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Saúde Coletiva - processo saude-doença

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Programa de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância 
SAÚDE COLETIVA 
Epidemiologia e o Processo 
Saúde-Doença 
Segunda versão 
Autor: Karla de Toledo Candido Muller 
EAD – Educação a Distância 
Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação 
 
 
 
 
2 
www.eunapos.com.br 
SUMÁRIO 
UNIDADE 1 - ASPECTOS CONCEITUAIS E DEFINIÇÃO DE EPIDEMIOLOGIA 03 
1.1 Conceitos de Epidemiologia ............................................................................. 03 
1.2 Histórico da Epidemiologia ............................................................................... 04 
1.3 Situação atual ................................................................................................... 16 
1.4 Pilares da Epidemiologia atual.......................................................................... 18 
 
UNIDADE 2 – PROCESSO SAÚDE E DOENÇA ................................................... 26 
2.1 Conceitos de Saúde ......................................................................................... 26 
2.2 Conceitos de Doença ....................................................................................... 28 
2.3 História Natural da Doença ............................................................................... 31 
2.4 Estudo dos determinantes sociais da saúde..................................................... 51 
2.5 Prevenção das doenças e promoção da saúde ................................................ 56 
 
UNIDADE 3 - ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS ..................................................... 64 
3.1 Pesquisa epidemiológica .................................................................................. 66 
3.2 Desenhos de estudos epidemiológicos ............................................................ 74 
 
UNIDADE 4 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ................................................... 83 
4.1 Sistemas de informação em saúde ................................................................... 83 
4.2 Indicadores de saúde ....................................................................................... 85 
TVNI
Realce
 
 
 
 
3 
www.eunapos.com.br 
UNIDADE 1 - ASPECTOS CONCEITUAIS E DEFINIÇÃO DE 
EPIDEMIOLOGIA 
 
A epidemiologia é uma disciplina básica da saúde pública que procura 
compreender o processo saúde-doença relacionado às populações. Este aspecto 
coletivo é a principal diferença entre a epidemiologia e a clínica, uma vez que esta 
última estuda o processo saúde-doença em um foco individual. 
Inicialmente precisamos conhecer a origem da palavra Epidemiologia, ou 
seja, a etimologia do vocábulo: 
 
 
 
 
 
 
 
1.1 Conceitos de Epidemiologia 
"Epidemiologia é o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes 
dos estados ou eventos relacionados à saúde em específicas populações e a 
aplicação desses estudos no controle dos problemas de saúde" (LAST, 1995). 
De acordo com a Associação Internacional de Epidemiologia (IEA), a 
epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades 
humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, 
danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas 
específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças, e fornecendo 
indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das 
ações de saúde (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003). 
 
Epí = sobre 
Logos = palavra, 
discurso, estudo 
 
 
Demós = povo 
Ciência do que ocorre (se abate) sobre o povo 
 
 
 
 
4 
www.eunapos.com.br 
Os conceitos de epidemiologia estão profundamente relacionados com o dia 
a dia de todos os cidadãos e não existe a possibilidade de ignorá-lo uma vez que 
todos nós fazemos parte dos dados epidemiológicos do nosso País. 
 
Neste momento cabe uma reflexão: 
 
O que é a Epidemiologia para você? 
Qual a sua utilidade em nossas vidas? 
 
Para respondermos a estas perguntas, precisamos conhecer a trajetória da 
epidemiologia ao longo da história da humanidade. 
 
1.2 Histórico da Epidemiologia 
 
Desde a Grécia antiga as diferenças entre a medicina individual e coletiva já 
eram notadas. De acordo com Rouquayrol e Almeida Filho (2003), o cuidado em 
saúde refletia um antagonismo ancestral entre as duas filhas do deus da medicina - 
Asclépios: Panaceia e Higeia. 
A terapia com fins curativos, de foco individualizado e sobre o doente era 
realizada por meio de manobras físicas, orações e pharmakon (medicamentos) e 
tinha Panacéia como padroeira. Entretanto, era próprio dos adoradores de Higéia o 
entendimento sobre a harmonia entre o homem e os ambientes como promotor de 
saúde e o desenvolvimento de ações preventivas, buscando equilíbrio entre os 
elementos fogo, terra, ar e água. Deriva-se então o termo higiene e simboliza a 
promoção de saúde, principalmente no sentido coletivo. 
Os primeiros relatos de assuntos epidemiológicos datam de 2.500 anos atrás. 
Hipócrates analisava as doenças em bases racionais, como produto da relação do 
indivíduo com o ambiente. Ao analisar as doenças levava em consideração o clima, 
a maneira de viver, os hábitos de comer e beber. Traduzia seu direcionamento à 
tradição Higéica. 
Scliar (2007, p.32) afirma, sobre a história do conceito saúde, que: 
http://migre.me/4dq
MA 
 
 
 
 
5 
www.eunapos.com.br 
Hipócrates postulou a existência de quatro fluidos (humores) 
principais no corpo: bile amarela, bile negra, fleuma e sangue. Desta 
forma, a saúde era baseada no equilíbrio desses elementos. Ele via o 
homem como uma unidade organizada e entendia a doença como 
uma desorganização desse estado. A obra hipocrática caracteriza-se 
pela valorização da observação empírica, como o demonstram os 
casos clínicos nela registrados, reveladores de uma visão 
epidemiológica do problema de saúde-enfermidade. [...] Essas 
observações não se limitavam ao paciente em si, mas a seu 
ambiente. 
 
O texto escrito por Hipócrates “Ares, águas, lugares” trata 
da relação entre a doença e os fatores ambientais, 
abordando o conceito ecológico de saúde-doença. Tal 
texto é o precursor da teoria dos miasmas, originário da 
crença de que a “má qualidade do ar” era responsável pelo 
desenvolvimento das doenças. A teoria defendia as 
emanações de regiões insalubres que tinham a capacidade 
de causar doenças como a malária (do latim “maus ares”), 
muito comum no sul da Europa (SCLIAR, 2007). 
Fonte: http://migre.me/4dqOJ 
 
Galeno, filósofo e médico hábil e experiente, 
desenvolveu um sistema totalmente contrário ao preconizado 
por Hipócrates, combatendo as doenças com substâncias que 
agiam sobre os sinais e sintomas, distribuídas em larga 
escala. Realizou, na Roma antiga, os primeiros censos 
periódicos de nascimentos e óbitos, descrevendo numerosas 
obras em grego. 
 
Fonte: http://migre.me/4dqRP 
 Na Idade Média, os saberes foram suprimidos e a saúde passou a ter um 
caráter mágico-religioso. Este período é marcado pelas batalhas entre religiões, com 
um aumento na força do Cristianismo e invasões dos bárbaros. Seu período é 
delimitado entre o ano de 476 d.C., depois da queda do Império Romano do 
Ocidente até 1453, com a queda do Império Romano do Oriente. 
http://migre.me/4dqOJ
http://migre.me/4dqRP
 
 
 
 
6 
www.eunapos.com.br 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://migre.me/4dqX5 
 
Alguns historiadores referem-se à peste negra como o pior desastre humano 
do continente Europeu em decorrência de sua alta letalidade. Sua transmissão se 
dava pelas pulgas dos ratos em contato com o homem. Entretanto, as más 
condições de higiene contribuíam para esta mortalidade (ROUQUAYROL; ALMEIDA 
FILHO, 2003). 
A salvação da alma era considerada superior a tudo e poderia ser paga com a 
perdição do corpo individual. Neste contexto, os menos afortunados tinham seus 
males “tratados” por religiosos em atos de caridade e também por outros leigos. Já 
na aristocraciahavia o cuidado com a saúde promovida por médicos (SANTOS, 
2006). 
A doença era sinal de desobediência ao mandamento divino. A 
enfermidade proclamava o pecado, quase sempre em forma visível, 
como no caso da lepra. [...] Em primeiro lugar, porque tal tratamento 
não estava disponível; em segundo, porque a lepra podia ser doença, 
mas era também, e, sobretudo, um pecado. O doente era isolado até 
a cura, [...] ele era proibido de ter contato com outras pessoas ou 
enviado para um leprosário. Esse tipo de estabelecimento era muito 
comum na Idade Média, em parte porque o rótulo de lepra era 
frequente, sem dúvida abrangendo numerosas outras doenças. 
(SCLIAR, 2007, p.30) 
 
A Medicina árabe teve seu apogeu no século X com a prática precursora da 
saúde pública e suas valiosas bibliotecas. As casas e as ruas eram limpas e as 
cidades possuíam saneamento. Médicos mulçumanos, com acesso aos textos 
gregos originais, adotaram os princípios hipocráticos, desenvolvendo organização 
http://migre.me/4dqX5
 
 
 
 
7 
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social, com registros de dados demográficos, sanitários e de vigilância 
epidemiológica. 
 
 
Figura 1 – Médico árabe utilizando ferros em brasa para cauterizar as feridas 
dos leprosos, na Idade Média 
Fonte: http://migre.me/4dqYv 
 
Os precursores da ‘medicina do coletivo’ são figuras históricas de Avicena e 
Averróes (como eram chamados no Ocidente). 
O médico e filósofo persa Avicena (980-1037) foi autor do “Canon da 
medicina”, considerado o principal tratado clínico da era medieval tardia, que, dessa 
forma, trouxe novamente os ensinamentos de Hipócrates e Galeno para a medicina 
Ocidental (PEREIRA, 2006). 
Averróes (1126–1198), também filósofo e médico, além de promover as ações 
de saúde higiênicas, foi um dos principais tradutores e comentadores das obras de 
Aristóteles. Segundo Pereira (2006, p.2), “apesar de terem vivido em épocas 
http://migre.me/4dqYv
 
 
 
 
8 
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distintas e em pontos opostos do império mulçumano, ambos compartilhavam uma 
modalidade de filosofia materialista e racionalista [...]” 
O ensino médico e a organização sanitária tiveram um progresso rápido. 
Curiosamente, as primeiras leis higiênicas consideradas fundamentais para a saúde 
na época são atribuídas a Maomé (SANTOS, 2006). A retomada de processos 
preventivos no ocidente, marcado pelo Renascimento, somente foi possível pela 
conservação dos textos médicos nas bibliotecas árabes durante o sombrio período 
medieval. 
A clínica moderna tem como fundador o médico e político inglês Thomas 
Syderham (1624-1689), também considerado um precursor da ciência 
epidemiológica, de caráter hipocrático. Ele realizou meticulosas observações 
antecipadoras, a chamada medicina científica e desenvolveu o conceito de “história 
natural das enfermidades”, adotado no século XX como medicina preventiva 
(ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003). 
No século XVII, o inglês John Graunt (1620-1674) desenvolveu um tratado 
sobre as tabelas mortuárias em Londres, identificando as 
taxas de mortalidade por sexo e região (urbano e rural) e 
quantos óbitos ocorriam em relação ao total da população. 
Seus registros identificaram elevadas taxas de mortalidade 
infantil e a relação entre as variações sazonais e o 
aumento de doenças específicas na população. É 
considerado o precursor dos estudos de demografia e das 
estatísticas vitais, a bioestatística (LAST, 1995). 
 
