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Fides 22 N2

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This periodical is indexed in the ATLA Religion Database, published by the American 
Theological Library Association, 250 S. Wacker Dr., 16th Flr., Chicago, IL 60606, USA,
e-mail: atla@atla.com, www.atla.com.
Fides Reformata também está incluída nas seguintes bases indexadoras: 
CLASE (www.dgbiblio.unam.mx/clase.html), Latindex (www. latindex.unam.mx), 
Francis (www.inist.fr/bbd.php), Ulrich’s International Periodicals Directory 
(www.ulrichsweb.com/ulrichsweb/) e Fuente Academica da EBSCO 
(www.epnet.com/thisTopic.php?marketID=1&topicID=71).
Editores Gerais
Daniel Santos Júnior
Dario de Araujo Cardoso
Editor de resenhas
Filipe Costa Fontes
Redator
Alderi Souza de Matos
Editoração
Libro Comunicação
Capa
Rubens Lima
Fides reformata – v. 1, n. 1 (1996) – São Paulo: Editora 
 Mackenzie, 1996 –
 Semestral.
 ISSN 1517-5863
1. Teologia 2. Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
 Andrew Jumper.
CDD 291.2
INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE
Diretor-Presidente José Inácio Ramos
CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW JUMPER
Diretor Mauro Fernando Meister
Igreja Presbiteriana do Brasil
Junta de Educação Teológica
Instituto Presbiteriano Mackenzie
Volume XXII · Número 2 · 2017
Edição ESpEcial
5º cEntEnário da rEforma protEStantE
CONSELHO EDITORIAL
Augustus Nicodemus Lopes
Davi Charles Gomes
Heber Carlos de Campos
Heber Carlos de Campos Júnior
Jedeías de Almeida Duarte
João Alves dos Santos
João Paulo Thomaz de Aquino
Mauro Fernando Meister
Valdeci da Silva Santos
A revista Fides Reformata é uma publicação semestral do
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.
Os pontos de vista expressos nesta revista refletem os juízos pessoais dos autores, não 
representando necessariamente a posição do Conselho Editorial. Os direitos de publicação 
desta revista são do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.
Permite-se reprodução desde que citada a fonte e o autor.
Pede-se permuta.
We request exchange. On demande l’échange. Wir erbitten Austausch.
Se solicita canje. Si chiede lo scambio.
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Revista Fides Reformata
Rua Maria Borba, 40/44 – Vila Buarque
São Paulo – SP – 01221-040
Tel.: (11) 2114-8644
E-mail: pos.teo@mackenzie.com.br
ENDEREÇO PARA PERMUTA
Instituto Presbiteriano Mackenzie
Rua da Consolação, 896
Prédio 2 – Biblioteca Central
São Paulo – SP – 01302-907
Tel.: (11) 2114-8302
E-mail: biblio.per@mackenzie.com.br
Editorial
Em 31 de outubro de 2017 completam-se 500 anos do marco histórico da 
Reforma Protestante. O monge agostiniano Martin Luther, professor de Bíblia 
da Universidade de Wittenberg, afixou nas portas da igreja da cidade 95 teses 
que criticavam a prática da venda de indulgências por ameaçar o verdadeiro 
tesouro da igreja: o evangelho. Essa publicação provocou uma discussão de 
proporções seculares e deu ocasião à maior cisão da Igreja do ocidente na 
história. As repercussões do movimento iniciado por Lutero transformaram 
completamente a sociedade e a cultura da Europa e, nestes 500 anos, alcan-
çaram todo o mundo. 
São incalculáveis os tesouros teológicos acumulados nesse período. 
A Reforma Protestante teve papel fundamental em grandes transformações 
eclesiásticas, políticas, científicas, educacionais, culturais, sociais, etc. Por 
outro lado, meio milênio é tempo suficiente para o esquecimento de verdades 
preciosas e o (res)surgimento de velhos e novos enganos e distorções da fé e 
da prática cristãs. Nem tudo são flores nesses quinhentos anos.
Nesta edição especial da revista Fides Reformata, os professores do Centro 
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper reuniram-se para promover 
um mergulho na história e no pensamento da Reforma Protestante. 
No primeiro artigo – “A Reforma e os historiadores” – Alderi Souza de 
Matos apresenta as diferentes abordagens e avaliações de historiadores so-
bre a Reforma Protestante e traz à luz os desafios envolvidos no estudo e na 
compreensão de movimentos históricos. Em seguida, em “O papel da música 
na Reforma e a formação do Saltério de Genebra”, Dario de Araujo Cardoso 
descreve as contribuições que Lutero e Calvino trouxeram no que diz respeito 
ao uso da música no culto e ao canto congregacional. Destaca como os refor-
madores reconheceram e utilizaram o poder de mobilização e edificação da 
música para a promoção dos valores da Reforma.
No terceiro artigo – “Lutero e os antinomistas: Qual é a visão evangélica 
da lei?” – Heber Carlos de Campos Jr. mostra que o movimento reformado 
não era monolítico e apresenta uma das discussões internas ao luteranismo 
acerca da relação do arrependimento com a lei e o evangelho. O texto mostra 
como Lutero, Melanchton e João Agrícola discutiram sobre a necessidade de 
pregar a lei para promover o arrependimento. Mostra também que a resposta 
antinomista à discussão da relação entre lei e evangelho, longe de ficar restrita 
ao contexto luterano, ressurgiu entre os ingleses e está presente no cenário 
evangélico contemporâneo. Vemos assim que o antinomismo é um desafio 
frequente a ser enfrentado pela teologia oriunda da Reforma.
O artigo “O perigo a ser evitado numa reforma”, de Heber Carlos 
de Campos, apresenta-nos dois aspectos da teologia de Melanchton que se 
afastaram do pensamento de Lutero. Eles dizem respeito à participação do 
homem na salvação e à presença de Cristo na Ceia. O artigo mostra como esse 
distanciamento posteriormente causou conflitos e divisões entre os luteranos 
e levou Melanchton a perder o lugar de destaque que possuía nessa tradição 
da Reforma.
A escatologia tem sido apontada como o aspecto ausente do pensamento 
da Reforma. Entretanto, o artigo “O pensamento escatológico de Calvino”, 
de Leandro Antonio de Lima, faz-nos perceber que importantes tópicos desse 
campo da teologia estão presentes nos escritos de Calvino. O reformador ge-
nebrino escreveu sobre o Anticristo, a vida futura, a ressurreição, o milênio e o 
estado intermediário. O artigo trata, por fim, da percepção de Calvino sobre as 
limitações da linguagem humana para descrever como será o mundo vindouro, 
chamando nossa atenção para os cuidados necessários a essa discussão.
Os estudos hermenêuticos fazem-se presentes no artigo “A hermenêutica 
cristotélica de João Calvino”, de João Paulo Thomaz de Aquino. Nele vemos 
que Calvino praticou uma interpretação que buscava demonstrar como os textos 
do Antigo Testamento apontavam para Cristo. Para ilustrá-la o autor apresenta 
afirmações de Calvino sobre a lei, os profetas e os salmos. O artigo também 
promove uma comparação com a abordagem de Erasmo de Roterdã, chamada 
de cristológica, e a de Lutero, denominada cristocêntrica.
Os debates teológicos também são o tema do artigo “Calvino e o lapsaria-
nismo”, de João Alves dos Santos. Os calvinistas dividiram-se em dois grandes 
grupos no que diz respeito à relação entre os decretos da eleição e da reprovação 
dos homens. Tanto supralapsarianos quanto infralapsarianos afirmam seguir 
o pensamento do Calvino sobre o tema. O artigo analisa a discussão e mostra 
que uma pesquisa nos escritos de Calvino, ainda que forneça algum apoio, não 
confirmará as alegações de nenhum dos grupos. 
O artigo em inglês dessa edição foi escrito por Elias Medeiros. “The re-
formers and missions: Warneck, Latourette, Neill, Kane, Winter, and Tucker’s 
arguments – part 2” é a continuação do artigo publicado por Medeiros na edi-
ção de 2013-1 de nossa revista. Seu objetivo é contestar, com base em obras 
primárias, a tese de alguns historiadores de que os reformadores não tinham 
preocupação com missões estrangeiras.
A seção de resenhas continua o espírito celebrativo da edição e também 
se dedica a obras que fazem referência à Reforma. Nesta edição trazemos 
avaliações dos livros Calvino e a Vida Cristã, O Legado Missional de Calvino, 
O Pensamento da Reforma e Cuidado com o Alemão.
Dario de Araujo Cardoso apresenta-nos Calvino e a Vida cristã, do norte-
-americano Michael Horton. Através de uma rica exposição, a obra buscamostrar que a teologia de Calvino não provém de um intelectualismo árido, 
mas está calcada num sólido e frutífero conceito de piedade.
Filipe Costa Fontes escreveu a resenha de O Legado Missional de Calvino, 
do inglês Michael Haykin e do estadunidense C. Jeffrey Robinson. A obra 
busca mostrar a presença do conceito de missões no pensamento e nas ações 
de Calvino. Apresenta também como o tema foi abordado pelos herdeiros 
da tradição calvinista. Na resenha de O Pensamento da Reforma, do norte-
-irlandês Alister McGrath, Filipe Fontes convida-nos a uma leitura abrangente, 
didática e instrutiva da história e do pensamento da Reforma em seu caráter 
eminentemente religioso.
Na resenha de Cuidado com o Alemão, do português Tiago Cavaco, o 
convite de Tarcízio José de Freitas Carvalho é para conhecer mais profunda-
mente o impacto do pensamento de Lutero sobre sua época e sobre a cultura 
ocidental posterior.
Em face do atual contexto de imediatismo existencial que despreza o 
passado e reduz o futuro à projeção de interesses pessoais, esta edição de Fides 
Reformata permitirá ao leitor um vislumbre da grandeza e da abrangência dos 
eventos e do pensamento da Reforma e o desafiará a refletir com mais profun-
didade sobre como as ações e movimentos do presente refletem o passado e 
qual o potencial de seus efeitos para o futuro.
É um prazer apresentar a edição especial de Fides Reformata dedicada 
à celebração dos 500 anos da Reforma Protestante. Esperamos que ela seja 
de grande contribuição espiritual e acadêmica para todos os que a receberem. 
Sejam todos bem-vindos. 
 
Dr. Dario de Araujo Cardoso
Editor
Sumário
Artigos
a rEforma E oS hiStoriadorES
Alderi Souza de Matos .................................................................................................................. 11
o papEl da múSica na rEforma E a formação do Saltério de Genebra
Dario de Araujo Cardoso.............................................................................................................. 23
lutEro E oS antinomiStaS: Qual é a viSão Evangélica da lEi?
