Buscar

A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A CONQUISTA DO MAGISTÉRIO INDÍGENA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A CONQUISTA DO MAGISTÉRIO
INDÍGENA
PEDRO RIBEIRO DE SOUZA
GABRIEL O. HERCULANO DA SILVA
DOMINGOS BARROS NOBRE
Resumo
O Programa de Extensão (PROEXT): "Escolarização e Cultura Guarani Mbya
Rumo à Universidade" é um conjunto de três ações extensionistas articuladas com
Ensino e Pesquisa, que visam colaborar na implementação de políticas públicas de
promoção da Igualdade Racial através de aumento de escolaridade básica,
habilitação em magistério indígena e produção cultural com material didático, para
fortalecimento da identidade étnica de jovens e adultos Guarani do Estado do Rio de
Janeiro.
São ações articuladas de Educação e Cultura realizadas em parceria com a
SEEDUC-RJ (Secretaria do Estado de Educação), o OTSS (Observatório dos
Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina), o Museu Nacional/UFRJ e o FCT
(Fórum de Comunidades Tradicionais) numa perspectiva de promover igualdades de
condições sócio-culturais às comunidades indígenas Guarani de terem acesso ao
Ensino Superior - numa Licenciatura Intercultural Indígena - dentro de um viés de
preservação e fortalecimento da identidade cultural indígena, num contexto de
interculturalismo crítico.
Palavras-chave: Educação Indígena – Proext - interculturalidade
Abstract
The Extension Program “Education and Culture Guarani Mbya Towards
University” resumes itself to a group of three extension actions jointed in the areas of
Teaching and Searching, which has as an objective to help with the implementation
of public policies that promotes racial equality, increasing basic schooling, licensing
Guarani Mbya in Teaching and cultural production in teaching material, aiming the
fortification of the Guarani Mbya young adults of Rio de Janeiro’s ethnical identity.
These are actions enrolled in Education and Culture and realized in
partnership with SEEDUC-RJ (State Secretary of Education in the State of Rio de
Janeiro), OTSS (Observatory of the Healthy and Sustainable Bocaina Territories),
National Museum/UFRJ and the FCT (Traditional Communities Forum) with the
objective of promoting social and cultural means to achieve racial equality, making
possible for the Guarani to join the University, having in mind a context of critical
interculturalism.
Key-words: indigenous magisterium – Proext - interculturality
Introdução
O artigo tem como principal objeto de análise o Programa de Extensão
(Proext) que se resume ao processo de implementação de um currículo escolar
diferenciado no Colégio Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda (CIEGKKR)
enquanto política pública voltada para promoção da igualdade racial e sociocultural.
O desenvolvimento desse currículo justifica-se por ser o resultado de uma
demanda histórica reprimida e omitida por muito tempo por parte do Estado
brasileiro, que só passou a dar atenção a isso a partir da promulgação da
Constituição de 1988.
É importante lembrar que essa demanda por escolarização nas aldeias
Guarani do Rio de Janeiro dura há mais de 10 anos, pois só em 2015, através de
reivindicação do movimento indígena, ações do Ministério Público e
assessoria/parceria da UFF é que foram criadas pelo Estado, as turmas de 6° ao 9°
Ano na Aldeia Sapukai, e só em 2018, o Ensino Médio com Magistério Indígena pela
SEEDUC-RJ, coordenado pelo IEAR/UFF. Portanto, o trabalho realizado pelo
Programa se faz extremamente necessário.
A problemática neste caso específico é que nunca antes houve uma escola
adequada às necessidades do povo Guarani Mbya, criando assim um grande
empecilho para que indígenas tivessem acesso ao ensino secundário e superior.
O projeto tem como objetivo geral desenvolver um programa de formação
continuada, com vistas a um movimento de reorientação curricular através da
revisão do Projeto Político Pedagógico (PPP) do CIEGKKR e na produção de
material didático bilíngue, de nível fundamental e médio, para o CIEGKKR.
Seus objetivos específicos se desdobram em 5 ações: primeiramente o de
estudar língua Guarani com os professores guarani e não guarani da área da
Linguagem através de um Curso de Extensão; produzir livros didáticos de Ensino de
Língua Guarani para o ensino fundamental II e para o ensino médio; criar material
didático em audiovisual, em cinema e fotografia, na área da Linguagem.
Desenvolvimento com Fundamentação Teórica
O Programa está organizado de forma a atender os municípios de Paraty e
Angra dos Reis, tendo como público alvo alunos do ensino médio e do 6º ao 9º ano
do Colégio Indígena, do IEAR e professores da SEEDUC-RJ que atuam no
Magistério Indígena, perfazendo um total de 90 pessoas.
