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Unidade I Base conceitual introdução à Geomorfologia

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Geomorfologia
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Adriana Furlan
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Base conceitual: introdução à Geomorfologia
• Base conceitual: introdução à Geomorfologia
 · Introduzir o aluno à discussão sobre a evolução dos conceitos em 
Geomorfologia e estabelecer comparações.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Saiba que esta Disciplina tem como propósito estudar os conceitos e 
processos físicos atuantes na superfície terrestre, com ênfase nos sistemas de 
formação do relevo: morfogênese, pedogênese, processos morfodinâmicos e 
os domínios morfoclimáticos, oferecendo-lhe contato com as discussões mais 
recentes dessa área; além de lhe proporcionar momentos de leitura – textual e 
audiovisual – e reflexão sobre os temas que serão aqui discutidos, contribuindo 
com sua formação continuada e trajetória profissional.
Esta Disciplina está organizada em seis unidades, cujo eixo principal será 
a compreensão dos processos que originam as formas do relevo, ou seja, que 
dê conta de compreender a evolução do conhecimento geomorfológico e dos 
Sistemas em Geomorfologia. Desse modo, você será capaz de:
• Identificar os elementos da fisiografia fluvial: leitos, canais, trabalho dos 
rios (erosão e sedimentação) e das bacias hidrográficas.
• Verificar como se dá a morfogênese das vertentes em função da mecânica 
dos solos (infiltração, evolução, interceptação pela vegetação e rochas) e de 
que forma ocorrem os movimentos da água em superfície e subsuperfície 
e a ação destes na ocorrência de movimentos de massa e processos 
erosivos, bem como a formação dos solos em função dos processos de 
desgaste das rochas.
• Identificar os processos costeiros e as formas resultantes destes; do 
estudo e identificação das Superfícies de aplainamento e das províncias 
geomorfológicas do Brasil, utilizando como exemplo para aprofundamento 
a divisão geomorfológica regional do estado de São Paulo; e de que forma 
se dá a aplicação da Geomorfologia nos estudos ambientais, com base na 
ocupação do relevo e os problemas ambientais de correntes.
ORIENTAÇÕES
Base conceitual: introdução à Geomorfologia
UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Contextualização
Imagine as seguintes situações: 
1. No telejornal em um canal de TV, é apresentada a notícia de um deslizamento 
de terra que soterrou algumas casas e causou danos materiais e humanos. 
2. Ao observar a paisagem, muitos viajantes ficaram curiosos para saber o 
porquê de existirem lugares mais altos e lugares mais baixos na superfície 
terrestre.
3. Ao observar um rio, após uma forte chuva, nota-se que sua cor muda 
ganhando, em muitos casos, uma coloração amarelada ou marrom, o que 
significa que está carregando materiais (solo e rochas) em seu curso.
Os eventos relacionados ao conhecimento dos fenômenos que ocorrem 
na superfície terrestre, em termos do que chamamos de relevo (seu modelado) 
despertaram, durante muito tempo, dúvidas e curiosidades o que fez com que, 
ao longo do tempo, pesquisadores ligados à Geografia, Geologia e outras áreas 
do conhecimento, buscassem estudar e explicar os fenômenos observados na 
superfície terrestre, tentando compreender seu modelado e as formas presentes 
em todo o planeta. 
A busca pelo esclarecimento e conhecimento desses fatos levou a formulação 
de explicações e teorias específicas que nos levaram a um melhor entendimento da 
dinâmica externa de nosso planeta. 
Assim sendo, nesta unidade, estudaremos de que forma surgiu a Geomorfologia 
no mundo e no Brasil, sua importância, sua evolução e as bases teórico-metodológicas 
que foram sendo elaboradas no decorrer desse processo evolutivo.
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7
Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Conceituação e histórico da Geomorfologia 
A Geomorfologia é a ciência que se ocupa do estudo das formas de relevo da 
Terra. Para tanto, interessa-se pela gênese (origem) de tais formas, bem como por 
sua evolução e sua relação com as dinâmicas das sociedades humanas.
As formas ou conjunto de formas de relevo participam da composição das 
paisagens em diferentes escalas e essas formas são submetidas a um conjunto de 
processos erosivos ou deposicionais ao longo do tempo, ou seja, estão submetidas 
à ação dos agentes externos que provocam erosão, como chuva, vento entre outros 
e pela deposição deste material removido das formações, sendo estes transportados 
pelos rios, por exemplo.
Um dos geógrafos que se dedicou aos estudos do relevo foi Antonio Christofoletti. 
Em uma de suas obras de referência (1980), ele afirma que “se as formas de relevo 
são o objeto de estudo da Geomorfologia, há que se estudar, prioritariamente, o 
processo ou conjunto de processos que as esculpiram”.
Para esse autor e vários outros que compartilham do mesmo ponto de vista, 
podemos definir um processo como uma sequência de ações regulares e contínuas 
que se desenvolvem de uma forma, geralmente, bastante específica e o final do 
processo leva a um resultado determinado. Dessa maneira, há uma relação muito 
grande entre as formas e os processos; o estudo de ambos pode ser considerado 
como o objetivo central deste ramo do conhecimento, como as características 
fundamentais do sistema geomorfológico. 
Importante!
As formas de relevo são o resultado momentâneo de processos que duram, na maioria 
dos casos, milhares de anos para se concretizarem. 
Importante!
Vejamos a defi nição de Geomorfologia de Casseti (1994, p.8):
“A Geomorfologia é um conhecimento específi co, sistematizado, que tem por objetivo 
analisar as formas do relevo, buscando compreender os processos pretéritos e atuais. Como 
componente disciplinar da temática geográfi ca, a Geomorfologia constitui importante 
subsídio para a apropriação racional do relevo, como recurso ou suporte, considerando a 
conversão das propriedades geoecológicas em socioreprodutoras”.
