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O Que São as Luzes

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col tç,1o 
_ .. -dor 
Manoel 
Barros da 
M orta 
, e ;11, r~ ~, r 
1lfJ I I/I H~_jl f AR IA 
l) itos & Escr ito s ff. 
oucau t 
Arqueologia das Ciências e 
História dos Sistemas de 
Pensamento 
2ª EDIÇÃO 
\ (' º I t· e ,, " 1 l) ,· t o s & l' . [l • ' 1.RC f l t 0 8 ... •····· ···············r······· ······· .. ·······/ , .. ............................... ......................... .. 
I 
1 
U Arqueologia das Ciências e 
• , 
4 
História dos Sistemas de 
Pensamento 
2ª EDIÇÃO 
. 
Organização e seleção de textos: 
Manoel Barros da Motta 
Tradução: 
Elisa Monteiro 
Dits et écrits 
Edição francesa preparada sob a direção de Daniel Defert e 
François Ewald com a colaboração de Jacques Lagrange 
~, 
FORENSE 
UNIVERSITÁRIA 
1984 
0 gue São as Luzes? 
t 
·s Ei111·gthenment?" l"O que são as Luzes?" ) in Rabinow (P . ). ed .. The Fou-·-Wha 1 
[ eader Nova Iorque, Pantheon Books, 1984. ps. 32-50. cau t r · 
Quando, nos dias de hoje, um jornal propõe uma pergunta aos 
seus leitores, é para pedir-lhes seus pontos de vista a respeito de 
um tema sobre o qual cada umjá tem sua opinião: não nos arrisca-
mos a aprender grande coisa. No século XVIII, se preferia interro-
gar o público sobre problemas para os quais justamente ainda não 
havia resposta. Não sei se era mais eficaz; era mais divertido. 
Assim, em virtude desse hábito, um periódico alemão, a Berlinis-
che Monatsschrift, publicou, em dezembro de 1784, uma resposta à 
pergunta: Wa.s ist Atifkldrung?1 E essa resposta era de Kant. 
Texto menor, talvez. Mas me parece que, com ele , entra discreta-
mente na história do pensamento uma questão que a filosofia mo-
derna não foi capaz de responder, mas da qual ela nunca conseguiu 
se desembaraçar. E há dois séculos, de formas diversas, ela a repe-
te. De Hegel a Horckheimer ou a Habermas, passando por Nie-
tzsche ou Max Weber, não existe quase nenhuma filosofia que, dire-
ta ou indiretamente, não tenha sido confrontada com essa mesma 
questão: qual é então esse acontecimento que se chama a Aujklci-
rung e que determinou, pelo menos em parte, o que somos, pensa-
mos e fazemos hoje? Imaginemos que a Berlinische Monatsschrift 
ainda existe em nossos dias e que ela coloca para seus leitores a 
questão: "O que é a filosofia moderna?" Poderíamos talvez respon-
der-lhe em eco: a filosofia moderna é a que tenta responder à ques-
tão lançada, há dois séculos, com tanta imprudência: Was ist Aufk-
lürung? 
l . ln Berlinische Monatsschrift, dezembro de 1784, vol. IV. ps. ~81-491 l"Q~'eSl-_ce 
que les Lumieres?". trad. Wismann, in Oeuures . Paris. Galhrnard. col. Bibho-
lheque de la Pléiade", 1985, t. ll). 
e f scrHoS J)jlOS J 
336 
Jnstantes nesse texto de Kant fJ 
or aJguns ,, . <)r 
ortr11haJ110•nos p ce reter a atençao . 
. , ·azõcs. ele inerc t o próprio Moses Mendelssohn U h 
11 nnté-lS 1 perg11n a, . n ;1 
) A essa mes1na rnoJ·ornaL do1s meses antes. Mas tt,_ I , der no rnes . . 1 ' \<lnt 
, uado de respon ndo havia redigido o seu. Certarnent 
:1ca texto qua . . r. 
desconhecia esse to ue data o encontro do movimento filosófko 
11
~0 é desse momen qd envolvimentos da cultura judaica. Já h: novos es . d 
alemão com os 
1 
ohn estava nessa encruzilhada, em compa-
uns 30 anos_ M~~a:~:té então, tratava-se ~e dar direito de cidada. 
nh1a de Lessu~gd . no pensamento alemao - o que Lessing havia 
· ' cultura JU aica maª . v·e Juden2 -, ou ainda de desembaraçar o pensa-
tentado fazei em i ,, bl , . . d . a filosofia alema dos pro emas comuns: e O que 
rnento JU aico e . ['' t t·t, d ,,.. ? 
d 1 h hªVl
·a feito nas Entretiens sur immor a z e e l ame' 
Men e sso n . . . · 
Com os dois textos publicados naBerlznzsche Monatsschrift, aAujk-
ld.rung alemã e a Haskala judaica reconheciam que elas pertenciam 
à mesma história; buscam determinar de que processo comum elas 
decorrem. Talvez fosse uma maneira de anunciar a aceitação de um 
destino comum, do qual se sabe a que drama ele devia conduzir. 
2) Entretanto, há mais. Em si mesmo e no interior da tradição 
cristã, esse texto coloca um problema novo. 
Certamente não é a primeira vez que o pensamento filosófico 
procura refletir sobre seu próprio presente. Mas, esquematicamen-
te, pode-se dizer que, até então, essa reflexão tinha tomado três for-
mas principais: 
- pode-se representar , o presente como pertencendo a uma certa 
epoca do mundo distint d próprias 
O 
' d ª as outras por algumas características 
, u separa a das outra l tico. Assim em O l'ti s por a gum acontecimento dramá-, po l co de PI e que eles pertence ' ª ao, os interlocutores reconhecem 
m ª uma dessas l -este gira ao contrá . revo uçoes do n1undo em que 
. no, com todas .. " isso pode ter; as consequencias negativas que 
- pode-se também . t 
os si · m errogar o pr · . nais que anunciam esente para nele tentar decifrar 
Pnncípi d um aconteci t • · r 
1 
° e uma espécie d men o iminente. Temos aqlll o 
in 10 poderia dar um e e hennenêu tica histórica da qual Agos-
xemplo; · 
~ 
2. Lessing (G J 
3. Menctelsso·l , Die Juden, 1749 
176 111 (M l .. · 
7, 1768, 1769 . , Phadon oder "b . 
. u er die U 
n_c;fp1·hlir-l-..lr,..:f ,.i~- c~,..f n RPrJiUl , 
1984 - O Que São as Luzes? 337 
ode-se igualmente analisar o presente como um ponto de 
- p - ,, 
_ nsição na direçao da aurora de um mundo novo. E isso que des-
tr_a ve Vico no último capítulo dos Príncipes de la philosophie de 
~.;
1
~stoire4 : o que ele vê "hoje" é a "mais completa civilização propa-
oando-se entre os povos, na maioria subjugados por alguns gran-
des 1110nru:cas"; é também "a Europa resplandecente de uma in-
compru:ável civilização", abundante enfim "de todos os bens que 
con1põem a felicidade da vida humana". 
Ora, a maneira pela qual Kant coloca a questão daAtifkldrung é 
totalmente diferente: nem uma época do mundo à qual se perten-
ce, nem um acontecimento do qual se percebe os sinais, nem a au-
rora de uma realização. Kant define aAujkldrung de uma maneira 
quase inteiramente negativa, como uma Ausgang, uma "saída··, 
uma "solução". Em seus outros textos sobre a história, ocorre a 
Kant colocar questões sobre a origem ou definir a finalidade inte-
rior de um processo histórico. No texto sobre a Aufkldrung , a 
questão se refere à pura atualidade. Ele não busca compreender o 
presente a partir de uma totalidade ou de uma realização futura. 
