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Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 1 Índice - Direito Coletivo do Trabalho – Direito Sindical Direito Coletivo do Trabalho/ Direito Sindical Origem Etimológica (“Sundike”) Conceito Interesse Público X Interesse Coletivo Origem Colégios Romanos Corporações de Ofício Ordenações de João II, “O Bom” Statutes of Labour Extinção das Corporações Natureza Jurídica O Princípio da Proteção ao Trabalhador é a base do Direito do Trabalho. Entretanto, não tem a mesma importância no direito coletivo. O Direito Sindical é um ramo autônomo do Direito, ou seja, sua autonomia não é somente relativa ao Direito do Trabalho, mas sim ao Direito como um todo. A origem etimológica do Direito Sindical está na palavra “sundike”, que em grego significa procurador, representante. Assim, o sindicato seria o representante dos interesses de um grupo. Sua origem advém, também, da expressão anglo-saxônica “Union”. O interesse coletivo respeita a um grupo determinado, específico, enquanto o interesse público é da sociedade como um todo. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 2 No Direito Sindical quem tem o poder de promover o interesse coletivo são os sindicatos, e não o Ministério Público. Assim, o sindicato é o guardião do Direito Sindical, do interesse coletivo, determinado na Constituição Federal, enquanto que o Ministério Público vela pelo interesse público. Quanto à origem do Direito Sindical, Segadas Vianna postula que este teve seu início nos Colégios Romanos, que se assemelhavam às Corporações de Ofício, pois na Grécia começou haver a defesa de interesses de certas categorias. Com o passar do tempo surgiram as Corporações de Ofício, que representaram o marco do direito coletivo. Inicialmente, existiam duas classes, quais sejam, os senhores feudais e os servos. Com o passar do tempo, surgiu um terceiro grupo, uma terceira classe, diversa das mencionadas, que começou a produzir peças (como, por exemplo, ancinho, espadas, armadura e pá) que eram utilizadas pelas demais classes. Essa nova classe, denominada burguesia, desenvolveu técnicas aplicáveis à produção de peças que resultou na agregação de valor às mesmas. Pela necessidade de manter-se segredo das novas descobertas, a burguesia se fechou em corporações, visando à proteção de seus interesses. João II, “O Bom”, em 1351, fez as primeiras ordenações que tratavam do interesse coletivo do trabalho, sendo que alguns afirmam que este foi o início do Direito Sindical. O Statutes de Labour tratou da organização sindical propriamente dita. Observação: Amauri Mascaro entende que o Direito Sindical se iniciou com o término das Corporações de Oficio, em 1791, por determinação legal (Lei Le Chapelier). A extinção das Corporações de Ofício decorreu da Revolução Francesa, que tinha como corolário a igualdade, que era naturalmente afastada pelas Corporações. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 3 Quanto à natureza jurídica do Direito Sindical, existem algumas posições: Pessoa Jurídica de Direito Público: Waldemar Ferreira é o único que defende ter o Direito Sindical natureza jurídica de Direito Público, uma vez que há atribuições do Estado. Pessoa Jurídica de Direito Privado: é a corrente majoritária; Direito Social: assim o é, uma vez que trata de direito coletivo. - Entes Sindicais Princípio da Unidade Sindical (Unicidade Sindical) CLT, art. 8°, II Entes Sindicais Sindicatos (1° grau) Federações (2° grau) Confederações (3° grau) Centrais Sindicais No inciso II do art. 8° da CLT está expresso o Princípio da Unidade Sindical1. Assim, no município do Rio de Janeiro não pode haver, por exemplo, mais de um sindicato para determinada categoria, mas pode haver um sindicato e uma federação. Também não é possível haver duas confederações nacionais da mesma categoria. As centrais sindicais não são entes sindicais, não tendo personalidade jurídica trabalhista, não sendo, portanto, entes sindicais de 4° grau. 1 O professor prefere chamar de Princípio da Unicidade Sindical. Justifica o seu posicionamento ao afirmar que o Princípio da Unidade é democrático, enquanto que o da Unicidade não o é. Para ele, se realmente o principio fosse o da Unidade Sindical, esta aconteceria por opção, para que o sindicato se tornasse mais forte, e não por imposição legal. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 4 Como explicar que existam 6 centrais sindicais (CUT, CGT, etc.) em uma mesma base territorial? Como respaldo doutrinário, alguns defendem que são ilegais; outros que não representam categoria específica. Para o Direito do Trabalho elas não existem, sendo associações civis, como o CACO, os clubes de futebol, por exemplo. Entretanto, as centrais sindicais serão reconhecidas pela Reforma Sindical, como entes sindicais de 4° grau. Isso acarretará a mudança do art. 8° da CLT, já que não será mais observado o Princípio da Unidade Sindical, e sim o da Plena Liberdade Sindical, devendo extinguir a contribuição sindical. Como vai ser permitida a pluralidade sindical? Como o sindicato vai se manter sem a contribuição sindical? O governo dos trabalhadores, sem saber, está exterminar os sindicatos. Resumindo, hoje, no Brasil, existem três entes sindicais, quais sejam, sindicatos, federações e confederações. Com a Reforma Sindical, haverá um 4° grau, as centrais sindicais. Assim, hodiernamente, as centrais sindicais celebram contratos, fazem exigências, recebem subsídios, mas não têm legitimidade de direito, e sim de fato. - Histórico do Direito Sindical OIT Convenção 87 (1948) O mais importante tratado multilateral da OIT Liberdade Sindical é Direito Fundamental do Homem Recrimina o Monopólio Sindical Liberdade Sindical em Relação ao Poder Público Convenção 98 (1948) Direito à Sindicalização e Negociação Coletiva Proteção do Direito Sindical Fomento à Negociação Coletiva Independência dos Empregados em relação ao Empregador e Vice-versa Divisão do Direito Sindical Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 5 Organização Sindical Ação e Funções dos Entes Sindicais Conflitos Coletivos e Formas de Composição Representação não Sindical ou Mista dos Trabalhadores na Empresa O Tratado de Versalhes, celebrado ao final da 1ª Guerra Mundial, em 1919, já falava na organização internacional do trabalho. Na Revolução Industrial a jornada de trabalho era, em média, de 16 horas. A OIT é a primeira e principal agência especializada ligada às Nações Unidas. Quem for membro da ONU será, automaticamente, membro da OIT. As convenções da OIT são acordos multilaterais que não têm força coercitiva. Entretanto, se determinado país ratificar o tratado, este passará a ter força de lei no ordenamento jurídico. Assim, o membro da OIT não é obrigado a ratificar o tratado, mas se o fizer estará obrigado a cumpri-lo. O Brasil não ratificou inúmeras convenções importantes da OIT. O Estado Novo e a Consolidação tiveram inspiração fascista. Ao final da 2ª Guerra Mundial, alguns assuntos relativos ao Direito Sindical efetivamente foram tratados com mais atenção. Em 1948 ocorreu a Convenção de SãoFrancisco, que versou sobre a liberdade sindical. A Convenção 87, o mais importante tratado multilateral da OIT, determinou que a liberdade sindical é direito fundamental do homem, a ela se opondo o disposto no art. 8°, II da CF, que estabelece a intervenção do Estado na disciplina do Direito Sindical, limitando-o2. Quanto à liberdade sindical em relação ao Poder Público, segundo o art. 8°, I da CLT, o ente sindical já tem personalidade jurídica a partir de sua criação, mas só tem poder negocial relativo à determinada categoria após o seu registro. 2 No Brasil não há liberdade sindical, mas sim unicidade sindical (monopólio sindical – unidade sindical - monismo). Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 6 A Convenção 98, que veio para complementar a Convenção de 87, determinou que o direito à sindicalização e à negociação coletiva é um direito absoluto. O direito dos empregados e dos empregadores é defendido, respectivamente, pelos sindicatos profissionais e pelos sindicatos econômicos. A organização sindical tem 02 aspectos: Macro Organização Sindical: organização das categorias, dos entes sindicais e de sua verticalidade. É a parte mais importante para os entes sindicais. Micro Organização Sindical: cuida da estrutura interna dos sindicatos, como, por exemplo, do número de pessoas que deverão estar presentes nas assembléias, assim como do quorum para deliberação, etc. As ações e funções dos entes sindicais respeitam ao que efetivamente vai ser feito pela categoria representada, e quais serão os atos praticados. A representação não sindical assemelha-se à representação sindical, sendo que essa semelhança não é jurídica, mas sim quanto à natureza da atividade sindical. Por isso, se insere no Direito Sindical. Exemplo: CIPA. - Direito Sindical e as Constituições Basicamente, há dois sistemas constitucionais no que tange ao Direito Constitucional: Abstencionista: a constituição abstencionista não trata do Direito Sindical. Como exemplos de constituições abstencionistas temos as da Suécia, Bélgica e Uruguai. Essas constituições, na maioria das vezes, são materiais, por isso mais sucintas, não abordando o tema3. 