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REVISÃO DE LITERATURA CONSULTA DE ENFERMAGEM AO PORTADOR DE HANSENÍASE •revisão integrativa• Dandara Abreu Queiros de Lima*, Ana Valéria da Silva Cassemir*, Raquel Silveira Mendes**, Cristiane Santiago Natario Branco**, Ysabely de Aguiar Pontes Pamplona*** Autor correspondente: Ysabely de Aguiar Pontes Pamplona -ysabelypontes@hotmail.com * Enfermeira. Graduada pela Faculdade de Ensino e Cultura do Ceara (Faece) ** Enfermeira. Especialista em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceara (Uece). *** Enfermeira. Doutoranda em Saúde Coletiva da Universidade Católica de Santos (Unisantos). Bolsista CAPES. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Condições Sociais e Saúde (NEPEC). Resumo O estudo objetiva conhecer os aspectos abordados em publicações científicas sobre a consulta de enfermagem aos pacientes portadores de hanseníase. Caracteriza-se como uma revisão integrativa da literatura, referente a produções científicas sobre a consulta de enfermagem em pacientes portadores de hanseníase. Base de dados utilizadas foram a Lilacs e a Medline; como critérios de inclusão foram selecionados artigos com publicação no período de 2005 à 2011, redigidos na língua inglesa, espa- nhola e portuguesa, estando disponível na íntegra que abordassem os temas pertinentes à consulta de enfermagem em hanseníase. Pode-se compreender a importância da consulta de enfermagem em hanseníase, uma vez que ela participa, ativamente, na busca, de casos novos, interrompe a transmis- são da doença, quebrando a cadeia epidemiológica, na prevenção da doença, na promoção da saúde, na orientação sobre o tratamento PQT, no registro do prontuário do paciente, para uma melhor as- sistência continuada. Palavras-chave: Hanseníase; Consulta; Enfermagem. CONSULTATION BEARER OF NURSING HANSENÍASE • integrative review • Abstract This study aimed to evaluate the points raised in the scientific literature on the nursing consultation to patients with leprosy. It is characterized as an integrative literature review concerning scientific • Artigo submetido para avaliação em 20/05/2014 e aceito para publicação em 11/11/2015 • DOI: 2317-3378rec.v4i2.387 http://dx.doi.org/10.17267%252F2317-3378rec.v4i1.439 http://dx.doi.org/10.17267/2317-3378rec.v4i2.387 · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 200 INTRODUÇÃO A hanseníase é uma doença crônica cuja transmis- são se faz, de forma direta, através das vias respira- tórias, por um contato íntimo e prolongado com o portador sem tratamento, causada pelo Mycobacte- rium leprae, parasita intracelular com afinidade pe- las células cutâneas e os nervos periféricos. Apesar do grande potencial infectante, somente 10% dos indivíduos que vivem em situações de alta preva- lência adoecem.(1) A patologia, primeiramente, se manifesta atra- vés de lesões na pele tais como manchas esbran- quiçadas ou avermelhadas com perda de sensibi- lidade, podendo aparecer em qualquer região do corpo, principalmente na face, orelhas, nádegas, braços, pernas, costas e mucosa nasal.(1) Além das lesões dermatológicas, existem as le- sões neurológicas que ocorrem nos nervos periféri- cos que podem ser causadas, tanto pela ação direta do bacilo, quanto pelos estados reacionais, mani- festadas através da dor ou do espessamento neu- ral, diminuição ou perda de sensibilidade e/ou força motora. Se não diagnosticadas e tratadas, precoce- mente, evoluem para incapacidades físicas, como garra de artelhos, absorções ósseas, lagoftalmo e outras. Essas incapacidades que geram deformida- des conduzem a problemas para o portador como capacidade de trabalho diminuída, além de limita- ção da vida social e problemas psicológicos, o que auxilia no estigma e preconceito contra a doença.(2) De acordo com Duarte(2) aproximadamente 94% dos casos de hanseníase conhecidos nas Améri- cas e 94% dos casos diagnosticados são notifica- dos pelo Brasil. No ano de 2006, foram notifica- dos 47.612 casos novos, dos quais 8% ocorrem em menores de 15 anos, cerca de 6% apresentavam grau II de incapacidade e 53% eram multibacilares, o que torna o Brasil o segundo país em número de casos no mundo. A Secretaria de Vigilância em Saúde afirma que apesar do Brasil registrar uma queda de 15% no número de casos de hanseníase no ano de 2011, ele continua ocupando o segundo lugar no ranking mundial de incidência da doença, atrás apenas da Índia.