Podemos considerar, a partir desta defi nição de Casseti, que o que vemos hoje, a que 
chamamos de uma determinada forma de relevo, é somente o resultado, momentâneo, de 
processos que estão atuando há milhares de anos? Por quê?
Ex
pl
or
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UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Se considerarmos que não conseguimos acompanhar estes processos em função 
da escala de tempo - geológica e humana - ser muito diferente (nossa vida comparada 
a vida do planeta é muitíssimo curta), o que realmente podemos observar são as 
formas resultantes destes processos e na medida em que buscarmos estudá-las, 
passaremos a compreender a origem das formas do relevo (as quais podemos 
observar nas paisagens).
Para conseguirmos a visão de conjunto dos processos que criam as formas de 
relevo, precisamos considerar que a Geomorfologia é a parte da Geografia que 
mantém vínculo direto com outras ciências tais como a Geologia, a Climatologia, a 
Biogeografia, a Pedologia e, também, com a Geografia Urbana, Geografia Agrária, 
Geografia da População, entre outras, dependendo do ponto de vista da análise 
que se quer realizar. 
Importante notar que somente a partir de uma análise integrada, poderemos 
compreender o relevo terrestre, pois estas inter-relações, com várias outras 
ciências, permitem que os estudos de geomorfologia apresentem uma visão 
ampla dos fenômenos relacionados ao relevo e a dinâmica das sociedades que 
deste se apropriam.
Em princípio, devemos considerar que o relevo é resultado de dois conjuntos de 
forças:
• forças endógenas (internas) – que promovem a estruturação do relevo e são 
compostas pela atividade tectônica e pelo vulcanismo; e
• forças exógenas (externas) – que promovem a esculturação do relevo, definindo 
as diversas formas que podemos observar na paisagem.
A estruturação se refere à formação do relevo por meio dos agentes internos, como 
as erupções vulcânicas que fornecem material novo para a superfície do planeta ou 
mesmo para partes internas da Terra, quando o magma resfria no interior da Terra 
formando rochas como o granito, por exemplo. A atividade tectônica é responsávelpela estruturação do relevo na medida em que movimentos tectônicos (terremotos) 
transformam a crosta terrestre provocando dobramentos (formação de montanhas e 
cadeia de montanhas) fazendo com que rochas que estão no interior da Terra fiquem 
mais próximas ou expostas na superfície terrestre, ficando, assim, vulneráveis à ação 
dos agentes externos que realizarão a esculturação dessas formas.
Vamos pensar neste processo todo com a seguinte situação: em um lugar qualquer do 
planeta, há uma forte atividade vulcânica e a formação de granito no interior desta parte 
da crosta terrestre. Tempos depois, essa mesma região é submetida a fortes movimentos 
tectônicos, fazendo com que a crosta terrestre se dobre e o material que está no interior da 
crosta seja empurrado em direção à superfície terrestre. Logo, a rocha que estava “protegida” 
no interior da crosta ficará exposta na superfície. Muita chuva, vento e até a ação antrópica 
atuarão sobre esta superfície fazendo com que ocorra uma mudança na forma original da 
rocha e, consequentemente, gerará uma nova forma de relevo – de uma alta montanha, por 
exemplo, para uma colina mais suave, onde ocorreu o desgaste da rocha, a formação de solo, o 
transporte de parte do material para áreas mais rebaixadas. Pode haver ocupação desse relevo, 
onde a construção de casas, com cortes no terreno e aterros contribuirão para a modificação 
do mesmo. Esse exemplo demonstra como ocorre a estruturação e a esculturação do relevo. 
Para entendermos esse processo todo, precisamos de conhecimento de outras áreas como da 
Geomorfologia, Hidrologia, Pedologia, Geografia Urbana entre outras.
Ex
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or
8
9
O granito é uma rocha magmática intrusiva, ou 
seja, sua formação ocorre com o resfriamento 
do magma ainda no interior da Terra, ou seja, 
o magma não chega à superfície terrestre, 
ocorrendo um resfriamento e formação dessa 
rocha dentro da crosta terrestre.
Assim, o campo de estudos da geomorfologia se traduz numa interface de 
fundamental importância, pois é na superfície terrestre que as sociedades se 
assentam e desenvolvem suas atividades e a evolução e as fragilidades do relevo 
são de particular interesse para as sociedades, pois as diferentes configurações do 
relevo facilitam ou impõem obstáculos e dificuldades para sua ocupação.
Em suma, interessa ao geógrafo entender a origem do modelado terrestre, suas 
potencialidades e fragilidades; identificar e caracterizar os processos (geomórficos) 
que propiciam a transformação/evolução das formas de relevo terrestres e de que 
forma as sociedades se relacionam com estas em diferentes escalas espaciais e 
temporais. Desse modo, o geógrafo dever buscar compreender as formas de relevo 
em sua interação com as dinâmicas sociais para, assim, desvendar a organização 
espacial existente nos diferentes lugares do planeta e poder explicá-la.
Para se chegar a essas definições, foi necessário um longo período de tempo, 
desde as primeiras indagações sobre as formas do modelado terrestre e suas 
explicações. Imaginemos um viajante originário de um local bastante plano 
chegando a outro local repleto de altas montanhas. E, se estivermos corretos, seria 
possível imaginar que esse viajante ficaria surpreso ao observar uma paisagem tão 
distinta daquela que estava acostumado a ver em seu local de origem. Imaginemos, 
ainda, que esta mudança de paisagem tenha despertado curiosidade nesse viajante 
e o tenha levado a questionar o porquê de tal diferença. 