Ele busca uma diferença: qual a diferença que ele introduz hoj e 
em relação a ontem? 
3) Não entrarei nos detalhes do texto, que não é muito claro, ape-
sar de sua brevidade. Gostaria simplesmente de me deter em três 
ou quatro pontos que me parecem importantes para compreender 
como Kant colocou a questão filosófica do presente . 
Kant indica imediatamente que a "saída" que caracteriza ª AujJ~-
l .. ,, 1.b t do estado de "menoridade -arung e um processo que nos 1 er a 
t t do de nossa vontade E por "menoridade" ele entende um cer O es ª 1 r • _ . 1 · outro para nos cone lLZll que nos faz aceitar a autoridade deª gum r - Kant dá três 
. ,, . ,, fazer uso da razao . e 
nos dom1n1os em que convem ·· ct de quando un1 livro t d de meno1 1 a c. -
exemplos: estamos no es ª 0 d 1111 orientador espiritual 
d • to q uan o l · toma o lugar do enten imen ' d 1 n1édico decide ern nosso •" . quan o un 
toma o lugar da consciencia, d assagein que facihnente se re-
lugar a nossa dieta (observ?mº~-- e p mbora ~ texto não o n1encio-
d tres cnttcas , e l conhece aí o registro as _ Aufldéirung é definida pe a 010 -
ne explicitamente). Em tod_o ~as_o, ª trc a vontade, a autoridade e 0 
- reeX.Istentc en 
dificação da relaçao P 
uso da razão• 
- vct d'intenw alla cornune natura delle . na sctenza ,wo . 
. (G ) principli dr u ~ .1 phie ele l'hlstoirc. trad . Michelet. Pans. 1835: 4. V1co · · p ·nctpes ele ta p,11 oso 
· 1725 ( n 
naziont. . A Colín, 1963) . 
reed ., Pans, · 
338 Mlrhrl voucault - Ditos e Escritos 
É preciso também enfatizar que essa saída é élpr ., 
b,, 1 . t~er11ar1-
KªJ1 t de maneira bastante am 1gua. E e a caracter,- ,
1 f1,,r. za corn0 
fato uni processo em vias de se desenrolar; mas a apr , ,,;,, . - . . e.~en1a r-
bém coino uma tarefa e uma obrigaçao. Desde o pritneiro , 1. ' 1'n 
,, i h ,, á J Pc1r,,fl.r-fo enfatiza que o propr o ornem e respons ve por seu e tt ,,,, 
• j • b t- 1 - . 8 ado ,1,. 
menoridade. E pret1s0 conce er en ao que e e nao poderá s . 
,, • . ,, . éJLrr/r:lr 
a não ser por uma mudança que ele propno operara em sim . . . esrn0 
De uma maneira significativa, Kan~ ~12 ~ue essa Aufkldruny tem 
uma "divisa" (Wahlspruch): ora, a d1v1,,sa eu~ traço distintivo éltréJ,. 
vés do qual alguém se faz reconhecer; e tambem uma palavra de or. 
dem que damos a nós mesmos e que propomos aos outros. E qual 
é essa palavra de ordem? Aude saper, "tenha coragem, a audáciél 
de saber". Portanto, é preciso considerar que a Aujkldrung é ao 
mesmo tempo um processo do qual os homens fazem parte coleH-
vamente e um ato de coragem a realizar pessoalmente. Eles são si-
multaneamente elementos e agentes do mesmo processo. Podem 
ser seus atores à medida que fazem parte dele; e ele se prod uz à 
medida que os homens decidem ser seus atores voluntários. 
Surge uma terceira dificuldade no texto de Kant. Ela reside no 
emprego da palavra Menschheit. Sabe-se a importância deste ter-
mo na concepção kantiana da história. Será preciso compreender 
que é o conjunto da espécie humana que está envolvido no proces-
so da ~ujklarung? E, nesse caso, é preciso conceber que a Aujkld-
rung e uma mudança histórica que atinge a vida política e social de 
todos os homens sobre a superfície da Terra. Ou se deve entender 
que se trata de uma d 
d d 
mu ança que afeta o que constitui a humanlda-
e o ser humano? E se l - , , . . · co oca entao a questão de saber o que e 
essa mudança. Ali, também a res - , . 
de certa ambi·g .. ·ct d ' posta de Kant nao e desproVIda 
ui a e. Em tod 
eJa é bastante complexa. 
0 caso, sob uma aparência simples, 
Kant define duas condições . . 
de sua menoridade. E ess d essenc1a1s para que um homem saia 
as uas conct· - -
tspJrJtuais e institucionais étic _içoes sao sin1tlltanean1ente 
A primeira dessas cond1ç' õ ~s e politlcas. 
cJ c,·o d' h es e que seia b . 
, rre é:l obediencJa e o que d . 'J em discrin1inado o que 
f u-Jzar res . Jd · eco1 re do uso d - -
_ um amente o estado d ª 1 azao. Para carac-
prcf>8éto de uso corrente: "Obecte ~ men~ridade, Kant cita unia ex-
guudo ele, a forma JcJ çam, nao raciocin ,. , 
mlJHHr , o poder oJ~ut q,.u~l se exercem habit ua ln;e e1n . ~al e, se-
adqulrld p ~o, a a utoridade relig t -nte a disciplina 
o maioridade não quando - osa. A humanidad t , 
nao Uver mais e era 
que obedecer, 
/ 
3 
19811 - O Que Sf10 ; 1'1 L11zc<i '1 339 
do se disser a ela: "Obedeçam. e vocês poderão racioci-
s quan .. É b 
111H t quanto quiserem . ~ preciso o servar qu e a palavra ale-
11r tan ° , ·· t t 1 , nr -cgada aqui e razon eren; es a pa avra, que e também em-
.. r tnP1 -1118 · d nas Critiques , nao se relaciona com um uso qualquer da 
Jrega a d - al -1 _ mas con1 un1 uso a razao no qu esta nao tem outra finali -r8zao. . .. . i . / . . 
de senão ela mesn1a; razon eren e raciocinar por raciocinar . E i:nt dá exeinplos , eles também completamente triviais , aparente-
mente: pagar se~s tn:ipo~tos, _mas poder racio~inar tanto quanto se 
1
.
1
.0 sobre a fiscahzaçao , eis o que caractenza o estado de maio-q,te , 
idade: ou ainda assegurar, quando se e pastor, o serviço de uma 
;aróquia de acordo com o~ princípios da Igreja à qual se pertence . 
mas raciocinar como se quiser sobre o tema dos dogmas religiosos . 
Seria possível pensar que nada há aí de muito diferente do que 
se entende, desde o século XVI, por liberdade de consciência: o di-
reito de pensar como se queira, desde que se obedeça como é preci-
so. Ora, é ali que Kant faz intervir uma outra distinção e a faz inter-
vir de uma maneira bastante surpreendente. Trata-se da distinção 
entre o uso privado e o uso público da razão. Mas ele acrescenta 
logo a seguir que a razão deve ser livre em seu uso público e que 
deve ser submissa em seu uso privado. O que é, palavra por pala-
vra, o contrário do que usualmente se chama liberdade de cons-
ciência. 
