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Resumo Critico 4

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Programa Regional de Pós-
Graduação em Desenvolvimento e 
Meio Ambiente 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio 
Ambiente – PRODEMA 
Centro de Biociências, Natal-RN, CEP 59078-970 
www.posgraduacao.ufrn.br/prodema; Fone: (84) 99224-0011 
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MDM0303 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO BRASIL 
Docente: Gesinaldo Ataíde Cândido 
Discente: Sara Raquel Laurentino Barbosa de Lima/20201016684 
 
 
RESUMO CRÍTICO 04 
 
“Vocês me dizem que o Brasil não desenvolve 
Sem o agrebis feroz, desenvolvimentista 
Mas até hoje, na verdade, nunca houve 
Um desenvolvimento tão destrutivista 
É o que diz aquele que vocês não ouvem 
O cientista, essa voz, a da ciência 
Tampouco a voz da consciência os comove 
Vocês só ouvem algo por conveniência” 
Chico César 
 
No que diz respeito a comparação entre a sustentabilidade da agricultura convencional e a 
sustentabilidade da agricultura tradicional, a aula foi bastante enriquecedora. Isso porque, conseguiu 
aprofundar o tema dos modelos de indicadores de sustentabilidade aplicando a teoria à exemplos reais, 
além de explorar um dos temas mais importantes no que tange ao desenvolvimento sustentável do 
Brasil, a saber: a agricultura. 
O primeiro exemplo explorado durante a aula, foi o da cidade de Ipanguaçu/RN, onde 
inicialmente a monocultura foi muito forte, algo comum em todo nordeste. Essa atividade agrícola, 
em um primeiro momento, não era mecanizada e, por isso, empregou muita mão de obra. Nesse 
contexto, era realizado uma espécie de acordo com os proprietários da terra, os quais permitiam a 
dedicação dos seus trabalhadores para a agricultura de subsistência durante dois dias da semana. 
Entretanto, devido a um problema no mercado de importação, quando o setor têxtil passou a utilizar 
como matéria prima produtos oriundos do petróleo, os proprietários de terra venderam suas posses e 
passaram a adquirir pequenos lotes com suas casas. Emergiu, assim, um novo cenário: pequenos 
produtores, sem assistência técnica e baixa produtividade, trabalhando com agricultura de 
subsistência. Essa realidade permaneceu até que fossem alcançados os sistemas de irrigação, que deu 
destaque a produção de banana, cujo interesse era internacional e tinha como parceiros os pequenos 
produtores de banana. Assim os grandes e pequenos produtores passaram a produzir banana. 
 
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Diante desse cenário e assumindo ótica da sustentabilidade como questão central, é valido 
levantar o seguinte questionamento: qual era o modo de agricultura mais sustentável? Os grandes 
produtores de banana praticantes da agricultura convencional ou os pequenos produtores de banana 
praticantes da agricultura tradicional? Sob a minha perspectiva, o estudo explorado durante a aula, ter 
concluído que os grandes produtores de banana eram mais sustentáveis foi contraditório. Isso porque, 
a minha expectativa, baseada nas minhas experiências anteriores com agricultores familiares, era de 
que os pequenos produtores, geralmente adeptos da agricultura tradicional, fossem mais sustentáveis 
por diferentes motivos, como, por exemplo, o uso de biofertilizantes. 
Isso me conduziu ao questionamento quanto ao modelo de indicadores utilizados em tal estudo. 
Em outras palavras, passei a refletir sobre as seguintes questões: a escolha dos indicadores de 
sustentabilidade foi feita adequadamente? O conjunto de indicadores escolhido foi adaptado à 
realidade local? Isso porque, para avaliação do modelo de sustentabilidade analisado, os indicadores 
escolhidos não podem dar qualquer viés ao resultado da pesquisa. Portanto, os modelos de indicadores 
até apresentam indicadores padrões, mas que devem ser adaptados para a realidade local de cada 
região. Além disso, o pesquisador também tem um papel fundamental no sentido de escolher os 
indicadores mais adequados, dentre a diversidade de indicadores existentes, com a finalidade de 
contemplar o âmbito interdisciplinar das questões adotadas. Soma-se a isso, as limitações dos 
modelos, que, apesar de tentar representar a realidade, não consegue englobar a complexidade do 
fenômeno. 
Segundo o estudo tratado durante o momento de aula, os grandes produtores apresentaram 
produção considerada mais sustentável, pois são mais metódicos em relação à aplicação de 
agrotóxicos, por exemplo, evitando a contaminação da água e do solo. Em contrapartida, podemos 
citar o fato de que muitos pequenos produtores fazem uso de agrotóxicos de forma que nem todo 
pequeno produtor é agroecológico, já que dependem dos pacotes tecnológicos do governo sem receber 
o prepara necessário para tal uso. 
O segundo e o terceiro exemplo explorados durante a aula foi relacionado ao município de 
Bom Jesus/RN com a sua monocultura de mandioca e ao município de Pureza/RN com o cultivo do 
abacaxi pérola. Em relação a isso, ambos os exemplos, apresentaram que, em conformidade ao que se 
esperava, a sustentabilidade dos produtores que praticam o policultivo é maior. Nessa linha de 
raciocínio, Rachel Carson em sua obra Silent Spring, no ano de 1962, já apresentava os malefícios do 
 
