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Miriam de Magdala Pinto (Organização) Universidade Federal do Espírito Santo Laboratório de Tecnologias de Apoio a Redes de Inovação Desafios para a Habitação de Interesse Social: Território do Bem Vitória 2017 LabTAR – Laboratório de Tecnologias de Apoio a Redes de Inovação: Coordenação: Miriam de Magdala Pinto Av. FernandoFerrari, nº514, CEP 29075-910, Goiabeiras, Vitória – ES Telefone: (27) 4009-2324 ramal: 5129 Diagramação e Projeto Gráfico Coordenação: Letícia Pedruzzi Fonseca Equipe: João Francisco Silva, Marina Melim Ferreira Fotos e Imagens Coordenação: Letícia Pedruzzi Fonseca Produção de Infográficos: João Francisco Silva Tratamento de Imagens: Marina Melim Ferreira Fotografias de Capas: Giovanna Faustini Revisões e Traduções Coordenação: Miriam de Magdala Pinto Equipe: Marina Melim Ferreira Prefixo Editorial: 63765 Número ISBN: 978-85-63765-78-9 Copyrigth © 2017. Todos os direitos dessa edição são reservados ao LabTar. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, do Laboratório de Tecnologias de Apoio a Redes de Inovação – UFES. A reprodução de imagens nesta obra tem caráter pedagógico e científico, amparada pelos limites do direito dos autores, de acordo com a lei nº 9.610/1998, art.46, III (citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim de atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra). Toda reprodução foi reali- zada com amparo legal do regime geral de direito de autores no Brasil. Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) D441 Desafios para a habitação de interesse social [recurso eletrônico] : Território do Bem / Miriam de Magdala Pinto (org.). - Dados eletrônicos. - Vitória, ES : UFES, LabTAR, 2017. 161 p. : il. Inclui bibliografia. Modo de acesso: <http://labtar.ufes.br/producoes/> 1. Habitação popular. 2. Território do Bem. I. Pinto, Míriam de Magdala, 1967-. CDU: 316.334.54 ______________________________________________________ 5 _________________________ 10 ________________________________ 41 ____________________________ 54 _____________________ 77 ____________________________________ 100 _______________________________ 117 _______________________ 127 ________________________ 145 Sumário Prefácio Cap. 1 - Habitação para população urbana de baixa renda: Entre os processos formais de planejamento e o “direito à cidade” em geografias urbanas latino-americanas. Cap. 2 - Processos habitacionais e qualidade: Avaliação e potenciais do sistema habitacional chileno. Cap. 3 - Marcos legais e regulatórios da urbanização e das zonas de especial interesse social em Vitória – ES, Brasil Cap. 4 - A (re)construção do espaço público em São Benedito, Vitória, Brasil. Cap. 5 - O Território do Bem. Cap. 6 - Urbanização da Poligonal. Cap. 7 - Desenvolvimento urbano em escala local: Poligonal 1 (Território do Bem) Cap. 8 - Bem Morar: Programa de acesso à moradia digna e sustentável. 5. Desafios para habitação de interesse social: Território do Bem Prefácio O diálogo franco entre academia, sociedade e poder público tem poten- cial para ser profundamente transformador para todos os que dele partici- pam. Criar uma oportunidade concreta para que tal diálogo acontecesse foi o objetivo do encontro entre pesquisadores do Brasil e da Alemanha, repre- sentantes políticos e técnicos da Prefeitura Municipal de Vitória e lideranças comunitárias e moradores do chamado “Território do Bem” realizado em abril de 2014, em Vitória, Espírito Santo. O “Encontro Brasil e Alemanha: Soluções para o Território do Bem” foi reali- zado em uma escola pública de ensino fundamental no próprio Território, uma área de habitação de interesse social que ocupa dois morros e seus entornos na porção insular central do município de Vitória, onde vivem mais de 30 mil habitantes o que representa quase 10% da população do município. O evento foi realizado pelo Laboratório de Tecnologias de Apoio a Redes de Colaboração – LabTAR da Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes e pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da mesma univer- sidade. Colaboraram para sua realização os Departamentos de Arquitetura e Urbanismo e de Saneamento da Universidade Técnica de Berlim, Alemanha; a Prefeitura Municipal de Vitória, o Fórum Bem Maior de Líderes Comunitários do Território do Bem e a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional do Espírito Santo. O eixo condutor do encontro foi dar a cada ator participante a oportuni- dade de expressar sua visão das necessidades e possibilidades de intervenções urbanas, habitação, mobilidade e equipamentos públicos para o território vi- sando promover o “bem viver” de modo amplo naquele espaço geográfico. A Prefeitura Municipal de Vitória atua sistematicamente na região des- de o final da década de 1980 quando teve início o Projeto Terra e, portanto, tem conhecimento acumulado a respeito da problemática, do ponto de vista técnico, e experiência em planejamento, captação de recursos e execução de intervenções ali. Portanto, contribuiu relatando essa experiência bem como o modus operandi, possibilidades e limitações de ações do poder público. O Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes realiza atividades de pesquisa e extensão ligadas ao Território há décadas e, particularmente, por intermédio da Profa. Dra. Clara Luiza Miranda, participou do projeto de cooperação internacional Housing, Manufacturing and Water - HMW com a Universidade Técnica de Berlim – TU Berlim ao longo de 2012 e 2013. Dentro do escopo do projeto HMW, professores e alunos das áreas de arquitetura e Miriam de Magdala Pinto e Marina Melim Ferreira 6. Desafios para habitação de interesse social: Território do Bem urbanismo, saneamento e engenharias da universidade alemã estudaram e propuseram soluções urbanísticas para o Território do Bem. Os grupos aca- dêmicos das duas universidades contribuíram apresentando os resultados obtidos durante o projeto HMW e também resultados de estudos anteriores e paralelos desenvolvidos na Ufes sobre o Território. As lideranças e moradores dos oito bairros que compõem o Território do Bem, ou região Poligonal 1 de Vitória tem a experiência da vida ali e são aqueles com melhor possibilidade de julgamento prático das soluções apresentadas a partir dos resultados, sucessos e fracassos, de intervenções anteriores. Para o Laboratório de Tecnologias de Apoio a Redes de Colaboração – LabTAR, a experimentação da colaboração interinstitucional para promoção da inovação tanto social quanto econômica é central. O LabTAR participou do projeto HMW com o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes e a TU Berlim e entendeu que a transformação da realidade do Território apenas pode- ria se dar a partir do diálogo franco entre todas as partes interessadas, ou seja, os grupos acadêmicos, a comunidade do Território do Bem e a Prefeitura Municipal de Vitória. Foi esse entendimento que levou à realização do evento pelo LabTAR. Tratava-se, no entanto, de um evento de caráter inovador em si mesmo, e buscando facilitar a comunicação e o entendimento de todos durante o Workshop, foi produzido um Caderno reunindo conteúdos relacionados com intervenções urbanas em áreas de interesse social, legislação, políticas públicas e financiamento. O Caderno ficou disponível para leitura antecipada pelos par- ticipantes do evento e foi a base deste livro. Passado o evento, ficou clara a importância da explicitação do conhecimen- to ali apresentado para todos aqueles que têm interesse em questões urbanas ligadas a populações de baixa renda e espaços geográficos relacionados. O primeiro capítulo, Habitação para população urbanade baixa ren- da: Entre os processos formais de planejamento e o “direito à cidade” em geografias urbanas latino-americanas, escrito por Paola Alfaro d’Aleçon e Renato d’Aleçon, traz como principal contribuição uma perspectiva da ha- bitação de interesse social nos países da América Latina e do papel exercido por políticas neoliberais no desenvolvimento das cidades e na ocupação da terra. Aborda também uma característica comum a muitas das grandes ci- dades latino-americanas, que é a segregação de espaços e classes, citando mais especificamente o caso de cidades mexicanas e chilenas. Além disso, o capítulo relata as experiências desenvolvidas no território do São Benedito, uma das comunidades que formam o Território do Bem, que trouxeram uma perspectiva multidisciplinar aos diferentes níveis de desenvolvimento em habitação, espaço público e comunidade. 