Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Patologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Quando um animal chega para ser feita a necrópsia é necessário constatar que o mesmo está morto. Portanto há a pesquisa do que é denominado Atria Mortis (portas de entrada da morte) que se dá pela cessação das três grandes funções: nervosa, circulatória e respiratória. Para iniciar a técnica de necrópsia faz-se uma incisão utilizando a faca de Magarefe do mento (parte inferior da mandíbula) ao púbis, ou seja, incisão mento pubiana. Após o término da incisão sobre a cavidade torácica onde há o plastrão esternal (ligação das costelas ao esterno), deve-se reduzir a pressão da faca para continuar o corte sobre a cavidade abdominal. Quando é uma fêmea, o corte é reto do mento ao púbis, porém, se tratando de um macho, deve-se desviar do pênis do animal segurando sua ponta e incisionando pelas laterais rebatendo o pênis. Posteriormente, deve-se expor a cavidade abdominal incisionando a partir do término do plastrão esternal e inserindo os dedos indicador e médio, abrindo-os de forma que a faca de Magarefe irá passar entre eles cortando a pele. Ao abrir a cavidade abdominal é importante verificar se há coleção anormal de líquido como ascite, exsudado proveniente de uma peritonite ou sangue proveniente do peritônio em detrimento de uma hemorragia interna. Em seguida deve-se observar se a topografia dos órgãos do animal se encontram dentro da normalidade em distribuição e localização. Deve-se então cortar a musculatura junto ao flanco para aumentar a exposição facilitando a visualização da cavidade abdominal. A seguir verificamos se há aderência do epíplon e omento com vísceras da cavidade. Essa visualização é feita ao erguer o epíplon e o omento. Verifica-se também se há aderência entre as alças intestinais, entre alças e vísceras da cavidade e entre alças e parede peritoneal. Após isso, deve-se verificar a localização topográfica dos rins além de aderências. Neste momento também pode-se observar se há aderência do fígado com diafragma ou outros órgãos. Como o animal do vídeo é um macho, o pênis é colocado próximo a posição normal e uma pressão na vesícula urinária é feita com o objetivo para ver se há comprometimento das vias urinárias eferentes. Machos mais velhos possuem a próstata aumentada de volume, o que pode dificultar a eliminação de urina e então a bexiga estaria repleta e mesmo com a pressão seria difícil a eliminação. O único órgão a ser examinado na cavidade abdominal em relação a forma, tamanho, largura coloração, consistência, se há lesões Patologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO e da superfície de corte serão os linfonodos mesentéricos que serão observados na cavidade abdominal com todos os órgãos ainda presentes. O animal relatado no vídeo apresenta os linfonodos mesentéricos com volume exagerado (hiperplasia) estando presente na Parvovirose. Deve-se então cortar os linfonodos utilizando um bisturi e expor a superfície de corte. O corte evidencia congestão e hemorragia. Há a coleta de material que será enviado para exame histopatológico. Após a análise de cavidade abdominal, deve-se abrir a cavidade torácica. Devemos checar se há pressão negativa na cavidade torácica. Isso se dá na checagem do diafragma: se está recurvado e voltado para a caixa torácica é porque há pressão negativa. Pode-se também utilizar a faca de Magarefe para perfurar o diafragma permitindo a entrada de ar, ouvindo então um barulho característico. Usa-se novamente a faca de Magarefe para rebater bilateralmente a pele e musculatura junto ao gradil costal. Em seguida utiliza-se o costótomo com o objetivo de cortar as costelas na altura da articulação costocondral iniciando da cavidade abdominal em direção à torácica. Após o primeiro corte devemos inserir a ponta inferior do costótomo no interior da cavidade torácica para que não haja impedimento por parte do diafragma. O corte deve ser realizado até a primeira costela bilateralmente. É erguido então o plastrão esternal e o diafragma é cortado. Em seguida é necessário cortar o ligamento mediastínico da região caudal a cranial. Devemos então examinar a pleura parietal do plastrão que deve ser lisa, brilhante e transparente (em infecções há perda do brilho, transparente e lisura da estrutura da serosa). Observamos então as pleuras parietal e visceral, topografia dos órgãos. O único procedimento a ser realizado ao abrir a cavidade torácica é a abertura do pericárdio. Isso é feito segurando com uma pinça anatômica ou dente de rato na região do ápice do coração e fazendo um “pick” com a tesoura no pericárdio para observar se há acúmulo anormal de líquido no pericárdio devido a uma pericardite podendo ser exsudato fibrinoso, purulento, seroso ou fibrinopurulento ou transudato num hidropericardio ou um hemopericardio havendo sangue. Em condições normais há uma pequena quantidade de líquido que não chega a extravasar e seu objetivo é reduzir o atrito entre os folhetos fibroso/ parietal e seroso/visceral. Novamente introduzimos o indicador e fazemos