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MARCELA, Souza Marx e Simmel final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA 
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marcela de Souza Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARX E SIMMEL: CONCEITO DE CONFLITO 
A construção do conceito nos dois autores 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís - MA 
2019 
 
 
 
MARCELA DE SOUZA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARX E SIMMEL: CONCEITO DE CONFLITO 
A construção do conceito nos dois autores 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentada ao Curso de Bacharelado em 
Ciências Sociais da Universidade Federal 
do Maranhão, como requisito parcial à 
conclusão do curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís - MA 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
Marcela de Souza Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARX E SIMMEL: CONCEITO DE CONFLITO 
A construção do conceito nos dois autores 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentada ao Curso de Bacharelado em 
Ciências Sociais da Universidade Federal 
do Maranhão, como requisito parcial à 
conclusão do curso. 
 
Aprovada em ____ de ___________ de ______. 
 
 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
 
 
São Luís - MA 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus 
pais que através da ausência e 
do anseio muito colaboraram para 
sua realização. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A realização desta monografia de conclusão de curso só foi possível graças a 
várias mãos. Agradeço em particular: 
À minha família, em especial aos meus pais David Leone Ferreira e Eliana 
Walviece de Souza Silva, e minha irmã Emanuella Nava, pelo protagonismo na 
minha trajetória acadêmica, apoio e compreensão durante essa complicada 
caminhada. 
Aos meus avós Maria José e Bibiano Nava, (in memoriam), por ter me dado o 
apoio necessário nessa jornada – sem eles nada disso teria acontecido. E ao meu 
avô Sebastião Silva Souza (in memoriam). 
Aos meus tios, Cely, Márcio, Marcos Nava e Arthur Ferreira. Assim como a 
professora Camila Sampaio e ao professor José Odval Alcântara Júnior, desta 
instituição, que muito me ajudaram exercendo bastante influência e exemplo de 
profissionalismo na área a qual me dediquei nessa graduação. 
Aos amigos Werbeth Ferreira, Marcelo Serra, Jamys Santos, Paulo Vitor 
Paixão e Thales Felipe que muito contribuíram incentivando e dando força, com os 
quais pude dividir minhas angústias, experiências e alegrias nesse caminho. 
Ao Departamento e à Coordenação do curso de Ciências Sociais da 
Universidade Federal do Maranhão. 
A todos, meu obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não dá para separar de todo o homem de 
sua obra. O homem deixa sempre sua 
marca, seja boa ou má, por onde vai 
passando. E isto já se vê nas pegadas que 
deixamos na praia.” 
(William Douglas R. dos Santos, 2005) 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Neste trabalho de conclusão de curso refletimos sobre o conceito de conflito 
enquanto uma construção originária da trajetória científica dos teóricos Karl Marx e 
Georg Simmel. Nele tentamos esboçar dentro do que já foi pensando sobre o 
assunto, como cada autor cria uma síntese sobre o termo e a partir disso vamos 
entender sobre suas semelhanças e diferenças. Tendo em vista que Marx e Simmel 
são dois alemães, que viveram em Berlim e analisaram a sociedade a partir de uma 
nova ciência que se instalava, a sociologia. Deste modo, poderemos observar que 
tanto para Marx como para Simmel, o conflito é um momento de interação que 
revela a unidade social. Sabendo que, o objeto da teoria marxiana se extravasa no 
trabalho, em Simmel encontramos esse objeto em seu exame sobre o dinheiro. 
Assim, através da análise, percebemos que tanto o termo “classe” quanto o termo 
“interação” possuem como bases as consequências das relações de produção. Para 
Marx o operário, para Simmel o cidadão blasé. Isto posto serão esses dois 
paradigmas que irão orientar toda a construção deste trabalho. 
 
Palavras-chave: Luta de classe. Conflito. Georg Simmel. Karl Marx. 
 
 
ABSTRACT 
 
In this final paper we reflect on the concept of conflict as a construction originating 
from the scientific trajectory of theorists Karl Marx and Georg Simmel. In it we try to 
sketch in what was already thinking about the subject, how each author creates a 
story about the term and from that we will understand about their differences and 
differences. Given that Marx and Simmel are two Germans, who live in Berlin and 
analyze a society from a new science that settles down, a sociology. In this mode we 
can observe both Marx and Simmel, or conflict is a moment of interaction that reveals 
a social unity. Knowing that, or the object of Marxian theory goes beyond work at 
Simmel, this object is found in his examination of money. Thus, through analysis, we 
realize that both the term "class" and the term "interaction" are based on the 
consequences of relations of production. For Marx the worker, for Simmel the blasé 
citizen. Therefore, these two paradigms will guide the entire construction of this work. 
 
Key-words: Class Conflict. Conflict Theory. Georg Simmel. Karl Marx. 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Introdução ................................................................................................................. 11 
1 MARX E O CONTEXTO DO CONFLITO................................................................ 14 
1.1. Marx, a construção de seu método ...................................................................... 15 
1.2. Alienação, fetichismo e consciência formam o conflito em Marx .................... 18 
1.3. O conflito na prática segundo Marx ..................................................................... 24 
2 SIMMEL E O CONTEXTO DO CONFLITO ............................................................ 29 
2.1. A análise microssociológica simmeliana ................................................................ 33 
2.2. Subjetividade, individualidade e liberdade são as bases conceituais do conflito 
para Simmel ........................................................................................................................ 35 
2.3. O conceito de conflito segundo o livro Sociologia (1908) ................................... 39 
3 Marx e Simmel sobre o conflito .............................................................................. 43 
3.1. Síntese do conflito entre Marx e Simmel ............................................................... 48 
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 53 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 55 
 
 
11 
 
 
INTRODUÇÃO 
A presente monografia tem como objeto proporcionar algumas reflexões sobre 
os conceitos de conflito abordados entre os dois teóricos das Ciências Sociais: Karl 
Marx (1818-1883) e George Simmel (1858-1918) que tratam similarmente do conflito 
social como um aspectos singular da sociedade. No entanto, Marx e Simmel se 
diferem em questões que estão implicadas à um modo de ver e compreender o 
mundo que foi diverso para cada autor. Nesse sentido, nosso objetivo é entender as 
diferenças e semelhanças ao longo da história dos autores que fundamentam a 
construção do conceito de conflito por cada um. 
Para tanto, nos justificamos pela curiosidade analítica das teorias do conflito as 
quais são divergentes entre os dois teóricos destacados e suas principais vertentes 
nos estudos do campo das Ciências Sociais, já que o tema do conflito é de grande 
importância para o domínio de estudo assim como é um tema recorrente dentro das 
ciências sociais. 
O problema tratado aqui é encontrar onde os dois teóricos Karl Marx e Georg 
Simmel se assemelham ou se diferenciam com relação ao conflito. Assim, 
especificamente, traçaremos a problematização de Marx sobre o conflito enquanto 
“luta de classes”,encontrada no livro as As lutas de classe na França (1850), como 
também as reflexões sobre o conflito segundo Simmel a partir do livro Sociologia: 
estúdios sobre las formas de socialización (1908), no capitulo “La Lucha”. 
Quanto à metodologia empregada neste trabalho registra-se que foi utilizada 
principalmente a revisão bibliográfica dos autores nas obras As Lutas de Classes na 
França: de 1848 a 1850 de Karl Marx (1850) e de Georg Simmel o livro Sociologia: 
estúdios sobre las formas de socialización (1908), assim como seus comentaristas 
fundamentais. 
Com relação à estrutura, este trabalho está organizado em três capítulos. Para 
tanto, principia–se, no Capítulo 1 em apresentar o sociólogo Karl Marx e sua 
trajetória para a construção do conceito de conflito o qual encontramos mais 
proeminente em As Lutas de Classes na França: de 1848 a 1850. O livro tem como 
cerne as relações que surgiram a partir da revolução de fevereiro que 
exemplificaram o conflito na prática. Na obra, Karl Marx mostra como as relações de 
produção incentivam o movimento ... 
No Capítulo 2, falamos de George Simmel e a ideia de conflito, a partir da 
leitura do livro Sociologia: estudios sobre las formas de socialización escrito em 
12 
 
 
1908. Nesta obra Simmel enfatiza no capítulo 4 sobre o conflito enquanto categoria 
inerente às interações sociais. É portanto, neste capitulo que Simmel vai enfatizar .... 
Ao terceiro capitulo discutimos as semelhanças e diferenças entre os dois 
autores dentro do arcabouço de conflito refletindo sobre as implicações dos autores 
e como seus resultados podem variar entre os dois. 
Para tanto, esta Monografia de Conclusão de Curso tem como finalidade 
preencher as exigências acadêmicas, mas também, instigar o debate sobre o tema 
da teoria do conflito social. Desde modo, ao sugerir esta reflexão, parte-se da 
premissa de que estudar os axiomas clássicos da Sociologia poderemos 
compreender melhor aspectos inerentes a nossa sociedade assim como outras 
sociedades. 
O surgimento pelo interesse em pesquisar esses autores e o conceito de 
conflito surgiu ao longo da minha graduação em Ciências Sociais na Universidade 
Federal do Maranhão. Neste curso, os alunos de Ciências Sociais passam por 
disciplinas especificas de estudos sobre os teóricos clássicos da Sociologia. Em 
uma delas, ao terceiro período da graduação, nós estudamos apenas sobre Karl 
Marx e suas principais teorias. George Simmel é estudado mais timidamente numa 
disciplina ao quinto período de curso, dividindo os estudos com outros sociólogos 
que compartilham uma abordagem ao período “moderno”. 
Na disciplina em que estudamos sobre Marx notamos que na obra O Capital, 
Marx explicar desde a origem do dinheiro no escambo até a relação especulativa do 
dinheiro, no que ele denominou como “forma-dinheiro” (MARX, 2013, p. 122), e 
consecutivamente sua influência às relações na sociedade. Quando estudamos 
sobre Simmel, em sua obra mais famosa Filosofia do Dinheiro (1900), percebemos 
certa complementaridade das reflexões realizadas por Marx um século antes. Essas 
duas obras tratam sobre aspectos muitos semelhantes, fazendo uma longa análise 
sobre as “consequências” do dinheiro nas relações sociais e até individuais, no que 
concerne a relação do indivíduo frente à coletividade. 
A curiosidade pela comparação entre os dois sociólogos que são alemães, 
viveram em Berlim, presenciaram movimentos sociais transformarem a realidade, só 
foi crescendo no avanço da graduação o que culminou no término do curso o 
desenvolvimento de um trabalho de conclusão que refletisse sobre o conhecimento 
das principais diferenças e semelhanças entre esses dois teóricos e o conceito de 
conflito. 
13 
 