(3) Somente no Ceará no ano de 2011, foram diag- nosticados 2.003 casos novos de hanseníase, co- locando o Estado do Ceará no 13º lugar do ranking nacional e no 4º lugar do Nordeste, em número de casos novos da doença. Em Fortaleza foram regis- trados 639 casos dos quais 26,1% foram detecta- dos. Entre os comunicantes (membros da família ou pessoas que dividem habitação com um sus- peito de hanseníase), 2.355 indivíduos foram regis- trados e desse grupo somente 1.061 examinados.(3) Assim, devido à alta prevalência de casos no Brasil, associada ao seu potencial incapacitante, a hanseníase se torna um grave problema de saúde pública. O seu tratamento é de fundamental impor- tância na estratégia de controle da doença visando, production on the nursing consultation in patients with leprosy. Database were used to Lilacs and Medline; inclusion criteria were selected to articles published from 2005 to 2011, written in English, Spanish and Portuguese, and is available in full that addressed issues pertinent to nursing consultation in leprosy. One can understand the importance of nursing consultation in leprosy, as it actively participates in active search of new cases, interrupts the transmission of disease by breaking the chain epidemiology, disease prevention, health promotion, orientation on the MDT, the record of the patient’s record for better continuing assistance. Keywords: Leprosy; Consultation; Nursing. · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 201 primordialmente, interromper a transmissão da doença, além de desfazer a cadeia epidemiológica, prevenir incapacidades físicas, promover a cura e a reabilitação física e social do portador.(2) A Lei n.º 7.498/86 e o Decreto 94.406/87 regula- mentam a consulta de enfermagem no âmbito na- cional. O artigo 11º o legitima e a classifica como uma modalidade de prestação de assistência direta ao cliente, como atividade privativa do enfermeiro. A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) n.º159/93, no seu artigo 1º torna a con- sulta de enfermagem obrigatória no desenvolvi- mento da assistência de enfermagem em todos os níveis de assistência à saúde, seja em instituição pública ou privada.(2) Definem-se como ações de enfermagem aquelas realizadas pelo enfermeiro e demais integrantes da equipe de enfermagem, devendo ser executadas de forma sistemática em todos os doentes e comuni- cantes. Essas ações incluem a consulta de enfer- magem e a aplicação de testes e vacina BCG intra- dérmica para contatos.(2) No controle da hanseníase os profissionais de enfermagem possuem papel fundamental na pre- venção da doença, na busca e diagnóstico dos ca- sos, no tratamento e seguimento dos portadores, além de prevenção e tratamento de incapacidades, além de desenvolverem a gerência das atividades de controle, sistema de registro, vigilância epide- miológica e pesquisas.(4) Para Duarte(2) a consulta de enfermagem torna-se primordial na assistência visto que na consulta se es- tabelece uma interação terapêutica do indivíduo com o profissional da saúde, possibilitando o reconheci- mento das condições de vida que determinarão os perfis de saúde e doença. A comunicação terapêutica entre enfermeiro e paciente tem a finalidade de iden- tificar e atender as necessidades de saúde do pacien- te, criando oportunidades de aprendizagem, além de despertar no indivíduo o sentimento de confiança, fazendo com que ele se sinta satisfeito e seguro para voltar a viver em sociedade.(4) Visando o cuidado, a consulta de enfermagem é proposta como exemplode aplicação individual do Processo de Enfermagem, constituindo-se em ações sistematizadas e inter-relacionadas, onde se contempla os seguintes passos do processo de en- fermagem: histórico de enfermagem (inclui a en- trevista e o exame físico), diagnóstico de enferma- gem, prescrição de enfermagem e implementação da assistência e evolução de enfermagem. Assim, se tem por princípio, o conhecimento das neces- sidades de saúde para a proposição da prescrição e implementação da assistência de enfermagem.