Buscar

material 3 constitucional I aluno

Prévia do material em texto

DIREITO CONSTITUCIONAL I
PROFESSOR ANDERSON ROSA RIBEIROS
	APOSTILA 03
2.3. Objeto e conteúdo das Constituições.
	Quando surgiram as primeiras constituições escritas, o conteúdo se limitava basicamente à estrutura do Estado, à organização dos poderes e seu exercício e aos direitos e garantias fundamentais. Como objeto clássico das constituições, este conteúdo passou a corresponder à noção de matérias constitucionais. Os demais conteúdos passaram a ser considerados apenas formalmente constitucionais, é dizer, constitucionais tão somente em razão do documento a qual se adere.
	A constituição brasileira é uma constituição em sentido formal, tendo como objeto, basicamente, os direitos e garantias fundamentais, a estrutura e organização do Estado e seus órgãos, o modo de aquisição e exercício do poder, a defesa da Constituição, do Estado e das Instituições Democráticas e os fins socioeconômicos do Estado.
2.4. Elementos das constituições.
	 Constituição, embora represente um todo unitário e orgânico, possui normas que tratam dos mais variados assuntos. Não há consenso quanto ao número e a caracterização desses elementos, contudo, a classificação mais adotada é a proposta por José Afonso da Silva, que agrupa os elementos da Constituição de 1988 da seguinte maneira:
	a) Elementos Orgânicos: manifestam-se em normas reguladoras da estrutura do Estado e do Poder, como nas consagradas no Título III (Da organização do Estado) e no Título IV (Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo).
	b) Elementos Limitativos: estão consubstanciados nas normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais (título II), as quais impõem limites à atuação dos poderes públicos (caráter negativo). Por exigirem prestações materiais e jurídicas do Estado (caráter positivo), e não uma abstenção, os direitos sociais não se incluem nessa categoria.
	c) Elementos Socioideológicos: revelam a ideologia que permeia o conteúdo constitucional, podendo ser identificados nas normas que consagram direitos sociais (Capítulo II, Título II) e que integram a ordem econômico-financeira (Título VII) e a ordem Social (Título VIII).
	d) Elementos de Estabilização Constitucional: encontram-se consubstanciados nas normas destinadas à solução dos conflitos constitucionais (arts. 34 a 36, CF) à defesa da Constituição (arts. 102 e 103, CF) e das instituições democráticas (Título V). Encontram-se contemplados, ainda, nas normas que estabelecem os meios e técnicas para a alteração da CF (art. 60).
	e) Elementos Formais de Aplicabilidade: são os consagrados nas normas que estabelecem regras de aplicação da Constituição, como o Preâmbulo, o ADCT e o §1º do art. 5º.
2.5. Supremacia e hierarquia constitucional.
	O legislador constituinte originário criou mecanismos por meio dos quais se controlam os atos normativos, verificando sua adequação aos preceitos previstos na "Lei Maior".
	Como requisitos fundamentais e essenciais para o controle, lembramos a existência de uma Constituição rígida e a atribuição de competência a um órgão para resolver os problemas de constitucionalidade, órgão esse que variará de acordo com o sistema de controle adotado.
	Conforme já estudado, Constituição rígida é aquela que possui um processo de alteração mais dificultoso, mais árduo, mais solene que o processo legislativo de alteração das normas não constitucionais. A CF brasileira é rígida, diante das regras procedimentais solenes de alteração previstas em seu art. 60.
	A ideia de controle, então, emanada da rigidez, pressupõe a noção de um escalonamento normativo, ocupando a Constituição o grau máximo na aludida relação hierárquica, caracterizando-se como norma de validade para os demais atos normativos do sistema.
	Trata-se do princípio da supremacia da Constituição, que, nos dizeres do Professor José Afonso da Silva, reputado por Pinto Ferreira como "pedra angular, em que assenta o edifício do moderno direito político", "significa que a Constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que confere validade, e que todos os poderes estatais são legítimos na medida em que ela os reconheça e na proporção por ela distribuídos. É, enfim, a lei suprema do Estado, pois é nela que se encontram a própria estruturação deste e a organização de seus órgãos; é nela que se acham as normas fundamentais de Estado, e só nisso se notará sua superioridade em relação às demais normas jurídicas". Desse princípio, continua o mestre, "resulta o da compatibilidade vertical das normas da ordenação jurídica de um país, no sentido de que as normas de grau inferior somente valerão se forem compatíveis com as normas de grau superior, que é a Constituição. As que não forem compatíveis com ela são inválidas, pois a incompatibilidade vertical resolve-se em favor das normas de grau mais elevado, que funcionam como fundamento de validade das inferiores". A Constituição está, pois, no ápice da pirâmide, orientando e "iluminando" os demais atos infraconstitucionais.