7. Desafios para habitação de interesse social: Território do Bem O capítulo Processos habitacionais e qualidade: Avaliação e potenciais do Sistema Habitacional Chileno, escrito por Renato d’Alençon Castrillón e se- gundo desta publicação, discorre sobre o modelo adotado no Chile para subsí- dio habitacional. Um traço importante desse sistema, destacado no capítulo, é o processo pelo qual as habitações são em grande parte construídas pelos habitantes, com o que é fornecido pelo sistema ou apesar dele. A questão da habitação chilena, que alterna entre assentamentos espontâneos, e práticas de construção espontânea, e soluções formais é tratada no sentido de enten- der suas falhas e suas potencialidades. O terceiro capítulo deste livro, escrito por Clara Luiza Miranda, André Tomoyuki Abe, Michele Pereira Paes Henriques e Margareth Batista Saraiva Coelho, e nomeado Marcos legais e regulatórios da urbanização e das zonas de especial interesse social em Vitória – ES, Brasil, tem como objetivo específico descrever e contextualizar os instrumentos para intervenção e regularização urbana que se aplicam ao Território do Bem. Instrumentos estes que tem como função fundamentar e instruir a atuação dos órgãos governamentais, não governamentais e privados nos usos e na ocupação do solo, configurando um caráter mais técnico ao capítulo. De autoria de Bruno Bowen Vilas Novas, o quarto capítulo, A (re)construção do espaço público em São Benedito, Vitória, Brasil, reconhece a importância do espaço público para a vitalidade do transcurso das relações sociais e de produção e propõe o ensaio projetual de reconstrução do espaço público, buscando re- forçar seus movimentos de resistência e a autovalorização comunitária. O ensaio reconhece os novos papéis dos espaços públicos na reapropriação das riquezas imanentes à cooperação social, designando instrumentos disponíveis pela arqui- tetura e pelo urbanismo para a restauração do espaço público da cidade subjetiva. No quinto capítulo, O Território do Bem, escrito por Clara Luiza Miranda, é possível conhecer melhor o objeto de estudo que permeia outros capítulos do livro, que é o próprio território, o espaço onde foram desenvolvidos os pro- jetos do encontro. Além disso, traça paralelos entre a urbanização nacional e a local, mostra detalhes sobre a gestão municipal de Vitória e sobre os agen- tes que atuam no território. Já o sexto capítulo, escrito por Michele dos Santos Pereira Paes Henriques, Urbanização da Poligonal 1, trata mais diretamente do projeto Terra Mais Igual, uma iniciativa da gestão pública para o enfrentamento da pobreza urbana que foi executado no Território do Bem. O principal objetivo do projeto é propiciar a melhoria da qualidade de vida da população socialmente excluída, promoven- do o seu empoderamento, por intermédio de um conjunto integrado de ações, obras e serviços, nas áreas social, ambiental, habitacional, urbana e fundiária. 8. Desafios para habitação de interesse social: Território do Bem O capítulo Desenvolvimento urbano em escala local: Poligonal 1 (Território do Bem) traz as perspectivas de uma alteração na forma de pensar as inter- venções nos espaços urbanos, tomando como exemplo o próprio Território do Bem. Escrito por Pedro Fonseca Moreira, mostra como o planejamento urbano deixou de ser uma fórmula genérica, amplamente disseminada, e passou a tomar contornos mais específicos do território, o que permite que as questões inerentes ao local sejam de fato abordadas. Encerrando o livro, o capítulo Bem Morar: Programa de acesso à moradia digna e sustentável, escrito por Denise Biscotto e Clara Luiza Miranda, discorre sobre o projeto desenvolvido pela Organização Não Governamental Associação Ateliê de Ideias no Território do Bem, e também sobre outras atividades realiza- das pelo próprio Ateliê. O programa oferece crédito complementar para que as famílias de baixa renda tenham acesso, de fato, a moradia digna, sustentável e de qualidade, contando com a aliança entre crédito habitacional, assistência técnica e produção e difusão de métodos, soluções e materiais de construção sustentável. A organização do livro foi pensada de tal forma que ele parte de uma per- spectiva geral: a da habitação social e o direito às cidades em regiões de intensa desigualdade social como a América Latina, para a mais específica: o Programa Bem Morar, implantado no Território do Bem pela Associação Ateliê de Ideias, que visa à promoção do desenvolvimento local. Portanto, não há necessaria- mente uma ordem para a leitura e os capítulos são independentes. Após o evento, muitos de nós que acreditamos que a transformação do mundo que temos para um mundo que desejamos só é possível de forma cola- borativa nos empenhamos em mobilizar atores e captar recursos para possibili- tar a realização de um projeto de intervenção urbana no Território do Bem, que fosse feita de forma participativa desde sua concepção por acadêmicos, técnicos do poder público e comunidade do Território. Não conseguimos ainda! Não de- sistimos! Espero que este livro, que representa o sucesso de um evento no qual academia, sociedade civil e servidores públicos municipais, de fato, dialogaram, contribua de alguma forma para que algum dia um projeto de intervenção urba- na co-criado por todos os interessados seja uma realidade! Habitação para população urbana de baixa renda: Dr. Paola Alfaro d’Alençon, Renato d’Alençon Castrilló 01 Entre os processos formais de planejamento e o “direito à cidade” em geografias urbanas latino-americanas 10. 1.1 Contexto: Conceituando geografias urbanas latino-americanas 1. Habitação para população urbana de baixa renda: Entre os processos formais de planejamento e o “direito à cidade” em geografias urbanas latino-americanas. Continuidade e mudança assumem um significado específico, às vezes dramático, em cidades latino-americanas. Enfrentando a realidade frequen- temente cruel, o ambiente urbano é amplamente dominado por problemas aparentemente insolúveis: degradação ambiental, pobreza, expansão urba- na, segregação. Ao mesmo tempo, mudanças sociais atuais como refletidas nas cidades parecem não prometer solução para essas questões: liberalização dos mercados, novas infraestruturas urbanas privatizadas e economias ori- entadas para a exportação são vistos, em sua maioria, como agravantes, ao invés de contribuir para a solução dos problemas “crônicos”. Essa percepção da realidade complexa das cidades latino-americanas é amplamente discu- tida por estudiosos locais e também na Europa, neste caso, amplificada pela liberdade oferecida pela distância entre os continentes e da realidade de se viver e trabalhar em um contexto tão problemático. No entanto, o foco e o tom geral dos estudos recente (Alfaro-d’Alençon, Imilian, Sanchez et al, 20111) su- gerem alguma mudança na abordagem das novas gerações de pesquisadores no estudo das geografias urbanas latino-americanas. Os problemas crônicos continuam sendo opressores e aparentemente impossíveis de superar, no entanto, sinais de mudança estão sendo revistos em novos tons. Uma primeirapreocupação é entender o cenário de urgências, como é característica das sociedades latino-americanas e de suas geografias. Por exemplo, o impacto das fortes políticas neoliberais dos últimos 40 anos tem desempenhado um papel importante na renovação da terra e especialmen- te nas políticas habitacionais em alguns países da América Latina, como México e Chile, com um enorme impacto quantitativo e qualitativo em ha- bitação. Não é só o desequilíbrio entre a qualidade e a quantidade de habi- tações abordado aqui, mas suas consequências para o espaço público e para a localização das outras atividades econômicas também são examinados. ¹Alfaro - d’Alençon, Imilan, and Sánchez. Lateina- merikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. 11. Habitação para população urbana de baixa renda Contraste urbano na América Latina, edifícios altos e assentamentos informais coexistem lado a lado: Bogotá, 2008. Fonte: theworldisurban.com/2011/02/heres-one-from-latin-america/ (Figura 1) Além disso, as enormes consequências sociais e espaciais da segregação, que é uma característica comum em muitas cidades latino-americanas, são abordadas. A discussão começou a reconsiderar os problemas de planeja- mento conhecidos, o novo papel do estado e dos habitantes (Alfaro-d’Alencon et al., 2011, Kap. III). As suposições de senso comum sobre os benefícios das políticas prescritivas são confrontadas com a ação dos usuários que assu- mem suas novas casas sociais, fornecidas pelo Estado, como no caso da ci- dade do México, para adaptá-las por si mesmos para melhor atender as suas necessidades (Hastings, 20111). O uso econômico da terra tem se mostrado como uma força que contém ao invés de promover o crescimento da cidade, como normalmente esperado, tal qual o caso de Bogotá (Söhlemann, 20112). O adensamento vertical das cidades brasileiras fornece uma alternativa surpreendente para a expansão urbana que permite ter esperança para a in- tegração social no uso do espaço público (Thung, 20113). No Chile, uma me- lhoria na qualidade das habitações é proposta pela reconsideração da ideia 1Hastings, I. 2011. In: Alfaro - d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. 2Söhlemann, C. 2011. In: Alfaro - d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtge- sellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. 3Thung, T. 2011. In: Alfaro - d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. 