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Teoria geral do processo - Aula 6 - Organização judiciaria brasileira

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Teoria geral do processo
Aula 6: Organização judiciaria brasileira 
Órgãos que compõem o sistema judiciário nacional 
A Constituição Federal, em seus art. 92 a 126, determina os órgãos integrantes do Poder Judiciário Nacional, ao qual corresponde precipuamente o exercício da função jurisdicional.
Por força do art. 125, caput, da CF, cabe aos Estadosmembros, por meio das respectivas Constituições e leis de organização judiciária, dispor sobre a organização judiciária estadual, obedecendo aos princípios e às regras da Lei Maior.
As normas ditadas pelos Estados deverão observar ainda as diretrizes fixadas pelo Estatuto da Magistratura (art. 93 da CF). No entanto, enquanto este não for aprovado, referidas diretrizes devem ser buscadas na Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LC n. 35/79), que continua vigendo e desempenhando, por ora, o papel do Estatuto da Magistratura.
Embora a função precípua do Poder Judiciário seja a jurisdicional, também lhe são afetas algumas funções de natureza legislativa (por exemplo: Elaboração de regimentos internos pelos tribunais) e administrativa (realização de concursos públicos para provimentos dos cargos da magistratura). Ao conjunto de atividades desempenhadas pelo Poder Judiciário no exercício de suas funções costumase denominar atividade judiciária.
Direitos fundamentais
Ainda que o Poder Judiciário não possua a importância política dos demais poderes, ocupa um lugar de destaque na defesa das liberdades e dos direitos individuais e sociais, os quais, de modo corrente, têm sido alvo de grandes omissões e até mesmo agressões pelo Poder Executivo.
Em razão da relevância deste terceiro poder para a efetivação ou correção da realização imperfeita dos direitos fundamentais, a doutrina moderna tem unido esforços para impulsionar um movimento de ascensão do Poder Judiciário com base nas suas características e garantias, atribuindo maiores responsabilidades aos seus integrantes, visando a concretização das garantias fundamentais para, dessa forma, assegurar a vontade constitucional.
Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
No intuito de preservar o objetivo e a missão constitucional do Poder Judiciário, bem como prevenir desvios de conduta e reprimir atos ilícitos, foi idealizado o controle “externo” do Poder Judiciário, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça, instituído pela Emenda Constitucional n. 45/2004.
Tratase de um órgão colegiado composto por 15 membros (incluindo membros do MP, advogados e cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada), nomeados pelo Presidente da República, aos quais compete, dentre outras funções não jurisdicionais, o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, além de outras atribuições conferidas pelo Estatuto da Magistratura (art. 103B, § 4º, da CF).
O CNJ é presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal; os membros são nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
Funcionará um Corregedor perante o CNJ, o qual será sempre um ministro do STJ. Ainda oficiarão junto ao Conselho o ProcuradorGeral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (art. 103B, § 6º, da CF).
O CNJ, ao lado das Ouvidorias de Justiça (art. 103B, § 7º) e das Escolas da Magistratura (art. 93, IV), serve como órgão de controle e aperfeiçoamento do Poder Judiciário.
Comentário: À exceção do CNJ que, como visto acima, possui função administrativa e regulamentar, no Brasil, os órgãos que compõem o Poder Judiciário ocupamse principalmente da função jurisdicional.
Características dos principais órgãos 
O art. 92 da Carta de 1988 nos apresenta os Órgãos do Poder Judiciário:
01- Supremo Tribunal Federal (STF) - Regulado nos arts. 101 a 103, é responsável pelo controle da constitucionalidade das leis – “guardião da Constituição”; é o órgão de cúpula do Poder Judiciário, cabendolhe proferir a última palavra nas causas que lhe são submetidas. Compõese de onze ministros, possui sede na Capital Federal e competência que se estende sobre todo o território nacional, bem como competência originária e recursal (ordinária, art. 102, II, e extraordinária, art. 102, III).