Heber Carlos de Campos Júnior .................................................................................................. 43
o pErigo a SEr Evitado numa rEforma
Heber Carlos de Campos .............................................................................................................. 67
o pEnSamEnto EScatológico dE calvino
Leandro Lima ................................................................................................................................ 85
a hErmEnêutica criStotélica dE João calvino
João Paulo Thomaz de Aquino ..................................................................................................... 99
calvino E o lapSarianiSmo: uma avaliação dE como calvino podE SEr lido 
à luz da diScuSSão Supra E infralapSariana
João Alves dos Santos ................................................................................................................... 117
thE rEformErS and miSSionS: WarnEck, latourEttE, nEill, kanE, WintEr, 
and tuckEr’S argumEntS – part 2
Elias Medeiros .............................................................................................................................. 139
resenhAs
calvino E a vida criStã (michaEl horton)
Dario de Araujo Cardoso.............................................................................................................. 163
o lEgado miSSional dE calvino (m. a. g. haykin E c. J. robinSon)
Filipe Costa Fontes ....................................................................................................................... 169
o pEnSamEnto da rEforma (aliStEr mcgrath)
Filipe Costa Fontes ....................................................................................................................... 175
cuidado com o alEmão – trêS dEntadaS QuE martinho lutEro dá à noSSa época 
(tiago cavaco)
Tarcizio Carvalho .......................................................................................................................... 179
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 11-22
11
* Doutor em Teologia (Th.D.) pela Escola de Teologia da Universidade de Boston, professor de 
teologia histórica no CPAJ, historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil.
a rEforma E oS hiStoriadorES
Alderi Souza de Matos*
RESUMO
A Reforma Protestante, movimento que completa o seu 5º centenário, 
tem sido objeto de intenso escrutínio por parte dos estudiosos. Esse interesse 
se deve à relevância do fenômeno e suas vastas consequências para o mundo 
moderno. Ao mesmo tempo, trata-se de um tema altamente controvertido, no 
qual variam grandemente as perspectivas e interpretações. Inicialmente, este 
artigo faz algumas considerações historiográficas gerais, passando em seguida 
a abordar alguns tópicos que têm sido objeto de divergências e reconsiderações 
nas últimas décadas. São eles o caráter múltiplo da Reforma do século 16, suas 
fontes intelectuais, sua motivação prioritária e suas consequências. Por últi-
mo, são feitas algumas considerações sobre o legado duradouro desse evento 
histórico iniciado há 500 anos.
PALAVRAS-CHAVE
Reforma Protestante; 500 anos da Reforma; Historiografia; Historiadores; 
Interpretações da Reforma.
INTRODUÇÃO
Como é natural, o transcurso do 5º centenário da Reforma Protestante 
tem suscitado um grande número de reflexões de natureza bíblica, teológica, 
litúrgica e pastoral. Embora essas perspectivas sejam altamente relevantes, as 
comemorações, por sua própria natureza, remetem em primeiro lugar ao aspecto 
histórico. É acima de tudo um evento ou conjunto de eventos – o início do 
movimento protestante – que está sendo lembrado. Ao mesmo tempo, o estudo 
ALDERI SOUZA DE MATOS, A REFORMA E OS HISTORIADORES
12
do protestantismo emergente como fenômeno histórico levanta uma série de 
questões teóricas e metodológicas que precisam ser consideradas. 
Desde o seu início, a Reforma tem sido objeto de diferentes interpreta-
ções e avaliações, dependendo da perspectiva do estudioso. Por muito tempo, 
as abordagens foram fortemente condicionadas por preocupações polêmicas 
e apologéticas de protestantes e católicos, ou mesmo dos diferentes grupos 
evangélicos. A partir do século 18, com o desenvolvimento da história em 
bases científicas, surgiu um tratamento mais objetivo e menos partidário do 
tema. Porém, dada a imensa complexidade da Reforma em suas múltiplas di-
mensões – religiosa, teológica, política, social – multiplicaram-se grandemente 
as interpretações de suas origens, natureza e significado. 
Este artigo considera inicialmente alguns aspectos historiográficos gerais 
para então se concentrar nas maneiras pelas quais a Reforma tem sido avaliada 
por diferentes historiadores recentes, religiosos e seculares, progressistas e 
conservadores. Vale lembrar que, ao lado das inevitáveis diferenças de pers-
pectiva, as extensas pesquisas das últimas décadas também têm resultado em 
alguns consensos importantes e valiosos no que diz respeito a muitos aspectos 
da Reforma. No final, são feitas algumas considerações sobre a relevância atual 
da obra dos reformadores.
1. QUESTÕES HISTORIOGRÁFICAS
James Bradley e Richard Muller observam que “antes de meados do 
século 18, o estudo da história da igreja era acrítico; ela era quase invariavel-
mente escrita desde uma perspectiva confessional, sendo qualquer coisa menos 
desinteressada”.1 Dois exemplos clássicos são encontrados no próprio século 16. 
Um deles são as famosas Centúrias de Magdeburgo (1559-1574), escritas por 
um grupo de estudiosos liderados por Matias Flacius Illyricus. Essa história 
da igreja produzida sob o ponto de vista luterano procurou demonstrar que 
o luteranismo era uma afirmação do que havia de melhor na antiga tradição 
cristã. Em resposta, o erudito católico César Barônio publicou seus igualmente 
volumosos Anais Eclesiásticos (1588-1607), argumentando em favor da conti-
nuidade entre o catolicismo do século 16 e os primeirosséculos da era cristã.2 
Em meados do século 18, na esteira do Iluminismo e em certa medida 
do Pietismo, duas mudanças básicas de perspectiva foram essenciais para o 
surgimento da historiografia crítica: maior preocupação científica com a aná-
lise de documentos originais e liberdade para interpretar as fontes de maneira 
mais isenta e objetiva. Surgiu assim uma importante linhagem de historiadores 
em moldes científicos, todos eles alemães, a começar de Johann Lorenz von 
1 BRADLEY, James E.; MULLER, Richard A. Church history: An introduction to research, 
reference works, and methods. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1995, p. 11. Minha tradução.
2 GONZÁLEZ, Justo L. The changing shape of church history. Saint Louis, MO: Chalice Press, 
2002, p. 133-136.
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 11-22
13
Mosheim (1694-1755), considerado “o pai da história da igreja”. Vieram a 
seguir, sob a influência do movimento romântico, Gottfried Herder (1744-1803), 
August Neander (1789-1850) e Friedrich Tholuck (1799-1877). Nos Estados 
Unidos, um personagem muito influente foi Philip Schaff (1819-1893), consi-
derado o pai da história da igreja americana. Todos eles se preocuparam com a 
objetividade no estudo histórico, com dados factuais e com a dedução de leis 
gerais de desenvolvimento histórico.3
Ao longo da primeira metade do século 20 ocorreu uma oscilação nes-
se último tópico, alguns historiadores questionando e outros defendendo a 
importância da busca de significado na história da igreja e a possibilidade de 
uma visão objetiva do passado. As décadas mais recentes, posteriores a 1950, 
testemunharam vários desdobramentos historiográficos importantes, como o 
surgimento do interesse pela participação histórica das mulheres e de grupos 
minoritários; a chamada “nova história”, com seu apelo às ciências sociais; 
a ênfase na micro-história, com sua concentração em tópicos extremamente 
delimitados, e o enfoque mais colaborativo e interdisciplinar. Bradley e Muller 
defendem que o alvo do historiador deve ser a reintegração das partes analisadas 
separadamente em um todo maior, de âmbito mais geral.4
Uma questão permanentemente debatida tem a ver com a objetividade no 
estudo da história. Nos séculos 19 e 20 esse interesse se tornou o principal crité-
rio de avaliação nas ciências históricas, conforme exemplificado por estudiosos 
como Leopold von Ranke e Adolf von Harnack. Dizia-se que “a principal tarefa 
da história era apresentar os eventos como eles aconteceram e até mesmo lê-los 
com tamanha objetividade que o historiador os entendia melhor do que aqueles 
que os vivenciaram”.5 Todavia, o que se constatou é que nenhum historiador é 
totalmente isento, mas transfere para o seu trabalho suas preferências, pressu-
posições e compromissos filosóficos. Para muitos estudiosos, essa ânsia pela 
objetividade é na verdade algo indesejável. O pesquisador mexicano Carlos 
Rojas considera o mito da objetividade e da neutralidade um “pecado capital” 
dos historiadores não críticos.6 Um simpatizante do pensamento marxista, ele 
acredita que é impossível conceber-se uma história na qual o estudioso não se 
envolva de algum modo, mantendo total desinteresse e indiferença.7
Essas considerações têm evidente relevância para os estudos históricos 
sobre a Reforma Protestante. Essa história só poderá ser entendida adequa-
damente mediante o estudo criterioso das fontes documentais primárias e 
3 BRADLEY e MULLER, Church history, p. 13-20.
4 Ibid., p. 25.
5 GONZÁLEZ, The changing shape, p. 139. Minha tradução.
6 ROJAS, Carlos Antonio Aguirre. Antimanual do mau historiador. Ou como se fazer uma boa 
história crítica? Londrina, PR: Eduel, 2007, p. 29.
7 Ibid., p. 30.
ALDERI SOUZA DE MATOS, A REFORMA E OS HISTORIADORES
14
secundárias. Essa história precisará deter-se nos aspectos pontuais, tais como 
personagens e eventos, e ao mesmo tempo relacioná-los com o quadro mais 
amplo, o contexto religioso-político-social da Europa quinhentista. Essa história 
deve buscar a objetividade e a serenidade na análise dos dados, sem deixar 
de lado a simpatia pelo assunto, o envolvimento pessoal com os temas sob 
estudo. Para os cristãos que creem na ação providencial de Deus, ela também 
inclui a busca de significados maiores, muitas vezes não inteiramente óbvios, 
que trazem lições para a contemporaneidade. 
2. ABORDAGENS DOS HISTORIADORES
São muitos os estudiosos que se têm debruçado sobre o estudo histó-
rico da Reforma, quer como pesquisadores da história da igreja em geral, 
quer como especialistas sobre os próprios fenômenos do século 16. Entre os 
primeiros, são mais conhecidos nos círculos protestantes indivíduos como 
Williston Walker, Kenneth S. Latourette, Owen Chadwick, Earle E. Cairns e 
Howard Clark Kee; entre os últimos, Thomas M. Lindsay, John T. McNeill, 
James Hastings Nichols, Roland Bainton, Harold J. Grimm e muitos outros.8 
Todavia, o objetivo deste artigo é considerar as abordagens e interpretações 
sobre a Reforma fornecidas por uma geração mais recente de historiadores de 
diferentes persuasões. Trata-se de uma lista seletiva e exemplificativa, visto 
ser impossível considerar todos os autores que têm se dedicado ao tema. O 
objetivo é fornecer um panorama dos principais interesses e enfoques que os 
estudiosos da Reforma têm demonstrado na atualidade.