Os primeiros registros das formas de paisagem eram feitos juntamente com o 
relato das observações de viajantes e desenhos feitos em viagens de reconhecimento 
de novas terras descobertas em tempos remotos. O relevo sempre foi notado pelo 
homem no conjunto de componentes da natureza pela sua beleza, imponência 
ou forma. Podemos verificar este fato nos desenhos que acompanham relatos de 
viagens, pinturas feitas das paisagens dos lugares visitados e até em obras de arte de 
alguns artistas famosos de séculos passados. Também, é antiga a convivência do 
homem com o relevo, no sentido de lhe conferir grande importância em 
muitas situações do seu dia a dia, como para assentar moradia, estabelecer 
melhores caminhos de locomoção, localizar seus cultivos, criar seus rebanhos 
ou definir limites de seus domínios. (MARQUES, In: GUERRA e CUNHA, 2003).
Importante!
Além de despertar o interesse científi co, as formas de relevo podem ter signifi cado 
simbólico e sagrado para alguns povos, como, por exemplo, o Monte Uluru, na Austrália, 
que, conforme a crença dos aborígenes australianos (povo Anangu), esta paisagem é 
uma criação feita por seus antepassados e tornou-se, assim, uma terra sagrada que deve 
ser protegida.
Você Sabia?
9
UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Monte Uluru – Austrália
Fonte: istock/getty images
Com o passar do tempo, surgiu a necessidade das sociedades humanas, de 
compreender as formas de relevo e dar explicação aos fenômenos observados, 
pois eventos catastróficos, que atingiam de maneira negativa e destrutiva muitas 
comunidades, precisavam ser compreendidos a fim de que fossem evitados. Como 
exemplo desses eventos, podemos citar terremotos, erupções vulcânicas, torrentes 
formadas por grandes tempestades, avalanches, inundações, deslizamentos de 
terra e lama, entre outros.
Assim, paralelo à evolução do conhecimento humano nas diversas áreas do que 
viria a ser chamado de Ciência, o conhecimento da superfície terrestre tornou-se 
mais do que a satisfação de uma curiosidade, virou uma necessidade. No caso da 
Geomorfologia, assim como em muitas outras situações, em que a ciência busca 
a compreensão dos fenômenos para melhor conviver com eles ou até evitá-los, a 
evolução do conhecimento humano não se restringiu, apenas, a procurar reconhecer 
tipos de relevo e os processos a eles relacionados, mas tem procurado ir sempre 
mais além, buscando encontrar respostas para muitas questões que 
pudessem explicar, por exemplo, como os processos se articulam entre si; 
como evoluem os grandes conjuntos de relevo; qual o significado do relevo 
no contexto ambiental; como interferir ou controlar o funcionamento dos 
processos geomorfológicos; como conviver com os processos catastróficos; 
como projetar (no espaço e no tempo) o comportamento dos processos e 
as formas de relevo resultantes. Toda essa preocupação surge da afirmação 
que o relevo, para alguns autores, é considerado o palco da sociedade humana 
(ROSS, 2010), onde se desenvolve o “teatro da vida”, pois é sobre esse piso que se 
fixam as populações humanas e são desenvolvidas suas atividades, derivando daí 
valores econômicos e sociais que lhes são atribuídos. (MARQUES, In: GUERRA 
e CUNHA, 2003)
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Os pioneiros das teorias geomorfológicas
Uma grande parte dos trabalhos iniciais e clássicos, explicando os processos de 
evolução das formas do relevo, baseia-se nas transformações das vertentes pela 
erosão. Nisso, inserem-se várias teorias, muitas das quais serviram e servem de 
suporte a estudos atuais em Geomorfologia, tais como as de Davis (1899), Penk 
(1953), King (1956) Hack (1960) e Ruhe (1956). Young (1972) comenta que esses 
trabalhos estão fundamentados na observação dos processos erosivos atuais, o 
que está de acordo com um dos preceitos básicos da geomorfologia definidos por 
Hutton: “O presente é a chave do passado” (Thornbury, 1969). 
Dentre os pioneiros, podemos citar William Moris Davis (1850-1934). Sua 
influência, nos estudos geomorfológicos, foi maior do que a de qualquer outro 
estudioso da área. Precursor da teoria geomorfológica e fundador da Geomorfologia 
como disciplina especializada, era um viajante incansável e sua contribuição para o 
conhecimento da evolução da paisagem foi fundamental. Sua maior contribuição 
está publicada com o título de “O ciclo geográfico”, na qual, com base naideia de 
ciclo de erosão, busca explicar os processos que contribuem para a evolução do 
relevo (e da paisagem como um todo). 
Na teoria e explicações criadas por Davis, nos processos evolutivos do relevo, 
a erosão atuaria em toda a extensão de uma determinada área, iniciando pelo 
rejuvenescimento, fase em que ocorreria o soerguimento continental (como 
resultado de movimentos tectônicos) e a consequente incisão dos vales com taludes 
(encostas) pronunciados. A partir de então, a regressão das encostas se daria pela 
diminuição das inclinações do terreno. Esse é o chamado “ciclo geográfico”, 
que engloba as seguintes fases: juventude, maturidade e senilidade. À medida que 
esse ciclo iria evoluindo, o relevo seria gradativamente aplainado, de cima para 
baixo, e condicionado por um nível de base local. Se esse processo se 
mantém contínuo, a paisagem alcança o estado de senilidade, correspondendo 
a um relevo aplainado (mais plano) com cursos de água meandrantes (com muitas 
curvas). Nessa teoria, estaria implícita a remoção por erosão contínua em 
toda a superfície até a formação de uma grande planície ou peneplano, levando 
à dedução de que a erosão atuaria em toda a extensão de todas as encostas e em 
quase todas as épocas. (VIDAL-TORRADO, et al. 2005)
Nível de base local é a linha de altitude 
do relevo abaixo da qual um rio não 
consegue mais provocar erosão, 
predominando a deposição. O nível de 
base global ou mundial é nível do mar.
