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Disciplina: Análise Matemática para Engenharia I Aula 2: Limites de uma função e continuidade – parte II Apresentação Na primeira aula, descobrimos os valores de limites, tanto pela amostragem de valores selecionados de x como pela aplicação de teoremas de limites que foram enunciados sem prova. Agora, encontraremos a de�nição precisa de limite, o que possibilitará maior compreensão de algumas propriedades mais sutis das funções. Além disso, veremos a de�nição de continuidade e propriedades das funções contínuas e o Teorema do Valor Intermediário. Objetivos Operar com a de�nição formal de limite de uma função; Reconhecer a continuidade de uma função; Explicar o Teorema do Valor Intermediário. Discussão mais rigorosa sobre os limites De�nição de limite: Seja f(x) uma função de�nida para todo número em algum intervalo aberto contendo a, exceto possivelmente no próprio número a. O limite de f(x) quando x tende a a será L, escrito como: limx→af x = L. se a seguinte a�rmativa for verdadeira: Dado ε > 0 qualquer, existe um δ > 0 tal que: se 0 < | x - a | < δ então | f(x) - L | < ε ( ) Essa de�nição, atribuída ao matemático alemão Karl Weierstrass, é conhecida como a de�nição “épsilon-delta” de limite bilateral. Ela estabelece a transição de um conceito informal de limite para uma de�nição precisa. Especi�camente, a frase informal “tão próximo quanto quisermos de L” é substituída por um sentido quantitativo na escolha arbitrária do número positivo ε. Em contrapartida, a frase “su�cientemente próximo de a” é quanti�cada pelo número positivo δ. Exemplo 1 Use a de�nição “épsilon-delta” de limite para provar que: limx → 3 4x - 7 = 5.( ) Exemplo 2 Prove que limx → 0 +√x = 0. O valor de δ não é único O valor de δ da de�nição de limite não é o único. Uma vez encontrado um valor de δ que preencha as exigências da de�nição, então, qualquer número positivo δ1 menor também cumprirá as exigências. Isto é, se é verdade que: |f(x) - L | < ε se 0 < | x - a | < δ Então, também será verdade que: f x - L < ε se 0 < x - a < δ1 Isso porque x: 0 < x - a < δ1 é um subconjunto de {x: 0 < | x - a | < δ}, e, portanto, se |f(x) - L | < ε é satisfeita para todo x no intervalo maior, então, será automaticamente satisfeita para todo x no subconjunto. | ( ) | | | { | | } O valor de δ não é o único. Fonte: (ANTON, 2007). Exemplo 3 Prove que limx → 4x2 = 16. Limite quando x → ± ∞ Seja f(x) de�nida em todo x de algum intervalo aberto in�nito, que se estende no sentido positivo do eixo x. Escreveremos: limx → + ∞ f x = L se, dado qualquer número ε > 0, houver um correspondente número positivo N, tal que: |f(x) - L | < ε se x > N Seja f(x) de�nida em todo x de algum intervalo aberto in�nito, que se estende no sentido negativo do eixo x. Escreveremos: limx → - ∞ f x = L se, dado qualquer número ε > 0, houver um correspondente número negativo N, tal que: |f(x) - L | < ε se x < N ( ) ( ) (a) Limite para a função f(x) quando x → + ∞ ; (b) Limite para a função f(x) quando x → - ∞ . Fonte: (ANTON, 2007). Exemplo 4 Prove que limx → + ∞ 1 x = 0. Limites in�nitos Seja f(x) de�nida em todo x de algum intervalo aberto contendo a, exceto que f(x) não precisa estar de�nida em a. Escreveremos: limx → af x = + ∞ se, dado um número positivo M qualquer, pudermos encontrar um número δ > 0, tal que f(x) satisfaz: f(x) > M se 0 < | x - a | < δ Seja f(x) de�nida em todo x de algum intervalo aberto contendo a, exceto que f(x) não precisa estar de�nida em a. Escreveremos: limx → af x = - ∞ se, dado um número negativo M qualquer, pudermos encontrar um número δ > 0, tal que f(x) satisfaz: f(x) < M se 0 < | x - a | < δ ( ) ( ) Limites infinitos (a) limx → af x = + ∞; (b) limx → af x = - ∞. Fonte: (ANTON, 2007).