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Prévia do material em texto

MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTOS /SP 
1ª Edição - 2018 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Temos de descobrir segurança dentro de nós próprios. Durante o 
curto espaço de tempo da nossa vida precisamos encontrar o 
nosso próprio critério de relações com a existência em que 
participamos tão transitoriamente”. 
―Boris Pasternak 
 
4 
Copyright©2018 by MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
Capa: Enoque Ferreira Cardozo 
 
Diagramação: Enoque Ferreira Cardozo 
(Trupe serviços editoriais Freelancer - 
http://trupeservicoseditoriais.blogspot.com.br/) 
 
 
Impresso pelo Autor – 2018. 
 
Copyright "©" 2018. Todos os direitos reservados. 
Proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio. 
Lei Nº 9.610 de 19/02/1998 (Lei dos direitos autorais). 
 
2018. Escrito e produzido no Brasil. 
 
 
 
SCANDIUZZI, Marco Antonio. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA 
FORA – 1ª ed – Santos/SP. Edição do autor, 2018. 
266 p.: il. 
 
ISBN: 978-85-85214-12-8 
 
1.Análise das carreiras policiais. 2.Análise do 
modelo investigativo. 3.Análise do ciclo completo 
de polícia. 
LIVRO BRASILEIRO. I Título 
 
FORMATO: A5 148x210 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C2%A9
http://trupeservicoseditoriais.blogspot.com.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C2%A9
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico a todos os Policiais Federais, Rodoviários 
Federais, Ferroviários Federais, Civis, Militares, Guardas 
Municipais, Guardas Portuários e membros da segurança 
privada que deixam seu suor todos os dias visando uma 
sociedade mais justa e mais segura. 
Não fossem as forças de segurança a sociedade 
brasileira estaria vivendo caos ainda maior. 
 
 
*** 
Agradeço a Deus e toda a minha família. 
Agradeço ao amigo e colega de Polícia Federal 
Marcelo Jardim Varela, Engenheiro de Produção pela 
UFRJ, pela força e pela revisão crítica. 
Agradeço aos amigos, colegas policiais e a 
Federação Nacional dos Policiais Federais, citados na 
obra, por poder utilizar parte de suas escritas dando-lhes 
os merecidos créditos. 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO .......................................................................... 09 
INTRODUÇÃO ................................................................... 11 
 
CAPÍTULO I/A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL ....... 18 
1.1 MEIO EM QUE SE VIVE ......................................................... 29 
1.2 TRIPÉ DA JUSTIÇA ................................................................... 34 
 
CAPÍTULOII/CICLO COMPLETO DE POLÍCIA VERSUS 
CICLO INCOMPLETO DE POLÍCIA ......................................... 45 
2.1 CICLO INCOMPLETO DE POLÍCIA .................................. 49 
2.2 CICLO COMPLETO DE POLÍCIA........................................ 58 
 
CAPÍTULO III/CARREIRA POLICIAL – COMPARATIVO 
ENTRE A POLÍCIA FEDERAL AMERICANA – FBI E A 
POLÍCIA FEDERAL BRASILEIRA – PF .................................... 68 
3.1 A CARREIRA NA POLÍCIA FEDERAL DO BRASIL ...... 74 
3.2 A CARREIRA POLICIAL NO FBI ...................................... 101 
 
CAPÍTULO IV/A POLÍCIA FEDERAL DAS OPERAÇÕES 
VERSUS A POLÍCIA FEDERAL DO DIA A DIA................. 113 
4.1. COMO FUNCIONA A POLÍCIA FEDERAL EM UMA 
OPERAÇÃO .................................................................................... 118 
4.2. COMO FUNCIONA A POLÍCIA FEDERAL NAS 
APURAÇÕES DO DIA A DIA.................................................... 129 
 
CAPÍTULO V/VISÃO TÉCNICA – AUXILIAR / 
SUBORDINADO OU COLABORADOR ................................ 142 
5.1 – DADOS DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS NA 
POLÍCIA FEDERAL EM 2007 .................................................... 146 
 
8 
5.2 – PESQUISAS REALIZADAS PELA ASSOCIAÇÃO 
NACIONAL DOS ESCRIVÃES DE POLÍCIA FEDERAL NOS 
ANOS DE 2013 E 2015 .................................................................. 172 
5.3. EVOLUÇÃO DA GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS 
NA POLÍCIA FEDERAL (TENDO COMO REFERÊNCIA O 
CARGO DE ESCRIVÃO DE POLÍCIA FEDERAL)............. 178 
 
CAPÍTULO VI/AS ESTATÍSTICAS NA POLÍCIA FEDERAL 
EXALTAM A INEFICÁCIA ........................................................ 186 
 
CAPÍTULO VII/ERRADO É O PORTUGUÊS? .................. 204 
 
CAPÍTULO VIII/QUAIS POLICIAIS SÃO AUTORIDADES 
POLICIAIS? ...................................................................................... 226 
 
CAPÍTULO IX/UMA PROPOSTA VIÁVEL PARA A 
POLÍCIA FEDERAL ..................................................................... 254 
 
BIBLIOGRAFIA ................................................................ 262 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PREFÁCIO 
 
São poucas as oportunidades na vida em que 
temos a oportunidade de desfrutar do conhecimento 
acumulado por um profissional ao longo de toda a sua 
trajetória de vida. Mais que plantar uma árvore, publicar 
um livro e ter um filho, fazer algo para tentar 
verdadeiramente mudar a vida das pessoas – para melhor 
- é quase indescritível. 
Temos aqui neste livro um belo exemplo em que 
uma dessas oportunidades se soma de forma leve, e ao 
mesmo tempo consistente, à alegria de ver o resultado de 
um trabalho que amadureceu ao longo dos anos, em 
escritos embebidos de conhecimento sobre os processos 
internos e o trato humano na Polícia Federal. 
A obra é resultado de longos debates e inúmeras 
análises compiladas a partir da observação atenta do 
autor acerca da falência do modelo de investigação no 
Brasil, da falta do Ciclo Completo de Polícia, da 
prevalência do Direito sobre as demais áreas de 
conhecimento e da necessidade de implementação 
urgente de portas únicas de entrada nas polícias 
brasileiras. 
Finalmente um cidadão comum poderá entender o 
porquê de tão pífios resultados nas investigações 
brasileiras e a importância de termos policiais 
investigadores próximos a o que autor brilhantemente 
crava como o “calor do crime”. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
10 
Ao nobre autor “Scan” o nosso reconhecimento 
da importância dessa obra e o desejo de que suas 
palavras adentrem os corações e mentes, exatamente 
como foi pensado no projeto inicial. 
Um prazer fazer parte desse projeto. Um orgulho 
tê-lo como colega e amigo. 
 
Luis Antônio Boudens 
Presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
11 
INTRODUÇÃO 
 
Ao longo dos anos as experiências foram se 
acumulando. Com a vivência no meio policial, primeiro 
nos plantões da Polícia Civil de SP e depois nas diversas 
áreas de atuação da Polícia Federal, Brasil afora, também 
vieram à tona as frustrações. Experiência e frustrações. 
Binômio interessante para despertar o interesse por 
mudanças. 
Quanto mais o tempo passava maior era o 
acúmulo de conhecimentos, maior a quantidade de 
estudos e maior a experiência de casos reais adquirida. 
Quando aumentamos a bagagem cultural de um 
ser humano, mesclado a casos concretos de vivência, isso 
passa a dar a esse ser a possibilidade de discernir entre o 
certo e o errado, entre o melhor e o pior, entre o que dá 
certo e o que não dá certo. Cria-se uma massa crítica e as 
massas críticas são fatores de mudanças. 
Na vida o binômio conhecimento e experiência é 
uma das regras do sucesso no meio organizacional. Há 
exceções contrárias, mas, como dito, são exceções. A 
regra é essa: associarmos um conhecimento científico-
cultural a situações cotidianas vividas. 
Um engenheiro sabe fazer os cálculos de uma 
edificação, mas se não “meter a mão na massa” 
dificilmente saberá fazê-la. Já o mestre de obras não tem 
a qualificação técnica e o conhecimento do Engenheiro, 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
12 
mas é igualmente capaz e importante ao que se destina, a 
execução da obra. 
As obras e as edificações se elevam na medida em 
que o conhecimento científico se alia ao conhecimento 
prático. Esse é o resultado da regra real. 
Então, em simplesanálise, se tivéssemos em uma 
só pessoa a junção do conhecimento científico e estudos 
(Engenheiro) ao conhecimento prático e experiência 
(Mestre de Obras) seria a solução ideal. 
Engenheiro + Mestre de Obras = Profissional 
Completo 
Dessa mistura teríamos como resultado o melhor 
aproveitamento do recurso humano, da mão de obra, 
cálculos exatos de materiais, economia no preço final da 
obra, segurança do empreendimento, índices mais baixos 
de acidentes e ao final de todo o processo um lucro 
garantido pelas melhores práticas. 
Então, no meio empresarial, o objetivo final é o 
lucro e todas as variáveis apontam para que esse número 
final seja maior ou menor. 
E na segurança pública qual seria o “lucro” a ser 
almejado? 
A meu ver, o “lucro” das ações de segurança 
pública é em parte imaterial, não palpável e está 
relacionado com as sensações que os cidadãos de 
determinados locais sentem ou não. 
Para que esse lucro possa ser alcançado um dos 
alicerces é o material humano das instituições policiais. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
13 
Portanto, a fórmula perfeita para o elemento 
policial que trabalhara para obter esse lucro seria: 
 
Estudo / Capacidade + Inteligência Emocional / 
Habilidade / Atitude / Experiência = Policial 
Completo. 
 