	Alertamos que há uma tendência a ampliar o conteúdo do parâmetro de constitucionalidade de acordo com aquilo que a doutrina vem chamando de bloco de constitucionalidade.
	Bloco de constitucionalidade é o conjunto de normas e princípios constituídos não só pela Constituição escrita e posta, como também pelas leis com valor constitucional formal (emendas à Constituição e, nos termos do art. 5º, § 3º (EC n. 45/2004), os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros); pelo conjunto de preceitos e princípios decorrentes da Constituição, inclusive implícitos (não escritos) e, ainda, ampliativamente, segundo alguns, pelos princípios integrantes daquilo que a doutrina vem chamando de "ordem constitucional global". Essa última perspectiva, contudo, que abarcaria os valores suprapositivos, não vem sendo aceita como parâmetro de constitucionalidade para o direito brasileiro.
2.6. Teoria da norma constitucional
	Com a evolução da humanidade, surgiu a Teoria da Constituição, responsável por um amplo redimensionamento, onde a Constituição passou a se preocupar com os valores fundamentais do homem. E a atual fase da teoria da Constituição constitucionalizou o direito para estabilizar as relações públicas e privadas. Esse é um fenômeno mundial, pois os povos evoluídos juridicamente se uniram para estabelecer o Estado Democrático de Direito, como o responsável pelo equilíbrio entre o poder do Estado confrontado com fundamentais direitos do cidadão.
	Assim, os direitos são lidos a partir do que vem estabelecido na Teoria da Constituição.
2.7. A norma constitucional: conceito e natureza
	A Norma constitucional são disposições inseridas numa Constituição Federal, ou reconhecidas por ela, independentemente de seu conteúdo. Só pelo fato de aderirem a um texto constitucional, ou serem admitidas por ele, essas normas são constitucionais, sejam elas materiais, sejam elas formais.
	A natureza jurídica significa dizer que são normas providas de juridicidade, que encerram um imperativo, vale dizer, uma obrigatoriedade de um comportamento.
2.8. A Constitucional como um sistema aberto de normas
	Conjunto de Normas jurídicas suficientemente aptas a regular todos os fenômenos da vida política e social. Uma constituição só pode ser compreendida como um sistema jurídico aberto de normas-regras e normas-princípios.
	As principais diferenças entre princípios e regras:
	1. Grau de Abstração e generalidade: Princípios são normas dotadas de elevado grau de abstração e providas de um alto grau de generalidade, as regras são normas com diminuta abstração e reduzida generalidade. Princípios são ideias matrizes ou os valores fundamentais. As regras se limitam a descrever com certa precisão;
	2. Grau de Indeterminação: Os princípios são indeterminados, carecendo de medidas intermediárias concretizadoras para poderem ser aplicadas ao caso concreto. Já as regras, por serem determinadas, são de aplicação direta, não necessitandode qualquer mediação. As próprias regras servem basicamente para concretizar princípios;
	3. Caráter de Fundamentabilidade dos princípios perante o sistema jurídico: Os princípios desempenham um papel fundamental no sistema normativo, quer devido à sua posição de superioridade hierárquica, quer em decorrência de seu importância estruturante no interior de sistema jurídico;
	4. Proximidade da ideia de Direito: Fixam a ideia de Direito a prevalecer num determinado estado, tendo em vista a sua posição de standarts ou cânones vinculados ás exigências de justiça, dignidade, liberdade, igualdade, fraternidade e democracia.
2.9. As condições de aplicabilidade da norma constitucional
	Antes de se adentrar na questão específica da eficácia e aplicabilidade da norma constitucional, é importante fixar uma delimitação conceitual de certos termos.