12. Habitação para população urbana de baixa renda de habitabilidade como um passo natural a seguir antes mesmo de o deficit habitacional ser fechado (d’Alençon, 2011). A articulação entre continuida- de e mudança é então assumida como criativa, uma vez que as mudanças em curso nas cidades estejam marcadas como sem limites determinados e não como uma confirmação cerrada do pior da realidade. Esta suposição não tenta definir a cidade latino-americana. Não há nenhuma necessidade de vincular-se à realidade problemática a fim de compreendê-la primeiro e então prescrever. Também pode funcionar descrevendo-se traços de ele- mentos comuns, como as “forças globais” que dirigem seu desenvolvimento atual, e os elementos que os diferenciam, os padrões específicos que essas forças seguem com base nas circunstâncias específicas. Menos sobrecarregados pela busca de soluções, a ênfase pode ser coloca- da na observação aguda. Neste contexto, os problemas derivados da rápida urbanização, estruturas sociais não-coesas ou decisões econômicas de curto prazo parecem ser uma característica predominante das regiões latino-a- mericanas. Longe de serem reduzidas, elas continuam a crescer e pressio- nar as já precárias condições de vida de muitos. Por exemplo, os crescentes contrastes entre ricos e pobres que tem caracterizado o desenvolvimento urbano na América Latina durante décadas. O crescimento das disparida- des sociais nas geografias urbanas é acompanhado por diferentes papéis do estado. Uma vez mediador das estratégias de desenvolvimento urbano em várias cidades latino-americanas, hoje ele está agindo sob forte orientação de mercado em consonância com os objetivos de neoliberalização. Assim, a competição econômica global bem como a desregulamentação, o desmante- lamento e a retirada do estado recentemente resultaram em um desenvolvi- mento urbano que é impulsionado por meros critérios econômicos. Estudiosos também apontam que influências globais e eventos locais geram necessidades diferentes, que, desde a retirada do estado, são guiados pelo mercado livre. Enquanto um olhar mais atento revela que os processos de desenvolvimento urbano são formalmente legitimados por mecanismos de governança, o fato de que desapareceu o uso de regulamentos públicos como uma correção possível para planejamento ou regulamento, em gran- de parte levou a um desenvolvimento da cidade puramente orientado para o mercado. A consequência é que o desenvolvimento urbano formalmente ¹Alfaro - d’Alençon, Imilan, and Sánchez. Lateina- merikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. 13. Habitação para população urbana de baixa renda legitimado já não é baseado nas necessidades da sociedade, mas, geralmen- te, apenas na capacidade financeira dos membros financeiramente habilita- dos da sociedade urbana (Dohnke, 20111). Neste cenário, a segregação social-espacial tem aumentado, criando novos tipos, caracterizados como fragmentos urbanos intimamente adja- centes (Janoschka, 20112). Enquanto várias paisagens urbanas na América Latina que uma vez foram dominadas por conglomerados de pobres, bairros de classe média e alta, hoje a distinção inclui condomínios fechados, comu- nidades e espaços restritos para as classes média e alta nas proximidades de favelas. Os resultados são forte “citadelização”, bem como a extrema “gueti- zação” em um mesmo lugar (Coy 2002:12). ²Janoschka, M. 2011. In: Alfaro - d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wan- del: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. ¹Dohnke, J. 2011. In: Alfaro - d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. anexo um: Habitação urbana de baixa renda. Fonte: P. Alfaro d’Alençon, 2013. (Figura 2) habitação para população urbana de baixa renda participação despejo globalização segurança de posse 14. Habitação para população urbana de baixa renda Globalização: O que a globalização significa hoje para a população mundial de baixa renda em termos de habitação? Desenvolvimento de assentamentos e redução da pobreza: O atual caminho da economia global falhou em atender à demanda de crescimento da prosperidade para todos. Na corrida do crescimento e •(des)igualdade de oportunidades A esperança de que a globalização trouxesse novas oportunidades para a po- pulação de baixa renda. Os mais pobre não consegue encontrar as oportunidades oferecidas pelos mercados da globalização. Eles foram exluídos completamente da participação em bolsa de valores, por exemplo. •(un)fair play A economia de mercado baseada no trabalho assalariado tende a aumentar o preço de mercadorias e serviços básicos, que incluem comida, água, moradia e energia. Ao invés de reduzir a pobreza, o liberalismo mercantil de bens básicos levou muitos à pobreza. •imigração do campo para a cidade A abertura de mercado para produtos agrícolas levou à uma concentração na agricultura. Para muitos fazendeiros de subsistência isso significou o fim da sua base de existência. Inúmeros fazendeiros migrarampara a cidade, onde enfren- tariam um destino incerto. •(des)igualdade de direitos Por baixo da superfície de reestruturação econômica, uma pressão conside- rável é aplicada nos países em desenvolvimento para reduzir os gastos públicos e focar na liberação do mercado. Devido à redução dos gastos sociais, e do acesso limitado ao crédito e a materiais de construção do Estado, o desenvolvimento de um assentamento dificilmente seria possível. sucesso econômico, vamos destruir as bases naturais, sociais e econômicas para a solução dos problemas humanos. Governos, organizações, empresas e residentes precisam de seguir um novo caminho de estratégia de desenvolvimento de as- sentamentos que supere a pobreza. 15. Habitação para população urbana de baixa renda - Amplo consenso global; - Prioridades comuns estabelecidas; - Acordos internacionais; - Programas de ação integrada; Despejo: Como? Realidade? Muitas organizações e movimentos diretamente relacionados aos moradores não esperam muito de conferências globais. Mesmo assim, tais movimentos sociais não são inúteis. Em muitos países, por exem- plo, organizações de moradores independentes do governo trabalham para a melhoria das condições em bairros desfavorecidos. Elas buscam alianças com o poder político e com governos progressistas locais. Em vários países, organi- zações lutam contra o despejo de famílias de seus lares e bairros informando a população, fazendo petições e organizando protestos.Tais despejos são muitas vezes planejados e incluem o uso da força. Podem ser considerados consequ- ências de leis e julgamentos políticos específicos, que falham em considerar a condição da população de baixa renda. Mesmo que existam justificativas le- gítimas para o despejo, o direito humano a moradia adequada para posseiros deve ser respeitado e deve ser oferecido um meio legal de oferta de habitação. Segurança de posse: O programa da ONU-Habitat denominado “segurança da posse” tem significado crucial nesse contexto. Pessoas em assentamentos informais só conseguem uma chance de melhorar suas moradias e ambientes quando estão protegidas dos despejos. Quando as leis não as protegem, os moradores são chamados a se ajudar. Em resposta, organizações que lutam pelo direito da terra estão se desenvolvendo em diversos países. - Proteção do direito humano de habitação adequada mesmo para posseiros; - Participação dos moradores na construção do próprio futuro. - O bem-estar social é constantemente monopolizado; - Privatização dos instrumentos sociais; - Desemprego constante, marginalização e falta de habitação; - Demandas excessivas dos sistemas sociais de segurança; - Dissolução de estruturas solidárias tradicionais e violação dos direitos humanos. 16. Habitação para população urbana de baixa renda Estes resultados também podem ser entendidos como as reivindica- ções de diferentes partes da sociedade em um determinado pedaço de terra. Os padrões específicos destas reivindicações geralmente representam, no entanto, a expulsão da população socialmente desfavorecida, que muitas vezes é forçada a viver em condições informais na periferia urbana. Essas pessoas que se instalaram em partes subdesenvolvidas da cidade e desen- volveram a terra para as suas necessidades, agora perderam literalmente a possibilidade de dotações adicionais do espaço. Contra este desenvolvimento urbano de fundo, estratégias tentando lidar com esta situação e o desenvolvimento das favelas, em última aná- lise, precisam ser entendidas como formas para garantir o direito para permanecer neste espaço e obter mais possibilidades de desenvolvimento. Em várias sociedades latino-americanas foi assumido que as favelas de- sapareceriam uma vez que a economia do país melhorasse. No entanto, nas últimas décadas tem-se visto que, apesar do crescimento econômico, as favelas não desapareceram e em vários casos, como no Rio de Janeiro, por exemplo, eles ainda aumentaram (Conde, Magalhães, 2010). Portanto, habitação urbana de baixa renda significa muito mais do que encontrar soluções de construção adequada. Também implica o estabelecimento do direito de consolidação dos espaços informais construídos para grupos socialmente marginalizados. Estudos mostram de fato que o despejo de assentamentos informais é geralmente fortemente relacionado com a perda das redes sociais e econômicas que estão vinculadas com o lugar de habitação atual (Gupte, 2010). 1.1.1 Habitação para população urbana de baixa renda: onde as ne- cessidades convergem para abordagens integradoras específicas Longe de andar em caminhos bem conhecidos que levam a respostas bem conhecidas, abordagens assertivas na literatura atual sobre favelas e que dizem respeito à questão da habitação da população urbana de baixa renda apontam que a complexidade atual dos assentamentos informais re- quer estratégias integradas para melhorar as condições de vida e melhoria das condições materiais. A informalidade é uma condição social para uma vasta população de todo o mundo que se encontra afastada dos processos formais majoritários. A lógica da informalidade, portanto, precisa ser estu- dada para intervir em tais contextos com algum sucesso, tanto nos proces- sos produtivos e sociais quanto na produção e uso do espaço construído, muitas vezes seus resultados mais evidentes. 