Configura-se como uma possibilidade de potencializar uma articulação entre
políticas públicas de educação e cultura indígenas que vêm sendo desenvolvidas
em um regime de colaboração entre Universidade, Estado e Municípios com o
CIEGKKR. Resume-se em ações que visam criar as condições estruturais de médio
prazo (4 anos) para o acesso ao Ensino Superior, através do aumento de
escolaridade e da produção de cultura indígena de resistência e preservação. As
ações visam subsidiar pedagogicamente a construção curricular dos Cursos de
Ensino Médio com Magistério Indígena (SEEDUC-RJ/UFF) e Ensino Fundamental
2° Segmento (SEEDUC-RJ); Além de estimular a produção de cultura indígena
Guarani Mbya na elaboração de materiais didáticos audiovisuais (fotografia e vídeo)
para as escolas indígenas, na perspectiva do fortalecimento da identidade étnica
guarani mbya.
O desenvolvimento do currículo escolar diferenciado no Ensino Médio
Indígena se dá por meio da assessoria e formação contínua em construção
curricular à professores indígenas e não indígenas e da produção de material
didático em audiovisual. A construção curricular é resultado das diferentes leituras,
percursos formativos e experiências pedagógicas dos diversos atores nela
envolvidos. Porém, não é um simples “recorta e cola” de opiniões, uma vez que
precisa ser discutida e construída coletivamente ao longo de alguns anos de
trabalho. Desse modo, é possível afirmar que o currículo escolar é um movimento
em construção e que portanto ainda está em curso.
A construção curricular como processo de ensino-aprendizagem dos
educadores indígenas e dos assessores não-indígenas tem duas dimensões de
acordo com Stenhouse (1984): enquanto um projeto de ensino planificado e
enquanto um marco de análise (pesquisa). Essa tarefa de elaboração de um
currículo-documento deve sistematizar o que já foi vivido e apontar situações de
ensino-aprendizagem novas e futuras que poderão completar o traçado, dentro da
concepção de currículo-planificado, que se sustenta sobre um currículo-investigado.
(Monte, 1995).
A trajetória de construção curricular das escolas indígenas (durante o curso
no CIEGKKR) irá acompanhar e interagir com a realização do Ensino Médio e 6º ao
9º ano Guarani. Entendemos que a construção dos currículos escolares por parte
dos educadores indígenas é matéria prima e objeto de reflexão do currículo de
formação do Magistério Indígena. Este é mais um pressuposto teórico que sustenta
a proposta curricular deste curso: conceber o educador indígena como um
profissional de currículo, como um “profissional reflexivo” (Schon, 1997).
O pressuposto teórico-metodológico principal é o direito à educação escolar
indígena bilíngue e intercultural, que é um princípio defendido na legislação
brasileira, estando presente nos RCNEI - Referenciais Curriculares Nacionais para
as Escolas Indígenas.
Quanto aos princípios norteadores da proposta pedagógica, pode-se dizer
que os assessores não-índios e educadores indígenas procuram construir uma
proposta que leve em conta o processo de formação que ao longo de sua prática os
professores já tenham vivenciado e, ao mesmo tempo, seja capaz de suprir suas
necessidades quanto às habilidades relacionadas à prática docente no contexto de
suas próprias escolas e comunidades. Tomando essa análise como base e
colocando o currículo como ponto central dadiscussão, nota-se que uma listagem
de conteúdos e disciplinas não daria conta de resolver a complexidade da formação
desses educadores indígenas, principalmente no que tange a interculturalidade.
Partindo disso, o currículo multicultural é mais facilmente construído em um contexto
democrático de decisões sobre os conteúdos do ensino e para torná-lo possível é
necessária uma estrutura curricular diferenciada, com o objetivo de tornar a escola
em um projeto aberto, no qual caiba uma cultura que seja um espaço de diálogo e
comunicação entre grupos sociais diferentes. (Sacristán, 1995).
RESULTADO COM DISCUSSÃO
O Programa segue com progressos que vem sendo obtidos a cada mês que
passa desde a implantação do Ensino Médio com a habilitação em Magistério
Indígena, possibilitando os Guarani Mbya a concluírem um curso que atenda as
especificidades deste povo.
Outra oportunidade que o curso traz aos alunos é a interação com linguistas
especialistas em língua guarani, tendo em vista a parceria feita com o Museu
Nacional. Desde o início do curso, já foram realizados um Diagnóstico Sócio Cultural
e um Diagnóstico Sócio Linguístico por parte dos próprios alunos indígenas com
orientação dos bolsistas e do coordenador do Programa, possibilitando discussões
sobre o próprio Projeto Político Pedagógico do Colégio Indígena.
As atividades nesse período letivo levaram ainda à produção de quatro
curta-metragens oriundos das Oficinas de Audiovisual que contribuirá para o
fortalecimento do protagonismo indígena na construção de estratégias de
abordagens que valorizem a cultura e o espaço étnico no interior da educação
escolar indígenas, em um sentido de afirmação e reafirmação de práticas de ensino
inclusivas e diferenciadas, que irão potencializar a autonomia guarani ao longo do
processo de escolarização como um todo.
