro MSI Instabilidade microssatélite (do Inglês: MicroSatellite Instability) NCI Instituto Nacional de Câncer, EUA (do Inglês: National Cancer Institute) ng/mL Nanogramas por mililitro NSE Enolase neurônio-específica (do Inglês: Neuron Specific Enolase) P53 Proteína supressora tumoral p53 13 PAI Inibidor do ativador do plasminogênio (do Inglês: Plasminogen Activator Inhibitor) PAP Fosfatase prostática ácida (do Inglês: Prostatic Acid Phosphatase) PCA3 Câncer de próstata gene 3 (do Inglês: Prostate Cancer Gene 3) PCR Reação em cadeia da polimerase (do Inglês: Polymerase Chain Reaction) PD-L1 Ligante de morte celular programada 1 (do Inglês: Programmed death cell binder 1) PR Receptor de progesterona (do Inglês: Progesterone Receptor) PSA Antígeno prostático específico (do Inglês: Prostate Specific Antigen) ROS1 Subgrupo de carcinoma de pulmão SCC Antígeno associado aos carcinomas de células escamosas (do Inglês: Squamous Cell Cancer) TG Tireoglobulina TPA-M Antígeno monoclonal do polipeptídio tecidual (do Inglês: Tissue Polypeptide Monoclonal antigen) TPM Polipeptídio monoclonal tecidual (do Inglês: Tissue Polypeptide Monoclonal) TPS Antígeno específico do polipeptídio tecidual (do Inglês: Tissue Polypeptide-Specific antigen) U/mL Unidade por mililitro uPA Ativador do plasminogênio da uroquinase (do Inglês: Urokinase Plasminogen Activator) 14 VEGF Fator de crescimento vascular endotelial (do Inglês: Vascular Endothelial Growth Factor) VR Valor de Referência 15 SUMÁRIO1. INTRODUÇÃO 16 2. OBJETIVO 20 2.1 Objetivo geral 20 2.2 Objetivos específicos 20 3. METODOLOGIA 21 4. DESENVOLVIMENTO 22 4.1 Entendendo o que são marcadores tumorais 22 4.2 Principais marcadores tumorais 30 4.3 Epidemiologia dos casos de câncer no Brasil 31 4.3.1 Mortalidade conforme localização primária do tumor e sexo, em 2017 32 4.3.2 Tipos de cânceres mais comuns em 2018 33 4.3.3 Tipos de câncer mais incidentes no Brasil nos dias atuais 33 4.3.4 Estimativas para novos casos de câncer em 2020 34 5. PRINCIPAIS MARCADORES TUMORAIS 35 5.1 Principais marcadores tumorais para câncer de próstata 35 5.2 Principais marcadores tumorais para câncer de mama 38 5.3 Principais marcadores tumorais para câncer de pulmão 39 5.4 Principais marcadores tumorais para câncer colorretal 41 5.5 Principais marcadores tumorais para câncer de colo do útero 44 6. CONCLUSÃO 46 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47 16 Marcadores tumorais são proteínas ou pedações de proteínas, incluindo proteínas citoplasmáticas, enzimas ou hormônios, ou quaisquer outras substâncias produzidas tanto por células normais quanto por células cancerígenas, mas em quantidades maiores pelas células cancerígenas. Estão presentes ou são produzidas por células cancerígenas, ou outras células do corpo, em resposta a uma doença como o câncer ou a certas condições benignas (não cancerosas), que fornecem informações sobre a enfermidade, como por exemplo: quão agressivo é o câncer, se pode ser tratado com terapia-alvo direcionada ou se o paciente está respondendo ao tratamento. No entanto, cada vez mais, marcadores genômicos, como mutações genéticas tumorais, padrões de expressão gênica tumoral e alterações não genéticas no DNA tumoral, estão sendo usados como marcadores tumorais. Os marcadores tumorais podem ser classificados pela resposta que eles oferecem, conforme abaixo descrito: - Marcador tumoral celular: antígenos localizados na membrana celular, tais como marcadores para leucemia, como hormônios e receptores de fatores de crescimento. - Marcadores humorais: substâncias que são sintetizadas pelo tecido tumoral ou substâncias formadas pelo organismo em reação ao tumor. - Marcadores genéticos: representados por sequências de genes e proteínas por eles codificadas que são super expressos em situações de desenvolvimento tumoral. Tem demonstrado enorme potencial diagnóstico, especialmente com o advento da técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR). 1. INTRODUÇÃO SUMÁRIO 17 Além dessa classificação, existem dois tipos principais de marcadores tumorais com usos diferentes no tratamento do câncer: marcadores tumorais circulantes e marcadores do tecido tumoral. Os marcadores tumorais circulantes são encontrados no sangue, urina, fezes ou fluídos corporais de alguns pacientes com câncer e são usados para: - Estimar o prognóstico. - Determinar se existe doença residual ou recidiva após o tratamento. - Avaliar a resposta ao tratamento. - Monitorar se um tumor se tornou resistente ao tratamento. Embora níveis elevados de um marcador de tumor circulante possam sugerir a presença de câncer, o resultado por si só não é suficiente para diagnosticar a doença. Por exemplo, condições não cancerígenas podem, às vezes, provocar o aumento de determinados marcadores tumorais. Além disso, nem todos com um tipo específico de câncer terão um nível mais alto de um marcador tumoral associado a esse câncer. Portanto, os valores dos marcadores tumorais circulantes geralmente são combinados com os resultados de outros testes, como biópsias ou exames de imagem, para diagnosticar o câncer. Os marcadores tumorais também podem ser determinados periodicamente durante a realização do tratamento. Por exemplo, uma diminuição no nível de um marcador tumoral circulante pode indicar que o tumor está respondendo ao tratamento, enquanto um nível crescente ou inalterado pode indicar que não está respondendo. Os marcadores tumorais circulantes também podem ser determinados após o término do tratamento para investigar a possibilidade de uma recidiva da doença. Exemplos de marcadores tumorais circulantes comumente usados incluem a calcitonina (para monitorar a resposta ao tratamento, rastrear a recidiva e estimar o prognóstico do câncer medular de tireoide), CA-125 (para monitorar a resposta ao tratamento e avaliar a recidiva do câncer de ovário) e beta-2-microglobulina (para avaliar a resposta ao tratamento e o prognóstico do mieloma múltiplo, leucemia linfoide crônica e alguns linfomas). 