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LÍNGUA PORTUGUESA: ESTRUTURA BÁSICA TEXTO COMO CONCEITO– Aula 04 2020-1 Prof. Me. Paulo Sergio Gonçalves Doutorando em Letras - UFRGS TEXTO Qualquer produção linguística, falada ou escrita, de qualquer tamanho que possa fazer sentido num processo ou situação comunicativa humana, isto é, numa situação de interlocução. Nenhum texto tem sentido por si mesmo. Todo texto pode fazer sentido, numa determinada situação, para determinados interlocutores TEXTO E NÃO TEXTO Para Baugreand & Dressler, existe o não-texto quando o receptor não consegue entendê-lo. Para Charolles (década de 70), o texto depende da situação de comunicação e do conhecimento dos interlocutores para interpretar, mas defende que “não há o não-texto, o texto incoerente” porque não há regras para sua formação, como há para a formação de frases. O leitor deve, então, ser cooperativo e fazer tudo para compreender o texto. Leva, portanto, a noção de coerência textual ao princípio de interpretabilidade. TEXTO Para que seja considerado um texto é necessário que possua uma relação sociocomunicativa, semântica e formal. Apesar de parecer tarefa simples, nem sempre conseguem definir bem o conceito de texto. TEXTO Nos estudos linguísticos, compreende-se texto como qualquer unidade de sentido produzida por um emissor com o objetivo de comunicar algo a um receptor, que interpretará essas ideias com base em seus conhecimentos prévios culturais, sociais e gramaticais. TEXTO Vale lembrar que um texto não necessariamente precisa de palavras; existem três tipos diferentes de elaboração de textos: os verbais, em que se utilizam palavras, expressões, orações, frases e/ou parágrafos para elaborá-los; os não-verbais, em que se utilizam apenas imagens, sejam pinturas, desenhos etc; os mistos, que trabalham em conjunto as características dos textos verbais com os não-verbais, é dizer, utilizam tanto palavras, como imagens. TEXTOS VERBAIS TEXTOS NÃO VERBAIS TEXTOS MISTOS QUANTO À TEXTUALIDADE/TEXTUALIZAÇÃO Conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases ou palavras. Princípio geral que faz parte do conhecimento textual dos falantes e que os leva a aplicar a todas as produções linguísticas que falam, escrevem, ouvem ou leem um conjunto de fatores capazes de textualizar essas produções. São parte do saber linguístico das pessoas. FATORES DE TEXTUALIDADE Coerência Coesão Intencionalidade Aceitabilidade Situacionalidade Informatividade Intertextualidade COERÊNCIA Aquilo que faz com que um texto pareça lógico, consistente, aceitável, com sentido. A Coerência Textual relaciona-se com as ideias do texto, conceitos e relações entre elas (tópicos, comentários, formas de organização, articulação). Relaciona-se com a partilha de conhecimentos linguísticos, textuais e pragmáticos, visões de mundo, valores, etc. COESÃO Koch (1997) conceitua a coesão como "o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando seqüências veiculadoras de sentido.“ Para Platão e Fiorin (1996), a coesão textual "é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto." COESÃO A coesão é, segundo Suárez Abreu (1990), "o encadeamento semântico que produz a textualidade; trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença A." Daí a necessidade de haver concordância entre o termo da sentença A e o termo que o retoma na sentença B. Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores de coesão: "são aqueles que dão conta da sequenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos linguísticos do texto, relações de sentido." A COESÃO REFERENCIAL Esse tipo de coesão diz respeito ao uso de termos que retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos “Comprei aquela fruta, vou comê-la” Qualquer falante do Português, reconheceria que o pronome “-la” na frase seguinte refere-se à “fruta”, assim como o pronome “aquela”. A COESÃO REFERENCIAL • Quando há termos que retomam outros no texto, temos coesão referencial. • A coesão referencial pode ocorrer: • a) Com o uso de pronomes (pronominalização): • Muitas pessoas votaram nas últimas eleições. O que elas não previam era a anulação do pleito. • b) Com o uso de sinônimos: • Muitas pessoas votaram nas últimas eleições. O povo não previa a anulação