2.1 Pluralidade de reformas
Até algum tempo atrás, falava-se sempre em “Reforma do século 16”, 
no singular, como se ela fosse um movimento monolítico e uniforme. Além 
disso, o termo era aplicado quase que exclusivamente às igrejas protestantes, 
à exclusão da Igreja Católica Romana. Hoje é lugar comum na historiografia 
falar-se nas “reformas” ocorridas naquele período. Isso pode ser percebido, por 
exemplo, em textos do luterano Carter Lindberg, professor emérito de história 
da igreja na Escola de Teologia de Universidade de Boston, como o conjunto 
de ensaios “A Idade Média tardia e as reformas do século 16”9 e o importante 
livro As Reformas na Europa.10
8 A mais antiga história da Reforma publicada continuamente no Brasil até o presente é História 
da Reforma do Décimo Sexto Século, do pastor protestante suíço Jean-Henri Merle D’Aubigné (1794-1872). 
O primeiro a traduzir essa obra para o português foi o escritor Júlio Ribeiro.
9 Parte III de: KEE, Howard Clark et al. Christianity: A social and cultural history. Nova York: 
Macmillan; Toronto: Collier Macmillan, 1991.
10 LINDBERG, Carter. As reformas na Europa. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2001. Outra ocorrência 
do conceito pode ser encontrada em: DOWLEY, Tim (Org.). História do cristianismo: Guia ilustrado. 
Venda Nova, Portugal: Bertrand, 1995, p. 410.
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 11-22
15
Essa ênfase significou uma valorização de dois grupos em particular – os 
anabatistas e os católicos romanos. Por muito tempo, a chamada “reforma ma-
gisterial”, ou seja, o luteranismo, a reforma suíça e o anglicanismo, recebeu 
todas as atenções. Trata-se dos grupos protestantes originais que receberam 
forte apoio e envolvimento dos magistrados, as autoridades civis. A “reforma 
radical”, representada principalmente pelos anabatistas, era o “primo pobre” 
do século 16, ocupando um lugar periférico nos estudos sobre a Reforma Pro-
testante. Hoje, esse movimento recebe grande atenção dos pesquisadores, que 
reconhecem sua importância, originalidade e contribuições. 
Quanto à Igreja Romana, tradicionalmente se falava apenas em “Con-
trarreforma”, algo que incluía a Inquisição, a ação dos jesuítas e as guerras 
religiosas. Sem deixar de reconhecer esse fenômeno de grandes consequências, 
a maior parte dos autores atuais argumenta que também houve uma verdadeira 
“Reforma Católica”, certamente diferente do que ocorreu no âmbito do protes-
tantismo, porém ainda assim um conjunto de esforços que revelaram genuíno 
interesse em corrigir antigos males e aperfeiçoar o arcabouço doutrinário dessa 
igreja. A principal expressão dessa reforma católica foi o Concílio de Trento 
(1545-1563).
2.2As origens da Reforma
Tradicionalmente, as fontes do movimento protestante e do pensamento 
dos reformadores sempre foram associadas com a Bíblia e com o período pa-
trístico, notadamente o pensamento amadurecido do grande bispo e teólogo 
Agostinho de Hipona. Era como se os reformadores do século 16 tivessem 
se reportado somente ao cristianismo antigo, não tendo recebido nenhuma 
influência do seu próprio tempo ou dos séculos imediatamente anteriores. 
Hoje se reconhece que as origens da Reforma também devem ser buscadas no 
escolasticismo do final da Idade Média e no humanismo renascentista. Um dos 
autores que trabalham essa questão é o historiador e teólogo irlandês Alister 
McGrath, em seus livros Origens Intelectuais da Reforma e O Pensamento 
da Reforma.11
Apesar de sua imagem negativa, o escolasticismo foi um importante 
esforço no sentido de justificar racionalmente as crenças cristãs por meio da 
reflexão filosófica, e apresentá-las de modo sistemático, formando um sistema 
intelectual abrangente e integrado. Foi, assim, um modo particular de articu-
lar e estruturar a teologia. A chamada escolástica teve duas fases, a primeira 
dominada pelo “realismo” (c.1200-c.1350) e a segunda pelo “nominalismo” 
(c.1350-c.1500), posições opostas no que diz respeito à existência concreta dos 
conceitos universais. O escolasticismo do tipo realista teve duas manifestações, 
11 MCGRATH, Alister E. Origens intelectuais da Reforma. São Paulo: Cultura Cristã, 2007; O 
pensamento da Reforma. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
ALDERI SOUZA DE MATOS, A REFORMA E OS HISTORIADORES
16
o tomismo (de Tomás de Aquino) e o scotismo (de Duns Scotus), os quais não 
exerceram maior influência sobre a Reforma. A vertente nominalista também 
se dividiu em duas alas, a via moderna e a schola augustiniana moderna, sen-
do a primeira de tendência pelagiana e a segunda alinhada com a teologia de 
Agostinho e sua ênfase na plena soberania de Deus na salvação. Esta última 
teve um impacto considerável no pensamento de Lutero.
Quanto ao humanismo, McGrath observa: “Dos muitos afluentes inte-
lectuais e culturais que contribuíram para o fluxo da Reforma, provavelmente 
o mais importante foi o humanismo renascentista”.12 Os humanistas, ou seja, 
os intelectuais do Renascimento, eram indivíduos religiosos e se interessavam 
pela renovação da igreja. Seu famoso lema Ad fontes – “de volta às origens” – 
dirigiu suas atenções não somente para os textos da antiguidade clássica de 
um modo geral, mas para uma obra em particular, a Bíblia, vista como o 
instrumento para dinamizar e revitalizar o cristianismo da época. Quem mais 
insistiu nisso foi o holandês Erasmo de Roterdã, o “príncipe dos humanistas”, 
em seu livro Enchiridion militis christiani (“Manual do soldado cristão”), no 
qual exaltou o papel dos leigos e seu direito de amplo acesso à Escritura. Ele 
também foi responsável por uma edição do Novo Testamento em grego e latim 
(1516), que causou profundo impacto na época, em parte pelo fato de apontar 
alguns erros de tradução na Vulgata de Jerônimo. McGrath argumenta que a 
influência do humanismo foi muito maior na Reforma suíça do que na alemã.13 
Alguns autores, como Pierre Chaunu e Steven Ozment, colocam as reformas 
do século 16 num contexto mais amplo de reformas que vinham ocorrendo 
desde o século 13.14
2.3 A motivação primária
Uma questão constantemente discutida com relação à Reforma diz respeito 
à sua natureza primordial. Historiadores com viés marxista tendem a ignorar 
ou minimizar o aspecto religioso, não somente no que diz respeito à Reforma, 
mas a qualquer outro fenômeno histórico. Para eles, indo contra tantas evidên-
cias factuais, a religiosidade é uma questão subalterna, decorrente de outros 
fatores de maior relevância histórica. Carlos Rojas, ao defender a importância 
de uma história total, afirma que “é igualmente relevante estudar o cultural, o 
social, o econômico, ou o político, o psicológico, o geográfico, etc.”,15 deixando, 
caracteristicamente, de mencionar o elemento religioso.
12 MCGRATH, O pensamento da Reforma, p. 54.
13 Ibid., p. 73-75.
14 CHAUNU, Pierre. O tempo das reformas (1250-1550). 2 vols. Lisboa: Edições 70, 1993 (1975). 
OZMENT, Steven. The Age of Reform 1250-1550: An intellectual and religious history of late medieval 
and Reformation Europe. New Haven, CT: Yale University Press, 1980.
15 ROJAS, Antimanual do mau historiador, p. 95.
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 11-22
17
Todavia, existem aqueles que, mesmo reconhecendo a preponderância 
do fator religioso na Reforma, nutrem uma desconfiança em relação ao 
mesmo. Daí a advertência do ilustre historiador e teólogo holandês Heiko 
Oberman, que lecionou nas universidades de Harvard, Tübingen e Arizona. 
Ele argumentou que os estudiosos da Reforma devem resistir a algumas 
tendências modernas. Uma delas é a atitude daqueles que, movidos por in-
tenções ecumênicas, atribuem a divisão da cristandade ocidental a disputas 
dogmáticas vistas como “equívocos”. Oberman observa que qualquer apro-
ximação ecumênica feita dessa maneira só poderá ocorrer “se a doutrina 
da justificação, central para a Reforma, for truncada para se encaixar nos 
pronunciamentos do Concílio de Trento ou reformulada em termos de ser 
a precursora da ‘autorrealização’ psicológica”. Ele conclui: “Em qualquer 
caso, o preço é exorbitante: a própria doutrina da justificação”.16 Esse é, por 
exemplo, um dos problemas com a chamada “nova perspectiva sobre Pau-
lo”, que considera inadequado o entendimento luterano e calvinista clássico 
acerca da justificação pela fé somente.
De modo menos otimista, o autor Euan Cameron avalia que a Reforma foi 
a primeira ideologia de massa dos tempos modernos. Todavia, ele reconhece 
o primado do elemento religioso e doutrinário ao afirmar:
A qualidade singular da Reforma Protestante consiste no fato de que ela tomou 
uma única ideia essencial; apresentou essa ideia a todos e incentivou a discus-
são pública; então deduziu dessa ideia o restante das mudanças no ensino e no 
culto; finalmente, desmontou todo o tecido da igreja institucional e construiu 
novamente a partir da estaca zero, incluindo somente o que era consistente com 
a mensagem religiosa básica, e exigido por ela.17
Muitos historiadores contemporâneos negam que a Reforma tenha 
resultado de uma suposta corrupção católica. O historiador Patrick Collin-
son, professor emérito de história moderna na Universidade de Cambridge, 
observa: “Explicações da Reforma em termos de decadência, irreligião e 
corrupção são as mais tradicionais e ainda infestam manuais medíocres”.18 
Diarmaid MacCulloch, professor de história da igreja na Universidade de 
Oxford, acrescenta: 
16 OBERMAN, Heiko A. The Reformation: roots and ramifications. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 
1994, p. xii. Minha tradução.