Fonte: http://migre.me/4dr0N 
 
No século XIX a Europa foi o centro das ciências em decorrência da 
Revolução industrial, êxodo rural e a ocorrência das epidemias de cólera, febre 
tifóide e febre amarela. Os estudiosos se dividiam entre a teoria dos miasmas e a 
teoria dos germes. 
Em 1835, o Francês Pierre Charles Alexandre Louis (1787-1872) introduziu o 
método estatístico na contagem dos eventos, aplicando métodos de pesquisa 
quantitativa à medicina clínica e revelou a letalidade da pneumonia em relação à 
época em que era iniciado o tratamento por sangria (PEREIRA, 2006). 
 
 
 
 
9 
www.eunapos.com.br 
Louis Villermé (1782-1863) foi pioneiro nos 
estudos sobre a origem social dos agravos. Investigou 
a estreita relação entre a situação socioeconômica e a 
mortalidade (saúde dos trabalhadores das indústrias 
de algodão, lã e seda). Publicou um relatório com o 
resultado de seus estudos sobre a mortalidade nos 
bairros de Paris (Tableau del’état physique et moral 
des ouvriers), concluindo que havia uma íntima 
relação entre a mortalidade e o nível de renda 
(PEREIRA, 2006; SCLIAR, 2007). 
 Fonte: http://migre.me/4dr76 
 
Estes estudos eram necessários porque a industrialização estava gerando 
doenças. Os padrões de regime de trabalho em nada se pareciam com os atuais e a 
saúde do trabalhador era ignorada. O que se via então eram trabalhadores doentes 
e isto gerava perdas financeiras para as indústrias e preocupava os sistemas 
públicos de saúde. Foi a partir de estudos sobre morbidade e qualidade de vida de 
trabalhadores que, lentamente, houve modificações nas 
legislações trabalhistas. 
O inglês William Farr foi o primeiro investigador a 
examinar séries temporais de morbimortalidade para longos 
períodos. Trabalhou 40 anos no Escritório Geral de registros da 
Inglaterra onde desenvolveu uma classificação das doenças, 
descrição das leis das epidemias sobre mortalidades (lei de 
Farr). 
Fonte: http://migre.me/4dr9m 
 
Os estudos deste renomado médico sanitarista e estatístico lhe permitiram 
identificar a média de vida da população, de acordo com a idade. Posteriormente se 
juntou a John Snow no estudo da cólera (FERNANDES, 2002; PEREIRA, 2006). 
A Inglaterra mostrava-se avançada em relação aos demais países quando se 
tratava de registros epidemiológicos, apesar de não receberem este nome na época. 
Atitudes corriqueiras atuais de registros de número de pessoas que nascem e que 
morrem, ou o mapeamento de doenças infecto-contagiosas não eram consideradas 
http://migre.me/4dr76
http://migre.me/4dr9m
 
 
 
 
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importantes. Havia uma visão muito pontual das doenças. Daí a importância de 
pesquisadores, na época gestores, com esta visão de controle sobre as doenças. As 
ações mais incisivas em saúde, desenvolvidas naquela época, surgiram das 
observações sobre o comportamento coletivo dos processos de doenças. 
O médico húngaro Ignaz Semmelweis (1818-1865) identificou uma alta taxa 
de morte puerperal na maternidade do Hospital Geral de Viena entre os anos de 
1841-1846. Suas observações sistemáticas demonstraram que os estudantes 
vinham às enfermarias realizar exames nas puérperas, logo após dissecações na 
sala de autópsia, causando maior taxa de mortalidade em relação à outra enfermaria 
onde esta rotina não acontecia da mesma forma. Ele suspeitou que os estudantes 
contaminavam as mulheres com algo infeccioso, apesar de não se saber o que era, 
de fato. 
Após a implantação do hábito rotineiro de higiene e desinfecção nas mãos, a 
mortalidade de puérperas em ambas as enfermarias da maternidade diminuíram 
drasticamente, entretanto, suas conclusões não foram aceitas por seus colegas 
(PEREIRA, 2006) 
A observação sistemática de maior impacto na história da epidemiologia, com 
uma grande repercussão até para os dias atuais, foi a identificação da contaminação 
da água como desencadeadora do cólera, que ao longo da história humana já havia 
matado milhares de pessoas. 
Foi o médico inglês anestesiologista John Snow quem 
publicou em 1855 informações referentes às investigações 
sobre os modos de transmissão do cólera, décadas antes da 
descoberta dos micro-organismos, baseando-se em dados de 
duas epidemias que ocorreram em Londres nos anos de 1849 
e 1854. 
Fonte: http://migre.me/4drd2 
O médico, responsável pelo ministério da saúde da cidade, após severo 
mapeamento dos doentes identificou o consumo de água poluída como responsável 
pelos episódiosda doença e traçou os princípios de prevenção e controle de novos 
surtos válidos ainda hoje, contrariando a teoria dos miasmas. Precursor da 
epidemiologia de campo sistematizou a coleta planejada de dados (LILIENFELD; 
LILIENFELD, 1980; PERERIRA, 2006). 
http://migre.me/4drd2
 
 
 
 
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A observação sistemática desenvolvida por Snow mostrava que algumas 
pessoas de locais não contaminados visitavam locais com grande número de casos, 
mas não desenvolviam a doença, enquanto outros contraíam o cólera. O que 
intrigava o médico era que quando o sujeito infectado voltava à sua região, este não 
contaminava os demais. Mas, identificar o modo de contágio era essencial para o 
controle da epidemia. 
Entrevistas individuais mostraram uma relação entre a ingestão de alimentos 
ou água e os indivíduos contaminados e por método de exclusão, chegou-se ao que 
havia de comum entre o estilo de vida e hábitos rotineiros dos indivíduos infectados. 
Deste modo, a relação entre a origem da água e os casos de cólera fica 
estabelecida, já que não havia apenas um reservatório de água na cidade, e que 
diferentes partes do rio Tâmisa abasteciam as diversas regiões e este fato explicaria 
por que algumas regiões tinham doentes e outras não. 
Um grande divisor no desenvolvimento de doenças foi a descoberta de Louis 
Pasteur (1822-1895) que identificou e isolou numerosas bactérias, identificou e 
estudou a fermentação alimentar (processo que originou as fermentações de 
alimentos e de bebidas alcoólicas), investigação de bactérias patogênicas e os 
princípios da “pasteurização” em 1865. A partir de então, com a descoberta dos 
agentes causais das doenças, a teoria dos miasmas perde força e credibilidade 
(PEREIRA, 2006). 
Na sua descoberta Pasteur associou o calor como um purificador de 
substâncias. Mas quando as substâncias entravam 
novamente em contato com o ar ambiente, perdia sua 
“pureza” e era possível encontrar colônias de bactérias 
neste material. Parte do material (meio de cultura) que 
ficava protegido, isolado, permanecia estéril. 
O início do século XX foi marcado pela grande 
influência da microbiologia. A formação do profissional 
sanitarista centrava-se no laboratório, e os demais ramos 
da medicina eram subordinados a este conhecimento. 
De acordo com Pereira (2006, p. 10): 
 Fonte: http://migre.me/4drjx 
 
http://migre.me/4drjx
 
 
 
 
12 
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[...] comprovou-se fartamente que seres microscópicos, dotados de 
características especiais, minuciosamente descritas, 
desempenhavam papel predominante na gênese de muitas doenças. 
A clínica e a patologia tornaram-se subordinadas ao laboratório, que 
ditava também padrões para a higiene e para a legislação sanitária. 
 
Neste momento, a saúde coletiva fica fragilizada e perde seu principal foco, o 
contato direto com a população, com o coletivo. 
Havia uma tendência a explicar todas as doenças por meio da ação de um 
agente causal. As doenças infecto-contagiosas matavam em larga escala e atraíam 
a atenção de todos o cientistas da época. Apesar de sabermos quão equivocada é 
esta posição, ela foi, de certo modo, adequada para o controle das diversas “pragas” 
existentes naquele período. Graças às ações dos grandes médicos cientistas, foram 
erradicadas doenças letais. 
No Brasil, no início do século XX, Oswaldo Cruz (1872-1917) fundou, em 
Manguinhos (RJ), o Instituto que leva seu nome, nos moldes do Instituto Pasteur 
(Paris), propiciando pesquisas e investimentos na área, além de combate à febre 
tifóide, febre amarela, peste bubônica e a varíola. A campanha de vacinação contra 
febre amarela foi executada com disciplina militar. As vacinações, de modo geral, 
causavam grande insatisfação popular pelo descrédito em relação a elas, somadas 
às medidas de demolição de imóveis insalubres (que permitiam a proliferação de 
ratos e dificultavam o controle da peste bubônica), desencadeando a Revolta das 
vacinas que ocasionou a morte de 30 pessoas, com 110 feridos e centenas de 
prisões efetuadas (MEDRONHO et al, 2009). 
Outros sanitaristas como Carlos Chagas (1879-1934), Adolfo Lutz (1855-
1940) (febre amarela) e Emílio Ribas (1862-1925) se destacaram pelas suas 
contribuições no combate a diferentes moléstias (PEREIRA, 2006). 
 