17. Habitação para população urbana de baixa renda No entanto, a definição de formal e informal permanece crítica já que ela também ressalta a existência de dois processos, o que, espacialmente e socialmente, é cada vez mais evidente na cidade: um colapso da sociedade urbana numa parte que tem o direito à cidade, e uma parte para a qual esse direito não é concedido. Neste espírito, a definição de favela proposta pela Associação Brasileira de Favelas atende a tentativa de superar a condição de informal/sem direitos e formal/com direitos ao propor que as favelas são lugares de emancipação da pobreza ligada às práticas de resistência e produção pelos pobres, sem ajuste aos padrões urbanos de estado normati- vo. Esta definição ressoa com a definição do “Direito à cidade”, cunhado na década de 1960 por Henri Lefebvre, que expande a tomada de decisão par- ticipativa para todos aqueles que produzem e habitam o espaço urbano. É o direito emancipatório de decidir sobre a produção do espaço urbano. Isto é especialmente relevante para grupos de população que são formalmente ex- cluídos do processo de tomada de decisão participativo, embora na verdade façam parte da sociedade urbana (Arnstein, 2003). Mas como é o processo de desenvolvimento das favelas visto de perto? Como as redes e organizações comunitárias e o trabalho de vários atores e interesses trabalham juntos para recondicionar a terra para melhorar as condições de vida? Que tipo de papel que o estado e os outros atores têm no desenvolvimento do estoque habitacional existente? Estudiosos apontam que mesmo quando aos habitantes da favela é conce- dido o direito à cidade, o processo de desenvolvimento continua a ser crítico. A pesquisa mostra que a relação entre o que é formalmente aceito e não acei- to, entre os próprios grupos informais e em relação às instituições municipais é ambivalente e determinado pela indiferença aos conflitos (Dohnke, 2011). Estas foram questões que guiaram o trabalho inicial em uma das fa- velas de Vitória, Brasil. São Benedito e suas imediações, designado como Poligonal 1, é um caso muito representativo da situação de um assenta- mento informal na área central de uma grande cidade: a geografia íngreme protegeu as colinas no centro da ilha de Vitória por décadas, porém não foi um obstáculo para assentamentos informais se desenvolverem quando os processos de imigração e as demandas por melhores condições de vida e de 18. Habitação para população urbana de baixa renda rendas não ofereceram outras alternativas. Ao longo do tempo, apesar de seus problemas de infraestrutura, São Benedito tem se desenvolvido e seconsolidado. Ao mesmo tempo, o caso é especialmente interessante porque vários projetos emblemáticos, como o “Projeto Terra” desenvolveram-se ali e continuam a existir, envolvendo uma variedade de atores: comunidade, ONGs, organizações da administração pública, universidades, etc. Em um contexto maior, o Brasil continua a ser um caso de particular in- teresse já que, ao longo das últimas décadas, às favelas têm sido concedidos direitos iguais aos assentamentos formais e as políticas de favela mudaram radicalmente. As abordagens passaram de demolições e remoções da dé- cada de 1960, para as primeiras abordagens coletivas tais como a chamada Mutirão, na década de 1980, para várias novas políticas acompanhadas por vários atores, como ONGs, cooperação para o desenvolvimento, pesquisa em grupos em universidades, etc. Esses programas são dignos de menção como o Programa Favela-Bairro que se desenvolveu com forte apoio político e continua a ser um interessante campo de pesquisa. As questões colocadas relacionadas a como as principais forças de diferentes áreas contribuem para o desenvolvimento do bairro e qual o papel que os diversos atores e o estado jogam neste desenvolvimento continuam a ser relevantes. 1.2 Rumo a comunidades resilientes? Habitação como uma abor- dagem integrativa para o desenvolvimento. Trabalhando com São Benedito, Vitoria, Brasil O projeto aqui apresentado foi realizado em 2013, como uma cooperação entre os parceiros brasileiros do Living Lab Habitat, rede de organizações que incluem a Universidade Federal do Espírito Santo – UFES em Vitória, bem como as ONGs que trabalham no território e professores universitá- rios e alunos da Universidade Técnica de Berlim – TU Berlin. O primeiro workshop ocorreu na Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória, Brasil, em março de 2013. Seu escopo foi o de primeira fase de pesquisa no local, incluindo reunião com atores relevantes, bem como brainstorming com acesso direto às fontes e à área de trabalho e, portanto, à informação crítica. O grupo misto objetivou desenvolver uma intervenção de atualiza- ção integrativa na área de São Benedito, uma favela no centro da cidade de Vitória, Espírito Santo, Brasil, abordando diferentes níveis de desenvolvi- mento em habitação, espaço público e comunidade, com uma perspectiva multidisciplinar. Desde o início do projeto, uma oficina de encerramento foi planejada para setembro de 2014 em Berlim, no qual os resultados do estudo 19. Habitação para população urbana de baixa renda de caso e dos projetos em Vitória seriam apresentados aos nossos parceiros da TU-Berlin e da rede do projeto Housing – Manufacturing – Water como um exemplo da complexidade dos problemas envolvidos em tais contextos. O trabalho foi parte do projeto “Housing – Manufacturing – Water (habi- tação – fabricação – água): melhoria das condições de vida dos pobres ur- banos” (www.hmw.tu-berlin.de), um projeto apoiado pela BMZ (Ministério Federal para cooperação e desenvolvimento econômico) e o DAAD, dois órgãos públicos alemães. São Benedito. Fonte: P. Alfaro d’Alençon (Figura 3) O trabalho foi identificado e abordado em equipes interdisciplinares. Numa fase inicial, as principais questões foram elaboradas de forma inte- grativa. A ideia básica do grupo foi integrar designers urbanos, engenheiros de produção e ambientais em um único grupo, desde o início do processo de planejamento, para criar soluções otimizadas ao longo do projeto nos está- gios individuais de desenvolvimento. 20. Habitação para população urbana de baixa renda O trabalho foi identificado e abordado em equipes interdisciplinares. Numa fase inicial, as principais questões foram elaboradas de forma inte- grativa. A ideia básica do grupo foi integrar designers urbanos, engenheiros de produção e ambientais em um único grupo, desde o início do processo de planejamento, para criar soluções otimizadas ao longo do projeto nos está- gios individuais de desenvolvimento. Trabalhar em grupos disciplinares (habitação/ manufatura/saneamento) também significa focar questões específicas em cada campo. As principais questões abordadas pela equipe de habitação foram a situação social e mate- rial atual na favela, percepções e necessidades da comunidade, e as experiên- cias de melhoria e seu desempenho com as seguintes premissas gerais: • O envolvimento de usuários e atores é elemento crítico no contexto de urbanização e desenvolvimento habitacional; • Modernização e inovação na região, abordando diferentes níveis de de- senvolvimento em habitação, espaço público e desenvolvimento comunitário. MÉTODOS E PLANO DE TRABALHO Dentro do projeto, o objetivo foi desenvolver uma compreensão de como as suposições do projeto poderiam ser levadas em consideração e como so- luções socialmente relevantes em habitação e espaços públicos poderiam ser alcançadas, integrando áreas chaves do desenvolvimento nos domínios do ambiente construído, dos processos de produção e fornecimento de in- fraestrutura básica. Para alcançar estes objetivos específicos, as atividades realizadas foram divididas da seguinte forma: 1- Estudos de campo e pesquisas empíricas, inclusive fazendo registros fo- tográficos, estudos topográficos e planimétricos e recolhendo testemunhos dos habitantes. Este trabalho foi realizado pelos alunos pré-inscritos sob a supervisão de professores e colegas. Os principais tópicos incluídos nesta fase foram (ver Figura 5): • Estabelecimento do contexto sócio-técnico: habitação, produção, água; • Estabelecimento de processos governo/ONG/comunidade; • Incentivo para o desenvolvimento do projeto. A pesquisa empírica incluiu trabalho antes e após a visita ao local. Trabalhos anteriores incluíram pesquisa de literatura, estudos do local e todo o tipo de registros que documentam o status dos locais no estudo, bem como a necessária formação dos sujeitos. Posteriormente, o trabalho esteve ligado ao processamento e análise das informações recolhidas no campo. 21. Habitação para população urbana de baixa renda Ur RUMO À NOVAS COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS: Vitória, Brasil - HMW-Project Studio Regulamentação e Políticas HISTÓRIA RELEVANTE ÀS POLÍTICAS HABITACIONAIS NO BRASIL, VITÓRIA & FAVELAS Hanka Krismanski, Malin Praktiknjo, Elena Scherer 1850 1900 1950 2000 2015 1891: República dos Estados Unidos do Brasil 1964: Regime Militar 1964: Lei no. 4.830 1947: Movimento Economia e Humanismo 1946: Fundo para habitação social, “Fundação da Casa Popular” 1964: Banco Nacional da Habitação 1988: Orçamento participativo 1970s-1980s: Crescimento das Associações de Moradores 2001: Estatuto da cidade 1985: Abertura Democrática 1986: “Caixa Econômica Federal 1996-2005, Vitória: Terra 2006, Vitória: Terra Mais Igual 2003: Bolsa Família (Transferência Condicional de Renda) Fome Zero 2011-2014: Programa de Aceleração do Crescimento - PAC2 2007: Minha Casa Minha Vida 2007-2010: Programa de Aceleração do Crescimento - PAC1 1988: Constituição inclui o direito a cidade Art. 18 Art. 26 Art. 204-227 2003-2011: Presidente Luís Inácio Lula da Silva Estado Brasileiro Leis Sociedade Programas para Desenvolvimento Urbano & Combate a Pobreza Pesquisa sobre políticas habitacionais nas Favelas. Fonte: P. Alfaro d’Alençon (Figura 4) 22. Habitação para população urbana de baixa renda A ênfase principal do trabalho de investigação baseou-se na ideia de ma- peamento de atores e processos em São Benedito. Esta pesquisa prepararia o terreno para entender como uma abordagem de comunidade sustentável seria possível. Esta fase também foi acompanhada pelo estudo de casos de referência e melhores práticas relacionadas a estratégias de melhorias em favelas, com ênfase particular para o desenvolvimento do espaço público e trabalho comunitário. 