do pleito. A COESÃO REFERENCIAL • c) Com expressões nominais definidas: • Dilma visitou diversas comunidades. A presidente do PT ficou feliz com o que viu. • d) Com expressões atributivas (que usam atributos) • Dilma visitou diversas comunidades. A líder ficou feliz com o que viu. • e) Expressões equivalentes (perífrases): • Pelé tornou-se um ídolo. O rei do futebol é mundialmente conhecido. • f) Elipse: • O ladrão não foi preso, pois Ø conseguiu fugir de helicóptero A COESÃO SEQUENCIAL • A coesão também possui a função de articular as sequências de um texto, a fim de estabelecer relações lógicas ou de sentido entre as partes, promovendo, assim, a progressão textual. • O papel das relações lógicas do texto é desempenhado pelas conjunções (embora, se, porque, porém, portanto, e muitas outras) que ligam basicamente orações entre si e por um grupo específico de termos, como então, assim, a seguir, pelo contrário, antes, depois, e outros, que servem para estabelecer conexões entre partes ainda maiores do texto, como parágrafos ou até capítulos.(…) Conexões malfeitas entre unidades do texto costumam desnortear o leitor. A COESÃO SEQUENCIAL • A internet é uma tecnologia desgastante, pois, além de oferecer aos jovens momentos de distração, reduz o tempo que poderiam dedicar ao cinema ou ao esporte. • a expressão “além de” opera como termo que promove a relação lógica entre o que foi dito antes e o que foi dito depois. Isso quer dizer que há a adição de duas informações. • Entretanto, não parece ser essa a relação, uma vez que algo desgastante não parece oferecer distração a alguém… MECANISMOS DE COESÃO SEQUENCIAL Causa • porque, que, uma vez que, já que, por isso que, porquanto, visto que, por, por causa de, em vista de, em virtude de etc. • Oposição: • a) SUBORDINAÇÃO CONCESSIVA (ocorre mudança no verbo): • embora, muito embora, por mais que, por menos que, apesar de, a despeito de, não obstante etc. • Embora seja bom, não podemos comprar aquele carro. MECANISMOS DE COESÃO SEQUENCIAL • b) COORDENAÇÃO ADVERSATIVA: • mas, porém, todavia, contudo, entretanto etc. • • Valdeir é excelente profissional, mas/porém/contudo/todavia/entretanto será afastado de suas funções por tempo indeterminado. • CONDIÇÃO: • caso, desde que, contanto, uma vez que, sem que etc. • Se não chover amanhã, podemos ir à praia. • Desde que não chova amanhã, podemos ir à praia. MECANISMOS DE COESÃO SEQUENCIAL • CONCLUSÃO: • logo, portanto, por conseguinte, assim, então, de modo que, em vista disso, pois (antes do verbo) • Maria tem faltado muito sem justificativa, logo será demitida. • Ele infartou; não pode, pois, continuar o trabalho. INTENCIONALIDADE É a capacidade do produtor do texto de produzi-lo de forma coesa, coerente, capaz de alcançar os objetivos propostos num determinado processo comunicativo. É a apropriação para a realização das intenções do locutor diante de seu interlocutor. Esforço em produzir uma comunicação eficiente, capaz de satisfazer as necessidades de ambos os participantes do processo comunicativo. INTENCIONALIDADE Relação estrita e que pode, também, ser chamada de argumentação. Não há textos neutros, há sempre alguma intenção ou objetivo da parte de quem produz um texto.O texto não é jamais uma cópia do mundo real, pois o mundo é recriado no texto a partir da mediação de nossas crenças, convicções e propósitos. ACEITABILIDADE Avaliação e adequação por parte dos interlocutores. É a contraparte da intencionalidade. É a contrapartida do receptor para entender o texto: - Interpretação; - Ativação dos conhecimentos: . de mundo; . compartilhados; . da língua ACEITABILIDADE Quando duas pessoas interagem por meio da linguagem, elas se esforçam por fazer-se compreender e procuram calcular o sentido do texto dos interlocutores, partindo das pistas que ele contém e ativando, assim, seu conhecimento de mundo, da situação, etc. Mesmo que um texto não se apresente, à primeira vista, com coerência, o receptor tentará estabelecer uma coerência, dando-lhe a interpretação que lhe pareça cabível. SITUACIONALIDADE É a adequação do texto a uma situação comunicativa, ao contexto. A situação orienta o sentido do discurso, tanto na produção quanto na interpretação. O critério da situacionalidade consiste ao fato