 
 
 
13 
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 Oswaldo Cruz 
http://migre.me/4dt6m 
 
 Carlos Chagas 
http://migre.me/4dt8P 
 
Adolfo Lutz 
http://migre.me/4dt9M 
 
Emílio Ribas 
http://migre.me/4dtft 
Figura 2 - Grandes sanitaristas brasileiros 
 
Apesar de o saneamento básico ser uma preocupação antiga da humanidade, 
com relatos desde a era Romana, algumas modificações aconteceram, em 
decorrência da teoria dos germes. O foco do saneamento ambiental, no controle de 
doenças contagiosas, visava ao combate dos miasmas. Assim, procurava-se projetar 
ruas largas, com rica ventilação, reservatórios de água. Os médicos eram 
consultados pelos governos e influenciavam no desenvolvimento geográfico das 
cidades. 
A urbanização do centro da cidade do Rio de Janeiro, com a 
drenagem de pântanos e a demolição de morros, desde os meados 
do século XIX, foi profundamente influenciada pelos profissionais de 
saúde que, na época, comungavam da visão miasmática das causas 
das doenças. Mas as descobertas científicas, ocorridas na medicina 
e na biologia fizeram com que o meio ambiente pudesse ser 
estudado mais cientificamente, colocando em destaque seu papel na 
transmissão [...]. O campo de investigação expandiu-se, para incluir 
os vetores e os reservatórios de agentes, o que resultou no 
esclarecimento do ciclo dos parasitas, ampliando as possibilidades 
de prevenção (PEREIRA, 2006. p.10). 
 
Após o final da Segunda Grande Guerra (1945), a Fundação Rockefeller 
passou a influenciar fortemente a formação do pensamento sanitário no Brasil. Após 
a II Grande Guerra, ficava fortalecida a ideia do controle e até mesmo da erradicação 
de doenças endêmicas, com o apoio da Organização Pan-Americana de Saúde 
(OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), sob influência do governo 
http://migre.me/4dt6m
http://migre.me/4dt8P
http://migre.me/4dt9M
http://migre.me/4dtft
 
 
 
 
14 
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americano. Dentre estas ações, podemos citar a erradicação da malária e 
temporariamente do Aedes aegypti (MEDRONHO et al, 2009), 
Em 1960, com o desenvolvimento da campanha de erradicação da varíola 
assim como da poliomielite 10 anos mais tarde, torna-se respeitado e consolidado o 
Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica no Brasil (MEDRONHO et al, 2009). 
 
Curiosidade 
Registros epidemiológicos sobre a varíola apontam um número aproximado 
de vítimas durante o século XX, de quase 500 milhões de pessoas. Esta foi 
considerada uma das doenças mais devastadoras da história da humanidade. A 
doença não tem cura e a vacinação é o único modo de controle. Em 1970, A OMS 
promoveu uma campanha mundial de vacinação O último caso de varíola no mundo 
foi registrado na Somália em 1977 (BRASIL, 2005). 
 
Fonte: http://migre.me/4dEvc 
Figura 3 - Criança infectada por varíola, com pústulas típicas desta 
enfermidade 
 
Na segunda metade do século XX houve uma grande mudança das doenças 
prevalentes de infecciosas para as doenças crônicas e degenerativas como causa 
de mortalidade e morbidade. O trajeto e desenvolvimento das doenças infecto- 
contagiosas era conhecido e muitas delas eram erradicadas em grande parte dos 
países. A qualidade de vida das populações, de modo geral, melhorou, aumentando 
a longevidade e permitindo o aparecimento de um novo desenho epidemiológico, 
http://migre.me/4dEvc
 
 
 
 
15 
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relacionado tanto à cronicidade de patologias como à degeneração natural do 
organismo (SOARES et al., 2001). 
Neste período, doenças de causas externas também ganhavam amplitude 
(acidentes de trânsito ou de trabalho, homicídios, envenenamentos,dentre outras), 
assim como os desvios nutricionais (obesidade, desnutrição, anemia). Diversos 
fatores de risco foram mapeados (tabagismo, hipercolesterolemia, atividade física, 
etc.) e o foco dos tratamentos também incluía a prevenção pela minimização de 
fatores de risco (SOARES et al., 2001). 
A determinação das condições de saúde da população (inquéritos de 
morbidade e de mortalidade) e a busca sistemática de fatores antecedentes ao 
aparecimento das doenças, que possam ser rotulados como agentes ou fatores de 
risco (rubéola, cigarro, e coronariopatias) fortalecem os estudos epidemiológicos e 
sua relevância. 
A avaliação da utilidade e da segurança das intervenções propostas para 
alterar a incidência ou a evolução da doença, através de estudos controlados 
(estreptomicina na tuberculose, fluoretação da água, vacina contra poliomielite) 
passa a servir de subsídios de ações em saúde (PEREIRA, 2006). 
 
 
Exercício 1 
 
Marque a alternativa INCORRETA: 
a) a) Desde a Grécia antiga os cuidados em saúde são divididos entre a prevenção e o 
tratamento das doenças. 
b) b) Na Grécia, o médico Hipócrates analisava a origem das doenças e sua relação 
com o ambiente. Entretanto, tempos depois em Roma, Galeno preconizava o 
contrário, com medicações em larga escala. 
c) c) A peste negra foi considerada como o pior desastre humano do continente e foi 
amplamente estudada pelos epidemiologistas da Idade Média. 
d) d) Com o advento do Renascimento, houve uma retomada de processos 
preventivos disseminados por Hipócrates e outros estudiosos, graças à 
conservação dos textos médicos nas bibliotecas árabes. 
 
 
 
 
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e) e) Os primeiros registros de morbimortalidade foram desenvolvidos por John 
Graunt, em Londres, no século XVII. 
 
1.3 Situação atual 
Praticamente todos os agravos à saúde já foram ou estão sendo estudados 
através de estudos epidemiológicos, levando-se em consideração o complexo 
modelo de multicausalidade. A partir deste modelo, surge a necessidade da 
epidemiologia analítica, com maior rigor nas análises estatísticas e metodológicas. 
Não cabe mais o estudo apenas de fatores físicos e biológicos (PEREIRA, 2006). 
Barata (2000) ressalta em seus relatos que “as explicações da teoria da 
multicausalidade caracterizam-se por incluir aspectos relativos à organização da 
sociedade e à cultura entre fatores que contribuem para a produção das doenças, 
sem que constituam necessariamente determinantes do processo”. É nesta 
incorporação dos princípios da psicologia e sociologia que se tornam evidentes as 
dificuldades de explicações sobre a grande maioria das questões de etiologia e 
prognóstico das doenças apenas pela ação dos agentes microbianos e físicos. 
A teoria da multicausalidade considera a saúde como sendo determinada por 
um conjunto de fatores agrupados, em quatro grandes categorias: 
 estilo de vida; 
 ambiente; 
 organização dos cuidados; 
 biologia humana . 
Para entendermos melhor a amplitude da Epidemiologia é necessário 
conhecermos como a população fica vulnerável às doenças, ou seja, o que nos torna 
mais ou menos propenso ao desenvolvimento de quadros patológicos. Mas, é 
fundamental uma visão que contemple a Saúde e somente depois o 
desenvolvimento de doenças e a distinção entre ações individualizadas e coletivas 
de saúde. 
Soares et al (2001, p.184) procuram diferenciar os tipos de ações em atenção 
clínica e coletiva fazendo o seguinte comparativo: 
[...] diferentemente da Clínica, que estuda o processo saúde-doença 
em indivíduos, com o objetivo de tratar e curar casos isolados, a 
Epidemiologia se preocupa com o processo de ocorrência de 
 
 
 
 
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doenças, mortes, quaisquer outros agravos ou situações de risco à 
saúde na comunidade, ou em grupos dessa comunidade, com o 
objetivo de propor estratégias que melhorem o nível de saúde das 
pessoas que compõem essa comunidade. Um dos meios para se 
conhecer como se dá o processo saúde-doença na comunidade é 
elaborando um diagnóstico comunitário de saúde. O diagnóstico 
comunitário, evidentemente, difere do diagnóstico clínico em termos 
de objetivos, informação necessária, plano de ação e estratégia de 
avaliação. 
 
O quadro abaixo demonstra as principais diferenças entre diagnóstico clínico 
e epidemiológico. 
 
Quadro 1 - Diferenças entre as características observadas no diagnóstico 
clínico e no diagnóstico epidemiológico 
 Diagnóstico Clínico Diagnóstico Epidemiológico 
Tipo de Diagnóstico Individual Comunitário 
Objetivo Curar a doença da pessoa 
Melhorar o nível de saúde da 
comunidade 
Informação necessária 
História Clínica 
Exame Físico 
Exames complementares 
Dados sobre a população 
Doenças existentes 
Causas de morte 
Serviços de saúde, etc. 
Plano de ação 
Tratamento 
Reabilitação 
Programas de saúde prioritários 
Avaliação 
Acompanhamento 
Clínico 
Mudança no estado de saúde 
da população 
Fonte: Adaptado de Vaughan e Morrow (1992) 
 
Exercício 2 
Marque a alternativa INCORRETA: 
a) a) Ainda hoje as doenças infecciosas são a principal causa de morte no Brasil, 
sendo foco principal dos epidemiologistas e das ações de políticas públicas em 
saúde. 
 
 
 
 
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b) b) No período em que vigorava a teoria dos miasmas, os hospitais eram 
remodelados ou construídos utilizando arquitetura que promovesse grandes 
passagens de ar, evitando o contágio de doenças e melhorando o ar das 
enfermarias. 
c) c) Na Era Medieval, as doenças eram atribuídas a espíritos malignos e o tratamento 
era realizado por orações e ervas sendo a cura atribuída a milagres obtidos através 
da súplica, mortificação e arrependimento dos pecados. 
d) d) Louis Pasteur identificou e isolou as bactérias identificando os agentes causais 
das doenças. Assim, a teoria dos miasmas perde força e credibilidade. 
e) Graças às pesquisas desenvolvidas por grandes sanitaristas brasileiros como 
Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Adolfo Lutz e Emílio Ribas doenças letais como 
febre tifóide, peste e varíola foram erradicadas no Brasil. 
 