(2) O presente estudo trata de uma revisão integra- tiva com o intuito de conhecer a função do enfer- meiro, na consulta ao paciente diagnosticado com hanseníase. A escolha deste tema se dá, devido à elevada prevalência desta enfermidade no Brasil, que se não tratada adequadamente, pode evoluir para complicações de úlceras plantares e incapa- cidades físicas chegando em casos extremos as amputações. Buscando, então, oferecer uma consulta mais qualificada e eficaz ao usuário, através de um co- nhecimento abrangente sobre a temática referida, realizou-se esta pesquisa. Compreende-se que este trabalho anseia con- templar a temática referida na literatura atual, pos- sibilitando que o enfermeiro possa refletir e criar estratégias para melhorar a qualidade da consulta e acompanhamento de enfermagem, aos portado- res de hanseníase. Esta temática tem grande rele- vância, uma vez que melhora os serviços ofertados pelos enfermeiros aos portadores de hanseníase, visto que os pacientes podem enfrentar problemas sociais e psicológicos que podem interferir na evo- lução do tratamento. Esta pesquisa tem, portanto, como objetivo co- nhecer os aspectos abordados em publicações científicas sobre a consulta de enfermagem aos pacientes portadores de hanseníase. METODOLOGIA O presente trabalho caracteriza-se como uma revi- são integrativa da literatura referente a produções · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 202 científicas sobre a consulta de enfermagem em pa- cientes portadores de hanseníase. A formulação da questão norteadora deste estu- do foi definida a partir do seguinte questionamen- to: Como a consulta de enfermagem aos pacientes portadores de hanseníase estão sendo abordada na literatura? A coleta de dados ocorreu no período de julho a setembro de 2012. A revisão foi realizada a partir das bases de dados eletrônicos da Literatura Lati- no-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), consultadas através do site da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) da Biblioteca Re- gional de Medicina (BIREME). Utilizando a base LI- LACS e os descritores hanseníase e consulta e en- fermagem e a tradução das palavras associadas em inglês (leprosy and consultation and nursing) e tam- bém em espanhol (enfermería and lepra and consul- ta), 42 artigos foram encontrados. Já na base de dados MEDLINE, utilizando-se as mesmas palavras-chave, foram identificados nove estudos; sendo cinco artigos com descritores em inglês e quatro artigos com descritores em espa- nhol, todos estes também citados no LILACS. Os artigos foram selecionados segundo os se- guintes critérios de inclusão: ter sido publicado no período de 2005 a 2011, estar redigido em língua inglesa, espanhola ou portuguesa, estar disponível na íntegra nas referidas bases de dados e abordar temas relacionados à consulta de enfermagem e hanseníase. Tendo como os critérios de exclusão: publicações repetidas entre as bases de dados, re- sumos de congressos, anais, editoriais, monogra- fias, dissertações e teses. Primeiramente, os artigos foram selecionados por meio do título e, em seguida, pelo resumo. Nesta etapa foram selecionados oito artigos que relacionavam a consulta de enfermagem e han- seníase. Após a leitura integral dos textos, foram selecionados cinco artigos da base de dados, que serão discutidos no presente estudo. Os artigos in- cluídos foram descritos em categorias temáticas de acordo com as relações apresentadas por eles entre a consulta de enfermagem e hanseníase. A análise dos dados foi fundamentada na literatura pertinente à temática. Ressalta-se que foram respeitados os aspectos éticos e legais, tendo em vista que foram utilizadas publicações de periódicos nacionais, cujos autores foram citados em todos os momentos em que os artigos foram mencionados. RESULTADOS Para consolidação dos resultados deste estudo, analisaram-se os cinco artigos que atenderam aos critérios de inclusão, previamente estabelecidos. Quadro 1 – Distribuição dos artigos segundo autores, título, periódico, ano e objetivo (continua) Autores Título Periódico Ano Objetivo duarte, MTC; Ayres, JÁ; Simonetti, JP Perfil socioeconômico e demográfico de portadores de hanseníase atendidos em consulta de enfermagem Revista Latino Americana de Enfermagem 2007 Conhecer o perfil socioeconômico e demográfico e o grau de incapacidade dos portadores de hanseníase, atendidos no Centro de Saúde Escola de Botucatu, SP. Duarte, MTC; Ayres, JÁ; Simonetti, JP Consulta de enfermagem ao portador de Hanseníase: proposta de um instrumento para aplicação do processo de enfermagem Revista Brasileira de Enfermagem 2008 Relatar a experiência da consulta de enfermagem junto aos portadores de hanseníase, realizada em unidade de atenção primária à saúde. · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 