18 Já os marcadores de tecidos tumorais são encontrados nos próprios tumores, normalmente na amostra do tumor que é retirada durante a biópsia. Estes são usados para: - Diagnosticar, estadiar e/ou classificar o tumor. - Estimar o prognóstico. - Determinar o tipo de tratamento. Em alguns tipos de câncer, o nível de um marcador de tecido tumoral reflete o estágio da doença e/ou o prognóstico do paciente. Um exemplo é a alfa-fetoproteína, determinada através de um exame de sangue para o estadiamento da doença, estimar o prognóstico e monitorar a resposta ao tratamento de tumores de células germinativas. Os marcadores de tecidos tumorais podem ser determinados antes do tratamento para orientar os médicos a planejar a melhor opção terapêutica. Por exemplo, alguns exames, denominados diagnósticos complementares, desenvolvidos junto com a respectiva terapia-alvo dirigida, são usados para determinar se o tratamento com uma determinada terapia-alvo é indicado. Alguns desses exames determinam quanto do marcador de tecido tumoral está presente; outros detectam a presença de um marcador específico, como uma mutação genética. Alguns marcadores tumorais são os alvos de terapias-alvo específicas. No entanto, nem todos os alvos de uma terapia-alvo específica são marcadores tumorais testados em pacientes. Exemplos de marcadores de tecidos tumorais comumente usados incluem o receptor de estrogênio e de progesterona (câncer de mama) para determinar se o tratamento hormonioterápico e algumas terapias-alvo são indicados para a paciente; análise de mutação gênica de EGFR (câncer de pulmão de não pequenas células) para determinar o tratamento e estimar o prognóstico da doença; e PD-L1 (vários tipos de câncer), para determinar se o tratamento com um tipo de terapia-alvo denominado inibidor do controle imunológico é indicado. Existem vários marcadores tumorais em uso clínico. Alguns estão associados a apenas um tipo de câncer, enquanto outros estão relacionados a vários tipos de 19 câncer. Não existe um marcador tumoral “universal" que possa revelar a presença de qualquer tipo de neoplasia. Atualmente, vários marcadores tumorais estão em uso para uma ampla variedade de tipos de câncer. Os pesquisadores estão dedicados a desenvolver novos biomarcadores que possam ser usados na identificação de tumores em estágios iniciais, para prever a eficácia do tratamento e a chance de recidiva da doença. 20 2. OBJETIVO 2.1 Objetivo geral Analisar os benefícios do uso de marcadores tumorais para prevenção e indicação do melhor tratamento para diversos tipos de cânceres, assim como, acompanhar a cura e a recidiva dos mesmos. 2.2 Objetivos específicos i. Definir o que são marcadores tumorais. ii. Descrever suas utilizações. iii. Identificar quais marcadores são usados para determinados tipos de câncer. 21 3. METODOLOGIA A presente monografia faz uma revisão bibliográfica, na qual foram utilizados artigos oriundos de diversos sites científicos, tais como PubMed, Scielo, INCA (Instituto Nacional do Câncer), OncoGuia, Google Acadêmico, ClinicalTrials.gov dentre outras renomadas instituições. As palavras-chaves utilizadas nas buscas das bases de dados foram: Marcadorestumorais, Marcadores biológicos, Biomarcadores, Câncer e Oncologia. Foram selecionados tanto artigos de revisão quanto artigos experimentais no idioma Inglês e Português, que abordavam o tema pesquisado para realização dessa monografia. 22 4. DESENVOLVIMENTO 4.1 Entendendo o que são os marcadores tumorais Marcadores tumorais são componentes celulares, estruturais e bioquímicos, que podem definir alterações celulares e moleculares tanto em células normais quanto aquelas associadas à transformação maligna. Podem ser de dois tipos: 1) marcadores intermediários, que medem alterações celulares e moleculares antes do aparecimento da malignidade; 2) marcadores diagnósticos, presentes em associação com a malignidade. O processo de identificação e validação para uso clínico do marcador tem diversas etapas: identificação inicial feita em linhagens celulares do tumor em questão; teste do marcador em tecido proveniente de biópsias de pacientes com diagnóstico estabelecido do tumor em questão; teste em biópsias de tecidos normais e com processo inflamatório; teste em escarro, sangue ou urina para validação como teste não-invasivo que possa ser usado em população de alto risco. O câncer pode ser definido como um conjunto de doenças de diferentes localizações e tipos morfológicos, porém com duas características presentes em todas as suas variantes: ocorre o crescimento celular descontrolado e a capacidade de extensão para um outro tecido, fora o de origem (GADELHA, COSTA e ALMEIDA, 2005). Os marcadores tumorais apresentam alteração em casos de neoplasia. Esta alteração pode ser causada pela ação do tumor, que libera as substâncias em quantidade mais alta, ou pelo próprio organismo em resposta às células alteradas (ALMEIDA et al, 2007). Eles podem ser distribuídos em dois grupos: intermediários, que medem alterações antes do aparecimento do câncer; ou de diagnóstico, que se alteram em decorrência ao câncer. O marcador tumoral perfeito seria aquele que apenas se elevasse em caso de câncer, porém grande parte dos marcadores se altera também com situações fisiológicas como na gravidez. Além disso, ele deve garantir uma leitura de fase em que o câncer se encontra, indicando um prognóstico e uma relação com a efetividade do tratamento (SOLNICA, 2016). O câncer é a segunda principal causa de morte no mundo e foi responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018. A nível global, uma em cada seis mortes são relacionadas à doença. 