A presente obra não tem a intenção de ser a 
palavra final nos assuntos abordados. Apenas traz à tona 
algumas particularidades e análises sobre a Segurança 
Pública que podem ter passado despercebidas ao longo 
dos tempos pelas pessoas que nela gravitam, sejam 
operadores do sistema (em qualquer nível) ou usuários 
finais desse mesmo sistema (na verdade somos todos 
nós). 
Com certeza vozes contrárias aos pensamentos 
aqui expostos se levantarão, mas, de igual forma, eu 
levanto minha voz e transcrevo meus pensamentos por 
ser contrário ao que eles defendem como certo. 
Em nenhum momento durante os trabalhos de 
criação e realização do projeto foquei em pessoas, cargos 
ou mesmo entidades. As análises aqui produzidas são em 
cima de modelos adotados, suas concepções, como se 
mantém e ao que se destinam. 
Em minha vida familiar, funcional, acadêmica e 
nas demais áreas sempre levei comigo um ensinamento 
que tomei para mim desde cedo: “Conhecer para 
decidir”. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
14 
Com base nesse ensinamento entendo que, 
compartilhar os conhecimentos adquiridos, sejam eles 
decorrentes de estudos anteriores, de experiências 
vividas, de projetos desenvolvidos ou até mesmo de 
fracassos não superados dá ao outro a chance de agregar 
novos conhecimentos e com isso decidir com melhor 
grau de êxito. 
Então, a finalidade desta obra é transferir as 
minhas experiências, as minhas horas de estudos e os 
meus erros e acertos para os leitores, compartilhando as 
minhas ideias, ilustradas com exemplos práticos e 
aumentando, assim, os conhecimentos alheios para que 
possam tomar suas decisões da melhor forma. 
Por anos nosso país investiu na falta de cultura 
como elemento de manutenção política. Um povo sem 
cultura é um povo sem poder de mudanças. 
Então, compartilhar conhecimentos e 
compartilhar exemplos é a minha forma de ajudar a 
mudar o Brasil. 
Nosso país será salvo pela educação, pelo 
conhecimento, pela ciência, pela crítica construtiva, pelos 
idealistas, pelas pessoas que enxergam no outro um 
semelhante e não mais um concorrente. Não há outro 
caminho. 
Para entendermos a estrutura desta obra tenho 
que explicar algumas coisas e alguns elementos da minha 
vida e em especial das minhas atividades profissionais. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
15 
Nasci em uma família humilde e nada me faltou. 
Aos pés do Morro São Bento, em Santos-SP, no bairro 
do Jabaquara, onde cresci vendo dois lados da vida. 
Minha família estruturada, sendo meu exemplo e a 
rua como exemplo de vida. 
Amigos meus de infância se perderam e outros 
seguiram bons caminhos. A antítese da vida de um ser 
normal. Trabalhei desde os 18 anos e por isso me 
aposentei aos 49, após 30 anos trabalhados. 
Estudei desde cedo, paguei minha faculdade, 
continuei estudando. Prestei concursos, entrei, saí, entrei 
em outro, participei de movimentos grevistas, sofri 
ameaças de punições, tive desconto de salário, errei, 
acertei, errei mais ainda e persisti. Um sujeito normal. 
Passei 25 anos da minha existência trabalhando 
diretamente com a Segurança Pública em um dos seus 
módulos, o Policial, e ali acumulei inúmeras experiências. 
Estudei Administração, estudei Gestão, atuei como 
Professor em Cursos de Formação de Policiais, recebi 
críticas, me reciclei através delas, recebi prêmios, me 
reciclei através deles, fui Professor em Curso de Pós-
Graduação, montei disciplinas, gerenciei grupos de 
policiais professores, fui gerenciado por outros 
profissionais. Comandei e fui comandado. Planejei e 
executei. Cumpri planejamentos de outros e aprendi com 
eles. 
Combati o combate de campo. Fui à Selva no 
combate ao narcotráfico e fui à selva de pedra no 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
16 
combate diário ao crime. Fiz cursos operacionais. 
Planejei ações operacionais e executei ações operacionais 
planejadas por outros colegas. Trabalhei (e muito) dentro 
do modelo burocrático, produzi papéis e mais papéis que 
sabia serem inúteis, mas tinham que ser produzidos pois 
alimentavam um sistema. 
O pacote deste livro tenta trazer o conhecimento 
dos estudos, da sala de aula, das horas entendendo as 
coisas, aliado à aplicação real no dia-a-dia. A 
aplicabilidade do que se escuta e se aprende em sala de 
aula. Espero que ao término desta obra tenha 
contribuído na transmissão do conhecimento. 
Há algum tempo, nesse mesmo sentido, tenho me 
dedicado a gravar aulas e palestras no Facebook. Cada 
capítulo deste livro tem um vídeo correspondente, 
gravado de maneira caseira e artesanal, sem patrocínio e 
sem inclinações políticas. 
A minha motivação para escrever vem da 
lembrança de cada uma das pessoas que um dia entrou 
em uma das Delegacias onde eu trabalhei. Cada uma das 
vítimas que fez um registro de ocorrência, o chamado 
Boletim de Ocorrência, e recebeu uma folha com 
diversos carimbos: “à investigação”, “urgente”, 
“prioridade”. Cada uma das vítimas que ouviu que seria 
instaurado um Inquérito Policial e que nunca tiveram 
retorno sobre seus casos. Todas essas que procuraram o 
Estado brasileiro em busca de ver solucionado um 
problema e nunca tiveram uma resposta. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
17 
Ontem foram elas, amanhã poderá ser você, caro 
leitor. 
No fundo, a minha esperança é que você passe a 
entender o funcionamento do sistema, aumente seus 
conhecimentos, tire suas próprias conclusões e ao final, 
se torne um instrumento de pressão pelo 
aperfeiçoamento do nosso modelo de segurança pública. 
Grande abraço e vamos em frente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PÁGINA POLICIAL FEDERAL SCANDIUZZI NO YOUTUBE: 
https://www.youtube.com/channel/UCIn_dyEulM5mIziwITPSzZg 
 
*** 
 
PÁGINA POLICIAL FEDERAL SCANDIUZZI NO FACEBOOK 
https://www.facebook.com/Policial-Federal-Scandiuzzi-238021303237088/ 
https://www.youtube.com/channel/UCIn_dyEulM5mIziwITPSzZg
https://www.facebook.com/Policial-Federal-Scandiuzzi-238021303237088/
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
18 
CAPÍTULO I 
 
A SEGURANÇA 
PÚBLICA 
NO BRASIL1 
 
“Os problemas relacionados com o aumento das taxas de 
criminalidade, o aumento da sensação de insegurança, 
sobretudo nos grandes centros urbanos, a degradação do 
espaço público, as dificuldades relacionadas à reforma das 
instituições da administração da justiça criminal, a violência 
policial, a ineficiência preventiva de nossas instituições, a 
superpopulação nos presídios, rebeliões, fugas, degradação das 
condições de internação de jovens em conflito com a lei, 
corrupção, aumento dos custos operacionais do sistema, 
problema relacionados à eficiência da investigação criminal e 
das perícias policiais e morosidade judicial, entre tantos 
outros, representam desafiospara o sucesso do processo de 
consolidação política da democracia no Brasil. 
A amplitude dos temas e problemas afetos à segurança 
pública alerta para a necessidade de qualificação do debate 
sobre segurança e para a incorporação de novos atores, 
cenários e paradigmas às políticas públicas. 
O problema da segurança, portanto, não pode mais estar 
apenas adstrito ao repertório tradicional do direito e das 
instituições da justiça, particularmente, da justiça criminal, 
presídios e polícia. Evidentemente, as soluções devem passar 
pelo fortalecimento da capacidade do Estado em gerir a 
 
1https://www.facebook.com/Policial-Federal-Scandiuzzi-238021303237088/videos 
http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politica
https://www.facebook.com/Policial-Federal-Scandiuzzi-238021303237088/videos
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
19 
violência, pela retomada da capacidade gerencial no âmbito 
das políticas públicas de segurança, mas também devem 
passar pelo alongamento dos pontos de contato das 
instituições públicas com a sociedade civil e com a produção 
acadêmica mais relevante à área. 
Em síntese, os novos gestores da segurança pública (não 
apenas policiais, promotores, juízes e burocratas da 
administração pública) devem enfrentar estes desafios além de 
fazer com que o amplo debate nacional sobre o tema 
transforme-se em real controle sobre as políticas de segurança 
pública e, mais ainda, estimule a parceria entre órgãos do 
poder público e sociedade civil na luta por segurança e 
qualidade de vida dos cidadãos brasileiros”. 
(http://www.observatoriodeseguranca.org/seguran
ca dia 12/10/2016 às 14h07min). 
 
Conforme se depreende da leitura do texto acima, 
extraído do site observatório de segurança, o 
entendimento e as soluções de um tema tão complexo 
como a Segurança Pública e tudo o que ela engloba passa 
pela compreensão dos diversos fatores que a compõem e 
que nela interferem diariamente. Questões culturais, 
questões sociais, questões financeiras e questões de 
caráter são apenas algumas das formas de influência nos 
resultados positivos e negativos cujo usuário final é toda 
a sociedade. 
Culturalmente, por fatores que tentaremos 
entender durante a desenvolvimento desta obra, os 
resultados da Segurança Pública sempre estiveram 
relacionados ao desempenho tido como bom ou ruim 
http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca
http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
20 
das nossas polícias, da justiça e do sistema prisional, sem 
levarmos em conta todas as outras variáveis que neles 
incidem. 
Para entendermos nosso atual sistema de 
Segurança Pública temos que mergulhar na história do 
nosso país, especialmente no período de 1964 a 1985, o 
chamado regime militar ou Ditadura Militar para alguns. 
Nesse período a concepção de Segurança Pública 
estava atrelada à Segurança Nacional, pois o Estado 
entendia que as ameaças eram maiores que os direitos e 
com base nesse princípio macro, suprimiam-se os 
direitos individuais. 
A responsabilidade era do governo central que 
para manutenção do sistema e dos ânimos e insatisfações 
de eventuais opositores anuía com a violência policial, 
métodos brutais de interrogatórios e meios de obtenção 
de provas de delitos. 
Segundo José Murilo de Carvalho, na Primeira 
República, os prisioneiros das revoltas Federalistas 
tiveram suas cabeças decapitadas; Canudos foi destruída 
e os que se negavam a dar vivas à República foram 
degolados; os rebeldes do Rio de Janeiro e Santa 
Catarina, durante a revolta da Armada foram fuzilados; 
aos soldados indomáveis aplicou-se surra de espada; aos 
marinheiros revoltosos chibatadas e outros asfixiados na 
solitária. No Estado Novo, instituiu-se a figura 
socialmente conhecida como preso político, ao qual se 
destinou a Delegacia de Ordem Política e Social, o 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
21 
famoso DOPS, onde presos eram torturados, 
espancados, queimados com cigarros, alfinetados nas 
unhas, sendo-lhes retirados pedaços de carne com 
maçarico e até assassinados. Na ditadura militar, a 
violência policial usada em nome da segurança do Estado 
utilizou prisões ilegais, sequestros, bofetão, 
espancamento, “pau-de-arara”, “telefone”, surra de 
toalha molhada, asfixia mecânica, choque elétrico, 
estupro, cassetete no ânus e na vagina, assassinatos, 
desaparecimentos, além de outras formas usadas pelos 
profissionais da Segurança Pública, a serviço do Estado 
forte/violento (CARVALHO, 1998, p. 327 - 328). 
Somente após o ano de 1985, com as eleições 
indiretas que instituíram o primeiro governo civil do 
Brasil é que as ideias começaram a mudar. 
Em 1988 foi montada a Assembleia Nacional 
Constituinte cuja carta foi promulgada tendo o seguinte 
texto: 
...Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, 
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a 
preservação da ordem pública e da incolumidade das 
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
22 
 