Mas é necessário precisar um pouco. Qual é, segundo Kant , esse 
uso privado da razão? Em que domínio ele se exerce? O homem. 
diz Kant, faz um uso privado de sua razão quando ele é "uma peça 
de uma máquina"; ou seja, quando ele tem um papel a desempe-
nhar na sociedade e funções a exercer: ser soldado. ter impostos a 
pagar, dirigir uma paróquia, ser funcionário de um governo , tudo 
isso faz do ser humano um segmento particular na sociedade ; por 
ai, ele se encontra colocado em uma posição definida, em que ele 
deve aplicar as regras e perseguir fins particulares. Kant não pede 
que se pratique uma obediência cega e tola; mas que se faça un1 uso 
da razão adaptado a essas circunstâncias determinadas ; e a razão 
deve submeter-se então a esses fins particulares. Não pode haver 
portanto, aí, uso livre da razão. 
Em C_?mpensação, quando se raciocina apenas par~ fazer uso d~ 
Sua razao, quando se raciocina como ser racional (e nao conlo peç~ 
de uma máquina), quando se raciocina como memb:0 ~a hun1ani-
dade racional, então e uso da razão deve ser livre e pubhco. AAujJc-
liirung não é, portanto, somente o processo pelo qual os indivíduo~ 
procurariam garantir sua liberdade pessoal de pensamento. Ha 
,\t1/Jddfllfl!/ ql\H\Hl1) (1~L'-dc 1 nol111 1pwil1,'li1 111,, 11 11 11 Htilv 
1 vn' ,, (\, , mm 1nihlh'1l dn 11,i;nn . 11 11 111 , 
11111 
\)\H , t~~~() l\1)1~ ,'nl\d\lV. 1\ lllll ll q11111 l11 (jll( '! ll11<, ,, '/. 1111,11 
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1 \\nnl ( 1íHllpl( 1t1ll(lt 1 ,ll( 1 (IIW () 11'..J ()('IH(j (•r I 
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/ i\1, lhwn th' qnn\q,wr llm jllll' li( '1tl1111 (, 11NN 11 11 1,) ,t 1:1'N111 !I• ·11 n IH'( ,1 r• 
rnrnt, tm\ivh\H,\: P.t'n'<'IH'·,'-H' ln111h(1111 q1w 11 111,,,,.,11 >1>r1<1 %J,,,·
1 
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l,,,d,' ~\'\' n~~l',~m·11tll\ 1 t' lll lllH' lt·ll p11ri1111('IIIP ll(•1r11 11v t~r;i,. 11 ,., fl f)Pln , ~r, 
,k qnn\qnn 1\( ' \\ ~l\~1,0 t·1mt1·11 d(': 11u119, <·01111, :iHH(•,,,,r, · "ll t-1 f•nr,1, 
1) ' ' ,_., dr lltn •I 
h\h',1tks~nrn.zf\O f /\Aq/k/dn1t1!J - Vf•11HH-1 1H1111 .. 'II Ílod,1 , 11i~'>p(1 
, VC ,'i<• r (' bidn ~hnpk~I\H'l\tl1 COI\\O tlln prn,~es.1o1n 1-{crn l nfelnndo l 
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1 oc r1 ,1 h nhlrnk: dn ni\o (kve ser cnucd>k u H<J1nc11tt r;o, 110 11,-0, L. 
111ri(1 
l . l I " 0,Jrla,1 ,. pn'~critn no~ trn tvH uos: e H npHrccc ugoru c:01110 um probJcrn~ <r;1rJ 
htlen. li;m tt)('\o rnso, eolocn-se n qncsrno de saber como Ou 
1
~ Pri. 
úlo \)mk tomnr n formo públlcn que lhe é necessária como~~ dél rrt• 
' a audá. 
(' in clr ~nber µode se exercer plenamente, enquanto os Jndtvíd 
olwtkrn f\o t(\o exatamente quanto possível. E Kant para termtn~º/ 
proptw n l4't·cdcrtco lt cm termos pouco velados, uma espécie d~ 
contrato. O que poderíamos chamar de contrato do despotismo ra. 
ctonal <'0111 a livre razão: o uso público e livre da razão autônoma 
sl·rn a mdhor ~arant ia ela obediência, desde que, no entanto, 0 pró-
prio priudplo poHUco ao qual é preciso obedecer esteja de acordo 
rom a razflo tmivcrsal. 
Dcixf•mos de lado esse texto. Não pretendo absolutamente consi-
dera-lo como podendo constituir uma descrição adequada da 
Auj1dd nrng: e nenhum historiador, penso, poderia se satisfazer 
com ele para analisar as transformações sociais, políticas e cultu-
rais produzidas no fim do século XVIII. 
Contudo, apesar de seu caráter circunstancial e sem querer lhe 
dar um lugar exagerado na obra de Kant, creio que é preciso enfati· 
zar a ligação existente entre esse pequeno artigo e as três Critiques. 
Ele descreve de fato a Aq/k/d.rung como o momento em que a hu-
n1 anidade fará uso de sua própria razão, sem se submeter a nenhu~ 
ma autoridade: ora, é precisamente neste momento que a Crítica_e 
nercssárlu, já que ela tem o papel de definir as condições nas quai~ 
0 uso da razão é legítimopara determinar o que se pode conhe~~1 · 
0 que é preciso fazer e o que é permitido esperar. É um uso ilegiti· 
mo da razão que faz nascer, com a ilusão, o dogmatismo e a hetero· 
nomia: ao contrário. é quando o uso legítimo da razão foi clara-
1984 - O Que São as Lttzrs'( 341 
nentc defin ido en1 seus princípios que s ua autonomia pode ser as-
:egurada . A Crí~ica é. de qu~quer m~neira, o livro de bordo da ra-
zão tornada maior naAujklarung ; e , inversamente, a Ar.ifkla rung é 
a era da Crítica. 
É preciso também. creio. enfatizar a relação entre esse texto d e 
Kant e os outros textos consagrados à história. Estes . em s ua maio-
ria . buscam definir a finalidade interna do tempo e o ponto para 0 
qual se encaminha a história da humanidade. Ora, a análise da 
Aujkliirung, definindo-a como a passagem da humanidade para 
seu estado de maioridade, situa a atualidade em relação a esse mo-
vimento do conjunto e suas direções fundamentais. Mas, simulta-
neamente, ela mostra como, nesse momento atual, cada um é res-
ponsável de uma certa maneira por esse processo do conjunto. 
A hipótese que eu gostaria de sustentar é de que esse pequeno 
texto se encontra de qualquer forma na charneira entre a reflexão 
crítica e a reflexão sobre a história. É uma reflexão de Kant sobre a 
atualidade de seu trabalho. Sem dúvida, não é a primeira vez que 
um filósofo expõe as razões que ele tem para empreender sua obra 
em tal ou tal momento. Mas me parece que é a primeira vez que um 
filósofo liga assim, éie maneira estreita e do interior, a significação 
de sua obra em relação ao conhecimento, uma reflexão sobre a his-
tória e uma análise particular do momento singular em que ele es-
creve e em função do qual ele escreve. A reflexão sobre ··a atuali~a-
de" como diferença na história e como motivo para un1a tarefa f ilo-
sófica particular me parece ser a novidade desse texto. 