	O conceito de vigência está relacionado com a existência da norma. Após passar pelas etapas do processo de “produção”: 
	1) promulgação – ato no qual se declara a norma obrigatória; 
	2) publicação – ato de tornar a norma conhecida a todos; e o 
	3) decurso da vacatio legis – período temporal entre a publicação e a vigência, a norma terá entrado em vigor no ordenamento jurídico, e dessa forma, será considerada existente. Em síntese, a norma após ter obedecido às condições técnico-formais de sua elaboração, passa a ter vigência no ordenamento jurídico.
	Já o conceito de validade se refere à conformidade da norma com o ordenamento jurídico. Em outras palavras, a validade da norma está presente quando se constata sua conformidade, formal e material, com a Constituição. Sobre a validade das normas, importante trazer à colação os seguintes ensinamentos, in verbis:
	Dentro da ordem de ideia aqui expostas, uma lei que contraria a Constituição, por vício formal ou material, não é inexistente. Ela ingressou no mundo jurídico e, em muitos casos, terá tido aplicação efetiva, gerando situações que terão de ser recompostas. Norma inconstitucional é norma inválida, por desconformidade com regramento superior, por desatender os requisitos impostos pela norma maior.
	Com efeito, para que se possa predicar validade ou invalidade de uma norma encartada em dado direito positivo, cumpre antes, lógica e juridicamente, qual tal norma exista naquele sistema.
	A eficácia jurídica é a potencialidade, a aptidão da norma de produzir efeitos. Já a aplicabilidade é a realizabilidade da norma, a incidência in concreto do preceito normativo.
	Segundo lição de José Afonso da Silva, em sua aclamada obra “Aplicabilidade das normas constitucionais”, a eficácia jurídica e aplicabilidade são fenômenos conexos, aspectos talvez do mesmo fenômeno, encarados por prismas diferentes: aquela como potencialidade; esta como realizabilidade, praticidade (SILVA, 2005).
	De seu turno, para a aplicabilidade constitucional realizar-se é preciso que as normas de uma Constituição, além de vigentes e válidas, sejam juridicamente eficazes. Dessa maneira, a aplicabilidade da norma é decorrência direta de sua eficácia.
	A eficácia é apreendida na análise da norma abstratamente falando; a aplicabilidade, no entanto, é verificada diante do caso concreto. Assim, uma norma eficaz poderá não ter aplicabilidade em determinado caso concreto, haja vista a existência, por exemplo, de um princípio oposto que, na ponderação, veio a prevalecer.
	O conceito de eficácia adjetivado do termo jurídico não é sem razão de ser. Fala-se em eficácia jurídica em distinção à eficácia social, esta última também denominada de efetividade. A primeira está relacionada ao “dever ser”, ao passo que a última, ao “ser” da norma. Assim, enquanto a eficácia jurídica está relacionada à potencialidade da norma de produzir efeitos, a eficácia social – efetividade – está ligada a concretização do comando normativo, sua força operativa no mundo dos fatos.
	Ressalta-se, entretanto, que uma norma pode ser vigente, válida e eficaz juridicamente, mas não ter eficácia social – efetividade. O não cumprimento da norma no plano fático retira-lhe a eficácia social – efetividade, em que pese possuir eficácia jurídica.
	Verifica-se, v.g., que a Constituição Federal possui normas que determinam a vinculação de recursos públicos, para a aplicação nas áreas de saúde e educação, conforme estipulam o artigo 198, §§ 1º e 2º e os arts. 212 e 213, § 1°, respectivamente. Entretanto, não raras vezes, têm os Tribunais de Contas detectado que Estados e Municípios não aplicam os mínimos exigidos em tão importantes áreas. Significa dizer, a norma constitucional é vigente, válida e eficaz, mas carece, por vezes, de efetividade ou realizabilidade prática.
2.10. A eficácia da norma constitucional.
	As normas constitucionais, segundo José Afonso da Silva, podem ser de eficácia: plena, contida e limitada.
2.10.1. Normas constitucionais de eficácia plena
	Normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e integral são aquelas normas da Constituição que, no momento que esta entra em vigor, estão aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de norma integrativa infraconstitucional (situação esta que pode ser observada, também, na hipótese de introdução de novos preceitos por emendas à Constituição, ou na hipótese do art. 5º, § 3º). Em regra criam órgãos ou atribuem aos entes federativos competências. Não têm a necessidade de ser integradas.