203 Autores Título Periódico Ano Objetivo Freitas, CASL; Neto, AVS; Neto, FRGX; Albuquerque, IMAN; Cunha ICKO Consulta de enfermagem ao portador de Hanseníase no Território da Estratégia da Saúde da Família: percepções de enfermeiro e pacientes Revista Brasileira de Enfermagem 2008 Analisar a percepção de enfermeiros e portadores de hanseníase sobre a Consulta de Enfermagem. Vieira, CSCA; Soares, MT; Ribeiro, CTSX; Silva, LFG Avaliação e controle de contatos faltosos de doentes com Hanseníase Revista Brasileira de Enfermagem 2008 Realizar a busca ativa dos contatos intradomiciliares faltosos no controle de hanseníase em um Ambulatório Regional de Especialidades do Vale do Paraíba, e como objetivos específicos, caracterizar o perfil dos contatos intradomiciliares e os motivos da não adesão ao controle. Duarte, MTC; Ayres, JÁ; Simonetti, JP Consulta de enfermagem: Estratégia de cuidado ao portador de hanseníase em atenção primária Revista Texto & Contexto Enfermagem 2009 Analisar o instrumento de consulta de enfermagem utilizado junto à clientela atendida no Programa de Hanseníase de uma Unidade de Atenção Primária à Saúde e identificar Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras. Quadro 1 – Distribuição dos artigos segundo autores, título, periódico, ano e objetivo (conclusão) DISCUSSÕES Por meio da análise dos resultados, foi possível formar considerações importantes a serem rela- tadas com relação à consulta de enfermagem e hanseníase, as quais foram categorizadas nos se- guintes temas: Lei Regulamentadora da Consulta de Enfermagem; Papel do Enfermeiro frente à han- seníase; Consulta de Enfermagem ao paciente sus- peito/diagnosticado com hanseníase; Hanseníase ainda um problema de Saúde Pública; Hanseníase: Estigma e traumas psicológicos; Tratamento Poli- quimioterápico (PQT); e dose supervisionada. LEI REGULAMENTADORA DA CONSULTA DE ENFERMAGEM Através da Lei Nº 7.498/86 e pelo Decreto Nº 94.406/87, artigo 11º foi regulamentada a consulta de enfermagem no âmbito nacional. Sendo legi- timada e determinada como uma modalidade de prestação de assistência direta ao cliente, privativa do enfermeiro.(5) As ações de enfermagem devem então ser fun- damentadas nos valores da profissão e no Código de Ética, certificando a promoção, proteção, recu- peração e reabilitação dos indivíduos, respeitando os aspectos éticos e legais.(6) Segundo de Barros & Lopes (6) a Resolução do COFEN n.º 159/93, que torna obrigatória a con-sulta de enfermagem em todos os níveis de assis- tência, foi revogada pela Resolução do COFEN nº 358/2009. A nova diretriz organizou a prática da enfermagem em cinco etapas: I. Histórico de Enfermagem, cuja finalidade é a obtenção de informações sobre a pessoa, a família ou a coletividade humana e sobre · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 204 suas respostas em um dado momento do processo de saúde-doença; II. Diagnóstico de Enfermagem, que constitui a base para a seleção das ações ou interven- ções com as quais se objetiva alcançar os re- sultados esperados; III. Planejamento de Enfermagem, que é a de- terminação dos resultados que se esperam alcançar; IV. Implementação que é a realização das ações do planejamento de enfermagem; V. Avaliação de Enfermagem, que consiste na verificação das mudanças nas respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um determinado momento do processo de saúde-doença, visando avaliar se as interven- ções de enfermagem obtiveram os resultados esperados ou se será necessário mudanças ou adaptações. As ações dos profissionais de enfermagem de- vem, portanto, fundamentar-se nos valores da pro- fissão e no Código de Ética, assegurando a pro- moção, proteção, recuperação e reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais. Nesse sentido, a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem (LEPE) nº 7498/1986, estabelece as competências dos profissionais de enfermagem e a responsabilidade no agir com base nas compe- tências técnicas, éticas, políticas ou relacionais de cada um.