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Apostila Sociologia da Educação

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Prévia do material em texto

Brasília - DF.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Autores
Clara Brum
Edir Mello
Gilberto Aparecido Angelozzi
Vassia Alexandre Pouchain
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa ......................................................................................................4
Introdução ..............................................................................................................................................................................6
Aula 1
A Questão do Conhecimento .....................................................................................................................................9
Aula 2
A Sociologia como Ciência: uma Perspectiva Histórico-Crítica .................................................................. 20
Aula 3
A Educação como Fenômeno Social e Objeto de Estudo da Sociologia ................................................. 36
Aula 4
As Matrizes do Pensamento Sociológico e as Diferentes Análises do Fenômeno Educacional ..... 43
Aula 5
Diferença, Exclusão Social e Desigualdade Social .......................................................................................... 80
Aula 6
Processos Educacionais no Brasil e as Teorias Contemporâneas da Sociologia da Educação ........ 94
Referências ........................................................................................................................................................................102
4
Organização do Caderno de 
Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, 
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com 
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. 
Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras 
e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
5
ORGAnIzAÇÃO DO CADERnO DE ESTUDOS E PESQUISA
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
Seja bem-vindo ao curso de Sociologia da Educação. É com grande alegria que iniciamos esta 
jornada junto com você. Nosso objetivo central aqui é examinar algumas das principais propostas 
relativas às teorias sociais sobre Educação, refletindo sobre a problemática que informa cada 
análise, contrastando-as e destacando os esforços de síntese.
Nosso propósito, por meio da comparação de algumas correntes teóricas, será o de colocar em 
perspectiva as concepções sobre educação vigentes em diferentes contextos histórico-sociais. 
Para tanto, faremos uso da literatura clássica publicada na área de Ciências Sociais sobre os 
processos educacionais e materiais de pesquisas em andamento na atualidade. 
Um dos pontos básicos da discussão será a relação entre educação e sociedade e os processos 
de produção e reprodução do fenômeno educacional na sociedade capitalista.
De certo teremos um olhar voltado para as especificidades da relação entre Sociologia e o campo 
educacional e, tanto quanto possível, buscaremos contemplar demandas específicas da escola 
reconhecida como instituição formal, responsável pela aprendizagem.
Objetivos
Este Caderno de Estudos tem como objetivos:
 » Conhecer as principais matrizes teóricas da sociologia.
 » Compreender a educação como fenômeno social.
 » Relacionar os estudos sociológicos com a educação.
 » Identificar os principais estudos feitos na área educacional.
 » Conhecer os principais marcos teóricos da Sociologia.
 » Compreender os vários processos sociais que propiciam a criação, manutenção, 
reprodução, crise, revolução e/ou inovação das instituições sociais, tais como família, 
escola, o Direito.
 » Identificar as relações entre Estado, estrutura social e a educação.
 » Reconhecer as contribuições das teorias sociológicas para a interpretação dos fenômenos 
educacionais.
 » Compreender a escola como espaço de construção de identidades sociais. 
7
 » Diferenciar os dois critérios de cientificidade que se encontram por trás das Ciências 
Naturais e das Ciências Sociais, alargando, com isso, a própria noção de ciência.
 » Refletir sobre as diferenças existentes entre as Ciências Naturais e as Ciências Sociais, 
no que diz respeito aos três elementos básicos para a existência de um conhecimento 
científico: sujeito, objeto e método.
 » Identificar Ciências Sociais e Ciências Naturais.
 » Compreender a sociedade como objeto de estudo científico.
 » Entender a Sociologia como um novo tipo de ciência.
8
9
Apresentação
Pretendemos nesta aula esclarecer a especificidade do conhecimento científico, enquanto 
instrumento de superação do senso comum, a partir da constatação de que a ciência busca, 
por meio da investigação metódica, ir além de uma forma de saber limitada às aparências da 
vida cotidiana. 
Assim sendo, esta aula tem como objetivo refletir sobre as diferenças existentes entre o conhecimento 
de senso comum e o conhecimento científico, no que diz respeito aos três elementos básicos 
para a existência de um conhecimento científico, a saber: sujeito, objeto e método.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Localizar no conhecimento científico uma condição essencial para se romper com uma 
visão superficial dos acontecimentos sociais.
 » Esclarecer a especificidade do conhecimento científico enquanto instrumento de 
superação do senso comum, a partir da constatação de que a ciência busca, por meio 
da investigação metódica, ir além de uma forma de saber limitada às aparências da 
vida cotidiana.
 » Saber a diferença entre senso comum e conhecimento científico.
A questão do conhecimento 
A organização da Sociologia como ciência se deu no século XIX, após muitos séculos, nos quais 
primeiramente os filósofos – e os cientistas depois – procuraram desvendar as relações entre 
homem e meio social. Conceber o comportamento social como decorrente de leis próprias à vida 
em sociedade e não da vontade divina ou das características pessoais dos agentes em questão, 
1AulAA QUESTÃO DO COnHECIMEnTO
10
AulA 1 • A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO
como até então se fazia, representou uma profunda ruptura nas formas de interpretação dasociedade.
Até esse momento em que se constitui o pensamento sociológico, como veremos, as interpretações 
míticas e transcendentais tinham pleno sucesso, uma vez que viam nos fenômenos sociais e nas 
calamidades públicas formas de castigo divino. Mesmo os gregos – que já buscavam analisar as 
possíveis causas e relações entre as coisas – tendiam a interpretar questões sociais, ao menos em 
suas tragédias, como resultantes dos desígnios dos deuses. Quem não se lembra de Édipo Rei, 
Sófocles, o autor da tragédia atribui a peste de Tebas ao desonroso casamento de Jocasta com 
seu próprio filho, Édipo. Na idade Média, as pestes também eram atribuídas ao pecado humano.
A emergência e a sistematização do pensamento sociológico – a separação entre senso comum e 
ciência – constituíram, assim, um processo de lenta gestação. À medida que as teorias foram se 
desenvolvendo e cada vez mais se desvendava a base social do comportamento humano, mais 
fidedignos se tornavam os procedimentos de pesquisa e análise. Mais se compreendia que a vida 
social tem características próprias, existindo uma regularidade nos fatos sociais. E, ainda, que 
Saiba mais
Édipo Rei é uma peça de Sófocles – filósofo grego – e se trata da tragédia que se abate sobre a família de Édipo.
Segundo a lenda grega, Laio, o rei de Tebas havia sido alertado pelo Oráculo de 
Delfos de que uma maldição iria se concretizar: seu próprio filho o mataria e que 
este filho se casaria com a própria mãe.
Por tal motivo, ao nascer Édipo, Laio abandonou-o no Monte Citerão pregando um 
prego em cada pé para tentar matá-lo. O menino foi recolhido mais tarde por um 
pastor e batizado como “Edipodos”, o de “pés-furados”, que foi adotado depois pelo 
rei de Corinto e voltou a Delfos.
Édipo consulta o Oráculo que lhe dá a mesma previsão dada a Laio, que mataria seu 
pai e desposaria sua mãe. Achando se tratar de seus pais adotivos, foge de Corinto.
No caminho, Édipo encontrou um homem e sem saber que era seu pai o matou, 
pois Laio o mandou sair de sua frente.
Depois de derrotar um homem casa-se com a sua mãe, não sabendo que era também a sua mãe biológica.
Após derrotar a Esfinge que aterrorizava Tebas, que lançara um desafio (“Qual é o animal que tem quatro patas de 
manhã, duas ao meio-dia e três à noite?”), Édipo conseguiu desvendar, dizendo que era ele mesmo. “O amanhecer é 
a criança engatinhando, entardecer é a fase adulta, em que usamos ambas as pernas, e o anoitecer é a velhice em que 
se usa a bengala.”
Conseguindo derrotar o monstro, ele seguiu a sua cidade natural e casou-se, “por acaso”, (já que ele pensava que 
aqueles que o haviam criado eram seus pais biológicos) com sua mãe, com quem teve quatro filhos. Quando da 
consulta do oráculo, por ocasião de uma peste, Jocasta e Édipo descobrem que são mãe e filho, ela comete suicídio e 
ele fura os próprios olhos por ter estado cego e não ter reconhecido a própria mãe.
Fonte https://pt.wikipedia.org/wiki/edipo_Rei
Sobre a imagem Édipo e a esfinge (Oedipus et Sphinx), 1808, pintura de Jean Auguste Dominique Ingres; Paris, França
11
A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO • AulA 1
essa regularidade, empiricamente constatável, e até mensurável, pode ser expressa sob forma 
de uma tendência que se manifesta no tempo e no espaço. 
Senso Comum versus Conhecimento Científico
O que é senso comum?
Chama-se senso comum o conhecimento espontâneo, o saber resultante das experiências 
cotidianas do homem no enfrentamento dos obstáculos do dia a dia. Fazem parte desse 
conhecimento, o acúmulo de experiências dos homens, suas tradições, crenças, o aprendizado 
do cotidiano.
Esse tipo de conhecimento, também chamado de vulgar, é assistemático e ametódico, pois não 
existe rigor ou critérios para observação de um fato, não se produz crítica sobre aquilo que se 
vê ou se sente. O conhecimento de senso comum se contenta com as evidências imediatas, ele 
parte do empirismo, isto é, da observação imediata de um fenômeno.
Por esse motivo o conhecimento de senso comum, muitas vezes é presa das aparências. 
