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Feminismo - origens, ondas e atualidade

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Universidade Estadual da Paraíba
Centro de Ciências Humanas e Exatas
Curso de Licenciatura em Letras
Disciplina: Teoria e Crítica Literárias I
Docente: Marcelo Medeiros da Silva 
FEMINISMO:
 ORIGENS, ONDAS E ATUALIDADE 
QUEM TEM MEDO DO FEMINISMO? 
Ao longo da história, a palavra “feminismo” foi sendo marcada por uma carga negativa que fomentou a falácia de que o feminismo era algo a ser combatido e não reivindicado. Logo, escamoteou-se o objetivo central do feminismo: “lutar pelo reconhecimento de direitos e oportunidades para as mulheres e, com isso, pela igualdade de todos os seres humanos” (GARCIA, 2011, p. 12).
O feminismo vem, portanto, contrapor-se aos discursos de legitimação da opressão e das desigualdades entre homens e mulheres que foram construídos ao longo dos tempos e que soterraram a participação das mulheres e suas contribuições à cultura de seus países e do mundo. 
	O feminismo é, então, um movimento social emancipatório encabeçado por mulheres embora a paternidade do termo “feminismo” seja atribuída a Charles Fourier (1772-1837). Tal termo tornou-se recorrente no final do século XIX e designa “algumas vezes a doutrina mas mais frequentemente a luta que visava a estabelecer a igualdade de direitos (políticos, civis, econômicos) do homem e da mulher na sociedade” (MUZART, 2003, p.262). Embora datado do século XIX, o feminismo preexiste ao seu próprio emprego e, como prática, configura-se com algo cujas origens são difíceis de precisar. (MUZART, 2003, p.262).
“Em um sentido amplo, pode-se afirmar que sempre que as mulheres – individual ou coletivamente – criticaram o destino injusto e muitas vezes amargo que o patriarcado lhes impôs e reivindicaram seus direitos por uma vida mais justa estamos diante de uma ação feminista” (GARCIA, 2011, p. 13).
Logo, apesar da existência de vários feminismos, o traço que os une em meio a uma miríade de singularidades é o a tomada de consciência por parte das mulheres acerca da opressão, dominação e exploração de que foram ou permanecem sendo por parte dos homens. Essa tomada de consciências as impele à luta por liberdade de seu sexo e pelas transformações sociais necessárias para que haja menos assimetrias entre os gêneros. 
“A tomada de consciência feminina transforma – inevitavelmente – a vida de cada uma das mulheres que dela se aproximam, pois a consciência da discriminação supõe uma postura diferente diante dos fatos. Supõe dar-se conta das mentiras – pequenas ou grandes – em que a história, a cultura, a economia, os grandes projetos, os pequenos detalhes do cotidiano estão alicerçados. Supõe enxergar os micromachismos, as pequenas manobras realizadas por muitos homens todos os dias para manter sob seu poder as mulheres e a estafa que supõe manter duplas ou mais jornadas de tarefas. Ser consciente de que estamos infrarrepresentadas na política e ver como a mulher e coisificada dia a dia na publicidade. Supõe saber que segundo a ONU uma em cada três mulheres no mundo já sofreu algum tipo de maus-tratos ou abuso” (GARCIA, 2011, p. 14).
CONCEITOS-CHAVE DO FEMINISMO 
ANDROCENTRISMO: considerar o homem como a medida de todas as coisas e fazer da perspectiva masculina a única forma de compreensão do mundo e dos seres que o habitam. 
PATRIARCADO: Sistema de organização política, econômica, religiosa e social que se assenta na premissa de que a autoridade e a liderança da sociedade devem estar centradas na figura do homem e, consequentemente, na submissão do feminino ao masculino. Logo, o patriarcado é um sistema de controle que interfere nas famílias, nas relações sexuais, trabalhistas, por exemplo.