(6) A Lei Regulamentadora apresentou-se em 40% dos artigos encontrados sendo, não somente cita- da mas, também, sucintamente discorrida. PAPEL DO ENFERMEIRO FRENTE À HANSENÍASE O Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde, cita como papel do enfermeiro no enfrenta- mento da hanseníase: 1. Identificação dos sinais e sintomas da hanse- níase e avaliação dos casos suspeitos enca- minhados para a unidade de saúde; 2. Realização da consulta de enfermagem, as- sim como a solicitação de exames comple- mentares e prescrições de medicações, con- forme protocolos ou normativas técnicas estabelecidas pelo gestor municipal; 3. Preenchimento completo da ficha de notifica- ção para os casos confirmados de hanseníase; 4. Avaliação e registro do grau de incapacidade física em prontuários e formulários; 5. Orientação ao paciente e a família para a rea- lização de autocuidados; 6. Orientação e realização de técnicas simples de prevenção de incapacidades físicas; 7. Realização de exame dermatoneurológico em todos os contatos intradomiciliares; 8. Realização da vacinação com o BCG aos con- tatos sem sinais da doença; 9. Realização da assistência domiciliar, 10. Planejamento, gerenciamento, coordenação e avaliação das ações desenvolvidas pelos ACS.(7) A enfermagem é citada como papel fundamental no controle da hanseníase, por meio da consulta de enfermagem, proporcionando a conscientiza- ção do controle de comunicantes intradomicilia- res, através da educação em saúde e da vacinação com a BCG para prevenção e controle das formas mais contagiosas do Mycobacterium leprae.(1) Além de atuar diretamente com o cliente, o en- fermeiro também gerencia as atividades de contro- le, o sistema de registro, a vigilância epidemiológi- ca e a pesquisa.(4) Da Silva(8) afirma que estratégias como palestras e oficinas à comunidade têm sido de grande rele- vância para a busca ativa de casos novos de hanse- níase e pessoas vulneráveis à infecção, citando que a equipe de saúde integra as práticas de prevenção · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 205 da doença e promoção da saúde. Também decla- ram o respaldo que o enfermeiro possui, através dos programas de rotina da saúde pública, apro- vados pela instituição de saúde, para prescrever o tratamento poliquimioterápico e orientá-lo, visan- do minimizar a disseminação da doença. Por fim, o enfermeiro anota, detalhadamente as informações pertinentes do paciente e todas as condutas realizadas, permitindo assim, maior segurança do paciente e do próprio profissional e possibilitando a continuidade da assistência. Considerando o papel do enfermeiro como fun- damental pode-se compreender a sua importância para a Saúde Pública, sendo citado e amplamente discorrido em todos os artigos selecionados. CONSULTA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE SUSPEITO/DIAGNOSTICADO COM HANSENÍASE Tendo como objetivo a integralidade do cuidado, a consulta de enfermagem visa a maior resolutivida- de dos problemas de saúde dos usuários dos servi- ços, constituindo um encontro entre o indivíduo e o profissional de saúde.(2,5) O primeiro atendimento, a um possível caso de hanseníase, pode ser feito pelo enfermeiro capaci- tado que realizará uma triagem, antes de encami- nhá-lo para uma consulta médica que confirmará ou não o diagnóstico.(9) A consulta não fica restrita aos aspectos técni- cos, mas consiste ainda na criação de uma relação confiável entre enfermeiro e cliente, tendo em vista a comunicação terapêutica, cuja finalidade é aten- der as necessidades de saúde do cliente, criando oportunidades de aprendizagem além de fazê-lo participar dos esquemas terapêuticos.(4) Os passos a serem seguidos para a primeira consulta ao suspeito de hanseníase são os seguin- tes: história clínica que conta com a anamnese, an- tecedentes pessoais e doenças concomitantes e também antecedentes familiares; exame físico que consiste no exame físico geral, no exame derma- to-neurológico (exame da superfície corporal, tes- te de sensibilidade nas lesões suspeitas, avaliação neurológica simplificada com palpação de nervos, teste de força muscular e teste de sensibilidade de córnea, palmas e plantas); determinar o grau de in- capacidade nas mãos, pés, olhos; diagnóstico, exa- mes laboratoriais, tratamento e atividades de con- trole.(9) Também faz parte da consulta de enfermagem a realização da notificação dos casos confirmados como hanseníase no Sistema Nacional de Agravos e Notificação (SINAN), uma vez que seja doença de notificação compulsória em todo Território Na- cional e de investigação obrigatória.