E . encarando-o assim, me parece que se pode reconhecer_ nele 
d deria chan1ar de atitude um ponto de partida: o esboço o que se po e 
de modernidade. -
Sei que se fala freqüentemente da inodernidade con10 ~n~a ep~-
on ·unto de traços caractenst1cos e e 
ca ou, em todo caso, como um c J , i nl seria precedi-
/ l , ·t da en1 u1n calendar o, no qt ' 
uma epoca; e a e s1 ua s ingênua ou arcaica. e 
da de uma pré-modernidade, n1ais oiutn1etneº··po· s -modernidade". E . , r a e inqu e an seguida de uma en1gn1a ic , 111odernidade cons ti tui a 
t - para saber se a . . nos interrogamos en ª? · 1 senvolvimento. ou se e µr ec t-
conseqüêncla da Aujklarung e sedu e ei -en1 relaçào aos princípios 
t ou uin esv o so ver nela uma rup ura 
fundamentais do século XVIII- er unto-me se não podemos en-
Referindo-me ao texto de Kant. p ; a titude do que como t~m pe-
carar a modernidade n1ais como um dizer um modo de relaçao que 
ríodo da história. Por atitude, quel~~a voluntária que é feita por al-
concerne à atualidade; uma esco 
342 Mirhd f oucaull - Dilo-;" f-:f;l' rHo5 
m,n.s· enfim uma maneira de pensar e d. e sentir , uma 01 F.... ... • ! . . aneira . 
bém de agir e de se conduzir que. tudo ao mesm0 tempo 1.ani. 
uma perlinéncia e se apresenta como uma tarefa . Urn Pau' lllar~d 
dúvida. como aquilo que os gregos c~amavam de éthos .~ · sem 
qucnternentc . mais do que querer distinguir o ºperíodo moct onse. 
,., " , d nasH e e· erno· das épocas "pre ou pos-mo er -" , r 10 que seria melhor 
d d d '·d d PrQcu. rar entender como a alitu e e mo ern1 a e, desde que se for 
d d .. t d . rnou pós-se em luta com as atitu es e con ramo ern1dade". · 
Para caracterizar resumidamente essa atitude de modernidad 
tomarei um exemplo que é quase obrigatór io: trata-se de Baudel~~ 
rc. já que em geral se reconhece nele uma das consciências mais 
agudas da modernidade do século XIX. 
1) Tenta-se freqüentemente caracterizar a modernidade pela 
consciência da descontinuidade do tempo: rup!ura da tradição, 
sentimento de novidade, vertigem do que passa. E certamente isso 
que Baudelaire parece dizer quando ele define a modernidade 
como "o transitório, o fugidio , o contingente"5 . Mas, para ele, ser 
moderno não é reconhecer e aceitar esse movimento perpétuo: é, 
ao contrário , assumir uma determinada atitude em relação a esse 
movimento; e essa atitude voluntária, difícil , consiste em recuperar 
alguma coisa de eterno que não está além do instante presente. 
nem por trás dele, mas nele. A modernidade se distingue da moda 
que apenas segue o curso do tempo; é essa atitude que permite 
aprt.ender o que há de "heróico" no momento presente . A moderni-
dade não é um fato de sensibilidade frente ao presente fugidio : é 
urna vontade de "heroificar" o presente. 
Eu me contentarei em citar o que diz Baudelaire da pintura dos 
p<::n,onagtns contemporâneos . Baudelaire ridiculariza esses pinto-
r es que, ac~ando muito antiestética a maneira de se vestir dos ho-
me ns de) sccu lo XIX 0 0' qtie , ti ·as 
- , •'3 rem representa-los con1 togas an g · 
~a~. par ~ ele , ª modernidade da pintura não consistirá apenas em 
1ntrc,duz1r vestes negras em um d erá 
aqutk 4uc mostrará _. . -. qua ro . O pintor moderno s _ , . d essa escura sobrecasaca como ··a vestünenta 
llt~u ~~~ana e; nossa época" É 1 ~ últ írna moda a relaça~ . . · ~que e que saberá fazer valer . ness, 
• 0 essencial pe os· 
!-)a i:JJoc:a rnan1t'· rr1 "Om a · rmanente, obsedante que n - - ~- mor te ''A . a-
ra lí:1n não somente sua h 
1 
. . · _vestimenta negra e a sobrecas 
e cza poeuca - - d · -1al-dade univtrsal ma~ ,r1•ind'-• s , , que e a expressao a 1g t , .., e... ua [)o ~r , . 
__ _ _ ' · e ica, que é a expressão do espin-
•, . H,1ud c-\ ,11H: {(; . ). Lc Jwlnlrc de 1 
< ~a llírnard , U JI. '" Bibll()t h t·qu1• ele· 1- l~I _uLe t11 octerne. ín Oeu v res completes Paris. 
- '* eiacl e'•. 19 76 t II , 
· · . p . 695 . 
1984 - O que S:io ns Lu 7.r s? 343 
. itnrnso desfile de coveiros. políticos. am a ntes. bur-
l liC'l) . ll l1l .. r, ll' pl11 · , ~l bnnnos todos algt1n1 enterro . Para d esignar essa ati-
cursrs; ~,:n~rrnid.:id t> . Baudelaire ull\i za. às vezes, uma lítotes que 
1uch' dt 
1 
, ,,•·fi"Atlva porque ela se apresenta sob a forma de um 
' tO S 2.1 ~ ' 
l' inlll_ . -·,/ocês não tê1n o direito de menosprezar o presente." 
"('CC'llO - ,.. b t d d N-}"l ~ ~ . 11croificação é ironica . en1 en en i o . . ao se trata abso-•) 1 t~ ssa 
... , te na atitude de 111odernidade. de sacralizar o momento 
h1tJ !1lftl ' " 1 , 1 N-a µara tentar mante- o ou perpetua- o. ao se trata sobre-
que pass de re-colhê-lo con10 un1a curiosidade fugidi a e interessante: 
lt1<lo B d l · h d tit d d ··n .. ~e1--1·a O que au e a.ire c aina e uma a u e e anar . I"'"º :S • ~;ue-le que nana se contenta em abrir os olhos , prestar atenção e 
~olt'cionar na lembra11ça. Ao homem que ílana, Baudelaire opõe o 
homem de 1nodernidade: "Ele vai, corre, procura. Seguramente. 
esse home111. esse solitário dotado de uma imaginação ativa. sem-
pre ,iajando através do grande deserto de homens , tem um objeti-
ro mais elevado do que o daquele que flana, um objetivo mais geral. 
diferente do prazer fugidio da circunstância. Ele busca essa alguma 
coisa que nos permitirão chamar de modernidade. Trata-se para 
ele de destacar da moda o que ela pode conter de poético no históri-
co ... E. como exemplo de modernidade, Baudelaire cita o desenhista 
Constantin Guys. Aparentemente, ele é um sujeito que flana. um co-
lecionador de curiosidades: ele é sempre "o último em todos os luga-
res onde pode resplandecer a luz, ressoar a poesia, fervilhar a vida. 
vibrar a música, em todos os lugares onde uma paLxão pode pousar 
seu olhar , em todos os lugares onde o homem natural e o homem 
convencional se mostram em uma beleza bizarra, em todos os luga-
res onde o sol clareia as jóias fugidias do animal depravado" 7 . 
Mas não devemos nos enganar. Consta11tin Guys não é u1n sujei-
Lo que ílana; de fato, aos olhos de Baudelaire, o pintor moderno por 
txcelêncía é aquele que, na hora em que o mundo in teiro vai dor-
mir , se põe ao trabalho,e o transfigura. Transfiguração que não é 
c.1.~~lação do real, mas o difícil jogo entre a verdade do real e o exer-
<·tcio da liberdade; as coisas "naturais'' tornan1-se então "n1ais do 
que naturais", as coisas "belas" tornam-se "mais do que belas··. e as 
coisas ~ingulares aparecem ''dotadas de uma vida entusiasta con10 
ª alma do aulor"8 • Para a atitude de modernidade, o alto valor do 
prcscn l.e é indissociável da obstinação de imaginar, in1aginá-lo de 
6. lei . .. D<· 1·1 -, .. 