23 Aproximadamente 70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa e média renda. Cerca de um terço das mortes por câncer se devem aos cinco principais riscos comportamentais e alimentares: alto índice de massa corporal, baixo consumo de frutas e vegetais, falta de atividade física e uso de álcool e tabaco. O tabagismo é o principal fator de risco para o câncer, causando 22% das mortes pela doença. Os cânceres causados por infecções, tais como hepatite e papilomavírus humano (HPV), são responsáveis por aproximadamente 22% das mortes pela doença em países de baixa e média renda. A apresentação tardia e o diagnóstico e tratamento inacessíveis são comuns. Em 2017, apenas 26% dos países de baixa renda relataram ter serviços de patologia disponíveis no setor público. Mais de 90% dos países de alta renda relataram que os serviços de tratamento estão disponíveis, em comparação com menos de 30% dos países de baixa renda. O impacto econômico do câncer é significativo e está aumentando. O custo anual total da doença em 2010 foi estimado em aproximadamente US$ 1,16 trilhão. Apenas um em cada cinco países de baixa e média renda tem os dados necessários para conduzir uma política para o câncer. Câncer é um termo genérico para um grande grupo de doenças que pode afetar qualquer parte do corpo. Outros termos utilizados são tumores malignos e neoplasias. Uma característica que define o câncer é a rápida criação de células anormais que crescem além de seus limites habituais e podem invadir partes adjacentes do corpo e se espalhar para outros órgãos, processo referido como metástase. A metástase é a principal causa de morte por câncer. Até o momento, nenhum marcador tumoral atendeu a todos os requisitos que o tornariam cem por cento eficaz, mas inúmeras pesquisas na área vêm garantindo avanços importantes (ALMEIDA et al, 2007). O estágio do tumor pode ser determinado por marcadores. Com eles, pode ser avaliado o tipo de câncer, seu tamanho e gravidade. Essas informações são de extrema importância pois as taxas de sobrevida variam muito conforme o tipo de tumor encontrado (CAPELOZZI, 2001). Assim, é possível fornecer ao 24 paciente um prognóstico. A detecção de recidivas também pode ser feita via marcadores. A volta do valor do marcador a valores normais indica total retirada ou remoção do tumor. Porém, quando ocorre queda do valor do marcador, e após seu valor volta a subir, indica que ocorreu uma metástase ou tumor residual. Quando o valor do marcador se estabiliza por um período de tempo e depois volta a subir, ocorreu uma recidiva. O valor pode se alterar de 2 a 48 meses antes do aparecimento dos sintomas clínicos (SEDREZ, 2007). Eletroforese de proteínas séricas com elevações das frações alfa-1 e afla-2 globulinas em situações de inflamações agudas. (FIGURA 1) Eletroforese de proteínas séricas com elevações das frações alfa-1, alfa2 e gama globulina policlonal em situações de inflamações crônicas. (FIGURA 2) 25 Foto original de uma célula em microscopia eletrônica plana e adaptada por resplandescência computacional. Destacam-se três estruturas bem definidas: o citoplasma delimitado pela membrana citoplasmática descontínua e pela membrana nuclear de cor amarela. Observam-se vários produtos citoplasmáticos de cores amarela, vermelha e verde; o núcleo com a cor azul está circundado pela membrana nuclear identificada com a cor amarela; o nucléolo, dentro do núcleo, está caracterizado por um círculo e componentes internos de cor vermelha. Todos esses produtos coloridos são diferentes tipos de proteínas e enzimas, alguns dos quais já foram isolados para atuarem como marcadores tumorais. Entretanto, com a tecnologia da proteômica será possível identificar quais os melhores marcadores tumorais para células tumorais de tumores específicos. (FIGURA 3) Dentre os diversos marcadores tumorais, podemos citar: - AFP (Alfa-FetoProteína): proteína do soro fetal que é sintetizada no fígado. Seus valores aumentados (V.R. >500U/mL), podem indicar tumores gastrointestinais, hepatite, cirrose e hepatocarcinoma. - CEA (Antígeno Carcinoembrionário): biomarcador preferido para ajudar a prever o prognóstico em pacientes com câncer colorretal. Quanto maior o volume do CEA no momento do diagnóstico, significa probabilidade de doença avançada. Pode ser usado também para câncer de pulmão e de mama, mas pode estar alterado em outros tipos de câncer, como melanoma, linfoma, tireoide, pâncreas, fígado, estômago, rim, próstata, ovário, colo do útero e bexiga. Também pode estar elevado em algumas doenças benignas como hepatite, doença pulmonar obstrutiva crônica, colite, artrite reumatoide e pancreatite. V.R. em homens adultos não fumantes é de até 3,4 ng/mL e em fumantes, até 6,2 ng/mL. Já em mulheres adultas não fumantes é de até 2,5 ng/mL e em fumantes até 4,9 ng/mL. 26 Os testes de triagem CEA devem ser realizados 1 a 2 vezes por ano nos pacientes com predisposição genética, neoplasias benignas, papilomas e toupeiras suspeitos (FIGURA 4) - NSE (Enolase Neurônio-Específica): a enolase é uma enzima que se encontra distribuída em todos os tecidos dos mamíferos. A dosagem sérica da NSE auxilia no diagnóstico do carcinoma de pulmão de pequenas células.A NSE também tem sua aplicação como forma de monitor terapêutico, nos pacientes em curso quimioterápico, em que seus valores séricos tendem a subir ou baixar de acordo com a resposta à terapia utilizada e até antever recidiva da doença. Seu V.R. em adultos é <10.8 ng/mL. - CA19-9: usado em pacientes com câncer de pâncreas. Na doença inicial, o nível pode ser normal, por isso não é um bom marcador para triagem mas, ainda assim, é o melhor marcador tumoral para acompanhamento de pacientes com câncer de pâncreas. Pode estar aumentado também em outros tipos de câncer como de estômago e das vias