17 CAMERON, Euan. The European reformation. New York: Oxford University Press, 1991, p. 422. 
Minha tradução.
18 COLLINSON, Patrick. The late medieval church and its reformation: 1400-1600. In: MCMAN-
NERS, John (Org.). The Oxford Illustrated History of Christianity. Oxford: Oxford University Press, 
1992, p. 246. Minha tradução.
ALDERI SOUZA DE MATOS, A REFORMA E OS HISTORIADORES
18
Uma conclusão a ser tirada do acúmulo das pesquisas recentes sobre a Igreja 
Latina antes da convulsão é que ela não era tão corrupta e ineficaz como os 
protestantes tendem a retratá-la, e que ela em geral satisfazia as necessidades 
espirituais das pessoas do final do período medieval.19
Ao mesmo tempo, esses autores reconhecem o tremendo apelo popular 
que as ideias religiosas da Reforma exerceram no século 16. Falando sobre 
o extraordinário crescimento do protestantismo na França, Collinson observa 
que em 1560 mais da metade da nobreza era protestante e com ela grande 
parte da nação. Esse fenômeno resultou de milhares de decisões pessoais de 
abraçar o evangelho, tão pessoais como a constatação da esposa de um comer-
ciante de Lião “de que ela encontrava mais satisfação espiritualao ler a sua 
Bíblia e ao ouvir pregadores calvinistas do que nas ministrações do sacerdote 
a quem devia confessar”.20 Collinson observa que na França, na Inglaterra e 
na Holanda, centenas de pessoas comuns, de ambos os sexos, se dispuseram 
a ser queimadas vivas por suas novas convicções protestantes, e conclui que a 
Reforma “foi feita na sociedade, e não imposta sobre ela”.21
2.4 As consequências da Reforma
A questão dos efeitos da Reforma ou da sua influência sobre a sociedade 
e a cultura nos séculos posteriores, o chamado mundo moderno, é outro tema 
altamente debatido nos estudos históricos. As opiniões acerca do assunto abran-
gem um espectro de grande amplitude, desde aqueles que, de modo ufanista, 
atributem ao movimento protestante um conjunto estupendo de legados para 
o mundo ocidental, até os que questionam ou relativizam tais contribuições. 
Um exemplo dessa última atitude é o livro Reforma: o Cristianismo e o Mun-
do 1500-2000, de Felipe Fernández-Armesto e Derek Wilson, autores que 
se identificam respectivamente como “um católico romano, com tentações 
tridentinas às quais resiste nostalgicamente” e um “evangélico protestante, 
com tendências carismáticas cultivadas parcimoniosamente”.22 Esses autores 
opinam que as mudanças comumente atribuídas à Reforma parecem menos 
convincentes com o passar do tempo e que “é difícil resistir à impressão de 
que um preconceito favorável ao protestantismo influenciou a forma pela qual 
alguns efeitos de grande alcance foram atribuídos a ele”.23 
19 MACCULLOCH, Diarmaid. The Reformation. Nova York: Penguin, 2004, p. xx. Minha tradução.
20 COLLINSON, The late medieval church and its reformation, p. 245. Minha tradução.
21 Ibid. Minha tradução.
22 FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe; WILSON, Derek. Reforma: o cristianismo e o mundo 
1500-2000. Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 12.
23 Ibid., p. 372, 376. Ao mesmo tempo, o livro procura transmitir uma visão quase benigna da 
Inquisição (p. 384).
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 11-22
19
Poder-se-ia argumentar que a recíproca é inteiramente verdadeira: o pre-
conceito contra o protestantismo também pode contribuir para minimizar ou 
relativizar as consequências muitas vezes atribuídas ao movimento. Entre os 
efeitos questionados por esses dois autores estão o individualismo, a ascensão 
do capitalismo, o declínio da magia, a revolução científica, o sonho america-
no e as liberdades civis. Tudo isso é intrigante diante do fato de que uma das 
propostas do livro é conclamar católicos e protestantes a se unirem na luta 
contra o secularismo.24
Outro autor que não tem simpatias pelas contribuições do protestantismo 
é o historiador galês Christopher Dawson (1889-1970), educado como angli-
cano e convertido ao catolicismo. O título de um de seus livros, A Divisão da 
Cristandade, expressa fielmente a sua posição. Para ele, a Reforma, acima de 
qualquer outra consideração, provocou a ruptura da unidade cristã e os efeitos 
foram catastróficos. Diz ele:
Ao longo de três séculos, o abismo entre o mundo católico e o protestante per-
sistiu e cresceu cada vez mais com o passar do tempo. E foi esse cisma cultural 
e político, bem como religioso e eclesiástico, que, em última análise, foi o 
responsável pela secularização da cultura ocidental.25
Uma atitude semelhante é demonstrada por Diarmaid MacCulloch, que, 
embora não seja um protestante praticante, diz reter uma cordial simpatia pelo 
anglicanismo no que ele tem de melhor. Para ele, no século 16 a “sociedade 
ocidental, previamente unificada pela liderança simbólica do papa e pela posse 
de uma cultura latina comum, foi dilacerada por profundos desentendimentos 
sobre como os seres humanos devem exercer o poder de Deus no mundo, 
discussões até mesmo sobre o que significava ser humano”.26 
Uma das obras mais influentes sobre os primórdios da Reforma foi pu-
blicada em 1928 pelo historiador francês Lucien Febvre (1878-1956), um dos 
fundadores da Escola dos Annales e precursor da chamada Nova História. Sua 
magistral biografia de Lutero, calcada em vasta pesquisa documental, contempla 
em especial os anos de 1517 a 1525 da vida desse “profeta inspirado”. O autor 
chega a conclusões sombrias: para ele, o reformador alemão fracassou e seu 
destino foi trágico. Em sua avaliação, quando Lutero, no final da vida, “lançava 
24 Nos anos 60, no contexto do Concílio Vaticano II, autores católicos publicaram avaliações mais 
positivas da Reforma. Por exemplo: DANIEL-ROPS, Henri. A igreja da Renascença e da Reforma. São 
Paulo: Quadrante, 1996 (1961); DOLAN, John P. History of the Reformation: a conciliatory assessment 
of opposite views. Nova York: Desclee, 1965.
25 DAWSON, Christopher. A divisão da cristandade: da Reforma Protestante à era do Iluminismo. 
São Paulo: É Realizações, 2014, p. 194.
26 MACCULLOCH, Diarmaid. The Reformation. Nova York: Penguin, 2004, p. xix.
ALDERI SOUZA DE MATOS, A REFORMA E OS HISTORIADORES
20
o olhar em volta de si, via no solo mais ruínas que construções”.27 Ele sacudiu o 
jugo do papa, mas colocou em seu lugar o jugo ainda mais opressor do Estado.
3. O LEGADO DA REFORMA
Como se pode observar, o juízo dos historiadores seculares, católicos e até 
mesmo de muitos protestantes sobre a Reforma Protestante pode ser bastante 
severo. No entanto, alguns estudiosos procuram destacar diversos legados 
construtivos, como é o caso de Alister McGrath. Falando sobre o impacto da 
Reforma na história, ele arrola os seguintes fatores: uma atitude positiva em 
relação ao mundo, a ética protestante do trabalho, sua influência sobre o ca-
pitalismo, as mudanças políticas, sua conexão com o surgimento das ciências 
naturais.28 No final do seu livro sobre as reformas na Europa, Carter Lindberg 
afirma que “os legados das Reformas afetaram cada aspecto da vida e do pen-
samento modernos”.29 Ele menciona, entre outras, as seguintes áreas que foram 
atingidas: política, cultura, mulheres, tolerância, economia, educação, ciência, 
literatura e artes. O historiador Patrick Collinson observa: “É inevitável que 
uma coisa tão ampla como a Reforma tenha sido considerada causa de muitas 
coisas... é possível considerá-la causa de quase tudo o que quisermos”.30
É preciso lembrar que, sendo a Reforma acima de tudo um movimento 
de natureza religiosa e doutrinária, o seu maior legado se deu nessa área. O 
eminente historiador Owen Chadwick, falecido em 2015, observou: “Depois 
de Lutero, não era possível, seja aos protestantes ou aos católicos, imitar 
algumas das velhas maneiras de negligenciar a graça e a soberania de Deus. 
Na medida em que o Protesto consistiu no brado de Lutero de que a salvação 
não era por meio do ritual... o Protesto foi triunfante”.31 Mais concretamente, 
Lutero insistiu no fato de que o ser humano só pode ser salvo pela graça de 
Deus, e não por qualquer mérito, virtude ou esforço pessoal. Somente pela fé, 
ela mesma também uma dádiva divina, podemos nos apropriar do que Cristo 
fez por nós. Collinson observa: “A doutrina de Lutero de que o homem é re-
dimido exclusivamente por meio da fé libertava o homem da moralidade, mas 
também para a moralidade”. E conclui: “Aí se encontra a diferença essencial 
entre o que se tornaria o Protestantismo e o Catolicismo, tal como este foi 
reconstituído no Concílio de Trento”.32
27 FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero, um destino. Porto Codex, Portugal: Edições Asa, 1994, 
p. 264.
28 MCGRATH, O pensamento da Reforma, p. 286-300.
29 LINDGERG, As reformas na Europa, p. 423.
30 COLLINSON, Patrick. A Reforma. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006, p. 229-230.
31 CHADWICK, Owen. The Reformation. The Pelican History of the Church. Londres: Penguin, 
1988, p. 444.
32 COLLINSON, A Reforma, p. 75. Minha tradução.
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 11-22
21
O historiador norte-americano Mark Noll, depois de reconhecer deficiên-
cias na Reforma e na personalidade de Lutero, argumenta que a concepção 
do reformador acerca de Deus deixou marcas profundas na história cristã. 
Ele se refere especificamenteà chamada “teologia da cruz”, já presente nas 
teses 92-95 de 1517.33 Para Lutero, encontrar a Deus era encontrar a cruz. 