 
Além disso, após a leitura do artigo “George Simmel e o conflito social” (20051) 
do professor doutor José Odval Alcântara Junior na qual tive a oportunidade de uma 
aproximação maior com o tema dessa monografia. Nesse artigo, Alcântara faz uma 
análise do processo percorrido por Simmel para definir o conflito, no qual, a ideia 
central é evitar o argumento de que ele está relacionado à negatividade, pois, 
entende-se que o conflito em Simmel é uma “sociação”, e toda sociação é uma 
interação (SIMMEL, 2014, p. 299), processo inerente à sociedade, sendo este um 
conceito de muita importância para compreendermos a dinâmica das relações 
sociais e que se mostra em um viés diferente do modelo marxiano. 
Por ser um autor menos “popular” que Marx, e pouco explorado em pesquisas 
acadêmicas, obtive dificuldades em encontrar algumas obras de Simmel em 
português, e também porque muitas obras dele não possuem mais tiragem. Porém, 
graças ao meu orientador, o senhor José Odval Alcântara Junior, a quem agradeço, 
pude estudar com obras traduzidas para o espanhol. No entanto, como não sou 
fluente em espanhol, me foi necessário um tempo de adaptação para poder estudá-
las, dentre elas a mais clássica Filosofia do Dinheiro, que foi estudada aqui por meio 
de uma edição impressa na Espanha, e Sociologia: estúdios sobre las formas de 
socialización, uma edição mexicana. 
 
 
1
 ALCÂNTARA, Junior, J. O. Georg Simmel E O Conflito Social In, Caderno Pós Ciências Sociais - 
São Luís, v. 2, n. 3, jan./jun. 2005. 
14 
 
 
1 MARX E O CONTEXTO DO CONFLITO 
 
Alguns estudiosos da teoria marxista, como Leandro Konder, José Paulo Netto 
e György Márkus, apontam que há duas fases da construção da teoria de Marx: a do 
“jovem Marx” e do “Marx maduro”. Aqui acreditamos que, devido ao posicionamento 
cronológico, na verdade entendemos esse processo como dado pelo 
desenvolvimento dos conceitos e não por uma ruptura dos ideais marxistas, ou 
marxianos. Logo, as obras que fazem parte do período conhecido como “jovem 
Marx” vêm a ser de 1841-1846 (NETO, 2009, p. 110), já que em 1847 ele está com 
29 anos e é quando começa uma intensa atividade política na sua vida (NETTO, 
2015, p. 16), no entanto essa separação não é por uma questão de idade, mas sim 
pelo desenvolvimento político e amadurecimento das ideias. Assim, obras como O 
Capital (1867) e As Lutas de Classes na França (1850) são obras que estão 
inseridas em uma época mais política para Marx. 
Mary Gabriel ao falar sobre a influência de Hegel à teoria e a vida de Karl Marx 
(1818-1853) destacou a seguinte frase de Hegel: “A história humana é resultado de 
conflitos”. Segundo a autora essa era a premissa mais básica da filosofia de Hegel e 
que consistia no pensamento dialético através de duas ideias que se chocam e o 
resultado desta conflita com a primeira dando consequência a uma nova ideia 
(GABRIEL, 2011, p. 35). 
Dentro do pensamento dialético de Hegel uma das noções presentes é a ideia 
de espírito. Segundo Mary Gabriel, o espírito representa, para Hegel, o que “ocorria 
quando um homem não reconhecia a si mesmo dentro do mundo como um todo 
maior ou sua contribuição produtiva dentro dele” (GABRIEL, 2011, p. 35). Deste 
modo, o espírito é o que reflete a noção de alienação que encontramos em Karl 
Marx (MARX, 2013, p. 211). A noção de alienação em Marx quer dizer o momento 
em que o homem perde em si mesmo e no seu trabalho, pelo modo capitalista de 
produção (idem). 
Mesmo com a morte de Hegel, em 1831, suas teorias já vinham influenciando 
boa parte da Alemanha (GABRIEL, 2011, p. 36). Havia mudanças em toda a Europa, 
na França, na Bélgica e na Inglaterra o que motivou Marx nos escritos do Manifesto, 
em 1848, e As lutas de classe na França em 1848-1850. Por causa de Hegel, Berlim 
havia se transformado em uma cidade que recebia várias pessoas inspiradas em 
mudanças sociais, especialmente vindas da Rússia, pois lá muitos sofriam um julgo 
15 
 
 
feudal muito repressivo. Um desses imigrantes era o jovem Karl Marx com 19 anos, 
em 1835 (idem). 
Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818 na pequena cidade de Treves, ao sul 
daPrússia Renana (NETTO, 2015, p. 11). De 1835 até 1841 Marx viveu em Berlim. 
Após 1841 ele foi para a Colônia onde recomeça uma vida de intensidade política 
em oposição ao governo da Prússia e atende a interesses da classe média 
(GABRIEL, 2011, p. 47). Como fundamento filosófico para sua teoria, a dialética 
passa a ser uma versão da dialética hegeliana a qual Marx denomina de 
“materialismo histórico” (MARX, 2013, p. 26). Trata-se do princípio da “identidade de 
opostos” a qual constitui três unidades: tese, antítese e síntese. A tese pode ser 
entendida como o momento da afirmação; a antítese é o momento da negação da 
afirmação, gerando a tensão que origina a síntese, o último momento que 
corresponde à negação da negação, ou seja, é o resultado da antítese anterior, no 
qual suspende a oposição entre a tese e a antítese. A síntese representa uma nova 
realidade. 
1.1. Marx, a construção de seu método 
A dialética hegeliana que influenciou Marx usa a palavra aufheben que em 
alemão quer dizer “suspender” traz três sentidos, a saber: 1) anular, cancelar; 2) 
proteger e 3) promover a passagem. Segundo a explicação de Leandro Konder, a 
dialética hegeliana é simultaneamente a negação de uma determinada realidade, a 
conservação de algo de essencial que existe nessa realidade negada e a elevação 
dela a um nível superior (KONDER, 1981, p. 154). Isto marca o que Hegel chamou 
de razão absoluta, ou seja, da consciência de si, da autoconsciência. A dialética é, 
portanto, o movimento contraditório dentro de unidades que a cada nova etapa nega 
e supera a etapa anterior, num fluxo contínuo de superação-renovação. Hegel 
sustenta a ideia de que um princípio não basta em si mesmo, pois carrega em si a 
contradição e a luta de opostos. 
Marx desenvolve o pensamento dialético porque ele está convencido de que 
os fenômenos sociais, os quais são visíveis, não se explicam por si só. Tudo na 
sociedade tem uma causa oculta, por isso, é preciso buscar os métodos da dialética 
materialista da história para poder entendê-los (MARX, 2013, p. 965). Para tanto, 
tomou como objeto, a relação do homem com a natureza pelo trabalho. Ou seja, o 
16 
 
 
próprio trabalho. Para Marx foi através do trabalho que o ser humano se desvinculou 
da natureza e pode colocar-se como sujeito do mundo e dos objetos naturais 
(MÁRKUS, 2015, p. 44). 
O trabalho para Marx, explica todas as relações do homem com o mundo, isto 
é, através das relações de produção (MARX, 2013, p. 206). É pelo trabalho que se 
evidencia a luta dos contrários. O materialismo histórico-dialético representa o 
homem produzindo, em condições determinadas e desta forma organizando sua 
vida. O agente da história, o homem, é, portanto, o sujeito, e não o espírito, pois ele 
está em movimento, em luta (MARKUS, 2015, p. 116). 
Através do método do materialismo histórico, para entender o que é racional 
no mundo é preciso entender as causas profundas, e nesse sentido é conciso 
alcançar a relação entre a superestrutura e infraestrutura. A superestrutura é tudo 
que está ao alcance dos sentidos na sociedade. É o resto em relação à 
infraestrutura. Já a infraestrutura é o lugar no qual se podem encontrar as 
verdadeiras causas de tudo que se relaciona, direta ou indiretamente, com a 
produção de bens materiais na sociedade, ou seja, com uma economia. Economia a 
qual é constituída por forças de produção e relações de produção (MARX, 1985, p. 
82). 
As forças de produção são componentes por todos os elementos materiais 
que participam da produção de bens. São as forças as quais agem sobre o objeto do 
trabalho. O trabalhador age segundo uma ação sobre um dado do mundo para 
transforma-lo com finalidade estabelecida. Assim, vê Marx, o que importa é o 
trabalhador, pois ele é a energia de trabalho (força de trabalho). Resumindo o 
processo; o trabalho é fundamentado por um processo de produção, o qual 
considera três elementos: 1) objeto (pode ser bruto – o qual sai da natureza para ser 
transformado – e primo – o qual já foi transformado previamente), 2) meio 
(instrumento entre o trabalho e o trabalhador) e 3) atividade humana necessária. 
Nesse processo tem-se o produto - resultado da ação do trabalho – e a mercadoria - 
produto para comercialização (MARX, 2013, p. 113). 
As relações de trabalho também cabem às condições que o processo de 
trabalho se dá pela cultura, pela política, etc., na qual o homem age na natureza 
desde que ele existe, mas não sempre da mesma maneira, já que as relações 
culturais e políticas se modificam ao longo do tempo. O que caracteriza as relações 
capitalistas de produção de bens são, então, os meios de produção os quais 
17 
 