biliares e, em algumas condições benignas, como doenças da tireoide, artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal e pancreatite. Seu V.R. é de 37 U/mL. - PSA (Antígeno Prostático Específico): é um marcador tumoral específico para detectar o câncer de próstata. Homens com hiperplasia prostática benigna frequentemente tem índices mais elevados. Esse índice também tende a ser maior em homens mais velhos. Também pode estar elevado um dia ou dois após a ejaculação. V.R. para homens até 59 anos <4,0 ng/mL; entre 60 e 69 anos, até 4,5 ng/mL e igual ou acima dos 70 anos, até 6,5 ng/mL. https://bastei.ru/pt/rak-matki/symptoms-of-chest-cancer-benign-neoplasms-of-the-organs-of-the-thorax-heart-thymus-thymus-gland-mediastinum.html 27 - TG (Tireoglobulina): é uma proteína produzida pela glândula tireoide. Os níveis sanguíneos normais dependem da idade e do sexo da pessoa. Seus níveis no sangue devem cair para níveis indetectáveis após o tratamento de um câncer da tireoide. Seu aumento após o tratamento pode indicar uma recidiva. O sistema imunológico de algumas pessoas produz anticorpos contra a tireoglobulina, que podem afetar os resultados deste exame. Por isso, os níveis de anticorpos antitireoglobulina são frequentemente investigados simultaneamente. Seu V.R. é entre 1,15 a 35,00 ng/mL. - HCG (Gonadotrofina Coriônica Humana): os níveis de HCG ou beta-HCG ou β-HCG no sangue estão aumentados em pacientes com alguns tipos de câncer de testículo e ovário (tumores de células germinativas) e doença trofoblástica gestacional, principalmente cioriocarcinoma. Também estão aumentados em alguns pacientes com tumores de células germinativas do mediastino. Os níveis de HCG podem ser usados no diagnóstico, ou para monitorar a resposta ao tratamento, ou para detectar precocemente uma recidiva. É difícil definir seu valor normal porque existem diferentes maneiras de avaliar esse marcador e cada um tem seu próprio parâmetro, mas podemos indicar que seu V.R. é entre 5 a 50 mU/mL como indeterminado e >50 um/mL em mulheres saudáveis como sendo positivo para gravidez. - BTA (Antígeno Tumoral da Bexiga): é uma proteína expressa por várias células tumorais, mas por poucas células normais. Durante o desenvolvimento de tumores uroteliais da bexiga, essas moléculas são liberadas na urina. Devido ao seu baixo valor preditivo positivo, sua utilização para o rastreamento populacional é discutível. - (CA-50) Antígenos do Câncer 50: este marcador é expresso pela maioria dos carcinomas epiteliais (câncer gastrointestinal e do pâncreas). Possui sensibilidade semelhante ao CA 19.9, não sendo recomendado o uso simultâneo deles. Também pode ser expresso por doenças benignas hepáticas e das vias biliares e pancreatite. Cerca de 80 a 97% dos pacientes com câncer pancreático apresentam níveis elevados de CA-50 e nos estágios mais avançados de câncer colorretal, também ficam bem elevados. 28 - (CA-125) Antígenos do Câncer 125: principal marcador de carcinomas serosos ovarianos, que frequentemente invadem a cavidade peritoneal, com a formação de ascites. A determinação pré-operatória e pré-quimioterapia é útil para acompanhar o sucesso da intervenção e posterior recorrência. Seu aumento também pode estar associado a casos de câncer de pulmão, de mama e de endométrio. A falta de especificidade o torna pouco útil na triagem e no diagnóstico de câncer de ovário, mas é o mais associado a esse câncer, sendo empregado no acompanhamento do caso ao qual se aplique. Este aumento também pode estar associado a condições benignas como cirrose, endometriose grave, cistos ovarianos, pericardites, ascites, derrames pleurais e primeiro trimestre gestacional. O valor considerado normal é =<35 U/mL. - LDH (Desidrogenase Lática): é uma enzima que se expressa nos tecidos cardíaco e muscular esquelético. Essa enzima não tem muito valor diagnóstico mas relaciona-se com o volume da neoplasia, podendo apresentar implicações prognósticas muito importantes, em especial nos pacientes com diagnóstico de linfoma não-Hodgkin recente e na neoplasia de próstata. Nestes pacientes, altos níveis de LDH anteriores ao tratamento comprovam ser um fator de risco adverso e refletem presumivelmente a taxa de crescimento e o volume do tumor. Pacientes com alto nível de LDH com idade avançada ou com mau desempenho, apresentam menos de 50% de probabilidade de remissão durável com o tratamento padrão. Seu V.R. pode variar de acordo com o laboratório, sendo normalmente considerado entre 120 e 246 UI/L nos adultos. No caso de haver resultado alterado do LDH, além de outros exames, pode ser que o médico indique a dosagem das isoenzimas LDH, cuja elevação pode indicar alterações mais específicas: • LDH-1: que está presente no coração, hemácias e rins; • LDH-2: que pode ser encontrada no coração, em menor quantidade, e nos leucócitos; • LDH-3: que está presente nos pulmões; • LDH-4: que é encontrado na placenta e no pâncreas; • LDH-5: que é encontrado no fígado e no músculo esquelético 29 Alguns marcadores tumorais listados nessa monografia, são alvos para terapia-alvo de vários tipos de cânceres, tanto para tumor sólido quanto para neoplasias hematológicas. Representação esquemática de uma célula com os principais produtos biológicos que podem ser avaliados como marcadores tumorais. (FIGURA 5) 30 4.2 Principais Marcadores Tumorais Principais Marcadores Tumorais. Universidade do Extremo Sul Catarinense (FIGURA 6) Melhor Marcador Marcador Associado 31 4.3 Epidemiologia dos casos de câncer no Brasil O câncer é a segunda principal causa de morte no mundo e foi responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018. A nível global, uma em cada seis mortes são relacionadas à doença. Câncer é um termo genérico para um grande grupo de doenças que pode afetar qualquer parte do corpo. Outros