ARRUDA (2000)
Exemplo: Quando uma pessoa faz um bolo, segue a receita e incorpora uma série de informações 
para o melhor sucesso do seu trabalho. Sabe que, ao bater as claras em neve, elas crescem e se 
tornam esbranquiçadas; que não convém abrir o forno quando o bolo começa a assar, senão 
ele murcha; que a medida adequada de fermento faz o bolo crescer. Se estiver fazendo pudim 
em banho-maria, sabe que uma fatia de limão na água evita o escurecimento da vasilha, o que 
facilitará seu trabalho posterior de limpeza. Essa pessoa sabe tudo isso, mas não conhece as 
causas, não consegue explicar por que e como ocorrem esses fenômenos. (ARRUDA ARANHA; 
PIRES, 2001)
O senso comum é frequentemente um conhecimento subjetivo, o que ocorre, por exemplo, 
quando avaliamos a temperatura do ambiente com a nossa pele, já que só o termômetro 
dá objetividade a essa avaliação. Ainda mais: o senso comum depende de juízos pessoais a 
respeito das coisas, com envolvimento das emoções e dos valores de quem observa. É difícil 
para a mãe avaliar objetivamente a conduta do filho. Do mesmo modo, se temos antipatia por 
alguém é preciso certo esforço para reconhecer, por exemplo, o seu valor profissional. Também, 
ao observar o comportamento de povos com costumes diferentes dos nossos, tendemos a 
julgá-los a partir de nossos valores, considerando-os estranhos, ignorantes, engraçados ou 
até desprezíveis.
12
AulA 1 • A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO
A revolução científica
No século XVII, uma parte da Europa, especialmente a Itália, foi palco de mudanças significativas 
no modo de pensar. Isso naturalmente influenciou as questões da ciência e vice-versa. A gradativa 
substituição de uma visão de mundo centrada nas doutrinas teológicas e religiosas pelo estudo 
sistemático da natureza, que tivera origem no Renascimento, consolidava-se cada vez mais. Um 
representante dessa atitude renascentista foi Leonardo da Vinci (1452-1519), que exerceu, ao 
mesmo tempo, a engenharia, a arquitetura e a pintura, dentre outras atividades.
Sugestão de estudo
Sociologia no cinema
Uma ilustração interessante sobre a questão de ciência e senso comum pode ser vista no 
filme O nome da Rosa, 1986, do diretor Jean-Jacques Annaud.
Veja também o filme Erin Brockovich – uma mulher de talento, de 2000, dirigido por 
Steven Soderbergh e escrito por Susannah Grant. 
Saiba mais
Quem foi galileu?
Galileu Galilei (1564-1642) foi um físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano. Ele 
foi personalidade fundamental na revolução científica.
O italiano Galileu Galilei desenvolveu instrumentos ópticos, além de construir 
telescópios para aprimorar o estudo celeste. Este cientista também defendeu a ideia 
de que a Terra girava em torno do Sol, o que marcou a ruptura do conhecimento 
mítico-religioso e deu início à ciência moderna. Esse motivo fez com que Galileu fosse 
perseguido, preso e condenado pela Igreja Católica, que considerava essa ideia como 
heresia. Galileu teve que desmentir suas ideias para fugir da fogueira.
13
A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO • AulA 1
Da Vinci afirmava que “aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que 
embarca em um navio sem leme nem bússola”. Sempre a prática deve se fundamentar na boa 
teoria. Antes de fazer de um caso uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique 
se as experiências produzem os mesmos efeitos. Não se pode considerar verdadeira ciência 
nenhuma investigação humana se não passar por demonstrações matemáticas.
A semente dessa nova forma de conhecimento germinou e deu seus maiores frutos no século 
XVII, quando explodiu a grande revolução galileana. Da vasta obra deixada pelo italiano Galileu 
Galilei (1564-1642), o primeiro aspecto a destacar é a sua adesão ao modelo heliocêntrico. 
Galileu seguiu o caminho que havia sido aberto pelo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), 
acrescentando, porém, novos e decisivos argumentos a favor de um modelo cosmológico em que 
o Solse encontra no centro do sistema – em vez do modelo geocêntrico da doutrina aristotélica. 
Pela primeira vez, na história da nossa civilização, foi usado um instrumento óptico para olhar 
os céus: a luneta, que acabara de ser inventada pelos holandeses. Com esse instrumento, Galileu 
descobriu que existiam corpos celestes girando em torno do planeta Júpiter. 
Essa constatação contrariava o modelo geocêntrico, pois esse afirmava que todos os corpos 
celestes giravam em torno da Terra. Galileu descobriu também que a Lua tinha crateras e relevo 
análogos aos da Terra, também contrariando a tese de que haveria uma diferença essencial entre 
os elementos da Terra e os celestes, presente na doutrina aristotélica.
Apoiado nesses argumentos, Galileu sustentava que o modelo copernicano do heliocentrismo 
era, de fato, uma descrição verdadeira do mundo, e não apenas uma forma mais cômoda de 
descrever matematicamente as representações do universo heliocêntrico de Copérnico. 
O conhecimento científico
Embora desde a antiga Grécia, homens como Sócrates se preocupassem com a definição de 
conceitos, na busca pela essência das coisas e Platão com seu empenho em mostrar o caminho 
a ser seguido para ir da doxa (opinião) à episteme (ciência) tenham buscado um saber mais 
rigoroso, o conhecimento científico é relativamente recente. Somente ao procurar o seu próprio 
caminho, ou melhor, o seu método (já na Idade Moderna), a ciência se desvincula da Filosofia e 
passa a determinar objetos específicos a serem apreendidos e controlados por meio do método 
científico. Em vez de uma ciência, surgem, gradativamente, ciências particulares, com campos 
mais ou menos delimitados de pesquisa. Esse avanço ocorreu a partir do século XVII e tem a 
revolução galileana como um dos seus marcos. 
Diante do exposto podemos afirmar que a ciência moderna nasce ao determinar um 
objeto específico de investigação e ao criar um método pelo qual se fará o controle desse 
conhecimento.
14
AulA 1 • A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO
A utilização de métodos rigorosos permite que a ciência atinja um tipo de conhecimento 
sistemático, preciso e objetivo, segundo o qual são descobertas relações universais e necessárias 
entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e também agir sobre a natureza de 
forma mais segura.
Cada ciência se torna, então, uma ciência particular, no sentido de ter um campo delimitado 
de pesquisa e um método próprio. As ciências são particulares na medida em que cada uma 
privilegia setores distintos da realidade; a física trata do movimento dos corpos; a química, da 
sua transformação; a biologia, do ser vivo etc.
Por outro lado, as ciências são também gerais, no sentido de que as conclusões não valem apenas 
para os casos observados, e, sim, para todos os que a eles se assemelham. Ao afirmarmos que o 
“peso de qualquer objeto depende do campo de gravitação” ou que “a cor de um objeto depende da 
luz que ele reflete” ou, ainda, que “a água é uma substância composta de hidrogênio e oxigênio”, 
fazemos afirmações que são válidas para todos os corpos, todos os objetos coloridos ou qualquer 
porção de água, e não apenas para aqueles que foram objeto da experiência.
A preocupação do cientista está, portanto, na descoberta das regularidades existentes em 
determinados fatos. Por isso, a ciência é geral, isto é, as observações feitas para alguns fenômenos 
são generalizadas e expressas pelo enunciado de uma lei.
Enquanto o saber comum observa um fato a partir do conjunto dos dados sensíveis que 
formam a nossa percepção imediata, pessoal e efêmera do mundo, o fato científico é um fato 
abstrato, isolado do conjunto em que se encontra normalmente inserido e elevado a um grau 
de generalidade: quando nos referimos à dilatação ou ao aquecimento como fatos científicos, 
estamos muito distantes dos dados sensíveis de certo corpo em determinado momento. Além 
disso, estabelecemos entre tais fatos uma relação de variação do tipo “função” (na qual o volume 
é, em dado momento, função da temperatura). Isso supõe a capacidade de racionalização dos 
dados recolhidos, e nunca aparecem como dados brutos, mas sempre passíveis de interpretação. 
(COSTA, 1997).
Saiba mais
Há especialistas que consideram além da Sociologia, da Antropologia e da Ciência Política outras áreas do 
conhecimento, tais como Psicologia, a Etnologia, a Geografia Humana, a Economia, a Administração e as Ciências 
Jurídicas.
Todavia, a designação usualmente mais aceita é aquela que reconhece apenas três disciplinas como parte 
constitutiva desse campo científico.
15
A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO • AulA 1
A sociologia no quadro das ciências
A importância do ensino de Sociologia na formação de profissionais de diferentes áreas é cada 
vez maior. Assim, ela constitui disciplina obrigatória do ciclo básico dos diversos cursos da área 
de Humanidades, objetivando responder à pergunta básica: o que torna possível vivermos em 
sociedade?
A Sociologia é uma das disciplinas constitutivas das assim chamadas Ciências Sociais. Dentro 
deste campo científico podemos destacar ainda a Antropologia e a Ciência Política*.
As disciplinas Sociologia, Antropologia e a Ciência Política, estudam fenômenos muito semelhantes, 
ou seja, fatos que resultam da vida em sociedade. Mas, embora estas áreas do conhecimento sejam 
muito próximas entre si, não são totalmente iguais. Dado o recorte aqui proposto, trataremos 
em nossos estudos mais especificamente de elementos da análise sociológica. 
Quanto à análise sociológica, pode-se dizer que esta envolve a tentativa de compreensão dos 
processos de estruturação e relacionamento dos indivíduos entre si e com as sociedades. 