02- Supremo Tribunal de Justiça (STJ) - Constitui inovação da CF/88 (arts. 104 e 105, c), sendo o responsável por promover a defesa da lei federal infraconstitucional e unificador da interpretação do direito, quando haja interpretações divergentes entre os Tribunais de Justiça ou dos Tribunais Regionais Federais.
Compõese de, no mínimo, 33 ministros, possui sede na Capital Federal e competência que se estende sobre todo o território nacional, além de possuir competência originária e recursal. Junto ao STF, funciona como órgão de superposição, já que julga recursos interpostos em processos advindos das esferas estadual e federal.
03- Tribunal Superior do Trabalho (TST) - Contemplado nos arts. 111 e 111A. É órgão de superposição da Justiça Trabalhista e julga os recursos interpostos em causas que já estejam exauridas nas instâncias inferiores. Compõese de 27 ministros (art. 111A, caput, da CF), sua sede localizase na Capital Federal e sua competência se estende sobre todo o território nacional (art. 92, §§ 1º e 2º, da CF).
Além do TST, compõem a Justiça Trabalhista os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho (art. 111 da CF). Compete à Justiça do Trabalho julgar, entre outras causas, os dissídios individuais e coletivos oriundos da relação de trabalho, incluindo ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho e ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho (art. 114 da CF).
Essa Justiça integra a denominada estrutura judiciária especial.
04- Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -  Está previsto no art. 119, tem sede na Capital Federal e jurisdição sobre todo o território nacional (art. 92, §§ 1º e 2º, da CF). É composto, no mínimo, por sete ministros (art. 119, caput, da CF). Suas decisões são irrecorríveis, salvo se contrariarem a Constituição ou se denegatórias de mandado de segurança ou habeas corpus (arts. 102, II e III, e 121, § 3º, da CF).
A Justiça Eleitoral tem estrutura mais ampla, incluindo, além do Tribunal Superior Eleitoral, os Tribunais Regionais Eleitorais, os Juízes Eleitorais e as Juntas Eleitorais (art. 118 da CF), ficando a cargo da Lei Ordinária n. 4.737/65 a distribuição de competência entre seus órgãos.
É uma Justiça sui generis, pois seus membros são tomados “por empréstimo”; não há carreira autônoma e quem faz as vezes do juiz eleitoral é o juiz de direito da Justiça comum estadual (também no exercício de função federal). Tal Justiça disciplina as questões referentes a eleições, partidos políticos, crimes eleitorais, entre outros, e compõe a estrutura especializada discriminada na Constituição.
05- Superior Tribunal Militar (STM) - Regulado pelo art. 123, compõe-se de 15 ministros vitalícios. A Justiça Militar da União é composta por Conselhos de Justiça Militar (órgãos de 1ª instância) e pelo STM. Sua competência se limita a processar e julgar os “crimes militares”, assim definidos em lei, que também disporá sobre sua organização e funcionamento (art. 124, caput e parágrafo único, da CF), não conflitando com o art. 125, § 4º, da CF.
Apenas integrantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) são julgados na Justiça Militar (CJM ou STM). Já os integrantes das Forças Auxiliares (Polícia Militar, Bombeiros) são julgados pela Justiça Estadual (Auditoria da Justiça Militar ou órgão equivalente, dependendo da organização judiciária de cada estado).
Não obstante dispõe, ainda, a CF sobre a possibilidade de criação da Justiça Militar estadual, nos termos do art. 125, § 3º. Ressalva-se, contudo, a competência do júri quando a vítima for civil (art. 125, § 4º, da CF). A Justiça Militar também integra a estrutura especializada.
Lei de Organização Judiciaria
Ressalta-se ainda,que a Organização Judiciária tem natureza preponderantemente administrativa, mas seus temas sempre estão, em algum grau, ligados à dinâmica do processo e do exercício da jurisdição, já que suas normas abrangem não somente matéria pertinente à composição e atribuição de juízos e Tribunais, mas também à constituição da Magistratura, distribuição dos órgãos auxiliares, condições de disciplina do foro etc.
A justiça Federal de primeira instancia é disciplinada pela Lei de Organização Judiciaria Federal (instituída pela Lei nº 5.010 de 1966), ao passo que cada Estado-membro da Federação possui sua própria Lei de Organização Judiciaria. 