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UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Observe na figura 1, a seguir, a representação esquemática do nível de base 
local e mundial.
Figura 1: Nível de base local e mundial
Fonte: Acervo do Autor
Observe, na Figura 2, a evolução do relevo, em estágios, com base na teoria do 
ciclo de erosão (ciclo geográfico) do norte-americano William Morris Davis em 1899.
Na fase da juventude, o relevo recentemente soerguido (por movimentos tectônicos 
violentos) é atacado pelo processo erosivo resultante do trabalho de incisão de um 
curso de água.
Importante!
Vejamos, conforme o próprio autor, como ocorre este processo:
Os processos destrutivos apresentam-se sob múltiplas formas. Existe a ação química 
do ar e da água, e a ação mecânica do vento, do calor e do frio, da chuva e a neve, 
rios e geleiras, ondas e correntes. Mas como a maioria da superfície sólida da Terra é 
trabalhada principalmente pelas mudanças de tempo (weather) e a água corrente, estas 
são consideradas como formando um grupo normal de processos destrutivos, enquanto 
o vento dos desertos áridos e o gelo dos desertos frios serão considerados como 
modificações climáticas da norma e colocados à parte para discussão em separado. 
(Davis apud COLTRINARI, 1991, p.10)
Trocando ideias...
Percebemos que, para Davis, os rios são o principal agente modelador do relevo 
e sua capacidade erosiva é relativa à fase de juventude, maturidade ou senilidade 
do relevo, exercendo este (o rio) um papel diferente em cada estágio do processo 
de erosão, rebaixamento e aplainamento do relevo.
Como ocorre este processo de erosão e consequente rebaixamento e 
aplainamento do relevo, segundo Davis?
12
13
Para o autor, as rochas da superfície terrestre são atacadas pelos agentes 
do intemperismo (no caso pelos agentes climáticos). A chuva cai na superfície 
intemperizada (rocha fragilizada e em processo de transformação) e transporta 
parte do material ao longo das vertentes (encostas) iniciais até as calhas, onde 
duas vertentes convergentes se encontram. Então, formam-se os rios, que fluem 
em direções consequentes com o declive das linhas das calhas. O mecanismo dos 
processos destrutivos é, assim, posto em movimento e o desenvolvimento destrutivo 
da região começa.
Figura 2: Estágios da evolução do relevo conforme o Ciclo Geográfi co de W. M. Davis
Fonte: Acervo do Autor
Observe, na figura 2, o estágio de juventude do relevo. Neste estágio, o relevo 
sofre erosão e os rios transportam o material retirado das vertentes, para áreas mais 
baixas. Assim, com o passar do tempo, o relevo se modifica, com rebaixamento 
gradual das vertentes e no trabalho erosivo dos rios passando ao estágio de 
maturidade. Neste estágio, as vertentes foram rebaixadas e o que se observa é um 
conjunto de terras baixas onduladas, onde o trabalho erosivo do rio é, basicamente, 
de transporte dos materiais que ainda se originam nestas vertentes. As calhas dos 
rios se alargam e este aumenta sua capacidade de transporte de materiais. Desse 
estágio, o relevo evoluiria para sua fase final, a de Senilidade. Nesta fase, os rios 
se tornam vagarosos e meandrantes (com muitas curvas) e o remanejamento dos 
detritos seria extremamente lento. 
Para Davis, o relevo seria rebaixado até um nível de base local (ponto mais baixo 
de uma região) e o objetivo final deste processo erosivo seria atingir o nível de base 
global (nível do mar) quando, estando toda superfície terrestre rebaixada ao nível 
13
UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
de base global ocorreriam novos soerguimentos e todo o ciclo erosivo se iniciaria 
novamente. A superfície erodida resultante deste processo seria o peneplano e o 
processo ocorrido seria o de peneplanação. 
Para Christofoletti (1980), Davis construiu sua concepção do ciclo geográfico 
em função da estrutura, dos processos e do tempo, mas o que se refere aos 
estudos dos processos não foi realizado (deixou a desejar). Além disso, seus 
estudos foram realizados sob determinada condição climática (clima temperado), 
os soerguimentos de determinada área não são cíclicos e nem sempre violentos e 
a estabilidade longa a que se referia, não pode ser medida, além de não haver o 
equilíbrio total no final do ciclo. Acredita-se que este fato fez com que, ao longo 
do tempo, somente conceitos criados por Davis e não a sua teoria como um todo 
fossem utilizados.
O conceito de nível de base (ponto mais baixo de uma área para onde convergem 
as águas, das chuvas, por exemplo, formando cursos de água) é bastante utilizado 
em Geomorfologia, assim como o conceito de Superfície de Aplainamento, 
tendo sido identificadas no continente sul americano e, no Brasil, pelo menos, 
duas superfícies de erosão, com base nas formulações de Davis: Superfície Sul 
Americana e Superfície Velhas.
Outros estudiosos que contribuíram para os estudos do relevo foram o alemão 
Walther Penk em 1924 e o sul-africano Lester Charles King em 1953.
A segunda teoria que marcou a evolução do pensamento geomorfológico foi a 
elaborada pelo alemão Walther Penk em 1924. 
