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FILOSOFIA DA MENTE TEMAS E PROBLEMAS Prof. Dr. Everaldo Cescon ecescon@ucs.br NOSSO ROTEIRO - O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOA - O PROBLEMA MENTE-CORPO - O PROBLEMA DA CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS (IA) - O PROBLEMA DAS OUTRAS MENTES O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL O problema: o que faz a pessoa que está viva hoje ser a mesma pessoa que conheci em outro momento no passado? Uma experiência mental Os sentidos forte e fraco da identidade pessoal - fraco: os componentes da personalidade continuam inalterados - forte: é o mesmo homem que agora é “assim”, mas que costumava ser “assado”. O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL 1. Teoria do mesmo corpo: X, que existe num dado momento, e Y, que existe num momento posterior, são a mesma pessoa sse têm o mesmo corpo; impossibilita a existência após a morte. John Locke (1632-1704): identidade de corpo não pode ser o padrão - o príncipe e o sapateiro. O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL 2. Teoria da memória: X, que vive num dado momento, e Y, que vive em um momento posterior, são a mesma pessoa sse Y consegue se recordar de fazer o que X fez, de sentir o que X sentiu, de pensar o que X pensou e assim por diante. John Locke (1632-1704): memória e responsabilização pelas ações “Só a consciência une as ações na mesma pessoa; (...) é evidente que a consciência, na medida em que pode se prolongar, une na mesma pessoa existências e ações muito remotas (...), pelo que, quem tiver a consciência de ações presentes e passadas, é a mesma pessoa à qual ambas pertencem. O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL O argumento de Locke: 1. É justo considerar uma pessoa responsável por ter feito algo sse ela consegue se recordar de o ter feito. 2. É justo considerar Y responsável pelo que X fez sse X e Y são a mesma pessoa. 3. Logo, X e Y são a mesma pessoa sse Y consegue se recordar de ter feito o que X fez. “Lei da prescrição” está embasada na perda do sentido forte da identidade. O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL Problemas para a teoria da memória: 1. Impossibilita a transitividade: o envelhecimento gera perda das memórias dos “eus” mais jovens. Thomas Reid (1710-1796). 2. Memória é pouco fiável: recordamo-nos de coisas que nunca aconteceram e não nos recordamos de coisas que aconteceram e a teoria se refere a “memórias verídicas”. O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL 3. A teoria do feixe Somos o nosso corpo em conjunção com “uma coleção de percepções diferentes” (David Hume). Nega a existência de uma entidade adicional: alma, ego, eu. “Quando entro da forma mais íntima naquilo a que chamo eu próprio, tropeço sempre numa ou noutra percepção particular de calor ou frio, sombra ou luz, amor ou ódio, dor ou prazer. Em nenhum momento consigo agarrar-me a mim próprio sem uma percepção, e nada posso observar além da percepção”. O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL 3. A teoria do feixe Cérebros divididos indicam existência de duas correntes de consciência sem comunicação entre si. (Roger W. Sperry e Derek Parfit) A nossa ligação com os nossos “eus” (do passado e do futuro) é menos íntima do que pensávamos. O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL PROBLEMA: HÁ UM NÚCLEO AO QUAL SE CHAMA “EU” DENTRO DE MIM OU APENAS UM FEIXE DE SENSAÇÕES? CORPO-MENTE “O fato de algo tão notável como um estado de consciência resultar da estimulação do tecido nervoso é tão inexplicável quanto o surgimento do Gênio depois de Aladim ter esfregado a sua lâmpada”. (HUXLEY, T. H. Lessons in Elementary Physiology, 1866). CORPO-MENTE René Descartes (1596-1650): o ser humano é uma entidade composta de duas substâncias, um corpo e uma alma, fatos físicos e fatos mentais. PROBLEMA: Qual a natureza dos fatos mentais e como se relacionam com os fatos físicos? CORPO-MENTE 1. O dualismo mente-corpo 1. A mente e o corpo são coisas de tipos diferentes; 2. O corpo é físico, enquanto a mente é não física; 3. Os fatos físicos são fatos sobre o corpo, enquanto os fatos mentais são fatos sobre a mente. Reforço 1: Cada pessoa tem um acesso especial aos seus próprios estados mentais. Reforço 2: Cada pessoa é infalível no que respeita aos seus próprios estados mentais. CORPO-MENTE As objeções de Elisabeth da Boêmia (1618-1680) O problema é que parece