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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ PRÓ-REITORIA EM PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO DIVISÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR ACADÊMICA: ROSANA FERNANDES DA SILVA RESUMO DESCRITIVO DO LIVRO: ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E DEMOCRACIA RADICAL: PAULO FREIRE E A GOVERNAÇÃO RADICAL DA ESCOLA PÚBLICA. O livro de Licínio C. Lima intitulado “Organização Escolar e Democracia Radical: Paulo Freire e a Governação Radical da Escola Pública”, está divido em sete capítulos, que oferece, uma linguagem didática, e um panorama de pensamento mais atual de Freire, em relação a organização escolar, após a sua experiência como Secretário de Educação do Município de São Paulo (1989-1991). Ela resgata muito bem as principais teses da pedagogia freiriana relacionada à organização escolar, à democracia radical e aos princípios da Escola Cidadã, confirmando assim a transdisciplinaridade, a influência de Freire sobre o estudo e a prática das dimensões organizacionais e administrativas da educação. Nela o autor dialoga com diversas obras do educador, em que traz para as discussões conceitos atrelados as obras de Freire, desde a “Educação como prática de liberdade” (1967) até a “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à Prática Educativa” (1997), nos colocando em contado com significativos trechos dessas obras. No Primeiro capítulo deste livro que tem como título “Democracia radical e pedagogia democrática: organização e participação como prática de liberdade”, o autor começa a explicar o que vem a ser essa democracia radical. Ao dialogar com Freire, ele explica que na teoria da democracia como participação, os verdadeiros métodos da construção democrática são a participação, a discussão e o diálogo, porém destaca que é necessário que essa participação seja uma participação crítica e verdadeira, não aquela participação de espectador, e sim uma participação em um processo de decisão. Segundo Lima a democracia radical, seria então essa crítica e negação a participação silenciosa, alienante e passiva. Já a pedagogia democrática teria como horizonte essa democracia radical, no qual propõe uma aprendizagem da democracia pelo seu próprio exercício e sua própria existência, ou seja, aprendendo democracia pela prática da participação. A concepção de organização de Freire segundo Lima é uma concepção revolucionária, cuja prática considera indispensável uma ação libertadora, uma organização verdadeira, em que os indivíduos são sujeitos da ação de governar-se, exigindo a liderança, mas não o dirigismo, o vanguardismo e a reificação, em que implica a autoridade sem autoritarismo, liberdade sem licenciosidade. Lima diz que a organização como prática de liberdade é capaz de fortalecer as instituições democráticas e melhorar a democracia, correlacionando-se com as propostas de alfabetização crítica de Freire. Por isso, a organização democrática precisa ser falada, vivida e afirmada na ação, como também a democracia em geral deve ser. No segundo Capítulo “Democratização da escola, participação comunitária e cidadania crítica”, Lima vem destacando as críticas feitas por Freire à escola burocrática, a falsa democratização e a autonomia da escola. Ele fala que a democracia que Freire é adepto é aquela participativa, social e cultural, que supõe a existência de estruturas democratizantes e não estruturas que impedem a participação da sociedade civil. Para Freire a democratização da escola pública seria um fator de mudança, em que a escola se torna um espaço de educação crítica, de participação e de cidadania democrática, em que possa contribuir dentro de seus limites com a revitalização da esfera pública democrática, da democratização da democracia, na construção da democracia como prática e não como método. Porém Lima diz que para Freire, essa construção da escola democrática necessita da prática de uma pedagogia indagativa, que além dos conteúdos, também ensine a pensar certo; de uma real participação da comunidade de pais e representantes de movimentos populares na vivência interna da escola; da liberdade e autoridade docentes democráticas; do poder de verdadeiramente decidir, pois só se aprende a decidir decidindo e só pela decisão se alcança a autonomia. Então sem a participação de toda a comunidade interna e externa em uma construção democrática, a escola não consegue desenvolver sua autonomia, e ao dar abertura a participação desses grupos, só fortalece