termos utilizados são tumores malignos e neoplasias. Uma característica que define o câncer é a rápida criação de células anormais que crescem além de seus limites habituais e podem invadir partes adjacentes do corpo e se espalhar para outros órgãos, processo referido como metástase. A metástase é a principal causa de morte por câncer. Aproximadamente 70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa e média renda. Cerca de um terço das mortes por câncer se devem aos cinco principais riscos comportamentais e alimentares: alto índice de massa corporal, baixo consumo de frutas e vegetais, falta de atividade física e uso de álcool e tabaco. O tabagismo é o principal fator de risco para o câncer, causando 22% das mortes pela doença. Os cânceres causados por infecções, tais como hepatite e papilomavírus humano (HPV), são responsáveis por aproximadamente 22% das mortes pela doença em países de baixa e média renda. A apresentação tardia e o diagnóstico e tratamento inacessíveis são comuns. Em 2017, apenas 26% dos países de baixa renda relataram ter serviços de patologia disponíveis no setor público. Mais de 90% dos países de alta renda relataram que os serviços de tratamento estão disponíveis, em comparação com menos de 30% dospaíses de baixa renda. O impacto econômico do câncer é significativo e está aumentando. O custo anual total da doença em 2010 foi estimado em aproximadamente US$ 1,16 trilhão. Apenas um em cada cinco países de baixa e média renda tem os dados necessários para conduzir uma política para o câncer. 32 4.3.1 Mortalidade conforme a localização primária do tumor e sexo - Em homens, Brasil, 2017 Localização Primária Óbitos % Traqueia, Brônquios e Pulmões 16.137 14,0 Próstata 15.391 13.4 Cólon e Reto 9.207 8,0 Estômago 9.206 8.0 Esôfago 6.647 5,8 Fígado e Vias biliares intra-hepáticas 5.908 5,1 Pâncreas 5.316 4,6 Localização primária desconhecida 4.941 4,3 Cavidade oral 4.923 4,3 Sistema Nervoso Central 4.795 4,2 Todas as neoplasias 115.057 100,0 - Em mulheres, Brasil, 2017 Localização Primária Óbitos % Mama 16.724 16,1 Traqueia, Brônquios e Pulmões 11.792 11,4 Cólon e Reto 9.660 9,3 Colo do útero 6.385 6,2 Pâncreas 5.438 5,2 Estômago 5.107 4,9 Localização primária desconhecida 4.714 4,6 Fígado e Vias biliares intra-hepáticas 4.292 4,1 Sistema Nervoso Central 4.401 4,1 Ovário 3.879 3,7 Todas neoplasias 103,583 100,0 (Tabela 1) Fontes: MS / SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade, 2019 MS / INCA / Coordenação de Prevenção e Vigilância / Divisão de Vigilância e Análise de Situação, 2019 33 4.3.2 Tipos de Cânceres mais comuns em 2018 Fonte: Organização Pan Americana de Saúde (OPAS Brasil) (FIGURA 7) 4.3.3 Tipos de câncer mais incidentes no Brasil nos dias atuais Os cânceres de próstata (68 mil) em homens e mama (60 mil) em mulheres são os mais frequentes. À exceção do câncer de pele não melanoma, os tipos de câncer mais incidentes em homens são próstata (31,7%), pulmão (8,7%), intestino (8,1%), estômago (6,3%) e cavidade oral (5,2%). Nas mulheres, os cânceres de mama (29,5%), intestino (9,4%), colo do útero (8,1%), pulmão (6,2%) e tireoide (4,0%) figuram entre os principais. As taxas de incidência ajustadas por idade tanto para homens (217,27/100 mil) quanto para mulheres (191,78/100 mil) são consideradas intermediárias e compatíveis com as apresentadas para países em desenvolvimento. 34 4.3.4 Estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer), para 2020 As tabelas 2 e 3 ilustram os dados segundo estimativa do INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), dos novos casos esperados para 2020. Estimativas para o ano de 2020 das taxas brutas e ajustadas de incidência por 100 mil habitantes e do número de casos novos de câncer, segundo sexo e localização primária* (TABELA 2) Distribuição proporcional dos cinco tipos de câncer mais incidentes estimados para 2020 por sexo, exceto pele não melanoma (TABELA 3) 35 5. Principais Marcadores Tumorais Para que seja possível comprovar o diagnóstico, rastrear os tumores, certificar- se de que a terapia-alvo está adequada ao tratamento e acompanhar a cura ou a recidiva, a utilização dos Marcadores Tumorais é imprescindível. No presente trabalho serão abordados os marcadores tumorais utilizados na clínica para o diagnóstico dos cinco cânceres mais incidentes no Brasil: próstata, mama, pulmão, colorretal e colo de útero. 5.1 Principais Marcadores Tumorais para Câncer de Próstata Apesar da dosagem do PSA (Antígeno Prostático Específico - uma glicoproteína produzida pelas células da próstata, com atividade relacionada ao líquido seminal e à viabilidade de espermatozoides), ser o marcador tumoral mais utilizado em análises clínicas e ser de grande importância para a medicina, seu uso apresenta algumas desvantagens e limitações pelo fato de ser um marcador não específico para o câncer. Primeiramente, nota-se que de 60-70% dos pacientes com níveis séricos de PSA entre 2,5 e 10 ng/mL apresentam biópsia negativa. Além disso, o rastreamento por PSA tem levado muitas vezes a superdiagnóstico e a supertratamento em indivíduos que muitas vezes não apresentariam sintomas, nem viriam a óbito. O PSA não possui um valor sensível e específico para predizer a neoplasia da próstata e isso tem gerado vários debates. Enquanto não se descobre alternativas para esta questão é importante o uso dos parâmetros de densidade, velocidade e razão PSA Livre/PSA Total (GIMBA, 2013). Mesmo diante dessas polêmicas, há indicadores de que a mortalidade por câncer de próstata parece estar regredindo em locais onde se preconiza os exames preventivos de rastreamento (DINI e KOFF, 2006). Um diagnóstico precoce do câncer permite a redução da mortalidade e da morbidade por essa doença, além de permitir o tratamento na fase inicial da neoplasia, que é mais simples e