( ) ( ) Exemplo 5 Prove que limx → 0 1 x2 = + ∞. Continuidade Seja uma função f de�nida em um intervalo aberto I e a um elemento de I. Dizemos que f é contínua em a, se limx→ af x = f a . Note que, para falar em continuidade de uma função em um ponto, é necessário que este ponto pertença ao domínio da função. ( ) ( ) Da de�nição decorre que se f é contínua em a, então, três condições deverão ser satisfeitas: Existe f(a); Existe limx→af x ; limx→af x = f a . ( ) ( ) ( ) Dessa forma, se falhar uma ou mais das condições de continuidade, então, dizemos que f tem uma descontinuidade em x = a. Gráficos de funções f que apresentam “quebras” ou “buracos” (descontinuidades), pois: (a) a função não está definida em c; (b) e (c) o limite de f(x) não existe quando x tende a c; ou, (d) o valor da função e o valor do limite em c são diferentes. Fonte: (ANTON, 2007). Exemplo 6 A função f(x) = 2x + 1 de�nida em é contínua em 1, pois: limx→ 1f x = limx→ 1 2x + 1 = 3 = f 1 Note ainda que f é contínua em , pois para todo a ∈ , temos: limx→ af x = limx→ a 2x + 1 = 2a + 1 = f a ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Gráfico da função f(x) = 2x + 1. Ponto em azul indica f(1) = 3. Exemplo 7 A função f x = x2 - 4 x - 2 de�nida em não é contínua no ponto x = 2. Observe que: limx→ 2 x2 - 4 x - 2 = 4 Porém, a função f está inde�nida em x = 2 e, portanto, não é contínua em x = 2. ( ) Gráfico da função f x = x2 - 4 x - 2 . O ponto aberto em azul indica a descontinuidade da função, pois a função não está definida em f(2). ( ) Observações: Nas aplicações práticas, muitas vezes, as descontinuidades sinalizam a ocorrência de importantes fenômenos físicos; Os seguintes tipos de funções são contínuos em cada ponto de seus domínios: Clique nos botões para ver as informações. São contínuas em todo número a porque limx → af x = f c . Polinomiais ( ) ( ) São contínuas em todo ponto de seus domínios. Elas têm pontos de descontinuidades nos zeros de seus denominadores. Funções racionais (y = n √x, n é um inteiro positivo maior que 1). Funções raiz Se a é um número no domínio natural da função trigonométrica enunciada, então: limx→ asin x = sin a; limx→ acosx = cos x; limx→ atg x = tga; limx→ acotg a = cotg a; limx→ asec x = sec a; limx → acosec x = cosec a; Funções trigonométricas e funções trigonométricas inversas A função exponencial y = ax foi de�nida para ser contínua e, portanto, sua inversa y = logax é também contínua sobre seu domínio. Funções exponenciais e funções logarítmicas Grá�co das funções f(x) = sin x (curva em vermelho) e f(x) = cos x (curva em azul). f(x) = sin x; Domínio: -∞ < x < + ∞; Imagem: - 1 ≤ x ≤ 1; Período: 2π. f(x) = cos x; Domínio: -∞ < x < + ∞; Imagem: - 1 ≤ x ≤ 1; Período: 2π. Grá�cos das funções (a) f(x) = tg x; e, (b) f(x) = cotg x. Para a função f(x) = tg x, temos domínio em x ≠ ± π 2 , ± 3π 2 …; Imagem: -∞ < x < + ∞; Período: π. Para a função f(x) = cotg x, temos domínio em x ≠ 0, ± π, ± 2π; Imagem: -∞ < x < + ∞; Período: π. Grá�co da função f(x) = sec x. ç f( ) Domínio: x ≠ ± π 2 , ± 3π 2 , …; Imagem: y ≤ - 1 e y ≥ 1; Período: 2π. Grá�co da função f(x) = cosec x. Domínio: x ≠ 0, ± π + 2π, … Imagem: y ≤ - 1 e y ≥ 