 Segurança Pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos. A emblemática frase cravada 
na Constituição trazia para o Estado Brasileiro a garantia 
do cidadão e a responsabilidade do mesmo pela 
Segurança Pública cujo exercício implicava na 
preservação da ordem, incolumidade das pessoas e do 
patrimônio. 
 
O QUE ISSO PASSOU A SIGNIFICAR? Em 
primeiro plano, que a sociedade passava a ter 
responsabilidade sobre a questão da Segurança Pública e, 
além disso, que os cidadãos passavam a ser possuidores 
de direitos e garantias individuais outrora suprimidas pela 
ação do Estado que guerreava os subversivos da pátria. 
Após 1988 os pensamentos foram evoluindo e as 
instituições foram ganhando novos ares. 
Ocorre que, mesmo em novos tempos, há 
resquícios enraizados de tudo o que se passou nesta terra 
e, acredito, ainda levaremos algumas gerações para 
desenterrá-los definitivamente. 
Eu ingressei na Polícia Civil do Estado de São 
Paulo ocupando o cargo de Escrivão de Polícia em 1991. 
Fui designado para trabalhar no plantão policial da 
Delegacia de Polícia de Cubatão, pequena cidade distante 
uns 20 Km de Santos/SP e aos pés da Serra do Mar, 
passagem obrigatória de quem vem da capital São Paulo 
para as cidades do litoral paulista. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
23 
A constituição era de 1988 e mudava a forma de 
pensar a Segurança Pública. Eu entrei em 1991, exatos 
três anos após. 
Logo nos primeiros dias e durante os primeiros 
plantões me deparei com a dura realidade e descobri que 
a “Pulissa” é bem diferente da Polícia, ainda mais 
naqueles tempos. 
O modo de falar, se vestir, os gestos, todos são 
próprios ou eram, à época, melhor dizendo. 
Lembro de uma breve história que vou lhes contar 
para ilustrar o choque vivido pelos policiais naqueles 
tempos, onde as práticas eram pré e as leis e exigências 
pós Constituição de 88. 
Ano 1991. Ingressei um mês antes do Carnaval. 
Festa de Momo, samba, álcool e um monte de gente 
junta tem um resultado previsível: chama a PM na hora 
da confusão. 
Já era por volta de 2h da madrugada quando 
diversas viaturas da PM chegaram trazendo uns 20 
fantasiados. Tinha Batman, Marinheiro, Fred e Vilma, 
uns de sunga, mulher de biquíni e salto alto. O cheiro de 
álcool imperava no recinto. 
Um único bêbado já é um alvoroço. Imaginem 20 
deles juntos. 
No plantão policial, além deste que vos narra, 
havia um Delegado que estava em diligências (esse 
Delegado estava sempre em diligências externas e só fui 
descobrir isso alguns plantões depois, quando a esposa 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
24 
número 1 teve um encontro com a esposa número 2). 
Outro componente do plantão era o carcereiro que 
cuidava da cadeia anexaa Delegacia e o último integrante 
era o “seu Manoel” (nome fictício para não identificar o 
pulissa), um Investigador em fim de carreira. 
Seu Manoel tomou a frente da ocorrência e logo 
determinou: 
 
_Homem de um lado e mulher do outro. A 
bichona de fio dental pode ficar junto com as meninas. 
 
Na delegacia havia duas pequenas celas, chamadas 
de corrós, que serviam para manter os presos em 
flagrante até seu encaminhamento para a Cadeia nos 
fundos da instalação. 
Separados homens e mulheres mais a bichona 
(conforme seu Manoel) formou-se uma fila indiana na 
direção dos dois corrós (xadrez, cela, salinha de reflexão, 
como queiram). 
Antes, porém, uma explicação: seu Manoel 
também estava alcoolizado. Isso mesmo. O alcoolismo é 
frequente no meio policial e mereceria uma abordagem 
mais específica pela gestão das polícias, em geral. 
Voltando a narrativa, homens entrando na 
primeira cela e mulheres mais a “bichona” na segunda, 
uns 5 metros adiante. 
As celas eram pequenas, algo como 2x3 metros, e 
todos os alcoolizados teriam que ficar em pé. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
25 
Seu Manoel, após instalar os foliões nos corrós, foi 
até a mangueira de lavar o pátio e deu à primeira 
“molhada” na galera. 
A segunda molhada da noite foi uns 40 minutos 
depois quando começavam a secar. 
Por volta das 7h30min (o plantão terminaria as 8h) 
o Delegado não havia retornado da diligência externa e 
eu, como Escrivão, já havia feito mais uns 7 ou 8 
Boletins de Ocorrência sozinho. Nem lembrava mais que 
os foliões estavam nos corrós aos cuidados do seu 
Manoel. 
Naqueles tempos os plantões eram de 12h por 36h 
em escala extraordinária por causa do carnaval. Em 
resumo, uma noite sim e a outra não. 
Terminou o plantão, chegou à outra equipe, o 
Delegado não apareceu e não vi mais seu Manoel. Peguei 
minhas coisas, passei para o colega Escrivão que me 
rendia e fui para casa. 
Folga tranquila, nem lembro o que fiz. 
No plantão seguinte, que se iniciava às 20h 
cheguei cedo. Antes das 19h já estava lá. Ia de moto e 
para fugir do trânsito resolvi ir mais cedo, assim já 
liberava o colega. 
Quando cheguei o Escrivão que saia me passou o 
recado: 
 
_Tem um pessoal no corró que acho que é do Seu 
Manoel. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
26 
_Aããããã? Pessoal no corró é do seu Manoel? 
 
Fui até lá e vi que ainda estavam o Fred, a Vilma, 
o Marinheiro, o Batman, as mulheres e a Bichona 
(segundo Manoel). A única diferença é que a Bichona 
estava agora na cela masculina. 
Batman reclamava de dores nas costas e o vergão 
avermelhado apontava algum tipo de “queda” que tivera 
sofrido na cela. 
Seu Manoel chegou um pouco depois e nem se 
lembrava direito. 
Abriu a porta e mandou o povo embora. Cada um 
que saia da cela levava o famoso “pé na bunda” e era 
empurrado porta da Delegacia afora. 
Cena bonita. Por volta de 8h da noite os 
fantasiados, cabisbaixos andando pelas ruas do centro da 
cidade e retornando às suas casas. 
Os foliões ficaram quase dois dias “presos” no 
corró. 
Nos dias de hoje nós, os policiais é que estaríamos 
todos presos, o seu Manoel, eu, o Delegado e até o 
carcereiro. 
Contei essa história para fechar o contexto do 
antes e pós constituição de 1988. Antes a polícia e os 
“pulissas” podiam, hoje não podem mais. 
Acontece que as instituições policiais descritas no 
artigo 144 da Carta Magna daquele ano foram todas 
instituídas e fundamentadas nos princípios vigentes antes 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
27 
da promulgação e, por consequência, sofreram na sua 
gênese, as influências da época. 
As polícias militares, foram criadas como forças 
auxiliares do Exército, que tinha como objetivo combater 
o inimigo subversivo. 
As polícias civis estaduais foram criadas sob o 
manto imperial e cujo modelo seguia ritos cartoriais, 
vaidosos e burocráticos. 
A própria polícia federal, em sua criação, era um 
Departamento Federal de Segurança Pública e sua 
atuação política era cristalina. 
Sob esse prisma montou-se a estrutura dos 
organismos de segurança pública em nosso país antes da 
Constituição Federal de 1988, sem que essa estrutura 
policial tivesse sido atualizada para o período que se 
apresentava depois das mudanças de um Estado que 
combatia o inimigo subversivo para um Estado 
garantidor de direitos. 
Instituições concebidas dentro de uma ótica, com 
diretrizes e pessoal formatados para o combate ao 
inimigo subversivo as quais foram incumbidas de 
exercer, sob o mando do dever, a Segurança Pública em 
nosso país. E o pior, com uma constituição que trazia 
para as pessoas algo que não existia antes dela: direitos 
individuais. 
Está aí o primeiro grande gargalo de nosso 
modelo de Segurança Pública. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
28 
As instituições e seus efetivos completos viveram 
essa transição sem que fossem preparados, ao mínimo, 
para tal. O exemplo clássico foi Seu Manoel e como ele 
muitos outros, em todos os níveis. 
Por muitos e muitos anos o tema Segurança 
Pública foi entendido como a atuação dos organismos 
policiais e sua interferência na sociedade. Somente as 
Polícias eram responsáveis e tinham que dar as respostas 
às demandas dos cidadãos conforme eram demandados. 
Atualmente, entendo que o assunto é muito mais 
abrangente e concordo com as correntes modernas que 
tratam do tema como um conjunto de fatores para um 
fim específico. 
Desassociar fatores sociais, prisionais, sensação de 
impunidade, precariedades na área do judiciário, falta de 
alimentos, moradias, corrupção em todos os níveis e 
inúmeros outros elementos que contribuem para o 
resultado final, que entendemos como a boa Segurança 
Pública, é fechar os olhos para as realidades que batem à 
nossa porta todos os dias. 
Já li e ouvi vários estudiosos no assunto e abordo 
o tema sob a minha ótica. 
Entendo que a Segurança Pública é algo imaterial, 
não palpável, mas que pode ser sentida e pode ser vivida 
por todos nós. É sentimento que todos nós temos e, 
portanto, como responsáveis (artigo 144 da CF) por ela 
devemos contribuir para que essa sensação seja boa a 
todos. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
29 
Quando vemos uma notícia nos jornais ou na TV 
dando conta da impunidade que reina em nosso país e 
nos indignamos, muitas vezes acabamos por esquecer 
que essa impunidade é resultado de uma série de fatores 
os quais muitas vezes ignoramos ou mesmo 
desconhecemos. 
Conhecer para decidir, decidir para mudar. 
Vamos começar a tentar conhecer o mecanismo 
de nosso modelo de segurança pública. 
 