2- O trabalho de projeto incluiu o projeto arquitetônico de grupos de casas, com consideração de suas qualidades urbanas, as necessidades das famílias que as habitam e os requisitos de materiaisde construção a partir de materiais reciclados. Nesta fase, o trabalho foi baseado na metodologia de arquitetura reflexiva/prática de projeto urbano. Durante a fase de integração, o trabalho específico foi desenvolvido para integrar a proposta arquitetônica dentro da abordagem multidisciplinar, considerando e informando decisões técnicas e aumentando a sua relevân- cia e aceitabilidade nas comunidades locais: • As características sociais e as necessidades da comunidade já estavam documentadas pelo município e outras instituições; • A gestão urbana deve ser parte de uma estratégia de intervenção urbana integrada; • As casas e o projeto conjunto devem ser revistos e adaptados às conclusões de campo. A tentativa de integrar a proposta arquitetônica em uma abordagem multidisciplinar foi assegurada pela apresentação planejada para a rede de parceiros do projeto Housing – Manufacturing – Water e também para a comu- nidade local e os principais atores. 1.2.1 Estudos de campo e investigação empírica CONTEXTO DE SÃO BENEDITO As áreas montanhosas da cidade de Vitória foram urbanizadas com fa- velas, que constituem mais de 70% do território da Ilha de Vitória. A oferta de infraestrutura e saneamento, o acesso de pedestres e veículos e a estabi- lidade dos edifícios eram os principais pontos de dificuldade. No início os habitantes urbanizaram a ‘‘selva’’ e até espaços como caminhos e escadas foram feitos por autoconstrução. 23. Habitação para população urbana de baixa renda nov/2012 mar/2013 mai/2013 set/2013 21 à 28 de Março, 2013: Viagem de Campo, Vitória, Brasil 1- Estabelecimento de moradia, produção e água, num contexto social e técnico; 2- Fundação de processos com o governo/ONGs e comunidade; 3- Encorajamento para o desenvolvimento de projetos. Abordagem comunitária sustentável. Estudos de campo Pesquisa empírica e mapeamento de atores e processos Estudos de Discusos e Melhores Práticas DESIGN I DESIGN II Abordagem integradora 29 de Março à 17 de Abril, 2013: Pesquisa I - Sobre Vitória e o Desenvolvimento na América do Sul 18 de Abril à 09 de Maio, 2013: Pesquisa II - Sobre Desenvolvimento em pequenos grupos 10 de Maio à 13 de Junho, 2013: Design: Desenvolvimento de design para São Benedito em pequenos grupos 14 de Junho à 11 de Julho, 2013: Integração e Gerenciamento: Trabalho individual nos desafios de planejamento e construção 25 de Julho à 27 de Julho, 2013: Conferência: TU Berlin 13 de Julho, 2013: Apresentações: TU Berlin - ISR & A Tópicos Métodos Encontro com representantes da comunidade em nível local e nacional. Levando São Benedito à uma análise situacional Levando Vitória à um estudo de desenvolvimento integrado de três áreas e padrões de comunidade Panorama com assentamentos incrementados & FAVELA Renovação urbana reassentamentos, conservação, abordagem integradora Período Atividades Reconfiguração do desenvolvimento e produção dos assentamentos comunitário sem Estudos de Caso e Melhores Práticas. Um catálogo de medições para São Benedito. ...como um estudo para padrões integradores da comunidade Input: Movimentos Sociais e Roformas Urbanas - o impacto de Coletivos Populares nas políticas Urbanas Prof. Sandoval, São Paulo 21/05 HU Berlin Think and Drink Input: Moradia para população de baixa renda - Redes locais e globais Samsook Boonyabancha 30/05 TU Berlin Input: Ruas limpas no Rio? Luiz Täufer 06-06 Weltfriedensdienst e.V. Aula de Aprendizagem: Instalações sanitárias 06/06 TU Berlin Propostas arquitetônicas, de design urbano, de produção e saneamento para habitação e infraestrutura (saneamento e mini-fabricação) Escala de tempo: compreendendo atores & processos no desenvolvimento de São Benedito. Fonte: P. Alfaro d’Alençon (Figura 5) 24. Habitação para população urbana de baixa renda RESISTÊNCIA E CONSOLIDAÇÃO DOS ASSENTAMENTOS ESTRUTURA DE GESTÃO ATORES NO PROCESSO Aprendemos que através das lutas dos movimentos sociais, essas regi- ões foram integradas na agenda de políticas públicas, por exemplo, com o “Projeto Terra Mais Igual”, que tem sido ativo e é gerido pela Prefeitura da cidade de Vitória desde 1998. O Projeto Terra representa uma tentativa de implantar um conjunto de ações integradas e multissetoriais que, para atin- gir seus objetivos, inclui elementos das características físicas do território até a inclusão social e de gênero. Em 2001, o Projeto Terra tinha fornecido com êxito melhorias para 75% da população-alvo em 9 das 15 áreas designa- das. Mas é também a forte organização da comunidade de São Benedito em si, que faz deste bairro um lugar de consolidação dos assentamentos. Também aprendemos sobre os conceitos de gestão e estratégias de ação onde “o direito à cidade” foi desdobrado para baixo em gestão e financiamento. O Projeto Terra, por exemplo, fez um esforço constante para romper com a tradicional separação de atividades e investimentos por meio de uma abordagem integrada que incluía todos os vários elementos – econômicos, urbanos, ambientais, sociais e posse da terra – que uma iniciativa deste tipo e grau de complexidade exigem. Para obter o melhor uso dos recursos exis- tentes e eliminar a tradicional hierarquia de atividades e de fundos públicos, o projeto procurou articular e mobilizar as diversas agências que compõem a estrutura interna do poder executivo Municipal, parcerias com agentes organizados da sociedade civil e as comunidades envolvidas, em quatro ver- tentes: urbana, social, ambiental e aspectos de terra. Ele não está preocupa- do só com a regularização de terras, mas com o investimento em formação, emprego, renda, amplitude do ambiente e habitação. Também é evidente que o programa não promove a remoção ou o deslocamento compulsório de populações de suas localidades. Os recursos são fornecidos pelo governo do estado, com um custo simbólico para os residentes. Aprendemos também que havia parceiros importantes, além da organização pública, que incluíam universidades e várias ONGs. Vale ressaltar alguns atores adicionais tais como o Living Lab Habitat com os seus princípios de desenvolvimento de novas soluções para os pro- blemas da vida real, em um contexto da vida real. Ele representa uma pers- pectiva orientada para o usuário que se baseia em co-projetar, onde usuários e desenvolvedores trabalham ativamente juntos. 25. Habitação para população urbana de baixa renda Projeto terra mais igual Estratégias de intervenção em Vitória Projetos atuais Projetos anteriores Áreas de trabalho Localização Período Dimensão Atores Estado Iniciativa privada Associações Principais objetivos Poligonais - Vitória A ONG Associação Ateliê de Ideias é uma organização social que tem como objetivo produzir tecnologias sociais e soluções para o desenvolvi- mento local em áreas urbanas. Foi fundada em 2003 e tem já conseguido resultados valiosos e recebeu prêmios nacionais e internacionais. Campo de Trabalho Projeto terra mais igual. Fonte: P. Alfaro d’Alençon. (Figura 6) 26. Habitação para população urbana de baixa renda anexo dois: Banco Comunitário de São Benedito. Fonte: P. Alfaro d’Alençon. (Figura 7) Mulher, casada, 3 filhos 1º Crédito Problemas Conjugais Intervenção Comunitária 2º Crédito para comprar material para um sala de depilação. a assembléia de moradores decidiu ajuda-la, já que era uma situação que não estava em seu controle. para começar novamente, tem que pagar ambas as dívidas. Usos do empréstimos Heraldo Rodriges da Silva dono de pequeno comércio 55 anos. 1º Crédito Reembolso 2º Crédito Ainda está pagando para construir sua loja na favela. com o dinheiro que recebeu. para aumentar a loja. com o dinheiro de seu lucro. Linha do tempo de Bancos Comunitários 103 outros bancos comunitários no Brasil Sistema em comum com outros 11 bancos no Espírito Santo 2005 em Vitória, Moeda: Girassol 2008 em Vila Velha, Moeda: Moeda Verde Reciclagem de materiais em troca de dinheiro comunitárioinspira -Ajuda varejista a conseguir melhores preços em grandes quantidades de mantimentos; -Ajuda na limpeza de pontos viciados de lixo; 2005 em Vitória, São Benedito Moeda: Bem apoio governamental caixa/caf (banco federal) senaes acordo entre bancos tradicionais e comunitários 1961 - Dias atuais a população pode pagar as contas de água ou eletricidade com a moeda social e o banco repassa o dinheiro às empresas em reais (secretaria nacional de economia solidária) met (ministério do emprego e trabalho) Banco do Bem Banco Sol Banco Verde 1º Banco Comunitário Banco Palmas Localização Período Dimensão Atores Principais objetivos Banco do Bem Banco comunitário Leonora Mol - Psicóloga “O objetivo de uma moeda social é enco- rajar as pessoas a usar dinheiro dentro da própria comunidade e contribuir com o desenvolvimento da economia local.” 