SEXISMO: “ideologia que defende a subordinação das mulheres e todos os métodos utilizados para que essa desigualdade se perpetue” (GARCIA, 2011, p. 19).
GÊNERO: Categoria voltada para a compreensão da construção sócio-histórica das identidades masculina e feminina, isto é, a compreensão de que “o feminino e o masculino não são fatos naturais ou biológicos, mas sim construções culturais”. Gênero e sexo não são sinônimos. 
 
O FEMINISMO NAS ORIGENS DO MUNDO
A MISOGINIA grassa pelo mundo há bastante tempo. Mesmo o Renascimento, movimento que trouxe profundas transformações no pensamento humano, não foi capaz de combater os discursos e práticas que fomentavam o rebaixamento das mulheres. Entretanto, com o Renascimento, advieram algumas transformações que trouxeram impactos para a vida das mulheres, fazendo-as a ter, por exemplo, acesso à educação e, consequentemente, questionarem os termos em que se davam as relações entre homens e mulheres.
Querelle de femmes foram os debates, entre o século XVI, sobre a natureza e os deveres dos sexos. Esses debates eram fomentados por mulheres que, filhas, irmãs, sobrinhas de homens cultos, haviam recebido instrução que lhe permitia questionam a ordem vigente das coisas no mundo e reivindicar um lugar para as mulheres.
Para alguns estudiosos e estudiosas, na querelle encontram-se o embrião do que, séculos depois, veio a tomar a forma de feminismo: a) oposição à misoginia; b) o embasamento dessa oposição a partir da ideia de gênero; e c) a universalização da questão para além do seu próprio tempo e do sistema de valores da época.
CRISTINE DE PIZAN (1363-1431) – Mulher de grande talento e erudição, viveu do próprio ofício de escritora. Sua obra procura combater a misoginia da época. Sua obra mais conhecida é A cidade das damas na qual “propõe, com firmeza e segurança, uma utopia, um espaço próprio para [as mulheres] e reivindica uma genealogia de mulheres de capacidade e qualidade excelentes ao longo da história” (GARCIA, 2011, p. 27).
“Desse modo, Pizan reivindica para as mulheres o primeiro direito do qual derivam todos os outros, ou seja, o do reconhecimento da condição de sujeito, com toda a dignidade que isso implica e com todas as qualidades que se atribuía somente aos homens: inteligência, força, valor, criatividade. Reivindica também como valores humanos igualmente dignos de consideração tudo aquilo que se reconhece como próprios das mulheres e que em consequência é desvalorizado: a ternura, o cuidado com as pessoas, a ocupação com tarefas menores – as tarefas domésticas” (GARCIA, 2011, p. 29). 
A Reforma Protestante propiciou uma abertura para que as mulheres saíssem do lugar à margem em que eram postas e viessem a ser pregadoras. Durante o Antigo Regime, os salões franceses foram importantes espaços de fomento intelectual que permitiram a participação ativa das mulheres e que impactaram a sociedade francesa no que diz respeito ao modo como tal sociedade enxergava as mulheres. 
Os salões das preciosas, isto é, mulheres ilustradas do século XVII, podem ser vistos como uma espécie de protofeminismo porque eles fomentaram “uma atitude inconformista com as convenções sociais e as ideias em voga a respeito da inferioridade do sexo feminino e da incapacidade das mulheres para tratar de assuntos tão sérios como a filosofia, a ciência, as artes; enfim, qualquer forma de manifestação de inteligência e reflexão. As preciosas defendiam a capacidade feminina para o pensamento crítico desde que às mulheres fossem franqueados a educação, o acesso à cultura escrita e à erudição” (GARCIA, 2011, p. 33-34). 
PRIMEIRA ONDA DO FEMINISMO
POULIN DE LA BARRE, a partir da obra Sobre a igualdade entre os sexos (1673), é tipo como primeiro articulista do feminismo moderno. O filósofo deixa de lado a guerra entre os sexos que marcou a querelle e passa a refletir sobre a igualdade. “Sua intenção era mostrar como se pode combater a desigualdade sexual por meio da educação e quis demonstrar racionalmente as argumentações daqueles que defendiam a inferioridade das mulheres” (GARCIA, 2011, p. 38-39).