menos agressivo, colaborando para uma melhor qualidade de vida do paciente (NASCIMENTO et al., 2010). Em neoplasias da próstata, o profissional de saúde responsável pelo diagnóstico deve visualizar cada paciente de maneira individualizada no 36 que se refere à tomada de decisões, que é complexa (RHODEN e AVERBECK, 2010). Desde 1990, quando foi regularizado pelo Food and Drug Administration (FDA), o Antígeno Prostático Específico tem sido uma ferramenta importante para a saúde do homem mesmo não sendo um marcador tumoral ideal. Destaca-se novamente que a dosagem de PSA não é, e nem deve ser, o único parâmetro a ser avaliado em neoplasia prostática, devendo ser sempre associado, primeiramente ao toque retal e posteriormente às demais alternativas necessárias (NASSIF et al., 2013). Diante das limitações envolvendo a utilização do PSA torna-se cada vez mais frequente a realização de pesquisas envolvidas na busca por biomarcadores tumorais novos para o câncer de próstata e que sejam mais específicos para as neoplasias da próstata e mais sensíveis diante do aparecimento de tumor. Por mais que se busque um marcador ideal vai se tornando claro para alguns pesquisadores que será necessário um conjunto de biomarcadores que abranjam rastreamento, diagnóstico, prognóstico e acompanhamento (DRAISMA et al., 2009). Atualmente utiliza-se a Assinatura de 17 genes, que analisa o tumor para prever sua agressividade e monitorar seu tratamento. Entre 2014 e 2019, um estudo produzido pelo Laboratório de Investigação Médica da Disciplina de Urologia (LIM 55) da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), em parceria com o ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP, conseguiu identificar pacientes com câncer estabelecendo uma relação entre biomarcadores na urina e o câncer de próstata. Além de permitir o diagnóstico de modo não invasivo, a técnica também possibilitou a análise da agressividade do tumor, fundamental para determinar o melhor tratamento. Agora, o próximo passo é a validação das descobertas. 37 Câncer de Próstata. MedStudents. (FIGURA 8) Outros marcadores tumorais já estão sendo utilizados mundialmente. Segundo o NCI (Instituto Nacional de Câncer, EUA), alguns dos marcadores tumorais listados abaixo são usados para terapia-alvo em múltiplos cânceres, mas servem como marcadores tumorais para apenas um subconjunto de cânceres. - Células de tumor circulantes de origem epitelial: análise feita do sangue com o objetivo de orientar a tomada de decisão sobre o melhor tratamento e de realizar um prognóstico (também usados para câncer de mama e colorretal). - PCA3 mRNA: análise feita da urina colhida após o exame retal digital, para determinar a necessidade de se repetir a biópsia após resultado negativo. - PAP (fosfatase prostática ácida): análise realizada no sangue para auxiliar em diagnóstico decarcinomas pobremente diferenciados. - PSA (antígeno específico da próstata): análise feita do sangue, ajuda no diagnóstico e avalia a resposta ao tratamento além de procurar indícios de recorrência. - Assinatura de 17 genes: analisa o tumor para prever sua agressividade, além de ajudar a monitorar o tratamento. 38 - Assinatura de 46 genes: analisa o tumor para prever sua agressividade, além de ajudar a monitorar o tratamento. 5.2 Principais Marcadores Tumorais para Câncer de Mama Câncer de Mama. Seu Amigo Farmacêutico. (FIGURA 9) - Amplificação do gene HER2/neu ou superexpressão de proteínas: além de ser marcador para câncer de mama, também é marcador para os cânceres de ovário, bexiga, pâncreas e estômago. Analisa o tumor e determina quais terapias-alvo são indicadas para o tratamento. - Ativador do plasminogênio da uroquinase (uPA) e inibidor do ativador do plasminogênio (PAI-1): analisa o tumor, determina a agressividade do tumor e orienta o tratamento. - Assinatura de 21 genes e de 70 genes: ambos analisam o tumor e avaliam o risco de recidiva para planejar o tratamento. - BRCA1 e BRCA2 Mutações nos genes: analisam tanto o câncer de mama quanto o de ovário e as análises são feitas a partir do sangue ou do próprio tumor. Determinam se o tratamento com um tipo específico de terapia-alvo é indicado. 39 - MCA (antígeno associado ao carcinoma semelhante à mucina): usado para identificação do câncer de mama avançado, câncer de próstata e câncer colorretal. Analisam o sangue e servem para prognóstico. MCA também é utilizado como marcador tumoral para o câncer de mama. Tem boa correlação com o CA 15-3, sendo útil na avaliação prognóstica e controle terapêutico. O valor de referência é de 14 U/ml. - CA15-3/CA27.29: analisa o sangue e monitora a resposta ao tratamento e avaliação da recidiva. - CA 27.29: analisa o sangue. Serve para diagnosticar metástase ou avaliação da recidiva. - DPD Mutação no gene: analisa sangue em casos de câncer de mama, câncer colorretal, câncer de estômago e câncer de pâncreas. Prevê o risco de uma reação tóxica ao tratamento com 5-fluorouracil. - Receptor de estrogênio (ER) / Receptor de progesterona (PR): analisa o tumor e determina se o tratamento com hormonioterapia e algumas terapias-alvo é indicado. 