Para Penk, o relevo é formado na contraposição das forças endógenas com 
as exógenas, em que, nos períodos com predomínio de forças endógenas, 
são produzidas as elevações e o dobramento do relevo; quando, ao contrário, 
prevalecem as forças exógenas, essas elevações tendem a ser rebaixadas, e 
a superfície se torna aplainada. Penk, ainda, baseia sua teoria na 
existência de níveis de base locais (semelhante a Davis), uma vez que 
considera que não são somente os oceanos que se constituem como níveis 
de base para os processos denudacionais. Além disso, considerava que a 
evolução das formas do relevo começa por um soerguimento tectônico de 
uma superfície quase plana. Quando o soerguimento perde força, ocorre 
o predomínio dos processos erosivos e após esse processo, um novo 
soerguimento ocorre. Entre as duas formas resultantes (uma mais elevada 
e uma mais rebaixada, erodida) ocorre um escarpamento, que, como um 
degrau no relevo (piemonte), constitui a testemunha de dois soerguimentos 
distintos. (SALGADO, 2007)
A sucessão de períodos de soerguimento e ausência de atividade tectônica 
produz, para Penk um relevo com degraus, onde cada superfície (degrau), cada 
ponto dos cursos fluviais e mesmo cada concavidade de vertente constituem um 
nível de base. No processo de evolução do modelado terrestre em escadaria, as 
vertentes evoluem, em princípio, predominantementepor retração lateral, para, 
em seguida, predominar o rebaixamento vertical. 
14
15
Para Penk, ainda, os tipos de rocha e de clima são importantes mas não 
alteram significativamente o processo de evolução do modelado, podendo apenas 
retardá-lo ou facilitá-lo. Desse modo, rochas mais resistentes constituirão o 
substrato dos relevos residuais, ou seja, serão testemunhos de um relevo e rochas 
que não foram destruídos pela erosão. (SALGADO, 2007)
Na figura 3, observamos os princípios fundamentais da teoria de Penk. Segundo 
esse autor, ocorre um processo denominado de captura de drenagem (que é um 
exemplo de erosão remontante). 
Penk notou que a evolução do relevo se dá de trás para frente, ou seja, a 
erosão começa na foz do rio ou no nível de base local (ponto mais baixo do relevo 
imediatamente adjacente) e se dirige, gradativamente, para a montante (local mais 
elevado, nascente do rio). Para ele, com o passar do tempo, os vales iriam se 
largando (do fim para o início do rio) e haveria um alinhamento paralelo de ambos 
os lados das vertentes.
1. Predominância do entalhamento 
do talvegue em relação à denudação, 
responsável pelo desenvolvimento de 
vertentes convexas (aumento do 
ângulo da vertente).
2. Equilíbrio entre soerguimen-
to-denudação, com formação de 
vertentes retilíneas (manutenção 
do ângulo da vertente).
3. Predomínio do entalhamento 
do talvegue, que implica na con-
cavização da vertente (redução 
do ângulo da vertente).
Soerguimento
Entalhamento
Denudação
Forte
Moderada
Fraca
Figura 3: Intensidade da erosão e evolução do relevo conforme Penk
Fonte: Adaptado de Casseti, 1994
Segundo Salgado (2007, p. 70), “a terceira grande teoria acerca da evolução do 
relevo foi o modelo de pediplanação elaborado pelo sul-africano Lester Charles King em 
1953, no qual o clima possui fundamental importância na gênese dos aplainamentos”. 
Para King, os aplainamentos ocorrem em regiões submetidas a condições de 
relativa calmaria tectônica e com condições climáticas de semiaridez à aridez. Essas 
condições climáticas caracterizam um ambiente com uma cobertura vegetal esparsa 
e nas condições de semiaridez ou aridez as chuvas são irregulares (esporádicas), 
mas muito fortes (torrenciais). 
15
UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Na continuidade de sua teoria, King afirma que o processo de gênese (origem) 
de uma nova superfície aplainada tem início com a incisão fluvial (início do entalhe 
do talvegue (ponto mais profundo de um canal fluvial) por um curso fluvial, em 
razão de um soerguimento em uma área árida ou semiárida. Após os cursos fluviais 
terem rebaixado seus leitos até uma cota em equilíbrio com seu novo nível de base, 
inicia-se o trabalho de alargamento dos vales fluviais. Nesse momento, inicia-se, 
também, o processo de retração lateral das vertentes. (SALGADO, 2007)
Primeiro, o rio escava seu canal e depois, alarga seu vale. 
Figura 4: Principais elementos da teoria de King
Fonte: funape.org.br
Observa-se (figura 4) que, conforme King, as vertentes recuam paralelamente e 
neste processo surgem os elementos constituintes da paisagem erodida.
A principal forma são os inselbergs, que são considerados como formas residuais 
resultantes deste recuo. Estas partes do relevo (inicial) são compostas por parte 
mais duras da rocha que não são erodidas e ficam como um “testemunho” de que 
a superfície apresentava uma extensão maior do que se pode observar, ou seja, 
devemos imaginar que entre o inselberg e a vertente em recuo tudo era uma única 
superfície (figura 6).
Figura 5: Inselberg em Quixadá – Ceará.
Fonte: wikimedia/commons
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Figura 5: Estágios de evolução do relevo, conforme King
Fonte: acervo do autor
A superfície ligeiramente ondulada que se forma a partir do espalhamento do 
material retirado da vertente é chamada de pedimento. O processo de retirada do 
material da vertente ocorre em função de chuvas torrenciais, característica de áreas 
semiáridas (clima dos locais, onde Penk realizou seus estudos) e seu espalhamento 
pela superfície após a vertente. Este processo é chamado de pedimentação. O 
pedimento é composto por material fragmentado (cascalho) retirado da vertente.
Observe, ainda, na figura 3, que as partes rebaixadas da superfície (pequenas 
depressões) são preenchidas pelo material retirado da vertente e recebem o 
nome de Bajada.