Para isso, parte, geralmente, do conhecimento de coletividades com o objetivo de entender o 
comportamento grupal e/ou individual. Seu foco está, em regra, na investigação das estruturas 
da sociedade procurando compreender como estas influenciam os grupos ou indivíduos no que 
se refere a seu comportamento, seus costumes e sua cultura.
Saiba mais
A bem da verdade, esta pergunta não é propriamente original ou exclusiva aos sociólogos. A novidade que a 
Sociologia traz, no século XIX, é a tentativa de entender o social de maneira científica, segundo o modelo das ciências 
da natureza e com igual objetivo: a partir do conhecimento científico da sociedade, os homens poderiam prever 
e controlar os rumos da vida social, assim como a física e a química lhes havia permitido controlar as forças da 
natureza.
(COSTA, 1997).
Atenção
Antropologia: estuda as diferentes culturas do homem, os diversos grupos sociais, culturais ou étnicos e as 
transformações ocorridas em função da interação entre os grupos.
Ciência política: estuda os sistemas de poder, as instituições e os partidos políticos de um país, o comportamento e 
as políticas públicas em suas diversas fases (elaboração, implantação e avaliação).
Sociologia: investiga as relações sociais, as estruturas e a dinâmica das sociedades modernas, analisando os 
processos históricos de transformação das organizações sociais.
16
AulA 1 • A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO
Durante nosso curso, contextualizaremos a Sociologia como conhecimento científico historicamente 
situado, cuja realidade de referência é a sociedade capitalista. Diferentemente de outras ciências, 
a Sociologia lida não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, 
mas, igualmente, com as interpretações que são feitas sobre a realidade. Em outras palavras, o 
conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, mas na concepção do fato 
e na relação entre a concepção e o fato. Seu objeto de estudo se refere à ação dos homens em 
sociedade, de sua estrutura, das aspirações que os animam e das alterações que sofrem.
As Ciências Históricas e Humanas não são, portanto, como as Ciências Naturais. A diferença nas 
condições de trabalho dos físicos e químicos e a dos sociólogos não é de grau, mas de natureza: 
enquanto os primeiros trabalham em um ambienteem que há unanimidade nos juízos de valor 
sobre a pesquisa e o conhecimento, os sociólogos enfrentam divergências de todo tipo.
Semelhanças e diferenças
A partir de um célebre texto de DaMatta (1987), construiremos a diferença fundamental entre 
as Ciências da Natureza e as Ciências Sociais.
Ciências Naturais: estudam fatos simples, eventos que presumivelmente têm causas simples e 
são facilmente isoláveis. São fenômenos recorrentes e sincrônicos. 
 » O objeto de investigação ou matéria-prima: conjunto de fatos que se repetem e têm 
uma constância verdadeiramente sistêmica;
 » Tais fatos podem ser vistos, isolados e reproduzidos dentro de condições de controle 
razoáveis, num laboratório.
Ciências Sociais: estudam fenômenos complexos. Não será fácil investigar sua matéria-prima 
por ser difícil isolar causas e motivações.
 » O objeto de investigação ou matéria-prima: o homem nas relações intersubjetivas, os 
fenômenos sociais, ou seja, eventos com determinações complicadas e que podem 
ocorrer em ambientes diferenciados;
 » No âmbito das Ciências Sociais torna-se difícil desenvolver uma teoria capaz de transmitir 
com precisão uma causa única ou motivação exclusiva;
Para refletir
Elabore uma lista de palavras e imagens que vêm à sua cabeça quando você pensa em Natural e no Social. Estipule 
um período de 30 segundos para este brainstorm ou tempestade de ideias.
17
A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO • AulA 1
 » Muitas vezes atitudes semelhantes têm significados diferentes. Cada cultura constrói 
seu significado social. Os fatos estudados pelo cientista social podem ser reproduzidos 
em situações muito distintas. Não podem ser reproduzidos em condições controladas.
Compare
Ciências Naturais Ciências Sociais
 » Os fenômenos podem ser percebidos, divididos, 
classificados e explicados dentro de condições de 
relativo controle e em condições de laboratório.
 » Alcança-se a objetividade científica.
 » As descobertas possibilitam o desenvolvimento 
de novas tecnologias.
 » Os fenômenos são complexos.
 » As percepções são variadas, porquanto históricas.
 » Corre-se o risco de simplificar demais as situações.
 » O resultado prático é visto em livros, romances, arte, teatro, 
novelas, em que tais ideias podem ser aplicadas para produzir 
modificações no comportamento das pessoas – nos sistemas 
de valores.
Reproduzível Irreproduzível
 » Os fatos naturais são reproduzíveis em condições 
controladas.
 » Os fatos sociais são irreproduzíveis em condições controladas 
e, por isso, quase sempre fazem parte do passado. São eventos, 
a rigor, históricos e apresentados de modo descritivo e 
narrativo, nunca na forma de uma experiência.
 » As reproduções dos fatos sociais são sempre parciais!
Uma diferença crucial: relativizar
Nas Ciências Sociais trabalhamos com fenômenos que estão bem perto de nós. Nas Ciências 
Naturais há uma distância irremediável. Um exemplo claro disso é o fato de que o cientista não 
sabe o que sentem as baleias ou as aves, quando realiza seus estudos. 
As teorias e os métodos científicos serão os mediadores entre os cientistas e as baleias. O cientista 
poderá afirmar o que quiser sobre as baleias e elas não poderão contestar e continuarão vivendo. 
As teorias descobertas poderão ser usadas para alterar a vida das baleias, mas nunca usadas 
diretamente pelas baleias. Por isso são considerados conhecimentos objetivos, externos, 
independentes de baleias, aves e investigadores.
Para refletir
Não será fácil isolar as causas ou motivos das ações! Vejamos um exemplo simples do nosso cotidiano:
fulano deseja comer bolo.
Posso comer bolo porque tenho fome.
Posso comer por solidariedade a alguém que faz aniversário.
Posso comer o bolo para agradar a minha mãe.
Atenção
Na área das Ciências Naturais encontramos a possibilidade de objetividade.
Uma mesma experiência poderá ser repetida e observada por dois cientistas em locais distintos
18
AulA 1 • A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO
Nas Ciências Sociais temos um tipo de interação complexa entre o investigador e o investigado. 
Ambos compartilham de um mesmo universo de experiências humanas, ainda que seus 
significados possam vir a ser diferentes para ambos.
Os homens se separam pela organização de suas experiências, sua história, pelo modo como 
classificam suas realidades internas e externas.
Nesse âmbito, percebemos que podemos adotar costumes de outros povos, aprender seus credos, 
modificar nossas leis inspiradas. Podemos assimilar um costume diferente do nosso, ou, até 
mesmo, perceber o melhor de nossas tradições quando estamos em contato com outras culturas. 
Para refletir
Indaga-se: É possível reproduzir determinados acontecimentos?
Podemos reproduzir: época da Proclamação da República, a época dos descobrimentos, o nosso último aniversário?
Podemos reunir os mesmos personagens, músicas, comidas, vestes, mobiliário, animais.
Não será possível reproduzir o clima daquele momento, a atmosfera da época. Estaremos criando outro significado.
Considerando o quadro ao lado, podemos pensar os seguintes desafios: 
Como estudar os fenômenos complexos?
Como observar funerais, aniversários, rituais de iniciação, trocas comerciais, proclamações de leis, revoluções, 
perseguições etc.?
Ao observar tais fenômenos temos que enfrentar nossa própria posição, nossos valores, nossa visão de mundo que 
interfere na nossa pesquisa. Nossa fala, nossos gestos, nosso modo de ser e de agir revela o tipo de socialização que 
tivemos e influencia em nossa visão de mundo.
Saiba mais
Quando investigo um objeto das Ciências Sociais, abro o meu ser para uma relativização dos meus parâmetros 
epistemológicos. Nasce um debate inovador, numa relação dialética entre investigador e investigado. Trata-se de uma 
avenida de mão dupla.
“Cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se 
reflete.”
(DAMATTA, 1987).
Sintetizando
 » Senso comum: chama-se senso comum o conhecimento espontâneo, o saber resultante das experiências 
cotidianas do homem no enfrentamento dos obstáculos do dia a dia. Fazem parte desse conhecimento, o acúmulo 
de experiências dos homens, suas tradições, crenças, o aprendizado espontâneo.
19
A QUESTÃO DO COnHECIMEnTO • AulA 1
 » Conhecimento científico: o conhecimento científico é relativamente recente. Somente ao procurar o seu próprio 
caminho, o seu método (já na Idade Moderna), a ciência se desvincula da Filosofia e passa a determinar objetos 
específicos a serem apreendidos e controlados com esse método.
 » Senso comum é o conhecimento de todos nós, homens comuns, não especialistas. Trata-se de um conhecimento 
espontâneo, um saber resultante das experiências de vida. Suas principais características são: ametódico, 
assistemático, fragmentação e empirismo.
 » O conhecimento científico é conquista recente da humanidade, surgiu no século XVII, com a revolução de Galileu 
Galilei. Utiliza métodos rigorosos para a produção de um saber sistemático, preciso e objetivo. Busca-se um saber 
que possa descobrir as relações necessárias e universais entre os fenômenos.
 » Cada ciência destina-se a um campo delimitado de pesquisa e elabora um método próprio.
 » As ciências são gerais apenas no sentido de que suas conclusões valem para todos os casos similares.
 » O conhecimento científico precisa do processo de racionalização dos dados recolhidos. Suas conclusões aspiram à 
objetividade. Isso significa dizer que podem ser observadas por qualquer outro cientista.