3 A Inglaterra, também, não disciplina o Direito Sindical. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 7 Intervencionista: basicamente, todas as constituições latinas são intervencionistas, incluindo as de Portugal, França e Espanha. A constituição brasileira é intervencionista, como é possível concluir pela análise do seu artigo 8°, que está inserido no capítulo relativo aos direitos sociais. Possuem relevância histórica as constituições mexicana e alemã. São tipos de constituições: Omissas: essa espécie de constituição está inserida no sistema abstencionista, não tratando do Direito Sindical. Prescritivas: esse tipo de constituição se opõe à constituição omissa, subdividindo-se em: Analítica: como exemplos, podemos citar as Constituições mexicana e alemã; Sintética: exemplificando, há a Constituição do Japão, que dispõe sobre o Direito Sindical em um único artigo, basicamente dizendo que a todos é garantido o Direito Sindical. Repressiva: a Constituição repressiva vai estabelecer algumas limitações, interferindo na liberdade sindical, que é garantida como direito fundamental, sendo muito rara4. Observação: hoje, quase todas as constituições têm um perfil progressista, em alinhamento com as determinações da ONU e da OIT, respeitando os direitos fundamentais. - Instrumentos Normativos Negociáveis Acordo Coletivo 4 O professor, neste momento, deu como exemplo de interferência na liberdade sindical o fato da constituição proibir a existência de mais de um sindicato representativo de mesma categoria sindical, na mesma base territorial. Assim, foi inquirido se a Constituição Federal do Brasil seria repressiva por assim dispor, mas não se manifestou nem positiva, nem negativamente. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 8 Convenção Coletiva A convenção coletiva está conceituada no art. 611, caput, da CLT5. Evaristo de Moraes afirma ter a convenção coletiva “corpo de contrato e alma de lei”, ou seja, tem caráter de acordo entre as partes, com força normativa. Assim, a convenção coletiva é originariamente um contrato, mas sua finalidade é muito mais de lei, pelo caráter normativo, do que de contrato. O acordo coletivo6 encontra-se definido no § 1º do art. 611 da CLT. Analisando-se o art. 8°, VI da CF, seria possível concluir pela inconstitucionalidade do acordo coletivo, visto que é celebrado entre um sindicato da categoria profissional e determinada empresa, sem a intervenção do sindicato da categoria econômica. Entretanto, justifica-se a ausência deste último sindicato, uma vez que é mais fácil negociar com determinada empresa quando o problema é pontual. Para melhor entendimento da matéria, são úteis algumas definições: Sindicato: sindicato é o ente representativo de determinada categoria profissional ou econômica, em uma mesma base territorial. Essa base territorial não pode ser inferior a área de um município78. Federação: ente sindical de 2° grau. É a representação da categoria profissional ou econômica em nível estadual. Confederação: ente sindical de 3° grau. É a representação da categoria profissional ou econômica em nível nacional. 5 A convenção coletiva é celebrada para beneficiar uma determinada categoria. Assim, em regra, será celebrada pelo sindicato. A Federação somente atuará quando da omissão do sindicato. 6 Quando a Consolidação começou a ser esboçada, a idéia era falar em convenção coletiva e não em contrato coletivo. Entretanto, em determinada época, em virtude de inspiração fascista, foi adotada a nomenclatura de contrato (Carta Del Lavoro), sendo a idéia abandonada posteriormente, voltando a expressão convenção, o que pode ser atestado pela leitura dos artigos 59 e 71 da CLT. Porém, com a Reforma Sindical, os acordos que as Centrais Sindicais irão celebrar serão chamados de contratos coletivos de trabalho. 7 Se a Fábrica da Bayer possui um contador, e não houver um sindicato de contadores na Região (Belford Roxo), vai ser representado pelo sindicato das Indústrias. 8 Se houver um sindicato de base territorial estadual, não vai poder ter o mesmo sindicato em um município. O inverso poderia Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 9 Categoria: conjunto de empregados ou de empregadores relacionados a determinado setor. As categorias podem ser: Categoria profissional: conjunto de empregados ligados a um setor econômico (ex.: Supermercados)9; Categoria econômica: respeita ao empregador, relacionando-se com o fator de produção capital. Profissão: atividade exercida habitualmente, com fins de subsistência do empregado. Profissional é aquele que subsiste daquilo que exerce; o amador exerce uma atividade que gosta, mas dela não depende; o semi-profissional exerce uma atividade, mas depende de outra para sua subsistência. Observação: não há sindicato representativo de uma profissão, e sim de uma determinada categoria profissional, exceto na hipótese do profissional diferenciado (CLT, art. 511, § 3º). Se determinada profissão, no estatutoque a rege, fizer menção à categoria profissional diferenciada, assim será, apesar de que, em regra, o sindicato representa uma categoria e não uma profissão. Assim, temos o Sindicato dos Profissionais Autônomos e o Sindicato dos Profissionais Liberais. Exemplos: o taxista é autônomo, não protegido pela legislação trabalhista nos moldes do art. 3° da CLT, não havendo subordinação, mas tem atividade profissional organizada; os advogados, médicos, engenheiros, dentistas, psicólogos e etc., profissionais liberais, possuem sindicatos. São diferenças entre o acordo coletivo e a convenção coletiva: Quanto ao sujeito: o acordo coletivo tem a participação dos sindicatos de categorias profissionais e de empresas, enquanto que da convenção coletiva participam os sindicatos das categorias profissionais e econômicas; 9 A empresa é uma atividade econômica organizada. A atividade econômica é composta por grupos, cujos principais são a Indústria, o Comércio e a Prestação de Serviços, que se subdivide em setores (Ex.: calçados). Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 10 Quanto à matéria: a convenção coletiva vai tratar de matéria genérica e o acordo coletivo de matéria específica; Quanto ao nível de negociação: o acordo vai ser celebrado quanto a problemas pontuais, enquanto a convenção coletiva celebrará o instrumento quanto a problemas gerais. Quanto ao âmbito de aplicação das cláusulas: as cláusulas dos instrumentos normativos negociáveis serão aplicadas entre as partes celebrantes. Assim, as cláusulas da convenção coletiva aplicar-se-ão às relações individuais, no âmbito das respectivas representações, enquanto que as do acordo coletivo no âmbito da empresa ou das empresas acordantes às respectivas relações de trabalho. - Conflitos Coletivos Espécies de Conflitos Conflito Individual Conflito Coletivo Conflito Econômico Conflito Jurídico Formas de Composição do Conflito Coletivo Autocomposição Jurisdição Heterocomposição Arbitragem Mediação Funções da Negociação Coletiva Jurídica Função Normativa Função Compositiva Funções da Negociação Coletiva não Jurídica Política Econômica Social Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 11 No Direito do Trabalho há um conflito eterno entre capital e trabalho, que possuem interesses antagônicos. Os conflitos podem ser: Conflito Individual: um trabalhador tem determinada reivindicação que se opõe ao interesse do empregador. Assim, duas conseqüências podem advir: ou ambas as partes entram em concordância ou ocorre o dissenso. Conflito Coletivo: interesses coletivos conflitam com o fator de produção capital. A convergência de interesses pode se dar de várias formas, sendo que a forma mais moderna é a da representação dos empregados e empregadores pelos entes sindicais respectivos. Entretanto, vários trabalhadores podem ter reivindicações idênticas e reclamarem separadamente. A greve é um instrumento utilizado pelos empregados, representando um movimento coletivo no sentido de mobilizar a opinião pública, com objetivo de angariar apoio e pressionar o capital. Via de regra, a greve abarca vários trabalhadores da mesma categoria profissional (a categoria econômica pode fazer “lockout”, apesar de não ser permitida essa prática no Brasil, bem como não haver nenhum resultado prático positivo que advenha dessa medida). Conflitos Econômicos: de todas as modalidades de conflito coletivo essa é a mais comum. Versa sobre condições