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A StuDocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade Casos Práticos Resolvidos Direito das Obrigações I (Universidade de Coimbra) A StuDocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade Casos Práticos Resolvidos Direito das Obrigações I (Universidade de Coimbra) Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos https://www.studocu.com/pt/document/universidade-de-coimbra/direito-das-obrigacoes-i/trabalhos-praticos/casos-praticos-resolvidos/11648906/view?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos https://www.studocu.com/pt/course/universidade-de-coimbra/direito-das-obrigacoes-i/2960052?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos https://www.studocu.com/pt/document/universidade-de-coimbra/direito-das-obrigacoes-i/trabalhos-praticos/casos-praticos-resolvidos/11648906/view?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos https://www.studocu.com/pt/course/universidade-de-coimbra/direito-das-obrigacoes-i/2960052?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos Caso Prático 1 Tema: contrato-promessa de compra e venda; direito de preferência. Em 02/01/2012, Afonso celebrou um contrato, pelo qual prometeu vender a Bernardo, que prometeu comprar, a fracção para habitação w, de que aquele é proprietário. O preço convencionado para a compra e venda, a celebrar em 02/01/2013, foi de €80 mil, do qual Bernardo entregou imediatamente a Afonso €40 mil. As partes registaram a promessa e Bernardo foi habitar w com o consentimento de Afonso. Em 02/03/2012, Afonso, endividado, recebeu de Alexandre uma oferta para a compra da sua quota em w por €60 mil, que aceitou. Refira, fundamentando sempre, os direitos dos sujeitos envolvidos, considerando ainda que: Leonor, que não fora consultada sobre a venda da quota de Afonso, pretende w para si; Bernardo, desinteressado de haver w para si, reclama de Afonso o pagamento de €100 mil. Esquema cronológico 02/01/2012 Afonso celebra um contrato-promessa de compra e venda da fracção w com Bernardo por €80 mil. Bernardo entrega imediatamente €40 mil a Afonso e vai habitar w com o consentimento deste. 02/02/2012 Afonso vende a sua quota de metade de w a Alexandre por €40 mil. 02/03/2012 Afonso vende a sua quota de w a Leonor por €60 mil. Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos Resolução do Caso: Afonso celebra um contrato-promessa de compra e venda da fracção para habitação w com Bernardo. O contrato-promessa é [como refere João de Matos Antunes Varela] “a convenção pela qual ambas as partes, ou apenas uma delas, se obrigam, dentro de certo prazo ou verificados certos pressupostos, a celebrar determinado contrato”. Assim, da celebração do contrato-promessa emerge a obrigação de celebrar o contrato prometido; neste caso, o contrato de compra e venda da fracção w. Ao contrato-promessa, são aplicáveis as disposições legais relativas ao contrato prometido (artigo 410.º, n.º 1, in fine, n.º 2 e n.º 3, do CCivil). Esta disposição legal consagra o princípio da equiparação que [nas palavras de João de Matos Antunes Varela] “consiste em aplicar, como regra, aos requisitos e aos efeitos do contrato- promessa as disposições relativas ao contrato prometido”. Contudo, no que diz respeito à forma deste contrato, devem ser observadas algumas excepções (artigo 410.º, n.º 1, do CCivil). Afonso e Bernardo celebraram um contrato- promessa de compra e venda de uma fracção autónoma. Este contrato deve ser celebrado por documento escrito com o reconhecimento presencial das assinaturas dos promitentes (artigo 410.º, n.º 3, do CCivil). No momento da celebração do contrato-promessa de compra e venda, Bernardo entrega a Afonso €40 mil. No âmbito deste contrato, toda a quantia entregue pelo promitente- comprador ao promitente-vendedor presume-se que tem carácter de sinal (artigo 441.