A Revolução Francesa, que é um marco na história ocidental, permitiu que demandas do feminismo (como a igualdade sexual) viessem à tona, apesar da misoginia de muitos dos que encabeçaram a revolução, como é o caso de Rousseau, ao mesmo tempo que vieram também à lume formas que se contrapuseram a tais demandas.As mulheres tiveram uma intensa e ativa participação na Revolução Francesa. De um lado, lutaram no fronte de batalha; de outro, estiveram procuraram pensar os direitos das mulheres e defendê-los nos espaços públicos de luta, como as assembleias.
Olympe de Gouges (Marie Gouze) foi uma das mulheres que mais ativamente participou da Revolução Francesa. Escreveu Declaração dos Direitos das Mulheres e das Cidadãs (1791), já que denunciava que a Revolução Francesa negava às mulheres vários direitos, dentre os quais o principal: o de ser cidadã. 
Mary Wollstonecraft foi outro nome importante na luta pelos direitos das mulheres, denunciando o estado de ignorância e dependência a que eram submetidas as mulheres. Sua obra mais famosa é A reivindicação dos direitos da mulher (1790) na qual estão as bases do feminismo moderno: igualitarismo entre homens e mulheres, independência econômica e a necessidade participação e representação na vida política. 
Essas primeiras mulheres descortinam a opressão contra as mulheres, mostrando as bases sociais e culturais em que ela se assenta e contrapondo-se, portando, à naturalização de tal opressão. Por isso, muitas delas foram condenadas à morte ou ao exílio. 
 
SEGUNDA ONDA DO FEMINISMO
	O feminismo emerge no século XIX como um movimento emancipatório de âmbito internacional, com autonomia e caráter organizativo que vinha expor as contradições da Revolução Francesa, Revolução Industrial e do capitalismo ao apontar para a negação dos direitos civis e políticos às mulheres bem como para a situação de miséria a que era relegada a classe proletária.
 “O horizonte ético-político do feminismo do período foi o igualitarismo entre os sexos e o da emancipação jurídica e econômica da mulher”, mas também houve luta em prol dos direitos humanos e civis, o que envolvia “as lutas pela liberdade de pensamento, de associação, pela abolição da escravatura, da prostituição e pela paz” (GARCIA, 2011, p. 52). 
Nos Estados Unidos, foi a luta pela abolição que levou as mulheres à tomada de consciência da opressão que elas mesmas sofriam e ao mesmo tempo propiciou-lhes o conhecimento de como agir nas esferas públicas de poder.
A recusa à participação das delegadas norte-americanas no congresso antiescravista mundial é o marco do movimento feminista norte-americano porque fez as delegadas perceberem o quanto ainda a mulher era impedida de participar da vida pública. Logo, era necessário lutar pelos próprios direitos civis. 
Os nomes de Lucrecia Mott e Elizabeth Stanton são importantes na luta feminista pelo reconhecimento dos direitos das mulheres. A última redigiu a Declaração e Seneca Falls ou Declaração dos Sentimentos, texto que funda o movimento sufragista, questionava as restrições políticas e econômicas impostas às mulheres e foi responsável por organizar as mulheres em torno de um objetivo em comum: a luta contra a negação dos direitos civis e jurídicos às mulheres e a favor do direito ao voto.
As mulheres norte-americanas conquistam o direito ao voto apenas em 1920. “O sufragismo foi um movimento de agitação internacional, presente em todas as sociedades industriais que tinha dois objetivos centrais: o direito ao voto e os direitos educativos. Levou oitenta anos para conquistar ambos, o que supõe três gerações de militantes” (GARCIA, 2011, p. 57). 