 » Os fenômenos podem ser percebidos, divididos, classificados e explicados dentro de condições de relativo controle 
e em condições de laboratório.
 » Alcança-se a objetividade científica.
 » As descobertas possibilitam o desenvolvimento de novas tecnologias.
 » Os fatos naturais são reproduzíveis em condições controladas.
 » Ciências Sociais: os fenômenos são complexos.
 » As percepções são variadas, porquanto históricas.
 » Corre-se o risco de simplificar demais as situações.
 » O resultado prático é visto em livros, romances,arte, teatro, novelas, em que tais ideias podem ser aplicadas para 
produzir modificações no comportamento das pessoas – nos sistemas de valores.
 » Os fatos sociais são irreproduzíveis em condições controladas e, por isso, quase sempre fazem parte do passado. 
São eventos, a rigor, históricos e apresentados de modo descritivo e narrativo, nunca na forma de uma experiência.
20
Apresentação
Na aula anterior vimos as diferenças que marcam o campo das Ciências Naturais e das Ciências 
Sociais. Salientamos, sobretudo a especificidade da ciência que tem por objetivo estudar a 
sociedade. Agora, apresentaremos o contexto histórico da Europa, na segunda metade do século 
XIX – época na qual se deu o surgimento da Sociologia como ciência independente. Pretende-
se, assim, que possamos compreender os processos que conduziram à formação da corrente 
positivista: a primeira forma de pensamento social.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Identificar os antecedentes históricos que contribuíram para o surgimento da Sociologia 
como ciência.
 » Conhecer os princípios do cientificismo e organicismo que nortearam o século XIX e se 
fizeram presentes no nascimento da Sociologia como ciência independente.
 » Definir Darwinismo e Darwinismo Social e suas ligações com o pensamento positivista.
 » Compreender os fundamentos básicos da doutrina positivista.
Cenário histórico: a revolução industrial
A palavra revolução provém do vocabulário da astronomia e serve para designar o movimento 
circular que um astro realiza, movimento cíclico que lhe permite voltar ao ponto de partida. Porém, 
no plano político e econômico o termo é usado para expressar um movimento de transformação 
que, na visão dos seus protagonistas, traz transformações significativas, positivas e benéficas 
para a sociedade. 
2
AulA
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA 
PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA
21
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA • AulA 2
De fato, as revoluções trazem grandes transformações e com a Revolução Industrial não poderia 
ter sido diferente. Tais transformações já se fizeram presentes na transição do feudalismo para 
o capitalismo.
Já no século XV os cercamentos (enclosures) transformaram o uso da terra. Tanto os campos 
abertos (open fields) quanto às terras comunais, antes utilizados pelos senhores feudais e depois 
pelos pobres para plantio, extração de madeira, pasto e criação de animais, foram açambarcados 
pelos cercamentos.
Por meio dos cercamentos, os proprietários reuniam lotes de campos abertos ou de terras 
comunais em unidades compactas, separadas por cercas vivas ou estacas, surgindo, assim, a 
exploração capitalista da terra. As terras cercadas foram transformadas em pastos de ovelhas, 
que passaram a atender à demanda da manufatura têxtil. Os camponeses foram expulsos das 
suas terras, formando um grande número de desempregados que nada possuía de seu além da 
força de trabalho.
Os cercamentos foram acompanhados por várias leis visando, antes de tudo, controlar a mão 
de obra, o número de desempregados ou desocupados e, na visão inglesa, evitar a desordem. 
Sugestão de estudo
McNeill, 
William H. 
As gangues de rua são uma antiga herança da civilização. 
In: Oliveira, Nilson Vieira (Organizador). Insegurança pública. São Paulo: Nova Alexandria, 2002, pp. 11-31. 
Zaluar, Alba. Violência: questão social ou institucional? In: Ibid., pp. 75-85. 
Atenção
LEIS CRIADAS A PARTIR DO CERCAMENTO DOS CAMPOS 
 » 1601 – Lei dos Pobres: segundo essa lei, o aumento de desocupados e mendigos resultava de uma indisposição 
para o trabalho. Por isso, punia a vagabundagem com o chicote e a marca de ferro em brasa. Caso o indivíduo 
reincidisse, seria aplicada a pena capital.
 » 1662 – Lei de Domicílio: visava impedir que os pobres se transferissem de uma paróquia para outra e autorizava a 
expulsão dos não residentes naquela paróquia. Isso confinou os trabalhadores e evitou a locomoção. Somente em 
1795 uma nova lei retirou das autoridades locais o direito de expulsar os não domiciliados na paróquia.
 » 1795 – Lei Speehamland: estabelecia que todos os homens tinham o direito a uma renda mínima. Caso o 
trabalhador obtivesse pelo seu trabalho uma renda inferior à mínima, cabia à sociedade pagar a diferença. Essa lei 
favorecia manufatureiros e fazendeiros, que lucravam pagando salários inferiores à renda mínima estabelecida, 
enquanto os contribuintes arcavam com o prejuízo.
 » 1760 a 1840: os cercamentos passaram a ser regulamentados por leis instituídas pelo Parlamento inglês.
22
AulA 2 • A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA
Com a abolição da Lei de Domicílio, os trabalhadores voltaram a circular livremente, sem o 
risco de serem expulsos. Os cercamentos, autorizados pelo Parlamento desde 1760, permitiram 
que um número cada vez maior de pessoas deixasse os campos em busca das manufaturas nas 
cidades, como forma de sobreviver e em busca de melhores condições de vida. Deu-se, assim, 
um grande êxodo rural e um inchamento das cidades. Tal fato torna-se visível ao analisarmos 
os dados dos censos demográficos da época:
 » Em 1801, a Inglaterra possuía apenas 15 cidades com mais de 20.000 habitantes. Esse 
número praticamente dobrou em 1851, passando para 28 o número de cidades com 
população superior a 20.000, e em 1891 esse número cresceu para 63 (BRIGS, 1998, p. 204). 
 » Cidades como Manchester, Sheffield, Birmingham e Leeds tiveram taxa de crescimento 
populacional superior a 40% entre 1820 e 1830 (BRIGS, 1998, p. 204).
 » Oxford cresceu de 12.000 habitantes, em 1801, para 28.000, em 1851 (BRIGS, 1998, p. 204).
 » York, grande centro ferroviário, cresceu de 17.000 habitantes, em 1801, para 36.000, em 
1851 (BRIGS, 1998, p. 204).
 » Em Westminster, segundo o Journal of Statistical Society, de 1840, moravam 5.366 
famílias de operários em 5.294 habitações, num total de 26.830 indivíduos, dispondo 
¾ dessas famílias de somente uma peça para viver (BRESCIANI, 1989, p. 25).
O inchamento das cidades transformou o cenário urbano e, como vimos anteriormente, pobreza 
e riqueza passaram a conviver lado a lado. 
Sobre a pobreza do proletariado inglês, Friedrich Engels escreveu: 
Todas as cidades possuem um ou vários “bairros de má reputação” – onde se 
concentra a classe operária. É certo que é frequente a pobreza morar em vielas 
escondidas, muito perto dos palácios dos ricos, mas em geral lhe designam um 
lugar à parte onde, ao abrigo dos olhares das classes mais felizes, tem de se safar 
sozinha, melhor ou pior. Esses “bairros de má reputação” são organizados em toda 
a Inglaterra mais ou menos da mesma maneira: as piores casas, na parte mais feia 
da cidade, a maior parte das vezes são construções de dois andares ou de um só, 
de tijolos, alinhadas em longas filas, se possível com porões habitados e quase 
sempre irregularmente construídas [...] As casas são habitadas dos porões aos 
desvãos, tão sujas no exterior como no interior, e têm tal aspecto que ninguém 
as desejaria habitar. Mas isto ainda não é nada comparado às habitações nos 
corredores e vielas transversais, aonde se chega através de passagens cobertas 
Sugestão de estudo
BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 25.
23
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA • AulA 2
e onde a sujeira e a ruína ultrapassam a imaginação (...), aí que habitam os mais 
pobres dos pobres, os trabalhadores mais mal pagos, com os ladrões, os escroques 
e as vítimas da prostituição, todos misturados.
(BRESCIANI, 1989, p. 25)
Londres e outros centros urbanos da Europa cresceram em função da indústria. Paris, por 
exemplo, na metade do século XIX, era formada por uma multidão de trabalhadores que desde 
a madrugada circulava pela cidade esfregando os olhos e empurrando suas ferramentas. À 
noite saíam as prostitutas, os jogadores, os ladrões e todas as pessoas de passos abafados quefervilhavam pelos becos e ruas de Paris (BRESCIANI, 1989, pp. 12-13).
Como consequência dessa alteração urbana, a literatura registrou grandes crimes, como Os 
crimes da rua Morgue, de Edgar Alan Poe, ou os famosos casos do detetive Sherlock Holmes, de 
Conan Doyle. Também nessa época surgem nomes como o de Jack, o estripador, e casos que se 
tornaram lendários, como o do barbeiro de Londres. A criminalidade estava diretamente ligada 
ao aumento populacional, à pobreza, à busca de vida melhor, à cobrança do direito de cidadania, 
enfim, a diversos fatores combinados.
O desenvolvimento industrial se fez acompanhar pelo desenvolvimento científico, que, por sua 
vez, impulsionou ainda mais a indústria em função de descobertas e invenções. Nos centros 
urbanos europeus respirava-se desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina 
resolveriam todos os problemas do homem. A indústria cresceu e, com esse crescimento, vieram 
as crises de produção porque a superprodução não era acompanhada pelo consumo. A solução 
para a crise de consumo foi encontrada no neocolonialismo, ou imperialismo do século XIX.
Diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, o neocolonialismo representou nova etapa do 
capitalismo, do momento em que as nações europeias saíram em busca de matérias-primas 
para sustentar as indústrias, de mercados consumidores para os produtos europeus e de mão 
de obra barata. Esse colonialismo se direcionou para a África e a Ásia, que foi partilhada entre 
as nações europeias. A América escapou desse colonialismo porque se tornara independente 
pouco antes. Porém, se não foi dominada politicamente pela Europa e pelos EUA, o foi 
economicamente, pois dependia dos banqueiros e do capital industrial europeu. Naquela época, 
por exemplo, grupos franceses e ingleses iniciaram a exploração da borracha na região amazônica 
porque era mais barato produzir aqui e exportar para a Europa e para os EUA: afinal, aqui se 
encontrava a matéria-prima, a mão de obra barata e o favorecimento governamental.
O período entre 1875 e 1914 pode ser identificado como 
a Era dos Impérios, não só porque criou um novo tipo 
de imperialismo, mas também pelo grande número de 
governantes que se intitulavam imperadores.
Saiba mais
HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios: 1875-
1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
24
AulA 2 • A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA
Escondendo os interesses econômicos das nações europeias ou, se preferirmos, como justificativa 
humanitária para o colonialismo, estava a missão civilizadora do homem branco, por meio da 
qual ele deveria levar a civilização aos povos não civilizados. Sobre isso, Rudyard Kipling, o poeta 
inglês do colonialismo, escreveu:
Assumi o fardo do homem branco,
Enviai os melhores dos vossos filhos,
Condenai vossos filhos ao exílio,
Para que sejam os servidores de seus cativos,
Para que velem, pesadamente ajaezados,
Os povos sublevados e selvagens, 
Povos recém-dominados, inquietos,
Meio demônios, meio infantis.
Assumi o Fardo do Homem Branco,
Tudo o que fizerdes ou deixardes
Servirá a esses povos silenciosos e consumidos,
Para pesar vossas mercadorias e vós mesmos.
(DEFRASNE; LARAN, 1962, p. 270).
A África e a Ásia foram o cenário onde atuaram uma infinidade de cientistas e religiosos que 
assumiram o fardo do homem branco. Na Índia, por exemplo, qualquer membro da raça branca 
era tido como membro da classe dos amos e senhores, respeitado e reverenciado. Situações 
semelhantes fizeram o fundador da República do Quênia, na segunda metade do século XX, 
referir-se, assim, à dominação imperialista: 
Quando os brancos chegaram, nós tínhamos as terras e eles a Bíblia; depois eles 
nos ensinaram a rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a Bíblia e eles 
as terras. 
Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram 
enfrentadas com o uso das armas por parte das nações europeias. 
Nem a China ficou de fora da corrida imperialista: foi dominada economicamente e teve territórios 
ocupados pelos japoneses.
A literatura também participou do processo, assaltada pelo cientificismo. Mais uma vez, a figura 
de Sherlock Holmes se destaca. Porém, por outro lado, viu-se inundada de histórias de meninos 
25
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA • AulA 2
lobos, como Greystoke, a lenda de Tarzan. Outras obras características da época são as de Júlio 
Verne (Vinte mil léguas submarinas, Viagem ao centro da terra, 80 dias em um balão), ou, ainda, 
Frankenstein, de Mary Shelley, ou Dr. Jekyll & Mr. Hyde, um clássico dos clássicos de horror e 
mistério, de Robert Louis Stevenson. 
O cientificismo esteve presente em tudo. Foi também nessa época que se desenvolveu a teoria de 
Charles Darwin sobre a evolução e adaptação das espécies. O autor colocou em xeque as ideias da 
imutabilidade das espécies. Assim, a formação dos sistemas vivos começou a ser entendida não 
como criação simultânea, mas como decorrência de etapas sucessivas. Na sua obra A origem das 
espécies, publicada em 1859, em consonância com o espírito da época, Darwin defendeu a noção 
de variação gradual dos seres vivos graças ao acúmulo de modificações pequenas, sucessivas e 
favoráveis, e não por modificações extraordinárias, surgidas repentinamente. Nessa obra Darwin 
apresentou o núcleo da sua concepção evolutiva: a seleção natural, ou a persistência do mais 
capaz; com o passar dos séculos, a seleção natural eliminaria as espécies antigas e produziria 
novas espécies.
Logo as teses de Darwin estavam sendo discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo 
econômico adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo 
postula que todo homem compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que 
não a conquista, não o faz porque é vicioso ou preguiçoso. É claro que essa tese, presente em 
nossas mentes até hoje, interessava e interessa à manutenção do domínio da classe burguesa. 
Isso será discutido mais adiante.
Se o Liberalismo apropriou-se do conceito de competição, de Charles Darwin, não foi o único. 
Logo surgiu o “Darwinismo Social”.
Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, cenário 
marcado pela industrialização, pelo cientificismo e pela luta de classes, que nasceu a Sociologia.
Na França do século XIX, alguns cientistas, determinados a reorganizar a sociedade, acharam 
necessário fundar uma nova ciência. Entre eles estavam Saint-Simon e Augusto Comte, sendo 
Saiba mais
Segundo o Darwinismo Social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As transformações 
nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para outro superior, em que o organismo social 
se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza a competição gera a sobrevivência do mais forte, 
também na sociedade favorece a sobrevivência de sociedades e indivíduos mais fortes e evoluídos. A expressões: luta 
pela existência e sobrevivência do mais capaz, tomadas de Darwin, apoiaram o individualismo liberal e justificaram o 
lugar ocupado pelos bem-sucedidos nos negócios. Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores 
e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, consequentemente, aos mais desenvolvidos levar 
o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens. É claro que o 
Darwinismo Social serviu para justificar a ação imperialista das nações europeias.
26
AulA 2 • A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA
este o primeiro a usar o termo Sociologia e a identificá-la como ciência independente e, mais 
do que isso, como a mais importante das ciências. 
Augusto Comte e o nascimento da nova disciplina
Augusto Comte nasceu em Montpellier, na França, aos 19 de janeiro de 1798. 
Filho de um fiscal de impostos, nasceu em família pobre. Pelo que sabemos, 
suas relações com a família sempreforam tempestuosas e difíceis. Em uma 
carta escrita antes de morrer, sua mãe alegava sentir-se, em relação ao filho, 
como um mendigo a solicitar um pedaço de pão. Comte acusava os familiares 
(à exceção de um irmão) de avareza e da precária situação da família. Na primeira 
oportunidade que teve transferiu-se para Paris a fim de estudar na Escola Politécnica, onde foi 
aluno brilhante e chamou a atenção dos mestres bem cedo.
Observemos que Comte nasceu apenas um ano antes da ascensão de Napoleão ao Consulado e 
a primeira etapa da sua trajetória educacional foi feita durante o Período Napoleônico, fase em 
que se deu o grande desenvolvimento social e industrial da França. Em 1816 – quando Napoleão 
já estava exilado definitivamente em Santa Helena, os ventos do Congresso de Viena queriam 
trazer a Europa à condição que possuía antes da Revolução Francesa e os levantes liberais se 
espalharam pela Europa – é que Comte se transferiu para Paris onde, sem sombra de dúvidas, 
foi influenciado por todo esse processo, tanto que foi afastado da Escola Politécnica, juntamente 
com alguns amigos, acusado de agitação. A seguir, tornou-se assistente de Casimir Périer e depois, 
entre 1817-1824, de Saint-Simon, com quem declarou ter aprendido uma multidão de coisas que 
em vão procurara nos livros.
Em 1824 veio o rompimento com Saint-Simon, motivado por questões de autoria legítima de 
ensaios que Comte devia publicar. A solução, que Comte considerou injusta, foi que cem cópias 
do trabalho saíram sob o nome de Comte, enquanto mil cópias, intituladas Catéchisme des 
industriels, indicavam a autoria de Henri de Saint-Simon. Outra causa do rompimento foi o 
fato de Comte desdenhar a ideia de um paradigma religioso no projeto de Saint-Simon. Mesmo 
assim, posteriormente, ao criar a Religião Positiva, o próprio Comte adotou para si essa ideia, 
proclamando-se Sumo Sacerdote da Humanidade.
Sugestão de estudo
LALLEMENT, 
Michel. História das idéias sociológicas. Das origens a Max Weber. Petrópolis: Vozes, 2003.
27
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA • AulA 2
Comte cunhou o termo Sociologia. A princípio, quis chamar essa disciplina de física social, a 
fim de enfatizar que ela estudaria a natureza fundamental do universo social; porém, por não 
acreditar na aplicação das probabilidades no campo dos fenômenos sociais, cunhou o termo 
Sociologia a partir de dois termos: Socio, do latim socius, que significa associado ou sócio, e 
logia, do grego log+ia, significando discurso científico. O termo apareceu pela primeira vez na 
lição número 47 do Curso de Filosofia Positiva.
Na visão de Comte, a Sociologia devia ser uma disciplina dedicada ao estudo da sociedade, por 
isso as velhas disciplinas acadêmicas, como a Teologia, a Ética e o Direito, sentiram-se ameaçadas. 
Por isso Comte preocupou-se em demonstrar a importância da Sociologia e o seu direito de ser 
reconhecida como ciência.
Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências, ordenando-as de acordo com a sua complexidade 
e o seu movimento no Estado Positivo; assim, partindo da menos complexa para a mais complexa, 
estabeleceu a seguinte classificação (2000, pp. 206-208):
 » Matemáticas: possuem o maior grau de generalidade e estudam a realidade mais simples 
e indeterminada;
 » Astronomia: acrescenta a força ao puramente quantitativo, estudando as massas dotadas 
de forças de atração;
 » Física: soma a qualidade ao quantitativo e às forças, ocupando-se do calor, da luz etc.;
 » Química: trata de matérias qualitativamente distintas;
 » Biologia: ocupa-se dos fenômenos vitais, nos quais a matéria bruta é enriquecida pela 
organização;
 » Sociologia: é o fim essencial de toda a Filosofia Positiva.
Isto porque:
 » As demais ciências atingem o Estado Positivo, mas permanecem adstritas a parcelas do 
real, não conseguindo instaurar a Filosofia Positiva em sua plenitude;
 » A totalização do saber só pode ser alcançada com a Sociologia;
 » A Sociologia culmina com a formulação de um sistema verdadeiramente indivisível, 
em que toda decomposição é radicalmente artificial, tudo se relacionando com a 
humanidade, única concepção completamente universal;
 » A Sociologia é entendida por Comte incluindo uma parte essencial da Psicologia, toda 
a Economia Política, a Ética e a Filosofia da História. 
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AulA 2 • A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA
Naquele momento histórico, o problema central da Sociologia era o que fora articulado pelos 
pensadores no Iluminismo, ou seja, como a sociedade deve ser mantida unida, mesmo quando 
se torna maior, mais complexa, mais variada e mais diferenciada. 
O positivismo se compõe essencialmente de uma filosofia e de uma política, 
necessariamente inseparáveis, uma constituindo a base, a outra a meta de 
um mesmo sistema universal, onde inteligência e sociabilidade se encontram 
intimamente combinadas. De uma parte, a ciência social não é somente a mais 
importante de todas, mas fornece, sobretudo, o único elo, ao mesmo tempo lógico 
e científico, que de agora em diante comporta o conjunto de nossas contemplações 
reais. Ora, a ciência final, ainda mais do que cada uma das ciências preliminares, 
não pode desenvolver o seu verdadeiro caráter sem uma exata harmonia geral 
com a arte correspondente. Mas, por uma coincidência de nenhum modo fortuita, 
a sua fundação teórica encontra logo imenso destino prático, a fim de presidir 
hoje toda a regeneração da Europa Ocidental.
(COMTE, 2000, p. 71)
Comte acreditava necessário estabelecer consensus universalis para dar à sociedade moralidade 
universal. Por isso, para resolver a crise social – que, como vimos, se fazia presente na França e 
em toda a Europa do seu tempo – Comte não propunha a atividade revolucionária, mas, sim, 
uma nova ordem social, com base na Filosofia Positiva. No seu pensar, combinando Ordem e 
Progresso o Positivismo superaria a teologia e a revolução. Por isso identificou dois movimentos 
na sociedade: a Estática Social e Dinâmica Social.
Estática social 
 » As condições constantes da Sociedade. Esta corresponde à Ordem. É responsável pela 
preservação dos elementos permanentes da ordem social: religião, família, linguagem, 
acordo entre o poder espiritual e o temporal etc.;
 » As instituições mantêm a coesão e garantem o funcionamento da sociedade. Por isso, 
o progresso deve aperfeiçoar os elementos da ordem, e não destruí-los.
Dinâmica social
 » Corresponde às leis do progressivo desenvolvimento social: ao Progresso;
 » Representa a passagem para formas mais complexas de existência, como a industrialização;
 » A Dinâmica Social subordina-se à Estática Social, pois o Progresso provém da Ordem 
e aperfeiçoa os elementos permanentes de qualquer sociedade, religião, família, 
propriedade, linguagem, acordo entre poder temporal e espiritual etc.;
29
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA • AulA 2
 » Tais conceitos defendem a sociedade burguesa industrial em face dos movimentos 
reivindicatórios porque permitem que essa mesma sociedade industrial, na figura do 
Estado que a representa, intervenha para manter a ordem e garantir o progresso.
Outro elemento essencial do pensamento de Auguste Comte é a Lei dos Três Estados.
O positivismo se compõe essencialmente de uma filosofia e de uma política, 
necessariamente inseparáveis, uma constituindo a base, a outra a meta de 
um mesmo sistema universal, onde inteligência e sociabilidade se encontram 
intimamente combinados. De uma parte, a ciência social não é somente a mais 
importante de todas, mas fornece, sobretudo, o único elo, ao mesmo tempo lógico 
e científico, que de agora em diante comporta o conjunto de nossas contemplações 
reais. Ora, a ciência final, ainda mais do que cada uma das ciências preliminares, 
não pode desenvolver o seu verdadeiro caráter sem uma exata harmonia geral 
com a arte correspondente. Mas, por uma coincidência de nenhum modo fortuita, 
a sua fundação teórica encontra logo imenso destinoprático, a fim de presidir 
hoje toda a regeneração da Europa Ocidental.
(COMTE, 2005) 
O estado teológico
 » Diante da diversidade da natureza, o homem só consegue explicá-la mediante a crença 
na intervenção dos seres pessoais e sobrenaturais;
 » O mundo torna-se compreensível apenas por meio da ideia de deuses e espíritos. 
Tal Estado divide-se em três períodos:
 » Fetichismo: uma vida espiritual semelhante à do homem é atribuída aos seres naturais. 
Esta fase corresponde à etapa em que o homem constrói totens, cultua a lua, o sol, as 
estrelas, as árvores, os seres da natureza em geral;
Para refletir
Um exemplo da aplicação desses conceitos pode ser encontrado na destruição do Arraial do Bom Jesus – Canudos – 
no sertão da Bahia. 
Canudos era visto como um movimento que tirava dos coronéis a mão de obra quase gratuita do sertanejo. 
O movimento não pagava impostos à República e interferia na vida religiosa, já que o arraial não precisava de padres, 
mas possuía uma igreja. Alguns religiosos visitaram Canudos e nada encontraram que atacasse a Igreja Católica; 
mesmo assim, esta se sentia afetada. Logo, Canudos interferia na Ordem da República e, por isso, visando garantir 
o progresso na chamada República Velha, durante o governo de Prudente de Morais, cinco mil soldados atacaram e 
destruíram o Arraial.
30
AulA 2 • A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA
 » Politeísmo: esvazia os seres naturais de suas vidas anímicas e atribui a animação desses 
seres a outros seres, invisíveis e habitantes de um mundo superior. Neste estado, o deus 
sol – por exemplo – ganha personalidade distinta, como no Egito, e se torna Amon-Rá, 
Aton etc.
 » Monoteísmo: a distância entre os seres e os seus princípios explicativos diminui ainda 
mais; o homem reúne todas as divindades em uma só.
Pode-se, assim, desde logo, demonstrar em toda a sua plenitude como o espírito 
teológico foi por muito tempo indispensável à constante combinação das ideias morais 
e políticas, ainda mais especialmente do que a de todas as outras, não só em virtude 
de sua complicação superior, mas, também, porque os fenômenos correspondentes, 
primitivamente muito pouco pronunciados, só podiam adquirir um desenvolvimento 
característico após o avanço muito prolongado da civilização humana.
(COMTE, 2005)
O estado metafísico
 » Caracteriza-se pela dissolução do Estado Teológico; 
 » Nele a argumentação, penetrando nos domínios das ideias teológicas, traz à luz as suas 
contradições inerentes;
Saiba mais
Para Augusto Comte existem o Politeísmo Conservador ou Sacerdotal, de característica intelectual, que se manifestou 
principalmente na elaboração grega entre os séculos XIII a.C. e I d.C., e o Politeísmo Progressivo ou Militar, de 
característica social, que se apresentou na Civilização Romana entre os séculos VIII a.C. e III d.C. (COMTE, 1957, pp. 
76-77)
Augusto Comte acreditava que “a maioria da nossa espécie não saiu ainda de semelhante estado, que persiste hoje na 
mais numerosa das três raças humanas, no escore da raça negra e na parte menos avançada da branca.” (COMTE)
Sugestão de estudo
COMTE, Augusto. Discurso sobre o espírito positivo. Edição eletrônica: Ed. Ridendo Castigat Mores. Disponível em: 
www.jahr.org. Acesso em: 6/1/2005.
Saiba mais
Surge um deus apresentado acima de todos os deuses e criador de todas as coisas, porém distante no homem, no 
mais alto dos céus.
Segundo Augusto Comte a etapa Monoteísta corresponde à civilização católica feudal, situada entre os séculos V e 
XIII d.C., quando se dá a transição para o Pensamento Metafísico. 
31
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA • AulA 2
 » Substitui a vontade divina por ideias ou forças;
 » Destrói a ideia de subordinação do homem e da natureza ao sobrenatural.
O estado positivo
 » Caracteriza-se pela subordinação da imaginação e da argumentação à observação;
 » Cada proposição enunciada de maneira positiva deve corresponder a um fato, seja 
particular ou universal;
 » A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos 
(procedimento teológico ou metafísico) e torna-se pesquisa de suas leis, entendidas 
como relações constantes entre fenômenos observáveis;
 » A Filosofia positiva considera impossível a redução dos fenômenos naturais a um só 
princípio (Deus, Natureza ou outro equivalente);
 » Ao buscar compreender os fenômenos psicológicos, o espírito positivo deve visar a 
relações imutáveis neles presentes, como quando trata de fenômenos físicos (por 
exemplo, movimento ou massa), que só assim podem ser explicados;
 » O espírito positivo instaura as ciências como investigação do real, do certo e indubitável, 
do precisamente determinado e do útil;
 » O conhecimento positivo caracteriza-se pela previsibilidade. Ver para Prever é o lema 
da Ciência Positiva.