º do CCivil), ficando essa quantia sujeita a um regime próprio que será analisado mais adiante. Em 02/02/2012, Afonso vendeu metade de w a Alexandre por €40 mil. Após a celebração do contrato de compra e venda, Afonso e Alexandre adquirem a qualidade de comproprietários de w, uma vez que são titulares do direito de propriedade sobre a mesma coisa (artigo 1403.º, n.º 1, do CCivil). Do regime da compropriedade emerge, entre outros, o direito de preferência. O direito de preferência traduz-se na prioridade de que o comproprietário tem na aquisição da quota do seu consorte, no caso de este a querer vender (artigo 1409.º, n.º 1, do CCivil). Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 Ao direito de preferência do comproprietário, é aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 416.º a 418.º (artigo 1409.º, n.º 2, do CCivil). Assim, querendo Afonso vender a sua quota em w, deve comunicar o projecto de venda e as cláusulas do respetivo contrato a Alexandre (artigo 416.º, n.º 1, do CCivil) para que este possa exercer o seu direito no prazo de oito dias, sem prejuízo de se estabelecer um prazo mais curto ou mais longo (artigo 416.º, n.º 1, do CCivil). Em 02/03/2012, Afonso vendeu a sua quota em w a Leonor sem nada comunicar a Alexandre, violando assim o direito de preferência deste último. Alexandre, quando toma conhecimento da venda a Leonor, pretende w para si. Perante o incumprimento da obrigação de preferência. Mediante esta acção, pode o titular do direito lesado haver para si a quota alienada, contando que o requeira dentro do prazo de seis meses, a contar da data em que teve conhecimento da alienação, e deposite o preço devido nos 15 dias seguintes à propositura da acção (artigo 1410.º, n.º 1, do CCivil). Afonso, que alienou w a Alexandre e Filomena, encontra-se impossibilitado de cumprir o contrato-promessa que celebrou com Bernardo. Perante este incumprimento, Bernardo, desinteressado de haver w para si, reclama de Afonso o pagamento de €100 mil. Como já foi mencionado anteriormente, Bernardo entregou €40 mil a Afonso aquando da celebração do contrato-promessa, quantia que se presume ter carácter de sinal. Estamos, neste caso, no âmbito da aplicação do artigo 442.º do CCivil que acautela as situações de incumprimento do contrato-promessa quando existe prestação de sinal (artigo 441.º do CCivil). Se o incumprimento do contrato for imputável a quem prestou sinal, tem o outro contraente a faculdade de fazer sua a quantia entregue (artigo 442.º, n.º 1, 1.ª parte, do CCivil). Se o incumprimento se deve ao promitente que recebeu o sinal, tem o outro contraente a faculdade de exigir a restituição dessa quantia em dobro (artigo 442.º, n.º 2, 2.ª parte, do CCivil). Neste caso, sendo o incumprimento do contrato imputável a Afonso (promitente-vendedor, recebeu o sinal de €40 mil), tem Bernardo a faculdade de exigir a restituição dessa quantia em dobro (€80 mil). Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos No entanto, a lei consagra uma alternativa à restituição dosinal em dobro, quando tenha havido tradição de coisa, que no caso de uma fracção de um prédio urbano para habitação se basta com a entrega das chaves. Assim, pode o promitente não faltoso optar pelo aumento do valor da coisa, ou seja, o valor da coisa, determinando objectivamente à data do incumprimento, com dedução do preço convencionado pelas partes, devendo ainda ser restituído o sinal prestado (artigo 442.º, n.º 2, parte final, do CCivil). Assim, pode Bernardo, que foi habitar a fracção com o consentimento de Afonso, optar por pedir o aumento do valor da coisa. À data do incumprimento, o valor da fracção era de €100 mil (€40 mil da venda da quota a Alexandre e €60 mil da venda da quota a Leonor); o preço convencionado por Afonso e Bernardo foi de €80 mil; foi ainda prestado sinal no valor de €40 mil. Assim, se Bernardo optar por pedir o aumento do valor da coisa, terá direito a €20 mil (diferença entre o valor à data do incumprimento e o valor convencionado pelas partes no contrato promessa de compra e venda (€100 mil - €80 mil = €20 mil), devendo ainda ser devolvido o valor do sinal (€40 mil), tudo totalizando €60 mil (€20 mil + €40 mil = €60 mil). Em qualquer dos casos, Bernardo não pode exigir de Afonso o pagamento de €100 mil. Caso Prático 2 Tema: contrato-promessa de compra e venda; pacto de preferência; contrato a favor de terceiro. Em 2 de Janeiro de 2008, Timóteo e Carlos compraram um edifício para habitação e escritórios (x). Em 2 de Março de 2008, Timóteo constituiu, por contrato, Luísa como preferente na alienação da sua quota do edifício. Luísa registou o seu direito. Em 2 de Abril de 2009, Carlos contraiu uma dívida de €6 mil junto de Eunice; Carlos prometeu a Eunice vender-lhe a sua quota em x por €100 mil no prazo de um ano. Eunice registou o seu direito. Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 Em 2 de Dezembro de 2009, sem dinheiro para pagar a dívida a Eunice, Carlos optou por contratar Mário, pintor famoso, para que este pintasse o retrato de Eunice para que esta perdoasse a dívida – Eunice aderiu à promessa, no entanto nunca se prontificou a posar para que o retrato fosse possível. Em 2 de Março de 2010, surgiu uma boa oportunidade de negócio para a venda de x por €200 mil a Simão. Timóteo notificou Luísa que aceitou. Conhecedor deste facto, Simão subiu a sua oferta para €300 mil. Em 15 de Março de 2010, Timóteo e Carlos venderam x a Simão pelos €300 mil. Esquema cronológico 02/01/2008 Timóteo e Carlos compram um edifício para habitação e escritórios (x). 02/03/2008 Timóteo celebra um pacto de preferência com Luísa na alienação da sua quota em x. 02/04/2009 Carlos contrai uma dívida de €6 mil junto de Eunice. Carlos celebra um contrato-promessa de compra e venda da sua quota em x com Eunice. 02/12/2009 Carlos, impossibilitado de pagar a sua dívida a Eunice, contrata Mário para que este pinte o retrato de Eunice em troca de esta perdoar a dívida. 02/03/2010 Surge uma oportunidade de negócio para a venda de x por €200 mil a Simão. Timóteo notificado Luísa, que aceita. Simão aumenta a sua oferta para €300 mil. 15/03/2010 Timóteo e Carlos vendem x a Simão por €300 mil. Resolução do Caso: Em 2 de Janeiro de 2008, Timóteo e Carlos compraram um edifício para habitação e escritórios (x). Em 2 de Março de 2008, Timóteo celebrou um pacto de preferência com Luísa na alienação da sua quota de x. Luísa registou o seu direito. Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos “Pactos de preferência são [como refere João de Matos Antunes Varela] os contratos pelos quais alguém assume a obrigação de, em igualdade de condições, escolher determinada pessoa (a outra parte ou terceiro) como seu contraente, no caso de se decidir a celebrar determinado negócio”. Assim, Timóteo assume a obrigação de, querendo alienar a sua quota em x, dar preferência a Luísa na celebração desse negócio (artigo 414.º do CCivil). O obrigado a dar preferência tem o dever de, caso pretenda praticar o ato em relação ao qual dá preferência, convidar primeiro o preferente a contratar. Quanto à forma, o contrato (pacto de preferência) deve constar de documento assinado pelo obrigado à preferência (artigo 415.º do CCivil), quando o negócio em relação ao qual se dá preferência seja formal. O pacto de preferência tem, em princípio, eficácia meramente obrigacional, isto é, produz os seus efeitos apenas inter partes. No entanto, é possível atribuir eficácia real a este contrato (quando diga respeito a bens imóveis ou a móveis sujeitos a registo) se forem observados os requisitos de forma e de publicidade exigidos no artigo 413.º (artigo 421.