de trabalho, incluindo a questão salarial, visto que mais de 80% dos conflitos são a ela relativos. Conflitos Jurídicos: os conflitos jurídicos giram em torno de uma divergência quanto à interpretação de uma norma trabalhista. Via de regra, essa divergência decorre das normas que têm como fontes convenções e acordos coletivos, principalmente se suas cláusulas não foram bem redigidas. São soluções possíveis, visando a dissolução do conflito: Arbitragem; Negociação: composição; Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 12 Repressão; Sentença Normativa: quando não há acordo, sendo suscitado o dissídio, quando a sentença da ação será chamada de normativa. São formas de composição do conflito coletivo: Autocomposição: a autocomposição dos conflitos coletivos se dá pelas convenções e acordos coletivos. Assim, se ocorrer transação, se houver a composição entre as partes, não será necessário recorrer à tutela jurisdicional. Heterocomposição: a heterocomposição de um conflito coletivo ocorre quando uma terceira pessoa, uma terceira parte, tem que ajudar na sua composição. São formas de heterocomposição: Jurisdição: quando não ocorre a composição do conflito coletivo extrajudicialmente, é necessário suscitar o dissídio coletivo, sendo que a sentença normativa irá regular o caso, com força de lei. Arbitragem10 : na arbitragem, as duas partes concordam em se submeter à decisão de uma terceira pessoa, uma terceira parte. Mediação: o mediador não decide, somente sugere a solução. Muito pouco usada. Basicamente, a negociação coletiva jurídica tem duas funções: Normativa: a função normativa é a função natural da negociação coletiva jurídica. Esta existe para criar uma norma relativa à determinada situação. Compositiva: outra função da negociação coletiva jurídica é a de compor o conflito da melhor forma possível, desde que não prejudique a categoria profissional. A negociação coletiva não jurídica possui três funções: Política: a negociação coletiva fora do âmbito judicial tem aplicação prática no sentido de evitar a exposição na mídia do conflito coletivo, o que provocará a opinião pública, o que causaria um desgaste político, por demonstrar a falta de habilidade 10 A arbitragem é muito comum na França e em outros países da Europa, como também nos EUA. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 13 do governo para negociar com categorias profissionais. Exemplo: o desgaste político causado pela greve no ABC Paulista em 1982, coincidiu com o “movimento das Diretas Já”. Econômica: a categoria econômica, assim como o Estado, têm interesse na composição do conflito coletivo de forma mais rápida possível, antes de ser instaurado o dissídio coletivo, uma vez que os empregadores têm como objetivo gerar riquezas, utilizando-se da categoria profissional para tal. Assim, se a categoria profissional resolver parar a produção, haverá a diminuição da quantidade do produto no mercado, fazendo com que a procura seja maior do que oferta, gerando inflação. Social: se não ocorrer a composição na negociação coletiva não jurídica, bem como a autocomposição, terá que haver, necessariamente, uma heterocomposição ou a rescisão contratual. Entretanto, nesta última hipótese, acarretará um problema social bastante vultoso: se o trabalhador está desempregado não tem dinheiro, se não tem dinheiro não consome, se há a diminuição do consumo a produção irá parar e, em decorrência disso, não haverá pagamento de impostos, diminuindo a arrecadação do governo que não investirá na sociedade. - Negociação Coletiva Modelos Jurídicos Quanto à Amplitude das Normas Legisladas Negociadas Quanto à Participação do Estado Autônomas Heterônomas Quanto aos Níveis Negociadas articuladas Negociada Desvinculada Etapas da Negociação Assembléia (CLT, art. 612) Discussão (CLT, art. 616) Mediação (CLT, art. 616, § 1º) Redação (CLT, art. 613) Aprovação dos Convenentes Depósito (CLT, art. 614, § 1º) Publicidade Início da Vigência Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 14 Prorrogação Duração Revisão Denúncia São modelos jurídicos de negociação coletiva: Quanto à amplitude das normas: Legislada: a negociação coletiva tem uma série de limitações legais, não havendo possibilidade de se colocar acima de determinada lei. Negociada: é o modelo adotado em países que defendem a liberdade sindical, podendo a negociação coletiva se colocar acima da lei. Será o nosso futuro modelo com a Reforma Sindical, valendo o negociado sobre o legislado, inclusive sobre a CF. O interesse das partes e o benefício do hipossuficiente vai prevalecer sobre todos as situações. Quanto à participação do Estado. Instrumento Autônomo: o Estado não participa da negociação coletiva, não havendo delimitação legal. O Estado somente observa, não interferindo (consegue acordo). Instrumento Heterônomo: utilizado quando for preciso provocar o Estado de alguma forma, seja através de mediação (Delegado Regional do Trabalho) ou de jurisdição. Assim, se as categorias profissionais e econômicas não chegarem a nenhum acordo, será necessário recorrer à mediação ou à jurisdição (não consegue o acordo). Quanto aos níveis Negociação articulada: a decisão de um ente superior vai vincular os entes inferiores11. Negociação desvinculada: é como acontece no Brasil, quando cada base territorial segue a sua decisão, priorizando os interesses locais daquela determinada base 11 O professor fez uma analogia com a Súmula Vinculante. Ele utilizou a Itália como exemplo, onde a Central Sindical (ente de 4° Grau) faz um acordo que será observado por todos os níveis inferiores. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 15 territorial. Exemplo: sindicato do Rio de Janeiro celebra uma convenção, o de Niterói outra e o de São Gonçalo uma terceira diferente. São etapas da negociação coletiva: Convocação da assembléia (CLT, artigo 612): para que o diretor do ente sindical seja autorizado a agir, é necessária a convocação e a realização de assembléia anterior. Assim, a assembléia tem que concordar com indicativo da negociação. Uma questão de conflito coletivo pode ser suscitada por uma só pessoa, desde que várias pessoas forem beneficiadas com tal medida. Assim, os sindicatos estarão legitimados pela provocação desta única pessoa, para convocar e realizar a assembléia. Discussão (CLT, art. 616): não pode haver negativa por parte da categoria quanto à participação na negociação. Se a categoria se negar a participar será estabelecido o dissídio. Mediação (CLT, art. 616, § 1°): se não houver entendimento, fica aberta uma janela de mediação, a ser realizada pelo Delegado Regional do Trabalho. Redação (CLT, art. 613 e incisos): se não houver mediação (ou se não for usada) passa direto para a redação da convenção ou do acordo, observando-se o que dispõe os incisos do artigo 613 da Consolidação. Aprovação dos convenentes ou acordantes: submeter à aprovação dos convenentes ou acordantes os termos da convenção ou do acordo. Depósito (CLT, art. 614, § 1º): tem que depositar uma cópia do “contrato” na Delegacia Regional do Trabalho, que ficará notificada. Publicidade (CLT, art. 614, § 2º): publicar, afixar em locais de circulação das partes convenentes, em quadros de avisos, o que foi acordado ou convencionado. A publicidade deverá ser feita em até cinco dias após o depósito. Início de Vigência: três dias após o depósito. Duração do instrumento normativo criado pela convenção: duração máxima de dois anos. Três institutos podem incidir sobre o prazo acima: Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 16 Prorrogação: as partes convencionam a prorrogação do prazo, por até dois anos, apesar de que, na prática, não é viável, uma vez que as necessidades das categorias se alteram com o passar do tempo. Revisão: os termos da convenção podem ser revistos. Denúncia: é uma forma de rescisão ou anulação de determinada cláusula, que pode acarretar a anulação da convenção ou sua revogação em parte. A denúncia também é utilizada quando algum país ratifica uma convenção da OIT, mas algumas de suas cláusulas não estão de acordo com ordenamento jurídico daquele país. Assim, o país denuncia a convenção para que seja retirada sua ratificação, ou para que sejam alteradas algumas de cláusulas. - Greve – Glossário Greve12 é a paralisação coletiva e temporária, que visa a pressionar o empregador no sentido de obter melhores condições de trabalho. Expressa a insatisfação de um grupo, que visa, com o movimento, a forçar outro grupo a negociar. Entretanto, existem outros meios de pressão, a saber: Operação Padrão: movimento em que determinado procedimento padrão é observado em sua totalidade, se prendendo o trabalhador a minúcias. Exemplo: o agente da Polícia Federal pára todos os passageiros do aeroporto fiscalizando as bagagens uma a uma, sem utilizar a seleção aleatória (luz verde/luz vermelha). Greve inversa: o trabalho é executado de forma mais rápida, ocasionando excedentes de produção, que pode causar grandes prejuízos (estoque ocioso). Boicote13: lato sensu, boicote significa recusa sistemática de relação de ordem social, política ou comercial. 