1.1 MEIO EM QUE SE VIVE 
A sociedade brasileira está organizada sob a forma 
de uma república democrática, cujos governantes são 
eleitos pelo voto popular, daí decorrendo a célebre frase 
“todo poder emana do povo”. 
 
O QUE ISSO QUER DIZER? A meu ver que a 
vontade popular deveria ser soberana e esse mesmo 
povo, através de seus eleitos, de seus servidores e de toda 
a organização do Estado, teria direitos individuais e 
coletivos, além das obrigações inerentes a quaisquer 
pessoas que vivem em sociedade. 
A partir desse conceito democrático começamos a 
formatar o primeiro grande grupo afeto a questão da 
segurança pública como um todo. 
O grupo que denomino: Meio em que se vive. 
 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
30 
QUEM FAZ PARTE DESSE GRUPO? Todos nós – 
fácil resposta. 
Então, médicos, bombeiros, donas de casa, juízes, 
árbitros de futebol, policiais, vendedores, compradores, 
usuários, todos, todos mesmo, que residem e se 
relacionam com nosso país. 
É nesse meio que as coisas acontecem ou não. 
Que as pessoas comercializam, procuram hospitais, 
sofrem crimes, fazem suas festas, interagem, entram em 
conflitos, enfim, vivem o seu dia a dia. 
Se tudo acontece nesse meio, para delimitarmos 
nosso pensamento no assunto deste livro, devemos dizer 
que as ações preventivas e impeditivas de crimes se 
passam aqui, assim como as ações investigativas que 
visam elucidaresses mesmos crimes que não foram 
impedidos de acontecerem. 
As forças policiais relacionadas no artigo 144 da 
Constituição Federal e que exercem essa obrigação do 
Estado Brasileiro estão nesse meio. 
Mais adiante falaremos detalhadamente sobre a 
estrutura das polícias no Brasil. 
Por enquanto ficamos com a informação de que as 
Polícias Militares nos estados exercem a prevenção aos 
crimes e as Polícias Civis, também estaduais, exercem as 
investigações dos crimes cometidos. 
A Polícia Rodoviária Federal, apesar de fardada, é 
de natureza civil e não militar, estruturada em carreira e 
tem como objetivo o controle das estradas federais. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
31 
Já a Polícia Ferroviária Federal, quase em extinção, 
de natureza civil, tem como objetivo o controle das 
ferrovias federais. 
Finalmente a Polícia Federal, que foi criada sob a 
figura de carreira única em sua concepção original foi 
idealizada como uma polícia de ciclo completo, que 
também abordaremos detalhadamente adiante, exerce 
função preventiva (impedir crimes) e investigativa 
(elucidar crimes). 
Nesse ambiente em que convivem pessoas, 
instituições, ideias e ideais convergentes e divergentes, 
boas e más práticas, o bem e o mal, ainda que as 
instituições que exercem o dever de proteger tentem, elas 
nunca conseguirão o êxito em 100% de suas ações. 
E assim os crimes acontecem. 
Acontecendo um crime o Estado volta suas 
instituições investigativas (Polícia Civil nos crimes 
estaduais e Polícia Federal nos crimes federais e demais 
contidos na legislação) para elucidação dos mesmos. 
Assim segue o ciclo coletivo de tentar conviver em 
equilíbrio (na área da saúde chamam de homeostase), 
tentar evitar desvios no convívio (crime) e tentar elucidar 
as circunstâncias desse desvio, apurando-se quem o fez, 
quais os motivos e seus resultados (investigação). 
Naturalmente que aspectos sociais, políticos, 
culturais, étnicos e outros interferem nesses processos, 
mas nesse meio em que se vive, a busca do equilíbrio é o 
almejado em termos de sensação de segurança pública ou 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
32 
sensação de insegurança pública. Não conseguimos 
comprar 1 Kg ou 1 litro de Segurança Pública mas 
conseguimos sentir que um local ou uma região é mais 
ou menos segura. 
Existe uma balança que pesa ininterruptamente 
essa relação entre quantidade, tipos e gravidades dos 
crimes com a capacidade estatal de solucioná-los levando 
seus autores para que respondam pelos atos cometidos. 
Quando a balança pende para o lado dos crimes a 
sensação de insegurança aumenta e quando a balança 
pende para o lado da minimização destes ou da punição a 
seus autores a sensação será de aumento da segurança. 
Um exemplo prático está em nosso bairro, 
exatamente onde moramos. 
Se você vai todos os dias à Padaria e recebe a 
informação de que toda semana há um roubo naquele 
local e os autores nunca foram presos, naturalmente você 
se sentirá inseguro em ir àquele local nas próximas vezes 
(mais crimes, menos sensação de segurança). 
Por outro lado, se você tem conhecimento de que 
naquela mesma Padaria os Policiais Militares fazem 
rondas diárias e um único caso de roubo foi prontamente 
desvendado e os autores presos, a sua sensação de 
segurança irá aumentar proporcionalmente, levando a 
balança a pender para o lado de melhor funcionamento 
da segurança pública como um todo. 
A sensação de segurança é boa, e a sensação de 
insegurança é ruim. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
33 
Em uma sociedade ideal, com equilíbrio social, de 
formação, estudo, financeiro e estruturada, a segurança 
pública tende a ser encarada dentro de um conjunto de 
fatores que levam a um resultado final. Ou seja, a 
segurança pública é somente um dos componentes do 
bem-estar do cidadão em relação ao bem-estar geral de 
um povo, o equilíbrio, a homeostase. 
O Brasil tem uma sociedade estruturada? As 
instituições funcionam de forma satisfatória? O cidadão 
brasileiro é provido de suas condições básicas, de seus 
direitos? 
É claro que não. E por diversos fatores, muitos 
de conhecimento público, outros não, mas é visível os 
enormes problemas estruturais que nosso país vive, 
problemas esses que influenciam diretamente nesse 
desequilíbrio do bem-estar do povo. Tudo isso influencia 
para que o “pacote” sensação de segurança penda para o 
lado contrário ao desejado. 
Instituições em colapso, povo com problemas 
sociais, fisiológicos, estruturais, educacionais e morais 
resultam no aumento da quantidade de crimes. Com o 
aumento dos crimes há aumento da sensação de 
insegurança. Com o aumento da sensação de insegurança 
há reclamos da população que se sente ameaçada. Com 
os reclamos da população há uma mobilização policial 
para resolução dos crimes e diminuição dos mesmos. 
Tudo isso se passa no “meio em que se vive”. Se 
existem os conflitos, esses conflitos são tipificados como 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
34 
crimes, e há atuação policial nesses crimes (tentando 
evitar - PM e PF, ou tentando elucidar - PC e PF): estão 
configurados os conflitos típicos de interferências do 
Estado. As decisões dessa interferência, ocorrem no 
meio jurídico, que eu chamo de “tripé da justiça” como 
veremos adiante. 
 
1.2 TRIPÉ DA JUSTIÇA 
A constituição de 1988 expressa de forma clara e 
transparente o princípio da Legalidade, implícito no art. 
5º, inciso II, CF que esclarece “ninguém será obrigado a 
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude 
de lei”, indo no sentido do disposto também no art. 5º, 
inciso XXXIX, CF que diz “não há crime sem lei 
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação 
legal”. 
Em resumo, bem resumido, se não estiver previsto 
em lei você não é obrigado a fazer. Se fizer algo, este algo 
só será considerado crime se tiver definição anterior ao 
fato. 
Então, no contexto dessa coisa chamada 
Segurança Pública, as pessoas se submetem às leis, às 
quais regulam a vida em sociedade. Quando há quebra 
dessa harmonia prevista nas leis acontece à necessidade 
de intervenção do Estado, através de suas instituições. 
Surge aí o que chamo de “Tripé da Justiça”. Ele é 
composto de três partes básicas e vou trazer para uma 
linguagem bem básica, pois esta obra não se destina a ser 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
35 
um tratado com verborragia jurídica e sim um trabalho 
de entendimento que facilite as discussões e a 
transmissão de conhecimentos. 
Advogado na função de Defensor, Ministério 
Público na função de Atacante e Magistrados na função 
de Julgadores e Aplicadores de Medidas. 
Vamos criar aqui um exemplo prático de crime e 
usá-lo para as explicações em todos os capítulos deste 
livro. 
O exemplo é simples: Temos uma casa em uma rua 
comum. Nesta Casa reside um Vigia Noturno chamado 
Joaquim. Ele trabalha das 20h às 8h em 6 dias da semana. 
Um dia, logo após sair para trabalhar, duas pessoas 
(identificadas como Carlos e André) arrombaram a janela 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
36 
da casa de Joaquim e subtraíram uma TV de 20 
polegadas. 
Crime comum, pessoas comuns, fato que acontece 
diariamente em todas as regiões do país. 
Vejam que uma regra de equilíbrio foi rompida. 
Esse rompimento gerou ação policial no sentido de 
desvendar o crime. Desvendado o crime há necessidade 
de se julgar essa conduta de forma justa para que a 
sociedade se coloque novamente no equilíbrio desejado, 
aumentando a sensação de segurança pública. 
Mas para que esse fato possa ser julgado e 
impostas medidas previstas em lei alguém tem que dizer 
que tipo de violação foi cometida, quais as provas que 
existem e foram colhidas e qual a punição entendida 
cabível para o caso. Isso chamamos de Denúncia (ou 
acusação ou ataque) e é promovida pelo Ministério 
Público. 
Epa, lembram da constituição e que ela fala em 
Direitos Individuais? Se há acusação tem que haver uma 
defesa do mesmo tamanho, com a mesma força, mesma 
intensidade, mesmo espaço,mesmo tudo. Aí entra a 
figura do Advogado de Defesa (que pode ser contratado 
ou indicado pelo próprio Estado). Ninguém que é 
acusado pode ser impedido de se defender. 
Se temos um ataque (MP) e uma defesa 
(Advogado) temos que ter um ente julgador. Aí entra a 
figura do Magistrado, representante do Estado, que irá 
julgar, com base na lei, o caso examinado, determinando 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
37 
medidas que visem devolver à sociedade o equilíbrio 
perdido quando do cometimento do ato delituoso. 
O tripé da justiça ou mundo jurídico é ferramenta 
essencial à preservação desse equilíbrio que influencia 
diretamente nessa coisa imaterial, inodora, impalpável 
que chamamos segurança pública. 
Sem o mundo jurídico, sem a paridade de forças 
entre Advogados e Ministério Público dentro dos autos 
do Processo legal, sem a imparcialidade dos Magistrados 
não há que se falar em restabelecimento do equilíbrio na 
sociedade. 
 