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monocultivo que, dentre outras coisas, está atrelado à disseminação de pragas e empobrecimento dos 
nutrientes do solo. 
 O quarto exemplo explorado foi o de uma propriedade agrícola, no estado do Mato Grosso, 
cuja extensão equivale a um terço do território da paraíba. Diante disso, devemos nos questionar sobre 
o nível de sustentabilidade dessa atividade econômica. No âmbito exclusivamente econômico, ela 
pode ser considerada sustentável devido ao aumento do volume de produção, que já elevado, atrelado 
à redução da área. Entretanto, na ordem socioambiental é insustentável, pois a responsabilidade 
ambiental e social de grandes empresas está longe de alcançar o padrão necessário. Isso porque, não 
concedem a devida atenção às esferas ambiental e social, deixando, muitas vezes, de cumprir a 
legislação necessária para o exercício de suas atividades. Como resultado disso, tem-se a 
insustentabilidade, devido não só ao equilíbrio entre as esferas envolvidas, mas também à 
contaminação dos solos e águas superficiais e subterrânea. 
Vale destacar, ainda, que nessa região os pequenos produtores tiveram que deixar o campo 
(êxodo rural) em busca de emprego já que a mecanização da grande produção diminuiu as vagas de 
emprego. Assim, os municípios acabam ficando generalizadamente insustentáveis. As pessoas, ao 
serem ouvidas, apontaram a dimensão econômica como sendo de principal interesse. É nesse ponto 
que reside o questionamento: quem são essas pessoas que foram ouvidas? Obviamente, não ouviram 
os pequenos produtores que foram atingidos pela mazela do desemprego no campo, pela falta de 
capacidade das cidades de prestar assistência a essa população, sendo colocados em uma situação de 
vulnerabilidade ao mundo das drogas, da violência e da prostituição. Uma crítica a ser feita a tal 
estudo, talvez seja seu principal ponto fraco, é exatamente ter restringido sua análise ao discurso dos 
que, como inteligentemente canta Chico César, em sua música Reis do Agronegócio, “ (...) aumentam 
todo ano sua posse (...) E não empregam tanta gente como pregam (...) E nem alimentam tanta gente 
como alegam(...) que emitem montes de dióxido”. 
Em face do exposto, é pertinente levantar o seguinte questionamento: como tornar a agricultura 
brasileira mais sustentável ou mesclar essas categorias do desenvolvimento até a categoria quatro de 
forma para que se torne mais sustentável, favorecendo a sustentabilidade global? Nesse sentido, é 
importante evidenciar que a agricultura no Brasil se enquadra, a grosso modo, na categoria um do 
desenvolvimento. Isso porque, a prática agrícola no Brasil tem, historicamente, uma atividade 
marcada pela exploração da biomassa (pau-brasil, cana-de-açúcar, café e soja), com grandes 
 