1.4 Pilares da Epidemiologia atual 
Com o desenvolvimento da epidemiologia, conforme já descrito, os estudos da 
epidemiologia expandiram-se para as áreas clínica e social e foram contemplados 
nos currículos de graduação de todos os profissionais da saúde. Desta maneira, 
Pereira (2006) subdivide o conhecimento em epidemiologia em três pilares: Ciências 
Biológicas, Ciências Sociais e Estatística, conforme discutiremos a seguir: 
 
 
Figura 4 – Pilares da epidemiologia atual 
Fonte: Elaboração própria 
PPIILLAARREESS DDAA 
EEPPIIDDEEMMIIOOLLOOGGIIAA 
AATTUUAALL 
CCllíínniiccaa 
((CCiiêênncciiaass BBiioollóóggiiccaass) 
EEssttaattííssttiiccaa 
((CCiiêênncciiaass EExxaattaass)) 
MMeeddiicciinnaa SSoocciiaall 
((CCiiêênncciiaass SSoocciiaaiiss)) 
 
 
 
 
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a) Ciências Biológicas 
Nos conhecimentos biológicos encontramos o embasamento necessário 
para a compreensão das doenças e assim podemos identificar, descrever e 
classificar adequadamente os diversos tipos 
patogênicos existentes. 
A associação entre a clínica, a microbiologia, a 
patologia, a parasitologia, a imunologia, etc, de acordo 
com Pereira (2006, p.13), “contribui para que se atinja 
um maior grau de precisão na determinação da 
frequência com que estão ocorrendo na população, o 
que se reflete na qualidade dos estudos de correlação e 
nas pesquisas de maneira em geral”. 
Fonte: http://migre.me/4drMj 
 
b) Ciências Sociais 
A sociedade, como está organizada, oferece 
proteção aos indivíduos, mas também determina os 
riscos de adoecer, bem como o maior ou menor acesso 
à prevenção das doenças e à promoção e recuperação 
da saúde. Pereira (2006, p.13) completa suas 
fundamentações sobre as influências da sociedade 
sobre a saúde afirmando: 
Fonte: http://migre.me/4ds6ZAs ciências sociais dispõem de teorias e métodos, além de toda 
uma tradição em pesquisa, que estão sendo trazidos para 
epidemiologia como instrumentos e formas de abordagem a serem 
empregadas na investigação das relações entre a saúde e 
sociedade. 
 
c) Estatística 
“É a ciência e a arte de coletar, resumir e analisar dados sujeitos e variações” 
(LAST, 1995). Tem papel de destaque na determinação e seleção da amostra, na 
análise dos dados, nas associações e controle das variáveis, etc. Garante a 
aleatoriedade da amostra e o controle das variáveis que influenciam na leitura dos 
http://migre.me/4drMj
http://migre.me/4ds6Z
 
 
 
 
20 
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dados coletados. A estatística deve estar presente 
desde o planejamento da pesquisa epidemiológica, 
estimando o tamanho da amostra necessária para 
garantir uma abrangência adequada da população ou 
evento estudado. A utilização da informática por meio 
dos programas estatísticos para análise de grandes 
grupos amostrais dinamizou as tarefas de cálculo, 
aproximando ainda mais as duas áreas. 
 Fonte: http://migre.me/4dtRX 
Katz (2001) divide em 9 tópicos as contribuições da epidemiologia às 
ciências médicas. São elas: 
1. Realizar investigação epidemiológica do modo de transmissão de novas 
patologias, possibilitando o conhecimento sobre os determinantes do processo 
saúde/doença. Principalmente a identificação do agente 
causal ou fatores relacionados à causa dos agravos à 
saúde. 
 Estudos epidemiológicos e de vigilância em 
saúde permitem formulação de hipóteses sobre a história 
natural de doenças pouco conhecidas, como, por 
exemplo, gripe aviária (Influenza H5N1) e gripe suína 
(Influenza A H1N1). 
Fonte: http://migre.me/4g903 
 
Vamos exemplificar para melhor compreensão, analisando a reportagem 
publicada pela Revista Veja.com, de Agosto de 2009. Disponível em: 
<http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/gripe_suina/gripe-
suina.shtml>. 
 
Tomamos como referência a gripe suína, por esta ser a epidemia mais 
recente. Os primeiros casos foram identificados em março de 2009, no México. 
http://migre.me/4dtRX
 
 
 
 
21 
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Centenas de pessoas começaram a procurar unidades de saúde com sintomas de 
febre acima de 38º, tosse, dor nas articulações, prostração e dificuldade respiratória. 
Inicialmente, pensava-se tratar de uma gripe comum, mas a quantidade de casos e 
os desfechos com vários casos de óbitos (em abril de 2009 somavam-se 
aproximadamente 149 mortes no México) alertaram os governantes, as vigilâncias 
sanitárias de diversos países, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a 
Organização das Nações Unidas (ONU). Havia o risco de uma nova Pandemia 
Mundial, por um devastador efeito dominó. 
Este padrão de disseminação foi comprovado quando casos foram 
identificados em outras partes do mundo, incluindo os Estados Unidos, Canadá, 
América Latina, Ásia, Europa e Austrália. 
Para conhecer o tipo de patologia com que estavam lidando, médicos 
patologistas isolaram e identificaram o vírus Influenza A H1N1. A gripe recebeu o 
nome de ‘suína’ pois um teste de laboratório mostrou semelhança entre os genes 
deste vírus e do vírus precursor de gripe em porcos da América do Norte. Mais 
tarde, foi comprovada a diferença entre estes, demonstrando que o vírus da nova 
gripe continha material genético dos vírus humanos, de aves e suínos. 
Apesar do nome e do temor da população, ficou estabelecido que o contágio 
não ocorria por ingestão de carne de porco, mas por via aérea, de pessoa para 
pessoa, principalmente pelo contato com gotículas contaminadas expelidas em 
tosses e espirros. Ficou comprovada uma maior contaminação em locais fechados e 
entre indivíduos com menos hábitos de higiene, principalmente relacionado à 
lavagem das mãos. 
Depois de identificados epidemiologicamente os meios de transmissão desta 
nova doença, os estudos focaram-se em medidas de controle em que as pessoas 
infectadas foram tratadas com uso de medicamentos (Tamiflu®), mantidas em 
isolamento, assim como sua família também ficava em observação. A vigilância 
epidemiológica de vários países lançou mão de manter em quarentena as pessoas 
que viajaram para locais de maior incidência da doença, assim como os que tinham 
contato com pessoas contaminadas. 
 
 
 
 
 
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2. Identificação das causas evitáveis, entendendo a causa dos agravos à 
saúde. Após identificação da causa da doença e seu modo de transmissão, é 
possível desenvolver ações para interrupção do processo patogênico (ex: vacinação, 
isolamento, hábitos relacionados, aconselhamento genético). 
 
Quadro 2 - Categoria de causas evitáveis (Fatores BEINGS) 
B Biológicos e Comportamentais 
E Ambientais (Environmental) 
I Imunológico 
N Nutricionais 
G Genéticos 
S Outros (Services, Social, Spiritual) 
Fonte: Adaptado de Katz (2001) 
 
3. Compreensão da história natural das doenças, determinando os modos 
de transmissão, os fatores contribuintes aos agravos à saúde, e também identificar e 
explicar os padrões de distribuição geográfica das doenças. 
Estudos epidemiológicos permitem distinguir as causas sociais das 
ambientais, assim como os mecanismos biológicos das doenças. Por exemplo: a 
ingestão excessiva de gorduras e açúcares junto com o sedentarismo contribuem 
para o surgimento do diabetes. A hiperglicemia sanguínea caracteriza o mecanismo 
biológico da doença. 
 
4. Conhecimento das características biológicas das doenças. A maioria das 
doenças apresenta uma variação da sua gravidade nos indivíduos, sendo que os 
casos mais graves de doenças desconhecidas certamente chamam mais a atenção. 
Esta variação é explicada pelo fenômeno de iceberg. A Organização Mundial 
da Saúde o define como uma evidência de pequena porção de casos clínicos em 
relação à elevada proporção de infecções inaparentes de determinadas doenças 
(BRASIL, 1983). 
 
 
 
 
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* Casos assintomáticos incluem casos sintomáticos que não procuram o serviço de saúde, os casos 
que procuram o serviço de saúde, mas não são diagnosticados e os casos diagnosticados, mas não 
registrados e/ou informados 
Figura 5 – Fenômeno de iceberg 
Fonte: Elaboração própria 
 
5. Avaliação das intervenções em saúde coletiva, desenvolvendo 
tecnologias efetivas para a descrição e a análise das situações de saúde, 
fornecendo subsídios para o planejamento e a organização das ações de saúde. Por 
exemplo: vigilância de determinada doença após implantação de um tratamento 
específico ou vacina, também em avaliações sobre a eficácia de programas públicos 
de saúde provendo dados para a administração e avaliação de serviços de saúde. 
6. Classificação de prioridades no controle das doenças e auxílio no 
planejamento das medidas preventivas bem como o desenvolvimento de serviços de 
saúde. As prioridades referem-se não somente à magnitude do problema de saúde 
como nas projeções dos efeitos futuros. Determinação de como os recursos 
destinados à prevenção e controle de doenças possam ser melhor aproveitados. 
7. Aprimoramento do diagnóstico, tratamento e prognóstico das 
doenças, identificando quais testes são mais apropriados e mais acurados, 
comparando diferentes tipos de tratamento e selecionando o mais eficiente. Melhora 
a compreensão da história natural de uma doença e seu prognóstico. 
Casos Invisíveis 
ou “portadores” 
Morte 
Doença clínica 
Quadros assintomáticos * 
Casos visíveis ou 
conhecidos 
 
 
 
 
 
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A triagem neonatal é um bom exemplo de diagnóstico precoce de várias 
doenças que podem ser identificadas desde o nascimento evitando agravos, por 
vezes irreversíveis, à saúde da população. 
A triagem neonatal é uma ação preventiva que permite fazer o 
diagnóstico de diversas doenças congênitas ou infecciosas, 
assintomáticas no período neonatal,a tempo de se interferir no curso 
da doença, permitindo, desta forma, a instituição do tratamento 
precoce específico e a diminuição ou eliminação das sequelas 
associadas a cada doença (BONINI-DOMINGOS, 2010, p.99). 
 