27. Habitação para população urbana de baixa renda precisa de dinheiro,vai a um banco comunitário Usos do empréstimos pede por crédito dinamiza economia local habitante da favela, membro comunitário banco comunitário -gera empregos -renda para comércio local -pertence à comunidade 1 crédito: 50 girassol reais: o crédito pode ser concedido em reais se o projeto necessitar de recursos externos à comunidade não / empréstimo rejeitado sim / empréstimo aprovado a pessoa consegue dinheiro para realizar seu projeto não consegue pagar quitar o empréstimo -sem juros; -mesma quantidade de dinheiro. uso do dinheiro -para trabalho: comprar material para criar um pequeno emprego; -para construir algo ou reformar sua casa; -para viver: comprar comida, etc. associação de moradores decide se a pessoa merece o empréstimo ou não creditar os requerimentos -as pessoas tem que usar seu crédito para criar um novo emprego; -comprar e consumir na favela; -empregar mão-de-obra local. Hilma Soares Faria Uma das costureiras que criou o banco do bem. Pesquisa sobre espaço público, São Benedito. Fonte: P. Alfaro d’Alençon (Figura 8) 28. Habitação para população urbana de baixa renda 1.2.2 Principais conclusões: pressupostos para a próxima fase do projeto Após o estudo de grupo sobre o contexto de São Benedito, os objetivos para o projeto foram propostos como uma modernização integrativa e um projeto de intervenção de inovação para os problemas da área, com base na observação direta e compreensão das condições locais. DEFINIÇÕES QUE SE ENCONTRARAM Encontramos uma base comum com a caracterização das favelas da Associação Brasileira de Favelas para aprofundar as observações propostas para o projeto: “definimos favelas como lugares de emancipação da pobreza, ligados às práticas de resistência e produção pelos pobres. Nenhum ajuste aos padrões urbanos do estado normativo. Há presença do Estado, serviços públi- cos, por exemplo o Projeto Terra. Predominam relações informais para gerar emprego e renda. As favelas são um território com ‘identidades plurais com respeito a existência material e simbólica’.” (Associação Brasileira de Favelas). Deficit específicos e a abordagem integrativa “Housing – Manufacturing – Water” (Habitação – Fabricação – Saneamento): • Habitação: As favelas de encosta das cidades brasileiras comparti- lham bairros com áreas urbanizadas. Estes territórios são de autoconstrução com habitação de baixa renda, onde o desemprego é comum. • Fabricação: Tijolos ecológicos podem oferecer uma alternativa para banheiros de autoconstrução gerando oportunidades de emprego e aumento da renda da comunidade. • Saneamento: Conservação de água potável pode minimizar a falta de água potável e soluções de esgoto improvisadas e oferecer oportunidades para reverter a autoconstrução. Neste sentido, projetos de arquitetura e instalações hidro sanitárias padrão podem oferecer algumas ideias para autoconstrução. Apesar de soluções integrativas caso-específicas estarem sendo desen- volvidas por ONGs, pelo governo nacional e comunidades nas áreas da habi- tação e da produção, ainda existe legislação para o desenvolvimento levando à aplicação cega das regulações de Reabilitação de Favelas nesta área, o que afeta especialmente a falta de gestão de águas na área. Isso implica que uma mudança efetiva em áreas deste complexo urbano pode ser facilitada por abordagens multidisciplinares e intersetoriais trabalhando ao invés de so- luções mono-setoriais. Assim, a rede Housing – Manufacturing – Water traba- lhará junta, já que uma abordagem comunitária eficaz significa identificar 29. Habitação para população urbana de baixa renda Favela Bairro Estratégias de intervenção no Rio de Janeiro VIDIGAL Vias Principais Novas Vias Trasportes Área de esportes Área elevada Área de conveniência Área intermediaria Parque ecológico Área baixa Entrada Espaço público Terreno estável Área de provisões Localização Período Dimensão Atores Estado Iniciativa privada Associações Design Principais objetivos Vidigal - Rio de Janeiro Rio de Janeiro, Brasil 1995 - Dias atuais 253.000 residentes em 168 favelas, orçamento total de $1 Bilhão doação de 30% - união Europeia, 70% de doação do Banco Internacional do Desenvolvimento Jorge Mario Jáuregui Arquitetos reorganizar e consolidar textura; dar caráter para pertubações; fortalecer e/ou criar novas centralidades; incorporar investimentos anteriores. Favela Bairro – Estratégia de Intervenção no Rio de Janeiro. (Figura 9) 30. Habitação para população urbana de baixa renda Desenvolvimento Espaço Público Espaço público Diferentes partes de Medellín, Colômbia Moradores das favelas Intervenção (Medellín) Projeto exibido Localização Data Arquiteto do Projeto Fundadores Una Cancha Muchas Cancha Cidade da Guatemala Outubro de 2011 Buró de Intervenciones Públicas Achitecture for Humanity e Nike Inc. Criando sinergias entre duas funções Falta de espaço público A violência tem consequências terríveis, e uma delas é que a sociedade se divide em grupos menores. Ao invés de se tornarem ci- dadãos, acabam temendo uns aos outros. Para tornar as pessoas mais próximas existe a necessidade de criar espaços de convivência públicos. O Projeto Urbano Integral desenvolvi- do, além dos novos meios de transporte público, bem como novas praças, espaço público e parquinhos para as crianças, por um lado, e por outro lado prédios públicos como o centro de saúde, bibliotecas, quadras poliesportivas, centros econômicos, entre outros, com o objetivo de agregar valor às favelas e enriquecer a vida dos moradores. Esse tipo de intervenção são uma forte ajuda no combate à violência. estratégias para remodelar o ambiente construído existente com base nos atores que integram a comunidade e outros atores relevantes. Isto signifi- ca uma abordagem abrangente, com base em um projeto de melhoria, com substancial apoio da comunidade e do processo de desenvolvimento urbano. anexo três: Pesquisa sobre o espaço público, Medellin. Fonte: P. Alfaro d’Alençon (Figura 10) 31. Habitação para população urbana de baixa renda Combinando duas funções - população com muitos adolescentes: 20,4% com idades entre 7 e 15 anos 61% entre 16 e 55 anos, ou seja, em idade produtiva. 14.79m5.27m 29.6m 14,4% 20,4% 56,5% 8,7% Projeto Urbano Integral em Medellín Biblioteca Espanha - Mazzanti Arquitetos Projeto infraestrutural com a inclusão de novos espaços públicos Antes da intervenção Depois da intervenção Isto deve assumir a forma de envolvimento direto nas decisões técnicas e o desenvolvimento de um modelo de financiamento social durante todo o desenvolvimento do projeto que eventualmente iria apoiá-lo. Neste contex- to, as etapas a seguintes foram definidas para o desenvolvimento: 32. Habitação para população urbana de baixa renda • Uma fase de pesquisa e projeto, em que soluções técnicas social- mente adequadas serão investigadas, projetadas e desenvolvidas, e; • Uma fase de integração e projeto de gestão em que a implemen- tação das soluções precisa ser negociadae acordada com outros atores envolvidos nas decisões. Os resultados esperados foram articulados para estabelecer e estudar os fatores relevantes para uma intervenção com base em uma documentação abrangente e rigorosa. Uma estratégia para uma intervenção de melhoria em uma escala de projeto urbano implica a consideração de suas qualidades urbanas, as necessidades das famílias e requisitos gerais dos materiais. O resultado final é desenvolver uma proposta crítica que seja aceita pelas co- munidades locais e que seja financeiramente viável. ConcretoEternit Pedras Material reciclado vidro, tijolos, metal, madeira água da chuva, calha, cisterna Tijolos tijolos de marcação vertical Plástico Documentação do Material Disponível - São Benedito PADRÕESQualidades materiais nas favelas e moradias Madeira 33. Habitação para população urbana de baixa renda Pesquisa sobre o espaço público e áreas comunitárias. Fonte: R. d’Alençon (Figura 11) 1.2.3 Trabalho Projetual Como na maioria das favelas no Brasil, pessoas em São Benedito tem que lidar com problemas que estão dificultando a vida diária. As soluções foram dadas sem qualquer tipo de financiamento, sem assistência técnica e construídas fora da lei. A fase de projeto objetivou desenvolver medições integrativas e interven- ções para melhorar a área de São Benedito, abordando diferentes níveis de desenvolvimento em habitação, espaço público e nível comunitário. O “catálo- go de medições para São Benedito” sugerido abrange cinco tópicos principais. CONECTIVIDADE COM A CIDADE FORMAL E INTERCONECTIVIDADE A área ao redor da colina sobre a qual São Benedito está localizado é organizada ao longo de ruas que formam anéis. O anel exterior é acessível ao tráfego motorizado e define a fronteira entre a parte inferior formal da ci- dade e os bairros informais na colina onde as ruas são estreitas e íngremes. Esta situação leva a condições complexas relativas à logística e à conectivi- dade que impede a melhoria dos processos de produção na área. A base para um desenvolvimento positivo de São Benedito será melhorar e simplificar a ligação entre o bairro e a cidade de Vitória. Conectando-se à principal praça de São Benedito com a parte inferior do bairro vai garantir uma acessibi- lidade fluente para todos os habitantes a qualquer hora do dia. Ao mesmo tempo, isto criará nova comunicação e praças públicas, ao longo do novo caminho que convidarão as pessoas do bairro, e também da cidade, para o diálogo. O potencial para atividades produtivas