(7) A consulta pós-alta do tratamento medicamen- toso, embora tenha sido citada em 20% dos arti- gos, não foi amplamente abordada. Nos artigos selecionados, todas essas condutas para a primeira consulta são citadas, entretanto, há uma maior ênfase na avaliação neurológica, no tra- tamento poliquimioterápico e nas orientações so- bre a prevenção de incapacidades, como pode ser observado no gráfico a seguir. · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 206 Figura 1 – Ênfase dada pelos artigos as condutas de enfermagem Fonte: Elaborada pelas pesquisadoras. Diante do exposto foi observada uma maior ên- fase na prevenção de incapacidades, citada em 45% dos artigos, como essencial na consulta de enfermagem. Em segundo lugar ficou o tratamento PQT com 33% e em terceiro lugar a avaliação neu- rológica com 22% de ênfase. HANSENÍASE AINDA UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA Segundo a Secretária de Vigilância em Saúde o coe- ficiente de prevalência da hanseníase no Brasil di- minuiu de 4,52 p/10.000 habitantes em 2003 para 1,24 p/10.000 habitantes em 2011. Ainda assim continua sendo o segundo lugar no ranking mun- dial de incidência da doença, ficando o Estado do Ceará em 14º lugar no ranking nacional com a de- tecção geral de hanseníase por UF de residência 21,65 casos p/100.000 habitantes.(3) Apesar da diminuição desta prevalência do ano de 2003 para o de 2011 sabe-se que, ainda assim, as doenças crônico-degenerativas continuam nas primeiras posições entre as principais causas de morte, em detrimento das doenças infecto-parasi- tárias constituindo, ainda, um grave problema de saúde pública.(10) Este problema exige, assim, profissionais que es- tejam sensibilizados e capacitados para trabalhar na meta da eliminaçãoda hanseníase no Ceará, visto a esta alta detecção de casos no Ceará, jun- tamente com o poder incapacitante da doença.(10) Os artigos são unânimes em abordar a hanse- níase como um grave problema de saúde pública uma vez que se relacionam a alta taxa de detecção e o seu potencial incapacitante. HANSENÍASE: ESTIGMA E TRAUMAS PSICOLÓGICOS Pode-se relacionar, diretamente, o estigma do pre- conceito com o grau de incapacidade física, adqui- rida pela doença. As consequências desta incapaci- dade resultam em deformidades que são capazes de diminuir a capacidade de trabalho, limitar a vida social e causar problemas psicológicos.(2,10) Como exemplo dessas deformidades o compro- metimento ocular, que diminui a acuidade visual ou mesmo a cegueira e a insensibilidade das mãos · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 207 e pés que, associados expõem o cliente a inúmeros riscos, deixando-o vulnerável a traumas, ferimen- tos e mutilações.(5) O tratamento das incapacidades deve ser feito em conjunto com o tratamento poliquimioterápico e a prevenção das mesmas é realizada com ações de educação em saúde, diagnóstico precoce da doença, tratamento medicamentoso regular, con- trole dos comunicantes com a vacinação BCG-ID, detecção precoce e tratamento das reações e neu- rites e orientação sobre autocuidado.(1) A educação em saúde, juntamente com o apoio psicossocial, não deve ser relegada a segundo pla- no, mas integrada a terapia medicamentosa para ter o efeito esperado do plano de cuidados, ou seja, a prevenção/diminuição das incapacidades e em consequência a redução e a eliminação do estigma da doença.(2) TRATAMENTO POLIQUIMIOTERÁPICO (PQT) E DOSE SUPERVISIONADA A terapia medicamentosa da hanseníase foi intro- duzida no Brasil em 1989, sendo fundamental na eliminação da doença.(10) A poliquimioterapia (PQT), consiste nas seguin- tes drogas: rifampicina, clofazimina e dapsona. Esse tratamento segue o esquema de uma dose supervisionada pelo profissional de saúde e 28 do- ses domiciliares por consulta, constando na erradi- cação da hanseníase paucibacilar em 6 doses su- pervisionadas em até 9 meses e na erradicação da hanseníase multibacilar em 12 doses supervisiona- das em até 18 meses.(1) É fundamental a administração da dose supervisionada para se garantir a eficácia do tratamento, pois ao matar o bacilo é inviável a evolução da doença. Como consequência tem-se a prevenção de incapacidades e de deformidades levando o indivíduo a alta por cura.