12 Sinônimo de greve: parede, movimento paredista. 13 Relacionam a origem do nome com fato ocorrido com Boycot, pessoa extremamente rude no trato com seus empregados e demais pessoas com quem se relacionava, que tomaram a posição de, respectivamente, não trabalhar mais para ele e não efetuar nenhuma transação comercial. Em conseqüência, como não tinha como efetuar compras, não tinha como produzir, bem como vender seus produtos, teve que deixar a cidade. Como exemplo, pode ser citado o bloqueio econômico imposto a Cuba, que trás implicações econômico-sociais (não há carro novo, eletrodomésticos avançados tecnicamente, etc). Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 17 Lockout: é a greve do patrão. Greve Branca ou Braços Cruzados/Caídos: é a greve não declarada. A produção se torna lenta ou simplesmente não ocorre, mas os empregados não deixam de comparecer ao local de trabalho, tendo o intuito de prejudicar o empregador, sem a comunicação formal da intenção de realizar a greve. Não é a greve clássica. Greve de Ocupação: o grupo ocupa o local da prestação de serviço, mas não trabalha e não permite que outros trabalhem. Dependendo do caso, pode tipificar o artigo 202 do CP (não deixar que os outros trabalhem). Ludismo14: ocorre a destruição do maquinário com a finalidade de causar prejuízos ao empregador, forçando-o a negociar. Sabotagem: nela, deliberadamente, os empregados prejudicam a produção, danificando as instalações do trabalho. Difere do ludismo no sentido que, neste, o dano é causado de forma clara, visível, enquanto que na sabotagem não se sabe quem são os sabotadores. Greve de Fome: tem a finalidade de mobilizar a opinião pública15. É um jogo sentimental. Greve de Rodízio:empregados promovem uma greve em determinado setor, em rodízio, impedido o andamento da produção. Um dia pára um setor, noutro paralisa setor distinto. Não chega a apara a empresa, mas causa bastante prejuízo. Greve de Solidariedade: determinado setor entra em greve, sendo acompanhado na paralisação, em solidariedade, por outro setor, o que faz ampliar os efeitos do movimento. Greve de um Só: a paralisação de três empregados de uma empresa, na prática, não caracteriza a greve, se este grupo não for representativo (CPC, artigo 200, parágrafo único). Determinada paralisação, determinado movimento somente será considerado greve se causar prejuízos à outra parte. 14 Possível origem: aprendiz que apanhou do patrão, e, ato contínuo, quebrou um tear com uma marreta, no que foi ajudado por outros empregados. 15 Representa quase um "suicídio lento". Assim sendo, a outra parte tem que ser muito má para permitir que isso aconteça. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 18 Greve Relâmpago: é a paralisação rápida de determinada categoria, para demonstrar a extensão dos efeitos que poderiam advir da greve total ("tiro de advertência"). Piquete: os empregados impedem, através de um movimento paradista, que outros empregados trabalhem (a persuasão é permitida; a violência não - CP, art. 197). Operação Tartaruga: movimento parecido com a greve branca, só que na operação tartaruga há produção, mas em ritmo lento. - Greve Natureza Jurídica Modalidades Lei 7783/89 / CF, art. 9° A natureza jurídica da greve vai depender do lugar e da posição que o movimento tem no ordenamento jurídico. Assim, há quatro possibilidades quanto à natureza jurídica da greve: Direito. Liberdade: pode sempre acontecer. Delito: não deve acontecer. Crime: não pode acontecer. No Brasil, desde o começo do século XX até a Constituição Federal de 1937, a greve foi considerada liberdade16. 16 Na liberdade, tudo que não é vedado em lei é permitido. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 19 Determinados regimes autoritários consideram a greve como delito ou crime. No regime democrático, a greve pode ser um direito ou uma liberdade. A greve como liberdade significa dizer que apesar de não ser disciplinada legalmente o seu exercício não é vedado, enquanto que a greve como direito, representa uma garantia quanto ao seu exercício. Hoje, no Brasil, a greve é um direito. No começo do século XX a greve foi considerada liberdade, não existindo uma organização de trabalhadores que pudesse dar origem a esse movimento, já que o período correspondia ao fim do movimento escravagista. Assim, como não era proibida e nem disciplinada, era considerada liberdade. A Constituição Federal de 1937, "A Polaca", outorgada por Getúlio Vargas durante Estado Novo, tinha um perfil autoritário. A partir daí a greve começou a ser considerada como delito, não existindo uma organização sindical (só havia um sindicato?), havendo uma forte intervenção do Estado. A Constituição Federal de 1946, promulgada ao fim da Segunda Guerra Mundial, tinha um perfil diferente da constituição anterior, trazendo a garantia da greve como direito. Na Constituição Federal de 1967 a greve foi mantida como direito. Entretanto, apesar de ser garantido o direito de greve, este tipo de manifestação não era viável, em virtude dos AIs. Em 1979 começa o movimento sindical no ABC paulista, com a forte liderança de Lula, sendo que em 1981 ocorre o retorno dos exilados políticos. A greve representa o movimento mais eficiente para atingir o capital, pois atinge o ponto mais sensível visando a conseguir vantagens. São modalidades de greve: Legal ou Ilegal. Greve legal é aquela permitida por lei, enquanto a ilegal é aquela vedada em lei. Como exemplo de greve ilegal temos a greve dos militares e dos serviços essenciais. Com abuso de direito e Sem abuso de direito. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 20 Greve com abuso de direito é aquela que não observa as regras contidas na Lei 7783/89. A Lei 7783/89 disciplina o direito de greve. Segundo o art. 1° da Lei 7783/89, a greve tem natureza jurídica de direito, sendo este dos trabalhadores e não dos sindicatos. Entretanto, esta é uma interpretação muito restritiva, podendo, também, ser considerada um direito dos sindicatos, desde que haja a realização de assembléia. O conceito legal de greve encontra-se disposto no art. 2° da lei comento. A greve é a suspensão coletiva formada pela paralisação da prestação pessoal, individual, de serviços. Os requisitos da greve estão dispostos no art. 3° da lei em apreciação: Os trabalhadores ou sindicatos têm que dar a oportunidade da outra parte se manifestar, uma vez que a greve é um recurso extremo. A resolução pela greve tem que se dar em assembléia, pois o sindicato tem que ter representatividade. A greve, antes de ser deflagrada, tem que ser comunicada no prazo mínimo de 48 horas de antecedência, sendo que nos casos de serviços essenciais o aviso prévio terá que ser feito nas72 horas anteriores (tratamento e abastecimento de água, por exemplo). O artigo 4º, § 2° da Lei 7783/89 dispõe sobre a hipótese de não haver sindicato organizado na categoria, quando deverá ser constituída uma comissão de negociação. O art. 6º da CLT, em seus incisos e parágrafos, trata dos direitos assegurados aos grevistas: Inciso I: os grevistas podem utilizar "meios pacíficos" para “persuadir ou aliciar os trabalhadores”, mas não podem impedir o acesso de outros trabalhadores (piquete). Inciso II: é permitida aos grevistas a arrecadação de fundos. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 21 Parágrafo 1º: não poderão ser violados ou constrangidos os "direitos e garantias fundamentais de outrem". De acordo com o artigo 7º da lei em análise, em princípio, a greve representa suspensão do contrato de trabalho. Há no dispositivo a previsão de laudo arbitral, que é um parecer emitido por árbitros, tendo força de sentença, ou seja, as partes concordam em eleger o árbitro, cuja decisão terá, em princípio, força de sentença. O parágrafo único do art. 7° veda a “rescisão do contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos”, exceto nas hipóteses dos artigos 9° e 14. A paralisação da prestação do serviço é possível, mas não pode ocorrer a paralisação total que venha a acarretar a danificação dos bens, das máquinas ou dos equipamentos, conforme determina o art. 9º da Lei 7783/89. O artigo 14 da Lei 7783/89 fala do abuso de direito de greve. Exemplo: a greve continua mesmo após a celebração do acordo/convenção coletiva ou da sentença arbitral. Segundo o artigo 11 da Lei em análise, os sindicatos e empregadores têm que garantir a prestação de serviços essenciais, uma vez que quem tem que pagar pela greve é o empregador e não a comunidade. A comunicação da deflagração da greve tem que ser pública, e não somente ao empregador. Geralmente, a comunicação é feita através da televisão, para ter maior alcance. A greve não é imunidade para todo e qualquer tipo de ato ilícito civil ou penal, conforme determina o art. 15 da Lei 7783/89. A greve em si não é o ilícito, mas todos os atos ilícitos civis ou penais porventura praticados durantea greve serão punidos. No estado de sítio e no estado de defesa - estado de exceção – o direito de greve não pode ser exercido, pois é proibida qualquer espécie de reunião. O artigo 17 da lei em comento trata do “lockout”, que não é permitido no Brasil. Se fosse, seria hipótese de interrupção do contrato de trabalho. - Greve / Esquematização Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 22 Conceito Fundamentos Liberdade Individual (lutar por condições melhores de trabalho) Dignidade Individual e Social Origem Embrionária ou Remota Próxima Origem Jurídica – Correntes Fato aceito pelo grupo social Ato jurídico de efeitos regulados Direito ou ato ilícito Ato tolerado pelo direito Direito regulamentado pela norma jurídica Garantia constitucional (Direito Social) Sujeitos Ativo Passivo Tipos Quanto aos sujeitos Quanto ao ordenamento jurídico Quanto à motivação Quanto ao alcance Quanto à duração Quanto ao modo de execução Quanto à localização do exercício Paragrevismo Condicionantes de êxito Requisitos Greve é a paralisação coletiva, pacífica e temporária do trabalho, com o objetivo de obter melhoria das condições de trabalho e do salário. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 23 Como fundamentos da greve temos a liberdade individual e a dignidade individual e social. Para entender a diferença entre dignidade individual e social, podemos tomar alguns exemplos: movimento visando o aumento de salário seria relativo à dignidade social, enquanto que no sentido de obter ar condicionado no local de trabalho seria concernente à dignidade individual, pois representa uma condição mínima de trabalho. Quanto à origem histórica, esta pode ser: Embrionária ou remota: relacionada aos Hebreus, aos escravos egípcios. Próxima (Revolução Industrial). Quanto à origem jurídica (cada conceito corresponde a um momento ou a um país), a greve pode ser: Fato aceito pelo grupo social: a greve seria o fato aceito pelo grupo social, enquanto não há a regulamentação, ou seja, é o fato tolerado pelo grupo social. Ato jurídico de efeito regulado17: a greve não está regulada, mas seus efeitos sim (exemplo: dano). Direito ou ato ilícito. Ato tolerado pelo direito. Direito regulamentado pela norma jurídica. Garantia constitucional (direito social). É o caso do Brasil, atualmente (CF, artigo 9º), ou seja, a natureza jurídica da greve é de direito social, garantia constitucional. São sujeitos do direito de greve: 17 Há diferença entre fato e ato jurídico. Fato jurídico decorre de um momento social, enquanto o fato puro e simples acontece, não sendo provocado. O ato é decorrente do fato. Será ato quando provocado pela vontade humana Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 24 Ativo: categoria profissional. Passivo: empresa, via de regra, ou categorias econômicas. Geralmente, os problemas são pontuais. São tipos de greve18: Quanto ao sujeito: quando envolvem uma determinada categoria profissional, representada pelo sindicato. Exemplo: greve dos portuários. Quanto ao ordenamento jurídico: Greve Legal ou Greve Abusiva. Greve legal é aquela realizada dentro dos parâmetros estabelecidos pela Lei 7783/89, enquanto greve abusiva é aquela prevista no artigo 14 da Lei 7783/89. Exemplos de greve abusiva: não há comunicação prévia de sua deflagração; greve não pacífica; greve de serviço essencial. Greve Legítima e Greve Ilegítima. A greve legítima é aquela em que os motivos que lhe deram ensejo estão dentro da razoabilidade. Por sua vez, greve legítima ocorre quando a proposta está fora dos limites da razoabilidade (a parte está de má-fé). Greve Justa e Greve Injusta. Greve Ilícita. Será considerada greve ilícita, aquela feita por quem está proibido de fazê- la. Exemplo: militares (são as categorias que não podem fazer greve). A greve perfeita é a greve legal, justa e legítima. Quanto à motivação: Greve Trabalhista. Exemplo: melhores condições de trabalho. Greve Social. Exemplo: melhoria de salário. Greve Política. Exemplo: greve geral para desestabilizar o governo. 18 Greve de alunos não é greve porque não é a relação de trabalho. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 25 Greve de solidariedade. Exemplo: quando determinada categoria adere à greve para reforçar o movimento de outra categoria (metalúrgicos + vendedores de automóveis). Greve de Protesto. Exemplos: greve porque alguém foi demitido; greve de advertência.Geralmente, é para marcar uma posição (esfera micro-política). Quanto ao alcance: Greve Geral. Greve de Categoria Profissional. Não poderia ser de categoria econômica. Greve de Trabalhadores. Quando não envolve toda a categoria profissional, mas sim os trabalhadores de uma determinada empresa. Greve Total. Greve Parcial. Não é necessária a adesão de todos. Quanto à duração: Greve Longa. Não traz benefícios. Greve Curta19. Greve Indeterminada (para o professor, foge aos objetivos da greve). Greve a Termo Certo (pré-determinado). Exemplo: paralisação de 24 horas. É boa porque o empregador já tem a noção do prejuízo se a greve se estender por um tempo maior. Quanto ao modo de execução: Greve Pacífica. Greve Violenta. É a greve abusiva. 19 Para Carnelutti, a greve tem que ser curta. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 26 O trabalhador pode fazer piquete, desde que este seja pacífico. Pode tentar persuadir a pessoa à não entrar, mas não pode impedi-la. Quanto à localização do exercício: Greve Interna. É aquela realizada dentro do local de trabalho (os trabalhadores entram no local de trabalho, mas lá não permanecem). Greve Externa. Realizada fora do local de trabalho. Greve de Ocupação. Realizada dentro do local de trabalho, sendo que os trabalhadores de lá não saem, impedindo que a empresa funcione. Para o professor, a greve de ocupação é abusiva. Paragrevismo é o movimento que parece greve, mas é modalidade atípica: Operação tartaruga: tarefas feitas lentamente. Operação padrão: tarefas realizadas de acordo com todos os requisitos que têm que ser observados. Rodízio: quando não paralisa a empresa inteira, mas uma parte de cada vez. Sabotagem, boicote, ludismo. São condicionantes de êxito da greve: Força social da categoria. É a essencialidade da categoria para com a sociedade. Potencial de solução rápida da controvérsia (posição do professor). Capacidade de organização do movimento. Capacidade de promover a maior adesão possível das pessoas. Razoabilidade da motivação e da pretensão. A pretensão tem que ser razoável. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 27 São requisitos da greve: Realização de assembléia. Aviso prévio de 48 horas, ou 72 horas se for serviço essencial. Todas as possibilidades de negociação têm que ter sido esgotadas,pois a greve é medida de exceção, e não de rotina. - Efeitos e Responsabilidades da Greve Efeitos Trabalhistas Derivados de Condições de Trabalho ( Duração do Trabalho ( Retribuição do Trabalhador ( Duração dos Contratos ( Garantia do Emprego ( Restritos ao Contrato Individual de Trabalho ( Suspensão Contratual ( Pagamento de Salário ( Tempo de Serviço ( Sanções Disciplinares ( Efeitos Civis ( Efeitos Penais ( Efeitos Administrativos ( Legislação Constitucional ( CF/1824 ( CF/1891 e CF/1934 ( CF/1937 ( CF/1946 ( CF/1967-1969 ( CF/1988 ( Legislação Ordinária ( CP/1890 Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 28 ( CP/1940; LCP; LICP ( DL 9070/40 ( Lei 4030/64 e DL 1632/78 ( Lei 7783/89 A greve representa um interesse coletivo, ou seja, o interesse de um grupo determinado, e não um interesse público que é indeterminado. Os efeitos trabalhistas decorrentes da greve podem ser derivados das condições de trabalho ou restritos ao contrato individual de trabalho. Quanto aos efeitos derivados de condições de trabalho, estes podem ser relativos à: Duração do contrato de trabalho: o movimento de greve pode trazer como um dos seus efeitos a redução da jornada de trabalho. Não há impedimento legal quanto à redução da jornada de trabalho, uma vez que a limitação constitucional de 8 horas é concernente à jornada máxima, e não mínima. Inclusive, uma jornada de 7 horas pode beneficiar o interesse público, pois poderá ensejar a contratação de um número maior de trabalhadores. Retribuição do trabalhador: a greve organizada visando à obtenção de maior retribuição para o trabalhador representa um motivo clássico deflagrador do movimento, tendo como efeito o aumento do salário. Duração dos contratos: a greve deflagrada tendo como motivo a duração dos contratos tem como efeito a alteração na duração dos contratos. Assim, um contrato de trabalho celebrado inicialmente por prazo determinado20 pode ser alterado com a greve, aumentando-se o prazo. Entretanto, é preciso destacar que a greve não desloca o termo do contrato de trabalho. Então, existindo um contrato de trabalho por tempo determinado celebrado em 1 de janeiro de 2001, com término previsto para 1 de janeiro de 2003, se durante esse período ocorrer uma greve com duração de um mês, o termo do 20 Contrato de trabalho por prazo determinado: não pode ultrapassar 02 anos é só pode ser renovado uma única vez dentro do período de 02 anos, devendo haver um intervalo mínimo de 06 meses entre a celebração de 02 contratos por tempo determinado. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 29 contrato será o mesmo, não se deslocando, quer dizer, continuará terminando em 1 de janeiro de 2003. Entretanto, poderá ser prorrogado se assim for estabelecido em convenção ou acordo coletivo, especificando que tal prorrogação se deu por conta da greve. Garantia de emprego. Quanto aos efeitos restritos ao contrato de trabalho individual de trabalho, estes podem ser relativos a: Suspensão contratual: em regra, durante a greve o contrato de trabalho fica suspenso. Entretanto, esse período pode ser considerado como de interrupção de contrato de trabalho, se assim convencionado21. Pagamento de salário. Tempo de serviço: teoricamente, a greve representaria suspensão do contrato de trabalho, não sendo contado o tempo de serviço. Entretanto, na prática, o trabalhador pode até não receber a remuneração referente aos dias de paralisação, mas estes serão contados como tempo de serviço. Sanções disciplinares: o regulamento da empresa não pode dispor que haverá uma sanção disciplinar na hipótese de greve, pois tal disposição será ilegal, inconstitucional, uma vez que o regulamento também é fonte e, nessa condição, não pode ser inconstitucional. Além dos efeitos trabalhistas acima mencionados, a greve, também, pode ter outros efeitos, tais como: Efeitos civis: a responsabilidade pelo dano moral (piquete violento, que impediu o empregado de trabalhar) e/ou material oriundo de atos ilícitos será atribuída ao agente que o praticou (empregado ou o empregador). Na sabotagem, na hipótese da impossibilidade de identificação do agente, a responsabilidade será do sindicato. Efeitos penais: a responsabilidade por ilícitos penais é do agente que os praticou. 21 Ao contrário, a greve de funcionário público, em regra, interrompe o contrato de trabalho (costume). Entretanto, se for considerada abusiva, será tida como hipótese de suspensão do contrato de trabalho. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 30 Há algumas disposições no Código Penal quanto às sanções penais, dispostas nos artigos 197 (piquete), 200 (suspensão violenta, e não pacífica) e 202 (tem mais aparência de ocupação do que de sabotagem - invasão de estabelecimento). Efeitos administrativos: podem ser representados por uma transgressão de postura administrativa (exemplo: um policial em greve coloca uma nota no cano de um revólver - não é esperado do agente aquela postura) ou por atuação de órgão administrativo, nas hipóteses em que é necessário que um número mínimo de empregados estejam trabalhando a fim de evitar a paralisação total de determinado serviço essencial ou que venha acarretar prejuízos. O não atendimento da reserva de empregados trabalhando responsabilizará o sindicato por eventuais prejuízos (exemplo: os empregados de FURNAS deflagraram greve, sem manter um pessoal mínimo suficiente para garantir o fornecimento de energia, nem mesmo quando convocados a fazê-lo). No decorrer dos anos, a legislação constitucional pátria tratou o movimento de greve de forma diferente, como disposto a seguir: CF/1984: Constituição abstencionista, não dispondo sobre a greve, apesar de legislação ordinária prever repressão ao movimento à época. CF/1891 e CF/1934: as Constituições Federais de 1891 e 1934 foram constituições abstencionistas, mas que toleravam a greve na prática (ligas camponesas). A CF de 1934, apesar de espírito mais socialista, não garantiu a greve como direito. CF/1937: o movimento de greve era proibido, considerado como recurso anti-social. O que sustentava o governo dessa época era o carisma do seu governante. CF/1946: a greve é tida como garantia. CF/1967 e CF/1969 (EC n° 1): a greve é tida como garantia, mas tem uma disciplina restrita, ou seja, há repressão de abusos e disciplina de exercício com restrição . Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 31 CF/1988: a greve é considerada como um direito amplo, com regulamentação de exercício. Em relação à legislação ordinária, a greve é considerada como: CP/1890: delito. CP/1940; LCP; LICP: ilícito penal, em alguns casos. DL 9070/40: regulamentação restritiva. Não interage com ordenamento constitucional da época, uma vez que regulamenta um movimento que era proibido na CF de 1937, assim como restringe uma garantia, se considerada a CF de 1946. Lei 4030/64 e DL 1632/78: regulamentação restritiva. Lei 7783/89: regulamentação da disciplina do exercício de greve, não sendo um direito tão absoluto, uma vez que comporta restrições. - Direito Comparado No direito comparado se faz o estudo da situação econômica e dos efeitos sociais em determinada época em queuma lei foi criada. América do Sul: Argentina: durante muito tempo a greve foi considerada como delito. Com a Constituição de 1981 passou a ser tida como direito. Bolívia: a greve é um direito, havendo restrição quanto ao servidor público. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 32 Colômbia: a greve no setor público, assim como a greve política, é expressamente proibida, somente sendo admitida a greve de cunho trabalhista (salário/condições de trabalho). Chile: a greve é proibida no setor público. Nesse país os sindicalistas estão proibidos de concorrer a cargo público. Equador: a Constituição de 1946, que corresponde a uma nova formatação mundial, pós a Segunda Guerra Mundial, determina que a deliberação da assembléia com relação à greve se dará por voto secreto, para que a escolha seja com maior liberdade. Peru: a greve é um direito. Entretanto, o Estado tem uma certa ingerência sobre o movimento. Uruguai: a ingerência estatal é muito grande no movimento de greve. É o país da América do Sul onde se tem a maior intervenção estatal. Venezuela: possui uma Lei Orgânica do Trabalho desde 1990, que disciplinou a greve e a garantiu como direito. América Central. Costa Rica: a greve sempre acarreta a suspensão do contrato de trabalho, não sendo possível negociar em convenção a interrupção. Cuba: Apesar da Constituição cubana permitir a greve, o CP a proíbe. Entretanto, na prática, ninguém faz. México: a Constituição de 1917 foi a primeira a falar em direito do trabalhador como direito social. É possível o “Lockout”, se houver autorização concedida pelo Estado. O documento de reivindicação dos empregados deve ser remetido à empresa, que tem que se manifestar no prazo de 48 horas. Se não o fizer, a greve pode ser deflagrada. América do Norte. Canadá: a greve é proibida no serviço público. EUA: a “National Labor Relations Board” é uma agência de conciliação federal, através da qual todo movimento grevista tem que passar antes da greve, para que Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 33 seja tentada a conciliação. Servidor público que faz greve é demitido e proibido de voltar ao serviço público durante o período de três anos. Europa. Portugal (Constituição dos Cravos): o governo é um misto de parlamentarismo e de república. Algumas categorias não podem fazer greve (serviço público). Espanha: “Lockout22” é permitido em alguns casos. O contrato de trabalho em caso de greve é suspenso. França: a partir da Constituição de 1958 é vedada a greve política, de magistrados, de polícia, de controlador de vôo, sendo, entretanto, permitida ao servidor público (?). Itália: na Constituição 1947, elaborada após a Segunda Guerra Mundial, a idéia era a mesma daquela adotada no Brasil, sendo que ocorreu o abandono do corporativismo estatal, ao contrário do Brasil. Na Itália, o sindicalismo é atuante desde o início dessa constituição, sendo que no Brasil isso só aconteceu a partir de 1980. Assim, na Itália, a greve é considerada como direito, sendo que os sindicatos têm participação muito efetiva na questão da negociação, tendo como efeito prático a quase não ocorrência da greve. Inglaterra: a polícia e os serviços essenciais não podem fazer greve, sendo considerada, nos demais casos, como direito. Suíça: os contratos coletivos têm cláusulas assecuratórias de paz. Assim, não há greve, pois não há conflito. Leste Europeu: alguns países consideram a greve como crime. Japão: o trabalhador que faz greve pode sofrer uma sanção administrativa. Assim, o produz mais para acarretar prejuízo ao empregador. China: a greve é proibida por lei desde a Constituição de 1950. Austrália: a greve tem que ser submetida ao Conselho Federal de Arbitragem e Negociação, havendo um controle estatal forte. . 