“O cristianismo torna-se uma realidade nas vidas humanas quando homens e 
mulheres participam da morte de Cristo ao experimentarem a destruição de suas 
próprias pretensões quando estão coram Deo (na própria presença de Deus)”.34 
O reformador contrastou essa atitude com a “teologia da glória”, que leva os 
seres humanos a confiarem em si mesmos, na sua própria percepção acerca 
de Deus e do mundo. Aquele que deseja encontrar a Deus tem de olhar para 
o Calvário, onde Deus se revelou plenamente. Nas palavras de Noll: “A cruz 
mostra o Criador, o Deus majestoso e todo-poderoso sofrendo – e sofrendo por 
nós. Lutero até mesmo podia dizer que a cruz nos mostra o terrível mistério 
de Deus experimentando a morte por nós”.35
CONCLUSÃO
Os exemplos arrolados neste artigo mostram o quanto os compromissos 
prévios dos historiadores afetam a maneira como interpretam a história da 
Reforma. Assim como alguns deles, principalmente secularistas e católicos 
romanos, tendem a relativizar a importância desse movimento, os evangélicos 
(no sentido original da palavra) se sentem no dever de apontar os elementos 
apreciáveis e construtivos dessa história. Eles não se recusam a admitir que a 
Reforma teve suas falhas. O protestantismo gerou uma grande cisão no mundo 
cristão e muitas vezes atribuiu importância excessiva aos governantes civis, 
praticou ações intolerantes, envolveu-se em guerras, não soube manter a sua 
própria unidade interna. Assim, os 500 anos, longe de serem uma ocasião para 
celebrações ufanistas, devem ser um convite para a reflexão, para a reafirmação 
de princípios, para a gratidão a Deus pela longa caminhada desse movimento, 
que, apesar dos percalços, têm produzido frutos extraordinários na vida da 
igreja e do mundo.
Fazendo uma avaliação final da Reforma e suas vicissitudes, MacCulloch 
fala pelos seus contemporâneos secularizados do início do século 21 ao declarar: 
“Nós não temos o direito de adotar uma atitude de superioridade intelectual 
ou emocional, especialmente à luz das atrocidades que a Europa do século 20 
33 NOLL, Mark A. Momentos decisivos na história do cristianismo. Trad. Alderi S. Matos. São 
Paulo: Cultura Cristã, 2000, p. 170-173.
34 Ibid., p. 174.
35 Ibid., p. 176. Ver também: MCGRATH, Alister E. Lutero e a teologia da cruz: a ruptura teológica 
de Martinho Lutero. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
ALDERI SOUZA DE MATOS, A REFORMA E OS HISTORIADORES
22
produziu por causa de sua fé em ideologias mais novas, seculares”.36 A reforma 
do século 16 não deve ser julgada pelos excessos de alguns de seus personagens 
e movimentos, em grande medida próprios de sua época, mas pela relevância 
das ideias e perspectivas da vida que ela promoveu, principalmente acerca do 
relacionamento das pessoas com Deus, e também em muitas outras áreas da 
experiência humana sobre a terra. Nestes 500 anos, pode-se dizer que o seu 
legado é profundo, rico e duradouro.
ABSTRACT
The Protestant Reformation, a movement that commemorates its fifth 
centennial, has been the object of intense investigation by many scholars. 
This interest on the topic is due to the relevance of the Reformation and its 
vast consequences for the modern world. At the same time, it is a highly 
controversial subject, with a wide variety of perspectives and interpretations. 
Initially, this article makes some general historiographical considerations about 
the Reformation. Then it adresses several aspects that have given occasion 
to disagreements and reappraisals in the last decades. They are the multiple 
character of the Reformation, its intellectual sources, its primary motivations, 
and its consequences. Finally, the author makes some considerations about the 
lasting legacy of the Reformation.
KEYWORDS
Protestant Reformation; 500th anniversary of the Reformation; Historio-
graphy; Historians; Interpretations of the Reformation.
36 MACCULLOCH, The Reformation, p. 683.
23
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 23-41
o papEl da múSica na rEforma 
E a formação do Saltério de Genebra
Dario de Araujo Cardoso*
RESUMO
Destacamos no presente artigo a importância que teve para os refor-
madores a discussão sobre o uso da música na liturgia. Mostramos que tanto 
para Lutero quanto para Calvino o poder de mobilização emocional da música 
deveria ser utilizado para conduzir os crentes à adoração de Deus. Calvino 
destacou-se por defender que esse poder deveria estar a serviço da edificação 
e do ensino e incentivou a produção de cânticos de fácil assimilação, cujas 
letras conduzissem à meditação em Deus e em suas obras. O cântico de salmos 
e outros textos bíblicos metrificados e adaptados ao contexto cristão mostrou-se 
o meio mais apropriado para isso e resultou na produção da obra que ficou 
conhecida como o Saltério de Genebra.
PALAVRAS-CHAVE
Reforma; Liturgia; Música; Lutero; Calvino; Cântico de Salmos.
INTRODUÇÃO
A liturgia é um dos aspectos primordiais de uma religião. Ela é o elemento 
que dá forma e expressão às crenças de determinado grupo. Antes mesmo do 
discurso é a liturgia o primeiro aspecto a observar quando da aproximação a 
determinada crença. Durkheim demonstrou que as crenças e os ritos são os 
* Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma-
nas da Universidade de São Paulo, Mestre em Teologia e Exegese pelo CPAJ, Mestre em Ciências da 
Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor assistente de Teologia Pastoral no CPAJ. 
Coordenador e professor do Departamento de Teologia Exegética do Seminário Presbiteriano Rev. José 
Manoel da Conceição. Membro da equipe pastoral da Igreja Presbiteriana do Centenário, em São Paulo.
DARIO DE ARAUJO CARDOSO, O PAPEL DA MÚSICA NA REFORMA E A FORMAÇÃO...
24
aspectos fundamentais a serem abordados no estudo das religiões.1 Assim, o 
estudo da Reforma deve tratar com atenção os aspectos litúrgicos envolvidos 
em sua concepção e desenvolvimento. 
Nas palavras de Witvliet, 
Alguns dos mais dramáticos e reveladores desenvolvimentos no período foram 
litúrgicos. Nós não podemos entender completamente as dimensões religiosas 
deste (ou de qualquer outro) período sem compreender as variações e mudanças 
nos modos pelos quais os fiéis prestavam culto a Deus.2 
McKee observa que, além da teologia e da política eclesiástica, a Reforma 
trouxe grandes mudanças na liturgia. Nesse campo, continua ela, Calvino e 
Genebra devem receber especial atenção “porque aquele padrão é usualmente 
reconhecido como o mais significativo para a teologia e liturgia reformada 
posterior”.3 Noll relata que a hinologia foi uma marca tão importante da Re-
forma que personagens importantes da Igreja Católica pensaram em proibir o 
uso da música na missa. Ele afirma:
A enxurrada de hinos protestantes que inundou a Europa juntamente com as 
primeiras crises da Reforma criou dificuldades incomuns para a Igreja Católica 
Romana. O canto congregacional estava associado ao protestantismo de maneira 
tão profunda e os protestantes foram tão eficazes na utilização dos hinos que 
alguns personagens importantes da Igreja Católica por breve tempo consideraram 
a proibição da música nas missas.4
Dessa forma, a consideração dos aspectos litúrgicos não dever ser vista 
apenas como subsidiária, mas como elemento essencial para a compreensão e 
análise da Reforma. Em particular, o estudo das questões relacionadas ao papel 
da música na liturgia e dos instrumentos preparados para este fim servirá de 
grande proveito para o desenvolvimento desse campo de pesquisa.
Neste artigo descrevemos o pensamento de Lutero e Calvino sobre o 
uso da música na liturgia. Em seguida focalizamos os desdobramentos dos 
princípios de Calvino na proposição e confecção do Saltério de Genebra. A 
exposição é feita sob o referencial teórico semiológico de Nattiez, que propõe 
que a música remete a seu ambiente filosófico, ideológicoe religioso, entre 
1 DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996, 
p. 457.
2 MAAG, K.; WITVLIET, J. D. Worship in Medieval and Early Modern Europe: Change and 
continuity in religious pratice. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2004, p. 1.
3 MCKEE, E. A. Reformed Worship in Sixteenth Century. In: VISCHER, L. (Org.). Christian 
Worship in Reformed Churches Past and Present. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2003, p. 3.
4 NOLL, Mark A. Momentos decisivos na história do Cristianismo. São Paulo: Cultura Cristã, 
2000, p. 206.
25
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 23-41
outros, de modo que seu estudo procura distinguir três tipos de temporalidade: 
“o tempo da obra (seu desenrolar no tempo), o tempo dos processos que a ori-
ginaram e das estratégias perceptivas que ela coloca em movimento, e o tempo 
da história”.5 Lidaremos especialmente com a segunda forma de temporalidade.
1. LUTERO E O USO DA MÚSICA NA REFORMA
1.1 A importância da música como instrumento litúrgico
Antes da Reforma, o povo podia ouvir a música sacra, mas não podia 
participar dos cânticos. Silva descreve assim esse contexto:
O canto litúrgico medieval era marcado por sua origem monástica, um canto 
“clerical”, elaborado e estabelecido para ser entoado por “profissionais” da 
religião, que dispunham de tempo e conhecimentos musicais para um apri-
moramento e uma exaustiva complexidade, chegando a ponto de surgir uma 
rivalidade entre os diferentes mosteiros na execução destes requisitos, uma forma 
deturpada dos levitas bíblicos. A celebração da missa era o lugar da apresentação 
do desenvolvimento de suas técnicas e aprimoramento de sua arte. O povo parti-
cipava passivamente, assistindo a um espetáculo musical em que não entendia o 
porquê da música, nem o que se cantava, porque não compreendia a letra cujos 
arranjos altifônicos sufocavam a compreensão.6
Coube a Lutero o importante papel de quebrar esse paradigma e restaurar 
o cântico congregacional na língua do povo.7 Raynor, buscando destacar a 
importância de Lutero para a história da música, escreve que “sua dedicação 
total à música teve influência em tudo o que fizesse, não apenas na sua liturgia 
alemã, mas também na sua educação alemã, e a sua vida foi quase tão importante 
para o futuro da música como o foi para o futuro da religião”.8
Lutero tinha a música em mais alta conta. Para ele, a música era o mais 
precioso dos tesouros celestes. Por meio dela são dominados os pensamentos 
e sentidos, o coração e o espírito. Ela consola o aflito e abranda o arrogante. 
Portanto, [escreveu Lutero] não foi sem razão que os padres da Igreja, e os 
profetas, sempre quiseram intimamente juntas a Música e a Igreja; e, por isso, 
5 NATTIEZ, J. J. Music and Discourse: Toward a Semiology of Music. Princeton, NJ: Princeton 
University Press, 1990, p. 31.
6 SILVA, Jouberto Heringer da. A música na liturgia de Calvino em Genebra. Fides Reformata 
VII-2 (2002): 85-104, p. 93.
7 SANTOS, G. Do Salmo 5 ao “Atos 2” – Uma panorâmica sobre salmos e hinos na música 
evangélica no Brasil. Ex Corde, 2006, p. 2. Disponível em: http://www.hinologia.org/do-salmo-5-ao-
-atos-2-uma-panoramica-sobre-salmos-e-hinos-na-musica-evangelica-no-brasil-gilson-santos/. Acesso 
em: 28 ago. 2017.