vai aumentar. O projeto sugere uma rede de jardins, praças e pequenos parques ao longo da linha da estrada de ferro funicular para melhorar a produtividade e a qualidade da 34. Habitação para população urbana de baixa renda estadia na área. As casas ao longo do caminho novo, especialmente nas no- vas praças serão melhoradas e ganharão áreas rentáveis para serem usadas como varejo ou escritório. MODERNIZAÇÃO DO PARQUE HABITACIONAL EXISTENTE A falta de conhecimento público sobre construção e a falta de planeja- mento urbano realizado por políticos leva à informalidade das construções. A fim de melhorar a construção nas favelas, o projeto propõe a elaboração de um “catálogo de construção sustentável” que detalha materiais e sistemas construtivos em escala de habitação em conjunto com “atividades de baixo para cima”. O catálogo permitirá desde melhorar as casas em suas proprie- dades estruturais (impermeáveis, acústicas e térmicas) ou apenas melhorar a estética das moradias até a revitalização do espaço público como uma comunidade inteira (escala urbana). Além disso, a estratégia social imple- mentará na Comunidade de São Benedito uma rede do conhecimento com diferentes atores. Fomentar o empreendedorismo com a rede de fabricantes especializados de materiais de construção permite profissionalizar as pes- soas nesta área. O catálogo vai ajudar a criar a estrutura social inteligente, desenvolvendo a comunidade de São Benedito de maneiras diferentes: edu- cação, criação de emprego, oportunidades de terceirização, relações com a comunidade, melhorias na habitação, desenvolvimento de infraestruturas e a criação de uma sociedade avançada. FORTALECIMENTO DAS COMUNIDADES A vida de uma comunidade precisa de um hub, um centro. Não é me- ramente um espaço público, mas uma ferramenta para o desenvolvimento comunitário. Este centro também pode ser visto como a entidade física que é instrumental no apoio ao desenvolvimento da comunidade, que é parte in- tegrante das estratégias de melhoria de favelas. O projeto sugere um centro comunitário em São Benedito que pode ser construído pela própria comuni- dade sob a orientação de profissionais. Ele deve ser um lugar de identidade, o que pode ser fortalecido por um edifício autoplanejado e autoconstruído. Esta sugestão pode ainda ser adaptada às necessidades da comunidade. O primeiro passo no desenvolvimento do lugar para a comunidade não é a construção do edifício, mas a ocupação (simbólica) do local. Isso poderia ser combinado com uma limpeza da área e uma primeira pequena intervenção. Após a ocupação, o espaço aberto deve ser desenvolvido. Ele já poderia ser usado como um lugar de reunião pública, sem qualquer tipo de construção. O centro deve ser um espaço de auto-organização da comunidade. 35. Habitação para população urbana de baixa renda Técnicas de construção O alicerce • Casas diretamente conectadas ao chão; • Estrutura de pilotis de madeira ou concre- • Usado para depósito de canos. Problemas: muito vulnerável a deslizamentos e chuvas intensas; a população não possui formação técnica para construir; cria espaços para re- síduos (lixo, desocupação, etc). Paredes Construções de alvenaria Materiais: Principalmente tijolos, concreto como ma- terial de preenchimento, pedras, cimento 2 tipos de construção: • Construções espontâneas (material encon- trado no local, bem heterogêneo). • Casas m ais estabelecidas ( materiais m ais caros, tijolos e concreto). “Tijolo de Lego” Construção tradicional de tijolos. Telhados • Eternit, algumas vezes sustentado por tijo- los sem nenhuma conexão com as paredes; • Facilmente removível para a construção de uma nova casa acima; • Terraços de concreto; • Estrutura de ferro aguardando nova cons- trução no topo da casa. 6,5 cm 12,5 cm 25 cm Plano Dentro Fora 140 CM Fila •preenchida •lintel Pesquisa sobre padrões construtivos. Fonte: P. Alfaro d’Alençon (Figura 12) SEGURANÇA E REIMAGINAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO O conceito tenta trabalhar as diferentes necessidades dos moradores do Território do Bem. Para isso, a proposta é dividir toda a área em partes diferentes com base em estudos funcionais e sociais. Cada bairro tem suas próprias características e necessidades. Tendo em conta essas necessidades, diferentes intervenções com propósitos diferentes podem ser feitas em cada bairro. Essas intervenções têm dimensões e fundos estruturais diferentes: 36. Habitação para população urbana de baixa renda ABORDAGEM DE FOCO INTEGRATIVO O Território do Bem tem vários problemas de água: falta qualidade na água potável e há escassez de água. Como uma abordagem para resolver os problemas de água, o projeto propõe o método de colheita de água de chuva em um modelo de dois estágios. Durante o primeiro estágio, a água coletada será fornecida para a cidade de Vitória para irrigar hortaliças pú- blicas, e no segundo estágio ela será dedicada à comunidade do bairro sendo usada para descargas. Junto à quadra de futebol o espaço comunitário, o “Rainwater Court”, implementa um novo espaço para várias funções na área que se beneficiam mutuamente. O “Rainwater Court” também é um lugar para educar-se e aumentar a consciência dos moradores sobre as questões relacionadas com a água. Para implementar estas medidas e intervenções são necessários vários instrumentos. A comunidade, parceiros locais, ONGs e a Prefeitura da Cidade de Vitória são diferentes partes interessadas no processode construção. Sinergias entre empresas produtoras locais e de materiais, bem como mão de obra local serão usadas para atender às necessidades da Comunidade. planejamento exterior, arquitetura, melhoria das infraestruturas, inter- venções econômicas e assim por diante. Para descobrir o que é apropriado, qual é a intervenção necessária em cada bairro, os moradores do território foram envolvidos no processo de estratégias de desenvolvimento urbano. Cidadãos de diferentes partes do território foram questionados sobre as atuais estruturas urbanas e sociais em seus bairros. Com esta informação podem ser feitas intervenções específicas e individuais e a qualidade de vida nas favelas pode ser melhorada. Conectividade com a cidade formal e Interconectividade (C) Incremento do já existentes parques habitacionais (UP) Instalações Construções suplementares Banco de materiais Catálogo de medidas para São Benedito 37. Habitação para população urbana de baixa renda Fortalecimento das comunidades (SC) Segurança e re-imaginação do espaço público (S&P) Integração Focal (AII) Construções autônomas Percepção de segurança Uso de água Produção Catálogo de medidas para São Benedito cobrindo cinco tópicos. Fonte: P. Alfaro d’Alençon (Figura 13) 38. Habitação para população urbana de baixa renda Cidades Latino Americanas e desenvolvimento • Alfaro – d’Alençon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. • Dematteis, Ciudad anglosajonas y ciudades latinas, In: Urbanitats,4, 1996 • Dohnke, J. 2011. In: Alfaro – d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. • Hastings, I. 2011. In: Alfaro – d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. • Janoschka, M. 2011. In: Alfaro – d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. • Negrete, Las metrópolis latinoamericanas en la red mundial de ciudades: megaciudades o ciudades globales?, 2006 • Urbanization and global change, 2012. • Söhlemann, C. 2011. In: Alfaro – d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. • Thung, T. 2011. In: Alfaro – d’Alencon, Imilan, and Sánchez. Lateinamerikanische Städte Im Wandel: Zwischen Lokaler Stadtgesellschaft Und Globalem Einfluss. 1., Aufl. Lit Verlag, 2011. Favelas (up-grading) • Gilbert, The Return of the slums: Does language matter?, In: International Journal of Urban and regional Research, 2007 • Davis, Planet of Slum, In: New left review 26, 2004 • Informal Toolbox, Slum lab Paraisopolis – Oficina de ideias traduzido, SLUM LAB Paraisopolis, 2008 1.3 Referências Bibliográficas 39. Habitação para população urbana de baixa renda • Köhler, Megacities ohne Slum, http://www.alumniportal-deutschland.org/ nachhaltigkeit/soziales/artikel/megacities-slums-stadtplanung.html, (03.2013) • Moreira, Housing improvement program: increasing space quality inside Brazilian consolidated slums, In: Annual World Bank Conference on Land and Poverty, 2013 • Rao, Vyjayanthi. 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Áreas pequenas, baixa qualidade de construção, infra- estrutura insuficiente são as críticas recorrentes, junto de uma segregação espacial em escala urbana. Durante anos, uma característica muito sugestiva da questão permane- ceu negligenciada: o processo no qual as habitações são em grande parte cons- truídas pelos habitantes, com o que é fornecido pelo sistema ou apesar dele. Recentes políticas chilenas no sistema de subsídio incluem a construção incremental como uma questão relevante, ainda que um grande potencial para melhorar esse processo a partir de sua própria natureza de ser simultaneamen- te um processo de construção e de habitação permaneça aberto à exploração. 