1.3 MEDIDAS 
Seguindo a sequência lógica de que as coisas 
acontecem no “meio em que se vive”, são equilibradas 
através da paridade de forças entre defesa (Advogados) e 
ataque (MP) com julgamento imparcial de Magistrados 
formando o “tripé da Justiça ou Mundo Jurídico” resta à 
efetivação dessa decisão judicial que se dá através do que 
passo a chamar de “Medidas”. 
As medidas nada mais são que as ações 
demandadas pelas decisões dos Magistrados nos autos 
dos processos. 
Vamos ao nosso caso prático. O furto da TV da 
casa de Joaquim, onde foram identificados Carlos e 
André, como autores. 
A Polícia, que não pertence ao meio jurídico, 
empenhou-se na elucidação do crime. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
38 
Levados, os autores e as provas colhidas, para o 
MP este providenciou a análise jurídica e ofereceu a 
denúncia (relacionou o fato à norma escrita prevista - o 
tipo penal). Os Advogados de Defesa procederam com o 
mesmo espaço no Processo, em paridade de forças com o MP. 
Ao final dessa fase processual de ataque e defesa 
cabe ao Magistrado julgar e definir as medidas de 
reequilíbrio necessárias ao caso. 
Há, basicamente e de forma simplista, dois 
caminhos a serem seguidos, o da Condenação a algum 
tipo de pena ou a Absolvição, com reingresso ao “meio 
em que se vive”. 
Se o Magistrado optar pela Absolvição os 
acusados retornam imediatamente para o “meio em que 
se vive”, se reintegram à sociedade e passam a viver 
normalmente. Nada ficam a dever e, em tese, obtém-se 
o equilíbrio tão almejado que resulta no aumento da 
sensação de segurança pública. 
Mas e se o Magistrado absolveu os acusados 
porque o trabalho de colheita de provas foi mal 
realizado? E se o Juiz absolveu os acusados porque o 
trabalho de acusação foi mal feito? E se as pessoas do 
bairro onde mora o vigilante Joaquim sabem que Carlos 
e André realmente são praticantes de delitos e foram 
absolvidos dentro de um processo legal? 
Como ficaria a sensação de Segurança Pública? 
Certamente a balança pesaria para o lado da sensação de 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
39 
insegurança pública. As pessoas do bairro veriam 
aumentadas suas decepções com relação ao sistema. 
Daí surge um dos principais dilemas do nosso 
sistema de Segurança Pública: a capacidade do Estado de 
investigar os crimes cometidos e fornecer ao MP material 
suficiente para boas denúncias e subsídios aos 
Magistrados para boas decisões. 
Iremos discutir a fundo os mecanismos 
investigativos nos capítulos futuros. 
Além das absolvições, em via simples de análise, 
os magistrados podem decidir pelas Condenações 
fundamentadas nas provas colhidas. Essas condenações 
podem gravitar desde prestações de serviços a privações 
de liberdade através de cumprimentos de penas em 
estabelecimentos prisionais. 
Voltando ao nosso exemplo do furto da TV da 
casa de Joaquim. Vejamos o que diz o artigo 155 do 
Código Penal: 
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa 
alheia móvel. 
 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é 
praticado durante o repouso noturno. 
 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
40 
 
Então, suponhamos que o Magistrado fixou a 
pena como privativa de liberdade, seguirão os 
condenados para o Sistema Prisional para cumprimento 
da mesma, ressocialização e retorno ao convívio no 
“meio em que se vive”. 
 
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor 
a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de 
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois 
terços, ou aplicar somente a pena de multa. 
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou 
qualquer outra que tenha valor econômico. 
 
Furto qualificado 
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e 
multa, se o crime é cometido: 
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à 
subtração da coisa; 
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, 
escalada ou destreza; 
III - com emprego de chave falsa; 
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, 
se a subtração for de veículo automotor que venha a 
ser transportado para outro Estado ou para o exterior. 
(Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996). 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art1
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
41 
Começa aí um outro dilema que influencia 
diretamente nesse nosso grande sistema. Um condenado 
que é enviado ao Sistema Prisional para cumprimento de 
pena pode ser ressocializado? Ao cumprir as medidas que 
lhes foram impostas os condenados conseguirão 
reinserção na sociedade? O sistema prisional funciona ao 
que se destina? 
As respostas a esses questionamentos ficarão em 
aberto, pois não me considero apto a respondê-las em 
virtude do desconhecimento do trabalho desenvolvido 
no sistema prisional. Minha experiência se restringe a 
entrega de presos ao sistema e não ao trabalho que é 
desenvolvido com esse reeducando dentro dele. 
Feitas as explicações iniciais sobre o 
funcionamento desse grande sistema integrado acredito 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
42 
que possamos formar um entendimento que serve como 
premissa para desenvolvermos nossos futuros 
raciocínios. 
Há um meio comum onde todos vivemos, onde as 
coisas acontecem, onde estão presentes as regras de 
convivência, onde estão as forças do Estado que ajudam 
a manter um equilíbrio que permita que as pessoas 
tenham maior sensação de segurança pública. 
Quando os comportamentos se alteram e violam 
regras pré-definidas há necessidade de intervenção das 
instituições. 
Se esses comportamentos se constituem em 
crimes são apurados pelas Polícias no sentido de se 
identificar quem fez, o que fez e qual a materialidade. 
Atendida a investigação policial entra em cena o meio 
jurídico, conhecido com Tripé da Justiça, onde 
advogados e MP (em igualdade) defendem e atacam, 
cabendo aos magistrados o julgamento. Do Julgamento 
são aplicadas medidas. As medidas têm como objetivo 
final o restabelecimento do equilíbrio dessa mesma 
sociedade e o retorno de todos ao meio comum de 
convivência. 
Nesse ciclo geral destaca-se o papel das Polícias, 
sejam preventivas, repressivas ou investigativas. O 
equilíbrio não se mantem somente pela atitude das 
pessoas, infelizmente. Particularmente, gostaria que as 
coisas transcorressem sem a intervenção do estado, mas 
isso não ocorre. As polícias existem e continuarão a 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
43 
existir, pois, ao contrário do que muitos apregoam, são 
responsáveis pela resolução de grande parte dos 
conflitos, evitando que os mesmos terminem em 
demandas nos tribunais. 
Vamos analisar os organismos policiais sob 
diversos aspectos, ingressando pelo Ciclo completo de 
Polícia e o Ciclo incompleto de Polícia, passando pelos 
modelos de Carreira dos Policiais, comparando com 
outros modelos, trazendo dados e fórmulas de medição 
de produtividade das polícias investigativas brasileiras. 
Relembro que são os meus pontos de vistasobre 
os assuntos tratados e extraídos do binômio 
estudo/prática. 
Antes de começar a discorrer sobre os assuntos 
nos capítulos seguintes vou deixar aos leitores uma 
pergunta no ar e garanto que os policiais “de campo” 
têm a resposta na ponta da língua: 
 
VOCÊ É POLICIAL E FOI DESIGNADO PARA 
UMA INCURSÃO NUMA ÁREA CONSIDERADA 
DE ALTO RISCO. QUEM VOCÊ ESCOLHE 
PARA LHE ACOMPANHAR: 
 
( ). O Comandante Geral da PM que possui 20 cursos 
em diversos países do mundo acompanhado do 
Delegado Geral da Polícia Civil com mais de 30 cursos 
em diversas áreas; 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
44 
( ). O Cabo Jonas e o Sargento Fidélis da PM local que 
trabalham na região há 10 anos e fazem incursões diárias 
na área. 
 