 
controlam a propriedade privada (MARX, 2013, p. 521). Assim pode-se dizer que na 
produção capitalista existem dois grupos: os proprietários dos meios de produção, e 
não-proprietário, aqueles que são o proletariado, os trabalhadores, o que é discutido 
em A ideologia Alemã (MARX & ENGELS, 1986, p. 65). 
Logicamente, os proprietários e os proletariados não se dão bem, pois 
possuem interesses distintos. Os proprietários objetivam o lucro e os trabalhadores 
sobrevivem por seus salários. O que caracteriza um desequilíbrio, gerando a 
dinâmica dos contrários, a luta de classe. Na luta ficam evidentes dois elementos: a 
exploração do trabalho, pois o burguês controla as condições materiais do trabalho, 
pagando menos do que ele vale, e segundo, uma alienação, já que as condições do 
trabalho fazem com que o trabalhador se torne estranhas a ele mesmo, ou seja, o 
objeto se separa do seu produtor assim como o próprio trabalho (MARX, 2013, p. 
574). Nesta luta quem sempre ganha é o burguês porque é ele quem dita às regras 
do jogo, pois eles detêm os meios de produção. 
Aí está o método científico de Marx ao lançar que é o trabalho2, pois é ele que 
modela o homem, ou seja, o conhecimento em Marx é empírico3, isto é, motivado 
pela práxis. Na dialética se pode perceber que o produto passa pela tese, ou seja, o 
reconhecimento de que ele existe – mostrar que o trabalho é a ação racional do 
homem sobre sua existência/sobrevivência. Em segundo lugar, passa pela negação 
do objeto – a força de trabalho como produto vendável para trocar em salário 
(MARX, 2013, p. 630). E em terceiro, se torna um novo que é justamente a 
alienação – algo que o homem não reconhece, nem como dele, mas como algo novo 
e totalmente autônomo (MARX, 2013, p. 211). 
É verdade que Marx se inspira em Hegel, porém ele (principalmente em A 
ideologia Alemã) traça uma separação do pensamento e principalmente dos críticos 
hegelianos; tais como Feuerbach, Strauss, Stirner, Bauer, entre outros, segundo 
José Netto (NETTO, 2015, p. 17). O principal problema desses críticos é que, 
segundo Marx, eles buscam explicar a realidade por um idealismo simplista o qual 
crer que a condução da história seja pela ideia, mas para Marx ela se faz pela práxis 
(MARX & ENGELS, 1986, p. 100). 
 
2
Marx e Engels desenvolvem este modelo em A ideologia Alemã (1845-46). MARX, ENGELS. A 
ideologia Alemã. São Paulo: Editora HUCITEC – 5° ed., 1986. 
3
Conceito e argumento que ele desenvolverá melhor a partir de 1857 nos escritos do Grundisse 
(Crítica da Economia Política) e MARX. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro I: O processo 
de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. Livro eletrônico. São Paulo: Boitempo, 2013. 
MARX. Grundisse: Manuscritos econômicos de 1857-1858. São Paulo: Boitempo, 2013. 
18 
 
 
Na concepção de Hegel, na obra A Fenomenologia do Espírito, obra de 1807, 
a filosofia se destinava a compreender a origem do sentido de realidade como 
cultura. A cultura, para ele é toda realização humana com a natureza pelo desejo, 
pelo trabalho, pela linguagem, instituições sociais, Estado, religião, arte, ciência e 
filosofia (HEGEL, 2000, p. 255). O conhecimento do real se dá, paraHegel, através 
do espírito, isto é, uma reflexão. A cultura já existe no homem e o espírito do homem 
é aquele que se reproduz no que ele produz (exteriorização e compreensão). Assim, 
o homem se reconhece no que ele produz e essa produção é a exteriorização do 
que ele é. Assim em Hegel a história é essa constante interpretação do homem 
acerca de si. 
Deste modo Hegel levanta três aspectos: 1) a história não é uma sucessão de 
fatos, 2) para a história existir são necessários conflitos e contradições. A 
contradição está na existência do contrário, que, por exemplo, existia o senhor e o 
escravo, o escravo é o não senhor. No conflito é a relação (até social) entre o senhor 
e escravo. E para Hegel a história se desenvolve nesse movimento. 3) A história é, 
portanto, um processo de contradição unificada em si mesma e por si mesma, não 
linear e plenamente compreensível e racional pois ela explica-se por si só (HEGEL, 
2000, p. 286). 
Deste modo, percebe-se que o método dialético, oriundo de Hegel, em Marx é 
um processo que se estrutura a fim de aprisionar os trabalhadores à sua condição 
de exploração, pois, o trabalhador perde a consciência sobre o produto do seu 
trabalho, perde a noção histórica de sua existência e se aliena sobre o seu 
pertencimento de classe. 
1.2. Alienação, fetichismo e consciência formam o conflito em Marx 
Quando estudamos o conceito da alienação percebemos o quanto Marx se 
orienta pelo definido por Hegel. Para Hegel, o homem possui a cultura interior e seu 
espírito é a produção do seu interior, ou seja, sua cultura. Isto nos leva a crer que o 
que o homem produz automaticamente é identificado com produzido por ele. Logo, 
se ele não se identifica com o que produziu e não se entende como sujeito da 
história há o que Hegel chamou de alienação (HEGEL, 2000, p. 234). No entanto, 
em Marx, esse conflito de interior e exterior nos homens não é uma explicação 
suficiente. Para ele o que acontece é a contradição entre homens reais em 
19 
 
 
condições históricas e sociais reais (e determinadas) a qual ele chama de luta de 
classes (MARX, 1999, p. 8). Quando ele coloca o trabalho como produto alienador, 
ainda traz o conceito de que o próprio produto se torna algo novo e irreconhecível ao 
trabalhador. 
Segundo Hegel, a constituição da sociedade civil e do Estado é definida pela 
separação das famílias construindo uma divisão entre os interesses públicos e 
privados. Assim, o indivíduo se encontra na sociedade civil, em uma classe social. 
Em Hegel há três classes sociais: a primeira é formada pelos proprietários 
(ainda aliados à família, pois possuem por um laço sanguíneo), a segunda é a 
classe intermediaria esta se classifica pela distância da família (apud CHAUI, 1981, 
p. 89-90). Os indivíduos são entendidos como cidadãos, isto é, aqueles que estão 
separados do individual e pertencem a uma classe social, são os que vivem da 
indústria e do comércio, do trabalho próprio ou do trabalho alheio. A terceira é a 
classe média que opera e constitui o Estado. Ela é também denominada de 
universal, são os funcionários públicos, governantes, professores, magistrados. 
Para Hegel o Estado é uma comunidade que não possui interesses 
particulares. É tido como um produto da sociedade civil, espírito subjetivo que busca 
tornar-se objetivo, é uma ideia. Para Marx, a história é o modo real como os homens 
reais produzem suas condições reais de existência. Deste modo, o Estado não pode 
ser subjetivo, produto do espírito humano, mas produto real da práxis humana, pois 
ele surge dessa necessidade de existência humana. 
Na busca pela sobrevivência os homens se agrupam e se dividem a fim de 
explorar os recursos naturais. “O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos 
meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida 
material” (MARX & ENGELS, 1986. p. 39). Em Marx a história é formada pela 
organização da sociedade por suas relações de produção. Deste modo os homens 
realizam uma divisão social do trabalho na qual Marx encontra uma classe que 
detinha o poder, a riqueza, o exército e a política ao seu favor, concentrando-os para 
si as condições materiais da vida social os quais se refletem no desenvolvimento da 
propriedade (MARX, 2013, p. 148). Assim, a história não é o desenvolvimento das 
ideias, mas sim o desenvolvimento das relações de produção que culmina na 
sociedade civil. 
Segundo Marx, a práxis é um conceito desenvolvido para que em conjunto com 
o seu método dialético, se possa entender a realidade através de como as pessoas 
20 
 
 
agem no mundo real (MARX, 2010, p. 43). Para Hegel, a sociedade civil é o sistema 
das relações sociais que se organizam na produção econômica, nas instituições 
sociais e políticas e que são representadas ou interpretadas por um conjunto 
sistemático de ideias jurídicas, religiosas, políticas, morais, pedagógicas, cientificas, 
artísticas e filosóficas (apud CHAUI, 1981, p. 90). Deste modo, é a sociedade civil dá 
significado à práxis, que faz a realidade acontecer (MARX, 2010, p. 43). 
Marx mostra que as classes sociais não são acabadas na sociedade, mas que 
estão se fazendo umas às outras. Logo, será pela contribuição do trabalho 
intelectual e material que se poderá determinar os membros da classe (MARX & 
ENGELS, 1986, p. 29). E isso acontece, a determinação dos membros, porque a 
sociedade civil cria uma relação de dependência, isto é, em um reducionismo 
simplório, quem não pensa depende de quem pensa e quem pensa depende de que 
não pensa, na qual se instaura a ideologia (idem). 
Nas sociedades capitalistas essa divisão se dá na sociedade civil pela 
separação do trabalho intelectual e o trabalho manual. Isto se dá porque a 
concentração dos meios de produção no processo de trabalho industrial moderno 
restringe ao trabalhador a parte da transformação da ideia em produto (MARX, 2013, 
p. 167). À medida que as coisas se “complexificam”, ou seja, a partir dos avanças 
tecnológicos nas sociedades capitalistas industriais, cada indivíduo passa a ter uma 
atividade determinada e exclusiva, cada um tem sua atividade a qual não pode 
escapar por que esta lhe é imposta socialmente. Anteriormente um trabalhador 
participava de todo processo fabril, na sociedade moderna há um isolamento, o 
indivíduo passa a ter funções, ele se torna um produto da própria máquina. O que 
fica evidenciado sociologicamente como divisão social do trabalho (MARX, 2013, p. 
244). 
O que constitui a história são três aspectos: as forças de produção, as relações 
sociais e a consciência (MARX & ENGELS, 1986, p. 85). Ora, nas sociedades 
capitalistas há uma inversão de tal maneira que faz parecer que não há nenhuma 
relação com a realidade, pois, como vê Marx, a realidade sempre terá a ver com a 
práxis humana. 
Segundo ele, essa inversão acontece porque há uma ideologia, a ideologia 
nada mais é que um processo subjetivo e objetivo involuntário produzido pelas 
condições objetivas da vida produtiva, a qual cria uma fronteira entre a produção 
21 
 