1; Período: 2π. Como os grá�cos de uma função injetora f e sua inversa f são uma re�exão do outro pela reta y = x, é geometricamente evidente que, se o grá�co de f não tem descontinuidades (“quebras” ou “buracos”), então, o grá�co de f também não apresentará descontinuidades. -1 -1 Continuidade em um intervalo Se uma função f for contínua em cada ponto do intervalo aberto (a, b), então, dizemos que f é contínua em (a, b). Essa de�nição se aplica para intervalos abertos in�nitos da forma (a, +∞), (-∞, b) e (-∞, +∞). Quando f for contínua em (-∞, +∞), dizemos que f é contínua em toda parte. Uma função f é dita contínua em um intervalo fechado [a, b], se as seguintes condições são satisfeitas: f é contínua no intervalo (a, b); f é contínua à direita de a; f é contínua à esquerda de b. Exemplo 8 O que pode ser dito sobre a continuidade da função f x = √16 - x2?( ) Propriedades das funções contínuas Se f e g são funções contínuasem a, então, são contínuas em a as funções: f + g; f - g; f . g; f / g, desde que g(a) ≠ 0; Se limx→ ag x = L e se a função f é contínua em L, então limx→ af g x = f L . Ou seja: limx→ af g x = f limx→ ag x ( ) ( ( ) ( ) ( ( )) ( ( )) Essa igualdade permanece válida se limx→ af g x for trocado em toda parte por um dos limites limx→ a - f g x , limx→ a + f g x , limx→ - ∞ f g x , ou limx→ + ∞ f g x . Um caso especial do teorema ocorre quando f(x) = | x|. Se x > 0, temos f(x) = x, um polinômio. Se x > 0, temos f(x) = - x, outro polinômio. Por �m, na origem, limx→ 0 x = 0 = 0 . Logo, f(x) = | x|é contínua em toda parte e, então, podemos escrever: limx→ a f x = limx→ af x sempre que existir limx→ af x . ( ( )) ( ( ) ) ( ( )) ( ( )) ( ( )) | | | | | ( ) | | ( )| ( ) Saiba mais Quanto à continuidade de composição de funções, temos: Se a função g for contínua em um ponto a e a função f for contínua no ponto g(a), então, a composição fºg é contínua em a; Se a função g for contínua em toda parte e a função f for contínua em toda parte, então, a composição fºg é contínua em toda parte. O valor absoluto de uma função contínua é contínuo. Ou seja, se g(x) for contínua em toda parte, então, também o é |g(x)|. Exemplo 9 Suponha que f e g sejam funções contínuas, tais que f(2) = 1 e limx→ 2 f x + 4 · g x = 13. Encontre: g(2) e limx→ 2g x .[ ( ) ( )] ( ) Exemplo 10 Mostre que y = x · sin x x2 + 2 é contínua.| | Teorema do Valor Intermediário Se f for uma função contínua em um intervalo fechado [a, b] e k um número qualquer entre f(a) e f(b), inclusive, então, existe no mínimo um número x no intervalo [a, b], tal que f(x) = k. Teorema do Valor Intermediário. Função f contínua no intervalo [a, b] e um número k entre f(a) e f(b). Fonte: (ANTON, 2007). Uma importante aplicação do Teorema do Valor Intermediário é a determinação de raízes de uma equação, ou seja, f(x) = 0. Um procedimento para a aproximação de raízes está baseado na seguinte consequência do Teorema do Valor Intermediário: “Se f for uma função contínua em [a, b], e se f(a) e f(b) forem diferentes de zero com sinais opostos, então, existe, no mínimo, uma solução para a equação f(x) = 0 no intervalo (a, b).” Representação do Teorema do Valor Intermediário para a determinação da raiz de uma equação. Fonte: (ANTON, 2007). Antes de ilustrarmos como esse teorema pode ser útil na determinação aproximada de raízes, é importante discutir a terminologia padrão para descrever erros de aproximação. Se x é uma aproximação para uma quantidade x , então, dizemos que: ϵ = x - xo é o erro absoluto (ou menos precisamente) o erro na aproximação. Assim: x - xo ≤ 0, 0005, x aproxima x até a terceira casa decimal (i.e., até o milésimo mais próximo). o | | | | o Exemplo 11 Encontre a raiz da função f x = x3 – 3x – 4. Use o Teorema do Valor Intermediário e um erro de, no máximo, 0,0005.