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propriedades de monocultura e no trabalho escravo forçado. Assim, a questão ambiental brasileira 
sempre foi tratada como se os recursos naturais fossem inesgotáveis adotando uma prática destrutiva 
e parasitária, que desrespeita a biodiversidade, as necessidades ecológicas, a diversidade, práticas, 
conhecimentos e territórios tradicionais. 
Diante disso, esse modelo de modernização conservadora com a revolução verde, cujo modelo 
de agricultura é voltado para demandas de mercado, é endossada pela crença de que a tecnologia pode 
superar todos os problemas. O modelo da revolução verde é vigente nos países subdesenvolvidos 
como o Brasil e, assim, as escolas de agronomias foram tomadas por esse modelo que vem 
demonstrando claros sinais de insustentabilidade/incapacidade de cumprir seu objetivo associado ao 
combate à fome em todo o mundo. Com isso, diante da desorganização das formas tradicionalmente 
existentes nos países de terceiro mundo, em benefício de uma produção voltada para o grande 
mercado, a segurança alimentar de vastos contingentes populacionais acabou prejudicada. 
Em contrapartida, a agricultura familiar nos países desenvolvidos é subsidiada pelo governo, 
com ampla divulgação das qualidades desses produtos, isenção de impostos para essas atividades em 
anos cuja atividade não foi rentável. Portanto, alguns dos nossos produtos, como, por exemplo, a soja, 
não entram no mercado norte-americano, cuja a grande produção de soja, por exemplo, também é 
subsidiada pelo governo. Em síntese, a modernização conservadora incentiva o comércio agrícola em 
grande escala com mudanças nos sistemas de produção e distribuição que formam cadeias 
agroalimentares dominadas pelo capital industrial e financeiro 
Além disso, todos os exemplos citados evidenciam a baixa sustentabilidade da agricultura 
praticada no Brasil. Isso porque, além de todas as fragilidades da modernização conservadora, ela 
ainda foi extremamente desigual no âmbito brasileiro privilegiando algumas regiões como, por 
exemplo, a Centro-Oeste em detrimento de outras, que ficaram a mercê, como é o caso do Semiárido. 
Soma-se a isso, o fato de que as cidades brasileiras têm se revelado incapazes de assimilar com um 
número mínimo de dignidade os contingentes populacionais, que saem do campo, produzindo uma 
realidade de precariedade, marginalidade e violência que hoje constitui um grande problema nacional. 
Nesse cenário, é muito oportuno falar de Ignacy Sachs, o qual defende a promoção do 
desenvolvimento rural através da mudança de distribuição territorial pelo trabalho decente. Segundo 
o autor, isso pode trazer vários benefícios para desafogar os grandes centros urbanos, proporcionar 
melhor distribuição territorial, emprego, renda, dignidade e melhoria da qualidade de vida. 
 
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Sendo assim, a orientação de um sistema agroalimentar com a produção voltada ao mercado 
externo está na raiz de uma contradição. Isso porque, a agricultura familiar, que ocupa apenas 23% do 
total de áreas cultivadas no país, responde por 70% do alimento consumido no Brasil.1 Soma-se a 
isso, o volume de financiamento público destinado ao mercado externo: para o período 2017 a 2020, 
foram anunciados R$30 bilhões de crédito à agricultura familiar, enquanto o volume de recursos para 
médios e grandes produtores alcançou R$190 bilhões em um ano. Em relação a isso, Chico César é 
mais uma vez preciso em sua música quando fala que “É o pequeno produtor que nos provê E os seus 
deputados não protegem, como dizem”. 
Com isso, emerge a precarização do trabalho no campo e a falta de apoio do Estado à 
população, fazendo com que o fortalecimento de circuitos curtos de produção e comercialização de 
alimentos ocorram de maneira espontânea e frágil. Para Sachs, a agricultura familiar, com os 
diferentes modos de produção, pode ser uma estratégia ao desenvolvimento includente, sustentável e 
sustentado. Em outras palavras, a agricultura familiar consiste em uma forma de diversificar o campo 
através de oportunidades de melhoria das atividades dos pequenos produtores, aperfeiçoando as suas 
habilidades mediante qualificação, concedendo financiamentos, empréstimos e acesso às linhas de 
crédito, para a manutenção das famílias urbanas e rurais. Assim, o fornecimento adequado de 
diferentes tipos de créditos para pequenos produtores é uma das alternativas ao desenvolvimento e 
manutenção dos produtores no meio rural. 
Assim, a agricultura familiar poderia cumprir algumas questões sociais, ambientais, 
econômicas e, inclusive, de saúde pública, reduzindo os índices das doenças crônicas até nas camadas 
mais baixas por meio da qualidade ambiental, a qual exige alimentos sem pesticidas, agrotóxicos, 
fertilizantes. Além disso, enquanto nas indústrias, há uma tendência à robotização e redução dos 
empregos, no campo, a agroecologia e o setor de serviços empregam um número crescente de 
trabalhadores. Isso corrobora o potencial que o meio rural possui para um desenvolvimento 
socialmente sustentável, desde que haja investimento e vontade política. 
Por fim, conclui-se que o Brasil deveria adotar, como estratégia para retomada do seu 
desenvolvimento, políticas de incentivo à produção da agricultura familiar e desenvolvimento rural, 
 
1	SOUZA,	L.	R.	M	et	al.	Food	security	status	in	times	of	financial	and	political	crisis	in	Brazil.	
Cadernos	de	Saúde	Pública.	v.	35,	n.	7,	2019.	
 
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conforme proposto por Sachs. De maneira oposta, o governo atual tem priorizado atender agendas do 
agronegócio em detrimento de incentivos à agricultura familiar e a projetos agroecológicos.

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