8 RAYNOR, H. História social da música: Da Idade Média a Beethoven. Rio de Janeiro: Zahar 
Editores, 1972, p. 129.
DARIO DE ARAUJO CARDOSO, O PAPEL DA MÚSICA NA REFORMA E A FORMAÇÃO...
26
temos tantos hinos e salmos. É mediante esse precioso dom, atribuído apenas à 
humanidade, que todo homem lembra seu dever de sempre louvar e glorificar 
a Deus.9
O reformador alemão entendeu que era impossível substituir o enorme 
reservatório de devoção pessoal encontrado na celebração da missa, nos ges-
tos rituais e na música. Não obstante, viu a necessidade de inserir todas essas 
coisas num novo contexto doutrinário e por isso “dava ênfase à doutrina com 
estrutura tradicional da missa, que mantinha quase toda a estrutura musical”.10 
Reynor faz o seguinte registro sobre a liturgia de Lutero:
“Muita música na missa”, escreveu Lutero no Vermahnung zum Sakrament, “é 
excelente, pois exprime agradecimento e é muito apreciada. Em partes como o 
Gloria in excelsis, o Credo, o Prefácio, o Sanctus e Benedictus e o Agnus Dei 
há tão só agradecimento e louvor, e por essa razão as mantemos na missa. De 
toda a música na missa, o Agnus Dei é o que mais autenticamente corresponde 
ao sacramento, porque louva a Cristo, que carregou nossos pecados; em simples 
palavras ele aumenta a nossa reverência pela Paixão de Cristo”.11
Assim, Lutero deu grande atenção à estrutura musical. Por isso, chamou 
Johann Walther, músico experimentado que chegou a ser Kappellmeister do 
eleitor da Saxônia, para realizar minuciosa organização musical da música 
luterana.12
Além do aproveitamento de vários elementos musicais na liturgia, Lutero 
mostrou-se um profícuo compositor de hinos e corais. Costa registra que ele 
compôs 36 hinos e várias melodias.13 A mais conhecida de suas composições 
é uma paráfrase do Salmo 46, Ein feste Burg ist unser Gott (“Castelo Forte”), 
que se tornou o hino do protestantismo por toda parte. Esse modo de tratar os 
salmos para o cântico destacou-se na produção de Lutero, pois outro impor-
tante hino de sua autoria é uma paráfrase do Salmo 130, Aus tiefer Not (“Em 
profunda aflição”).
Vemos que Lutero tinha na liturgia um instrumento de instrução e forta-
lecimento doutrinário e que foi pródigo no emprego da liturgia como elemento 
propagador da doutrina e da fé. Vemos também que ele tinha no canto um dos 
principais elementos da liturgia. O valor que Lutero dava à música era tão 
9 Ibid.
10 Ibid., p. 130.
11 Ibid., p. 132.
12 Ibid., p. 130.
13 COSTA, Hermisten M. P. da. Princípios bíblicos de adoração cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 
2009, p. 185.
27
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 23-41
grande que afirmou dogmaticamente que um professor deveria saber cantar 
e que alguém que não tivesse estudado e praticado música não deveria ser 
admitido ao ministério. Assim, “nas escolas religiosas a música era entusias-
ticamente ensinada não só como valiosa disciplina intelectual, mas também 
como dever religioso e prazer social”.14
Não obstante, é preciso observar que o modo pelo qual Lutero valorizava 
a música levou os luteranos, principalmente nos grandes centros, a preferir a 
qualidade musical à fidelidade doutrinária. Raynor observa que 
num centro musical como a Thomaskirche em Leipzig, ou a Michaeliskirche em 
Lüneburg e a Kreuzkirche em Dresden, a qualidade musical mais que a crença 
doutrinária ou fidelidade sectárias governavam a escolha de música, em razão 
do modo pelo qual Lutero, desde o início da revolta, considerara a qualidade 
musical um elemento importante na sua liturgia.15
É interessante que Lutero, diferentemente de Calvino, não nutria simpa-
tia pelo canto congregacional uníssono, mas preferia o canto coral acompanhado 
pela congregação. No entanto, por causa de sua preocupação doutrinária, via o 
canto congregacional como um proveitoso exercício devocional. Assim permitia 
e até mesmo incitava o canto congregacional “apenas para que a congregação 
fizesse uma declaração de fé como uma compreensão completa do que estava 
cantando”.16 Por isso, prefaciando o livro coral publicado por Rhau e Foster 
em 1538, Lutero escreveu:
Quando a música natural é aperfeiçoada e polida pela arte, começa-se então a 
perceber a grande e perfeita sabedoria de Deus em sua maravilhosa obra musical, 
quando uma voz assume uma única parte, e em torno dela cantam três, quatro 
ou cinco outras vozes, saltando, rodando, enfeitando maravilhosamente a parte 
original, como uma dança celeste.17
Vê-se que em Lutero a música é um instrumento primordialmente de 
impressão, só então de expressão. A música, entendida como um dom divino, 
teria em si mesma a capacidade de enlevo e aperfeiçoamento espiritual. A 
preocupação com o que será cantado é limitada, emboranão deixasse de zelar 
por aquilo que contribua para a propagação da mensagem da Reforma.
14 RAYNOR, História social da música, p. 135.
15 Ibid., p. 30.
16 Ibid., p. 132-133.
17 Ibid., p. 133.
DARIO DE ARAUJO CARDOSO, O PAPEL DA MÚSICA NA REFORMA E A FORMAÇÃO...
28
1.2 Divergências entre os reformadores sobre a presença 
e o papel da música na liturgia
No entanto, ainda que os protestantes concordassem que deveria haver 
uma absoluta conexão entre a fé e a liturgia da Reforma, havia reformadores que 
tinham postura bastante divergente da de Lutero. Segundo White, em 1529, o 
encontro de líderes protestantes em Marburg demonstrou que eles não podiam 
concordar em todos os assuntos de culto e que seu desejo de total acordo não 
era possível, ainda que fosse possível ter unanimidade em um ou outro item. 
Eles logo descobriram que, embora todos viessem de uma única tradição cristã, 
tinham dois espíritos diferentes – que Lutero apontou com cândida observação, 
provavelmente a Martin Bucer: “Você tem um espírito diferente do meu”. Lu-
tero representava a velho ensino e piedade. Zuínglio, Bucer, Oecolampadius 
representavam o novo ensino e o novo tipo de piedade.18
Entre essas divergências estava o uso da música na liturgia. Zuínglio, 
por exemplo, demonstrou “profunda suspeita com o que chamava de ‘seduti-
vo’ poder da música, banindo da Igreja todo tipo de música”.19 Martin Bucer 
(1491-1551), em Estrasburgo, seguiu padrão comedido, mas não tão radical. 
Descrevendo o culto, ele relata: “Após a remissão de pecados para aqueles 
que creem, toda a congregação canta pequenos salmos ou hinos de louvor...”.20 
Desde 1525, os salmos eram cantados pelos exilados alemães e franceses em 
Estrasburgo.21 Esse padrão proposto por Bucer foi de grande importância para 
o ensino e a prática litúrgica proposta por Calvino.
Guilherme Farel (1489-1565), pregador responsável pela permanência de 
Calvino em Genebra, também manifestou simpatia pelo canto congregacional, 
particularmente dos salmos. Na controvérsia no Convento de Rive (1535), ele 
declarou: “Não é mau que todos os fiéis, ao se reunirem, cantem juntos, com 
o coração e também com a boca, salmos, em sua língua, que todos entendem, 
louvores a Deus”.22
Discordando de Zuínglio, Calvino, além dos perigos e seduções, via na 
música um poderoso instrumento de auxílio à edificação e ao zelo espiritual. 
No Prefácio ao Saltério de Genebra ele escreveu: “E na verdade nós sabe-
18 WHITE, J. F. Protestant Worship: Traditions in Transition. Louisville: Westminster/John Knox, 
1989, p. 58.
19 SILVA, Música na liturgia de Calvino, p. 86.
20 Apud BARD, T. (Org.). Liturgies of the Western Church. Philadelphia: Fortress, 1980, p. 87.
21 SILVA, Música na liturgia de Calvino, p. 91.
22 AUGUSTIN, C.; VAN STAM, F. P. (Orgs.). Ioannis Calvini. Epistolae, vol. 1 (1530–set. 1538). 
Genebra: Librairie Droz, 2005, p. 158; D’AUBIGNÉ, J. H. M. History of the reformation in Europe in 
the time of Calvin. Vol. 5, p. 310. Londres: Longmans, Green, and Co., 1869, p. 310ss.
29
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 23-41
mos, por experiência, que cantar tem grande força, vigor de mover e inflamar 
os corações dos homens para envolvê-los em adoração a Deus com mais 
veemência e ardente zelo”.23 Isso implica o esforço em insistir que a música 
fosse utilizada na liturgia com esse sublime fim: “É preciso haver canções não 
somente honestas, mas também santas, que como aguilhões nos incitem a orar 
e a louvar a Deus e a meditar nas suas obras para amar, honrar e glorificá-lo”.24 
Por isso, a música deveria ter foco no que se cantava, ser simples e apropriada 
para ser cantada sem treinamento, e em uníssono.25
2. CALVINO E OS PRINCÍPIOS QUE LEVARAM À PRODUÇÃO 
DO SALTÉRIO DE GENEBRA
2.1 Os princípios que devem orientar a música na liturgia 
segundo Calvino
A tradição litúrgica de Calvino formou-se a partir daquela praticada por 
Bucer em Estrasburgo, mas seguiu seu próprio e marcante caminho, tendo 
na promoção do cântico de Salmos sua característica mais marcante. White 
descreve:
Diferente da tradição luterana, onde o cântico de hinos era encorajado, ou da 
Reforma de Zurique, onde nenhum cântico era permitido, Calvino fez com que os 
salmos fossem colocados em métrica francesa por Clément Marot (1497-1544) 
e outros. Ele encorajou compositores como Claude Goudimel (c. 1510-1572) e 
Louis Bourgeois (1510-1561) a produzir músicas.26 
A tradução e a metrificação de salmos para o cântico não eram algo iné-
dito. Como foi dito, Farel tinha preferência por elas no cântico congregacional 
e Bucer já havia promovido essa prática em Estrasburgo. Em seu primeiro 
período em Genebra (1536-1538), Calvino havia proposto o uso do cântico 
de salmos, provavelmente em prosa, na liturgia. “Nós desejamos”, escreveu 
Calvino, “que os salmos sejam cantados na igreja de acordo com o antigo uso 
e testemunho de S. Paulo”.27
Foi em Estrasburgo que a prática do cântico de salmos conquistou o co-
ração de Calvino e se tornou um elemento de seu projeto ministerial. Halsema 
observa que, ao chegar a Estrasburgo, muito agradou Calvino o fato de que 
23 CALVINO. J. Prefácio de Calvino para o Saltério de Genebra, 1543, p. 3. Disponível em: http://
www.monergismo.com/textos/jcalvino/prefacio_salterio_genebra_calvino.htm. Acesso em: 5 ago. 2008.