O sufragismo caracterizou por sua luta pacífica. Inventou “manifestações, a interrupção de oradores mediante perguntas sistemáticas, a greve de fome e muitas outras formas de protesto. O sufragismo inovou as formas de agitação e inventou a luta pacífica que logo foram seguidas por outros movimentos como o sindicalismo e o movimento em prol dos direitos civis” (GARCIA, 2011, p. 58). 
 
Dentre as diversas vozes que foram se somando ao sufragismo, merece destaque o nome de SOJOURNER TRUTH, uma escrava liberta do estado de Nova York que ficou muito conhecida por seu discurso na Convenção de Akron no qual ao questionar se era ou não uma mulher, evidenciava a dupla exclusão que sujeitos iguais a ela sofriam: a de raça e a de gênero. Seu discurso abriu caminho para que mulheres negras olhassem para sim e passassem a se engajar na luta feminista pelos direitos das mulheres negras. 
	O sufragismo assenta-se na teoria política que foi pensada por John Stuart Mill e Harriet Taylor. Denunciando a sujeição da mulher, Mill visava ao reconhecimento delas como pessoas a partir do conjunto de leis que regiam a sociedade. Ele não logrou êxito, de imediato, com o que propunha, mas o seu pensamento impulsionou muitas mulheres à ação. Companheira de Mill, Harriet escreveu a primeira petição requerendo votos para as mulheres. Ambos defendiam a tese de que as mulheres eram seres livres cuja liberdade era, no entanto, negada em virtude do modo como a sociedade pensava os espaços e as leis para homens e mulheres. 
A entrada das mulheres no mercado de trabalho acentuou ainda mais as diferenças não só entre homens e mulheres, mas entre as próprias mulheres tendo em vista que, enquanto as proletárias tinham sua mão-de-obra e seus corpos explorados, as burguesas eram enclausuradas em suas próprias casas onde eram expostas como símbolo da riqueza e do sucesso do próprio marido. 
A luta das mulheres a partir da ação das feministas se fará presente nos vários socialismos que, guardadas as devidas diferenças, objetivavam denunciar “toda situação de miséria econômica e social em que vivia a classe trabalhadora” (GARCIA, 2011, p. 66). No caso da questão da mulher, dentro do pensamento do socialismo utópico, havia a tese de que “a situação das mulheres era o indicador-chave do nível de progresso e civilização de uma sociedade” (GARCIA, 2011, p. 66).
FLORA TRISTÁN (1803-1844), autodidata, preocupou-se com “a situação de miséria do proletariado sob o capitalismo e, como parte da questão social, a situação da mulher operária como ser humano desprezado e diminuído na sociedade” (GARCIA, 2011, p. 69). Interessou-se pela condição da mulher operária no âmbito da família operária. 
No marxismo, a questão da opressão da mulher está atrelada à opressão do proletariado e é vista, portanto, como uma opressão econômica. Por isso, as mulheres precisavam ser inseridas no sistema de produção. 
ALEXANDRA KOLLONTAI lutou pela igualdade sexual e defendia “o amor livre, salários iguais para as mulheres, a legalização do aborto e a socialização do trabalho doméstico e do cuidado com as crianças” (GARCIA, 2011, p. 75).
Dentro do anarquismo, a questão da desigualdade entre os sexos não parecia ter um grande relevo apesar da significativa participação das mulheres no movimento. Dentro do pensamento anarquista, a questão de opressão das mulheres seria resolvida a partir da força própria das mulheres e do seu esforço individual. Isso trouxe algumas revoluções para as mulheres anarquistas, mas ao mesmo tempo as impediu de enxergar outras necessidades prementes para o feminino, como o direito ao voto. 
EMMA GOLDMAN (1869 – 1940) defendia que “pouco vale o acesso ao trabalho assalariado ou ao voto se as mulheres não forem capazes de vencer todo o peso da ideologia tradicional em seu interior” (GARCIA, 2011, p. 76). 
