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Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 1 Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados Informações adicionais Com 7 dias após o nascimento, a glicólise e a oxidação de lactato diminuem a níveis semelhantes aos do coração adulto, e o metabolismo predominante passa a ser β-oxidação de AG, que são o substrato preferencial dos cardiomiócitos para a geração de energia na vida adulta. Essa alteração da preferência do substrato energético e no perfil metabólico energético é acompanhada por alterações na expressão gênica de proteínas, com hipo-expressão de enzimas glicolíticas e hiper-expressão de enzimas do ciclo do ácido tricarboxílico e da β-oxidação. BIOGÊNESE MITOCONDRIAL → AUMENTO DA CAPACIDADE OXIDATIVA DAS CÉLULAS CARDÍACAS Metabolismo cardíaco requer níveis elevados de ATP - produz e consome de 3,55kg de ATP por dia. ATP CARDÍACO = 98% por processos oxidativos e 2% por glicólise anaeróbia Plasticidade metabólica do coração Em jejum prolongado, o fígado sintetiza corpos cetônicos (acetoacetato, β- hidroxibutirato e acetona) = substrato alternativos para produção de acetil- CoA. Fígado utiliza AG como aporte energético e, em jejum prolongado, utiliza uma rota alternativa para evitar descompensação metabólica. Acetil-CoA, produto da β-oxidação, é utilizada no ciclo do ácido cítrico (que formará, via gliconeogênese, glicose para manutenção da glicemia) e na cetogênese (gênese de corpos cetônicos - acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona). Com isso, acetoacetato e β-hidroxibutirato são translocados para tecidos e órgãos, como coração, m. esquelético, rins e cérebro - onde tais substâncias são convertidas novamente em acetil-CoA. Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 2 Distúrbios relacionados ou erros inatos do metabolismo SUDI (Sudden unexpected death in infancy) → uma das mais frequentes causas de óbito no 1o ano de vida 36%; em decorrência de erro inato do metabolismo EIM. Deficiência de acil-CoA desidrogenase de cadeia média MCAD, um defeito de beta-oxidação de AG, parece ser o principal EIM associado à SUDI. obs.: muitos dos EIM são tratáveis; diagnóstico e tratamento precoces podem prevenir a SUDI. EIM → enfermidades relativamente raras individualmente; representam uma vasta, diversa e heterogênea coleção de condições genéticas que são uma causa significante de morbidade e mortalidade, principalmente na infância. A maioria é causada por deficiências enzimáticas ou defeitos em proteínas de transporte. Os sintomas são variados e a gravidade depende da rota metabólica afetada, bem como do metabólito acumulado. Atualmente, são conhecimento +- 1000 EIM, com incidência total estimada em 1800. Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 3 Classificação clínica dos EIM GRUPO 1 → distúrbios que afetam o metabolismo intermediário de pequenas moléculas; GRUPO 2 → distúrbios que envolvem o metabolismo energético; defeitos mitocondriais (em especial, enzimáticos) são os mais graves e, geralmente, sem tratamento; GRUPO 3 → distúrbios envolvendo moléculas complexas. Sintomas que podem indicar um distúrbio metabólico Metabolismo de AG DISTÚRBIOS RELACIONADOS: Doenças mitocondriais de β-oxidação de AG Deficiência de acil-CoA desidrogenase de cadeia muito longa - VLCAD - primeira enzima da rota de β-oxidação de AG de cadeia longa Deficiência de acil-CoA desidrogenase de cadeia média - MCAD - primeira enzima da rota de β-oxidação de AG de cadeia média Múltiplas deficiências de acil-CoA desidrogenases Deficiência da desidrogenase de 3-hidróxi-acilCoA de cadeia longa Doenças de transporte de carnitina e do ciclo da carnitina Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 4 Deficiência do transporte de carnitina Deficiência da carnitina palmitoiltransferase I Deficiência da carnitina-acilcarnitina translocase Deficiência da carnitina palmitoiltransferase II MCAD (acil-CoA desidrogenase de cadeia média) Principal distúrbio da β-oxidação 2o é fenilcetonúria). 5% da causas de SUDI. CAUSA → defeito hereditário metabólico de herança autossômica recessiva. Mutação pontual - substituição da lisina por ácido glutâmico na posição 329 do precursor dessa enzima. Repercussão metabólica na produção energética via β-oxidação de AG - falta de MCAD pode gerar bloqueio total da rota metabólica, o que gera acúmulo de acil-CoA graxo e déficit nos produtos (acetil-CoA e coenzimas). Além disso, tem como consequência o acúmulo de acilcarnitina (precursor de acil- CoA graxo) na mitocôndria e de AG circulantes e celulares - gera lipotoxicidade. Lipotoxicidade afeta a integridade e o funcionamento do coração, fígado, m. esquelético e cérebro. Ademais, altera a morfologia mitocondrial e sua função bioenergética e induz estresse oxidativo = bloqueio da oxidação de AG. obs.: LIPOTOXICIDADE → excesso de AG livres → alteração conformacional no receptor tirosina quinase → RESISTÊNCIA PERIFÉRICA À INSULINA. Com isso, há diminuição da gliconeogênese (principalmente, hepática) e da velocidade do ciclo do ácido cítrico (déficit energético). Os pacientes afetados pela deficiência de MCAD, geralmente, são assintomáticos e os sintomas são precipitados por períodos de jejum ou de outras formas de estresse metabólico, usualmente associadas a infecções virais ou bacterianas. Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 5 ESPIRAL DA β-OXIDAÇÃO MITOCONDRIAL → AG de cadeia média na mitocôndria é alvo da MCAD. Sem MCAD, há: REDUÇÃO DA GLICONEOGÊNESE REDUÇÃO DA PRODUÇÃO DE CORPOS CETÔNICOS JEJUM REDUÇÃO DA UREAGÊNESE Como consequência de 1 e 2 (ocorre no fígado - compensação metabólica), há HIPOGLICEMIA HIPOCÉTICA e, como consequência de 3, há HIPERAMONEMIA. Ambas as consequências geram DANOS NEUROLÓGICOS/HEPÁTICOS e ENCEFALOPATIA HEPÁTICA (deterioração da função cerebral que ocorre em pessoas com doença hepática grave, porque substâncias tóxicas normalmente eliminadas pelo fígado se acumulam no sangue e chegam ao cérebro). Tudo isso gera uma DESCOMPENSAÇÃO METABÓLICA AGUDA, em que ocorre uma sobrecarga metabólica do fígado, que acaba não suprindo o organismo com metabólitos importantes (ex.: glicose). Na deficiência de MCAD, os achados em autópsia são edema cerebral e infiltração hepática, renal e cardíaca. Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 6 Principais achados neuropatológicos dos pacientes com deficiência de MCAD → microcefalia, edema cerebral e anomalias no lobo frontal; podem ocorrer acúmulo microvesicular de lipídeos no fígado (similar a síndrome de Reye) e rabdomiólise (acúmulo microvesicular de lipídeos entre as miofibrilas e de glicogênio detectados por biópsia muscular). DEFICIÊNCIA DA L-CARNITINA CAUSAS: Ingestão inadequada; Incapacidade de metabolizar a carnitina em razão de deficiências enzimáticas (ex.: deficiência de carnitina palmitoiltransferase); Diminuição da síntese endógena de carnitina decorrente de disfunção grave do fígado; Perda excessiva de carnitina decorrente de diarreia, diurese ou hemodiálise; Distúrbio hereditário em que a carnitina extravasa dos túbulos renais; Aumento das necessidades de carnitina em estado de cetose e alta demanda de oxidação de gordura (ex.: durante doença crítica como sepse ou queimaduras extensas; após grande cirurgia do TGI; Níveis musculares de carnitina reduzidos por conta de dano mitocondrial (ex.: devido ao uso de zidovudina); Uso de valproato. Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 7 Carnitina é derivada de metionina e lisina e pode ser obtida por fontes exógenas 75% e endógenas (rins e fígado). CACT (enzima acilcarnitina translocase), CPTI (carnitina palmitoil transferase I, CPTII (carnitina palmitoil transferase II e CT (transportador de carnitina) utilizam a carnitina para suprimento energético de coração, m. esquelético, fígado, rins e cérebro. obs.: no cérebro é indiretamente; faz parte da produção de corpos cetônicos em casos de jejum. CT = internalizaçãode carnitina nas células. No espaço intermembrana da mitocôndria, a carnitina é metabolizada em LC A carnitina AS transfere LCA CoA = acil-CoA graxo) pela CPTI. Em seguida, a proteína transmembrana da membrana interna da mitocôndria, CACT, transfere a LCA carnitina para a matriz mitocondrial, onde a CPTII recicla a carnitina, transferindo-a de volta para o espaço mitocondrial, e liberar o LC A CoA (acil-CoA graxo - substrato para o ciclo da β-oxidação) na matriz. Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 8 DEFEITO HEREDITÁRIO DO METABOLISMO DA CARNITINA → mutações (alteração estável e hereditária) gera mutações na sua estrutura e, logo, em sua função. DEFEITO NO CICLO DA CARNITINA Ocorre em recém-nascidos no JAP, AUS e EUA. SINTOMAS → perda de apetite, hepatomegalia, irritação, letargia, gastroenterites, infecção do trato respiratório, hipoglicemia, teor reduzido de corpos cetônicos na urina, hiperamonemia - coma e morte. TRATAMENTO → suplementação de carnitina, considerando que o circuito de carnitina e suas enzimas estejam normais → melhora de peso corporal, esteatose hepática reduzida, redução de AGL após carga de glicose (evita sobrecarga de AGL, estímulo da biogênese mitocondrial e oxidação de AG e L carnitina parece reduzir a gravidade da descompensação metabólica (liga-se aos metabólitos tóxicos acumulados = excreção - sem lipotoxicidade). Metabolismo de lipídios: distúrbios relacionados 9 RELAÇÃO: DEFEITO NO CICLO DA CARNITINA E DEFEITO NAS ENZIMAS DA β-OXIDAÇÃO Quando há algum desses defeitos, o AG (principal fonte = tecido adiposo) se acumula no fígado (esteatose hepática), m. esquelético e coração. Em especial, com a esteatose hepática, há diminuição da produção de corpos cetônicos (órgãos dependentes realizam glicólise anaeróbia, produzindo ácido lático em excesso e, logo, gerando acidose metabólica) e gliconeogênese comprometida (hipoglicemia). Também pode gerar hipoalbunemia. A maioria das doenças de β-oxidação de AG impedem o uso de gordura ou proteína como uma fonte alternativa durante períodos de jejum e/ou períodos de demanda metabólica. São sintomas de doenças metabólicas ocultas = hipoglicemia e acidose metabólica.
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