movimentos de 360º para verificar se há aderência ou sinequia entre o pericárdio fibroso do visceral ou epicardio (nas pericardites fibrinosas, quando há organização do exsudato pode haver formação de sinequias ou aderências comprometendo a fisiologia do coração. Patologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO O primeiro conjunto de órgãos é composto pela língua, tonsilas palatinas, esôfago, laringe, faringe, traqueia, tireoides, paratireoides, pulmões, linfonodos traqueobrônquicos, gânglios mediastínicos e coração. Devemos fazer cortes junto aos ramos da mandíbula até sentirmos o palato duro. É colocada a língua para fora e realizado um corte em V invertido no palato mole tomando cuidado em preservar as tonsilas palatinas. Deve-se cortar o osso hioide que é o osso ao qual se prende a língua. Esse corte pode ser feito com cuidado na articulação do hioide e fazer o mesmo do lado oposto. Fazendo isso o primeiro conjunto está liberado. Devemos então segurar a língua e cortar na longitudinal (nunca na transversal) utilizando a faca de magarefe. Isso deve ser feito até chegar aos pulmões. Deve-se então puxar o conjunto que sairá com facilidade. Volta-se então os órgãos a posição normal e com a ajuda da pinça hemostática obstruímos o esôfago entre ele e o diafragma com o objetivo de evitar que o conteúdo gástrico reflua para a cavidade torácica mantendo a necrópsia limpa. Corta-se então o esôfago. o ligamento pericárdio diafragmático, a artéria aorta, a veia cava, os nervos e retiramos o primeiro conjunto. O segundo conjunto de órgãos é composto por baço e epíplon/omento. O omento encontra-se ligado a grande curvatura do estômago, duodeno e pâncreas. Devemos cortar usando uma tesoura o epiplon da grande curvatura do estômago e retirar o segundo conjunto. O terceiro conjunto de órgãos é formado pela parte final do duodeno até a parte final de intestino grosso. Utiliza-se três pinças hemostáticas. Duas delas serão utilizadas no duodeno. Observa- se que a porção proximal do pâncreas é muito próxima do duodeno enquanto a porção distal se encontra distante. Na parte em que o pâncreas fica afastado do duodeno deve-se perfurar e colocar duas pinças hemostáticas (uma ao lado da outra) no duodeno deixando um pequeno espaço entre elas. A última pinça hemostática deve ser colocada no final do reto e caso houver conteúdo fecal, devemos por meio de manobra colocá-lo para cima para evitar sujar a necrópsia.Devemos então fazer um corte entre as duas pinças e liberar a que se encontra junto ao pâncreas. É preferível que haja alguém para auxiliar segurando a pinça hemostática após o duodeno. Utilizando a faca de órgãos cortamos o mesentério liberando as alças intestinais e cortamos então antes da terceira pinça hemostática liberando o terceiro conjunto. Após a retirada desse conjunto, cada órgão restante será individualmente examinado. Patologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO O quarto conjunto de órgãos é formado por diafragma, fígado, vesícula biliar, duodeno e pâncreas. Antes de iniciar a retirada, é necessário prestar atenção nas glândulas adrenais que ficam ao lado de cada rim e que fazem parte do quinto conjunto. O diafragma é cortado com uma tesoura ou faca de Magarefe e há a retirada do quarto conjunto. O quinto conjunto é composto pelo trato geniturinário e adrenais. Devemos segurar os rins juntos que estarão próximos às adrenais que também serão seguradas e então cortar junto a coluna vertebral até a pélvis. O osso pélvico deverá ser cortado para retirar o quinto conjunto. O corte do coxal deverá ser feito após ser cortada a musculatura e identificação dos forames obturados. Deve ser feito um corte entre o corpo do púbis e forame obturado e introduzir o a ponta inferior do costótomo no forame obturado e cortar o corpo do ísquio nos dois lados. Devemos então voltar a segurar os rins juntamente com adrenais, ureteres, bexiga e continuar cortando junto a coluna, tomando cuidado com o pênis que deverá ser segurado. Corta-se então ao redor da bolsa escrotal e o ânus retirando então o quinto conjunto. O sexto conjunto é composto pelo encéfalo. Posicionamos o animal em decúbito ventral apoiando sua cabeça numa madeira. Então fazemos uma incisão desde o focinho até o final da região cervical. É necessário rebater a pele e retirar a musculatura do osso temporal e remover utilizando a rugina o que sobrou de músculo na calota craniana para facilitar a examinação do osso. É feito então um corte transversal ao final dos seios frontais e em ambos os lados serrar longitudinalmente a caixa craniana. Introduzimos o escopro na incisura transversal, levantamos a calota e empurramos para trás. É importante lembrar que a dura mater está aderida ao periósteo da calota craniana, portanto será repuxada ao fazer esse movimento. a calota craniana é cortada e examinada. O encéfalo é retirado com uma tesoura romba e curva inclinando a cabeça do animal e cortando junto a base do crânio os nervos cranianos havendo liberação do cerebelo e medula oblonga. É importante salientar que o encéfalo entra em