Tal previsão, consequência necessária das relações constantes descobertas entre 
os fenômenos, não permitirá nunca que se confunda a ciência real com essa vã 
erudição que acumula maquinalmente fatos sem aspirar deduzi-los uns dos 
outros. Esse grande atributo de todas as nossas sãs especulações importa tanto 
à sua utilidade efetiva, quanto à sua própria dignidade; pois a exploração direta 
Saiba mais
Para Augusto Comte esta é a fase da transição ocidental, estendendo-se desde o século XIV, ou seja, da fase de 
transição feudo-capitalista, e passando pelos descobrimentos e pela Revolução Científica dos séculos XVII e XVIII 
(COMTE, 1957, pp. 76-77).
Por isso, na esfera política, o espírito metafísico corresponde à substituição dos reis pelos juristas; supondo-se a 
sociedade como originária de um contrato, a tendência é basear o Estado na soberania do povo.
Saiba mais
Para Comte, a sociedade só poderia ser reorganizada por meio da completa reforma intelectual do homem. Para 
tanto, era necessário fornecer aos homens novos hábitos, de acordo com as ciências do seu tempo.
32
AulA 2 • A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA
dos fenômenos realizados não poderia bastar para nos permitir modificar a sua 
realização, se não nos levasse a podê-lo convenientemente. Assim, o verdadeiro 
espírito positivo consiste sobretudo a ver para prever, a estudar o que é, a fim 
de concluir daí o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis 
naturais. (COMTE, 1972, p. 237, apud LALLEMENT, 2003, p. 74)
O Positivismo procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à harmonia 
natural entre os indivíduos e ao bem-estar do todo social. Por isso representou uma ação política 
conservadora que justificava as relações desiguais entre as sociedades. Por outro lado, o Positivismo 
também representou um esforço concreto de análise científica da sociedade, partindo dele as 
primeiras formulações objetivas sobre a sociabilidade humana, abrindo as portas para uma nova 
concepção da realidade social com suas especificidades e regras.
Por fim, devemos verificar que para Comte a história não é pensada como um vir a ser, mas 
como uma sequência congelada de Estados definitivos; e a evolução é a realização, no tempo, 
daquilo que já existia em forma embrionária e que se desenvolve até alcançar o seu ponto final. 
O seu conceito de ciência é o saber acabado, que se mostra sob a forma de resultados e receitas. 
O seu principal postulado é o de assegurar a marcha normal e regular da sociedade industrial 
ocidental, a que habita o Estado Positivo, o que não é de se estranhar, já que se encontra inserido 
no contexto do cientificismo e da euforia desenvolvimentista do século XIX.
Naquela sociedade e naquele momento histórico, quando a teoria de Charles Darwin e o 
Darwinismo Social representaram uma justificativa para o avanço imperialista ou neocolonialista, 
a Lei dos Três Estados também prestou o seu serviço a esse processo, fortalecendo a ideia de 
“culturas desenvolvidas” (as europeias), em detrimento das “mais atrasadas”, como a africana, a 
asiática, as culturas da Oceaniae mesmo da América Latina. Na verdade, justificava a missão do 
homem branco europeu. E, assim, como na natureza, a competição gera o processo de adaptação 
e evolução na medida em que garante a vitória do mais forte. Nas sociedades o mesmo processo 
garante a sobrevivência das sociedades mais aptas, fortes e evoluídas, as que se encontram no 
Estado Positivo.
As ideias positivistas justificaram o avanço imperialista europeu sobre a África e a Ásia, porém o 
Positivismo não foi capaz de resolver a crise daquela sociedade europeia, na qual nem todas as 
Saiba mais
Por darwinismo social entende-se a transposição das ideias de Darwin, em especial a da “sobrevivência dos mais 
aptos” do campo das Ciências Naturais para o das explicações acerca da vida social e da História da Humanidade. 
Esse conceito é muito usado no contexto da competição entre os indivíduos no capitalismo, mas motivou, de 
forma similar, o racismo, o imperialismo, o nazismo etc., etnias nacionais. O termo foi popularizado em 1944 pelo 
historiador americano Richard Hofstadter.
33
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA • AulA 2
pessoas participavam da sociedade positiva nem usufruíam dos seus benefícios, já que a riqueza 
de poucos convivia com a pobreza de muitos e essa maioria também não tinha acesso aos bens 
culturais, educacionais etc.
O pensamento positivista não se resumiu a Augusto Comte. O seu desenvolvimento teve variantes 
como a de Émile Durkheim, também na França. E o ideal positivista de ciência permeou todo 
o pensamento social, político, jurídico, econômico, educacional, histórico e literário do século 
XIX e de uma boa parcela do século XX. 
A influência de Auguste Comte no Brasil e na educação
A Filosofia positivista de Comte tornou-se uma das mais importantes influências na intelectualidade 
brasileira. A doutrina comtiana foi introduzida aqui por volta de 1850, trazida por estudantes 
brasileiros que tinham tido contato com as ideias positivistas na França e foi facilmente absorvida 
por intelectuais daqui que buscavam reagir à inscrição confessional católica, vigente no país 
daquela época. (SÊGA, 2004)
A doutrina positivista, em sua fase científica ganha relevo no Brasil a partir dos debates realizados 
no Colégio Militar e depois se dissemina pelos ambientes de outras escolas, dentre elas o Colégio 
Pedro II.
Essas reflexões, feitas no interior das escolas militares da cidade do Rio de Janeiro possibilita 
que se comece a pensar a educação brasileira como um projeto para alcançar grande parte da 
população brasileira. 
Nesse sentido observa Sêga (2005):
A atuação doutrinária levada a cabo por Benjamim Constant Botelho de Magalhães 
(1833-1891), professor da Escola Militar e defensor do princípio positivista da 
valorização do ensino para alcançar o estado sociocrático, ganha destaque 
nesse contexto. Contudo, se para Comte o ensino, no continente europeu, 
deveria ser destinado às camadas pobres, no Brasil essa meta foi impossível, 
devido ao baixíssimo nível do proletariado nacional. Assim, a transmissão dos 
ensinamentos positivistas acabou se restringindo aos poucos que estudavam 
nas escolas militares.
Sugestão de estudo
Faça a leitura do texto Positivismo: uma primeira forma de pensamento social, de Cristina Costa, que está na 
página 155.
34
AulA 2 • A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA
O desenvolvimento do Positivismo no Brasil foi muito profundo e quase se tornou doutrina 
oficial do Estado. Tal doutrina deixou traços sociopolíticos e culturais importantes na sociedade 
brasileira: o conservadorismo, certo apego à hierarquia, uma aversão a mudanças e um “pavor” 
do confronto. 
Benjamim Constant promoveu a adoção do pensamento positivista como base para o programa 
de estudo das escolas oficiais. Em 1880, foi fundado um Instituto do Apostolado, e no ano seguinte 
era inaugurado no Rio de Janeiro um templo positivista para celebrar o culto da humanidade. 
A divisa “Ordem e Progresso” figura no pavilhão brasileiro, cujo verde é, também, a cor das 
bandeiras positivas.
Com efeito, uma das contribuições mais significativas do 
Positivismo foi a Bandeira nacional adotada pelo Decreto no 
4, de 19 de novembro de 1889, projeto de Teixeira Mendes, 
com a cooperação de Miguel Lemos. Justificaram da seguinte 
forma: a bandeira deverá ser símbolo de amor, solidariedade, 
crenças partilhadas; a expressão ordem e progresso simboliza 
as necessidades imperiosas do povo brasileiro, pois é 
imprescindível manter as bases da sociedade e o aperfeiçoamento nas instituições. A harmonia 
entre esses termos desvela-se na política e na moral. Observa-se a frase de Comte: “O progresso 
é o desenvolvimento da ordem, como a ordem é a consolidação do progresso”. O estandarte da 
República representa nosso passado, nosso presente e o porvir – a Lei dos Três Estados. A cor 
verde não só lembra as terras brasileiras como convém ao sentido do porvir, por isso caracteriza 
esperança.
Sintetizando
Vimos até agora:
 » O processo de consolidação do Capitalismo colocou em evidência os mais diversos problemas da estrutura 
societária emergente.
 » Vários pensadores sociais irão procurar refletir sobre as alterações na realidade social, entre eles Saint-Simon e 
Auguste Comte.
 » Auguste Comte (1748-1857) foi um desses filósofos sociais, sistematizando a primeira corrente teórica do 
pensamento sociológico: o Positivismo. Essa corrente teórica foi a primeira a definir precisamente o objeto, a 
estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação.
 » O Positivismo caracteriza-se pela suposição de que o saber passa por três estágios: teológico, metafísico, positivo.
 » A visão que Comte tinha da Sociologia correspondia ao modelo da física. Por isso as características de uma ciência 
assim compreendida a fundamentação na pesquisa empírica e a formulação e leis universalmente válidas.
 » Para reformar a sociedade, Comte propôs: (a) Reconhecer a existência de princípios reguladores; (b) Estudar os 
processos e estrutura social; (c) Reconhecer a existência de dois movimentos: estático (fator de permanência e 
harmonia) e dinâmico (fator de progresso).
35
A SOCIOLOGIA COMO CIênCIA: UMA PERSPECTIvA HISTóRICO-CRíTICA • AulA 2
 » O Positivismo foi uma diretriz filosófica criada por Augusto Comte na segunda metade do século XIX, que refletiu o 
entusiasmo burguês pela consolidação capitalista, por meio do desenvolvimento industrial e científico.