inconcebível que uma mente não física possa interagir com um corpo físico. Descartes ficou sem respostas e o dualismo, tendo persistido até o século XX, enfraqueceu e desapareceu. CORPO-MENTE 2. As teorias materialistas da mente Tenta explicar os fatos mentais em termos puramente físicos, pois tudo o que somos é uma vasta coleção de átomos, organizados de uma forma complicada, que obedece às leis da física, da química e da biologia. CORPO-MENTE 2.1. Behaviorismo: fatos mentais são apenas fatos sobre o discurso e o comportamento J. B. Watson (1878-1958) e B. F. Skinner (1904-1990) - behaviorismo metodológico: procuram respostas físicas a estímulos físicos; episódios mentais privados são irrelevantes. Gilbert Ryle (1900-1976) - behaviorismo analítico: estados mentais consistem em padrões de comportamento ou disposições para certos comportamentos; estados mentais privados não existem. O problema cartesiano desaparecera: tudo se resolvia entre o corpo e o seu ambiente. CORPO-MENTE 2.1. Behaviorismo: fatos mentais são apenas fatos sobre o discurso e o comportamento Objeções: 1. Em qualquer momento cada um de nós está consciente de ter percepções e pensamentos, mesmo não ocorrendo qualquer comportamento. 2. Nem todos os estados mentais podem ser entendidos como padrões de comportamento ou de disposições comportamentais. 3. É possível que duas pessoas se comportem exatamente da mesma forma e, no entanto, tenham estados mentais diferentes. Ex.: espectro invertido. CORPO-MENTE 2.2. Identidade mente-cérebro: mente é o cérebro As experiências de Wilder Penfield U. T. Place, J. J. C. Smart, D. M. Armstrong e David Lewis: estados mentais são estados puramente físicos do sistema nervoso central; mente é a causa interna de certo comportamento. Vantagens: explica a natureza dos eventos mentais sem recorrer a fantasmas “não materiais”; explica como fatos mentais causam fatos comportamentais e vice-versa; explica existência de fatos mentais sem fatos comportamentais; ajuda-nos a compreender o fenômeno da introspecção. CORPO-MENTE 2.2. Identidade mente-cérebro: mente é o cérebro Objeção: experiências conscientes (como “sentir dor”) são idênticas a ocorrências neurológicas no cérebro. 1. Identidade espécime-espécime ou 2. Identidade tipo-tipo CORPO-MENTE 2.3. Funcionalismo Identifica um tipo de estado mental com aspectos físicos de um sistema que desempenha uma certa função no seu interior, sejam eles quais forem. A função do sistema é processar os inputs e produzir os outputs e as relações com outros estaos mentais, de tal forma que os primeiros causam os restantes. O caráter físico do mecanismo não interessa, desde que o mecanismo desempenhe a função apropriada. CORPO-MENTE 2.3. Funcionalismo Objeção: Qualquer sistema suficientemente complexo terá uma mente e a sua composição física não interessa. A relação entre corpo e mente é como a relação entre hardware e software. Um computador permanece inerte até receber um programa. Com o programa, passa a aceitar inputs, realiza operações com eles e produz outputs. IA = se um programa se autocorrigir e “aprender”, e operar com a mesma complexidade da mente humana, ao aceitar os mesmos inputs e produzir os mesmos outputs, terá os mesmos estados mentais que nós. CORPO-MENTE 2.3. Funcionalismo Objeção: A força é também força de fraqueza: a composição física não interessa? Só o modo como ele opera? CORPO-MENTE 2. As teorias materialistas da mente - Problemas gerais 1. Subjetividade - O caráter subjetivo da nossa experiência - O nosso “ser como”: a particularidade do verde visto, do sabor sentido… 2. Intencionalidade - Brentano: estados mentais contêm intencionalmente um objeto em si próprios. - Estadosmentais são sobre coisas que não eles próprios, e até sobre coisas que não existem. CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS Problema: é possível que máquinas pensem? Terão uma vida interior de pensamentos e sentimentos? O argumento da substituição gradual - haveria um momento em que a consciência se extinguiria? Talvez uma extinção progressiva? CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS Problema: é possível que máquinas pensem? Terão uma vida interior de pensamentos e sentimentos? Objeção: computadores só podem fazer aquilo para que estão programados - máquinas se limitam a processar inputs e a devolver outputs segundo os seus programas. - Deep Blue (1997) demonstrou que podem ir além. - a suposta “singularidade” humana é metafísica