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UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Geomorfologia no Brasil
O desenvolvimento dos estudos de Geomorfologia no Brasil estão 
relacionados ao surgimento e expansão dos cursos de Geografia a partir da 
década de 1930. A Geografia, no Brasil, surge sob a influência da Escola 
Francesa e seu desenvolvimento (tanto teórico, quanto prático) será fortemente 
influenciado por esta Escola e, posteriormente, por outras, conforme as teorias 
e autores de outros países ganhavam destaque nesta área do conhecimento. A 
Geomorfologia surge influenciada por Davis e sua teoria do Ciclo Geográfico.
Alguns fatos que marcaram a evolução dos estudos em geomorfologia no 
Brasil estão associados à história política e cultural dos anos de 1930, com a 
fundação da Universidade de São Paulo (USP – primeiro curso de Geografia 
do Brasil) e a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 
Esta história registra a influência de duas grandes correntes de pensamento em 
Geomorfologia mundial: a primeira compreende a década de 1930 e avança 
até aproximadamente meados da década de 1950, onde o modelo dominante 
é o “Ciclo Geográfico da Erosão”, elaborado por Davis em 1899 e a segunda 
a partir da década de 1950, indica uma ruptura com este modelo (paradigma) 
se encaminhando para a utilização da Teoria da Pediplanação, elaborada por 
King em 1956.
Após a possibilidade de utilização de fotografias aéreas para as pesquisas 
geográficas e geomorfológicas (a partir de 1950), permitindo que tivéssemos 
uma visão tridimensional das formas do relevo, associadas aos trabalhos de 
campo, foi possível a elaboração de hipóteses e novos estudos para explicar os 
fenômenos observados nas paisagens. (VITTE, 2011)
A Geomorfologia brasileira teve, também, outra grande influência a partir 
da Teoria dos Refúgios/Redutos Florestais. A Geomorfologia com base nas 
condições climática (Geomorfologia Climática) foi dinamizada e se tornou 
possível especificar as relações entre as variações dos períodos glaciais 
(especialmente o período denominado Würm- Winsconsin) com a distribuição da 
cobertura florestal, a existência e a persistência de formas de relevo e depósitos 
correlativos em ambientes morfoclimáticos distintos ou mesmo contrastantes 
com as condições atuais. Na Geomorfologia Climática brasileira, autores de 
destaque elaboraram trabalhos fundamentais para a evolução do pensamento 
geomorfológico brasileiro, tais como Aziz Ab’Saber, João José Bigarella e Maria 
Regina Mousinho, que trabalharam juntos em muitas ocasiões e contribuíram 
para a manutenção do modelo (paradigma) climático na interpretação do relevo 
brasileiro. (VITTE, 2011)
Podemos perceber, então, que os estudiosos brasileiros da área de 
Geomorfologia, embora influenciados por teorias de autores estrangeiros, 
desenvolveram, ao longo do tempo, adaptações, mas também suas próprias 
teorias para estudar e compreender o relevo de uma realidade distinta daquela 
estudada pelos primeiros geomorfólogos mundiais. Isto porque as condições 
climáticas e geológicas do Brasil requeriam novas formas de explicar os 
processos e formas de relevo aqui existentes.
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Um importante geomorfólogo brasileiro
Um dos geógrafos/geomorfólogos de maior destaque foi (a ainda é) Aziz 
Ab´Saber, que desde sua formação acadêmica se dedicou aos estudos teóricos e 
de campo e formulou diversas explicações e teorias, que são a base de muitos 
dos estudos de Geomorfologia nos dias atuais. Os seus estudos relativos às 
grandes glaciações do Quaternário (especialmente ao período denominado 
Würm-Winsconsin) e os eventosregistrados na superfície terrestre decorrentes 
deste fenômeno, elucidaram muito dos processos e formas de relevo que 
podemos observar nas paisagens.
Após anos de estudos, Aziz produziu teorias difundidas por todo o país e 
pelo exterior, dentre as quais, destacamos a Teoria dos Redutos e Relíctos e a 
compartimentação do relevo brasileiro a partir de domínios morfoclimáticos.
Aziz Ab’Saber defendia que a análise geomorfológica deveria estar centrada 
no Período Quaternário (da Era Cenozóica – em torno de 1,8 milhões atrás 
até os dias de hoje). Para esse geógrafo, esta análise se desenvolve em três 
etapas e o relevo é considerado o produto de uma interação complexa entre as 
forças endógenas (internas) e exógenas (externas). Assim, em um trabalho de 
geomorfologia, devemos considerar, primeiramente, a influência da estrutura 
geológica. Na próxima etapa de análise, o geomorfólogo deve considerar a 
estrutura superficial da paisagem, que corresponde aos elementos considerados 
como “indícios” de processos climáticos como colúvios, rampas coluviais e 
stones-lines. A terceira e última etapa, é análise da fisiologia da paisagem, 
a qual é expressão do funcionamento atual da geoesfera Esta se refere à 
compreensão dos processos atuais que atuam no modelamento das formas, 
pois estas são produto dos processos passados e dos atuais, em um quadro em 
que participam tanto a geologia quanto as forças climáticas e paleoclimáticas. 
(VITTE e NIELMANN, 2009)
Colúvio - Solo ou fragmentos rochosos transportados ao longo das encostas de morros, 
devido à ação combinada da gravidade e da água. 
Stone-lines: horizonte, mais ou menos paralelo à superfície, presente na cobertura 
pedológica (solo) composto por fragmentos de rocha de materiais resistentes à alteração 
química e por ser encontrado em vastas áreas das zonas intertropicais.
Ex
pl
or
Além de Aziz Ab´Saber, as pesquisas e formulações teóricas de Christofoletti, 
Mendes e Petri, Bigarella, Coltrinari e Kohler são de fundamental importância para 
os estudos do Quaternário continental brasileiro.