Partimos daí 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
45 
CAPÍTULOII 
 
CICLO COMPLETO DE POLÍCIA 
VERSUS CICLO INCOMPLETO 
DE POLÍCIA2 
 
Neste capítulo abordaremos dois modelos 
estruturais para lidarmos com os crimes, sejam antes que 
aconteçam ou depois de acontecerem. Dentro dessas 
estruturas que encontramos no “meio em que se vive”, 
abordado no tópico anterior, podemos visualizar formas 
distintas de se lidar com o mesmo assunto. 
Quando abordamos o mesmo assunto de formas 
distintas podemos chegar ao mesmo resultado ou a 
resultados bem diversos. No presente caso os resultados 
finais, nos locais onde são utilizados os modelos, são 
diametralmente opostos, ou seja, em se tratando de 
crimes um modelo responde muito melhor que o outro. 
Antes de entrarmos diretamente no assunto é 
necessário conceituarmos crime e investigação. Segundo 
o Wikipédia, “crime é uma violação da lei penal 
incriminadora. No conceito material, crime é uma ação 
ou omissão que se proíbe e se procura evitar, 
 
2 https://www.youtube.com/watch?v=knXnvHk84Q4 
2.1 https://www.facebook.com/Policial-Federal-Scandiuzzi-238021303237088/videos 
https://www.youtube.com/watch?v=knXnvHk84Q4
https://www.facebook.com/Policial-Federal-Scandiuzzi-238021303237088/videos
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
46 
ameaçando-a com pena, porque constitui ofensa (dano 
ou perigo) a um bem jurídico individual ou coletivo” 
De acordo com as definições apresentadas pelo 
Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora acerca 
da palavra “investigar” (do latim investigare), este verbo 
refere-se à ação de seguir os vestígios de algo ou alguém. 
Também faz referência à realização de atividades 
intelectuais e experimentais de modo sistemático 
(pesquisar), com o objetivo de ampliar os conhecimentos 
sobre uma determinada matéria. 
Num entendimento mais simples, o crime é o ato 
ilícito, previsto em lei e a investigação é o conjunto de 
ações realizadas para se elucidar as circunstâncias daquele 
ato. 
Durante minha vida profissional tive a 
oportunidade de agregar conhecimentos em diversas 
áreas. Em uma das oportunidades participei de um curso 
promovido pela embaixada americana no Brasil e que foi 
ministrado por Agentes da CIA e do FBI. O assunto 
principal era o local dos crimes. 
Há uma expressão no meio policial de que “o local 
do crime fala”. Na verdade, muitas vezes o local do 
crime berra e por isso essas instituições policiais 
americanas valorizem tanto as análises desses locais. 
Como exemplo prático trago o exemplo do crime 
de Homicídio, que por circunstâncias profissionais vim a 
atender durante minha jornada. Em um local de 
homicídio uma das primeiras providências periciais é 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
47 
medir a temperatura do corpo já sem vida. E porque se 
faz isso? Cientificamente, a temperatura média do corpo 
humano é de 37º C. Ocorre que a temperatura do corpo 
humano é mantida por processos bioquímicos e pela 
circulação sanguínea. Com a morte cessam-se esses 
processos e a circulação fazendo com que o corpo inerte 
passe a igualar gradativamente sua temperatura a 
temperatura ambiente, ou seja, o corpo passa a perder 
calor. A ciência permite aos investigadores precisar a 
hora aproximada do óbito e, em caso de crime, a hora 
em que ocorreu o ato criminoso. 
A determinação da hora do crime é 
importantíssima num contexto de homicídios, pois pode 
colocar ou tirar pessoas da cena do ocorrido. 
Ciência! Guardem isto. Polícia Científica. 
Foi a primeira vez que vi o gráfico abaixo e as 
explicações científicas apresentadas. 
 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
48 
O gráfico aponta um local de crime e as 
incidências de elucidações relativas às investigações. 
Quanto mais perto do local do crime está a investigação 
maior as chances desse crime ser elucidado. Esse 
conceito se reflete muito claramente quando assistimos 
filmes americanos e séries do estilo CSI onde fica muito 
clara a importância das investigações iniciadas e 
praticadas a partir do local da ocorrência de um crime. 
Quando falamos de crime estamos falando no 
sentido geral, mas a fórmula da proximidade acaba 
funcionando em todos os casos. 
Abordaremos detalhadamente os modelos 
investigativos pátrios no capítulo em que abordaremos a 
Polícia Federal das Operações versus a Polícia Federal do 
dia-a-dia. 
Neste momento ficamos com a conceituação de 
que o investigador que chega mais próximo do local do 
crime terá mais chances de elucidá-lo. 
Já sabemos o que é crime e o que é investigar. 
Sabemos também que a investigação que se aproxima do 
local do crime tem maiores chances de êxito. Vamos 
então aos modelos. 
Vamos usar no nosso estudo o mesmo caso para 
ambos os modelos. Lembram-se do caso do furto da TV 
da casa do Vigilante Joaquim? Pois bem, é ele mesmo. 
 
 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
49 
2.1 CICLO INCOMPLETO DE POLÍCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vamos começar informando que esse modelo é 
utilizado nos seguintes países: Brasil, República de Cabo 
Verde e República Guiné Bissau. 
O Ciclo Incompleto de Polícia - CIP ou modelo 
da laranja partida é um modelo baseado na atuação 
parcial das polícias onde cada uma é responsável por 
uma parte de determinado procedimento tendo como 
principal característica a falta de transferência dos 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
50 
conhecimentos adquiridos dentro daquele procedimento. 
Vamos tentar entender dentro do exemplo prático. 
O Vigilante Noturno Joaquim saiu de casa para 
mais um dia de serviço. Durante o período em que 
trabalhava uma viatura da Polícia Militar chegou a passar 
pela porta da sua casa. Pela manhã, ao retornar cansado 
de sua jornada, notou que a janela lateral da sua casa 
estava aberta. Aproximou-se e viu que o trinco estava 
danificado. Abriu a porta da casa usando suas chaves e 
acessou o quarto que tinha a janela aberta. Notou 
pegadas marcadas com barro no chão da casa e notou 
também que sua TV da sala havia sido subtraída. 
Crime contra o patrimônio, altamente comum nos 
dias atuais. 
Joaquim fez o que qualquer um de nós faria. 
Telefonou para a Polícia Militar que encaminhou uma 
viatura ao local. Lá chegaram os Soldados Mario e 
Fagundes. Mario, um Soldado novo e muito diligente, 
começou a anotar os dados da ocorrência e preencheu 
todos os documentos da Polícia Militar. Ao final 
informou ao Vigilante Joaquim que levaria o caso à 
Delegacia da área para registro da ocorrência e a partir 
desse ponto a Polícia Civil local é que ficaria responsável 
pelas investigações para apurar onde estaria a TV 
subtraída e quem teria praticado o ato. 
Os Soldados Mario e Fagundes levaram os dados 
colhidos à Delegacia do bairro onde o Delegado de 
Plantão determinou a elaboração de um Boletim de 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
51 
Ocorrência. Nesse Boletim de Ocorrência feito pelo 
Delegado de Polícia constavam exatamente os mesmos 
dados já narrados na descrição detalhada feita pelos 
Policiais Militares nos formulários da sua corporação. 
No dia seguinte, como não apareceu ninguém para 
investigar ou periciar a janela arrombada, o Vigilante 
Joaquim mandou arrumá-la, pois seria perigoso deixá-ladaquele jeito. 
O vigilante Joaquim nunca foi comunicado ou 
teve qualquer retorno sobre as investigações. 
Um caso corriqueiro de furto qualificado como 
muitos outros que são atendidos e registrados todos os 
dias nas Delegacias de todo nosso Brasil. 
Vamos à análise do modelo de Ciclo Incompleto 
de Polícia. 
Notamos aí que existem duas Polícias atuando no 
mesmo fato criminoso e agora é hora de buscarmos na 
legislação as atribuições de cada uma. 
Analisemos a Constituição Brasileira. 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, 
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a 
preservação da ordem pública e da incolumidade das 
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
52 
 
Vejam que a Constituição é clara e funciona como 
instrumento de partição da Laranja, instituindo o CIP, na 
medida em que esclarece que as Polícias Civis apuram as 
infrações penais e as Polícias Militares atuam de forma 
ostensiva visando evitar os crimes. 
A constituição impede a Polícia Militar de 
investigar crimes fazendo com que, em caso de 
atendimento, seja obrigada a encaminhar os dados 
obtidos à Polícia Civil para apuração do fato. 
Surge uma primeira dúvida: O Vigilante Joaquim, 
ao constatar o furto de sua TV não deveria ter ligado 
para a Polícia Civil e esta não deveria ter designado um 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
 
… § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de 
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a 
competência da União, as funções de polícia judiciária 
e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 
§ 5º Às polícias militares cabem à polícia ostensiva e a 
preservação da ordem pública; aos corpos de 
bombeiros militares, além das atribuições definidas em 
lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
53 
Delegado para atender a ocorrência e ir ao local dos 
fatos? 
É claro que sim. Está na Constituição. Além disso 
o Código de Processo Penal direciona: 
 
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática de 
infração penal, a autoridade policial deverá: 
I – se possível e conveniente, dirigir-se ao local, 
providenciando para que se não alterem o estado e 
conservação das coisas, enquanto necessário; (grifo 
meu). 
II – apreender os instrumentos e todos os objetos que 
tiverem relação com o fato; 
III – colher todas as provas que servirem para o 
esclarecimento do fato e suas circunstâncias; 
IV – ouvir o ofendido; 
V – ouvir o indiciado, com observância, no que for 
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII 
deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado 
por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura; 
VI – proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e 
a acareações; 
VII – determinar, se for caso, que se proceda a exame 
de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; 
VIII – ordenar a identificação do indiciado pelo 
processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos 
autos sua folha de antecedentes; 
 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
54 
 
Então, ocorrido o crime, quem deveria ir ao local 
dos fatos seria a Polícia Civil, pois esta é a responsável, 
dentro do Ciclo Incompleto de Polícia - CIP, pelas 
investigações. É ela que tem que buscar autoria, 
materialidade, dinâmica do evento e recuperação da res 
furtiva. 
Só que na prática não é assim que funciona. 
Imaginem se o Vigilante Joaquim ligasse para a Delegacia 
do bairro e solicitasse a presença do Delegado de Polícia 
da área para atender a ocorrência? Claro que não seria 
atendido porque as polícias brasileiras foram estruturadas 
de forma desconexas, como meias laranjas. 
Na prática, ocorreu o que ocorre em todos os 
casos de registros de ocorrências. A Polícia Militar que 
não pode investigar foi até o local, anotou os dados nos 
seus formulários e encaminhou esses dados à Polícia 
Civil que de forma burocrática formulou mais um 
documento com os mesmos dados e ainda assim não 
começou a investigação. 
IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o 
ponto de vista individual, familiar e social, sua 
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo 
antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer 
outros elementos que contribuírem para a apreciação 
do seu temperamento e caráter. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
55 
Ainda na prática, foram mobilizadas duas 
instituições, uma que começou o que não pode terminar 
e outra que vai terminar o que não começou. O resultado 
disso tudo? Dois formulários, nenhum ato investigativo e 
o Vigilante Joaquim sem a sua TV. 
E quais são as características que podemos 
apontar para esse modelo policial, o chamado Ciclo 
Incompleto de Polícia ou Laranja Partida? 
 