TERCEIRA ONDA DO FEMINISMO
	Ao longo do período entreguerras, muitas das demandas do movimento feminista foram sendo conquistadas de maneira que, ao término de tal período, os movimentos feministas entram em decadência. As feministas estavam sendo atacadas como responsáveis pela destruição da nação e da família em alguns países onde a taxa de natalidade estava baixa.
	Entretanto, a partir da obra e do pensamento de Simone de Beauvoir, o feminismo ressurge. Com O segundo sexo, a filósofa francesa procura pensar o lugar da mulher na história do Ocidente e produz uma obra que marcou os feminismos do século XX por ser a mais completa obra que reflete sobre a condição feminina até aquela época e revela que a mulher sempre foi vista como a outra em relação ao homem, mas esse olhar não é eivado de reciprocidade, mas, sim, de assimetrias, disparidades,discriminações. O pensamento de Beauvoir vai separar natureza e cultura e mostrar que não há nada na natureza da mulher que justifique as discriminações de que ela é vítima no plano da cultura. 
	Outro nome importante da terceira onda do feminismo é o de Betty Friedan, que em A mística feminina procura desvelar o problema que não tem nome e que inquietavam muitas mulheres porque gerava uma insatisfação delas consigo mesmas. A importância do trabalho de Friedan esteve em “decifrar com lucidez o papel opressivo que se havia imposto às mulheres e analisar o mal-estar e o descontentamento feminino”. (GARCIA, 2011, p. 84).
	Friedan fundou uma das mais importantes organizações feministas dos Estados Unidos e representantes do feminismo liberal. Essa vertente do 
Feminismo defende que as mulheres vivem uma condição de desigualdade e não de opressão e exploração. Por isso, o sistema precisa ser reformulado a fim de que haja igualdade entre os sexos. 
	A participação das mulheres no ativismo político junto aos homens despertou nelas a consciência da opressão de que eram vítimas. Por isso, as feministas radicais resolveram se separar dos homens, organizar-se em um movimento mais autônomo. As feministas radicais entendiam que as mulheres precisavam não apenas ganhar o espaço público, mas conseguir que o espaço privado também passasse por transformações, daí por que o slogan eram “O pessoal é político”.
	“Além de revolucionar a teoria política e feminista, as radicais fizeram três contribuições: os grandes protestos públicos, o desenvolvimento de grupos de autoconsciência e a criação de centros alternativos de ajuda e autoajuda” (GARCIA, 2011, p. 88). 
	Na década de 80, o feminismo singulariza-se a partir do tema da diversidade entre as mulheres. “Esse feminismo se caracteriza por criticar o uso monolítico da categoria mulher e se centra nas implicações práticas e teóricas da diversidade de situações em que vivem as mulheres” (GARCIA, 2011, p. 94). No cômputo geral, apesar da diversidade de movimentos, os feminismos estão voltados pela luta em prol do direito das mulheres definirem por si mesmas a sua própria identidade e não mais a cultura de que fazem parte ou os homens com quem convivem; pelo combate à pobreza e à violência. 
QUARTA ONDA FEMINISTA 
Em virtude de as conquistas históricas do feminismo e de a luta das mulheres contra as formas de violência e discriminação terem se instaurado em nossa sociedade e cotidiano, era como se o feminismo, em suas várias vertentes, estivesse se arrefecido. Entretanto, a partir dos protestos de 2013, há, em solo brasileiro, mas em consonância com eventos mundiais, uma espécie de despertar da luta feminista.
“Testemunhávamos a emergência de uma nova linguagem tecnopolítica que superava o ‘clickativismo’, mas que claramente nasceu nas redes sociais” e que estava centrada na figura de uma única pessoa, mas de um coletivo. (BOGADO, 2016, p.26)
“As redes sociais, nesse momento, não eram vividas apenas como veículo eficaz para a propagação de informações, mas lançaram também as bases desejadas para um novo tipo de organização política; uma democracia conectada, participativa, transparente” (BOGADO, 2016, p.28).