2.1 Introdução Uma das principais questões quando se discute o problema da habitação para a população de baixa renda no Chile é a extensão da cidade. Em um crescimento explosivo, Santiago quase dobrou sua área entre 1980 e 2000 (Figura 14). A maior parte desse crescimento foi, de fato, devido à constru- ção de soluções de habitação de para os segmentos mais desfavorecidos da população, com uma crescente classe média-baixa que se desenvolveu subs- tancialmente nos últimos vinte anos de crescimento econômico, em uma média de 5% a 7%. “No entanto, este tipo de produção em massa, contratada em licitação pelo preço mais baixo, tem levado à repetição sistemática de estruturas de habitação na periferia da cidade. Para submeter uma proposta competitiva, os empreiteiros procuram terrenos de menor preço, geralmente na periferia. O Governo apoiou o desenvolvimento habitacional na periferia flexibilizando a regulamentação do uso da terra, assumindo que o mercado alocaria o uso da maneira mais eficiente e socialmente benéfica. Consequentemente, as habitações sociais contratadas pelo governo entre 1974 e 1993 transformaram mais de 4.000 hectares de terras agrícolas para usos urbanos” (Rojas, Greene, 1995). 42. Processos habitacionais e qualidade Juntamente a expansão da cidade, a segregação produzida pela busca de terras mais baratas também é relevante. Particularmente na década de 80, no início do processo, famílias foram expulsas de suas moradias, relati- vamente atraentes em termos comerciais, para áreas mais baratas na peri- feria da cidade (Figura 15). Esse processo consolidou-se nas últimas décadas e ainda que bairros de renda mais elevada consigam ultrapassar algumas áreas próximas – com considerável estresse social na mudança de comuni- dades como Peñalolén, por exemplo, Santiago é uma cidade econômica e socialmente muito segregada (Figura 16). 1Três períodos de Santiago: 1950 / 1980 / 2000 Fonte: Greene & Rojas, 2008. (Figura 14) 2Erradicação de famílias mais pobres de áreas maiscaras para mais baratas. Fonte: MINVU (Figura 15) 3Tamanho médio de casas e apartamentos em Santiago. Fonte: MINVU (Figura 16) 2.2 O sistema chileno de subsídio: velho e novo Em paralelo à problemática do desenvolvimento urbano desencadeado pelo sistema subsidiado, a Política de Habitação Chilena realizada desde o final dos anos oitenta é reconhecida por ser bem sucedida na oferta de casas para os menos afortunados, pelo menos em termos de quantidade. Durante os últimos 20 a 25 anos, o sistema foi capaz de reduzir substancialmente o deficit habitacional. Entre 1990 e 2000, a redução tinha alcançado 19%, de 900.000 para 750.000 famílias em “deficit quantitativo” e 36,8% em ”deficit qualitativo” de 650.000 a 400.000 famílias. Isto tem sido conseguido à custa de unidades tão pequenas quanto 35 m², localizadas em áreas periféricas da cidade menos equipadas e pior ser- vidas, entregues por empresas privadas competindo em licitações por con- tratos com pequenas margens de lucro com padrões mínimos de qualidade, comprometendo assim a qualidade final das unidades. 1 2 3 43. Processos habitacionais e qualidade O PRIMEIRO MODELO DE “HABITAÇÃO BÁSICA” A versão original do sistema de subsídio foi um subsídio orientado pela demanda de cobertura mínima de 25% incluindo um subsídio fixo (15%) + poupança fixa (10%). Os outros 75% (para as casas mais caras no preço máxi- mo) eram cobertos pelo governo ou empréstimo privado com um tempo de retorno entre 12 e 20 anos. O requisito básico para candidatar-se era não ter uma propriedade (Mideplan, 20011): “Os programas de habitação social, produzidos pelo MINVU a partir dos anos 1970, assumiram duas formas básicas – o Programa de Habitação Básica (PHB) que permitia a compra de uma casa construída financiada com a poupança das famílias de baixa renda e uma subvenção pública (variando de 15 a 45 do valor em casa) sob a forma de um voucher e de um empréstimo governamental; e o Pro- grama de Melhoria do Bairro (PMB) que legalizou e forneceu infraestrutura para assentamentos informais”. O Ministério da Habitação e Urbanismo tornou-se, portanto, o maior desenvolvedor do país, promovendo e contratando a construção de aproxi- madamente 760.000 unidades entre 1990 e 2000. Anualmente, o Ministério concedeu subsídios para cerca de 70.000 casas em 1999 e 163.000 até 2012. (HABITACIONAL, 2013). O tipo mais difundido de soluções remonta aos anos 80 e 90 e são re- feridos como a “habitação básica”. Três tipologias são características: tipo A, fileiras de casas térreas; Casas tipo B, geminadas, dois andares; Tipo C, blocos de apartamentos de três andares (Figura 17). No entanto, além da quantidade, as realizações do sistema de subsídio são questionadas tanto em termos de desenvolvimento urbano quanto das normas de qualidade para as casas previstas. O mais importante é que alguns aspectos sociais centrais não foram resolvidos pelas novas soluções que, ge- ralmente, enfrentam novos problemas: segregação, desemprego, drogas. Em novos locais, a qualidade da Comunidade anteriormente existente em um as- sentamento informal (no Chile, os chamados campamentos) – talvez por causa de sua precariedade inerente – tende a dissolver-se. As redes sociais cultivadas diante da dificuldade desapareceram sob um individualismo crescente. 1MIDEPLAN, Ministerio de Planificación. Situación Habitacional 2000. Informe Ejecutivo Resultados Preliminares, Santiago de Chile, 2001 (online). Acesso em setembro de 2010. 44. Processos habitacionais e qualidade As pessoas se queixam de falta de solidariedade, organização e motiva- ção neste novo cenário. A falta de espaços públicos de qualidade e comodida- des, a insegurança e falta de controle contribuem para ampliar a percepção de que as novas casas, dificilmente serão apropriadas para os novos mora- dores (Figura 18). A qualidade insuficiente dos padrões das construções aceita pelo gover- no leva à deterioração rápida e mau desempenho das habitações mesmo sob condições normais de utilização, sem contar em condições especiais não tão incomuns: tempestades e terremotos. A rigidez das casas para acomodar a evolução e crescimento que caracterizam estas famílias contribui para a percepção de estranheza na nova situação. 1Casas Básicas Tipo A, B e C. Essas eram as três tipologias construídas durante os anos 80 e 90, sob o sistema de subsídio. (Figura 17) 2O Campamento e a Villa: A vida anterior e a nova vida Desenhos de crianças sobre a vida no Campamento e a nova vida na Villa. Fonte: Rodríguez, 2001. (Figura 18) O Novo Modelo de “Habitação Social Dinâmica” Dados o sucesso quantitativo e os problemas do sistema, as autoridades do Ministério reconheceram no final da década de 90 que o programa se tornara desfocado ao longo do tempo, especialmente para atingir famílias de baixa renda. Ou seja, embora na concepção dos vários programas a popu- lação-alvo tenha sido corretamente identificada, na prática não foram ne- cessariamente os mais pobres os destinatários dos benefícios dos subsídios. Como resultado dessa avaliação, uma nova política foi projetada em 2000 e 2001, a chamada “Nueva Política Habitacional” (nova política de habitação) que começou a ser implantada em 2002 e coexistiu com a política anterior de Habitação Básica entre 2003 e 2004. O programa principal da nova política foi chamado de “Dinámica de Vivienda Social sin Deuda”, VSDsD (“dinâmica de habitação social sem dí- vida”, em português), que dobrou o montante do subsídio, comparado com o programa básico de habitação, de 140 a 280 UF. Além disso, condições de 21 45. Processos habitacionais e qualidade Resumo comparativo da Habitação Básica e do VSDsD. Preços em dólares americanos de 2002, ano da mudança da velha para a nova política. Fonte: MINVU. (Tabela 1) acesso mais específicas visaram dar acesso aos segmentos mais pobres da população (os 30% mais pobres) da população. O mais importante, a políti- ca reconheceu que nestes grupos a população tinha limitada capacidade de pagar seus empréstimos e os subsídios foram projetados para que os preços das casas fossem completamente cobertos pela poupança das famílias e o subsídio do estado. Duas modalidades foram implantadas para destinar os recursos: por meio de contratação direta pelo Ministério (usado em casos específicos) e por meio de um fundo para ser usado pelas famílias em grupos, que ficou conhecido como “Fondo Solidario de Vivienda” (FSV, “fundo solidário de ha- bitação”). O FSV tornou-se, desde então, o programa vigente. É um esforço colaborativo, envolvendo a comunidade para desenvolver um complexo ha- bitacional, baseado em uma unidade mínima que se baseia principalmente na extensão futura das casas a fim de entregá-los sem uma hipoteca a pagar. Ele permitiu a entrega de casas com base em pedidos de subvenção em gru- pos (min. 10) com subsídio de 270 UF + 10 UF em poupanças totalizando 280 UF (CLP = 7.000.000.= EUR € 9,000. = USD 12,500. - de 2014) o custo total por unidade, assim evitando para os usuários a necessidade de um emprés- timo completar os pagamentos. A superfície de partida foi reduzida para uma média de 35 m2, deixando sob responsabilidade do usuário o alargamento até pelo menos 50 m2 – e, em muitos casos, completar alguns elementos deixados inacabados na uni- dade de partida – usando os recursos financeiros liberados. Basico Progressivo Progressivo (etapa 2) Dinamico (w/o Debt) Famílias de renda baixa a media com possibilidade de obter financiamento Famílias de renda muito baixa se possibilidade de obter financiamento Beneficiários do PHB (etapa 1): condições de obter financiamento Famílias de renda muito baixa sem condições de obter financiamento 7.500-15.000 3.500 1.750 7.500 n.a. 450 n.a. 3.000 2.500- 3.500 3.300 450- 875 7.250 500 0-200 125 250 3.500-12.000 n.a. 750- 1.175 n.a. Voucher para a compra de uma casa privada desen- volvida nova ou usada Infraestrutura principal (electricidade, água,
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