A Justiça Federal comum (art. 106 da CF), por sua vez, é composta pelos Tribunais Regionais Federais – inovação da CF/88, que extinguiu o Tribunal Federal de Recursos – e pelos juízos federais de 1ª instância. A composição dos TRFs encontrase prevista no art. 107 da CF, estando sua sede e competência territorial disciplinadas pela Lei n. 7.727/89 (art. 107, § 1º, da CF).
São regionais, podendo compreender mais de uma região geográfica – atualmente há cinco, com sede no Distrito Federal, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Possuem competência originária (art. 108, I, da CF) e recursal (art. 108, II, da CF), para as causas conhecidas originalmente pelos juízes federais (art. 109 da CF). Já os juízos federais de 1º grau são divididos em seções judiciárias, que são agrupadas em regiões correspondentes a cada um dos Tribunais Regionais Federais, com sede nas respectivas capitais (art. 110 da CF).
Seções judiciarias 
As seções judiciárias, por seu turno, podem ser divididas em subseções, o que permite a interiorização da Justiça Federal Comum, contribuindo para o acesso à Justiça pela eliminação de obstáculos de natureza geográfica.
A competência dos juízos federais de 1ª instância deflui do art. 109 da Constituição e se determina, sobretudo, nas “causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho” (art. 109, I, da CF).
Observe-se que, na forma do art. 45 do CPC, caso o processo já tramite perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente.
Exceções: Essa regra, contudo, cede caso se trate de ação
a. De recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho;
b. Sujeita à justiça eleitoral ou à justiça do trabalho;
c. Em que houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo perante o qual foi proposta tal demanda.
Por outro lado, o § 3º desse art. 45 determina que o juízo federal deverá restituir os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for excluído do processo.
Ao lado dos TRFs e dos juízos de 1ª instância, existem os Juizados Especiais Federais (art. 98, § 1º, da CF; Lei n. 10.259/2001). Estes compreendem órgãos de primeira e segunda instâncias (art. 14 da Lei n. 10.259/2001).
A Justiça Estadual comum é estruturada pelos preceitos estabelecidos pela Constituição Federal (arts. 93 a 100 e 125), pela Constituição Estadual (que definirá a competência dos Tribunais), bem como pelas respectivas Leis de Organização Judiciária (art. 125, § 1º, da CF).
É composta pelos Tribunais de Justiça (TJ) – órgãos de 2º instancia – com competência sobre tudo o Estado e situados em sua capital; pelos órgãos de 1º grau, como os juízes de direito; e o Tribunal do Júri, competente para os crimes dolosos contra a vida. 
Juizados Especiais
Ademais, a Constituição Federal facultou aos Estados e ao Distrito Federal, em seu art. 98, a criação dos Juizados Especiais, regulados pela Lei n. 9.099/95, tendo competência civil e criminal, e compreendendo órgãos de 1ª e 2ª instâncias (Turma ou Conselho Recursal, integrado por Juízes e não por Desembargadores).
No âmbito estadual, a partir de 22 de dezembro de 2009, com a Lei n. 12.153, foram previstos os Juizados Especiais da Fazenda Pública para os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, sendo que estes, junto com os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, passarão a integrar o “Sistema dos Juizados Especiais”.
Os Juizados da Fazenda Pública têm competência absoluta para processar, conciliar, julgar e executar as causas cíveis, de interesse dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, cujo valor não ultrapasse 60 (sessenta) salários mínimos, podendo ser réus os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, bem como as Autarquias, Fundações e Empresas Públicas a ele vinculadas (art. 5º).
Comentário: Sobre a nova dimensão da competência da Justiça do Trabalho, após a Emenda Constitucional n. 45/2004, devemos ressaltar que o Supremo Tribunal Federal já vinha reconhecendo a necessidade do alargamento da competência da Justiça do Trabalho, após o advento da Emenda n. 45. Deste modo, a Justiça do Trabalho julgará não apenas ações trabalhistas, mas também relações provenientes desta.