 
 
Fonte: http://migre.me/4dM3C 
 
8. Melhora na qualidade de pesquisas em saúde com vistas ao controle de 
doenças. A metodologia epidemiológica pode ser empregada na avaliação de 
programas, atividades e procedimentos preventivos e terapêuticos, tanto no que se 
refere a sistemas de prestação de serviços quanto ao impacto das medidas de 
saúde na população. Os dados permitem diferenciar as necessidades regionais e 
direcionar novas pesquisas em saúde. 
9. Testemunhando em processos legais. De acordo com Katz (2001), “os 
epidemiologistas podem testemunhar em processos relativos a produtos perigosos, 
riscos e efeitos da exposição ambiental, doenças ocupacionais, responsabilidade 
médica e de produtos”. 
 
 
 
 
 
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Exercício 3 
 
Marque a alternativa correta: 
a) a) A epidemiologia é uma disciplina que eventualmente pode compor a grade 
curricular dos cursos da saúde que procura compreender o processo saúde-doença 
relacionado às populações. 
b) b) A epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde-doença no indivíduo, 
analisando os fatores que determinam as doenças. 
c) c) Dentre as ações do epidemiologista inclui-se determinar o modo de transmissão 
das doenças e racionalizar recursos de saúde. 
d) d) O aspecto coletivo é a principal diferença entre a epidemiologia e a clínica, 
porque não estuda o processo saúde-doença com foco individual. 
e) e) Quando não há controle das doenças por método terapêutico tradicional, a 
epidemiologia procura identificar os fatores complicadores e não totalmente 
compreendidos pelos profissionais da saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 2 – PROCESSO SAÚDE E DOENÇA 
 
Para tornar possíveis as análises sobre a saúde, bem como sobre o processo 
de adoecimento de uma população, são necessários conhecimentos básicos sobre o 
conceito de saúde e doença. A partir de então, poderemos aprofundar as discussões 
sobre a história natural das doenças no homem. 
Para compreendermos melhor o conceito da mutualidade saúde–doença 
precisamos inicialmente fragmentá-las para depois reintegrá-las dentro dos demais 
fatores envolvidos. 
 
2.1 Conceitos de Saúde 
Vários conceitos procuram denominar o termo saúde ou o que é ser saudável. 
Conforme já descrito acima, a OMS em 1948, definiu saúde como “estado completo 
de bem-estar físico, mental e social e não meramente ausência de doença” e implica 
o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e 
proteção da saúde (PEREIRA, 2006). Esta é uma visão um tanto utópica, já que o 
ser social está cotidianamente exposto a questões que podem momentaneamente 
ou de forma mais incisiva, 
desestabilizar esta situação. 
Vejamos um exemplo: Um 
homem, chefe de família, está 
passando por situação de estresse no 
trabalho, com rumores de corte de 
funcionários e suas características, 
como idade mais avançada, estariam 
na mira dos gestores da empresa. 
 Fonte: http://migre.me/4dsfk 
 
Como poderemos afirmar que ele está com um completo bem-estar psíquico 
quando sofre tamanha pressão? 
http://migre.me/4dsfk
 
 
 
 
27 
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Em uma outra hipótese, podemos citar o caso de centenas de brasileiros 
desempregados, passando por situações de desfavorecimento social, onde pode 
ocorrer desde a diminuição da renda familiar a complicações maiores como perda de 
moradia, dentre outras. Mas, ao considerarmos este indivíiduo doente, temos que 
levar em consideração a maneira como ele interage com estes fatores 
complicadores, que por sua vez são co-dependentes das experiências de vida, 
valores culturais adquiridos ao longo do tempo e demais fatores que possam 
influenciá-lo na tomada de decisões e enfrentamentos. 
De acordo com Scliar (2007), um conceito formulado em 1974 por Marc 
Lalonde, titular do Ministério da Saúde e do Bem-estar do Canadá, analisava os 
fatores que interferiam na saúde pública, considerada o campo da saúde. Estes 
fatores englobam: 
 Biologia humana: relacionada à herança genética e os processos 
biológicos próprios da vida; 
 Meio ambiente: relacionado ao solo, à água, ao ar, à moradia, ao local 
de trabalho; 
 Estilo de vida: relacionado 
às decisões que afetam a 
saúde: fumar ou deixar de 
fumar, beber ou não, praticar ou 
não exercícios; 
 Organização da 
assistência à saúde. Engloba 
desde as ações preventivas 
relacionadas à alimentação 
adequada, não adesão aos 
vícios, até as diversas 
complexidades de tratamento. 
 Fonte: http://migre.me/4dEzG 
 
O Canadá, desde então, mostrou-se celeiro do modelo de sistemas eficazes 
de saúde. Westphal (2006, p. 659), relata que em 1986, na 8º Conferência Mundial 
de Saúde, promovida pela OMS, foi elaborada a ‘Carta de Otawa’ que descreve 
 
 
 
 
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saúde como estado ideal e também como um conceito positivo que enfatiza as 
potencialidades dos indivíduos. A autora complementa com dados pertinentes ao 
nosso País, citando que “A Constituição brasileira no seu capítulo de Saúde, 
institucionalizou saúde como um direito humano básico, um direito de todos e dever 
do Estado”. 
Em uma visão mais ampla, saúde foi definida na 8a Conferência Nacional de 
Saúde em 1986 (p. 4), como: 
[...] resultante das condições de alimentação, educação, renda, meio 
ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e 
posse da terra, acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, 
resultado de formas de organização social de produção, as quais 
podem gerar profundas desigualdades nos níveis de vida. 
 
As modificações sobre o entendimento do que seja saúde começam a ser 
realidade em todos os povos, com o objetivo único da melhoria da qualidade de vida 
das populações. Saúde deixa de ser apenas o estado de ausência de doenças e 
ganha um caráter mais amplo. 
No Brasil, os reflexos da 8º Conferência Mundial de Saúde, somada à 8a 
Conferência Nacional de Saúde, dentro de um momento repleto de reivindicações 
por meio dos movimentos sociais, subsidiaram a construção do Sistema Único de 
Saúde brasileiro além da regulamentação específica do seu conceito em nossa 
Carta Magna. 
Concordando com Scliar (2007, p.30), a frase “saúde não representa a 
mesma coisa para todas as pessoas” é pertinente, pois as pessoas são 
heterogêneas, em todos os aspectos, e suas concepções acerca da saúde assim 
como sobre demais conceituações estão relacionadas às histórias pessoais de vida, 
época, classe social, religião e suas impressões sobre todos os determinantes. 
 
2.2 Conceitos de Doença 
Segundo Jenicek e Clérox (1982), 
A doença é um desajustamento ou uma falha nos mecanismos de 
adaptação do organismo ou uma ausência de reação aos estímulos a 
cuja ação está exposto. O processo conduz a uma perturbação da 
 
 
 
 
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estrutura ou da função de um órgão, ou de um sistema ou de todo o 
organismo ou de suas funções vitais. 
 
O Ministério da Saúde traz um simplificado conceito de 
doença, colocando-a como uma alteração ou desvio do estado 
de equilíbrio de um indivíduo com o meio ambiente (MS, 1987). 
Fonte: http://migre.me/4dsuz 
O médico e filósofo francês Canguilhem (2000), em sua tese de doutorado 
sobre “o normal e o patológico”, afirma que “a doença não é uma variação da 
dimensão da saúde, ela é uma nova dimensão da vida”. 
De acordo com Barros (1998), a doença pode ser encarada como um fator 
externo ao equilíbrio normal do organismo, resultado de 
uma reação saudável de defesa ou até mesmo de 
adaptação do indivíduo às condições novas e diferentes. 
Portanto, é bastante difícil designar se uma pessoa 
está saudável ou doente se levarmosem consideração o 
“normal” e o “anormal”, uma vez que estes são adjetivos um 
tanto subjetivos e por vezes nos faltam parâmetros 
comparativos de normalidade. Já disse em trovas e versos 
o cantor Caetano Veloso: “... de perto ninguém é normal”. 
 
Fonte: http://migre.me/4dsDd 
Bonetti (2004, p.1), ao analisar os textos de Canguilhem, cita que: 
O sujeito imagina o que é não estar doente e age na concretização 
deste imaginário. Para ser normal tem que se levar em conta o 
conceito de equilíbrio e adaptabilidade, é necessário considerar o 
meio externo e o trabalho que o organismo ou suas partes devem 
efetuar. 
 
Para Canguilhem (2000), a medicina existe porque há homens que se sentem 
doentes. Somente depois é que eles percebem em que consiste a doença. 
Levando-se em consideração a formação cartesiana da maioria dos 
profissionais de saúde, o Ser doente não é considerado como um todo, único, 
http://migre.me/4dsuz
http://migre.me/4dsDd
 
 
 
 
30 
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integral, e sofre uma fragmentação terapêutica. Neste Ser fragmentado são 
exercidas técnicas que visam à cura ou, ao menos, minimização dos sintomas 
patológicos do fragmento em questão. 
Canguilhem (2000) se reporta à concepção patológica de Bichat, que 
considera que na vida existem dois fenômenos, o estado de saúde e o estado de 
doença, divididos em duas ciências diferentes, a fisiologia e a patologia, 
respectivamente. Para o autor, o estado fisiológico está mais relacionado ao estado 
saudável do que com o estado de normal. “O estado patológico expressa a redução 
das normas de vida toleradas pelo ser vivo, a precariedade do normal estabelecido 
pela doença”. 
Historicamente, doença, patologia e anormalidade 
representam um único estado, enquanto a terminologia 
normalidade significa saúde (BONETTI, 2004). 
Bonetti (2004) traduz de forma tão clara e objetiva o 
Ser doente que nos remete a uma realidade vivenciada 
cotidianamente por muitos profissionais da saúde, 
independente da área específica de atuação: 
Fonte: http://migre.me/4fdO1 
 
... percebe-se a dificuldade de avaliar e interpretar o ser doente, 
decorrente de vários fatores como a idade e as crises naturais da 
idade adulta ou a dos jovens; culturais; sexuais; afetivos; 
socioeconômicos, e, além disso, se move no tempo. Não há um 
doente efetivo, mas um processo em andamento e um “tempo doente 
vivido pelo ser”, com possibilidades de resultados positivos na busca 
de ser saudável. O ser doente não é um ser anormal, é um ser que 
vivencia uma doença e que tem várias possibilidades de 
restabelecimento do ser saudável, porém deverá encontrar para isso, 
o melhor caminho para compreensão de seu estado temporário para 
atingir novas dimensões de vida (BONETTI, 2004, p. 1). 
 