22 A idéia do “lockout” é esvaziar o movimento. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 34 - Formas de Heterocomposição e de Autocomposição São formas de composição do conflito a heterocomposição e a autocomposição. A diferença básica entre uma e outra forma de composição de conflito, é que na heterocomposição há a inclusão de uma terceira pessoa na solução do conflito trabalhista, diversa das partes interessadas, enquanto que na autocomposição somente atuam as partes diretamente envolvidas, quais sejam, o empregado e o empregador. Como exemplos de heterocomposição temos a mediação, a arbitragem e o dissídio, enquanto que a conciliação é uma forma de autocomposição. Na mediação há a sugestão de uma solução por parte do mediador, que tem papel ativo. É mais utilizada quando o conflito versar sobre interesses coletivos, sendo muito utilizada nos EUA e na França. Na arbitragem, o árbitro impõe uma solução para o conflito trabalhista, exercendo um papel pro-ativo. Na conciliação, o conciliador tem papel passivo, sendo que as partes não contam com uma terceira pessoa para a solução do conflito. Mais utilizada nos conflitos individuais de trabalho. Mediação: há quem diga que não é uma forma de heterocomposição, uma vez que as sugestões dadas pelo mediador não são de cunho obrigatório, vinculatório, e sim sugestivo. As partes indicam o mediador que vai sugerir, naquela transação, quais os pontos que devem ser cedidos parte a parte. São tipos de mediação: Facultativa ou Obrigatória: na facultativa, as partes podem optar em recorrer ou não à mediação, enquanto que na obrigatória a mediação é estabelecida em acordo ou convenção coletiva, ou seja, a ela se deve recorrer na hipótese de qualquer conflito trabalhista, quando deverá a intervenção de um mediador ser obrigatória. É preciso ressaltar que a obrigatoriedade é enquanto etapa, não sendo, entretanto, obrigatória aceitação de seus efeitos. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 35 Unipessoal ou Colegiada: a mediação unipessoal é aquela feita por uma só pessoa, enquanto que a mediação colegiada é aquela realizada por um colegiado. Pública ou Privada: na mediação pública há a participação de um ente público, qual seja, o Delegado Regional do Trabalho, que convoca as partes, dizendo que irá acontecer uma mediação. A mediação pública é estabelecida por lei, acordo ou convenção coletiva. A mediação privada está prevista no art. 616, § 1° da CLT. Conciliação: a conciliação judicial ocorre quando o Poder Judiciário é provocado. O juiz, obrigatoriamente, tem que tentar promover a conciliação por duas vezes (no início da audiência e após as alegações finais). Na conciliação judicial coletiva, antes de proferir a sentença, o juiz tenta a conciliação mais uma vez. Se houver a conciliação judicial, dela decorre três efeitos: Extinção do processo sem julgamento do mérito. Natureza autocompositiva e conciliatória, embora haja participação do Estado. O acordo, a conciliação judicial, tem força de sentença. Existem algumas discussões doutrinárias: Na conciliação há obrigatoriedade ou facultatividade? E se for obrigatória, não estará sendo violado o princípio da inafastabilidade do acesso à jurisdição? Por que fazer a conciliação, se pode ser ajuizada diretamente uma ação judicial? No Brasil, a conciliação é facultativa. Se fosse obrigatória, como conseqüência, estaria sendo retardado, por um tempo, o acesso à Justiça. Discute-se a segurançajurídica na conciliação, pois, mesmo se dela decorrer um termo aceito pelas partes, nada impede que uma das partes pleiteie judicialmente a mudança de uma ou de algumas cláusulas. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 36 O termo de ajuste de conduta é aquele que decorre de uma conciliação. Assim, se o Delegado Regional do Trabalho convocar as partes de um conflito trabalhista para conciliação, e se esta for aceita, será lavrado o termo de ajuste de conduta respectivo, que se assemelha a um contrato. Cada parte diz o que vai modificar para atingir a conciliação, evitando, desta forma, o dissídio. Tem natureza jurídica de título executivo extrajudicial. Em caso de seu descumprimento, basta executar o termo. - Arbitragem Conceito Elementos Constitutivos Natureza Jurídica Sujeitos Objeto Tipos Nacional ou Internacional Obrigatória ou Voluntária Direito ou Eqüidade Legal ou Convencional De Oferta Final (“final offer”) Por pacote (“package”) Medianeira Cláusula Compromissória Compromisso Arbitral Sentença Arbitral - Arbitragem Conceito Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 37 Elementos Constitutivos Natureza Jurídica Sujeitos Objeto Tipos Nacional ou Internacional Obrigatória ou Voluntária Direito ou Eqüidade Legal ou Convencional De Oferta Final (“final offer”) Por pacote (“package”) Medianeira Cláusula Compromissória Compromisso Arbitral Sentença Arbitral Arbitragem é o processo de solução de um conflito jurídico por estranho aos seus sujeitos, mediante tentativa de conciliação e posterior decisão imperativa (CF, artigo 114, § 1° e Lei 9307/96). São elementos constitutivos da arbitragem: Conflito real de interesse jurídico. Intervenção de terceiro estranho ao conflito. Natureza imperativa da decisão desse terceiro. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 38 Quanto à natureza jurídica da arbitragem, há três correntes: ( Corrente privatista: a arbitragem é um exercício privado da jurisdição. É o Estado representado no particular. ( Corrente publicista: é o particular que representa o Estado, ou seja, não é o privado que exerce o poder público, mas este é que concede ao particular a possibilidade de solução do conflito. ( Corrente variante: a arbitragem é um ato complexo, de natureza sui generis. O grande questionamento quanto à arbitragem reside na possibilidade do desvirtuamento de sua utilização, como, por exemplo, na hipótese de árbitro pré-determinado, podendo advir dessa situação uma decisão não imparcial, que terá uma conseqüência mais grave, pois impede o acesso à Justiça. São sujeitos da arbitragem: ( As partes da relação jurídica (empregado e empregador). ( O terceiro (árbitro) que vai decidir. O objeto da arbitragem é a solução privada do conflito de interesse, mediante conciliação instrumentada ou decisão imperativa. São tipos de arbitragem: ( Nacional ou Internacional: a arbitragem nacional envolve partes e árbitros pertencentes ao mesmo Estado, enquanto a arbitragem internacional envolve pessoas, empresas ou estados de países diferentes, podendo, como árbitro, ser designado uma instituição ou até mesmo um Estado. ( Obrigatória ou voluntária: a arbitragem obrigatória é estipulada em contrato ou em acordo/convenção coletiva (não é estipulada em lei), enquanto que na arbitragem voluntária as partes percebem que não conseguirão evoluir na negociação e optam pela arbitragem. Arbitragem legal ou convencional: a arbitragem legal é aquela estipulada em lei, ou seja, esta obriga à utilização da arbitragem, estabelecendo a necessidade e a sua aplicação. De direito e de eqüidade: a arbitragem de direito está relacionada com a interpretação da norma (acordo / convenção coletiva). Assim, quando as interpretações forem díspares, estará ocorrendo o descumprimento da norma por uma das partes interessadas, sendo que a arbitragem vai decidir quem está em desobediência à Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 39 convenção ou acordo coletivo. A arbitragem de eqüidade vai agir no sentido de decidir quanto à melhora das condições de trabalho de determinada categoria profissional em função de conquistas conseguidas por outra categoria, ou seja, vai versar acerca de direitos. Oferta final: ambas as partes apresentam a proposta final de sua categoria, sendo que o árbitro vai decidir por uma ou por outra. Não vai poder haver negociação, pois, neste caso, seria mediação. Por pacote: o árbitro separa as reivindicações das partes por assunto, por pacotes, selecionando uma parte de cada reivindicação. Medianeira: é misto de mediação e arbitragem. O árbitro vai pinçar elementos das duas propostas, separadamente, mesclando-as. Com o resultado desse processo, vai verificar com as partes se desejam alguma alteração. A cláusula compromissória se refere, fundamentalmente, à eleição da arbitragem, ou até de quem vai ser eleito (Lei 9307/96, art. 4°). Compromisso arbitral (Lei 9307/96, art. 9º) é o que vai estabelecer especificamente a submissão àquela decisão, ao resultado da arbitragem. O nome correto da decisão decorrente da arbitragem é sentença arbitral, e não laudo arbitral, fazendo, inclusive, coisa julgada. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 40 - Dissídio Coletivo. Origem Poder Normativo do Juízo. Constitucional/Processual. Conceito de Poder Normativo. Social Fundamentos do Poder Normativo Intervencionismo Estatal. Evolução Legislativa do Poder Normativo. Canal permissivo: CF/37. Consolidação na legislação ordinária: CLT. Previsão constitucional: CF/46 (art. 123 § 2°); e CF/67 (art. 134, § 1º); EC 01/69 (art. 142, § 1º) e CF/88 (artigo 114, § 2°). Classificação dos Dissídios Coletivos. Natureza econômica Primeira corrente Natureza jurídica. Originário ou primário Segunda corrente revisional Derivado ou secundário de interpretação Natureza jurídica Terceira corrente Original Natureza econômica. Revisional De extensão De greve Natureza Jurídica dos Dissídios Coletivos. Ação de conhecimento extensão Ação declaratória interpretação greve interesse Ação constitutiva Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 41 revisão Partes Iniciativa Data-base O dissídio coletivo é um instituto processual e constitucional (CF, art. 114, § 2°). A Justiça do Trabalho tem a competência de criar normas nos dissídios coletivos, sendo que esse poder normativo do Juízo teve sua origem na CF de 1937. Esta Constituição Federal atribuiu à Justiça do Trabalho o poder de regular conflitos através da elaboração de uma sentença, com força e espírito de lei, não sendo necessário, entretanto, buscar elementos em lei. Exemplo: se a lei silenciasse quanto ao período dos reajustes salariais, a sentença poderia determinar que o aumento seria de 4 em 4 meses.Foi um período emblemático no Brasil, com Getúlio Vargas organizando a estrutura legal pátria. Observação: o dissídio coletivo só vai existir se forem esgotadas todas as possibilidades de negociação. Há quem diga, realizando uma interpretação literal, que só seria possível o dissídio coletivo na hipótese de recusa quanto à negociação e à arbitragem. Entretanto, o professor postula que não basta a recusa das partes, pois o esgotamento de todas as possibilidades de negociação seria um pressuposto processual, fundamentando seu posicionamento no princípio constitucional da negociação coletiva.23 Poder normativo do juízo, então, pode ser conceituado como a competência para solucionar dissídios de interesse coletivos, criando normas gerais e abstratas próprias do Poder Legislativo. Como fundamentos do poder normativo do Juízo é possível apontar: Social: o Estado tem a função social de proteger a parte menos favorecida na relação trabalhista (princípio da proteção ao trabalhador). 23 Um aluno perguntou se da sentença normativa caberia recurso ou ação de inconstitucionalidade. O professor respondeu que caberia recurso. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 42 Intervencionismo estatal: a intervenção estatal se faz necessária em virtude da hipossuficiência do trabalhador24 (corporativismo). Quanto à evolução legislativa do poder normativo do juízo, é possível afirmar que seu canal permissivo foi a CF/37, havendo sua consolidação na CLT em 1943. As demais constituições federais pátrias também fizeram previsões quanto à matéria (vide esquema). Os dissídios coletivos podem se classificar, de acordo com três correntes, em: Primeira corrente: corrente defendida por Valentim Carrion, não tendo muito respeito doutrinário, optando por um caminho diverso das demais correntes, sendo muito simplista. Segundo ela, os dissídios coletivos são de duas espécies: dissídios coletivos de natureza econômica ou dissídios coletivos de natureza jurídica. Os primeiros seriam aqueles que buscam a melhoria de salários, enquanto que os de natureza jurídica seriam aqueles que visam à melhoria das condições do trabalho em termos gerais, sendo que será necessária a intervenção do Poder Judiciário criando normas para atingir aquela determinada situação25. Segunda corrente: corrente adotada por José Augusto Rodrigues Pinto, que, também, classifica os dissídios coletivos em duas espécies: dissídios coletivos originários ou primários ou dissídios coletivos derivados ou secundários, que, por sua vez, se subdividem em revisional ou de interpretação. Dissídio coletivo originário é aquele onde há um dissídio de interesse, ou seja, dissídio em que há interesse em criar uma situação jurídica que atenda aos anseios daquela categoria. Dissídio coletivo derivado é aquele que se divide em dissídio revisional ou dissídio de interpretação. O dissídio revisional é aquele que procede à revisão da decisão do dissídio coletivo originário que, pelo decurso do tempo, se tornou obsoleta, enquanto 24 O professor entende que na hipótese do dissídio coletivo a proteção estatal é excessiva, uma vez que o trabalhador, quando reunido em grupo, se torna mais forte (o coletivo é mais forte do que o individual). Para ele, se a lei atribuísse garantia ao trabalhador, a parte não seria hipossuficiente. 25 O professor entende que todas as hipóteses - quer na de melhoria de salário, quer na de melhoria das condições de trabalho – vão envolver, direta ou indiretamente, dinheiro, assim como que em todos os casos haverá a intervenção do Poder Judiciário. Assim, não há essa diferenciação entre dissídio coletivo econômico e dissídio coletivo jurídico. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 43 dissídio coletivo de interpretação é aquele que ocorre quando já foi proferida decisão em um dissídio, mas as partes estão interpretando seus dispositivos de forma diversa. Terceira corrente: corrente capitaneada por Ives Gandra, que também classifica os dissídios coletivos como de natureza jurídica ou de natureza econômica, sendo que esta última espécie se subdivide em dissídio coletivo original, revisional, de extensão e de greve. O dissídio coletivo original e o dissídio coletivo revisional seriam correspondentes, respectivamente, ao dissídio originário e ao dissídio derivado. O dissídio coletivo de extensão26 seria similar ao dissídio de interpretação. Quanto ao dissídio de greve, é preciso ressaltar que a greve não precisa, obrigatoriamente, ter uma solução heterônoma, ou seja, não é obrigatória a intervenção do Poder Judiciário. Entretanto, quando este for provocado, vai se limitar a dizer se a greve é abusiva ou não. São partes no dissídio coletivo a categoria profissional e as empresas ou categorias econômicas. Quanto à natureza jurídica do dissídio coletivo, este é uma ação de conhecimento, onde o interessado vai provocar o Poder Judiciário, apresentando-lhe uma situação que será por ele conhecida e decidida, podendo haver uma sentença de natureza declaratória ou constitutiva. A ação será declaratória nas hipóteses de dissídio de extensão (abrangência de coletividade), de interpretação (interpretação da lei) e de greve. A ação será constitutiva nas hipóteses de dissídio de interesse e de dissídio de revisão. A iniciativa nos dissídios coletivos é das partes, na forma do art. 856 da CLT, sendo que a Lei de Greve fala, também, na legitimidade do Ministério Público, e exclui o Presidente do Tribunal. Assim, apesar da CLT permitir a iniciativa do Presidente do Tribunal, a Lei de Greve, em seu artigo 8° veda, prevalecendo sobre aquela. 26 Quanto ao dissídio de extensão, o professor entende que está relacionado à abrangência do grupo, sendo que se fosse considerada, também, a extensão da interpretação da norma estaria sendo realizada uma interpretação extensiva. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 44 A competência para julgar os dissídios coletivos é do TRT ou do TST, dependendo do caso. Data-base é o termo legal de uma determinada sentença normativa. Nos dois meses anteriores ao termo legal da sentença normativa (artigo 616, parágrafo 3º), poderá novo dissídio ser suscitado. O professor acredita que, na hipótese, estará sendo violado o princípio constitucional da negociação coletiva. - Dissídio de Interesse Cabimento. Admissibilidade. Impulso Inicial. Partes MP Presidente do Tribunal (?) Forma Escrita. Qualificação das partes Justificativa das cláusulas propostas. Atos integrativos. Direito do Trabalho II Direito Coletivo do Trabalho - Direito Sindical UNICARIOCA Prof. Dr. Leonardo Rabelo leonardorabelo@uva.br 45 Recebimento do registro. Designação de audiência. Comunicação às partes e ao MP. Audiência com: Presidente do órgão julgador. Partes. Ministério Público. Discussão das propostas. Determinação de diligências. Opinativo do MP. 8 dias, por escrito Na sessão, oral Julgamento com: Discussão de cláusula por cláusula. Fundamentação de cada deferimento o indeferimento. Conclusão com a formulação das normas criadas. Dissídio de interesse é o dissídio coletivo mais comum. É a composição heterônoma de um conflito suscitado por um interesse ou necessidade de uma categoria. É cabível o dissídio
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