Por exemplo: Discutirá o pagamento de salário e possível dano civil decorrente de emprego. Esse entendimento foi acolhido pelo STJ, levando ao cancelamento da Súmula 366.
Ainda no que se refere à competência das Varas do Trabalho, o art. 652 da CLT foi alterado pela Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Assim, a alínea fpassa a dispor que compete àquela especializada “decidir quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência da Justiça do Trabalho”.
Nesse sentido, a referida Lei inseriu também na CLT o art. 855-B, de modo a regulamentar o procedimento de jurisdição voluntária para homologação de acordo extrajudicial.
Características e funcionamento do sistema dos juizados especiais
Os Juizados Especiais Cíveis, concebidos para a resolução de causas de menor complexidade, visam apresentar ao jurisdicionado uma forma de solução de controvérsias mais rápida, informal e desburocratizada, permitindo que ele consiga buscar, perante o Estado, a solução para o seu conflito de interesses.
Os Juizados Especiais foram criados e inseridos na sistemática nacional por meio da Lei n. 9.099/95, em atendimento à previsão constitucional do art. 98, que determinava a instituição de uma Justiça especializada. Esta, no entanto, foi parcialmente alterada com o advento da Lei n. 10.259/2001, que trouxe a previsão dos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal.
Em dezembro de 2009, a Lei n. 12.153 previu a criação de Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, sendo que estes, juntamente com os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, passarão a integrar o “Sistema dos Juizados Especiais”, uma espécie de microssistema, norteado por princípios que garantem maior celeridade e melhor efetividade da prestação jurisdicional.
Os princípios fundamentais que norteiam os Juizados Especiais estão previstos no art. 2º da Lei n. 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais no âmbito estadual, mas que devem ser aplicados também aos Juizados Federais e da Fazenda Pública, até mesmo porque previstos no art. 1º do Provimento n. 7 dos Juizados Especiais, que define medidas de aprimoramento relacionadas aos sistemas dos Juizados Especiais.
São eles: A oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade, e o estímulo à conciliação ou à transação.
Oralidade
O procedimento dos Juizados Especiais é eminentemente oral, minimizando a burocratização e acelerando a solução de controvérsia, embora na prática os atos processuais acabem sendo estritamente escritos. Pregase a oralidade como princípio, reduzindose ao máximo as peças escritas e as reduções a termos das declarações orais.
A oralidade contribui para acelerar o ritmo do processo e para se obter uma resposta mais fiel à realidade. O contato diretocom os sujeitos do conflito, com as provas e com as nuanças do caso permitem ao magistrado ter uma visão mais ampla diante da controvérsia.
Assim, o pedido da tutela jurisdicional poderá ser feito por escrito ou oralmente (art. 14 da Lei n. 9.099/95), a resposta do réu pode ser oral (art. 30 da Lei n. 9.099/95) e as provas orais produzidas não precisam ser reduzidas a termo (art. 36 da Lei n. 9.009/95).
A oralidade deve, porém, ser combinadas com outros princípios, só podendo existir quando o magistrado que julga o conflito preside a colheita de provas (identidade física do juiz). Ai então será possível ao juiz a recordação do litigio, o que somente ocorrerá se o curso do processo não for interrompido ou, na hipótese de interrupção, que seja por meio de prazos exíguos.
Simplicidade
Outro princípio fundamental é a simplicidade. A compreensão do procedimento judicial é um importante fundamento para aproximar o cidadão da tutela jurisdicional do Estado, e o juizado objetiva facilitar essa compreensão, instituindo procedimento simplificado e facilmente assimilável às partes, em que se dispensam maiores formalidades e se impedem certos incidentes do procedimento tradicional.
Não se admitem nos Juizados Especiais a reconvenção, a ação declaratória incidental ou inúmeros recursos típicos do processo clássico, para se evitar tramites excessivamente formais.
Informalidade
A informalidade também é outra marca dos Juizados Especiais para tornar menos burocrático e mais rápido o processo. Assim, desde que atendidas as garantias fornecidas aos litigantes, todo ato processual deve ser reputado como válido, desde que atinja sua finalidade (art. 13 da Lei n. 9.099/95).