vazia. CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS Problema: é possível que máquinas pensem? Terão uma vida interior de pensamentos e sentimentos? O teste de Turing Como poderemos dizer se uma máquina está pensando? Se uma máquina superar o teste - não notar a diferença entre o seu desempenho e o de uma pessoa - então ela tem de ter as propriedades mentais de uma pessoa. Converse com Eliza: https://www.masswerk.at/elizabot/ Builder Webinar IA Humanizada - Robôs também usam chinelos: https://www.crowdcast.io/e/ia-cx-havaianas-chatbot-humanizado/register?utm_sou rce=aibot&utm_medium=aibot-chat&utm_campaign=&utm_content= https://www.masswerk.at/elizabot/ https://www.crowdcast.io/e/ia-cx-havaianas-chatbot-humanizado/register?utm_source=aibot&utm_medium=aibot-chat&utm_campaign=&utm_content= https://www.crowdcast.io/e/ia-cx-havaianas-chatbot-humanizado/register?utm_source=aibot&utm_medium=aibot-chat&utm_campaign=&utm_content= https://www.take.net/blip/?utm_source=adwords&utm_medium=ppc&utm_term=%2Bblip&utm_campaign=Institucional+Take_Pesquisa&hsa_acc=2783574544&hsa_kw=%2Bblip&hsa_ver=3&hsa_ad=456660165331&hsa_net=adwords&hsa_mt=b&hsa_cam=10118144390&hsa_src=g&hsa_tgt=kwd-318810379168&hsa_grp=105478689983&gclid=Cj0KCQiAwMP9BRCzARIsAPWTJ_FCNrrQCI7BGNqrlZsoWxyKkgI1glp_qyJhwvWzsQSyOmKucGW198YaAhfTEALw_wcB CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS Problema: é possível que máquinas pensem? Terão uma vida interior de pensamentos e sentimentos? O fracasso do teste de Turing Passar o teste seria uma prova de consciência? O comportamento é uma expressão de estados mentais, mas não é idêntico a esses estados. Pode ocorrer pensamento sem comportamento e vice-versa. O argumento do quarto chinês - John Searle - sintaxe # semântica Manipulação de símbolos, segundo instruções, sem atribuição de significado a tais símbolos. O teste de Turing trabalha com sintaxe (não com semântica). Logo não é válido para verificar mentalidade. CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS Problema: é possível que máquinas pensem? Terão uma vida interior de pensamentos e sentimentos? A defesa do teste de Turing - “Que mais é que queremos?” Se construíssemos uma máquina indistinguível dos seres humanos no seu discurso e comportamento, que mais poderíamos querer? Podemos querer compreender como o nosso cérebro dá origem à consciência. Que propriedades do nosso cérebro nos tornam conscientes? Conclusão Infligir-lhes dor será tortura? Serão capazes de sofrer? Deverão ter direitos morais? Destruí-los será cometer assassinato? OUTRAS MENTES O que você sabe realmente sobre aquilo que se passa na mente de qualquer outra pessoa? Como você sabe que há outras mentes para além da sua? Como você sabe que as pessoas que o rodeiam não passam de robôs sem mente? O que você realmente pode saber sobre a vida consciente neste mundo, além do fato de que você mesmo tem uma mente consciente? Será possível que haja muito menos vida consciente do que você supõe (nenhuma além da tua), ou muito mais (até mesmo nas coisas que supõe serem inconscientes)? OUTROS PROBLEMAS NATUREZA DOS ESTADOS MENTAIS: qual é a natureza dos processos e estados mentais? Em que meio eles ocorrem e como se relacionam com o mundo exterior? PROBLEMAS SEMÂNTICOS: como os termos que utilizamos corriqueiramente para descrever os estados mentais adquirem significado? Se não temos acesso direto aos estados mentais de outra pessoa, como sabemos que termos como “dor” ou “sensação de frio” significam a mesma coisa para nós e para outro ser inteligente, mesmo que sendo da nossa espécie? REFERÊNCIAS CHURCHLAND, P. M. Matéria e consciência. Uma introdução contemporânea à filosofia da mente. São Paulo: Editora da Unesp, 1998. DAMASIO, António. O erro de Descartes. São Paulo: Cia. das Letras, 2012. DENNETT, D. C. Tipos de mentes. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. DUTRA, Luiz H. de A. O campo da mente. Introdução crítica à filosofia da mente. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008. MIGUENS, S.; PINTO, João A.; AMEN, Miguel; DIAS, Maria Clara. (orgs.). Filosofia da mente - uma antologia. Porto: [s.n.], 2011. MIGUENS, Sofia. Os problemas da filosofia da mente. Diacrítica. Revista do Centro de Estudos Humanísticos, 20-2, Universidade do Minho, p. 9-30, 2006. SEARLE, J. Linguagem, mente e sociedade. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
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