sua capacidade de reivindicar e negociar com o poder público. Assim ele conclui esse capítulo afirmando que é impossível democratizar a escola autoritariamente, a força através de golpes legislativos; descentralizando a administração escolar apenas a parti de decisões centralizadas; doar a autonomia as escolas, ou condenando- as a uma autonomia que os autores escolares desprezam ou se recusam a assumir. Segundo o autor a educação para a cidadania democrática não é algo que possa ser restrito à escola, aos atores escolares ou apenas aos alunos, trata-se de uma intervenção socia que exija saber político, que se gera na junção da prática de lutar pela escola, e na prática de sobre ela refletir. O terceiro capítulo “Política educativa, organização escolar e descentralização”, Lima relata um pouco sobre os desafios que Freire enfrentou ao ser nomeado Secretário da Educação do Município de São Paulo em janeiro de 1989, também relata a trajetória de suas providências neste cargo, que primeiramente se encaminharam no sentido de reorganizar política e administrativamente a secretária municipal. Ele também diz que nesse período Freire iniciou mudanças drásticas na educação municipal, onde conferiu maior atenção a gestão democrática das escolas, à reforma do currículo e a alfabetização de jovens e adultos. Na democratização da gestão introduziu uma nova concepção de governação, em que essa governação seria partilhada entre a SME e as próprias escolas e seu entorno comunitário, em que desencadeou medidas concretas de democratização do poder educativo e pedagógico. Para Freire a descentralização, administração por colegiados e participação nas decisões, são princípios subjacentes à concepção de escola democrática, pública e popular, e nessa visão Freire então aponta em seus projetos uma política de descentralização e um planeamento descentralizado, concebido como ação de exercício da cidadania e de partilha de poder de decisão sobre a gestão da coisa pública. E essa compreensão também se estendeu para o currículo escolar para Freire, em que ele busca a (re)construção curricular através das discussões e participação dos atores escolares e sociais comunitários, não só simplesmente através dos especialistas. E para essa participação e autonomia da escola se legitimar, Lima diz que se exigiu não só uma reforma na SME, mas também mudanças das estruturas escolares e dos seus modelos de organização e gestão, em torno de uma governação democrática. E em meio a essas mudanças, ele aponta a criação de um conselho de escola deliberativo como uma das principais mudanças que Freire introduziu na governação escolar, pois dessa forma, o poder de decisão sobre a escola é parcialmente devolvido a ela, que passa a ser partilhado com a administração geral, reconhecendo o direito e o dever de participação na tomada de decisões escolares, apostando-se na autonomia da escola para criar sua proposta pedagógica. Porém, o que se tornou um entrave foi a forma de escolha dos diretores escolares, que segundo Lima foi tradicionalmente designada por concurso público, e não por eleição como queria Freire, o que leva a dependência da política da administração central e de suas práticas de intervenção. No quarto capítulo intitulado “Da politicidade e pedagogicidade da organização escolar”, Lima inicia trazendo uma reflexão de Freire sobre a administração universitária em um trabalho publicado por ele em1961, para falar sobre a defesa que o educador faz a educação popular, da conscientização e da inserção comunitária e popular na universidade, e que o mesmo é adepto de iniciativas de autogoverno, destacando a sua dimensão política e o aprendizado democrático que deles resulta. Neste capítulo, Lima diz que para Freire pedagogia e administração são na escola termos indissociáveis, e é na escola que adquirem plena unidade e expressão, tornando-se inseparáveis pela ação educativa, para ele, elas se encontram profundamente imbrincadas e são mutualmente reforçadoras ou inibidoras da democratização da escola. Embora em termos de processo se possam admitir ritmos e avanços distintos, a pedagogia isoladamente não pode alcançar mudanças sociais, assim como somente pelas mudanças organizacionais, estruturas e morfológicas, se democratiza ou muda a escola. Então para Freire a democratização da escola passa por todos os níveis, da administração central á sala de aula, do organismo do sistema escolar à organização do trabalho pedagógico, dos processos dos conteúdos, das regras formais às regras não formais e