5.3 Principais Marcadores Tumorais para Câncer de Pulmão Câncer de Pulmão. Seu Amigo Farmacêutico. (FIGURA 10) 40 - ALK rearranjos e superexpressão: usados para câncer de pulmão de não pequenas células e linfoma anaplásico de grandes células. Análise do tumor. É utilizado para determinar o tratamento e prognóstico. - EGFR: usado para determinar o tratamento e o prognóstico de câncer de pulmão de não pequenas células. Análise do tumor. - Enolase específica de neurônios (NSE): para diagnóstico e monitoria da resposta ao tratamento nos casos de câncer de pulmão de pequenas células e neuroblastoma. Analisa o sangue. - Fragmento de citoqueratina 21-1: monitoramento da recidiva para câncer de pulmão. Análise de sangue. - KRAS Mutação do gene: usado para determinar se o tratamento com terapia-alvo é indicado no caso de câncer colorretal e câncer de pulmão de não pequenas células. Análise do tumor. - PD-L1 (Ligante de morte celular programada 1): proteína do sistema imunológico. PD-L1 é uma proteína existente nos linfócitos T que, ao serem ativadas, induzem a morte dessas células. Células tumorais de alguns tipos de câncer se especializaram em produzir proteínas estimuladoras de PD-L1 e, assim, causam a morte de linfócitos citotóxicos, tornando os tumores mais agressivos devido à diminuição da imunidade celular do paciente. A alteração pesquisada busca saber se as células tumorais estão ativando o PD-L1. Usada para casos de câncer de pulmão de não pequenas células, câncer de fígado, câncer de estômago, câncer de junção gastroesofágica, linfoma de Hodgkin e outros subtipos de linfoma agressivo. Análise do tumor. Usado para determinar se o tratamento com terapia-alvo é indicado. - Reorganização do gene ROS1: câncer de pulmão de não pequenas células. Análise de tumor. Usado para determinar se o tratamento com terapia-alvo é indicado. 41 5.4 Principais Marcadores Tumorais para Câncer Colorretal Câncer Colorretal. Seu Amigo Farmacêutico. (FIGURA 11) - CEA: Descoberto na década de 1960, determinado em amostras de soro periférico, constitui o marcador mais utilizado na prática clínica nas neoplasias colorretais. Pouco efetivo no diagnóstico do câncer colorretal, por sua baixa sensibilidade em lesões iniciais, tem utilidade no estabelecimento de índices prognósticos e destaque no seguimento dos pacientes após tratamento cirúrgico pretensamente curativo, promovendo por vezes detecção precoce de recidiva tumoral. Sua sensibilidade nas etapas de diagnóstico da lesão situa-se entre 20% e 40%; no entanto, sua sensibilidade no seguimento pós-operatório dos pacientes, para detecção de recidivas locorregionais ou hepáticas, pode ultrapassar 90%. - CA 242, CA 19-9, CA72-4: Tais marcadores são diagnosticados por anticorpos monoclonais específicos. Apesar de sua origem posterior ao CEA e conceito aperfeiçoado não proporcionaram melhores resultados. Sua sensibilidade no diagnóstico do câncer colorretal oscila em taxas de 30%, inferiores às do antígeno carcinoembrionário que apresenta sensibilidade em torno de 40%. Têm utilização em amostras séricas associados ao CEA; nesta 42 condição atingem sensibilidade de aproximadamente 50% a 60%, com certo valor na determinação de índices prognósticos e detecção de recidivas tumorais. - Citoqueratinas: são constituintes da arquitetura estrutural da membrana celular, estando aumentadas em soro periférico na vigência de processos neoplásicos e sendo passíveis de detecção por anticorpos monoclonais. O TPA (tissue polypeptide antigen) constituiu a citoqueratina de identificação inicial, em 1978. Um reagente mais específico (TPS — tissue polypeptide-specific antigen) foi desenvolvido em 1992, identificando o epítopo M3 da molécula TPA; um reagente atual, TPM (ou TPA-M — tissue polypeptide monoclonal antigen), descrito em 1994, dirige-se a três epítopos distintos das células neoplásicas, obtendo especificidade ainda maior. Sua sensibilidade geral oscila entre 60% e 70% no diagnóstico do adenocarcinoma colorretal. Tem razoável especificidade para processos neoplásicos; no entanto, positiva-se em tumores de outros sítios, tais como ovário, pulmão, próstata e mama. Estudos sobre citoqueratinas como marcadores encontram-se em fase de desenvolvimento inicial. - p53: na existência de defeitos genéticos celulares, o gene p53 pode promover o retardo da divisão celular para permitir o reparo dos genes ou pode induzir a ocorrência de apoptose (morte celular programada), na vigência de defeitos não passíveis de correção. Alteração no gene p53 possibilita a divisão de células com imperfeições genéticas e o surgimento de neoplasias colorretais. O gene p53 origina, em condições normais, uma proteína p53 de duração efêmera tecidual. O gene p53 alterado produz uma proteína p53 alterada, de duração permanente. Esta duração permanente possibilita a formação de anticorpos anti-p53. O marcador, apesar de promissor, apresenta deficiências conceituais e decorrentes de variantes biológicas imprevisíveis. Há neoplasias colorretais provocadas por alterações do gene p53; porém, há tumores motivados por outras anormalidades que não seriam, portanto, detectados por análises de tal marcador. Além disso, a formação de anticorpos contra a proteína alterada p53 é inconstante; a dosagem de tais anticorpos em soro periférico em estudos atuais é variávele obteve sensibilidade inferior a 30%. Pesquisas devem ser efetuadas para minorar as dificuldades originais do método. 43 - VEGF: Ou "fator de crescimento vascular endotelial" (vascular endothelial growth factor). As neoplasias, em seu processo de crescimento, secretam substâncias estimulantes do crescimento vascular que, por sua vez, originam vasos sanguíneos responsáveis pela nutrição dos tecidos tumorais. Tais substâncias são passíveis de detecção em soro periférico. Não serão, no entanto, específicas para tumores de cólon e de reto, pelo fato de a produção do VEGF ocorrer em diversos processos neoplásicos; encontra-se, em investigação inicial, com sensibilidade na etapa de diagnóstico por volta de 50%. - Instabilidade de microssatélites (MSI) e/ou incompatibilidade de reparo deficiente (dMMR). - Outros marcadores: são diversas as pesquisas atuais em torno de substâncias que poderão constituir eficientes marcadores tumorais no câncer colorretal (telomerase; CD44; metaloproteinases; c-erbB-2, E-caderina, Bcl-2), dosados no soro periférico ou nos tecidos do paciente. Estudos clínicos não demonstraram até o momento marcador perfeitamente eficaz; no entanto, é possível que o marcador ideal se encontre entre as substâncias em estudo. Encontram-se disponíveis conjuntos para dosagem em soro periférico de CEA, CA 242, CA 19-9 e CA 72-4. Por imuno-histoquímica podem ser determinados no tecido: proteína p53, angiogênese, c-erbB-2, E-caderina, DCC e Bcl-2, relevantes como marcadores tumorais. Estudos genéticos são possíveis para determinação de alterações, em casos de HNPCC (câncer colorretal hereditário não polipoide), por exemplo, mas de custo elevado e de disponibilidade reduzida atualmente. 