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UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Outras linhas do pensamento geomorfológico brasileiro
Uma parcela dos geógrafos brasileiros, dedicados aos estudos dos fenômenos 
relativos ao relevo (em sua relação com a sociedade ou não), foi fortemente 
influenciada pelo geógrafo francês Jean L. F. Tricar (décadas de 1950 e 1960). 
(VITTE, 2011)
Jean Tricart tinha uma como centro de suas atenções: a preocupação em relação 
à degradação da natureza. Por conta disso, afirmava que a pesquisa científica 
deveria ser utilizada para que se conseguisse o desenvolvimento (econômico e 
social) sem degradar os recursos ecológicos, pois destes depende a sobrevivência 
das sociedades humanas.
Tricart fundamentou seus estudos nos conceitos oriundos da Ecologia, teve como 
sua base teórico-metodológica os (eco)sistemas e desenvolveu sua metodologia de 
análise a qual nomeou como Ecodinâmica, na qual analisa o ambiente e concebe 
uma classificação do que chamou de meios ecodinâmicos. Nos meios estáveis, 
há o predomínio dos processos pedogenéticos (processos de formação dos solos), 
especialmente em sua relação com a cobertura vegetal. Já nos meios intergrades 
(de transição entre a estabilidade e a instabilidade), ocorre a alternância temporal 
na intensidade de atuação, num mesmo espaço, entre morfogênese (processo de 
esculturação das formas do relevo) e pedogênese. E, nos meios fortemente instáveis, 
a morfogênese é o elemento principal na evolução da paisagem e nestes meios 
ocorre forte influência da cobertura vegetal (presença ou ausência), da instabilidade 
climática (com eventos de grande magnitude e duração que interferem de forma 
intensa na esculturação do relevo, como por exemplo, fortes chuvas em áreas 
semiáridas, proporcionando o deslocamento e espalhamento do material retirado 
das áreas mais elevadas) e da interferência humana que provoca modificações e 
degradação ambiental.
Um dos autores brasileiros que elaborou estudos com base na metodologia de 
Tricart foi Jurandyr S. Ross. Além desse autor, Christofoletti contribuiu para a 
adaptação, aprofundamento e difusão da teoria de Sistemas em Geomorfologia 
(inicialmente tratada por Tricart).
Sistemas em Geomorfologia
Segundo Christofoletti (1980), um sistema “pode ser definido como o conjunto 
dos elementos e das relações entre si e entre seus atributos”. E os sistemas em 
Geomorfologia “podem ser classificados de acordo com o critério funcional [...]”.
O funcionamento do sistema está associado à entrada e saída de energia e 
matéria. O foco principal não é a interação com os elementos humanos, que são 
somente acessórios.
De acordo com Christofoletti, que teve como base de suas formulações teóricas 
a Teoria Geral dos Sistemas (TGS) de Ludwig Von Bertalanffy (a partir de 1950), 
os sistemas podem ser classificados em:
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a) Sistemas morfológicos que são compostos pela associação das propriedades 
físicas do fenômeno, constituindo os sistemas menos complexos das estruturas 
naturais. São exemplos desses sistemas as redes de drenagem, as vertentes, 
as praias, os canais fluviais, as dunas e as restingas.
b) Sistemas em sequência são aqueles compostos por uma cadeia de subsistemas, 
possuindo tanto magnitude espacial quanto localização geográfica e podemos 
citar como exemplo tipo de sistema a seguinte sequência de subsistemas: 
atmosfera, vertente, lençol subterrâneo, vegetação, rios e mar (o que pode 
ser considerado, genericamente, como o ciclo da água).
c) Sistemas de processos-respostas são aqueles formados pela associação de 
sistemas morfológicos e sistemas em sequência, sendo que os sistemas em 
sequência indicam o processo, enquanto o morfológico representa a forma, a 
resposta a determinado estímulo. Podemos tomar, como exemplo, a seguinte 
situação: aumentando a capacidade de infiltração de determinada área, 
haverá diminuição no escoamento superficial na densidade de drenagem, 
o que reflete na diminuição da declividade das vertentes. Essa diminuição, 
por sua vez, facilita a capacidade de infiltração de uma área e diminui o 
escoamento superficial. O contrário, também, pode ocorrer.
d) Sistemas controlados apresentam a ação antrópica (humana) sobre os 
sistemas de processos-respostas. A complexidade das relações estabelecidas 
nos sistemas aumenta em função da intervenção humana. Exemplo desse 
sistema pode ser a ocupação de encostas ou assoreamento de rios por conta 
de desmatamento e consequente erosão de uma área.
Em função das especificidades dos estudos geomorfológicos, Christofoletti (1980) 
classifica estes atributos específicos e suas inter-relações, em Sistema Geomorfológico.
Importante!
Vejamos como o próprio autor defi ne e explica os sistemas em Geomorfologia.
Trocando ideias...
De acordo com este Christofoletti (1980),
[...] as formas e os processos representam o âmago da Geomorfologia, 
podemos distinguir dentro do universo geomorfológico os seguintes sistemas 
antecedentes que são os mais importantes para a compreensão das formas 
de relevo: a) O sistema climático que através do calor, da umidade e dos 
movimentos atmosféricos, sustenta e mantém o dinamismo dos processos. 
b) O sistema biogeográfico que, representado pela cobertura vegetal e pela 
vida animal que lhes são inerentes, e de acordo com suas características, 
atua como fator de diferenciação na modalidade e intensidade dos processos, 
assim como fornecendo e retirando matéria. c) O sistema geológico que, 
através da disposição e variação litológica, é o principal fornecedor de 
material, constituindo o fator passivo sobre o qual atuam os processos. d) O 
sistema antrópico, representado pela ação humana, é o fator responsável 
por mudanças na distribuição da matéria e energia dentro dos sistemas, e 
modifica o equilíbrio dos mesmos.” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.10)
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UNIDADE Base conceitual: introdução à Geomorfologia
Em função da especificidade da Geografiaque tem como objetivo a compreensão 
da organização espacial e a distribuição territorial dos fenômenos com base na 
relação das sociedades (Geografia Humana) com a natureza (Geografia Física), 
a concepção metodológica da Teoria dos Sistemas mostrou-se insuficiente para 
atingir tal compreensão.