 
material e espiritual (intelectual) que faz com que as representações do real sejam 
representações de algo real, uma alienação (MARX, 2010, p. 46). 
 A alienação é uma consciência entregue à ideologia que pertence à classe 
dominante, pois é dela os formadores de opinião, os teóricos, os ideólogos, que 
fazem com que as ideias pareçam ser coletivas, mas na verdade são produtos de 
desigualdade, de classes. É deste modo nasce o Estado, algo coletivo, mas que na 
verdade serve a particulares. Por isso o comunismo para Marx é a devolução da 
consciência verdadeira, de uma história consciente e sem subserviência do Estado 
(MARX & ENGELS, 1986, p. 52). 
Temos assim que o trabalho é o meio de ligação entre as classes, elas criam 
entre si uma relação de dependência. Nas sociedades capitalistas, com o advento 
da maquinaria nas fábricas, todo proprietário precisaráde um operário, sua força de 
trabalho e o operário precisarão do seu salário (MARX & ENGELS, 1986, p. 29). 
Desenvolvido na vida jovem de Marx, o conceito de trabalho é entendido como 
o sentido de produção. Ele percebe que a essência humana parte da atividade 
primordial do homem, trabalho sobre o nome de labour (MÁRKUS, 2015, p. 26). É 
deste modo, por exemplo, que o homem pode dominar a natureza e desenvolvê-la. 
O trabalho é a satisfação das necessidades humanas (idem, 27). Labour é a forma 
como Marx abrange esse processo, ou seja, pela produção (produktion), pois a 
produção é resultado da objetivação humana. A objetivação, como nos reporta 
Márkus, é a capacidade que os homens têm, de mesmo a algo que não possui vida, 
dar-lhe uma significação humana aquilo, a qual lhe é útil. Na explicação de György 
Márkus (2015), o conceito marxiano de objetivação tem a ver com a finalidade das 
coisas materiais se adaptarem às necessidades humanas em função específica 
(MÁRKUS, 2015, p. 31 e 32). O que seria diferente das coisas naturais. Os objetos – 
tanto naturais como artificiais – podem ser utilizados de várias formas e maneiras, de 
acordo com as exigências de quem o detém. Isto porque no contexto da vida real e 
social, os objetos têm uma utilização permitida por quem o possui que pode ser 
utilizada de outra maneira sem deixar invocar algum tipo de insatisfação social. No 
exemplo, um copo é destinado para beber, mas qualquer coisa pode ser um copo se 
utilizado nessa função (idem). 
Nesse sentido, o que o homem produz tem uma significação objetiva de sua 
realidade humana. Assim modelam-se da objetivação dois conceitos: o de 
22 
 
 
necessidade4 e o de capacidade. Existe a necessidade individual, aquela que Marx 
compreende como uma necessidade natural de um indivíduo, a necessidade para a 
agricultura é um exemplo (MARX, 2013, p. 113). Há também a necessidade radical 
que é a qual Marx enfatiza no conflito entre classes, esta que transcende os 
sistemas de relações sociais. A necessidade radical encontra-se no fator da classe 
oprimida ser a de maior força de produção. A necessidade radical se extravasa na 
necessidade de universalidade. Esta é a tendência do homem de fluir seu trabalho 
como atividade essencialmente humana a qual é frustrada pelo modo de 
organização do trabalho nas sociedades capitalistas (MÁRKUS, 2015, p. 44). Já a 
capacidade é a forma como o homem consegue desenvolver o seu trabalho. 
Conforme o ser humano se aperfeiçoa novas ferramentas para lidar com a natureza 
também são desenvolvidas. Sua história e suas capacidades, habilidades, carências 
e objetivos também serão renovadas. A capacidade é, pois, uma competência 
humana em evolução (MÁRKUS, 2015, p. 34). 
É no trabalho que encontramos o objeto científico de Marx devido à sua 
filosofia materialista. É lógico que a explicação da realidade materialmente dada é o 
produto do trabalho, pois, é ele mesmo fruto de uma potência material. A 
necessidade de uma filosofia da ação prática que tenha como fundamento material, 
aquela que Marx denominou como “a teoria que só se efetiva num povo na medida 
em que representa a concretização das suas necessidades” (MARX, 2010, p. 46). É 
nisso que o conceito atividade materialmente mediada que Karl Marx desemboca. 
Portanto, o trabalho está relacionado ao conteúdo material, real, naquilo que é 
objeto. Transformar a natureza através do trabalho resulta cada vez mais num 
ambiente progressivo e ampliado do homem. O trabalho é a atividade social principal 
que tornou a existência humana estável, e escreveu a história por meio dele 
(MÁRKUS, 2015, p. 47). 
Em O Capital, Livro 1, Karl Marx (1867) teoriza sobre os principais aspectos 
que transformaram o homem neste ser social localizado na cidade, o polo do 
trabalho industrial, já que é a cidade que concentra as condições dos 
desenvolvimentos tecnológico e a oportunidade do surgimento do proletariado. 
 
4
 As explicações sobre necessidade são encontradas nas obras Miséria da Filosofia (1846) e O 
Capital volume 1 (1867). MARX & ENGELS. Miséria da Filosofia. Boitempo, São Paulo: 2017. 
MARX. O Capital: volume I. Boitempo, São Paulo: 2013. 
23 
 
 
Em A Mercadoria, o primeiro capítulo do livro, Marx se preocupa com as 
relações que esse novo modelo de trocas econômicas deixa nos indivíduos. Ele 
pondera que, ao contrário do que se pensa, é o processo de produção o responsável 
pela alienação humana. É através desse processo que se retira a ideia do 
pertencimento, discutido anteriormente no processo de cultura hegeliano, e o 
transfere para a ideia de valor. Os proletários não se identificam no que produzem 
por conta de alguns fatores. 
O primeiro fator é quanto ao que é a mercadoria, segundo Marx, ela se origina 
em necessidades e em fantasias, coisas tangíveis e intangíveis, mas possui duas 
categorias intrínsecas: valor de uso, valor de troca e ser produto de um trabalho 
humano produzido para outrem pelo tempo de trabalho “objetificado” (MARX, 2013, 
p. 113). 
Por segundo temos que é a diversificação da divisão social do trabalho que 
passa a ser regulado pelo que ele chamou de tempo socialmente necessário, a fim 
de poder equiparar o valor do trabalho, que repousa sob o conceito de valor 
quantitativo, regulado pelo tempo, o que Marx nomeou de trabalho abstrato. Essa 
prática fortaleceu o afastamento cada vez mais entre o trabalhador e o produto final 
(MARX, 2013, p. 233). 
O terceiro fator se relaciona com o fetichismo da mercadoria e pela dimensão 
da mercadoria-dinheiro. O processo se dá por várias características, uma delas é 
que o produto do trabalho, em todas as condições sociais, deve ser objeto de uso, 
mas o trabalho só se transformou em “mercadoria” numa época historicamente 
determinada de desenvolvimento, a qual o trabalho despendido na produção só é 
válido segundo no seu valor numa relação de troca (MARX, 2013, p. 143). 
Como se vê, o trabalho se torna outro produto tornando-se também uma 
mercadoria, pois, de igual modo, ele é medido pelo valor equivalente entre os 
homens (MARX, 2013, p. 142). A mercadoria compara as relações socais através do 
seu valor de troca. “Eles não sabem disso, mas o fazem” (MARX, 2013, p. 144) 
porque essa ideia se encontram tão inerentes na divisão social do trabalho que 
constitui e modela as relações entre os homens. Na medida em que a referência de 
valor passa a ser os produtos do trabalho, os homens são eles próprios materiais de 
trabalho os quais equiparam-se entre si por seus produtos. 
Deste modo, o trabalho cria relações sociais entre as pessoas e seus 
empregos que os rotulam e aparecem com suas próprias formas de ser na 
24 
 
 
sociedade, mas que são tão dissolvidas que ficam travestidas em relações outras 
(MARX, 2013, p.146). 
A igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material da igual 
objetividade de valor dos produtos do trabalho; a medida do dispêndio de 
força humana de trabalho por meio de sua duração assume a forma da 
grandeza de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as relações entre 
os produtores, nas quais se efetivam aquelas determinações sociais de seu 
trabalho, assumem a forma de uma relação social entre os produtos do 
trabalho (MARX, 2013, 142). 
O caráter misterioso da mercadoria está na relação que se concretiza na 
mercadoria, mas que dissipa todas as relações implícitas a sua existência. Esse é o 
sentido de fetiche. Este é o domínio do capitalismo. Uma relação que se efetiva na 
forma de produção já que é ela que regula os valores das mercadorias se 
estabelecendo pela relação de equiparação entre o trabalho socialmente necessário 
e o trabalho humano concreto (MARX, 2013, p. 143). 
Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir 
um valor de uso qualquer, nas condições dadas de produção socialmente 
normais, e com o grau social médio de habilidadee de intensidade do 
trabalho (MARX, 2013, p. 116). 
1.3. O conflito na prática segundo Marx 
Todo esse arcabouço sobre aspectos gerais da teoria de Marx, como as 
colocações dele sobre o trabalho, sobre a dialética, a alienação, a consciência, a 
ideologia, o fetichismo, a consciência de classe, etc., são conceitos construídos para 
explicar o porquê a luta de classes existe e servem como base para entendermos 
melhor o que Marx compreende como conflito. 
As lutas de classe na França de 1848-1850 é uma obra onde vemos mais 
evidentemente os conflitos de classes. Nesta obra, um relato narrativo jornalístico, 
feito no calor do momento, Karl Marx faz uma descrição densa do que está 
acontecendo na França logo após a revolução popular de fevereiro de 1848 a qual 
foi tratada a organização da classe operária que passou por um processo cultural de 
transformação social culminando numa consciência de classe. 
Na descrição dos acontecimentos das lutas de classes na França é ressaltada 
a importância da práxis enquanto fundamento para o entendimento filosófico da 
história o que para Marx é o que realmente possibilita a luta de classe (MARX, 2012, 
p. 28). 
25 
 