( ) Teorema do Confronto e modelo de comportamento �nal Sejam f, g e h funções que satisfazem: g(x) ≤ f(x) ≤ h(x) para todo x em algum intervalo aberto que contenha o ponto a, com a possível exceção de que as desigualdades não precisam ser válidas em a. Se g e h tiverem o mesmo limite quando x tende a a, digamos: limx → ag x = limx → ah x = L, então, f também tem esse quando x tendendo a a, isto é: limx → af x = L. ( ) ( ) ( ) Atenção A mensagem do Teorema do Confronto é que, se uma função que está “no meio” de outras duas funções que têm o mesmo limite, então, obrigatoriamente a função que está no meio terá o mesmo limite das outras duas. Por isso, este teorema é também chamado de Teorema do Sanduíche. O Teorema do Confronto também se aplica a limites quando x → ± ∞. Exemplo 12 Mostre que limx → 0x2 · sin 1 x = 0( ) Exemplo 13 Seja a função f(x)=x+e . Demonstre que g(x) = x é um modelo de comportamento �nal à direita para f, enquanto h(x) = e é um modelo de comportamento �nal à esquerda para f. -x -x Exemplo 14 Encontre a assíntota oblíqua para o grá�co de f x = 2x2 - 3 7x + 4 :( ) Atividade 1. A prova rigorosa de que limx → - 7 2x + 5 = - 9 conduz à relação:( ) a) δ = ε 2 b) δ = ε 3 c) δ = 2ε d) δ = 3ε e) δ = ε 2. Para quais valores de x, se houver, a função f x = x2 - 16 x2 - 5x + 4 é descontínua?( ) a) 0 e - 2 b) – 2 e 2 c) – 1 e 4 d) 1 e 4 e) Não há descontinuidades 3. Os valores das constantes k e m, se possível, que façam a função f �car contínua em toda parte serão: f x = x2 + 5, x > 2 m(x + 1) + k, -1 < x ≤ 2 2x3 + x + 7, x ≤ - 1( ) { a) m = 0 e k = 4 b) m = - 3 e k = - 2 c) m = 5/3 e k = 4 d) m = 2 e k = - 2 e) Não há descontinuidades 4. Em qual dos seguintes intervalos f x = 1 √x - 2 é contínua?( ) a) [2, + ∞) b) ( - ∞, + ∞) c) (2, + ∞) d) [1, 2) e) ( - ∞, 0] 5. Considere a função f x = 3 + cos x x3 . O valor do limite limx → + ∞ f x será:( ) ( ) a) +∞ b) -∞ c) 1 d) -1 e) 0 Referências ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. Volume 1. Porto Alegre: Artmed Editora S.A., 2007. BROCHI, A. Cálculo Diferencial e Integral I. Rio de Janeiro: SESES, 2015. FERNANDES, D. B. Cálculo. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. PANONCELI, D. M. Análise Matemática. Curitiba: Intersaberes, 2017. Próxima aula A de�nição de derivada; Regras de derivação; Regra da cadeia e a derivação implícita. Explore mais Para revisar tópicos importantes da matemática elementar, despertar o seu interesse no assunto aqui tratado, e, ao mesmo tempo, demonstrar como limites são importantes no dia a dia do engenheiro, seguem sugestões de vídeos para você assistir: Funções trigonométricas <https://www.khanacademy.org/math/trigonometry/unit-circle-trig-func> ; Limites e continuidade <https://www.khanacademy.org/math/ap-calculus-ab/ab-limits-new> ; Teorema do Confronto <https://youtu.be/mC-T75UUsRQ> ; Limite fundamental trigonométrico <https://youtu.be/6HcDC2WwkoE> . https://www.khanacademy.org/math/trigonometry/unit-circle-trig-func https://www.khanacademy.org/math/ap-calculus-ab/ab-limits-new https://youtu.be/mC-T75UUsRQ https://youtu.be/6HcDC2WwkoE
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