Em 2015, contra o projeto de lei que representava um retrocesso quanto à questão da violência por estupro, as mulheres foram às ruas e entoaram o “fora, Cunha”. “A força dessas vozes demonstra como, em 2015, a luta feminista já alcançara patamares inéditos e levava milhares de manifestantes às ruas das grandes cidades do país.” (BOGADO, 2016, p.29).
Nota-se um acentuado coletivo de mulheres, em especial, de mulheres negras, o que evidencia que a luta feminista antirracista vem crescendo. (BOGADO, 2016, p.31). 
Os ativismos surgidos em 2013 têm se caracterizado pela “busca pela horizontalidade, a recusa da formação de lideranças e a priorização total do coletivo. Por outro lado, uma linguagem política que passa pela performance e pelo uso do corpo como a principal plataforma de expressão. Esses são os elementos que se notam à primeira vista nas novas manifestações feministas” (BOGADO, 2016, p.32).
Apesar da diversidade de vertentes no feminismo, todas elas estão unidas em torno de um ponto em comum: a violência contra a mulher, pauta que perpassa os vários feminismos. 
Outro ponto que merece destaque nas manifestações feministas dessa quarta onda é o espaço dado ao corpo entanto arma política de luta. “Mais do que reivindicar demandas que devem ser atendidas por autoridades, o que está em jogo nas marchas é a possibilidade de uma vivência pública coletiva e afetiva que não se enquadra nos padrões normativos. Os corpos fogem tanto ao padrão estético do feminino, apresentando, por exemplo, a nudez das gordas e das não depiladas, como ao padrão comportamental, afirmando publicamente o desejo por mais liberdade em suas práticas sexuais” (BOGADO, 2016, p.34).
Mais um ponto a ser destacado é que nas manifestações feministas recorria-se à externalização de singularidades pessoais. As vivências mais íntimas são partilhadas e, em se tornarem impessoais, passam a “integrar a experiência do grupo, que assume coletivamente a voz individual: ‘Mexeu com uma, mexeu com todas’” (BOGADO, 2016, p.36).
“Os protestos demonstraram o desejo e a capacidade de o feminismo se articular com outras lutas e se tornar o mais inclusivo possível”, evidenciando que as questões estruturais que oprimem a mulher só podem ser resolvidas a partir de mobilizações coletivas (BOGADO, 2016, p.40). 
Em síntese, as forças das ruas, apesar de fomentadas por outras forças e sujeitos, encontrou impulso maior na e com a web. “Nunca as táticas e a militância das mulheres foram tão potencializadas e produziram reações e alianças na escala que se vê hoje” (COSTA, 2016, p.43).
“A internet fornece ainda um modelo de plataforma de comunicação que permite a criação de um novo padrão organizacional articulado através da polinização cruzada, da consulta mútua e da retroalimentação. É importante observar que este padrão de comunicação teve um efeito particularmente positivo para indivíduos com baixa renda, nos movimentos de ‘minorias’, e para a ação política em países em desenvolvimento” (COSTA, 2016, p.44-45). 
O poder das hashtags é outro aspecto a ser destacado quando se vai pensar as manifestações feministas contemporâneas. “Nascidas por geração espontânea e amplamente disseminadas, as manifestações organizadas a partir de hashtags muitas vezes acontecem sem formar coletivos, criar blogs, nem mesmo montar um perfil próprio nas redes sociais. 
[...]
O potencial mobilizador do uso tático das hashtags feministas mostrou sua força a partir de uma série de movimentos. Em geral, poucas pessoas sabem quem são as lideranças ou as representantes” (COSTA, 2016, p.48).
“Sem as mídias sociais, sem dúvida os novos feminismos não teriam alcançado a amplitude que tiveram. Por outro lado, backslashes, ou contra-ataques virtuais, se fazem sentir. Pregadores de ódio, misóginos e conservadores reagem com radicalidade ao que chamam de ‘perigo das ideologias de gênero’” (COSTA, 2016, p.59).