_ • • 1<.rrmm1c de la vic rnodcrnc", op. clt., p. 494. 7- Baudclaír • ((' l · 693 694 
8 
. e J . , Le pelfll.re de /a vie ,noderne, op. ctt., ps. · · 
. lbtd .. p. 594 _ 
34'1 MI, 111•1 1"r111<111 11II l lllm, n lt,tH , 11, m 
,nodo <llferf'U'l r. do que ele rHin ~. P 11 H1J Hforu1 (1 Jo r,n,, n ,t,.41n,iw 
n,ns ('nptnudn .. o 110 q11r' t 1lr (i,. A u1<,ct,~1•11fd ;1dc t,wulr•IHIJ•J, , I,, 
,Jfl ,J (, l i 
rxrrc tr tn •'nl que H cx 11·c111H1 nlençíl tJ f HtrH ,,,,,,J ,, rc:, I (1 ,.,,,,f,, 111 
<1t1lwf,, 
ron1 n pn'\ t'lcn d,, 111no lllwnlnd,~ q, w, Hfn11111 ~0,f~:11, u•11 1" ri , 
' 1 'f{(Jf'fl; , 
rssr rcnl t' o vtolfl , 
~\ ) Nú cnt f\nto, pArH Hn11dc lr1lrc, fl 111odcrnJtl ,uf ,! n~<J /: 'i lmp/,.'i 
1ncnt c fornu\ de rclnçAo con1 n prcsenlc : é IHn1b/:1n 11rn trH><lrHlr rr 
laçúo que é preciso cstabclccct cons lf.(o 1nf!Rn1c, . A atH11d,: vol, 11 Jt(,. 
ria de 1noderntcladc cstf, lt~ada A 11rr1 aHcc l lr,mo JndL'lpcnH1tvcl ~tr 
n1odcrno não é aceitar a si 1ncs1no 1.aJ como se é no fluxo do~ rnr1 
rnentos que passan1; é to111ar a s i rncsmo r,orno ohJc:t() de urnn f!lr.1 -
boração co1nplexa e dura: é o que Baudelaire clrnrna, de élr:nrd,1 
ro1n o vocabulário da época, de "dandJsrr10", Não lcrr1br~rel aq pâg1 
nas n1uilo conhecidas: aquelas sobre a natureza óigrossclra, t<;rre"i-
trc , in1lu1da"; aquelas sobre a indispensável revolta do hornem cm 
relação a ele 1nes1no: aquelas sobre a "doutrina da elegância" que· 
impõe "a esses ambiciosos e apagados sectários" uma disrtpllna 
1nats despótica do que a das mais tcrrívc1s religiões: as página.s. cn-
fhn. sobre o ascet1s1no do dând1 que faz de seu corpo, de seu com-
porta1nento, de seus scnthncntos e palxõcs, de sua existência. uma 
obra de arte. O ho1nern 1nodcrno, para Baudelaire. não é aquele 
que parte para descobrir a si n1csn10, seus segredos e s ua vercl,icle 
escondida: ele é aquele que busca Inventar-se a si 1nes1no. Essa 
n1odernidadc não llbcrta o ho1ne1n. c1n seu ser próprlo: ela lhe liu-
pôe a tarefa de elaborar u st n1esnln . 
4) F'tn1Jlu1 f! 11t e, acrcscr-utarcl apenas lllllH palavra. Essa hcrolfl 
ra<JH) irôutca do presente!, <~8s(• Jogo da ltht·rdad(' con1 o reaJ pura 
suf!l 1 rau~figuraçfio, <--si-;n (')abon,\· tlo ascétlra dt' .si, Haudclnirl' 11ªº 
cou<Tb(• qUt" p osl")H1n n< ·o1T(·r 11a própr ia soclt·clad(' ou no c.:orpo po · 
lí tl c-o r.i: 1t,s só pode111 produi lr-se t·111 uni lug<.1r outro q ue Baudclni 
re <·h a111a d t· ar le . 
Nao prekudo re1S u111i r nesses poucos tra\'OH u acoutedu1l'J1to 
li lt,., L()r tco cc.nnplexo que Joi H AqJkldrwty no tiln elo scltulo XVlll , 
uc1n lmupouco as dlft>rc·ut cs hwnaus que a a l'iludt· d e nioclérnidndc 
pôd e asH111uir tlu n ullt os d uis úlUuaoM sú<:ulu:-i , 
(;os tu1 ia , por ,un la d o , eh· t•n faUiur o l'n ruiznn.H'llf'o u a A4J1cld -
n1119 d e uu1 t.lpo de lHh'1-rogu\;~o tllosóncu qlte problt~nwtJza s in1ul~ 
La1u.:a u1(·11h: a rl' lu~ü<> <·nua o pn·scutr.:. o 111udo dt· ser hi::;tórlco e o 
1984 - O Que Sào as Luzes? 345 
constihüção de si próprio co1~10 sujeito autônomo; gostaria de enfa-
tizar. por outro lado, que o fio que pode nos atar dessa maneira à 
Aufkldrung não é a fidelidade aos ele1nentos de doutrina, mas . an -
te; , a reativação permanente de u1na atitude; ou seja, um êthos filo-
sófico que seria possível caracterizar como crítica permanente de 
nosso ser histórico. É esse êthos que eu gostaria de caracterizar 
muito resu1nidamente. 
A. Negativamente. 1) Esse êthos hnplica inicialmente que se re-
cuse o que chamarei de boa vontade de "chantagem" em relação à 
Aujkldrung. Penso que a Aufkld.rung, como conjunto de aconteci-
mentos políticos, econômicos, sociais, institucionais, culturais dos 
quais s01nos ainda em grande parte dependentes, constitui um do-
núnio de análise privilegiado. Penso também que, como empreen-
cfunento para ligar por um laço de relação direta o progresso da 
verdade e a história da liberdade, ela formulou uma questão filosó-
fica que ainda permanece colocada para nós. Penso, enfim - tentei 
mostrá-lo a propósito do texto de Kant-, que ela definiu uma certa 
maneira de filosofar. 