 
Cabe ressaltar, que o percurso teórico do autor enfatiza como o conflito político 
acontece somente pela análise de recorte histórico, assim, na sociedade feudal, por 
exemplo, as classes oprimida era o camponês e o conjunto de clero e nobres, a 
classe opressora. 
No livro As Lutas de Classes na França Marx descreve as classes da seguinte 
maneira: havia a monarquia como a classe mais rica, os republicanos eram os 
burgueses, a “montanha5” ou democratas representavam os pequenos burgueses e 
o proletariado como os oprimidos, os “blanqui” (MARX, 2012, p. 33). 
A “Revolução de Fevereiro” de 1848 foi uma revolução do proletariado que foi 
influenciada pelos feitos dos anos de 1789-1830, quando muitas teorias sobre o 
conflito político era debatido, além de terem diversos acontecimentos históricos 
foram acontecendo na França como panfletagem a favor da revolução, que 
mudaram a sociedade. Em 1848, parecia que de fato aconteceria a “ditadura do 
proletariado”6, mas o que aconteceu foi que o levante popular realizado em 22 a 25 
de fevereiro de 1848 pelos trabalhadores, artífices e estudantes franceses 
derrubaram a monarquia burguesa constitucional de Luís Filipe e forçaram a 
proclamação da segunda República francesa, ainda burguesa. As classes que 
substituíam as anteriores apenas mantinham as relações de opressão com a classe 
trabalhadora que pôde resistir até 1850 quando a revolução operária é derrubada. 
Pelos acontecimentos da época, apreendemos o seguinte: o ponto de vista 
central da obra é a ideia da consciência de classe. No entanto, a consciência de 
classe só é obtida através do entendimento das circunstâncias que condicionam o 
trabalhador, que são a ideologia, a alienação e o fetichismo. 
Como a França estava submetida a um esquema cujos altos burgueses se 
beneficiavam do dinheiro do Estado, a classe operária se encontrava enfraquecida 
pela ideologia dominante através da alienação do trabalho, como descreve Marx 
(2012). 
O endividamento do Estado era, muito antes, do interesse direto da facção 
burguesa que governava e legislava por meio das câmaras. Pois o déficit 
público constituía o objeto propriamente dito da sua especulação e a fonte 
de seu enriquecimento. [...] Cada novo empréstimo tomado proporcionava 
uma segunda oportunidade de saquear o público que havia investido seus 
capitais em papéis do Estado, o que era feito mediante operações na bolsa, 
 
5
 MARX. As lutas de classe na França. Tradução de Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2012. 
p. 51 
6
 MARX & ENGELS. Manifesto do Partido Comunista. Versão eletrônica. Edição Ridendo Castigat 
Moraes, 1999. Acesso em http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manifestocomunista.pdf. 
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manifestocomunista.pdf
26 
 
 
em cujos mistérios o governo e a maioria da câmara eram iniciados. De 
modo geral, o comportamento oscilante do crédito estatal e a posse dos 
segredos de Estado propiciavam aos banqueiros, assim como aos seus 
afiliados nas câmaras e no trono, a possibilidade de provocar oscilações 
extraordinárias e repentinas na cotação dos papéis do Estado, que 
necessariamente tinham como resultado a ruína de uma massa de 
capitalistas menores e o enriquecimento rápido e fabuloso dos grandes 
atores. O fato de o déficit público ser do interesse direto da facção 
dominante da burguesia explica porque, nos últimos anos do governo de 
Luís Filipe, os gastos públicos extraordinários foram duas vezes maiores do 
que os gastos públicos extraordinários [...]. As enormes somas que, desse 
modo, fluíam pelas mãos do Estado davam, além de tudo, margem a 
contratos de fornecimento extorsivos, pagamento de propinas, fraudes, toda 
espécie de patifaria. O abuso do Estado em grande escala por meio de 
empréstimos se repetia em cada detalhe dos serviços públicos. A relação 
entre câmara e governo se multiplicava na forma da relação entre as 
administrações individuais e os empresários individuais. 
A classe dominante explorava a construção das ferrovias da mesma forma 
que fazia com os gastos públicos em geral e com os empréstimos estatais. 
As câmaras empurravam para o Estado o ônus principal e asseguravam à 
aristocracia financeira especuladora polpudos rendimentos. Ainda há viva 
lembrança dos escândalos na Câmara dos Deputados, quando 
fortuitamente veio à tona que todos os membros da maioria, incluindo uma 
parte dos ministros, tinham participação acionária nas mesmas construções 
ferroviárias que eles, logo depois, na condição de legisladores, mandavam 
construir às custas do Estado. 
A reforma financeira, em contrapartida, por menor que fosse, fracassava 
devido à influência dos banqueiros. [...] 
A monarquia de julho nada mais foi que uma companhia de ações destinada 
à exploração do tesouro nacional da França, cujos dividendos eram 
distribuídos entre os ministros, as câmaras, 240 mil eleitores e seus acólitos. 
Luís Filipe era o diretor dessa companhia – era Robert Macaire sentado no 
trono. Comércio, indústria, agricultura, navegação e os interesses dos 
burgueses industriais estavam forçosamente ameaçados e prejudicados sob 
esse sistema. “Governo em oferta”, “gouvernement à bon marché”, foi 
escrito nas bandeiras das jornadas de julho. 
Enquanto a aristocracia financeira ditava as leis, conduzia a administração 
do Estado, dispunha sobre o conjunto dos poderes públicos organizados, 
controlava a opinião pública por meio dos fatos e por meio da imprensa, 
repetiu-se em todas as esferas, da corte até o Café Borgne, a mesma 
prostituição, a mesma fraude despudorada, a mesma ânsia de enriquecer 
não pela produção, mas pela escamoteação da riqueza alheia já existente, 
prorrompeu especialmente entre as lideranças da sociedade burguesa a 
validação irrefreável das cobiças doentias e dissolutas, que a cada instante 
colidiam com as próprias leis burguesas. [...] A aristocracia financeira, tanto 
no modo de obter seus ganhos quanto no modo de desfrutar deles, nada 
mais é que o renascimento do lumpemproletariado nas camadas mais altas 
da sociedade burguesa (MARX, 2012, p. 30-31). 
Tendo visto isso, a classe oprimida se descontentou gerando um impasse que 
só pôde ser resolvido por meio da luta, o que culminou na revolução de fevereiro. 
Essa insatisfação devolveu a cada trabalhador francês a consciência de classe. Mas 
a devolução da consciência de classe na França resultou numa breve “ditadura do 
proletariado”, substituindo a revolução pela república. 
27 
 
 
Como descreve Marx, com a nova república o sufrágio universal deu aos 
operários a possibilidade de inserção no poder político. 
Em lugar das poucas facções da burguesia, de repente todas as classes da 
sociedade francesa foram lançadas para dentro da esfera dopoder político, 
forçadas a abandonar os camarotes, o parterre [as plateias] e as galerias e 
desempenhar pessoalmente seu papel no palco revolucionário! Junto com o 
reinado constitucional desapareceu inclusive a aparência de um poder de 
Estado arbitrariamente contraposto à sociedade burguesa, levando com ela 
toda a série de lutas secundárias que esse pseudopoder provoca! 
Ao ditar a república ao governo provisório e, por meio do governo provisório, 
a toda a França, o proletariado ocupou imediatamente o primeiro plano 
como partido autônomo, mas, ao mesmo tempo, desafiou toda a França 
burguesa a se unir contra ele. O que ele conquistou foi somente o terreno 
para travar a luta por sua emancipação revolucionária, mas de modo algum 
a própria emancipação. 
Antes disso, a primeira medida que a república de fevereiro teve de tomar 
foi consumar o domínio da burguesia, permitindo que todas as classes 
proprietárias ingressassem ao lado da aristocracia financeira na esfera do 
poder político. A maioria dos grandes proprietários de terras, os legitimistas, 
foi emancipada da nulidade política a que a monarquia de julho a havia 
condenado. [...] Mediante o sufrágio universal, os proprietários nominais, 
que compõem a maioria dos franceses, os agricultores, foram instituídos 
como juízes sobre o destino da França. Por fim, a república de fevereiro fez 
com que a dominação dos burgueses aparecesse em sua forma pura, ao 
derrubar a coroa atrás da qual se escondia o capital (MARX, 2012, p. 33). 
 