24 Ibid., p. 5.
25 SILVA, Música na liturgia de Calvino, p. 88.
26 WHITE, Protestant Worship, p. 66.
27 MCNEILL, John T. The History and Character of Calvinism. Oxford: Oxford University Press, 
1967, p. 139
DARIO DE ARAUJO CARDOSO, O PAPEL DA MÚSICA NA REFORMA E A FORMAÇÃO...
30
os refugiados franceses já cantassem salmos em francês havia dez anos e que 
cantavam com entusiasmo, dando gosto de ouvi-los.28
Costa registra que
Calvino foi influenciado de certa maneira pela adoração dirigida por Martin 
Bucer em Estrasburgo, durante o período em que lá permaneceu (1538-1541), 
pastoreando os franceses banidos que desejavam cultivar sua fé em liberdade. 
Algo que chamava a atenção de Calvino era o entusiasmo com que os franceses 
ali exilados cantavam salmos quando se dirigiam ao culto.29
Ainda assim, pode-se considerar Calvino como o grande incentivador 
dessa prática e o principal promotor do processo que culminou na publicação 
do Saltério de Genebra. Santos afirma que “ele desejava que os salmos vol-
tassem a ser cantados nos cultos, como hinos, tal como o livro dos Salmos, os 
quais haviam sido compostos em poesia hebraica e eram cantados no segundo 
templo de Jerusalém”.30 
Por isso, em 1539, publicou, em Estrasburgo, um saltério francês intitu-
lado Aulcuns Psaulmes et Cantiques mys em chant. Esse saltério continha 18 
salmos metrificados, cinco da lavratura de Calvino e os demais retirados da 
edição de Clement Marot para a corte francesa. Esse saltério foi a gênese do 
Saltério de Genebra.
A importância que Calvino deu a essa prática pode ser vista no prefácio à 
edição do Saltério publicada em 1543, agora com a participação direta de Marot.
Calvino inicia o prefácio defendendo que o culto deve ser útil para todo 
o povo. Esse princípio da utilidade do culto para a edificação parece ser o 
princípio fundamental da proposta litúrgica de Calvino. Ele diz:
Pois nosso Senhor não instituiu a ordem que devemos obedecer quando nos 
reunimos em Seu Nome, somente para entreter o mundo quando este olha e 
observa, antes, ele deseja que o culto seja útil para todo o seu povo; como São 
Paulo testemunhou, ordenando que tudo que for feito na Igreja seja direcionado 
à edificação comum de todos; isto ao servo não teria ordenado, não fosse esta a 
intenção do Mestre. Mas isto não pode ser feito, a menos que sejamos instruídos 
a usar a inteligência em tudo que foi ordenado para o nosso proveito. 31 
Costa afirma que para Calvino a preocupação teológica deveria “ater-se 
à edificação da igreja”. Mais à frente ressalta que “para Calvino, a doutrina 
estava relacionada à nossa vida; é para ser crida, vivida e ensinada. [...] não 
28 VAN HALSEMA, Thea B.João Calvino era assim. São Paulo: Vida Evangélica, 1968, p. 100. 
29 COSTA, Princípios bíblicos de adoração cristã, p. 161.
30 SANTOS, Do Salmo 5 ao “Atos 2”, p. 2.
31 CALVINO, Prefácio de Calvino para o Saltério de Genebra, p. 1.
31
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 23-41
estava teorizando ou simplesmente fazendo uma abstração”32. Nas palavras 
de Calvino,
O evangelho não é uma doutrina de língua, senão de vida. Não pode assimilar-
-se somente por meio da razão e da memória, senão que chega a compreender-se 
de forma total quando ele possui toda alma, e penetra no mais íntimo recesso 
do coração. [...] os cristãos deveriam detestar àqueles que têm o evangelho em 
seus lábios, porém não em seus corações.33
Portanto, a doutrina só pode ser sã quando ensinada com o intuito de 
beneficiar e que se mostre proveitosa a seus ouvintes.34
Por causa desse princípio de utilidade, Calvino considerava uma grande 
tolice praticar orações e cerimônias que as pessoas não pudessem entender. 
Sua defesa dessa questão é bem clara:
Portanto, se realmente queremos honrar as santas ordenanças de nosso Senhor 
que usamos na Igreja, a primeira coisa que devemos é saber o que elas contêm e o 
que elas significam e querem dizer e para que fim foram instituídas, para que 
o uso delas seja útil e salutar e consequentemente corretamente administrados.35 
No tratado que escreveu em 1544, onde expôs diante do imperador Carlos 
V as razões que justificavam a Reforma, Calvino descreveu o modo de oração 
que estava sendo implantado nas igrejas
O método pelo qual, em nossas igrejas, todos oram em comum na língua popular, 
e homens e mulheres indiscriminadamente cantam os salmos, nossos adversários 
podem ridicularizar se quiserem, aprouve ao Espírito Santo trazer testemunho 
a nós do céu, enquanto ele repudia os sons confusos e sem significado que são 
pronunciadas em outro lugar.36
Seguindo esse princípio, ele defende que há três elementos ordenados 
para o culto: a pregação da Palavra, as orações públicas e solenes e a adminis-
tração dos sacramentos.37 A partir desses três elementos, Calvino considera o 
cântico como uma forma de oração. “Quanto às orações públicas, há dois tipos. 
Aquelas somente com palavras, e outras cantadas”.38 Por isso, a música no 
32 COSTA, Princípios bíblicos de adoração cristã, p. 226, 229.
33 Apud Ibid., p. 230.
34 CALVINO, J. Pastorais. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009, p. 163.
35 CALVINO, Prefácio de Calvino para o Saltério de Genebra, p. 1.
36 CALVIN, John. The Necessity of Reforming the Church. Dallas, TX: The Protestant Heritage 
Press, 1995, p. 57.
37 CALVINO, Prefácio de Calvino para o Saltério de Genebra, p. 2.
38 Ibid. p. 3.
DARIO DE ARAUJO CARDOSO, O PAPEL DA MÚSICA NA REFORMA E A FORMAÇÃO...
32
culto deve ser objeto de especial cuidado e consideração. Calvino registra que 
“cantar tem grande força, vigor de mover e inflamar os corações dos homens 
para envolvê-los em adoração a Deus com mais veemência e ardente zelo”.39
Por isso, Calvino requer que as músicas tenham peso e majestade, rejei-
tando aquelas que sejam frívolas ou triviais, que haja diferença marcante entre 
a música de entretenimento e o que é cantado na igreja e que ela seja usada com 
moderação de modo que sirva a coisas honesta e não dê lugar à dissolução ou 
se torne instrumento de lascívia ou impureza. Isso não quer dizer que Calvino 
queria que a música ficasse restrita aos cultos. Ao contrário, seu intuito era 
que ela, como de fato aconteceu, fosse cantada nos campos e nos lares como 
o que ocorria na igreja cristã por volta do quarto século.40 Sua preocupação 
era precaver-se de futilidades e alegrias tolas e viciosas e conduzir a igreja à 
alegria espiritual recomendada nas Escrituras. “É preciso haver canções não 
somente honestas, mas também santas, que como aguilhões nos incitem a orar 
e a louvar a Deus e a meditar nas suas obras para amar, honrar e glorificá-lo”.41
O cântico de salmos é, dessa forma, o corolário do princípio da utilidade 
do culto para a edificação. Ainda que haja outros cânticos apropriados, ne-
nhum deles pode superar os salmos em virtude de que estes foram dados por 
inspiração do Espírito Santo. Calvino escreve: “Portanto, quando procuramos 
diligentemente, aqui e ali, não iremos encontrar cânticos melhores, por mais 
apropriados que sejam os seus propósitos, do que os Salmos de Davi, que o 
Espírito Santo falou e preparou através dele”.42
Em confirmação disso, cita Agostinho, que viu no cântico de salmos o 
modo de usufruir da música sem pecado, que dizia que “ninguém é capaz de 
cantar algo digno de Deus, exceto aquilo que recebemos dele”; e Crisóstomo, 
ardoroso defensor do cântico de salmos, que entendia que essa prática nos faz 
associados à companhia dos anjos.43
2.2 O impacto do Livro de Salmos em Calvino
O impacto que o Livro de Salmos causou na vida de Calvino está bem 
documentado. Como foi dito acima, em Estrasburgo, Calvino ficou muito 
impressionado com “o entusiasmo com que os exilados franceses cantavam 
salmos quando se dirigiam ao culto”.44 Não que cantar salmos fosse uma ideia 
nova para Calvino. Em sua primeira estada em Genebra, propusera o cântico de 
39 Ibid.
40 CARDOSO, Dario A. O cântico de Salmos na Igreja Cristã até a Reforma. Ciências da Re-
ligião – História e Sociedade, v. 9, n. 2 (2011): 26-51, p. 35ss.
41 CALVINO, Prefácio de Calvino para o Saltério de Genebra, p. 3-5.
42 Ibid., p. 5.
43 Ibid.
44 COSTA, Princípios bíblicos de adoração cristã, p. 161.
33
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 23-41
salmos que seria ensinado por um coro de crianças à congregação. No entanto, 
essa ideia se tornou um propósito em Estrasburgo. “Quando Calvino retornou 
a Genebra, adaptou muitos elementos da liturgia de Bucer, tornando-se o rito de 
Genebra (1542) a base para a adoração das igrejas calvinistas em toda a Europa – 
Suíça, França, Alemanha, Holanda e Escócia”.45 Esse padrão litúrgico tinha o 
cântico de salmos como um de seus principais elementos.
Na dedicatória de Calvino ao Comentário de Salmos, ele faz impressionan-
tes menções ao valor desse livro. Essa dedicatória foi endereçada aos leitores 
piedosos e sinceros. Ao explicar as razões de sua relutância em empreender 
uma série de pregações no livro de Salmos, Calvino reconheceu sua limitação 
em expor a riqueza de seu conteúdo.