Dessa forma, surgiu a Teoria dos Geossistemas, sendo que o termo geossistema 
foi introduzido na literatura soviética por Victor Sotchava, no início da década 
de 1960 e esse autor teve a preocupação de estabelecer uma metodologia de 
estudo da natureza/paisagem que fosse aplicável aos estudos geográficos. O 
mesmo almejou a elaboração de uma proposta metodológica que substituísse os 
estudos baseados, exclusivamente, na dinâmica biológica do ecossistema, pelos 
estudos integrados dos sistemas naturais e humanos em um determinado recorte 
espacial. Desta forma, buscou entender a parte que caberia à Geografia na 
análise integrada entre os fluxos de matéria e energia dos sistemas ambientais, 
desenvolvendo o termo/conceito de Geossistema, que possibilitaria a análise 
dos processos geográficos na interface entre a sociedade e a natureza através, 
essencialmente, do conceito de paisagem. (NEVES et al. 2014)
Conforme a definição de Sotchava (1978), o Geossistema pode ser considerado 
como um tipo especial de sistemas, sendo o espaço terrestre de todas as dimensões, 
onde os componentes individuais da natureza se encontram numa relação sistêmica 
uns com os outros e em interação com o universo e com a sociedade humana.
Além desse autor, outros trataram da Teoria dos Geossistemas e elaboraram 
estudos tendo como base esta fundamentação teórico-metodológica. Dentre esses, 
podemos citar Christofoletti, Tropmair, Bertrand e Monteiro.
Embora ainda apresente problemas de caráter metodológico, a Teoria dos 
Geossistemas é uma tentativa de romper com a dicotomia existente entre Geografia 
Humana e Física na análise dos fenômenos da natureza.
Dessa maneira, buscou-se e se busca, conforme se pode perceber, a partir 
de estudos recentes de Geomorfologia, a adequação das teorias existentes e o 
desenvolvimento de novas explicações que se adequem a realidade brasileira, pois, 
como pudemos perceber, há muitos estudiosos que se dedicaram e se dedicam ao 
desenvolvimento e consolidação da Geomorfologia no Brasil.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Leitura
Uma introdução à história da geomorfologia no brasil: a contribuição de aziz nacib ab’saber
Discute a importância deste geógrafo e suas contribuições para os estudos de 
Geomorfologia no Brasil.
http://goo.gl/PeiN7e
O Ciclo Geográfico
Para aprofundamento do seu conhecimento sobre o Ciclo Geográfico de W. M. Davis, 
ler o artigo
http://goo.gl/vh6VAe
Os geossistemas como elemento de integração na síntese geográfica e fator de promoção interdisciplinar na 
compreensão do ambiente
Para melhor compreensão da Teoria do Geossitemas. Revista de Ciências Humanas 
14.19 (1996): 67-100.
Inselbergs e sua gênese no semi-árido baiano
Uma discussão mais elucidativa sobre a formação dos inselbergs pode ser obtida a 
partir da leitura do texto Inselbergs e sua gênese no semi-árido baiano
http://goo.gl/fIw8Ot
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Referências
CASSETI, V. Elementos de geomorfologia. Goiânia: UFG, 1994.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2.ed. São Paulo: Edgar Blucher, 1980.
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs.) Geomorfologia: uma atualização de 
bases e conceitos. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
NEVES, C. E. das; MACHADO, G.; HIRATA, C. A.; STIPP, N. A. F. A importância 
dos geossistemas na pesquisa geográfica: uma análise a partir da correlação 
com o ecossistema. Soc. & Nat., Uberlândia, 26 (2): 271-285, mai/ago/2014.
SALGADO, A. A. R. Superfícies de aplainamento: antigos paradigmas 
revistos pela ótica dos novos conhecimentos geomorfológicos. In: Geografia – 
artigos científicos. Belo Horizonte 03(1) 64-78 janeiro-junho de 2007. Disponível 
em www.cantacantos.com.br/revista/index.php/geografias/article/.../39/38. 
Acesso em 20/08/15.
SOTCHAVA, V. B. Por uma teoria de classificação de geossistemas de vida 
terrestre. São Paulo: IGEO/USP, 1978.
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro, IBGE, 1977. Disponível em: 
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/
ecodinamica.pdf
VIDAL-TORRADO, P., I. F. LEPCHS, e S. S. CASTRO. “Conceitos e 
aplicações das relações pedologia-geomorfologia em regiões tropicais 
úmidas.” VIDAL-TORRADO, P. et al (2005):145-192. Disponível em: http://
www.labogef.iesa.ufg.br/labogef/arquivos/downloads/PabloVidal_Lepsh_Selma_
ConceitoseAplicacoes_51247.pdf Acesso em 20/08/15.
VITTE, A. C. A construção da Geomorfologia no Brasil. In: Revista Brasileira 
de Geomorfologia, v.12, n.3, p.91-108, 2011.
VITTE, A. C.; NIELMANN, R. S. Uma introdução à história da Geomorfologia 
no Brasil: a contribuição de Aziz Nacib Ab´Saber. In: RBGF- Revista Brasileira 
de Geografia Física. Recife-PE Vol.2 n.01 jan/abril 2009,41-50.
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