Mas isso não quer dizer que é preciso ser a favor ou contra a 
Aufkkirung. Isso quer dizer precisamente que é necessário recu~ar 
tudo o que poderia se apresentar sob a forma de uma alternativa 
simplista e autoritária: ou vocês aceitam aAtifkld.rung. e pern1ane-
cem na tradição de seu racionalismo ( o que é considerado por al-
t a, rio como uma censu-guns como positivo e, por outros, ao con r , 
.. t t m escapar desses pr1n-ra); ou vocês criticam a Aufldarung, e en a 
d inda uina vez tomado cípios de racionalidade lo que po e ser ª d h 
E - escaparen1os essa e an-
como positivo ou como negati~o). , nao., buscando detern1inar o 
tagem introduzindo nuanças dialeticas ' .. 
d mau na Aujklarung. 
qu~ poderia haver de bom º1:1 ·s: de nós inesnlos con1o seres histo-
E preciso tentar fazerª anah to pela Au"kléirung . O que 
· . t, certo pon , ~ 
rícainente deter1ninados. _ a e hi tóricas tão precisas quanto pos~ 
implica uma série d e pesquisas -s . ntadas re trospectivt-uneuLe 
ão serao one . ., . li 
sível; e essas pesquisas n _ 
1
r 1 da racion.aUdade que se µo t' na direcão do "núcleo essenc a - . deria salvar iuteira1uen te nu 
'S L., ng e que se po . d . ·T . te -
encontrar na Aufk aru · orlei1 tadas na dircçao os ui~t .s 
l, s seriam .- · lelü e estado de causa; eª.. . . a. na <lir~çào do que uao e. ou i _ ... ... · 
atuais do necessário ; c:u, s:~11stitutção de nó.s iut•s 111os cou to s uJ t: i -
. indispensável para a -mais. t 
autôno1nos. ~ ·l . nó$ rncsn1us d eve evltar as con u-
tos2) Essa crítica perrnancn:et~; o hu1uauisn1u e a Atljklarung - E 
muito fáceis en · 
sões sempre 
346 
l
i I Jlj(! I\ ,, llHf r ,,,, ,_, 
Mt' IH' l r, 11111 n1t 
, .
1 
,jmiw•,1('. r q1H' u Au/J<IIJr1111r1 (: '"" w·onler·i,,,,, 1 
_ . ,r lHO 1n111n ,~ • · 11, <1 ,i, 
pH . . I cl,• fH'O III Cí11JfH~IIIOf~ (1 d< 1 p r '1< '(' '41-'U~ J1l~l(W k<>N ,·n· 
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11111 ,·onlttn ° · · . 1 11 11 1lt· · 
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,
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nnt ,,m rntt d<1 lt:1 WIJHHIO 111rn11ulfo d<> d( '.'l{·nv 1 ''°"' qur f,H~ M , . (J Vl 
, · • 
1 
íJ ,,,1Jrdttd<!"1 ci1ropl!lflR, l~~Nn <·011111111,, l1wlu1 <'h•rr1r·, i 
,ncnlo , r1t-t ., ' " · 1 <1.~ 
, f lll flfl Ô(7 ~ scw lnf N, 11 pw, de "H,1 fl '1 l <;UCN p<Jlíllca,4, f<,r,r , 
ç1, .. 1 rAn,-. ,or " -· , - 1,1.q 
1 rofc
fOR de rndmrnl11ir1çílo doN cc-r11heclmc11tw~ e clu.~ r,r1. 
rlt' '1H )Cr, p , ~ ., _ _ f, f'í • , · rl• 
ll<'flH, rnutaçôc,~ tcc11oh'í~Cf1S, que s/10 rn11JI ~ r,J ccJs .''.e r<llfünJlr t1n 
l
nvi·,
1 
cirtil,otíl m uf'I os dc~8C~ f cnómcno.'J ~e J,11 n Hf ncl~, lr, 1 
UlllH pa "-' r • - ' . . li , • 
poriautcs no momento at11al. Aquele: que cu J,1 dc81ílq~t!l. e qur i11r 
xircrc ter sido fundador de toda umtJ forma de rcllcxao fllosóflr~. 
~onrcrnc somen te ao modo de rcluçiio de rcllcxáo corno prc111•nt(· 
o humanismo é 11ma coJsa corr1plctamcutc dlf crculc: é um tciru1. 
ou melhor. um conJunto de tem.as que reapareceram em várias ora-
slóes alravés do tempo, nas sociedades européias: esses temas. 
pcnnancntcmcntc Hga.dos a Julga1nentos de valor, tiveram eviden-
temente sempre mutta.s varJações em seu conteúdo, assim como 
nos valores que eles mantiveram. MaJs aJnda, serviram de prinC' i-
pio crítico de dtf crcncfação: houve um humanJsino que se aprescn-
1ava como críUca ao crtsl:Jantsmo ou à rellgJão em geral: houve um 
humanismo crJslão cm oposição a um humanis1no ascético e muito 
mais teocênlrico (no sécu1o XVII).No século XIX. houve um huma-
11Jsmo desconfiado. hosUl e crítico em relação à ciência: e um outro 
que colocava (ao contrário) sua esperança nessa mes1na ciência . O 
marxismo foi um humanismo, o existencJaUsn10. o personaJisino 
também o foram; houve um te1npo em que se sustentavan1 os valo-
re,s ll_~m_anJ_s~,s representados pelo nacJonaI-socialis1no. e no qu~I 
os p~ op1 fos staJJntstas se diziam hmnanistas. 
Nao se deve concluir d", t d . I , . . at que li O aquilo que se retviudiCOll 
<.u,no 1umc:1nismo deva ser rej 'il'° d . CI - • la c, . ,J . , e ª o, mc1s que n tcrnHtiNt humaufs-
. , tm s mesma rnutto maleável mult 
tente para servir de eixo ,, . 
11 
. ' , 0 cltversn, lllllito .it1ronsi~-
dc o i;éculo XVII o , d ilc - cxão. E é vcrdude que, no .n1enos cies-
, que se e 1ama ele ht i . 
do a se apoiar em r.ei·tn~ e - IJlHlll smo foi .se1npre obrh!H-
• • . , . iu.7 onccµções d J :\ • . u 
emp1 cktada1-; da religtüo cl· , ,111 . 
0 10111em que sao tomadas 
. , tlS e tncins d ·1 l '. 
sei ve para colorJr e jusl lfJc,. . · < po ti ica. O hunrnnism o 
J
. 
1 
. . . . ,ui as CüllC'CJWÔ(' . I l 
0 <·ertamcnl c obrtgRdo n recorrer · " se O tonwm às quais ek 
Orn, creio que Justarnc111 , , . . .. e se pode o•J 1 -quc11t ernc11lc rccorrcnlc e sc111 rc .. ~ ",' r a <'ssa temdticn , 1}10 fre-
prlncfpto de uma críUca <' dt' t111p1· , depcncleulc do hunu mis'1110 <) 
. . . c.l <'l'i'\Ç"' . • -.. , 
mos cm nossa aul'onomtn· ot1 L, c1··1 , ,,10 IH l'llHl11t11te cte nós 1111,,s 
cl· I a I ~ , . o lllll prl í \, . ~ 
· d umt;r.kncla. hislórlcu que a Ãu/klei . uc- pio qur est'tl no cerne 
. , unq lt11ha 11do d"l º 11-, , "' lCStna . 
1984 - O Que São as Luzes? 34 7 
oeste ponto de vista, eu veria mais uma tensão entre a At.ifklarunq 
e O 11un1anis1no do que u1na identidade. · 
Em todo cas~, confundi-los 1ne _parece perigoso: e, além disso. 
llistoricainente inexato. Se a questao do homem , da espécie huma-
na, do hu1nanista foi muito !mportante ao longo do século XVIII. 
muito raramente, creio, apropria AL.ifkld.rung se considerou como 
um hun1anismo. Vale a pena notar também que, ao longo do século 
xrx, a historiografia do humanismo no século XVI, que tinha sido 
tão importante em pessoas como Sainte-Beuve ou Burckhardt. 
sempre foi distinta e, às vezes, explicitamente oposta às Luzes e ao 
século XVIII. O século XIX teve a tendência a opô-los, ao menos tan -
to quanto a confundi-los. 
Em todo caso, creio que é preciso escapar tanto da chantagem 
intelectual e política de "ser a favor ou contra aAr.ifkldrung". como 
também da confusão histórica e moral que mistura o tema do hu-
manismo com a questão daAujkldrung . Uma análise de suas rela-
ções complexas ao longo dos dois últimos séculos deveria ser fei ta . 
e esse seria um trabalho importante para desembaralhar um pou-
co a consciência que temos de nós mesmos e de nosso passado. 