informais. Assim a educação escolar para a democracia e para a cidadania só é possível através de práticas educativas democráticas, que são por natureza organizacional, tal como a organização e administração escolar são, por definição, políticas, educativas e pedagógicas. No quinto capítulo “Autonomia da pedagogia da autonomia?”, Lima fala da importância do aprofundamento da(s) autonomia(s) da escola, que para Freire uma escola mais democrática é uma escola mais autônoma, em graus de extensão variáveis e sempre em processo. É através do processo de democratização do governo das escolas, em direção ao seu autogoverno, tal como pela democratização das práticas educativas/pedagógicas envolvendo professores mais livres e responsáveis, que se torna possível uma educação comprometida com a autonomia do ser dos educandos. Neste sentido, para Freire a autonomia constitui-se como valor, objetivo e experiência pedagógica concreta, inerentes à natureza educativa e à pedagógica democrática. Lima explica que na visão de Freire, a educação e política, pedagogia e ideologia, são consideradas inseparáveis, e estão presentes nos processos pedagógico, com destaque para a seleção de conteúdos e para a escolha dos objetivos de ensino. Ele fala que para o educador não há neutralidade na educação, porém ele não atribui apenas a dimensão política a todas as atividades educativas, ou identifica um elemento político no processo de ensino-aprendizagem, nem confere conotação política genérica a ação pedagógica, para Freire a educação é política, mesmo que professores e alunos reconheçam isso no seu trabalho. E por isso não existe o estritamente pedagógico, o exclusivamente administrativo, o singularmente didático. Segundo o autor a educação para a democracia, só é realizável através de ações educativas críticas e de práticas pedagógicas democráticas, ele conhece na autonomia um elemento decisivo à sua concretização. E que é imprescindível para o exercício de uma pedagogia da autonomia, a autonomia para a prática desta pedagogia. No sexto capítulo “Pedagogia da autonomia: ensinar e aprender a decidir através da prática de decisões” Lima traz a discussão da formação dos professores, para a prática de uma pedagogia da autonomia, ele retoma diversas obras de Paulo Freire, para discutir isso. Lima enfatiza que uma pedagogia da autonomia, envolve estudantes que na escola se vão progressivamente se estruturando e se afirmando como sujeitos autônomos, o que exige obviamente a intervenção de professores autônomos e saberes necessários às práticas educativas autónomas. E é sobre os desafios da formação docente que Freire reflete no livro Pedagogia da Autonomia, em que fala que não há docência sem discência, abordando as relações formando-formador. Ele também fala da necessidade de uma capacidade deliberativa, consciente e responsável dos professores, na pedagogia da autonomia, no sentido de que esta é assumida como pedagogia da decisão. Então em toda a sua complexidade e amplitude político-ideológica, ética e moral, ensinar na compreensão de Freire apresenta exigências que embora fundadas em saberes científicos, técnicos e profissionais, superam os limites dessas esferas para se revelarem como atributos e compromissos humanos. No último capítulo “Autonomia da pedagogia: as decisões autónomas dos professores, a autonomia das escolas e da democratização dos poderes educativos”, Lima continua abordando a tão enfatizada autonomia que prega Paulo Freire. Ele diz que a autonomia da pedagogia é essencial é à prática da autonomia, e que a pedagogia da autonomia e da decisão se constitui necessariamente como prática autónomica, atualizada por sujeitos pedagógicos democráticos e autónomos, em contextos de autonomia sempre relativa, em contextos não de independências, mas de interdependências, como processo e construção social coletiva e não como artefato ou aquisição definitiva e independente das ações dos atores. O autor diz que em face a um projeto de educação libertadora, com o que é o propósito de Paulo Freire, compreende-se quão imprescindível se torna a construção de contextos, situações práticas de autonomia da pedagogia da autonomia, estruturados através do diálogo, da reinvenção democrática dos poderes pedagógicos e da superação de assimetrias políticas educativas. Ele também afirma ser essencial para construir a autonomia da escola e exercer uma pedagogia da autonomia, a afirmação continuada da autonomia, a luta permanente por ela, e a tomada de decisões autónomas por parte dos professores autónomos.