Apesar da existência dos contra-ataques às feministas, as redes sociais foram imprescindíveis para a insurreição feminista que vimos nascer neste século e que tem ampliado o espaço de visibilidade da luta de outras vertentes do feminismo, como o feminismo negro, trans ou lésbico. 
VERTENTES DO FEMINISMO CONTEMPORÂNEO
FEMINISMO DA DIFERENÇA “centra-se na diferença sexual para estabelecer um programa de liberação da mulher para que encontre sua verdadeira identidade, deixando de fora a referência masculina” (GARCIA, 2011, p. 96). A diferença não significa desigualdade tampouco não é o contrário de igualdade. “O feminismo da diferença reivindica a igualdade entre mulheres e homens, mas nunca a igualdade com os homens por que isso implicaria aceitar o modelo masculino” (GARCIA, 2011, p. 97).
FEMINISMO ESSENCIALISTA defende o cultivo de uma contracultura feminina marcada por um mundo organizado por mulheres para mulheres.As mulheres são tidas como moralmente superiores aos homens. 
FEMINISMO CULTURAL visa à criação de instituições feministas alternativas e à conquista da “autonomia cultural como base para a resistência, inspirando assim reivindicações femininas fundamentadas em valores alternativos, tais como não violência, a não competição, a cooperação e a multidimensionalidade da experiência humana conduzindo à nova identidade e culturas femininas capazes de induzir a transformação cultural da sociedade em geral (GARCIA, 2011, p. 100). 
 
FEMINISMO INSTITUCIONAL tem possibilitado que mulheres feministas passem a ocupar posto de poder e obrigado os estados a criarem políticas públicas que garantam os direitos das mulheres. 
TRANSFEMINISMO está voltado para as questões de pessoas trans. “A falta de visibilidade e a exclusão no feminismo foram motivos para a organização de uma estrutura própria”.
FEMINISMO NEGRO nasce da luta das mulheres negras cujas pautas não eram contempladas pelo feminismo encabeçado por mulheres brancas. Em se tratando das mulheres negras, a opressão não era apenas de gênero, mas de raça. 
FEMINISMO INTERSECCIONAL é uma vertente que procura a interseccção entre os tipos de opressão: de gênero, de raça e de classe social. O termo foi cunhado por Kimberlé Crenshaw em 1989.
ENCERRANDO A AULA, MAS NÃO A DISCUSSÃO
	O modelo de ser e de existir que orquestrou as vivências e o pensamento ocidental esteve assentado na valorização do masculino como ponto em torno do qual tudo mais gravita e na reiteração do feminino como o outro, o diferente, como o que precisava estar fora dos centros de poder porque “nascido” para a submissão. 
	O movimento feminista veio mudar os termos em que a narrativa oficial da humanidade vinha sendo construída e reivindicar para as mulheres a possibilidade de viver enredos escritos por elas mesmas e para elas próprias.
	Se o feminismo em suas várias vertentes descortinou as formas de opressão, discriminação e desigualdade entre homens e mulheres e entre as próprias mulheres, contrapondo-se, sobretudo, à ideia de que o masculino é o ponto de vista universal e neutro, a luta das feministas, no século XXI, continuam para que os direitos das mulheres sejam reconhecidos como direitos humanos. 
 
	Essa reivindicação não deixa de levar em conta a contribuição de muitas mulheres do passado cuja vida foi marcada pelo combate às assimetrias de gêneros e a favor de uma sociedade mais igualitária dentro da qual a diferença não dê mais margem a discriminações.
BIBLIOGRAFIA
GARCIA, Carla Cristina. Breve história do feminismo. São Paulo: Claridade, 2011. 
 
HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Parte 1 – A nova geração política. In: _____. Explosão Feminista: arte, cultura, política e universidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 23-72.

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