º do CCivil). Em 2 de Abril de 2009, Carlos prometeu a Eunice vender-lhe a sua quota em x por €100 mil no prazo de um ano. Eunice registou o seu direito. Carlos celebrou com Eunice um contrato-promessa de compra e venda da sua quota em x por €100 mil. Em 2 de Abril de 2009, Carlos contraiu uma dívida de €6 mil junto de Eunice. Em 2 de Dezembro do mesmo ano, sem dinheiro para pagar a dívida, Carlos optou por contratar Mário, pintor famoso, para que este pintasse o retrato de Eunice em troca do perdão da dívida. Eunice aderiu à promessa, no entanto nunca se prontificou a posar para que o retrato fosse possível. Estamos perante a celebração de um contrato a favor de terceiro. “O contrato a favor de terceiro é [como refere João de Matos Antunes Varela] o contrato em que um dos contraentes (promitente) atribui, por conta e à ordem de outro (promissário), uma vantagem a um terceiro (beneficiário), estranho à relação contratual.” Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 Carlos (promissário) contratou Mário (promitente) para que este pintasse o retrato de Eunice (terceiro beneficiário) em troca de esta perdoar a dívida. O terceiro beneficiário adquire direito à prestação por efeito do contrato celebrado entre o promissário e o promitente, independentemente de aceitação (artigo 444.º, n.º 1, do CCivil). Contudo, o terceiro pode rejeitar a promessa ou aderir a ela (artigo 447.º, n.º 1, do CCivil). A adesão deve ser feita mediante declaração, tanto ao promitente como ao promissário (artigo 447.º, n.º 3, do CCivil). A adesão por parte do terceiro torna, salvo estipulação em contrário, a promessa irrevogável por parte do promissário (artigo 448.º, n.º 1, do CCivil). Em regra, tanto o terceiro beneficiário como o promissário têm direito de exigir do promitente o cumprimento da promessa (artigo 444.º, n.º 2, do CCivil). No entanto, quando se trate de promessa de exonerar o promissário de uma dívida para com o terceiro beneficiário, só ao promissário é lícito exigir o cumprimento da promessa (artigo 444.º, n.º 3, do CCivil). Assim, só a Carlos é lícito exigir o cumprimento da obrigação a Mário (promitente). Em 2 de Março de 2010, surgiu uma boa oportunidade de negócio para a venda de x, por €200 mil, a Simão. Timóteo, que está obrigado à preferência, notifica Luísa para que esta possa exercer o seu direito na aquisição da sua quota de x. Luísa aceita. Da celebração de um pacto de preferência, emerge, como já foi referido, a obrigação de dar preferência à outra parte (preferente). Assim, querendo o obrigado à preferência vender a coisa que é objecto do pacto, deve comunicar ao titular do direito de preferência o projecto de venda e as cláusulas do respetivo contrato (artigo 416.º, n.º 1, do CCivil), para que este possa exercer o seu direito dentro do prazo de oito dias sob pena de caducidade (artigo 416.º, n.º 2, do CCivil). A comunicação pode ser feita judicial ou extrajudicialmente e não está sujeita a forma especial.Simão, quando toma conhecimento da aceitação por parte de Luísa, aumenta a sua oferta para €300 mil. Em 15 de Março de 2010, Carlos e Timóteo vendem x a Simão, Carlos e Timóteo vendem x a Simão por €300 mil. Como já foi referido anteriormente, Carlos celebrou um contrato-promessa de compra e venda da sua quota em x com Eunice e Timóteo celebrou um pacto de preferência na alienação da sua quota em x com Luísa. Com a venda de x a Simão, Carlos e Timóteo encontram-se em incumprimento de obrigações anteriormente assumidas. Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos Relativamente ao incumprimento do pacto de preferência, se este tivesse eficácia meramente obrigacional (inter partes), Luísa teria apenas o direito de exigir uma indemnização a Timóteo, por incumprimento da obrigação de preferência, nos termos erais (artigo 798.º do CCivil). No entanto, como foi anteriormente mencionado, Luísa registou o direito de crédito, conferindo-lhe eficácia real. Assim, Luísa pode reagir através da acção de preferência (artigo 421.º, n.º 2, do CCivil). Mediante esta acção, pode o titular do direito lesado haver para si a quota alienada, contanto que o requeira dentro do prazo de seis meses, a contar da data em que teve conhecimento da alienação, e deposite o preço devido nos 15 dias seguintes à propositura da acção (artigo 1410.º, n.