Uma vez diferenciados os conceitos sobre saúde e doença e para 
relacionarmos aos preceitos de Epidemiologia precisamos entender o processo 
saúde-doença associadamente, incluindo todos os fatores extrínsecos e intrínsecos 
entremeados neste processo. Passamos a analisar a partir de agora a história 
natural das doenças nas populações. 
 
 
 
 
 
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Exercício 4 
 
Em relação às concepções de saúde e de doença expressas no texto, assinale 
a alternativa INCORRETA: 
a) Saúde é o estado completo de bem-estar físico, mental e social e não meramente 
a ausência de doença. 
b) Biologia humana, Meio ambiente, Estilo de vida e Organização da assistência à 
saúde são fatores que determinam o estado de saúde do indivíduo. 
c) A doença não é uma variação da dimensão da saúde, ela é uma nova dimensão 
da vida. 
d) Os estados de saúde e doença independem da alteração ou desvio do estado de 
equilíbrio de um indivíduo com o meio ambiente. 
e) A doença pode ser encarada como um fator externo ao equilíbrio normal do 
organismo, resultado de uma reação saudável de defesa ou até mesmo de 
adaptação do indivíduo às condições novas e diferentes. 
 
 
2.3 História Natural da Doença 
De acordo com Rouquayrol e Goldbaum (2003), a epidemiologia estuda as 
ocorrências em escala maciça de doença e não doença envolvendo pessoas 
agregadas em sociedades, coletividades, comunidades, grupos demográficos ou 
qualquer outro coletivo formado por seres humanos. 
A Epidemiologia está focada nos processos de doença, morte, ou outros 
agravos ou situações de risco à saúde de toda população de um determinado local 
(comunidade), ou em grupos dessa comunidade. Por meio de suas observações é 
possível propor ações que elevem o nível de saúde dessas pessoas. Esta postura do 
cuidado coletivo difere da atuação Clínica, que estuda o processo saúde-doença em 
indivíduos, com o objetivo de tratar e curar casos individualmente. 
Existem vários modelos de explicação do processo saúde-doença. O modelo 
biomédico entende doença como um desajuste ou falha nos mecanismos de 
adaptação do organismo ou uma ausência de reação aos estímulos a cuja ação está 
exposto, resultando em alteração da estrutura ou da função de um órgão, um 
 
 
 
 
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sistema ou ainda de todo organismo, ou de suas funções vitais. As doenças, sob o 
ponto de vista etiológico, pertencem a duas categorias: doenças infecciosas e não 
infecciosas, entretanto este modelo privilegia as doenças infecciosas. As doenças 
não infecciosas são definidas por exclusão. Sob o ponto de vista de duração, as 
doenças são crônicas e agudas. As crônicas são as que se desenrolam a longo 
prazo, enquanto que as agudas são de curta duração (ROUQUAYROL e 
GOLDBAUM, 2003). 
No modelo processual, utilizado neste momento, representa a história natural 
da doença, Os processos de ausência de saúde são estudados pela epidemiologia 
sob a classificação de doenças infecciosas (sarampo, difteria, malária, etc.) e não 
infecciosas (diabetes, hipertensão, depressão, etc.), além dos agravos à integridade 
física (acidentes, homicídios, suicídios) 
Nos casos de doenças infecciosas, existem muitas razões para que o agente 
causador do agravo esteja presente no ambiente do indivíduo, assim como se este 
estaria exposto ou não exposto ao agente e sendo variável sua resistência ou não a 
este agente causador de doenças (KATZ, 2001). 
Na prática diária do profissional da saúde, nos 
deparamos diversas vezes com situações típicas de 
agravos à saúde determinadaS por ação de um 
agente infeccioso. A varicela (catapora) seria um 
exemplo típico, pois o indivíduo quando exposto, pode 
ou não ser contaminado e apresentar quadros leves 
ou até mesmo severos da doença, sendo esta 
variação dependente de suas condições 
imunológicas. 
Fonte: http://migre.me/4dLSI 
As doenças não infecciosas apresentam frequentemente, uma interação 
múltipla de fatores de risco, podendo estar presentes tanto no genótipo, no hábito 
nutricional, no estilo de vida e o ambiente em que este indivíduo está inserido (KATZ, 
2001). 
Para ilustração deste grupo de doenças vamos utilizar o acidente vascular 
cerebral (AVC), uma doença de origem multicausal, comumente fruto da relação 
entre o sedentarismo, colesterol alto, estresse e hipertensão arterial. 
 
 
 
 
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Algumas doenças são decorrentes de agravos à integridade física. Na 
atualidade, os politraumatismos, decorrentes de acidentes de trânsito, são próprios 
da interação de fatores, por vezes fatais, relacionados a comportamentos e 
sucessiva exposição ao risco. 
A epidemiologia, então, trabalha sobre o conjunto de processos sociais 
interativos e um, em especial, é o processo saúde-doença. 
Rouquayrol e Goldbaum (2003, p.20) definem o processo saúde-doença 
como: 
[...] o modo específico pelo qual ocorre, nos grupos, o processo 
biológico de desgaste e reprodução, destacando como momentos 
particulares a presença de um funcionamento biológico diferente, 
com consequência para o desenvolvimento regular das atividades 
cotidianas, isto é, o surgimento de doenças.Este processo de saúde-doença procura esclarecer todos os aspectos 
envolvidos no adoecimento dos indivíduos assim como em seus coletivos. E é 
importante entendermos que o processo de adoecimento começa muito antes da 
doença em si. Este é dependente da exposição aos riscos e da pré-disposição 
pessoal ou de uma população, para que a doença se manifeste. 
Um modelo de encarar o processo saúde-doença em um ponto de vista mais 
abrangente, dentro de um contexto social, é transmitido por Minayo (1988, p.363): 
O modo de pensar saúde-doença que é, ao mesmo tempo, o modo de 
pensar a vida e a morte, remete às raízes tradicionais desses grupos, 
mas também à sua inserção no mundo industrial; faz parte do imaginário 
social que ultrapassa os limites de tempo, do espaço e das classes, mas 
se projeta de forma específica, contribuindo tanto para definir como para 
questionar as políticas e os serviços oficiais de saúde. 
 
Pereira (2006) ressalta que a doença não é 
uniforme, podendo desenvolver diferentes variações de 
um caso para outro. Entretanto, apesar da variabilidade, 
as doenças decorrem seguindo alguns padrões que 
podem ser distribuídos em cinco categorias principais: 
 
Fonte: http://migre.me/4ffbV 
 
 
 
 
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 Evolução aguda, rapidamente fatal. Doenças como a raiva, o tétano, 
meningite e exposição radioativa exemplificam este padrão de evolução de 
doenças, quando por muitas vezes, não há tempo hábil de intervenção clínica, 
ou mesmo que esta ocorra, não é eficaz. 
 Evolução aguda clinicamente evidente e com rápida recuperação na 
maioria dos casos. As infecções respiratórias causadas por vírus ilustram esta 
evolução das doenças. Tão rápida como o aparecimento dos sintomas e o 
desenlace do processo patogênico – cura. 
 Evolução sem alcançar o limiar clínico, de modo assintomático o que 
permite que o indivíduo não tome conhecimento do processo patológico, 
exceto nos casos em que realiza exames laboratoriais. Doenças como a 
toxoplasmose são típicas deste processo evolutivo. O indivíduo, por vezes, 
descobre ao acaso que já possui anticorpos para determinados agentes 
patogênicos (gestantes no pré-natal). Nesta mesma linha de raciocínio, 
podemos citar a rubéola, uma vez que pode ter sido tratada como um quadro 
viral típico, ou reação alérgica desconhecida, de curso rápido, sendo 
descoberto somente por hemograma. 
 Evolução crônica, sintomática e apresentando evolução insatisfatória 
levando o doente a óbito após longo período. As doenças cardiovasculares de 
característica degenerativa, as doenças neuromusculares degenerativas e 
demais doenças classificadas como crônico degenerativas (Parkinson e 
Alzheimer) constituem esta parcela de evolução de doenças. 
 Evolução crônica, oscilando entre períodos assintomáticos e intermitentes 
exacerbações clínicas, como as dermatites e afecções psiquiátricas. 
 