B. Positivamente. Mas, levando em conta essas precauções. é pre-
ciso evidentemente dar um conteúdo mais positivo ao que pode ser 
um êthos filosófico consistente em uma crítica do que dizemos. pen-
samos e fazemos através de uma ontologia histórica de nós mesmos. 
' . 
1) Esse êthos filosófico pode ser caracterizado co_~o _unia arlf~L-
de-límite. Não se trata de um comportainer~to de ~eJe1?ªº· De"ve-.~~ 
, . fora e do dentro; e preciso s1tuar-st n c.1~ 
escapar a alternativa do á1. d 1. lites e a reflexüo 
f . , , tamente a an, ise os m ronteiras. A critica e cer · . saber a que limites o co-
stão kantiana era e 
sobre eles. Mas, se a que . parece-me que, atua lmenlc , 
. ·ar a transpo1, 
nhec1mento deve renunct ertida em uma questão positiva : no 
a questão crítica deve ser re~ universal , necessário , obrigatório, 
que nos é apresentado coml . conting·eute e fruto das i.mpos ições , singu ai, , 
qual é a parte do que e ·· nla, de transformar a cnlira exerctcla 
arbitrárias. Trata-se , e~ sucessária em Uina crítica prá lica .so b .t 
J itaçao ne 
sob a forma de 1rn, enl possiveJ. . . _ 
forma de uJtrap~ss~gvemos, trai como consequencia que a cnt~ca 
.A quilo que, nos ':1 pesciuJsa das estruturas fonnais que tem - - o mais fl <- • , . . r , ' ' . ' 
vai se exerce• na a~ como pesquisa ~1s~o1 lC'a c1 lraves do::s aconter t-
valor universal~ r:varaJU a uos constJtl-_llr e a uos reconh{'~er con10 
mentos que no fazemos. pensamos, d1zcn10s. Nesse sentido, essa 
S uJ·eitos do ,que sccndental e não tem por finalidade tornar possí-~ e tran 
crítica nao 
348 Michcl Fo11ca11Jf - DIio~ r E~<Tllos 
el uma 111etaHsic<1: ela é gcncAlógicA. em sua finallcla 1 v ,, . . ~ e e e ar 
gica ein seu 111rt~do. At queológica - e nao transcendental _ C/lte,1l (i 
tido dr que elA nao procurará depreender as cstruturns no -~c11 
1 . 1 d J . - Unfverc1 de qualquer con 1ec11ncn o ou e qua quer açao moral . , ~)A l~ 
111as tratar tanto os discursos que articuJa1n o que pensarn~~881VeJ: 
11105 e faze1nos con10 os acontecin1entos históricos. E css · ~12r. -
d . . I ,.., a cri ti ~ será genealógica no sentido e que e a nao deduzirá da for ca 
.... - ó ,, í 1 f.'. -- rna cio que 501110s o que par a n s e ilnposs ve 1azer ou conhecer · rn 
deduzirá da contingêncja que nos fez ser o que somos a ~os:tb~i'
1
ª 
dade de não n1ais ser, fazer ou pensar o que somos, fazemos ou 
pensainos. 
Ela não busca tornar possível a metafísica tornada enfim ciên-
cia; ela procura fazer avançar para tão longe e tão amplamente 
quanto possível o trabalho infinito da liberdade. 
2) Mas, para que não se trate simplesmente da afirmação e do 
sonho vazio de liberdade, parece-me que essa atitude históri-
co-crítica deve ser também uma atitude experimental. Quero dizer 
que esse trabalho realizado nos limites de nós mesmos deve, por 
um lado, abrir um domínio de pesquisas históricas e, por outro, 
colocar-se à prova da realidade e da atualidade, para simultanea-
mente apreender os pontos em que a mudança é possível e desejá-
vel e para determinar a forma precisa a dar a essa mudança. O que 
quer dizer que essa ontologia histórica de nós mesmos deve desvi-
ar-se de todos esses projetos que pretendem ser globais e radicais. 
De fato , sabe-se pela experiência que a pretensão de escapar ao sis-
tema da atualidade para oferecer programas de conjunto de uma 
outra sociedade, de um outro modo de pensar, de uma outra cultu-
ra, de uma outra visão do mundo apenas conseguiu reconduzir às 
mais perigosas tradições. 
, Prefiro as transformações muito precisas que puderam ocorrer. 
ha 20 anos, em um certo nú1nero de domínios que concerne1n a 
nossos modos de ser e de pensar, às relações de autoridade às re-
lações de sexos, à maneira pela qual percebemos a loucura 0~1 a do-
ença, prefiro es~as transf armações mesmo parciais, que foran1 fei-
tas na correlaçao da análise h · t , . . · 1s anca e da atitude prática às pro-
messas do novo homent que 08 . , ' 
1 , · · piores sistemas pollticos repetira1n ao ongo do seculo XX. . 
Caracterizarei então O êthos fílosótk _, , 
d , · ~o pi oprio a antologia crítica e nos mesmos como uma prova histórico- r , . . . 
podemos transpor port t P at1ca dos lln11tes que 
, an o, como o nosso tr b lh b , 
mesmos como seres livres. a a o so re nos 
1984 - O Qn e São as Luzes? 349 
,, dúvida. seria totahnente legítimo fazer a seguinte 
1 Mas scn1 J . 
1
: •tando-se a esse tipo de pesquisas e de provas sempre 
b
. ~ao· 1n11 
0 JC~ . · locais. não há o risco de nos deixarmos determinar por 
arna1s e . d -P s 1nais gerais, sobre as quais ten emos a nao ter nen1 estrntnra , . 
ciência ne1n don11n10? , 
rons t E d d , . . , Sobre isso. duas respos as. ver a e que e preciso renunciar a 
esperança de jan1ais atingir um ponto d~ ~~ta que poderia nos da_r 
acesso ao conhecin1ento completo e def1n1tivo do que pode consti-
tuir nossos linütes históricos. E, desse ponto de vista, a experiência 
teórica e prática que fazemos de nossos limites e de sua ultrapassa-
gem possível é sempre limitada, determinada e, portanto, a serre-
começada. 
Mas isso não quer dizer que qualquer trabalhosó pode ser feito 
na desordem e na contingência. Esse trabalho tem sua generalida-
de. sua sistematização, sua homogeneidade e sua aposta. 
Sua aposta. É indicada pelo que poderíamos chamar de ··o para-
doxo ( das relações) da capacidade e do poder". Sabe-se que a gran-
de promessa ou a grande esperança do século XVIII, ou de uma 
parte do século XVIII, estava depositada no crescimento simultâ-
neo e proporcional da capacidade técnica de agir sobre as coisas e 
da liberdade dos indivíduos uns em relação aos outros. Além dis-
so, podemos ver que, através de toda a história das sociedades oci-
dentais (talvez ali se encontre a raiz de seu singular destino históri-
co - tão particular, tão diferente ( dos outros) em sua trajetória e tão 
universalizante, dominante em relação aos outros). a aquisição d e 
capacidades e a luta pela liberdade constituírai-n os elen1.entos per-
manenles. Ora, as relações entre crescimento das capacida~es e 
crescimento da autonomia não são tão simples para que O sec:110 
XVIII pudesse acreditar nelas. Pode-se ver que forinas de r elaçoes 
d , l g~as (quer se tra-,e poder eram veiculadas pelas diversas tecno O · . . . _ . 
t r,r, " i S de 1nstttu1çoes Vl-
' l.CU)se de produções com finalidades econon1 ca · . _ . 