º 1, do CCivil). Quanto ao contrato-promessa de compra e venda, à semelhança do que foi dito para o pacto de preferência, se este tivesse eficácia meramente obrigacional, Eunice teria apenas direito a ser indemnizada, nos termos gerais (artigo 798.º do CCivil) pelo incumprimento do mesmo. Uma vez que Eunice registou o seu direito, atribuindo-lhe eficácia real, tem este a faculdade de, querendo para si a quota de x, requerer a execução específica do contrato-promessa (artigo 442.º, n.º 3, do CCivil). Mediante acção de execução específica, pode Eunice obter sentença que produza os efeitos da declaração negocial de Carlos (artigo 830.º, n.º 1, do CCivil). Caso Prático 3 Tema: direito de preferência; (in) cumprimento de obrigações Carlos, Diogo e Eduardo, herdeiros de Fernando, interessados em manter na família os bens que herdaram destes sem prescindirem da faculdade de os alienar, concedem-se reciprocamente, por documento particular, direitos de preferência nas alienações que venham a realizar. Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 Em Setembro de 2009, Carlos pretende alienar gratuitamente a sua quota nos bens imóveis que recebeu de Fernando. Grava uma mensagem de voz nos telemóveis de Diogo e Eduardo, dando conta da sua intenção. Diogo e Eduardo não respondem e Carlos doa os referidos bens a uma instituição da área da saúde que lhe promete em contrapartida a prestação de serviços médicos. Diogo conforma-se e Eduardo pretende reagir sozinho. Quid iuris? Resolução do Caso: Carlos, Diogo e Eduardo, herdeiros de Fernando, pretendem manter na família os bens que deste herdaram. Para tal, celebram entre si pactos de preferência nas alienações que venham a realizar. Pacto de preferência é a “convenção pela qual alguém assume a obrigação de dar preferência a outrem na venda de determinada coisa” (artigo 414.º do C. Civil). Quanto à forma, os pactos de preferência que digam respeito à celebração de contrato para o qual a lei exija documento autêntico ou particular devem ser celebrados por documento assinado pelas partes que se vinculam (artigo 410.º, n.º 1 do CCivil por remissão do artigo 415.º do mesmo Código). Como salienta Luís Menezes Leitão, não se aplica ao pacto de preferência o regime do artigo 410.º, n.º 3, do CCivil, pelo que esse documento não estará em caso algum, sujeito a mais formalidades”. Assim, Carlos, Diogo e Eduardo ficam vinculados, por meio dos contratos celebrados, a, querendo alienar os bens herdados, dar preferência aos restantes herdeiros. Em Setembro de 2009, Carlos pretende alienar gratuitamente a sua quota nos bens imóveis que recebeu de Fernando. Sabendo que tem de dar preferência a Diogo e Eduardo, grave uma mensagem de voz nos telemóveis destes, dando conta da sua intenção. Ora, querendo Carlos, obrigado à preferência, alienar a sua quota nos bens imóveis objeto do pacto, deve comunicar aos titulares do direito, Diogo e Eduardo, o projecto de venda e as cláusulas do respetivo contrato (artigo 416.º, n.º 1, do CCivil). Mediante a comunicação feita nos termos legais, Diogo e Eduardo, após o conhecimento da mesma, teriam oito dias para exercer o seu direito, sob pena de caducidade (artigo 416.º, n,º 2, do CCivil). No entanto, a mensagem de voz deixada nos telemóveis de Diogo e Eduardo não respeita a forma legalmente prevista para a comunicação, não se considerando esta efectuada. Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos Carlos, perante a falta de resposta de Diogo e Eduardo, doa a sua quota dos bens a uma instituição da área de saúde que lhe promete em contrapartida a prestação de serviços médicos, o que, nos termos do artigo 418.º do CCivil, constitui uma prestação acessória (a promessa de uma prestação acessória daquela que é a obrigação principal do contrato em relação ao qual se dá preferência). Quando o obrigado à preferência recebe de terceiro a promessa de uma prestação acessória que o titular do direito de preferência não possa satisfazer, será essa prestação compensada em dinheiro (artigo 418.º, n.