44 5.5 Principais Marcadores Tumorais para Câncer de Colo de Útero Câncer de Colo de Útero. Seu Amigo Farmacêutico. (FIGURA 12) - O marcador tumoral de escolha é o SCC (antígeno associado aos carcinomas escamosos); para adenocarcinomas e carcinomas adenoescamosos podem-se utilizar diferentes marcadores (CEA, CA 125, CA 19-9, Cyfra). O SCC é uma proteína purificada do colo uterino que se encontra aumentada em até 70% dos casos de tumores do colo avançados. As diretrizes não aconselham o uso dos marcadores tumorais nas neoplasias de colo, senão para acompanhar o tratamento. - O MCA é uma glicoproteína com peso molecular de 350kD, utilizado para monitorizar o carcinoma mamário. Seu valor de referência é 11U/mL. Não há indicação para seu uso no diagnóstico de doença locorregional. Possui especificidade de 87% e sensibilidade inferior ao CA 15.3, sendo 60% nos casos de doença metastática. Existem outras situações nas quais este marcador pode se encontrar elevado, como por exemplo, em doenças benignas de mama (15%), tumores de ovário, de colo uterino, endométrio e próstata. 45 - Criado em 1940, o exame de Papanicolau é um dos procedimentos mais rotineiros nos consultórios ginecológicos de todo o mundo. O teste preventivo do câncer de colo do útero é a principal estratégia para detectar lesões e fazer o diagnóstico precoce da doença. Em países onde ele é realizado com ampla cobertura populacional, os casos desse tipo de tumor em estágio avançado chegaram a cair em mais de 70%. Em estudo publicado na revista científica Science Translational Medicine, uma equipe internacional de pesquisadores, que inclui brasileiros, defende que o já difundido exame, apenas com pequenas adaptações, pode ganhar mais uma importante função: detectar também os cânceres de ovário e de endométrio. 46 6. CONCLUSÃO Apesar das técnicas de utilização dos marcadores tumorais demonstrarem ser eficientes, ainda se nota claramente a necessidade de que novos marcadores tenham que ser descobertos para utilizações em cânceres mais específicos. Mas sua importância precisa ser ressaltada com os seguintes propósitos: estimar o prognóstico, determinar se existe doença residual ou recidiva após o tratamento, avaliar a resposta ao tratamento e monitorar se um tumor se tornou resistente ao tratamento. Importante lembrar que embora níveis elevados de um marcador de tumor possam sugerir a presença de câncer, o resultado por si só não é suficiente para diagnosticar a doença. Por exemplo, condições não cancerígenas podem, às vezes, provocar o aumento de determinados marcadores tumorais. Além disso, nem todos com um tipo específico de câncer terão um nível mais alto de um marcador tumoral associado a esse câncer. Portanto, os valores dos marcadores tumorais geralmente são combinados com os resultados de outros testes, como biópsias ou exames de imagem, para definitivamente diagnosticar o câncer. Pode-se concluir, pela revisão bibliográfica realizada, que o uso de marcadores tumorais é um exame complementar, devendo-se sempre, quando necessária a sua utilização, ser acompanhado de outros métodos para diagnóstico ou modificação terapêutica. A despeito das inconsistências observadas, pode-se dizer que pacientes que inicialmente apresentam um marcador tumoral em nível elevado e que se normaliza com a intervenção terapêutica, invariavelmente, têm uma resposta favorável. Por outro lado, um marcador tumoral persistentemente elevado, ou em ascensão, associa-se à alta probabilidade de doença recorrente ou progressiva e deve ser visto como altamente suspeito de doença metastática. 47 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Todas acessadas entre Março e Abril de 2020. - ABC Med Exames e Procedimentos: https://www.abc.med.br/ - ALMEIDA, José Ricardo Chamhum et al. Marcadores Tumorais: Revisão de Literatura, 2006. - Bioquímica Escola de Estudos Superiores de Viçosa (ESUV) - Laboratório Bacchi, 2020. - MONROY, Eduardo Alonso. Análise da imunoexpressão de Oct-04 e CD44 em lesões odontogênicas epiteliais benignas. 2016. - MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade, 2019 - MS/INCA/Coordenação de Prevenção e Vigilância / Divisão de Vigilância e Análise de Situação, 2019 - NAOUM, Paulo Cesar et al. Marcadores tumorais, uma revisão até 2018. - NAOUM, Stéphanie; ROCHA, Márcia Santos. Marcadores tumorais utilizados no diagnóstico do câncer de próstata: antígeno prostático específico - National Cancer Institute: https://www.cancer.gov/ - OncoGuia: http://www.oncoguia.org.br - Portal Viva Bem: https://www.vivabem/noticias/redacao.htm - PSA e novas perspectivas. Centro de Pós-Graduação Oswaldo Cruz. P. 3 – 4 (ano desconhecido). - Research Gate: https://www.researchgate.net/publication/ - Scielo: http://www.scielo.br/scielo.php - ULHOA, Marcelo. Estado de Minas, 2013: https://www.em.com.br.shtml - Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) https://www.abc.med.br/ https://www.cancer.gov/ http://www.oncoguia.org.br/conteudo/marcadores-tumorais/4011/1/ https://www.vivabem/noticias/redacao.htm https://www.researchgate.net/publication/334520348_Marcadores_tumorais_em_cancer_de_colo_uterino http://www.scielo.br/scielo.php https://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia.shtml
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