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Anterioridade no Direito Penal

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Anterioridade
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Com previsão expressa contigua ao Princípio da Legalidade, no art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal, a Anterioridade estabelece que as leis incriminadoras só podem ser aplicadas para fatos póstumos, portanto praticados após o início de sua vigência.
Este princípio é vital para a eficácia da Legalidade, garantindo prévia ciência aos destinatários, quanto aos comportamentos definidos como ilícitos, bem como a respectiva reprimenda a eles cominada, permitindo que, munidos desse conhecimento, optem por infringir ou não a norma incriminadora.
Por certo, a missão da Anterioridade é conferir ao sujeito a proteção contra abusos pelo Estado, assegurando que não se crie sanção especificamente voltada a determinado comportamento pretérito.
Em verdade, restaria inócuo restringir a atuação do Estado aos casos disciplinados em lei, se esta pudesse retroagir aos fatos já praticados, assim ensejando a imposição de reprimenda, até então sequer prevista. Fosse assim, estaríamos admitindo a vulnerabilidade do cidadão, uma vez sujeito a incertezas e imprevisões quanto a proibição de seus atos.
Justamente para evitar tal disparate, segue-se a regra¹ imposta pela Anterioridade, segundo a qual a lei incriminadora tem alcance limitado, compreendendo somente os fatos praticados após a sua concepção.
Em última análise, depreende-se que a Anterioridade confere segurança jurídica ao cidadão, impedindo que seja responsabilizado por algo concretamente perpetrado, quando ainda não regulamentado.
Anterioridade em relação a sanção
Repetindo o preceito constitucional, o art. 1º do Código Penal prevê, ao final, que não há pena sem prévia cominação legal, garantindo não ser a anterioridade característica exclusiva da previsão do comportamento típico, mas também da cominação das reprimendas.
Nesse passo, a Anterioridade determina o dever de cientificar ao sujeito não apenas o comportamento vedado pela norma, mas a respectiva resposta penal conferida, em caso de descumprimento.
Ademais, impõe a fixação prévia dos limites mínimo e máximo das penas, dispondo acerca da longevidade pela qual pode se estender a limitação da liberdade do infrator, pelo Estado.
Como cediço, não pode o Estado cercear a liberdade do sentenciando por prazo indeterminado, uma vez inadmissível a existência de título judicial penal incerto. Em outras palavras, as sentenças condenatórias devem respeitar as balizas legais, fixando reprimendas por tempo certo, assim determinadas de acordo com a previsão anterior contida em lei.
Sob esse aspecto, diversas críticas são levantadas quanto a ausência de prazo máximo de execução das medidas de segurança, uma vez extensíveis por período indeterminado aos inimputáveis, embora conferidas em razão da prática de determinada infração, para qual são previstos limites legais de cerceamento pelo Estado.
Por fim, não só em relação aos limites temporais, mas também quanto as espécies de sanções cominadas, a Anterioridade deve ser respeitada, não se podendo estipular reprimenda distinta daquela(s) cominada(s) para a prática delitiva.
Em síntese, acerca das sanções, igualmente a Anterioridade funciona como vetor para a efetivação da Legalidade, restringindo a imposição das reprimendas àquelas previamente cominadas aos tipos penais incriminadores. 
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1- Em aula destacada, estudaremos a exceção quando tratarmos da extratividade da lei penal benéfica
Leitura Complementar
NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4. ed. Rio de janeiro: Forense, 2015 - págs. 118 a 119;
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 - nota 1-F e 6 do art. 1º;
NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Vol. 1, págs. 72,171 a 174.

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