As riquezas variadas e esplêndidas que compõem este tesouro não são algo 
fácil de se expressar em palavras; tanto é verdade que estou bem consciente de 
que, seja como melhor me expresse, estarei longe de revelar todas a excelência 
do tema.46 
Além da excelência, Calvino reconhecia a absoluta abrangência do livro 
acerca das emoções e necessidades humanas. É bem conhecida a alcunha 
atribuída por Calvino a esse livro: 
“Uma Anatomia de Todas as Partes da Alma”, pois não há sequer uma emoção 
da qual alguém porventura tenha participado que não esteja aí representada 
como num espelho. Ou, melhor, o Espírito Santo, aqui, extirpa da vida todas 
as tristezas, as dores, os temores, as dúvidas, as expectativas, as preocupações, as 
perplexidades, enfim, todas as emoções perturbadas com que a mente humana 
se agita47.
Dessa forma também ficam expostas nossas debilidades e os vícios a 
que estamos sujeitos, e o nosso “coração é trazido à claridade e purgado da 
mais perniciosa das infecções – a hipocrisia!”. Mais adiante, ele diz que “tudo 
quanto nos serve de encorajamento, ao nos pormos a buscar a Deus em oração, 
nos é ensinado nesse livro”.48
O valor dos salmos para a promoção de uma genuína e fervorosa oração 
também é registrado nessa dedicatória. Diferentemente das outras partes das 
Escrituras em que são registrados os mandamentos de Deus aos homens, aqui 
os profetas “são descritos falando com Deus e pondo a descoberto todos os 
seus mais íntimos pensamentos e afeições”, e demonstram
45 Ibid., p. 290.
46 CALVINO, Pastorais, p. 26.
47 CALVINO, J. O livro dos Salmos. vol. 1. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009, p. 27.
48 Ibid., p.27.
DARIO DE ARAUJO CARDOSO, O PAPEL DA MÚSICA NA REFORMA E A FORMAÇÃO...
34
... como invocar a Deus é um dos principais meios de garantir nossa segurança, 
e como a melhor e mais inerrante regra para guiar-nos nesse exercício não pode 
ser encontrada em outra parte senão nos Salmos, segue-se que em proporção à 
proficiência que uma pessoa haja alcançado em compreendê-los, terá também 
alcançado o conhecimento da mais importante parte da doutrina celestial.49
Através dos salmos aprendemos a colocar diante de Deus aquelas fraque-
zas que tememos confessar diante dos homens e “não há outro livro em que 
somos mais perfeitamente instruídos na correta maneira de louvar a Deus, ou 
em que somos mais poderosamente estimulados à realização desse sacro exer-
cício”. Neles também somos estimulados a uma vida cristã que seja plena “de 
santidade, de piedade e de justiça, todavia eles principalmente nos ensinarão 
e nos exercitarão para podermos levar a cruz”.50 
A menção da cruz nesse trecho deixa bem claro que a piedade promovida 
pelos salmos não pode ser denominada veterotestamentária, no sentido de ser 
pré-cristã, mas bíblica e cristã no melhor sentido dos termos. Dessa forma, 
não há para Calvino a necessidade de cristianizar os salmos, como mais tarde 
propôs Charles Wesley. Portanto, não é por acaso que seja nessa dedicatória 
que encontramos as mais claras declarações de Calvino quanto à sua conversão. 
A partir dessa visão de Calvino, o jovem pastor norte-irlandês Angus Stewart 
faz a seguinte observação sobre a atualidade:
Se isso é verdade, devemos confessar o quanto precisamos dos Salmos! Po-
demos tê-los em excesso, se a oração cristã (que o Catecismo de Heidelberg, 
Dia do Senhor 45, chama de “a parte principal da gratidão, que Deus requer 
de nós”) é tão forte ou fraca quanto a nossa compreensão sincera dos Salmos? 
O raciocínio de Calvino aqui deveria nos estimular a ler, cantar e meditar nos 
Salmos. Está o Reformador de Genebra aqui identificando o problema com a 
oração em nosso país? A ignorância dos Salmos e a popularidade dos hinos 
modernos não-inspirados?51
2.3 Elementos distintivos do cântico de salmos proposto por 
Calvino
Ao unir-se à longa tradição da igreja de cantar de salmos, Calvino, seguin-
do a prática dos reformadores, traz inovações importantes. A mais evidente é o 
uso da língua vernácula. Esse princípio protestante não se limitou às traduções 
da Bíblia. Assim como Lutero, que introduziu o alemão na prática litúrgica, 
49 Ibid.
50 Ibid., p. 29.
51 STEWART, A. João Calvino sobre a Excelência dos Salmos, 2007, p. 4. Disponível em: <http://
www.cprf.co.uk/languages/portuguese_calvinonpsalms.htm> Acesso em: 16 dez. 2010.
35
FIDES REFORMATA XXII, Nº 2 (2017): 23-41
Calvino queria que seus irmãos cantassem em francês. No prefácio do Saltério 
de Genebra ele diz: “Por isso, é um grande descaramento por parte daqueles 
que introduziram a língua latina na igreja, onde geralmente não é entendida. E 
não há nem sutileza nem casuísmo que possa desculpá-los, porque essa prática 
é perversa e desagrada a Deus”.52 Por conta disso, não mais era apropriado 
que os salmos continuassem a ser cantados em latim como se fazia nas missas 
romanas.
Outro elemento distintivo da tradução e cântico de salmos foi o uso da 
metrificação, e não do cântico dos salmos em prosa. Pode-se depreender que 
essa técnica foi adotada com vistas a facilitar a memorização. Segundo Calvino, 
o maior proveito do uso dos salmos não pode ocorrer se eles não estiverem 
impressos em nossa memória. “Após a inteligência, deve seguir o coração e a 
afeição, uma coisa impossível de acontecer exceto se tivermos o hino impresso 
em nossa memória, a fim de nunca cessarmos de cantar”.53 De fato, os registros 
pessoais dos calvinistas demonstram que a memorização dos salmos foi um 
importante elemento de apoio nas mais diversas situações.
2.4 O cântico de salmos não era propriamente exclusivo
Deve-se observar que, conquanto Calvino manifeste preferência pelo cân-
tico de salmos, não parece ter defendido que isso se fizesse exclusivamente. Na 
edição de 1545 das Formas de Oração na Igreja Francesa ele assim descreve 
a ordem litúrgica do culto: “Começamos com a confissão de pecados. (...) 
Continuamos com salmos, hinos e louvor, a leitura do evangelho, a confissão 
de nossa fé (ou seja, o Credo Apostólico), e as santas oblações e oferendas...”.54
É importante notar, então, que desde a primeira e em todas as suas edições 
o Saltério de Genebra não foi composto unicamente pelos salmos bíblicos. Ha-
via versões metrificadas de “cânticos bíblicos, da Oração do Senhor, do Credo 
dos Apóstolos, dos Dez Mandamentos, e paráfrases de passagens familiares do 
Novo Testamento”.55 Além de vários salmos, Calvino traduziu o Cântico de 
Simeão, conhecido com Nunc dimittis, e os Dez Mandamentos para o francês 
e compôs um hino. Segundo Cabaniss “essa tradição aponta para uma antiga 
percepção de que os salmos são quase, mas não totalmente, suficientes para 
a adoração cristã”.56
No decorrer da história da formação e da propagação do saltério, pode-
-se registrar, além dos 150 salmos metrificados, onze metrificações de outros 
52 CALVINO, Prefácio, p. 3.
53 Ibid., p. 5.
54 Apud COSTA, Princípios bíblicos de adoração cristã, p. 295.
55 CABANISS, A. The Background of Metrical Psalmody. Calvin Theological Journal, v. 20, 
n. 2 (1985): 191-206, p. 203.
56 Ibid.
DARIO DE ARAUJO CARDOSO, O PAPEL DA MÚSICA NA REFORMA E A FORMAÇÃO...
36
textos canônicos e cinco de hinos não canônicos. Os outros hinos canônicos 
eram o Decálogo, o Cântico de Ana, o Primeiro Cântico do Servo, o Cântico de 
Jonas, o Cântico de Maria, o Cântico de Zacarias, duas versões do Cântico 
de Simeão, Romanos 8, o Hino filipense e o Hino colossense. Os extrabíblicos 
são o Cântico dos Três Jovens (presente na LXX e na Vulgata),57 o Credo, o Te 
Deum, a Pergunta e a Resposta nº 1 do Catecismo de Heidelberg e Um Hino 
para o Pentecoste.58
McNeill registra que Calvino também escreveu poemas. Não afirma se 
eles eram cantados, mas diz que, na edição de Genebra em 1545, foi incluído 
o melhor poema de Calvino, “Je Te salue, mon certain Redempteur”, uma 
declaração de fé fervorosa e pessoal.59 Entretanto, essa prática foi abandonada 
por Calvino, preferindo a proposta de metrificação do texto bíblico. Sobre o 
uso do texto bíblico como fonte da liturgia protestante, Raynor faz uma inte-
ressante observação
Para os luteranos, como para os reformadores mais radicais, a autoridade em 
religião estava na Bíblia, a Palavra de Deus, mais que na tradição viva da Igreja. 
Tudo o que se dissesse na Igreja era retirado de textos bíblicos, e quase em grau 
igual preces como o Kyrie e textos instrutivos como os do Credo tinham de ser 
ouvidos e compreendidos; as palavras não deviam ser apenas matérias-primas 
da música para dar uma estrutura e se destinarem a certa coisa autonomamente 
musical, como foi o caso da maioria das obras de mestres do Renascimento. Caso 
fossem musicadas, era dever do compositor cuidar para que fossem transmiti-
das com toda clareza. Essa atitude para com a música não era, evidentemente, 
especificamente protestante; era apenas uma revivescência numa nova situação 
das objeções católicas tradicionais à música religiosa por demais complicada e 
assinala um ponto no qual se encerrava um ciclo e os protestantes extremados 
viram-se utilizando os mesmos argumentos que os conservadores extremados 
na Igreja Católica.60
Por reformadores mais radicais e protestantes extremados deve-se enten-
der os calvinistas. Percebe-se aqui a ligação com as discussões que envolveram 
a salmódia desde o 4º século. A observação mostra-se verdadeira uma vez 
que o próprio Calvino citou várias vezes Agostinho e uma vez Crisóstomo no 
Prefácio do Saltério de Genebra.
57 Essa porção do livro de Daniel foi posteriormente considerada apócrifa, ou seja, não canônica, 
pelas igrejas protestantes.
58 KOYZIS, D. T. The Genevan Psalter, 2010. Disponível em: http://genevanpsalter.redeemer.ca/.

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