 » O tema central da obra de Augusto Comte é a Lei dos Três Estados, em que ele divide a evolução histórica e cultural 
da humanidade em três fases, de acordo com seu desenvolvimento; a classificação e a hierarquização das ciências, 
da mais simples à mais complexa, já que para ele a ordem é necessária ao progresso; e a reforma da sociedade, 
com mudanças intelectuais, morais e políticas destinadas principalmente a restabelecer a ordem na sociedade 
capitalista industrial; (COTRIM, 1997).
 » Os traços mais marcantes do Positivismo são certamente a excessiva valorização das ciências e dos métodos 
científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da 
humanidade; (THE NEW GROLIER MULTIMEDIA ENCYCLOPEDIA, 2000).
 » Essa corrente filosófica foi muito influente no pensamento da época. Prova disso é o lema da bandeira brasileira 
– Ordem e Progresso –, um dos principais preceitos do Positivismo, que afirma que, para que haja progresso, é 
preciso que a sociedade esteja organizada.
Saiba mais
Sociologia vai ao cinema 
Para compreensão da situação europeia no século XIX, veja Oliver Twist (Original), 2005 – 
Roman Polanski.
Para relação com darwinismo social, veja Gattaca – Título Nacional: Gattaca – Experiência 
Genética. 
Direção: Andrew Niccol 
Roteiro: Andrew Niccol
Elenco Principal: Ethan Hawke, Uma Thurman e Jude Law, Gênero: Ficção – 
Ano: 1997 – País: Estados Unidos
Duração: 106 min.
36
Apresentação
Na aula anterior apresentamos o contexto históricoda Europa, na segunda metade do século 
XIX – época na qual se deu o surgimento da Sociologia como ciência independente. Também, 
vislumbramos de forma crítica a situação histórica da Europa na segunda metade do século XIX 
e os processos que conduziram à formação da corrente positivista. Agora, veremos a Educação 
como objeto de estudo da Sociologia e os vários processos que envolvem esse estudo.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Compreender a educação como fenômeno social.
 » Relacionar a educação e a Escola como principal fator socializador.
 » Identificar as matrizes teóricas que estudam o fenômeno educacional.
 » Refletir sobre a função social da escola.
A Escola como instituição sempre mereceu atenção especial dos estudos sociológicos. Nesse 
sentido, tem-se como pressuposto fundamental que ela seja um espaço de sociabilidade, no qual 
as relações sociais se caracterizam por práticas que afirmam valores educacionais e constroem 
identidades, em que, sobretudo, também se elaboram e (re)elaboram-se papéis sociais. 
O ser humano, ao nascer, necessita de outras pessoas para a sua sobrevivência, no mínimo de 
mais uma pessoa, o que já faz dele membro de um grupo. Por isso, podemos dizer que desde o 
primeiro momento de vida o indivíduo está inserido em um contexto histórico, pois as relações 
entre o adulto e a criança recém-nascida seguem um modelo ou padrão de cada sociedade, 
modelo que ela veio desenvolvendo com o passar dos tempos e que considera correta.
3
AulA
A EDUCAÇÃO COMO FEnôMEnO 
SOCIAL E OBjETO DE ESTUDO DA 
SOCIOLOGIA
37
A EDUCAÇÃO COMO FEnôMEnO SOCIAL E OBjETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA • AulA 3
A importância da sociologia da educação no curso de 
pedagogia
A Pedagogia é um campo de conhecimento interdisciplinar, aglutina contribuições de vários 
campos de conhecimentos, especialmente das Ciências Humanas. Nesse sentido, a disciplina 
Sociologia da Educação, caracterizada como um olhar sociológico sobre como o fato educativo 
tem contribuído para fundamentação de diversas disciplinas que compõem o currículo do 
curso e para a compreensão da realidade educacional no contexto da sociedade brasileira, o que 
justifica a sua presença na estrutura curricular dos cursos de Pedagogia desde o início desses 
cursos no Brasil. 
Diversos autores (TURA, 2001; SILVA, 2003; SOUZA, 2003) discutem o papel da Sociologia da 
Educação para uma compreensão crítica da realidade social, política, econômica e cultura na 
qual a escola e a educação estão inseridas e contribui para uma formação de educadores com 
uma visão crítica que possa formar indivíduos para compreenderem e transformarem a realidade 
em que vivem.
A educação entendida como uma prática social que busca formar indivíduos para a vida em 
sociedade deve proporcionar uma visão que lhes permita uma compreensão da sociedade em 
todas as suas dimensões. Para tanto, se torna necessário um currículo que em seus conteúdos e 
em suas práticas possibilite uma problematização e reflexão crítica das relações sociais, relações 
de poder existentes na sociedade, pois, como discute Bernstein, citado por Forquin (1993, p. 
85): o modo como uma sociedade seleciona, classifica, distribui, transmite e avalia os saberes 
destinados ao ensino reflete a distribuição do poder em seu interior e a maneira pela qual aí se 
encontra assegurado o controle social dos comportamentos individuais, pois, como nos ensina 
Foucault:
Todo conhecimento, seja ele científico ou ideológico, só pode existir a partir de 
condições políticas que são as condições para que se formem tanto o sujeito 
quanto os domínios do saber. A investigação do saber não deve remeter a um 
sujeito de conhecimento que seria a sua origem, mas a relações de poder que 
lhe constituem. Não há saber neutro. Todo saber é político.
(FOUCAULT, 1986, p. 21)
Saiba mais
Michel Foucault – França – (1926-1984) foi um filósofo, historiador das ideias, teórico social, filólogo 
e crítico literário. Suas teorias abordam a relação entre poder e conhecimento e como eles são usados 
como uma forma de controle social por meio de instituições sociais. Embora muitas vezes seja citado 
como um pós-estruturalista e pós-modernista, Foucault acabou rejeitando essas etiquetas, 
preferindo classificar seu pensamento como uma história crítica da modernidade. Seu pensamento 
foi muito influente tanto para grupos acadêmicos, quanto para ativistas.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault
38
AulA 3 • A EDUCAÇÃO COMO FEnôMEnO SOCIAL E OBjETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA
Embora o campo de conhecimento da Sociologia não garanta por si o compromisso de promover 
uma educação crítica transformadora, pela sua especificidade de analisar a sociedade sob o 
prisma de vários olhares que as diversas perspectivas analíticas ensejam, já possibilita uma 
ampliação da compreensão da realidade social e da educação como um fenômeno fundamental na 
transmissão da herança cultural, dos modos de vida, das ideologias, na formação para o trabalho 
que guarda uma estreita relação com a realidade em cada contexto histórico. Daí a importância 
dessa disciplina no currículo dos cursos de formação de educadores.
Alguns autores da Sociologia – como Durkheim, Manheim, Parsons e Merton – incluíram a 
Educação entre seus objetos de pesquisa e de reflexão teórica. Entre os marxistas destacam-se 
Althusser e Gramsci. No Brasil, Florestan Fernandes e Fernando Azevedo foram os expoentes 
que tiveram a Educação como foco de suas preocupações. 
Marcos teóricos da sociologia da educação
Dentre os inúmeros enfoques da sociedade e da educação, destacam-se os paradigmas considerados 
clássicos que enfocam em suas análises o consenso ou o conflito, correspondendo às correntes 
positivista/funcionalista e crítica/dialética, originadas, respectivamente, em Émile Durkheim e 
Karl Marx, que influenciam análises e pesquisas no campo da Sociologia da Educação.
O estudo dos autores considerados clássicos propicia o entendimento da sociedade relacionada 
com a práxis educativa. Émile Durkheim é um marco no surgimento da Sociologia como ciência e 
como disciplina. Além de ter contribuído para a definição do objeto e do método sociológico, foi 
um dos pioneiros na inclusão da Sociologia no currículo acadêmico, especificamente no curso de 
formação de professores, no qual lecionava. Destaca-se na teoria durkheimiana sua concepção 
de sociedade como um organismo composto por distintas instituições que se complementam 
e se interpenetram, cada uma desempenhando uma função e formando um todo homogêneo 
e consensual. 
Nesse arcabouço explicativo a Educação ocupa lugar central como um fato social, que contribui 
para a “socialização metódica das novas gerações” (DURKHEIM, 1987, p. 41) e para integrar os 
indivíduos na sociedade em que estão inseridos, disseminando a consciência coletiva. Vendo a 
Educação com duplo aspecto, uno e múltiplo, como seus constituintes básicos Durkheim (1967, 
p. 40) aponta suas principais funções: 
Suscitar na criança: 1) certo número de estados físicos e mentais, que a sociedade a que pertença 
considere como indispensáveis a todos os seus membros; 2) certos estados físicos e mentais, que 
o grupo social particular (casta, classe família, profissão) considere igualmente indispensáveis 
a todos quantos o formem.
39
A EDUCAÇÃO COMO FEnôMEnO SOCIAL E OBjETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA • AulA 3
Ao tratar das relações entre o educador e a criança submetida à sua influência, Durkheim (1967, p. 
5.354) defende que a criança fique “por condição natural, em estado de passividade” e o educador 
assume uma posição de superioridade advinda da sua experiência, sua cultura e da moral que 
ele encarna. Assim, a ação educativa é entendida como um trabalho de autoridade. A autoridade 
é o meio essencial da ação educativa. “A autoridade moral é a qualidade essencial do educador”.
Essa concepção de educação e do papel do professor influenciou as práticas pedagógicas adotadas 
no

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