S' , . de comun1caçao). como 
1 ando a regulc1Jções sociais, de tecnicas . divi·ctua is os 
t coletivas e in - , 
exen1plo, as disciplinas simultaneamen e e do poder elo 
- ·cidos c1n non1 
Procedimentos de nonnalizaçao exei d , fat.xas da população. A 
Estado , as exiaências da sociedade ou e t das capacidades e 
, 0 1.. c resc tn,cn ° · · aposta e então: como desvincu ar o ·? . 
a intensificação das relações d e ~oddei ·do que poderíaruos c h a ni~~1 
d , ao estu 
O , · hon1oge-
Homogeneldade . Con uz d torn ar con.10 donun10 - d. -
, ,. 1~r-.:\ta-se e · 1 . ens se dao e de "con3·untos praucos · 1/" l 0- es que os 101n · - - presen aç m que eles o 
neo de referência nao as 1 e _ e 05 detennin.am se _ . ndiçoes q u 
les mesmos. nao asco 
~:,thnnL I\Hi~ o qtt(' r lcs füz c111 l' n l11a11cJra pela qua1 _ 
~t'gL ,,~ lor11u,N dt' ntctounlJdade que orrra nizam as O fazem. Ot 
(:-, rnane1 1 
..' t'I ( n qttt' poderf,rn1os rhnnmr de seu aspecto tecnoló ras de fa. 
twrd:ttk emu n qunl rlc8 o~cn1 nesses sistemas prát1 gko). e a li. 
. . cos, reag1 
l.\d qttt' o~ uul rus t«ze1u. modil1cando até certo ponto a ncto 
ln~n (r n qur poderíamos tha111ar de versão estratégica dseregras do . , ssas p , 
ttrns) , /\ honiogcueJdade dessas análises histórico-críticas é ra. 
gurnda, portnuto. por esse do1nínio das práticas, com sua ª~e-
' . ~ .. . . , versao h'('lh)log·kn t' sua vcrsao estI ategtca. 
tSl'stenmtf i nçtio. Esses conjuntos práticos decorrem de tr ' 
l,r:mde.s domínios : o das relações de domínio sobre as coisas Odes M _ , as 
t't'h\~'Ôl'.S rlc uçüo sobre os outros. o das relaçoes consigo mesmo. 0 
qut' wiu quer dizer que esses três don1ínios sejam completamente 
n:;t n mhos uns aos outros. Sabemos que o don1ínio sobre as coisas 
passn pl'lH n~Iução con1 os outros: e esta in1plica sempre as rela-
\'Ôl'S rousigo mesmo: r vice-versa. Mas trata-se de três eixos dos 
qunis r µrt r iso a na lisar a especificidade e o intricamento: o eLxo do 
~mlwr. o eixo do µoder e o eixo da é tica. E1n outros termos, a ontolo-
g'la histórit'H de nós mcs1110s deve responder a uma série aberta de 
qtH'slôl's: ela St' relaciona con1 un1 número não definido de pesqui-
$ \S {l\ll' ~ pm,sível multiplicar e precisar tanto quanto se queira: 
mas d ns rl'sponderào todas à seguinte sistematização: como nos 
constituímos como sttjeitos de nosso saber; como nos constituí-
mus romo sujeitos que exercem ou sofrem as relações de poder: 
C'omo nos ronstituhnos como sujeitos morais de nossas ações. 
Generalidade. Finalmente, essas pesquisas histórico-críticas 
~1\0 bem particulares no sentido de se referiren1 sempre a um mate-
rial. a uma época, a um corpo de práticas e a discursos determina-
dos . Mas. ao menos na escala das sociedades ocidentais da qual de-
riv .. uu_o:,, elas tem sua generalidade: no sentido de que, até agora. 
~'~ª~ ~cm s id~ recm~rentes: assim, o problema das relações entre ra-
Z,l ~~ t. loucur ª· enti e~ doença e saúde, crime e lei, ou o problema do 
htg,u n dar às rclaçoes sexuais etc. 
Mns • se evoco essa O"eneral 'd d - , 
. ,1 ., , 1 ° 1 a e nao e para dizer que é preciso 
• t, i ,1ç,n- H em sua continuidade metaistórica através do tempo, 
IH Ili l ..:1mpouco acon1pai I . -
cn·1 , , , 1 1ar suas vanaçoes. O que é preciso apre-
ut I e Clll (]Ue 1nedida o b , 
St' e..,l'l'C<'ni r , 1 , :-,. . iê . que sa emos , as fornias de poder que a1 
" ""'<per nc1a que fazem d , 
apc..•ims l1gt1ras históricas d . . os e nos mesinos constituem 
prnbhtma tiz·1rf\o q d fi : eternunadas por uma certa forma de 
l • "c1' • ue e 1111u objeto -
ª\'no consigo mesmo. O est d s, regras de açao, modos de re-
u o (dos modos) de problematizações 
1984 - O Que São as Luze5'' 351 
.. do qne não é constante antropológica nem variação crono-
)\l ~e}' · . d a1· -tt . l ~ portanto . a 1nane1ra e an 1sar. em sua form a his toríca-
l ~1cn ( · d l , ~ ' iltgru\ar. as questões e alcance geral . 
1ncnte:: ~ ---
• 
Utn pequeno resu1110 para terminar e retornar a Kant. Não sei se 
l\~,ml dia nos tornaremos maiores. Muitas coisas em nossa expe-.l ~ d ri~ncia nos convencen1 e que o acontecimento histórico daAajkla-
rung não nos tornou maiores; e que nós não o somos ainda. Entre-
tanto. parece-n1e que se pode dar um sentido a essa interrogação 
critica sobre o presente e sobre nós mesmos formulada por Kant 
ao refletir sobre aAujlddrung . Parece-me que esta é, inclusive , uma 
maneira de filosofar que não foi sem importância nem eficácia nes-
ses dois últimos séculos. É preciso considerar a ontologia critica de 
nós mesmos não certamente como uma teoria, uma doutrina, nem 
mesn10 como um corpo pennanente de saber que se acumula; é 
preciso concebê-la como uma atitude, um êthos , uma via filosófica 
en1 que a crítica do que somos é simultaneamente análise histórica 
dos limites que nos são colocados e prova de sua ultrapassagem 
possível. 
Essa atitude filosófica deve se traduzir em um trabalho de pes-
quisas diversas: estas têm sua coerência metodológica no estudo 
tanto arqueológico quanto genealógico de práticas enfocadas si-
multaneamente como tipo tecnológico de racionalidade e jogos es-
tratégicos de liberdades; elas têm sua coerência teóri~a n~ defini-
ção das formas historicamente singulares nas quais tem sido _pro-
blematizadas as generalidades de nossa relação com as coi~as. 
A • rática no clllda-com os outros e conosco. Elas têm sua coerencia P _ 
- . , · 'tica à prova das pra-
do dedicado em colocar a reflexao histonco-cn _ . 
, . d ' ho·e que O trabalho cn u-
ticas concretas. Não sei se e preciso izer 1 . _ 
, . 1 pre implica. penso, o tra co também implica a fe nas Luzes, ~ e sem tr balho paciente que dá 
balho sobre nossos linütes , ou seJa, um ª 
forma à impaciência da liberdªde.

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