(7) CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo buscou-se investigar sobre como tem sido a abordagem na literatura da consulta de enfermagem ao paciente suspeito ou diagnostica- do com hanseníase. Após a revisão literária, algumas considerações podem ser realizadas. Apesar de haver bastante li- teratura sobre a consulta de enfermagem em han- seníase, poucas delas abordam o passo a passo sistematizado do plano de cuidado ao portador do Mycobacterium leprae. Não foram contemplados es- tudos que falassem sobre a consulta pós-alta do pa- ciente e nem as principais prescrições de enferma- gem usadas na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) pertencente a referida temática. No estudo, foi possível observar os enfoques da- dos ao que se considera como cuidados primor- diais na consulta de enfermagem, como por exem- plo, prevenção de incapacidades, deformidades, a avaliação dermatoneurológica e a administração da dose supervisionada. Constatou-se ainda que a consulta de enferma- gem buscou-se criação de vínculo e confiança com o cliente, com objetivo de prestar uma atenção de qualidade, humanizada e efetiva com a prioridade da cura e a reabilitação física e social do paciente, Pode-se compreender a importância da consulta de enfermagem em hanseníase, uma vez que ela participa, ativamente, na busca ativa de casos no- vos, interrompe a transmissão da doença, quebran- do a cadeia epidemiológica, na prevenção da doen- ça, na promoção da saúde, na orientação sobre o tratamento PQT e no registro do prontuário do pa- ciente para uma melhor assistência continuada. Ela proporciona ao enfermeiro, condições para atuar, de forma direta e independente com o pa- ciente caracterizando, dessa forma, sua valoriza- ção profissional. Essa atividade, fornece subsídios para a determinação do diagnóstico de enferma- gem e elaboração do plano assistencial, servindo · Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez.;4(2):199-208 · 208 como meio para documentar sua prática, atuando diretamente nas ações de controle da hanseníase seja individualmente com o portador, sua família ou comunidade. REFERÊNCIAS 1. Vieira CSCA, Soares MT, Ribeiro CTSX, Silva LFG. Avaliação e controle de contatos faltosos de doentes com hanseníase; Evaluación y control de contactos fltantes de enfermos con lepra; Evaluation and control of missing contacts of leprosy patients. Rev. bras. enferm. 2008;61(spe):682-688. 2. Duarte MTC, Ayres JA, Simonetti JP. Consulta de enfermagem ao portador de Hanseníase: proposta de um instrumento para aplicação do processo de enfermagem; Consulta de enfermería al portador de la Lepra: propuesta de una herramienta para aplicación del proceso de enfermería; Nursing consultation for Leprosy patients: proposal of an instrument for nursing process application. Rev. bras. enferm. 2008;61(spe):767-773. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Vigilância em saúde: situação epidemiológica da hanseníase no Brasil 2011. Disponível em: <http://portalsaude. saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2012/ Jan/26/hansehanse_2011_final.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2012. 4. Freitas CASL, Silva Neto AV, Ximenes Neto FRG, Albuquerque IMAN, Cunha ICKO. Consulta de enfermagem ao portador de hanseníase no território da Estratégia da Saúde da Família: percepções de enfermeiro e pacientes; Consulta de enfermería al portador de la lepra en lo território de la Estrategia de Salud de la Familia: percepciones de enfermeros y pacientes; Nursing consultation for leprosy patients in the territory of the Family Health Strategy: perceptions of nurses and patients. Rev. bras. enferm. 2008;61(spe):757-763. 5. Duarte MTC, Ayres JA, Simonetti JP. Consulta de enfermagem: estratégia de cuidado ao portador de hanseníase em atenção primária. Texto & contexto enferm. 2009;18(1):100-107. 6. de Barros ALBL, Lopes JL. A legislação ea sistematização da assistência de enfermagem. Enferm. Foco. 2011;1(2). 7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Vigilância em saúde: dengue, esquistossomose, hanseníase, malária, tracoma e tuberculose. 2ª ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde; 2008. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 21). 8. da Silva FRF, da Costa ALRC, de Araújo LFS, Bellato R. (2009). Prática de enfermagem na condição crônica decorrente de hanseníase. Texto & contexto enferm. 2009;18(2):290-297. 9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia para o controle da Hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 10. Duarte MTC, Ayres JA, Simonetti JP. Socioeconomic and demographic profile of leprosy carriers attended in nursing consultations. Rev. latinoam. enferm. 2007;15(SPE):774-779.
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