 
 
 
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Amarelo: Evolução aguda; 
Laranja: Evolução aguda clinicamente evidente e com rápida recuperação; 
Verde: Evolução sem alcançar o limiar clínico, de modo assintomático; 
Azul: Evolução crônica, sintomática e apresentando evolução insatisfatória; e 
Rosa: Evolução crônica, oscilando entre períodos assintomáticos e intermitentes exacerbações. 
Figura 6 – Padrões de evolução das doenças 
Fonte: Adaptado de PEREIRA (2006) 
 
Katz (2001, p.118) cita a definição Leavell e Clark de 1965, segundo os quais 
doença e moléstia deveriam ser encaradas como conceitos dinâmicos e não 
estáticos. As variações são observadas nas histórias naturais das diferentes 
doenças, dependendo de se “os estímulos produtores de doenças surgem no 
ambiente ou no próprio homem”. 
Ainda assim, são inúmeras as possibilidades de desfechos de doenças, co-
dependentes dos demais fatores envolvidos como diagnóstico, acesso a tratamento, 
resposta do organismo ao tratamento proposto, dentre outros. Estes passos serão 
minuciosamente discutidos no decorrer deste material. 
Portanto, a expressão saúde-doença é um termo utilizado para denominar de 
modo geral, um processo social, independente do modo específico de sua 
capacidade de passar de um estado saudável para um estado de adoecimento. 
Descontextualizada, a expressão saúde-doença tramita entre vários estágios, 
desde um “estado completo de bem-estar físico, mental e social” (OMS) até a 
http://migre.me/4dMa1 
 
 
 
 
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doença em si, perpassando pela existência concomitante das duas condições de 
saúde em diferentes magnitudes (ROUQUAYROL e GOLDBAUM, 2003). 
Alguns autores preferem defini-lo em abordagem mais ampla, em uma 
expressão multivariada dos fatores causais em relação íntima com o sujeito. É 
importante observar que as teorias 
ou definições procuram englobar o 
perfil social e estilo de vida além da 
relação estreita homem–
hospedeiro. Nesta linha de 
raciocínio, podemos mencionar o 
modo como Sampaio e Messias 
(2002) citado por Barbosa (2003) 
definem o processo: 
 Fonte: http://migre.me/4g96t 
 
Processo particular de expressão das condições da vida humana em 
dada sociedade, representando as diferentes qualidades do processo 
vital e as diferentes competências dos sujeitos para enfrentar 
desafios, agressões, conflitos, mudanças. Tem tríplice e contraditória 
natureza: biológica, psicológica e social. 
 
Vamos dividir este processo denominado saúde-doença em três momentos, 
com características distintas e peculiares, conforme ilustrado na figura a seguir. O 
entendimento destes momentos permite que os objetivos de Epidemiologia sejam 
alcançados, conforme discutiremos ao longo do material. 
 
 
 
 
 
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Figura 7 – História natural da doença 
Fonte: Rouquayrol e Goldbaum (2003) 
 
O esquema clássico proposto por Rouquayrol e Goldbaum (2003) ilustra todas 
as inter-relações descritas acima, seguindo a linha de raciocínio de Leavell e Clark 
(1976). Esta esquematização gráfica demonstra a somatória entre a variável tempo 
de exposição e a força do estímulo patológico, assim como a somatória danosa ao 
organismo do tempo de permanência com a doença em si, relacionado à extensão 
do processo patológico. 
 
2.3.1 Período pré-patogênico 
Este é o primeiro período relacionado ao processo saúde-doença (de acordo 
com o proposto por Leavell e Clark, 1976), também denominado Vertente 
Epidemiológica (ROUQUAYROL e GOLDBAUM, 2003). 
Neste período o indivíduo está sob influência de diferentes fatores, 
Rouquaryol e Goldbaum (2003, p.20) como “[...] a evolução das inter-relações 
dinâmicas, que envolvem, de um lado, os condicionantes sociais e ambientais e, do 
 
 
 
 
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outro, os fatores próprios do suscetível, até que se chegue a uma configuração 
confortável à instalação de uma doença”. 
O período pré-patogênico compreende também a descrição desta evolução. 
Conforme demonstrado esquematicamente na figura anterior. Quanto maior tempo o 
indivíduo fica exposto a determinado fator ou fatores de risco para desenvolvimento 
de danos à sua saúde, maiores são as possibilidades de desenvolver a doença. Esta 
variável tempo é potencializada pela força do estímulo patológico. É a Associação 
destas duas variáveis, que irá configurar desde o mínimo risco de desenvolver 
determinada doença, ao máximo risco. 
Um dos princípios básicos do raciocínio desenvolvido em 
epidemiologia baseia-se na constatação de que as pessoas não 
nascem iguais nem vivem iguais. Muitas passam as suas vidas em 
condições ou possuem características, atributos ou hábitos que 
facilitam ou dificultam a ocorrência de danos à saúde: são os fatores 
de risco ou de proteção (PEREIRA, 2006, p. 33). 
 
Vamos exemplificar utilizando uma patologia de contágio e evolução simples, 
a larva migrans cutânea, conforme descrita a seguir: 
 
A larva migrans cutânea é uma dermatite serpiginosa vulgarmente conhecida 
como bicho geográfico.O agravo se inicia com o contato da pele humana com areia 
infectada por parasitas nematóides presentes em fezes de cães e gatos infectados, 
pois os ovos eliminados nas fezes transformam-se em larvas. 
Os locais de contágio são praias, parquinhos, ruas sem asfalto ou terrenos 
baldios. Por esta característica, acomete mais crianças que adultos. O contágio é 
vinculado à prática do uso de calçados. A doença apresenta esta característica de 
túneis tortuosos e avermelhados na pele porque o parasita não consegue se 
deslocar até o intestino humano, como o faz nos animais. 
As lesões são geralmente acompanhadas de muita coceira. Os locais mais 
comumente atingidos são os pés e as nádegas. 
 
 
 
 
 
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Figura 8 – A dermatose larva migrans cutânea e sua lesão serpiginosa 
característica, denominando-a vulgarmente de bicho geográfico 
Fonte: http://www.dermatologia.net/novo/base/atlas/larva_migrans.shtml 
 
Ao analisarmos este padrão infeccioso pela ótica da vertente epidemiológica 
ou pré-patogênica podemos fazer algumas inferências: 
 Há um maior risco de contágios em crianças por andarem descalços 
com mais frequência, ou seja, mais tempo exposto ao agente; 
 Comunidades ribeirinhas ou nas periferias das cidades estão mais 
expostas ao risco pela pouca infraestrutura local, o que permite que o 
parasita sobreviva em areias, preferencialmente quentes e úmidas; 
 Em locais com menor padrão de higiene e educação ambiental também 
aumenta o risco, pois os animais ficam soltos e evacuam nas ruas. Na 
região central de grandes cidades assim como regiões com padrões 
mais abastados não se observam comumente animais andando soltos 
pelas ruas e quando passeiam com seus donos, estes costumam 
recolher suas fezes. 
Diante do exposto, fica visível que quanto mais tempo o indivíduo permanecer 
em situações de risco e, quanto maior for a somatória de fatores de risco de 
desenvolver a doença a que o indivíduo estiver exposto, maior o risco de 
adoecimento. 
Mas, quando falamos em risco de adoecer, estamos considerando as pré-
condições para que isto ocorra, seja individualmente ou em coletividades humanas, 
 
 
 
 
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e estas são tão interdependentes, que seu conjunto forma uma estrutura 
reconhecida como estrutura epidemiológica. 
De acordo com Rouquayrol e Goldbaum (2003, p. 21) 
Por estrutura epidemiológica, que tem funcionamento sistêmico, 
entende-se o conjunto formado pelos fatores vinculados ao suscetível 
e ao ambiente, incluindo aí o agente etiológico, conjunto este dotado 
de uma organização interna que define as suas interações e também 
é responsável pela produção de doença. É na realidade, um sistema 
epidemiológico. Cada vez que um dos componentes sofrer alguma 
alteração, este repercutirá e atingirá os demais, num processo em 
que o sistema busca novo equilíbrio. [...] e trará consigo uma menor 
ou maior incidência de doenças, modificações na variação cíclica e 
no seu caráter, epidêmico ou endêmico. 
 
Para o desenvolvimento de ações preventivas sobre o processo de saúde e 
doença em coletividade humana, é necessária uma análise crítica dos fatores 
envolvidos no nível pré-patogênico, ou seja, entendendo a produção de doença 
como parte integrante de processos sociais, ganhando força por meio das relações 
ambientais e ecológicas desfavoráveis. Estas ações atingem o indivíduo pela ação 
direta dos agentes físico, químico, biológico e psicológico que ao se depararem com 
o indivíduo suscetível em pré - condições genéticas ou somáticas desfavoráveis 
podem determinar o surgimento do quadro patológico. 
Estas pré-condições estão intimamente relacionadas ao sistema permeado 
por diversos fatores, dentre eles temos os Fatores Sociais (socioeconômico, 
sociopolíticos, socioculturais e psicossociais), os Fatores Ambientais, os fatores 
genéticos e a Multifatorialidade. Para maior compreensão, vamos discuti-los a 
seguir: 
a) Fatores sociais 
Segundo Rouquayrol e Goldbaum (2003, p.22), dois pontos de vista estão 
relacionados com as questões sociais na relação saúde-doença, sendo o primeiro 
considerado como uma categoria residual, onde há um conjunto de fatores “[...] que 
não podem ser classificados como componentes genéticos ou agressores viciosos, 
químicos e biológicos”. O segundo ponto de vista foi desenvolvido por 
epidemiologistas que consideram que na fase pré-patogênica do processo saúde-
doença 
 
 
 
 
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 [...] o ‘social’ já não é apresentado como uma variável ao lado dos 
outros fatores causais da doença, mas como um campo onde a 
doença adquire um significado específico. O social não é mais 
expresso sob a forma de um indicador de consumo (quantidade de 
renda, nível de instrução, etc.). Ele aparece agora sob a forma de 
relações sociais de produção responsáveis pela posição de 
segmento da população na estrutura social”. 
 