2.10.2. Normas constitucionais de eficácia contida
	As normas constitucionais de eficácia contida ou prospectiva têm aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral. Embora tenham condições de, quando da promulgação da nova Constituição, ou da entrada em vigor (ou diante da introdução de novos preceitos por emendas à Constituição, ou na hipótese do art. 5º, § 3º), produzir todos os seus efeitos, poderá haver a redução de sua abrangência.
Ao contrário do que ocorre com as normas constitucionais de eficácia limitada como será visto no item seguinte, em relação às quais o legislador infraconstitucional amplia o âmbito de sua eficácia e aplicabilidade, no tocante às normas infraconstitucionais de eficácia contida percebemos verdadeira limitação (restrição) à eficácia e à aplicabilidade.
	A restrição de referidas normas constitucionais pode-se concretizar não só através de lei infraconstitucional mas, também, em outras situações, pela incidência de normas da própria Constituição, desde que ocorram certos pressupostos de fato, por exemplo, a decretação do estado de defesa ou de sítio, limitando diversos direitos (arts. 136, § 1º, e 139 da CF/88).
	Além da restrição da eficácia das referidas normas de eficácia contida tanto por lei como por outras normas constitucionais, conforme referido acima, a restrição poderá implementar-se, em outras situações, por motivo de ordem pública, bens costumes e paz social, conceitos vagos cuja redução se efetiva pela Administração Publica.
	Enquanto não materializado o fator de restrição, a norma tem eficácia plena. Como exemplo citamos o art. 5º, XIII, da CF/88, que assegura-se livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Ou seja, garante-se o direito do livre exercício profissional, mas uma lei, por exemplo, o Estatuto da OAB, pode exigir que para nos tornarmos advogados sejamos aprovados em um exame de ordem. Sem essa aprovação, infelizmente, não poderemos exercer a profissão de advogado, sendo apenas bacharéis em direito. o que a lei infraconstitucional fez foi reduzir a amplitude do direito constitucionalmente assegurado. 
2.10.3. Normas constitucionais de eficácia limitada
	São aquelas normas que, de imediato, no momento, que a Constituição é promulgada, ou entra em vigor (ou diante da introdução de novos preceitos por emendas à Constituição, ou na hipótese do art. 5º, § 3º), não têm o condão de produzir todos os seus efeitos, precisando de uma lei integrativa infraconstitucional, ou até mesmo de integração por meio de emenda constitucional, como se observou nos termos do art. 4º,da EC n. 47/2005. São, portanto, de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, ou, segundo alguns autores, aplicabilidade diferida.
2.11. Preâmbulo das Constituições.
	O preâmbulo não tem relevância jurídica, não tem força normativa, não cria direitos ou obrigações, não tem força obrigatória; serve, apenas, como norte interpretativo das normas constitucionais. Tanto que o seu conteúdo não precisa ser repetido nos preâmbulos das Constituições Estaduais e leis orgânicas do DF e dos Municípios.
	Na jurisprudência do STF, o tema passou a ser analisado quando se questionou sobre a obrigatoriedade ou não da expressão "sob a proteção de Deus" no preâmbulo das Constituições estaduais.
	Como se sabe, desde o advento da República (Decreto n. 119-A, de 07.01.1890), há separação entre Estado e Igreja, sendo o Brasil um país leigo, laico ou não confessional, não existindo, portanto, nenhuma religião oficial da República Federativa do Brasil. Apesar dessa realidade, a CF/88 foi promulgada "sob a proteção de Deus", conforme se observa no preâmbulo do texto de 1988.
	Todas as Constituições pátrias, exceto as de 1891 e 1937, invocaram a "proteção de Deus" quando promulgadas. Em âmbito estadual essa realidade se repetiu, com exceção do Estado do Acre. Referida omissão foi objeto de questionamento no STF pelo Partido Social Liberal. O STF, definindo a questão, além de estabelecer e declarar a irrelevância jurídica do preâmbulo, assinalou que a invocação da "proteção de Deus" não é norma de reprodução obrigatória na Constituição Estadual (ADI 2.076-AC, Rei. Min. Carlos Velloso).
1

Continue navegando