Deste modo, a emancipação trouxe apenas um novo campo de conflito. A alta 
burguesia francesa continuou a lutar pelo seu espaço, travando lutas de vida e morte 
com os trabalhadores (MARX, 2012, p. 34). 
Os proletários se consideraram com razão os vitoriosos do mês de fevereiro 
e fizeram as reinvindicações altivas de quem obteve a vitória. Eles 
precisavam ser vencidos nas ruas; era preciso mostrar-lhe que seriam 
derrotados assim que deixassem de lutar com a burguesia e passassem a 
lutar contra a burguesia. Assim como a república de fevereiro com suas 
concessões socialistas exigira uma batalha do proletariado unido com a 
burguesia contra o reinado, uma segunda batalha se fazia necessária para 
divorciar a república das concessões socialista, para talhar a república 
burguesa oficialmente como dominante. A burguesia foi obrigada a 
contestar as exigências do proletariado de armas nas mãos. E o verdadeiro 
local de nascimento da república burguesa não é a vitória de fevereiro, é a 
derrota de junho (MARX, 2012, p. 46). 
Em 22 de junho de 1848 a resposta operária foi dada à burguesia. Houve a 
“primeira grande batalha entre as duas classes que dividem a sociedade moderna. 
Travou-se a batalha pela preservação ou pela destruição da ordem burguesa. O véu 
que encobria a república foi rasgado”. (MARX, 2012, p. 46). Mas em 29 de junho de 
1848 a classe trabalhadora é derrotada. 
28 
 
 
Alguns fatores tornaram junho de 1848 relevante para a luta operária. 
Primeiramente, a revolução de junho teve a intenção de romper com a ordem 
burguesa, algo que nunca havia sido colocado em prática, pois nunca antes na 
história se havia questionado a ordem burguesa. Outro fato é que ele possibilitou o 
esclarecimento da massa dominada ao romper com as ilusões que fevereiro havia 
criado, mostrando que havia duas classes conflituosas, o domínio do capital e a 
exploração burguesa que antes estava mascarada em conluio com monarquia de 
julho. 
Assim como os trabalhadores haviam conquistado pela luta a monarquia 
burguesa nas jornadas de julho, eles conquistaram, nas jornadas de 
fevereiro, a república burguesa. Assim como a monarquia de julho fora 
obrigada a se anunciar como uma monarquia rodeada de instituições 
republicanas, a república de fevereiro foi forçada a se anunciar como uma 
república, rodeada de instituições sociais. O proletariado parisiense também 
impôs essa concessão (MARX, 2012, p. 35). 
Com a derrota, o proletariado parisiense ativo, pode perceber que a classe 
ainda não era capaz de engendrar a revolução, muito por conta de uma 
incapacidade organizacional, dado que o desenvolvimento do proletariado industrial 
é condicionado pelo desenvolvimento da burguesia industrial (MARX, 2012, p. 36). 
Assim, na briga iminente entre a burguesia e o proletariado, todas as 
vantagens, todos os postos decisivos e os estratos médios da sociedade já 
se encontravam nas mãos da burguesia, ao mesmo tempo que as ondas da 
Revolução de Fevereiro arrebentavam fortemente sobre todo o continente e 
cada nova postagem trazia um novo boletim da revolução, ora da I tália, ora 
da Alemanha, ora das mais longínquas regiões do sudeste da Europa, 
mantendo em alta o frenesi geral da população, trazendo-lhe o atestado 
permanente de uma vitória que ela já tinha jogado fora (MARX, 2012, p. 42) 
Como se percebe, a questão do conflito em As Lutas de Classe na França 
(2012) está situada na condição da consciência de classe que o trabalhador francês 
ativo teve como base para haver um conflito entre as desigualdades sociais da 
França em 1848. Ao demonstrar que o mote central da concepção de individuo está 
na sua força de trabalho, isto é, na maneira como ele condicionada sua existência, 
Marx comprova que é pelo antagonismo das classes sociais que se efetiva o embate 
político. 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
2 SIMMEL E O CONTEXTO DO CONFLITO 
Simmel é um teórico controverso dentro das Ciências Sociais, não por sua 
teoria, mas por muitas vezes não ser aceito como um sociólogo relevante para a 
Sociologia clássica. Por muitas vezes ele é tido como interdisciplinar nos quais 
muitos de seus trabalhos dialogam com a psicologia (WAIZBORT, 2006, p. 245). 
Segundo Leopoldo Waizbort (2006), Simmel escreve baseado em três 
dimensões: a filosofia da cultura, o diagnóstico do presente e a teoria da 
modernidade (WAIZBORT, 2006, p. 116). Dentro de sua análise está contida a ideia 
do liberalismo (relação tênue entre indivíduo e sociedade) a qual é expressa uma 
crítica da vida na cidade que encontramos em As grandes cidades e vida do espírito, 
de 1903, assim como em outras obras como: Filosofia do dinheiro (1900), Da 
Essência da Cultura (1908), A Crise da Cultura (1917), O Conflito na Cultura 
Moderna (1918), que discutem como a forma de viver nas cidades é uma mediação 
das relações cada vez mais quantitativas (SIMMEL, 2005, p. 580). 
A sociologia simmeliana é a da interação, da intersubjetividade, da relação 
sujeito e objeto, indivíduo versus sociedade (SIMMEL, 2014, 299), o que se 
evidencia, segundo Simmel, nas questões em torno do dinheiro, da prostituição, da 
moda, do estrangeiro, entre outros. Assim, os fenômenos estruturantes da 
modernidade como o dinheiro, a vida social, a vida econômica e comercial são 
problemas relacionados a uma redução do potencial de individualidade frente a 
sociedade (SIMMEL, 2013, p. 299). 
Como ensaísta Simmel faz um longo caminho até chegar aos seus textos 
finais. Para concluir Filosofia do Dinheiro (1900), segundo Leopoldo Waizbort (2006, 
p. 40), Simmel percorreu várias escritos desde 1894 até 1908, levou 14 anos. 
Passando desde um estudo sobre casamento até um texto sobre a noção de 
felicidade (WAIZBORT, 2006, p. 42). 
Simmel não é considerado um marxista, na verdade ele não se prestou a 
alguma definição deste tipo. No entanto, Randall Collins (2009) o classifica como 
esquerdista, numa breve passagem sobre nascimento da sociologia alemã 
(COLLINS, 2009, p. 46). 
Sua sociologia é caracterizada pelo estudo das formas de interação que se 
realizam entre indivíduos e não entre as classes como fez Marx, por isso sua 
técnica, em muitos de seus escritos, é tido como uma análise microssociológica da 
30 
 
 
sociedade, feita, muitas vezes em forma de ensaio os quais são analisados a partir 
de pontos de vista diversos e mutáveis (WAIZBORT, 2006, p. 43). 
Pode-se perceber em suas obras que Simmel foi influenciado por diversascorrentes de pensamento, como Marx, Hegel, Kant, Weber e Durkheim. György 
Lukács que foi seu aluno desenvolveu mais diretamente noções simmelianas, 
principalmente em torno da ideia de alienação, objetivação, predomínio do espírito 
objetivo, retificação, dentre outras. 
Ao analisar a cidade, Simmel percebe que existe um novo sistema de 
relações sociais influenciada pelo valor e dinheiro nas relações sociais as quais 
passam a ser baseada em novos conceitos “quantitativistas” da vida por meio da 
cidade e das relações comerciais (SIMMEL, 2005, p. 580). 
Nascido e criado em Berlim, a Alemanha de 1858 que Simmel presenciou era 
caracterizada por um conjunto de países com extensão territorial a qual se 
apresentava como portadora de uma modernidade caracterizada por mudanças 
sociais e reformas “valorativas” de tradição sociocultural que colocava o indivíduo 
em foco (TEDESCO, 2006, p. 18). Vivia-se numa cidade envolvida pelo uso do 
dinheiro, da mediação da técnica, da ciência, à ideia de soberania nacional, do 
constitucionalismo, democracia e da indústria. A burguesia, por exemplo, era 
marcada pelas relações comerciais que mantinha fazendo o trafego das trocas 
comerciais, das viagens de reconhecimento de novos produtos e novas formas de 
trocas. 
De 1858 a 1918, Simmel vive uma Alemanha marcada pela revolução 
industrial, pelo liberalismo, pelo socialismo e pela unificação alemã, o que alguns 
teóricos denominaram como “fin de siècle” e esses acontecimentos estão presentes 
em sua obra influenciando todo o contexto de sua teoria (TEDESCO, 2006, p. 17). 
Na obra em que trata sobre as peculiaridades de Simmel, João Carlos 
Tedesco (2006) faz uma análise sobre o período histórico da Alemanha para situar 
como Simmel neste contexto construiu sua teoria, no qual iremos esboçar a seguir. 
Segundo Tedesco (TEDESCO, 2006, p. 41-57), quando a Alemanha se 
unificou houve uma instauração da socialdemocracia alemã. Era presente duas 
vertentes de pensamento: o socialismo e o liberalismo. Em 1870, duas facções 
socialistas alemãs: os marxistas e os lassalianos foram expoentes das correntes 
deste pensamento. Já em 1875, o partido Socialdemocrata alemão caracterizado 
31 
 
 
pelo Estado neutro teve votações. Na ocasião, Marx considerou isso oposto aos 
ideais socialistas e escreveu a Crítica ao Programa de Gotha, em 1875. 
O jovem Simmel com 19 anos (1877) presenciava o governo Otto von 
Bismarck (1871-1890) o qual fazia oposição aos socialistas que ocupavam 12 
cadeiras no parlamento. A derrota veio com a lei “anti-socialistas” neste mesmo 
período. Até 1890 foi um período de ações ilegais dos socialistas. O crescimento e 
popularização dessas políticas e a anexação de algumas ideias marxistas culminam 
na internacionalidade da luta operária. No fim do século XIX o socialismo já era uma 
ideia presente e politicamente constituída como partido em quase todos os países. 
Na Segunda Internacional (1889-1916) houve uma dissolução do movimento 
o que resultou em um novo cenário mundial para a luta operária. Influenciado pelo 
imperialismo, Simmel compreende o mundo moderno e a Alemanha unificada uma 
forte incongruência entre a modernização e a liberalização do comércio e da 
economia. Com o desenvolvimento da unidade e do sentimento nacional, as elites 
políticas ainda estavam agindo conforme o antigo regime. Deste modo, essas 
disparidades tomam forma internacional por meio das relações imperialistas. 
No entanto, o movimento imperialista é ante o racionalismo, pois ele visa 
justificar-se através de uma ótica eurocêntrica, com discurso cientifico. O 
imperialismo, que faz parte da época de Simmel, teve em 1880, várias 
transformações com os avanços da expansão colonial europeia através das forças 
nacionalistas, das expansões coloniais, e da moderna indústria, assim como do 
Mercado mundial. 
A unificação e modernização da Alemanha teve início em 1815 com o fim das 
invasões napoleônicas, o Congresso de Viena, e a Liga Alemã que assumiram os 
esforços para unificar a Alemanha. Nesta época haviam 38 estados e a língua alemã 
Zollverein era repartida por fins econômicos e comerciais. Em 1836, os estados 
alemães faziam parte do Zollverein. De 1830 a 1840 houve o começo do processo 
de industrialização alemão. Em 1835 foi construída a Primeira estrada de ferro. Em 
1848 vários levantes revolucionários que aconteceram a partir da França e também 
influenciaram a Alemanha motivaram os escritos de As lutas de classe na França de 
Marx. 
Em Frankfurt a Assembleia Nacional se reúne. Já em 1850 a Liga Alemã 
volta. O que faz do ano de 1862 ser marcado pelo ato de unificação da Alemanha 
nomeando chefe dos ministérios. Nesse ano, Bismarck passa a realizar projetos de 
32 
 