 Desperdício de material humano e de recursos 
financeiros. 
 Investigação (pela Polícia Civil) longe do local do 
crime já que não atende a ocorrência no local. 
 Baixo índice de resolução de crimes (em torno de 
8% dos crimes são solucionados). 
 Desmotivação dos Policiais Militares que apesar de 
comparecerem ao local não podem investigar. 
 Rivalidade improdutiva entre a Polícia Militar e a 
Polícia Civil. 
 Centralização da Investigação com demasiada 
importância à figura do Delegado de Polícia. 
 Morosidade entre o fato delituoso e eventual início 
das investigações. 
 Distanciamento do Policial que atendeu a 
ocorrência da investigação (o PM que foi ao local 
não participa das investigações). 
 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
56 
Vou aproveitar para contar um caso real já que, 
antes de entrar para a Polícia Federal, fui Policial Civil 
por 6 anos e trabalhei muito nos plantões registrando as 
ocorrências. 
Era um sábado ou uma sexta, não me recordo 
bem. Sextas e sábados são os dias críticos nos plantões 
policiais. Trabalhava das 20 às 8h, na madrugada, e, em 
média, registrávamos de 5 a 10 ocorrências policiais que 
iam desde briga de marido e mulher a homicídio. 
Naquele dia a guarnição da Polícia Militar chegou 
no início do plantão. Como era de hábito tomei a frente. 
Era uma ocorrência de tentativa de homicídio, mediante 
uso de faca, onde o autor havia estocado a vítima na 
altura do tórax. Vítima socorrida ao Pronto Socorro 
local, autor saiu correndo e a faca ficou jogada ao solo. 
Os PMs que atenderam a ocorrência acharam por 
bem recolherem a faca e encaminharem à Delegacia. 
Durante os registros obtiveram um endereço próximo 
como sendo o da casa do Autor. Lá foram eles. Bateram 
na porta e perguntaram pelo fulano. A pessoa que 
atendeu disse que ele não estava em casa e que não havia 
retornado do bar onde estava comemorando seu novo 
emprego. Os PMs insistiram, mas não obtiveram êxito 
em achar o autor das facadas. 
Esgotadas as diligências e os registros formais os 
Militares levaram a ocorrência à Delegacia para 
conhecimento do Delegado. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
57 
Aí começou a encrenca. O Delegado entendeu que 
eles não deveriam ter diligenciado, que não deveriam ter 
recolhido a faca, que não deveriam ter ido à casa do 
autor, enfim, que não deveriam ter feito nada. 
Estabeleceu-se a confusão que só foi contornada 
quase uma hora depois. 
Acredito, por essas e outras, dentro do binômio 
estudo/experiência que o Ciclo Incompleto de Polícia é 
um dos grandes motivadores da rivalidade e dos 
problemas existentes entre as Polícias Civis e Militares 
nos Estados. 
O resultado final dessa ocorrência, no nosso 
modelo de Ciclo Incompleto de Polícia - CIP, foi 
nenhum ato investigativo realizado, nenhuma prova 
técnica colhida e, em decorrência disso e de outros 
fatores que iremos abordar, um índice bizarro de 
aproximadamente 5 a 8% de casos solucionados no 
Brasil. 
Além disso, foi uma ocorrência que potencializou 
a já tão decantada rixa existente entre Policiais Militares e 
Policiais Civis. Muitos preferemfingir que isso não 
existe, mas para quem já viveu isso no dia-a-dia não há 
como negar. 
Esse é o modelo usado no Brasil e em mais outros 
dois países da África. O resto do mundo adota modelos 
distintos. O principal veremos a seguir. 
 
 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
58 
2.2 CICLO COMPLETO DE POLÍCIA 
Esse é o modelo utilizado nos países da Europa, 
América do Norte e América do Sul, enfim, na maioria 
dos países. 
Recentemente a Câmara dos Deputados, através 
da Comissão de Estudo para Unificação das Polícias, 
presidida pelo Deputado Edson Moreira, enviou seus 
representantes a diversos países a fim de verificarem a 
formatação das polícias. 
Na Áustria, de 24 a 28/07/2017, verificaram que 
existem duas polícias: a Gendarmaria e a Polizei, ambas 
de ciclo completo. 
No Chile, de 25 a 27/09/2017, verificaram que 
existem duas polícias: os Carabineiros e a Policia de 
Investigaciones-PDI, ambas de ciclo completo. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
59 
Na Colômbia, de 28 a 29/09/2017, verificaram 
que existe uma única polícia, a Polícia Nacional 
Colombiana, de ciclo completo. 
Nos Estados Unidos, de 22 a 23/05/2017, 
verificaram que existem mais de 17.000 agências policiais, 
de ciclo completo. 
No Canadá, de 24 a 26/05/2017, a Real Polícia 
Montada do Canadá, também de ciclo completo. 
Na Itália, de 17 a 18/11/2017, verificaram três 
polícias nacionais, a Polícia de Estado, os Carabineiros e 
a Guarda de Finanças, todas de ciclo completo. 
Ou seja, o mundo desenvolvido pratica o ciclo 
completo de polícia. 
Quando discutimos no item 3.1 o Ciclo 
Incompleto de Polícia-CIP, atualmente praticado no 
Brasil e estampado na Constituição de 1988, notamos 
que existem diversas polícias, mas há uma clara separação 
de atribuições do Antes e Depois da ocorrência de um 
crime, como se o acontecimento deste gerasse uma nova 
dinâmica. 
Na verdade, a dinâmica do crime é a mesma e 
então precisamos ver como os países mais evoluídos e 
com melhores índices de segurança pública, inclusive 
sensação de segurança, tratam o assunto. 
O Ciclo Completo de Polícia - CCP, basicamente, 
se resume em: “a polícia que começa é a polícia que 
termina, se for dentro da sua competência”. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
60 
Para ser mais claro vamos a um exemplo usando 
uma série americana tradicional chamada CSI. Sempre 
que ocorre um crime vemos que o local é preservado por 
policiais ostensivos (fardados) até a chegada dos policiais 
não ostensivos (geralmente de terno). Os dois policiais, 
tanto os fardados como os de terno pertencem à mesma 
polícia e estão em níveis profissionais diferentes. 
Como o caso é tratado dentro da mesma polícia 
um só formulário é feito. A equipe de investigação vai ao 
local do fato e inicia ali a colheita de provas. O calor do 
crime, seja ele qual for, está no seu máximo grau. A cena 
do crime está falando. Os investigadores estão com todas 
as evidências a sua frente e podem desenvolver melhor 
suas habilidades técnicas além da colheita das evidências 
científicas. 
Percebemos então que o Ciclo Completo de 
Polícia-CCP aproxima o investigador do local do fato e 
talvez por isso os índices de elucidação de crimes 
aumentem muito em relação ao Ciclo Incompleto de 
Polícia-CIP, chegando de 65 a 80% de crimes elucidados. 
Os países que utilizam o CCP entregam às suas 
populações uma sensação de segurança pública maior. 
Para isso basta fazermos uma simples pergunta: Onde eu 
acho que é mais seguro morar, no Brasil ou nos Estados 
Unidos? No Brasil ou no Chile? Naturalmente que 
outros fatores contribuem para essa sensação de 
segurança, mas é claro e natural que em países onde os 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
61 
crimes são solucionados e as pessoas cumprem suas 
penas, há uma maior confiança no sistema. 
Então como faríamos para a implantação do Ciclo 
Completo de Polícia em nosso país? 
Boa pergunta e de diversas respostas. A mais 
simples seria unificarmos as Polícias Civis e Militares nos 
Estados e reestruturarmos o sistema de leis de modo a 
darmos a essa nova polícia operacionalidade e 
funcionalidade. 
Outra forma seria copiarmos países como o Chile 
onde não há uma única polícia, mas todas elas são de 
ciclo completo (começam e terminam) e têm suas 
competências definidas em lei. 
Outra forma seria legalizarmos todas as formas 
policiais, inclusive as municipais, definindo lhes 
competências para determinados crimes e ciclo completo 
para que pudessem começar e terminar os casos que lhe 
são previstos. 
Antes de finalizar gostaria de citar o exemplo 
excepcional da Polícia Federal que na Constituição de 
1988 foi concebida como uma Polícia de Ciclo Completo 
e por isso se difere das Polícias Civis estaduais. 
A concepção constitucional da Polícia Federal 
idealizou que a mesma seria uma polícia de Ciclo 
Completo, ao contrário das Polícias Civis e Militares. 
Ocorre que com o passar dos anos e com interesses 
corporativos a visão e a gênese constitucional foi sendo 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
62 
abandonada, mas ainda perdura em vários segmentos de 
atuação. 
 
Vamos ao texto da lei máxima: 
 
Uma simples leitura do texto da Lei Magna e a 
análises dos verbos que determinam as ações nos 
permitem apurar que a Polícia Federal tem em seu papel 
constitucional funções preventivas, repressivas, funções 
Art. 144. 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão 
permanente, estruturado em carreira, destina-se a: 
I - apurar infrações penais contra a ordem política e 
social ou em detrimento de bens, serviços e interesses 
da União ou de suas entidades autárquicas e empresas 
públicas, assim como outras infrações cuja prática 
tenha repercussão interestadual ou internacional e 
exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; 
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o 
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de 
outros órgãos públicos nas respectivas áreas de 
competência; 
III - exercer as funções de polícia marítima, aérea e de 
fronteiras; 
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia 
judiciária da União. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
63 
de polícia administrativa e funções de polícia judiciária, 
além da polícia investigativa. 
Isso a difere no sentido geral das Polícias Civis e 
Militares dos Estados que tem na mesma constituição 
atribuições mais restritas à sua área de atuação, 
condicionadas ao Ciclo Incompleto de Polícia. Vejamos 
os verbos abaixo. 
 
