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O que é racismo estrutural

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DISCIPLINA: Direito das relações étnico-raciais
PROFESSOR: José Vicente
ALUNO: Gevanildo Novais (8232)
TEMA: O que é racismo estrutural? Exemplifique
O QUE É RACISMO ESTRUTURAL?
No livro, O que é racismo estrutural? Sílvio Almeida traz três concepções de racismo: a individual, a institucional e a estrutural. As duas primeiras a título de introdução e a última como tema central de seu trabalho.
Segundo a concepção individualista, racismo é uma espécie de patologia, uma doença individual ou social que deve ser combatida juridicamente por meio de sanções civis ou penais. Nesse aspecto, o racismo manifesta-se na forma de discriminação direta. É algo ligado ao comportamento, à educação e à conscientização sobre o racismo. O indivíduo racista se defende com frases tradicionais, como: minha avó era negra, tenho um pezinho na cozinha; somos todos humanos, independentemente de cor; ou, tenho um amigo negro.
Para negar o racismo individual por conveniência, algumas personalidades chegam a forjar amizades para comprovar que não é racista. É notório o caso do presidente Jair Bolsonaro, que ajudou a eleger um deputado negro, cedendo seu patronímico a Hélio Bolsonaro. Essa é uma atitude notadamente racista para criar seu álibi de não racista. Semelhante a isso, o presidente levou uma indígena, Ysani Kalapalo, para seu discurso na ONU em 2019.
Sob a perspectiva institucional, Almeida enfatiza que o racismo não se resume a comportamentos individuais, mas é tratado como resultado do funcionamento das instituições públicas e privadas, que passam a atuar em uma dinâmica que confere direta ou indiretamente desvantagens a uns e privilégios a outros, a partir da raça. Portanto, a desigualdade racial é uma característica da sociedade porque as instituições são hegemonizadas por determinados grupos raciais que utilizam mecanismos institucionais para impor seus interesses políticos e econômicos.
O racismo institucional fica claro ao se observar o domínio de pessoas brancas nas instituições públicas e privadas. Para uma fácil constatação, basta pegar uma amostra aleatória, por exemplo: quantos são os ministros, senadores, deputados, dirigentes de estatais ou prefeitos negros? Qual é a proporção de negros entre os professores e alunos das principais universidades, nos principais veículos de mídia ou no controle das principais empresas do primeiro setor? Por outro lado, negativamente, qual é o papel do negro nessas mesmas instituições? A resposta é simples, nas posições privilegiadas o negro é coadjuvante, nas posições de trabalhos precários, geralmente terceirizados, o negro é ampla maioria.
Para Sílvio Almeida, o racismo estrutural, por sua vez, é um conjunto de práticas discriminatórias, institucionais, históricas e culturais dentro de uma sociedade que frequentemente privilegia uma raça em detrimento de outra, ou seja, é aquele que decorre da própria estrutura social, do modo natural com que se constitui as relações políticas, econômicas, jurídicas e familiares. Portanto, não se trata de uma patologia social nem de um desarranjo institucional, são processos institucionais, derivados de comportamentos individuais, de uma sociedade em que o racismo é regra e não é exceção. Esse tipo de racismo se expressa concretamente como desigualdade política, econômica e jurídica.
O autor afirma ainda que todo o racismo é estrutural porque o racismo não é um ato, o racismo é um processo em que as condições de organização da sociedade reproduzem a subalternidade de determinados grupos que são identificados racialmente. Ou seja, o racismo estrutural engloba os demais tipos de racismos presentes em todas as estruturas da sociedade.
Para se entender a origem do racismo estrutural no Brasil, deve-se levar em conta que este foi o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888. Mas mesmo livres, 1,5 milhão de pessoas negras foram postas à margem da sociedade. É dessa herança histórica que surge o racismo estrutural, que se manifesta por meio de hábitos, gestos, falas e outros costumes arraigados socialmente.
Para se analisar um entre vários exemplos de racismo estrutural basta ver uma reportagem do Fantástico da TV Globo, do dia 21 de fevereiro de 2021. Nela são apresentados casos de algumas pessoas negras que foram presas sem motivos. A mesma justiça que as mandou aprender, tempos depois mandou soltar reconhecendo suas inocências. Levantamento da emissora descobriu que entre os anos de 2012 e 2020, noventa pessoas (73 só no Rio de Janeiro) foram presas por causa de uma fotografia apresentada num catálogo de suspeita na delegacia, sem haver nenhuma outra prova contra elas.
O levantamento aponta para o perfil desses presos que tem sido presas injustamente, 83% deles são negros. Samuel Vida, professor e coordenador do Programa de Direito e Relações Raciais da UFBA, afirma que há uma orientação racial para definição dos suspeitos no Brasil. No mesmo sentido, Álvaro Quintão, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, lembra que além dos catálogos de fotografias muitas vezes vai os agentes vão às redes sociais investigar as pessoas, em geral negras, pobres e jovens. A defensora pública, Rafaela Garcez, também ajuda a esclarecer com é o modelo de catálogo e critica a qualidade das imagens, o modo de reconhecimento do suspeito, a forma como são selecionadas as pessoas suspeitas, além tratamento a elas dispensado, sem nenhuma informação ou acesso à defesa.
Almeida é esperançoso no que diz respeito à melhoria das relações étnico-raciais ao concluir que ainda que arraigado socialmente o racismo estrutural não pode significar uma condição incontornável, em que as ações e políticas institucionais antirracistas não tenham êxito. Citando Anthony Giddens, na obra A constituição da sociedade, o autor afirma que a estrutura é viabilizadora, não apenas restritora, o que torna possível que as ações repetidas de muitos indivíduos transformem as estruturas sociais responsáveis pelo combate ao racismo e aos racistas.

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