 
guerra para unir territórios a Alemanha. Ele desejava uma guerra com a França e 
Áustria, no entanto só obteve êxito contra a França. 
A Alemanha que possuía um exército forte instaura o Império alemão. A partir 
1871, a Alemanha, governada pelo Imperador Guilherme I, vive um processo de 
modernização. Mesmo com o Império, a Alemanha ainda possuía uma desigualdade 
social grande, os nobres comandavam. 
1872 foi um ano marcado pelo movimento católico e nacionalista 
bismarckiano. Essa frente imperialista alemã preocupava-se em isolar a França da 
política externa. Com 19 anos no poder, Otto fortaleceu o combate ao movimento 
operário, ao catolicismo político e a esquerda liberal, o que culminou em 1890 numa 
integração da Alemanha à política mundial. 
Em 1890 havia 24 cidades na Alemanha com mais de cem mil habitantes, o 
que mudou em 1946 de 24 para 46 cidades alemãs. As características dessa 
Alemanha eram de políticas externas ostensivas, ações internas que visavam 
silenciar as forças sociais divergentes, proporcionar aos trabalhadores melhoria das 
condições de vida e atenção aos direitos trabalhistas. A política alemã possuía uma 
potência militar, atuava também no campo político e no gerenciamento de questões 
públicas, interagia com a participação cidadã da população eleitoral. No campo da 
política, a Alemanha se apresentava ainda pouco disposta a mudar seu regimento 
político autocrático e militarista. 
Com o crescente proletariado industrial, a população católica e a classe 
média, os partidos políticos pequenos tomaram uma grande expansão, 
principalmente em Berlim. Indústrias de tecnologia, pesquisa, metalurgia, química, 
setor elétrico, entre outros faziam parte dessas novas cidades alemãs. Foi nesse 
ambiente que floresceu as ciências sociais como campo científico que realizava 
tentativas de explicação das questões sociais envolvidas na mudança industrial 
alemã. 
A “moderna Alemanha” era o campo para o debate, teorias, metodologias e 
epistemologias explicavam a modernização alemã, a ideia de progresso, da 
estrutura política imperial, da dependência burocrática e política da universidade e 
da ciência ao sistema estatal centralizado e autoritário e da forma de organização 
econômica e cultural (TEDESCO, 2006, p. 55). Havia na nova Alemanha uma 
concentração de grandes empresas de vários setores, de comércio à tecnologia. Era 
33 
 
 
um espaço importante para o proletariado, pois, a cidade, no caso Berlim, 
concentrava os operários. 
Com efeito, “a vida em Berlim era excitante”, mas devido a todos os arranjos, 
ela operava para manter as questões industriais e comerciais, ela se tornou bastante 
estratificada e suas estruturas políticas tinham permanecido pré-modernas 
(TEDESCO, 2006, p. 56). Para Simmel, a utopia socialista estava relacionada com a 
racionalidade, o seu socialismo era com o espírito de época, no individualismo, no 
pessimismo, que mais tarde ficou evidente nas correntes de pensamento da teoria 
do conflito numa vertente liberalista. 
O desenvolvimento comercial e industrial da Alemanha acompanhava um 
enorme crescimento da população e a cidade promovia uma melhoria das condiçõesde vida, mas ela também implicava outras questões (TEDESCO, 2006, p. 53). A 
burguesia passou a influenciar costumes, a “indústria cultural” promovia mudanças 
de modos, de moral, de direitos na participação pública, no julgamento e crítica das 
ações do poder estatal, na organização da vida privada na qual reforçava, criando 
uma tradição intelectual, moral, estética e cultural da identidade alemã. Uma 
sociedade cada vez mais massificada, materialista, com uma cultura gerencial, 
automizada e competitiva influenciada pelo Iluminismo e idealismo hegeliano. 
2.1. A análise microssociológica simmeliana 
Devido a todo esse processo que passou a Alemanha, Simmel teoriza sobre a 
vida econômica monetária ser a responsável pelos avanços modernos. Ela 
alimentava e acompanhava os processos, separando a vida social em esferas 
objetivas e subjetivas (SIMMEL, 2003, p. 237). Assim, o dinheiro marca e deixa sua 
presença em todos os rastros da vida social de tal modo que o progresso somente é 
evidente apenas quando ele está relacionado ao avanço econômico e técnico 
(SIMMEL, 2003, p. 340). 
Logicamente que Simmel entende a cultura como o processo decorrente da 
modernidade. A sua teoria entende os aspectos da vida social como visão 
macrossociais e microssociais, no entanto Simmel reconhece que a cultura e a 
modernidade carregam um valor específico e relevante para a sociologia 
(WAIZBORT, 2009, p. 121), pois é o “cruzamento entre sujeito e objeto” que a teoria 
simmeliana é marcada (idem, 119). 
34 
 
 
Outra premissa para Simmel é o individualismo. Ele atribui o indivíduo, não o 
coletivo, como o operador dos processos sociais (SIMMEL, 2003, p. 344). Assim, há 
dois modos de se alcançar a cultura, aquela que é objetiva e a que é subjetiva. Ela é 
dada em uma relação enigmática, onde por um lado a vida da sociedade e seus 
objetos (o direito, a racionalidade e o intelectualismo) e do outro, os produtos 
fragmentados das existências dos indivíduos (SIMMEL, 1998, p. 82-84). 
A “hipertrofia da cultura objetiva” é esse momento em que as coisas e as 
pessoas coexistirem vendo que elas podem ganhar uma autonomia maior frente à 
relação cultural entre as pessoas na medida em que o desenvolvimento cultural 
cada vez mais produz mais objetos (BUENO, 2013, p. 149). 
É como na passagem em que Simmel demonstra o que é a cultura objetiva e 
a subjetiva. Por um lado a transformação do natural, onde se “segue” o caminho que 
a natureza lhe atribuiu, do outro, temos uma interferência provocada por uma 
necessidade de aperfeiçoar a natureza (SIMMEL, 2013, p. 78). 
Todas as séries de acontecimentos conduzidas pela atividade humana 
podem ser consideradas como natureza, ou seja, como um 
desenvolvimento causalmente determinado no qual cada estágio presente 
deve ser compreensível a partir da combinação e das forças de tensão da 
situação anterior. Nesse sentido, também não precisa ser feita nenhuma 
distinção entre natureza e história, na medida em que aquilo a que 
chamamos história, encarado puramente como transcurso dos eventos, se 
insere nas conexões naturais dos acontecimentos no mundo e sua 
cognoscibilidade causal. Mas assim que alguns conteúdos dessas séries 
são situados sob o conceito de cultura, transfere-se com isso o conceito de 
natureza para um significado mais estreito e, por assim dizer local. Pois o 
desenvolvimento ‘natural’ da série vai só até determinado ponto, no qual ele 
é substituído pelo cultural (SIMMEL, 2013, p. 78). 
O período em que Simmel situa como modernidade é o momento possibilitado 
pelo racionalismo decorrente das revoluções industrial, gloriosa, do movimento 
parlamentarista e do avanço do capitalismo, processo que começou antes de 1760 e 
decorreu até depois de 1830 (TEDESCO, 2006, p. 25). Segundo Arthur Bueno 
(2013), Simmel entende a modernidade como “uma época na qual o ser humano [...] 
passa a ser economicamente dependente de uma quantidade enorme de 
fornecedores [...]. A atrofia da cultura individual mediante a hipertrofia da cultura 
objetiva” (BUENO, 2013, p. 148-149). 
Como vimos, o processo de modernização e avanço da unificação alemã foi 
marcado por relações efêmeras das relações de produção (MARX, 1999, p. 12). No 
entanto, Simmel percebe que existem mais estruturas condicionantes aos novos 
35 
 
 
modelos de vida social chamando atenção para questões da vida na cidade, na qual 
o maquinário e as relações com o dinheiro, com o tempo, são exemplos. 
Parafraseando Simmel, foi por meio da máquina que as inúmeras consequências 
das transformações nos processos produtivos motivaram uma vida marcada pelo 
conceito de valor (SIMMEL, 2003, p. 114). As relações calculadas que a relação com 
a máquina influenciou incentivou o cálculo constante de tempo e o valor que 
estavam mediadas pelas relações de troca com a moeda (SIMMEL, 2005, p. 580). 
Daí, os fenômenos sociais resultantes são um processo da cultura em 
ascensão moderna já que a vida na cidade e pela indústria são percebidas como 
resultado de relações conflituosas (SIMMEL, 1998, p. 94-96). Exemplificam-se nisso 
o relógio, o dinheiro, a máquina, objetos que cooperaram para que a vida se 
transformasse, não somente para agilizar o processo de produção, mas a própria 
lógica de vida urbana. 
A discussão de Simmel é, por tanto, mais tênue sobre os conflitos existentes 
na sociedade, pois, eles se enraízam nas atividades e se objetificam no uso da 
tecnológica como parte de uma relação fundamentada na racionalização dos 
costumes em decorrência de transformações das realidades mercadológicas, 
produtivas e comerciais que se “dissolvem” em relações inerentes à vida cotidiana, 
visto que torna muito mais torpe perceber certos conflitos. 
2.2. Subjetividade, individualidade e liberdade são as bases conceituais do conflito 
para Simmel 
Ao tratar do estilo de vida, Simmel sintetizou, como que num retrato, a 
formação momentânea do social que se constrói ao longo do incessante processo 
histórico (WAIZBORT, 2000. p. 171). Como categoria explicativa do moderno, 
Simmel trata a modernidade como a “tragédia da cultura”, isto é, como uma 
categoria criada para representar as questões decorrentes do modelo produtivo 
europeu. Nesta ideia estão contidos os conceitos de divisão do trabalho e 
racionalização da vida (TEDESCO, 2015, p. 27). Para Simmel a história não é um 
processo de sequências, mas um “continuo fluxo” (SIMMEL, 2013 p. 120), ou, uma 
síntese não conclusiva da sociedade (TEDESCO, 2006, p. 27). 
Como os processos de transformação modernos são o surgimento de várias 
características infraestruturais que vão simbolizar essa mudança, a industrialização 
36 
 