º 1, do CCivil). Diogo conforma-se com a alienação, mas Eduardo pretende reagir. O mecanismo legal destinado a fazer valer o direito de preferência é a de acção de preferência. No entanto, para que se possa fazer uso da acção de preferência, é necessário que o pacto de preferência goze de eficácia real (artigo 421.º do CCivil). Conforme resulta da hipótese, os pactos celebrados entre Carlos, Diogo e Eduardo não foram registados, produzindo apenas efeitos entre as partes contratantes (artigo 421.º, n.º 1, do CCivil). Assim, resta apenas a Eduardo ser indemnizado, nos termos gerais do artigo 798.º do CCivil, pelo incumprimento do pacto de preferência celebrado com Carlos (artigo 798.º do CCivil). Caso Prático 4 Tema: contrato a favor de terceiro Marília, devedora de Graça, celebrou com Fabiano um contrato pelo qual este último se obrigava a dar lições de quitação a Graça. Marília pagou as lições. Graça obrigou-se perante Marília a, em troca das lições de equitação, exonerar Marília da divida. Alegando uma dívida antiga de Marília, Fabiano recusa as lições a Graça. Que direitos têm Marília e Graça? Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 Resolução do Caso: Marília, devedora de Graça, decide contratar Fabiano para que este dê aulas de equitação a Graça em troca do perdão da dívida. Estamos perante a celebração de um contrato a favor de terceiro. “O contrato a favor de terceiro é [como refere João de Matos Antunes Varela] o contrato em que um dos contraentes (promitente) atribui, por conta e à ordem de outro (promissário), uma vantagem a um terceiro (beneficiário), estranho à relação contratual”. No caso em apreço, Marília (promissária) celebra com fabiano (promitente) um contrato pelo qual este último se obriga a dar aulas de equitação a Graça (terceira beneficiária). A celebração do contrato a favor de terceiro basta-se com o acordo entre promissário e promitente, não sendo necessária a aceitação por parte do terceiro beneficiário (artigo 444.º, n.º 1, do CCivil). Não dignifica isto que oterceiro beneficiário seja obrigado a aceitar o benefício. A lei confere ao terceiro beneficiário a possibilidade de aderir ou rejeitar a promessa (artigo 447.º, n.º 1, do CCivil). Se pretender rejeitar a promessa, deve fazê-lo mediante declaração ao promitente, que deve posteriormente comunicá-la ao promissário (artigo 447.º, n.º 2). Se o terceiro tiver intenção de aderir à promessa, deve comunica-lo por declaração ao promitente e promissário (artigo 447.º, n.º 3). A adesão à promessa tem como efeito a irrevogabilidade da mesma por parte do promissário (artigo 448.º, n.º 1, do CCivil). Em regra, tanto o promissário como o terceiro beneficiário têm direito de exigir o cumprimento da obrigação por parte do promitente. No entanto, quando se trate de promessa de exonerar o promissário de uma dívida, só a este é lícito exigir do promitente o cumprimento da mesma (artigo 444.º, n.º 3, do CCivil). Fabiano recusa dar aulas de equitação a Graça com base numa dívida antiga de Marília. A lei consagra os meios de defesa oponíveis pelo promitente ao terceiro (artigo 449.º do CCivil), que são todos aqueles derivados do contrato. No entanto, o promitente não pode opor meios de defesa que advenham de outra relação entre ele e o promissário. Assim, Fabiano não pode recusar-se a dar aulas de equitação a Graça com fundamento noutra relação contratual que não seja aquela estabelecida entre ele e Marília (a relação de cobertura) de que emerge a promessa. Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=casos-praticos-resolvidos Marília tem direito de exigir o cumprimento da obrigação por Fabiano: o pagamento da dívida de Marília a Graça. Graça não pode exigir esse pagamento a Fabiano, continuando, é claro, a poder exigir o pagamento da dívida a Marília até que esta, Fabiano ou outrem a paguem. Descarregado por Casimiro Gerente (gerentemiro@gmail.com) lOMoARcPSD|7443932
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