de relacionarmos o texto à situação (social, cultural, ambiente, etc.) SITUACIONALIDADE A SITUAÇÃO COMUNICATIVA interfere, portanto, na produção do texto. O SUJEITO serve de mediador, com suas crenças e ideias, recriando a situação. Um mesmo objeto pode ser descrito por duas pessoas distintamente, pois elas o encaram de modo diverso. O texto não expõe o retrato da realidade, mas sim, o que é retratado pelos olhos do produtor a partir de suas perspectivas e intenções. O leitor, por sua vez, também analisa e interpreta o texto a partir de sua ótica e de acordo com o seu conhecimento de mundo. INFORMATIVIDADE A informatividade, que designa o grau de previsibilidade da informação contida no texto, também tem um importante papel no estabelecimento da coerência. A presença de apenas informação esperada em um texto faz com que ele tenha um baixo grau de informatividade, pois o que é informado torna-se óbvio para o leitor, não atingindo, assim, nenhum propósito comunicativo. Se, por outro lado, ele contiver apenas informação inesperada, poderá parecer incoerente para o receptor, dificultando-lhe a compreensão. INTERTEXTUALIDADE É a relação extra textual do texto. A intertextualidade também interfere no estabelecimento da coerência, pois ao fazer referência a conhecimentos de outros textos, exige que o receptor, através de seu conhecimento de mundo, descubra-a e compreenda a intenção do produtor, ao utilizá-la. Na Linguística, um dos fatores da textualizade é, justamente a intertextualidade. SENDO ASSIM Um amontoado de palavras sem ligação e sem sentido não constituem um texto. Para garantir que algo que se pretende dizer ou escrever será compreendido como um texto, é importante elaborar sua produção utilizando-se de mecanismos, tais como a coerência e a coesão. Enquanto a coerência garante que as ideias colocadas no texto façam sentido (intratextual e extratextual), a coesão se relaciona ao uso de elementos e expressões que permitem a retomada ou antecipação de ideias, fazendo com que todas elas estejam concatenadas, garantindo, assim, uma unidade textual. •HIPERTEXTO HIPERTEXTO É a apresentação de informações escritas, organizada de tal maneira que o leitor tem liberdade de escolher vários caminhos, a partir de sequências associativas possíveis entre blocos vinculados por remissões, sem estar preso a um encadeamento linear único. O termo hipertexto foi criado por Theodore Nelson, na década de 1960, para denominar a forma de escrita e de leitura não linear na informática. O hipertexto se assemelha à forma como o cérebro humano processa o conhecimento: fazendo relações, acessando informações diversas, construindo ligações entre fatos, imagens, sons, enfim, produzindo uma teia de conhecimentos. HIPERTEXTO Além dos mecanismos de construção de um texto, que garantem uma melhor compreensão da mensagem que o emissor pretende comunicar, há outros métodos de facilitar ou aprofundar algo que se lê em um texto. São espécies de links entre textos, fazendo com que eles dialoguem entre si e que se relacionem com alguma ideia abordada pelo autor. HIPERTEXTO No hipertexto, o leitor passa a ter uma participação mais ativa, pois ele pode seguir caminhos variados dentro do texto, selecionando pontos que o levam a outros textos ou outras mídias para complementar o sentido de sua leitura. O leitor torna-se, assim, um coautor do texto, pois constrói tramas paralelas de acordo com seu interesse. HIPERTEXTO Um livro de formato tradicional também pode ter sua estrutura interna em forma de hipertexto. Um livro de contos, por exemplo, pode ser lido sem seguir a ordem em que os contos foram organizados. As enciclopédias e os dicionários também apresentam estrutura hipertextual, já que indicam outros verbetes que complementam a consulta do leitor. E ainda há livros em que o autor coloca nas margens informações complementares ao texto principal, buscando o formato hipertextual. REFERÊNCIAS • CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 48. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. 696 p. • OLIVEIRA LIMA, Antonio . Redação Oficial: teoria, modelos e exercícios. Teoria, modelos e exercícios. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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