 
que continua avançando torna a cidade cada vez mais urbana (SIMMEL, 2005, p. 
579). É importante perceber que esses avanços são os mesmos que possibilitam a 
qualidade de vida na sociedade moderna, porém essas melhorias também 
transformam os processos produtivos cujas características são: contingente de mão-
de-obra, a estruturas de crédito, os bancos e sistema monetário, os transportes para 
abastecimento e escoamento de produção e as burocracias administrativas 
(SIMMEL, 2005, p. 580). 
Ao longo do século XIX, a racionalidade e a economia monetária em 
expansão, exigida pelo capitalismo, a ciência e a tecnologia são algumas 
amálgamas da racionalização social no qual a inventividade e a incessante busca 
pela solução dos problemas cotidianos eram tônicas (TEDESCO, 2006, p. 27). Por 
isso, a preocupação de Simmel com aquilo que ele chamou de “tragédia da cultura” 
que explica que o grande problema ou contradição da modernidade é a 
transformação dos meios em fins. Como exemplo, Simmel coloca a busca 
incessante do homem moderno pelo dinheiro, questão sobre a qual se assenta toda 
a condição de vida moderna presente em Filosofia do Dinheiro (1900). 
O Conflito da Cultura Moderna e outros ensaios é uma reunião de textos 
escrito por Simmel e organizadopor Arthur Bueno, o livro trata somente do assunto 
conflito. Um dos textos: O dinheiro na cultura moderna de 1896 é uma analise inicial, 
porém bem pensada sobre a relação com o dinheiro. Anterior a sua obra prima 
Filosofia do Dinheiro, o Dinheiro na Cultura Moderna é uma apreciação complexa 
que, de certa forma, nos leva mais próxima da teoria marxista sobre o processo de 
produção. 
Nesse texto Simmel, O Dinheiro na Cultura Moderna (1896), não fala da 
cidade, mas somente da relação do indivíduo com a sociedade (cidadão). Na rotina 
da cidade, as organizações de cada tipo, ou seja, nas empresas e nas profissões, 
impõem cada vez mais o domínio das próprias leis das coisas, pois as relações de 
produção e mercado criam novas maneiras das pessoas se relacionarem, já que 
elas mesmas estão pautadas numa relação direta com a produção (SIMMEL, 2013, 
p. 52). 
Na época moderna se conseguiu separar e autonomizar o sujeito e o objeto, 
para que ambos realizassem o próprio desenvolvimento de forma mais pura e mais 
rica. Como ambos os lados do processo da diferenciação foram atingidos pela 
economia de dinheiro (SIMMEL, 2013, p. 51), os dois lados, o sujeito e o objeto, 
37 
 
 
sofreram com as mudanças da economia pelo dinheiro. 
Estas conexões, entre personalidades e relações objetivas - conexões típicas 
nos tempos de economia natural - desfizeram-se na economia monetária (SIMMEL, 
2013, p. 52). Quando o dinheiro adquire o caráter de troca e de moeda e se impôs 
entre posse e proprietário, separando-os e ligando-os o que tornou possível outras 
relações como: operações à distância, relações de propriedade não somente de 
ordem natural, compras em lugares distantes de maneira impessoal, etc. (idem). São 
relações que libertaram, em parte, os sujeitos. Agora, vinculado ao todo, 
principalmente pela doação e recepção de dinheiro e não mais como pessoa por 
inteiro o dinheiro passa a conferir impessoalidade nas relações, não somente 
deixando os personagens desconhecido, mas a toda atividade econômica envolvida 
no processo. O que é fomentado pelo aumento proporcional da autonomia e da 
independência da pessoa (SIMMEL, 2013, p. 53). 
Pode-se perceber nessa obra, que o percurso que Simmel faz é apontar que 
o dinheiro está ligado a uma relação com a vida moderna decorrente de quatro 
fatores importantes: a divisão do trabalho social, a economia monetária através da 
moeda, a cidade e a “superexcitação dos nervos” (BUENO, 2013, p. 148), o ele 
chamou de “membros do setor econômico” as pessoas que se relacionam com o 
consumo. Aquele que recebe dinheiro e não o consumir ele é destinado a outrem. 
Isto porque o dinheiro instaura laços entre os homens (SIMMEL, 2013, p 54). Além 
disso, o processo de individualidade na sociedade moderna é analisado como uma 
relação que tende ao isolamento, aliena e distancia os homens reduzindo-os a si 
próprios. Esse isolamento vem o caráter das relações que o dinheiro frutifica, de tal 
modo, que implica uma anonimidade e desinteresse por quem é o outro, devido as 
relações impessoais que o dinheiro objetiva. 
Como Marx coloca, esse individualismo é motivado por uma ilusão da 
individualidade, na verdade, os homens se medem por seus valores de produção e 
consumo o que cria um isolamento. Todavia, Simmel vê nesse aspecto o caráter 
positivo das relações decorrente do dinheiro. Segundo Simmel, ele promove 
liberdade e individuação à medida que dá as pessoas autonomia e as coloca em 
círculos sociais recíprocos (SIMMEL, 2013, p. 56). 
A substituição do desempenho pessoal pelo pagamento em dinheiro liberta, 
de repente, a personalidade da cadeia específica imposta pela obrigação de 
trabalho: agora não era mais a atividade concreta pessoal que o outro podia 
reivindicar, mas, sim, somente o resultado impessoal desta atividade. No 
38 
 
 
pagamento em dinheiro, a personalidade não se dá mais a si mesma, mas 
sim a algo totalmente abstrato e livre de toda relação interna com o 
indivíduo. Este motivo, porém, pode também fazer com que a substituição 
do desempenho pelo dinheiro provoque uma opressão (p.57). [...] Cada vez 
mais coisas podem ser compradas com dinheiro, alcançadas pelo dinheiro, 
apresentando-se este, consequentemente, como polo imóvel no fluxo fugaz 
das aparências [...] Acredita-se, muito facilmente, que se possui no dinheiro 
o equivalente exato e total do objeto. Encontra-se nisso, certamente, um 
motivo profundo para o caráter problemático, a inquietação e a insatisfação 
da nossa época [...] O cálculo necessariamente contínuo do valor em 
dinheiro faz com que este apareça, finalmente, como o único valor vigente 
(SIMMEL, 2013, p. 57-58). 
A diferença de economias, na era feudal, deu aos camponeses uma relação 
com dinheiro, diferente para os camponeses, a terra possuía um valor a mais que no 
qual o dinheiro não é capaz de substituir. De igual maneira, ainda na era moderna, 
há algumas situações em que o dinheiro não pode satisfazer, este seria o lado 
qualitativo, o qual é perdido nas relações monetárias. A essência do dinheiro 
pertence a troca e não apenas para obter bens, ele é, antes de tudo, um elemento 
teleológico, algo com fim em si mesmo (SIMMEL, 2013, p. 60). 
Deste modo, Simmel vê o dinheiro como uma nova forma de relação entre as 
pessoas (SIMMEL, 2003, p. 553). Ele percebe que devido a lógica econômica as 
pessoas tomam atitudes com base em cálculos, em medidas, em equivalências (e 
também ambivalências), as quais estão presentes nas relações cotidianas (SIMMEL, 
2005, p. 578). 
Simmel vai apontar para o que ele chamou de “arrogância blasé”, uma 
imobilidade aos mais diferentes acontecimentos das coisas com uma 
correspondência de sensação que abafa os efeitos dela (SIMMEL, 2013, p. 59). 
Talvez não haja nenhum fenômeno anímico que seja reservado de modo 
tão incondicional à cidade grande como o caráter blasé. Ele é inicialmente a 
consequência daqueles estímulos nervosos — que se alteram rapidamente 
e que se condensam em seus antagonismos — a partir dos quais nos 
parece provir também a intensificação da intelectualidade na cidade grande. 
Justamente por isso homens tolos e de antemão espiritualmente sem vida 
não costumam ser blasé. Assim como uma vida desmedida de prazeres 
torna blasé, porque excita os nervos por muito tempo em suas reações mais 
fortes, até que por fim eles não possuem mais nenhuma reação, também as 
impressões inofensivas, mediante a rapidez e antagonismo de sua 
mudança, forçam os nervos a respostas tão violentas, irrompem de modo 
tão brutal de lá para cá, que extraem dos nervos sua última reserva de 
forças e, como eles permanecem no mesmo meio, não têm tempo de 
acumular uma nova. A incapacidade, que assim se origina, de reagir aos 
novos estímulos com uma energia que lhes seja adequada é precisamente 
aquele caráter blasé, que na verdade se vê em todo filho da cidade grande, 
em comparação com as crianças de meios mais tranquilos e com menos 
variações (SIMMEL, 2005, p. 581). 
39 
 
 
A arrogância blasé é um reflexo subjetivo também do caráter do dinheiro nas 
sociedades desenvolvidas devido a todas as relações afetadas pelo dinheiro a qual 
Simmel fala da medida de ampliar a abrangência da ação do dinheiro, no alcance do 
status de denominador comum dos valores, entre outros. O que é muito apropriado, 
e nada mais que uma ponte aos valores definitivos (SIMMEL, 2013, p. 61). 
2.3. O conceito de conflito segundo o livro Sociologia (1908) 
Em Sociología: estudios sobre las formas de socialización de 1908, Simmel, 
no capitulo IV, aborda o conceito que ele chamou de conflito, para o qual a tradução 
para o espanhol ganhou o nome de “lucha” ou em português luta. 
Si toda acción reciproca entre hombres es uma socialización, la lucha, que 
constituye uma de las más vivas acciones reciprocas y que es logicamente 
imposible de limitar a um individuo, há de constituir necesariamente una 
socialización. De hecho, los elementos

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