Outra conquista do Programa é a produção do livro sobre currículo escolar
diferenciado: “Currículos Diferenciados nas Escolas Indígenas, Quilombolas e
Caiçaras: Política e Metodologia”, pela
Todas essas conquistas estão em fase de atividades sendo realizadas desde
o início do período letivo de 2018, entretanto, o curso tem duração de 4 anos (vai
até 2022) e portanto o processo ainda está em curso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se ver que o ensino médio ao longo do tempo vem garantindo
progressivas conquistas para o povo Guarani Mbya no que tange à sua necessidade
de construir uma escola que possa atender às suas demandas culturais. É
importante destacar ainda que o curso é parte de um conjunto de direitos dos povos
indígenas que está sendo cobrado. O curso se mostra adequado às especificidades
do povo Guarani e visa também a formação de um quadro docente indígena cada
vez mais qualificado.
É a primeira vez no Estado do Rio de Janeiro que se implanta nas Aldeias o
segundo segmento do Fundamental e o Ensino Médio (Magistério Indígena),
portanto a demanda por Ensino Superior vem sendo reprimida há uma década. Só
tivemos 3 turmas de EJA Guarani (2° Segmento) até agora, o que acumulou uma
demanda por ensino médio; mas daqui a 4 anos esses jovens e adultos estarão em
condições de ingressar no Ensino Superior.
O Colégio Indígena no Rio de Janeiro vem atravessando uma crise desde
2003 quando foi regulamentada pelo Estado, tendo em vista a incipiente e defasada
política pública de atendimento aos direitos à educação básica garantidos em lei:
Não criação da categoria professor indígena no sistema; não convocação de
concurso público; não oferta de Ensino Médio; não oferta de segundo segmento.
Após anos de luta, reivindicação e ações do Ministério Público, finalmente a
SEEDUC-RJ inicia em 2015 a oferta do segundo segmento e em 2018 a oferta do
Ensino Médio. Isso produziu um hiato e uma demanda reprimida de escolarização
grave, do ponto de vista histórico.
O programa tenta suprir essa dívida histórica e preparar o caminho dos
jovens e adultos Guarani para o ingresso na Universidade. Entendemos que estas
ações de aumento de escolaridade, são fundamentais hoje, para termos daqui a 4
anos uma turma de jovens e adultos acessando o Ensino Superior no Rio de
Janeiro.
Metodologia
As metodologias utilizadas para a realização das atividades que possam
facilitar a implementação do currículo escolar diferenciado e atingir os objetivos
destacados anteriormente são a realização de cursos e oficinas nos quais os alunos
são convidados a participar e avaliar posteriormente.
A Oficina de Audiovisual é baseada nas seguintes etapas: filmagem de aulas
em sala através do uso de câmeras e filmadoras obtidas em editais da Proex,
edição de vídeo no computador ( usando o aplicativo adobe premiere)
adequando-os às argumentações e aos roteiros planejados e elaborados
coletivamente e finalmente a produção de DVDs em Língua Guarani para uso
didático da escola e da comunidade .
Haverá também um Curso de Fotografia, dividido em duas etapas, sendo a
primeira ligada a uma formação mais técnica com capacitação em iluminação,
composição e cor, elementos de fotografia e pós-produção. Em seguida, é realizada
a produção do material didático com a escolha dos temas para cada caderno
pedagógico e das fotos junto aos professores, com a criação das fotos, a
pós-produção e confecção dos materiais. As fotos comporão o Diagnóstico
Sociocultural já elaborado na plataforma Google Earth.
A produção de livros didáticos bilíngues vem se dando através de Oficinas
planejadas com dois professores indígenas Guarani Mbya com habilitação em
cursos de licenciatura e acompanhados de linguistas do Museu Nacional (UFRJ)
especializadas na língua guarani.
A avaliação desses cursos é efetuada pelos participantes, tanto quanto a
eficácia da metodologia utilizada para apropriação das operações técnicas de
manipulação dos equipamentos, tanto quanto a garantia da autonomia e
protagonismo na elaboração dos filmes e das fotos. A coletânea didática, por sua
vez, é avaliada qualitativamente pelos estudantes e professores indígenas quando
as utilizam nas práticas pedagógicas cotidianas no Colégio Indígena.
Referências
BRASIL, MEC/SEF. Referenciais curriculares nacionais para as escolas indígenas.
Brasília. MEC. 1999
MONTE, Nietta Lindenberg. “A Construção de currículos indígenas nos diários de
classe: estudo do caso Kaxinawá/Acre.” Dissertação de Mestrado em Educação.
Niterói: UFF Mimeo. 1995.
SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A.
(Org.).Os Professores e a sua formação. 3. ed. Lisboa: Dom Quixote, 1997.
STENHOUSE, L. (1984). Investigación y desarrollo del curriculum. Madrid:
Ediciones Morata
SACRISTÁN, J. Gimeno. Currículo e diversidade cultural. In: SILVA,Tomaz Tadeu
da; MOREIRA, Antonio Flávio (Org.).Territórios contestados: o currículo e os novos
mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995
FERREIRA, Gilda Pires. Diretrizes para normalização de dissertações acadêmicas.
Salvador: Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFBA, 1993. 58 p.

Outros materiais