autólise rapidamente, portanto ao retirá-lo deve-se colocar em uma solução contendo formol a 10% e o ideal é que permanecesse sendo fixado por pelo menos uma semana para então cortá-lo e examiná-lo. Após a retirada dos seis conjuntos de órgãos deve-se examinar os órgãos de cada conjunto. Patologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO A análise inicia pelo primeiro conjunto sendo a língua o primeiro órgão a ser examinado. Primeiramente é feito o exame externo em que o tamanho (comprimento, largura e espessura), consistência, coloração e presença de lesões devem ser avaliadas e, havendo alteração, deve ser descrita. A língua deve ser cortada na parte ventral pela lissa lingual separando as metades utilizando a faca de órgãos. Na superfície de corte é necessário observar coloração, umidade e se há lesões e havendo deve ser descrita e diagnosticada. Caso o diagnóstico não possa realizado macroscopicamente, retira-se um fragmento e envia para exame histopatológico. Avalia-se então a laringe e tonsilas palatinas. É realizado um corte em cada tonsila avaliando superfície de corte. O esôfago é cortado longitudinalmente e examinado seu conteúdo e mucosa. A laringe é aberta para exame e logo após a traqueia que é cortada até os brônquios. O animal relatado apresenta grande quantidade de líquido de edema desde a laringe até os brônquios. A tireoide e a paratireoide localizam-se junto aos primeiros anéis traqueais e devem ser retiradas e examinadas Os lobos pulmonares devem ser cortados cada um transversalmente e deve ser feita pressão no parênquima pulmonar e, no animal apresentado, mostra presença de líquido congesto e edematoso em grande quantidade. O sinal de Godet (pressão digital) é positivo nesse pulmão. É examinado o coração sem retirá-lo do conjunto. O coração direito deve estar em evidência com a base do coração voltada para o patologista. Faz-se uma rotação para a esquerda e realiza um corte transversal entre as cavas e o átrio, introduz a tesoura, corta-se o átrio e entra no ventrículo cortando junto ao septo ventricular até sair na artéria pulmonar. Voltamos então o coração a posição anterior com a base voltada ao patologista e o coração direito do lado esquerdo. Fazemos uma rotação para a esquerda onde há as veias pulmonares e átrio esquerdo que serão cortados. Entra pelo átrio e corta junto ao septo interventricular esquerdo até chegar na artéria aorta e ao introduzir a tesoura na artéria aorta é realizado um corte em toda sua extensão. Há a lavagem com esguicho. Examinamos então a espessura das do ventrículo esquerdo, a válvula mitral, semilunares da aorta. Com isso pode-se avaliar se há hipertrofia excêntrica ou concêntrica, defeito no septo interatrial e interventricular e alteração orovalvar. Examinamos também os linfonodos traqueobrônquicos. O segundo conjunto é examinado e o epiplon é separado do baço. O epiplon é descartado e é observado baço buscando pontos brancos correspondente a polpa branca do baço. Quando há alguma alteração do tecido linfático a poupa branca torna-se evidente. O quarto conjunto começa com a retirada da pinça hemostática do duodeno e o corte da ponta. Abre-se o duodeno Patologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO longitudinalmente em direção ao estômago. É realizada então a manobra de Virchow que consiste em verificar se as vias biliares extra-hepáticas se encontram permeáveis. Para isso é feita uma pressão na vesícula biliar para observar se o líquido presente irá desembocar na papila duodenal maior. Continuamos abrindo o duodeno até o piloro e abrimos o estômago pela grande curvatura avaliando o conteúdo gástrico. A mucosa gástrica é lavada para observar lesões. Após isso separamos o pâncreas, diafragma e fígado. Examinamos porção fibrosa e muscular do diafragma. É feito um corte longitudinal no pâncreas observando a superfície de corte. O fígado é examinado pela vesícula biliar que é cortada longitudinalmente para observar a mucosa. Observamos cada lobo do fígado para observar a superfície de corte de cada lobo. No quinto conjunto, iniciamos o exame pelas adrenais externamente e por superfície de corte. A adrenal normalmente apresenta a zona cortical clara e a medular escura. no rim é feito um corte sagital mediano observando a zona cortical, medular e pelve renal. Após isso é retirada a cápsula fibroadiposa. É necessário inspecionar os ureteres e a abertura da bexiga do fundo para o colo examinando mucosa. É realizado um corte da uretra até a ponta do pênis. Após isso devemos abrir a bolsa escrotal examinando os testículos que são cortados transversalmente para observar a superfície de corte. O terceiro conjunto deixamos para o final por conter conteúdo fecal. O intestino é examinado externamente e é realizado um corte sagital até chegar ao intestino grosso. No intestinodelgado observamos círculos que nada mais são que tecido linfático associado a mucosa. O ceco possui placas de Peyer que são tecidos linfáticos. É aberto pelo fundo cego. O cólon é cortado sagitalmente até final do reto e assim termina a necrópsia.
Compartilhar