Fica bem claro quando analisamos o texto da lei 
que a Polícia Federal é por concepção uma polícia de 
Ciclo Completo (começa e termina), e as Polícias 
Militares (começam, mas não terminam) e Civis 
(terminam, mas não começam) dos Estados formam o 
modelo de Ciclo Incompleto de Polícia. 
Como vimos no exemplo de Ciclo Incompleto de 
Polícia - CIP cabe a Polícia Militar a prevenção tentando 
Artigo 144... 
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de 
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a 
competência da União, as funções de polícia 
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto 
as militares. 
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e 
a preservação da ordem pública; aos corpos de 
bombeiros militares, além das atribuições definidas em 
lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
64 
evitar o crime e à Polícia Civil a investigação tentando 
desvendar o crime ocorrido (duas metades da laranja). 
Lembram do caso em que o PM levou a 
ocorrência para a Polícia Civil? Isso é o Ciclo 
incompleto. 
Na Polícia Federal existem as duas situações, 
configurando o Ciclo Completo de Polícia – CCP e mais 
uma terceira situação que configura o Ciclo Incompleto 
de Polícia-CIP que ocorre quando a PF recebe 
ocorrências das outras forças policiais. 
Neste instante temos Policiais Federais 
trabalhando nos postos de fronteira que vão desde 
postos na região de selva amazônicaaté os grandes 
aeroportos. Vou lhes contar um caso que ocorreu 
comigo no Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP 
para facilitar o entendimento. 
Estava trabalhando no Aeroporto em regime de 
plantão (24h x 72h). Trabalhava um dia inteiro e folgava 
outros três. Junto com outros Policiais Federais éramos 
responsáveis pelo fluxo de pessoas que entravam e saiam 
do país (estrangeiros e nacionais). Isso incluía a imigração 
de estrangeiros, o controle de saída de menores 
acompanhados ou desacompanhados, as deportações, 
repatriações, expulsões, etc. Serviço complexo que exigia 
dos Policiais especial atenção, pois tínhamos ciência de 
que éramos a última barreira do Estado brasileiro em 
defesa do nosso povo. 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
65 
Dentro desse cenário, além desses atos de Polícia 
Administrativa e de Soberania Nacional (que as Polícias 
Civis e Militares não exercem) em um aeroporto, 
também exercíamos todas as funções policiais tentando 
prevenir crimes. 
Como é muito falado e noticiado sabemos que os 
Aeroportos, especialmente os grandes como Guarulhos, 
são rotas de tráfico internacional. Como a polícia tem o 
viés técnico e científico, os policiais federais que lá 
trabalham desenvolvem técnicas de observação e 
comportamento, além de um trabalho científico de 
cruzamento de dados que permitem separar um público 
alvo que seja passível de um acompanhamento mais 
próximo. 
Naquele plantão já havíamos recebido a 
informação de que um elemento de naturalidade 
espanhola se enquadrava naquelas características, e eu e 
outro colega fomos designados a acompanhá-lo à 
distância após o check in até o momento de eventual 
abordagem. 
Feito isso passamos a seguir o indivíduo que 
chamava a atenção pela magreza e uso de calças largas, 
como se tivesse comprado um número maior. 
Para quem não sabe até para seguir as pessoas 
existe técnica que nos é ensinada na Academia Nacional 
de Polícia. 
Seguimos o cidadão sem suspeitas. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
66 
Quando ele atravessou o portal de raio x nos 
comunicamos com outros colegas e demos sinal que 
iríamos abordá-lo. Assim o fizemos. 
Nos identificamos colocando nossos distintivos 
para fora da camisa e pedimos que nos acompanhasse até 
a sala de revista, alguns passos adiante do portal de raio 
X. Durante a revista pude constatar que nas suas pernas 
haviam volumes. Revista mais minuciosa demonstrou 
que levava consigo aproximadamente 3 kg de cocaína, 
comprovada através de Narcotest. 
Primeira metade da Laranja. Trabalhei na 
prevenção. Como a Polícia Militar. Concordam? 
A seguir comuniquei a equipe de Plantão, 
composta por um Delegado, um Escrivão, um Perito 
Criminal e um Agente Federal para quem encaminhei o 
preso (autoria) e a cocaína (materialidade). 
Essa equipe, da mesma Polícia Federal, completou 
o serviço com a lavratura do flagrante e encaminhamento 
do preso ao sistema prisional. Outra metade da laranja. 
Uma só polícia realizou o trabalho de polícia 
administrativa, de polícia preventiva, de polícia repressiva 
e a formalização dos atos burocráticos de polícia 
investigativa, que alguns confundem com polícia 
judiciária. Ciclo Completo de Polícia. Quem começa 
termina. 
E quais são as características que podemos 
apontar para esse modelo policial, o chamado Ciclo 
Completo de Polícia ou Laranja Inteira? 
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
67 
 
 Melhor aproveitamento dos recursos humanos e 
materiais já que os casos tramitam dentro da 
mesma instituição 
 Diminuição da morosidade entre o fato delituoso 
e eventual início das investigações. 
 Maior proximidade dos Policiais de campo com a 
amplitude dos crimes 
 Modelo usado pelos países que alcançam bons 
índices de resoluções de crimes 
 Valorização dos Policiais que realmente efetivam 
as medidas protetivas e investigativas 
 
DIANTE DESSE QUADRO E DO 
CONHECIMENTO DOS MODELOS POLICIAIS 
PODEMOS PROPOR UM QUESTIONAMENTO: 
O BRASIL ESTÁ CERTO AO ADOTAR UM 
MODELO, CONHECIDO COMO CICLO 
INCOMPLETO DE POLÍCIA-CIP, QUE SÓ É 
USADO AQUI E EM MAIS DOIS PAÍSES 
AFRICANOS, O QUAL REPARTE EM DUAS 
METADES O PRÉ E O PÓS CRIME, 
RESULTANDO EM ÍNDICES DE 
ESCLARECIMENTOS DESSES MESMOS 
CRIMES EM TORNO DE 5 A 8%? 
 
( ) SIM ( ) NÃO 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
68 
CAPÍTULO III 
 
CARREIRA POLICIAL – 
COMPARATIVO ENTRE A POLÍCIA 
FEDERAL AMERICANA – 
FBI E A POLÍCIA FEDERAL 
BRASILEIRA – PF3 
 
Neste capítulo iremos abordar a gênese da carreira 
policial federal, sua estrutura, seus cargos, formas de 
ascensão, gargalos e expectativas de seus componentes. 
De igual forma faremos um estudo comparativo com 
uma das mais conceituadas instituições policiais do 
mundo moderno, o FBI. 
Sabemos que não há uma formula definida e 
mágica para a Segurança Pública, em especial uma 
fórmula que aumente a sensação de segurança, mas, 
também sabemos que há modelos e formas de gestão 
que dão melhores ou piores resultados e as comparações 
permitem essas diferenciações. 
Quando analisamos modelos empregados nos 
modais de Segurança Pública pelo mundo nos 
deparamos e facilmente identificamos seu principal 
elemento. O ser humano. 
 
3 https://www.youtube.com/watch?v=IPpqSnzyTDg 
3.1 https://www.facebook.com/Policial-Federal-Scandiuzzi-238021303237088/videos 
https://www.youtube.com/watch?v=IPpqSnzyTDg
https://www.facebook.com/Policial-Federal-Scandiuzzi-238021303237088/videos
A SEGURANÇA PÚBLICA DE DENTRO PARA FORA 
 
69 
O ser humano é o principal elemento por motivos 
óbvios já que é o polo passivo e o polo ativo de todas as 
relações. Sempre há ação humana antes, durante ou 
depois de alguma demanda relacionada à segurança uma 
vez que essa é voltada ao próprio ser humano. 
O homem planeja ações, o homem executa as 
ações planejadas, o homem define leis, as faz cumprir, as 
cumpre, o homem avalia os resultados, o homem, o 
homem, o homem. 
Partindo desse princípio qualquer ação que 
influencie na sensação de segurança ou mesmo na efetiva 
segurança passa por ações do homem que está inserido 
no contexto sociedade e, portanto, quaisquer 
modificações no estado desse elemento primordial 
podem afetar o equilíbrio alcançado. 
Como estamos analisando o contexto do nosso 
país para podermos comparar com outros países temos 
que iniciar a análise dizendo que o elemento humano por 
aqui é deixado muitas vezes em segundo e até terceiro 
plano nas ações relacionadas ao tema. Para isso basta nos 
aprofundarmos no dia a dia policial ou de cada um dos 
demais componentes do sistema. 
As guardas municipais e seus elementos humanos 
não possuem status de polícia. A Guarda Portuária e seus 
elementos humanos, que exercem policiamento nos 
Portos, não tem reconhecimento. 
A Polícia Ferroviária Federal e seus elementos 
humanos está esfacelada. 
MARCO ANTONIO SCANDIUZZI 
 
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As Polícias Militares nos Estados e seus elementos 
humanos sofrem no combate diário e direto à 
criminalidade. 
As Polícias Civis e seus elementos humanos 
definham num modelo corporativista. 
A Polícia Federal e seus elementos humanos tem 
sérios conflitos internos, varridos por vezes para debaixo 
do tapete, iniciados a partir do entendimento de que o 
corporativo supera o principal elemento, o elemento 
humano, lembram? 
Como não teria conhecimento e nem capacidade 
de esmiuçar todas as polícias vou me ater ao modelo da 
Polícia Federal, onde passei 20 anos e tive a 
oportunidade de viver as mais diferenciadas situações. A 
seguir, trarei o modelo do FBI, a famosa polícia federal 
americana para que o leitor 
possa tirar suas próprias 
conclusões. 
Antes de entrar no 
tema em si gostaria de 
algumas análises na área da 
Gestão, minha área de 
formação e estudos. 
Segundo o psicólogo americano Abraham 
H.Maslow, as condições necessárias para que cada ser 
humano atinja a sua satisfação pessoal e profissional 
podem ser padronizadas hierarquicamente na forma de

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