A ação proposta não depende de maiores formalidades além do nome, qualificação e endereço das partes, objeto da pretensão e seu valor em linguagem simples e acessível (art. 14, § 1º, da Lei n. 9.099/95), as intimações podem ser por qualquer meio idôneo de comunicação (art. 19 da Lei n. 9.099/95) etc. O Juizado poderá, ainda, funcionar em horário noturno (art. 12 da Lei n. 9.099/95), desde que recomende a situação específica da comarca do Estado.
Celeridade
As causas submetidas aos Juizados Especiais exigem, ainda, solução célere, garantindo uma resposta tempestiva ao cidadão, para evitar os efeitos do tempo do processo sobre o direito postulado. 
Os princípios da economia processual e da celeridade contribuem para a efetividade do processo, a qual será atingida por meio de uma resposta jurisdicional mais barata e rápida, em perfeita harmonia com a menor complexidade das causas que lhe são submetidas.
Ademais, priorizase a conciliação das partes ou a transação entre elas, como forma de atingir a pacificação social, fim último da jurisdição.
Deve ser ressaltado que os Juizados Especiais Cíveis também estão subordinados à observância dos já estudados princípios do contraditório e do devido processo legal, bem como aos demais princípios fundamentais do direito processual, como a imparcialidade, a persuasão racional e o juiz natural.
Comentário: Com o advento do CPC/2015, diversas questões passaram a ser levantadas, tanto em sede doutrinária como jurisprudencial, acerca de eventuais conflitos abstratos com a sistemática dos Juizados Especiais.
Inicialmente, é preciso dizer que o legislador, por vezes, fez menção expressa aos Juizados ao longo do CPC/2015. Isso ocorre, principalmente, nas seguintes hipóteses:
a. Incidente de desconsideração de personalidade jurídica – o art. 1.062 dispõe que tal sistemática deve ser aplicada aos Juizados, abrindo, aqui, exceção expressa ao comando do art. 10 da Lei n. 9.099/95;
b. Competência para as hipóteses antes ajuizadas pelo rito sumário – o art. 1.063, a seu turno, vai dispor que até a edição de lei específica, os Juizados continuam competentes para o processamento e julgamento das causas previstas no art. 275, II do CPC/73;
c. Interrupção do prazo do recurso principal na hipótese de interposição de embargos de declaração – o art. 1.065 do CPC/2015 uniformizou o tratamento dado ao prazo dos embargos de declaração. Assim, a interposição desse recurso nos Juizados não mais suspende, mas agora interrompe, tal qual ocorre no CPC, o prazo para a interposição do recurso principal.
Enunciados 
Além dessas situações, outras importantes questões que poderiam redundar em potenciais contradições entre o texto do CPC/2015 e a Lei dos Juizados Especiais foram tratadas em diversos Enunciados aprovados pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, aprovados em outubro de 2015.
Nesse sentido, o Enunciado 43 garante a aplicação da sistemática do art. 332 (julgamento liminar de improcedência do pedido) aos Juizados Especiais, notadamente o inciso IV, que deve ser interpretado de forma extensiva para abranger também os enunciados e súmulas dos seus órgãos colegiados competentes.
O Enunciado 44 admite a utilização do IRDR nos Juizados Especiais, que deverá ser julgado por órgão colegiado de uniformização do próprio sistema.
O Enunciado 46 prevê que o § 5º do art. 1.003 do CPC/2015 (prazo recursal de 15 dias) não se aplica ao sistema de Juizados Especiais.
O Enunciado 47 determina que o art. 489 do CPC/2015 não se aplica ao sistema de Juizados Especiais.
Atenção!!: Mas a questão mais delicada é a aplicação ou não dos prazos em dias úteis aos Juizados. Depois de longa discussão, a questão acabou pacificada diante do advento da Lei n. 13.728, de 31 de outubro de 2018, que determinou a inserção do art. 12-A na Lei n. 9.099/95, com o seguinte teor: “Art. 12-A. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, para a prática de qualquer ato processual, inclusive para a interposição de recursos, computar-se-ão somente os dias úteis.”

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