De qualquer forma, precisamos entender os fatores sociais considerados 
como influentes no processo desencadeador de adoecimentos: 
- Fatores socioeconômicos: 
São os fatores relacionados à capacidade econômica e probabilidade de 
adquirir doença. Existe uma associação inversa entre a capacidade econômica do 
indivíduo e sua probabilidade em adquirir 
doenças. Segundo Rouquayrol e Goldbaum 
(2003), desde o século XVII, os médicos e 
filósofos da época já consideravam que grupos 
sociais menos favorecidos apresentavam maiores 
índices de morbidade e mortalidade. Os grupos 
mais abastados, desde então, continuam estando 
menos expostos à ação dos fatores ambientais 
que facilitam a ocorrência de determinados 
agravos. 
 Fonte: http://migre.me/4g8Ge 
Rouquayrol e Goldbaum (2003) citam as considerações de Renaud (1992) 
sobre os ‘pobres’, dizendo que estes são percebidos como mais doentes e mais 
velhos, são duas ou três vezes mais propensos a enfermidades graves, morrem 
mais jovens, geram crianças de baixo peso em maior proporção e têm sua taxa de 
mortalidade infantil mais elevada. 
A desnutrição é uma das patologias que podemos utilizar para exemplificar a 
influência de fatores socioeconômicos sobre a determinação de quadros patológicos. 
O trecho a seguir é parte do estudo intitulado ‘Desnutrição: um desafio secular à 
nutrição infantil’, desenvolvido por Monte (2000, p. 285) e exemplifica a transição 
nutricional no Brasil e a inter-relação com o fator socioeconômico: 
 
 
 
 
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No Brasil, como na maioria dos demais países em desenvolvimento, como 
resultado dos ganhos econômicos extraordinários e grande expansão de serviços e 
programas de saúde, a situação nutricional dos menores de 5 anos melhorou nos 
últimos anos. Entre 1975 e 1989, a prevalência da desnutrição foi reduzida em 
cerca de 60%, representando mais de 1 milhão de crianças. 
No entanto, o fato de que a forma atual mais comum de desnutrição infantil 
é a crônica, expressa principalmente pelo déficit de altura por idade, e a existência 
atual de um percentual, embora não muito alto, de crianças desnutridas graves, ao 
lado da sua concentração nas regiões mais pobres do País, as regiões Norte e 
Nordeste, indicam que o problema não está de todo controlado. 
É reconhecido que a existência de 
casos de desnutrição grave, mesmo que em 
pequeno número, representa o topo de um 
iceberg. Para cada caso grave há muitos 
outros que são menos graves, às vezes sem 
sinais clínicos típicos de desnutrição. A 
desnutrição moderada e leve muitas vezes se 
expressa apenas em termos de falha de 
crescimento. 
 Fonte: http://migre.me/4g8Lw 
 
 
Neste texto, além da comparação entre as regiões do Brasil e sua condição 
socioeconômica existe a comparação entre os países subdesenvolvidos, em 
desenvolvimento e desenvolvidos. 
O foco não é apenas relacionado às posses do indivíduo em si, mas a 
somatória da sua situação e a do seu entorno perpassando o déficitdesde a 
capacitação dos profissionais da saúde para lidar com terapias atualizadas e 
eficazes por vezes com condutas simples de terapêutica e educação em saúde, até 
a falta de recursos como fator limitante, nos casos em que existe um conhecimento 
adequado. 
 
 
 
 
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Ao considerarmos o homem um ser ‘biopsicossocial’ não podemos ignorar 
que o conceito de classe social está atrelado ao econômico, jurídico-político e 
ideológico. É simplista a ideia de melhorar os indicadores de saúde infantil com o 
desenvolvimento de programas de incentivo à escolaridade, por exemplo, sem a 
estimulação de mudanças mais profundas (ROUQUAYROL e GOLDBAUM, 2003). 
 
- Fatores sociopolíticos 
Assim como os fatores socioeconômicos, os fatores políticos são 
indissociáveis do contexto no qual está inserido. Abaixo estão listados alguns dos 
fatores políticos que devem ser considerados em análise das condições de pré-
patogênese no nível social (ROUQUAYROL e GOLDBAUM, 2003): 
 Instrumentalização jurídico-legal; 
 Decisão política; 
 Higidez política; 
 Participação comunitária efetivamente exercida; 
 Participação consentida e valorização da cidadania; 
 Transparência das ações e acesso à informação. 
 
- Fatores socioculturais 
Dentro do contexto social, devemos considerar os preconceitos e hábitos 
culturais e as crendices. Minayo descreve a interferência dos valores religiosos na 
desenvoltura do processo saúde-doença, independente da religião em questão, 
sendo que esta é uma questão sócio-histórica: 
 
A característica fundamental da visão religiosa da saúde-doença (ou 
melhor, da vida) é a relação intrínseca entre a fé e a graça. Pede-se 
a Deus, aos santos, aos orixás, exus, e aos espíritos de luz, a cura 
de todos os males. A relação religiosa está referenciada nas 
dificuldades do cotidiano e visa a prática, o resultado concreto: ela 
traz para perto o milagre e o torna parte do cotidiano, como solução, 
às vezes única, para as agruras do dia a dia (MINAYO, 1988, p.378). 
 
 
 
 
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Outros fatores são atribuídos às questões socioculturais, dentre eles os 
comportamentos e valores da população, valendo como fatores facilitadores ou não 
no processo de difusão e manutenção de 
doenças: Conceitos culturalmente 
transmitidos acerca de padrões de higiene, 
hábitos de vida, autotratamento são exemplos 
típicos. Os autores ressaltam o hábito de 
evacuar diretamente no solo ou próximo a 
mananciais, como costumes de moradores de 
zonas rurais, o que dissemina a 
esquistossomose (ROUQUAYROL e 
GOLDBAUM, 2003). 
 Fonte: http://migre.me/4g9fU 
Outros fatores comportamentais estão mais relacionados às questões de 
natureza cultural/social/econômica/política. Dentre eles destaca-se a transferência 
de responsabilidade para a pessoa política acerca de suas próprias 
responsabilidades sociais; Participação passiva como beneficiário do estado 
(paternalismo); Desorganização; Passividade diante do poder exercido com 
incompetência ou má-fé; Alienação em relação aos direitos e deveres da cidadania; 
Incapacidade de se organizar para reivindicar, características de povos de países 
menos desenvolvidos, reforçado pela cultura política de privilégio de poucos às 
custas do prejuízo de muitos. 
- Fatores Psicossociais 
Alguns fatores têm influência direta sobre o psiquismo, com consequências 
somáticas e mentais de grandes magnitudes. Dentre eles encontra-se: 
[...] marginalidade, ausência de relações parentais estáveis, a 
desconexão em relação à cultura de origem, à falta de apoio no 
contexto social em que se vive, às condições de trabalho 
estressantes, promiscuidade, transtornos econômicos, sociais e 
pessoais, falta de cuidados maternos na infância, carência afetiva de 
modo geral, desemprego, etc. (ROUQUAYROL e GOLDBAUM, 2003, 
p. 25). 
 
 
 
 
 
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b) Fatores Ambientais 
Inicialmente, para melhor compreensão do contexto, vamos definir 
epidemiologicamente o conceito de ambiente como “o conjunto de todos os fatores 
que mantêm relações interativas com o agente etiológico e o suscetível, incluindo-os 
sem se confundir com os mesmos” (ROUQUAYROL e GOLDBAUM, 2003, p. 25). 
Diferente do ponto de vista da ecologia, o ambiente em estudos 
epidemiológicos tem uma maior abrangência de sentidos, pois além do ambiente 
físico, que torna possível a vida abrangendo todos os seres vivos, inclui também a 
sociedade que o rodeia onde ocorrem as 
interações sociais, políticas, econômicas e 
culturais. 
A situação geográfica, o solo, o clima, os 
recursos hídricos, a topografia, os agentes 
químicos e físicos formam os grupos de 
componentes do ambiente físico. Mais adiante, 
discutiremos aprofundadamente como cada um 
deles interfere na determinação de doenças. 
Fonte: http://migre.me/4g9kW 
Neste ambiente, alguns agentes são considerados agressores ambientais, 
ou seja, capazes de entrar em contato direto com o indivíduo de forma imediata, sem 
mais intermediações. Estes agentes agressores ambientais podem ser distribuídos 
nas seguintes categorias: 
 agente habitualmente presente no meio, em convivência natural com o 
homem; 
 agente pouco comum e que por mudanças de hábito, manipulação 
inadequada de recursos ou por importação passam a fazer parte do 
meio, característicos em alguns eventos epidemiológicos; 
 agentes que explodem em situações anormais como as grandes 
alterações ecológicas, desastres naturais e catástrofes. 
 
 
 
 
 
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c) Fatores Genéticos 
Determinam a maior ou menor suscetibilidade das pessoas em relação à 
incidência das doenças. Explica, por exemplo, por que pessoas diferentes expostas 
ao mesmo risco podem ou não desenvolver a doença. 
 
 
Fonte: http://migre.me/4g9om 
d) Multifatorialidade 
Ao considerarmos as condições já descritas para desenvolvimento de um 
processo patogênico, deve-se ter clara a impossibilidade de ação única de apenas 
um deles. O surgimento da doença então dependerá da variação na estruturação 
dos fatores contribuintes, havendo situações de mínimo risco ou mínima 
probabilidade até o ponto oposto de máximo risco ou máxima probabilidade. 
Desta maneira, podemos dizer que quanto mais estruturados forem os fatores 
envolvidos no processo de desencadeamento da doença, mais forte será o estímulo 
patológico. A esta estruturação de fatores dá-se o nome de multifatorialidade. 
Mas, esta multifatorialidade não é apenas uma justaposição de fatores e sim 
um sinergismo, uma ação conjunta onde um fator potencializa a ação do outro, com 
o desenvolvimento da doença mais forte do que uma simples soma de fatores. 
O agregado total resultante da estruturação sinérgica de todas as 
condições e influências indiretas – próximas ou distantes – 
 
 
 
 
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socioeconômicas, culturais e ecológicas, e pelos agentes que têm 
acesso direto ao bioquimismo e às funções vitais do ser vivo, 
perturbando-o, constituem o ambiente gerador de doença. 
(ROUQUAYROL e GOLDBAUM, 2003). 
 
O estudo da diarreia foi utilizado para ilustrar a estruturação sinérgica dos fatores que 
desencadeiam a doença e a mantêm. 
 
Figura 9 - Sinergismo multifatorial na produção e manutenção das doenças 
diarréicas 
Fonte: Rouquayrol e Goldbaum, 2003 
2.3.2 Período patogênico 
Este segundo momento, também é chamado Vertente patológica. 
Em uma variação do raciocínio desenvolvido por Rouquayrol e Goldbaum 
(2003), Pereira (2006) subdivide este período em 2 etapas: fase pré-clínica e fase 
clínica. 
Fase pré-clínica: 
 
 
 
 
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Na fase pré-clínica o curso da doença pode ser considerada subclínica 
(abaixo do limiar clínico ou horizonte clínico) e evoluir para cura ou evoluir para a 
fase clínica. 
Um exemplo presente no dia a dia dos profissionais da saúde é a detecção 
ocasional da hipertensão arterial assintomática. 
Há uma

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