Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

MATERIAL DIDÁTICO 
 
TÓPICOS DE ÉTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
U N I V E R S I D A D E
CANDIDO MENDES
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
2
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 3 
UNIDADE 1 - A ÉTICA DO DEVER .................................................................................................................. 6 
UNIDADE 2 - O UTILITARISMO .................................................................................................................... 12 
UNIDADE 3 - OUTRAS OPÇÕES ÉTICAS PARA ALÉM DA TELEOLÓGICA E DEONTOLÓGICA 17 
UNIDADE 4 - ÉTICA EMPRESARIAL ........................................................................................................... 23 
UNIDADE 5 - BIOÉTICA .................................................................................................................................. 34 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
3
INTRODUÇÃO 
 
Ética teleológica e ética deontológica 
 
A ética teleológica pode ser compreendia como uma ética dos “fins” (télos em 
grego). Essa corrente pressupõe que uma ação ética é aquela que foi orientada por 
uma finalidade inabalável. Para ela, “os fins não justificam os meios” justamente 
porque, os fins da ação estão presentes em todo o seu decorrer. Em nenhum 
momento, pode-se abandonar os princípios da consciência ou do dever. A ética 
deontológica pode ser compreendida como a ética do “conveniente”; neste caso, a 
ação é orientada pela busca do prazer e a fuga da dor e que não lance mão, 
apenas, dos apelos da consciência ou do dever. A seguir analisamos mais 
detidamente essas duas correntes. 
Em relação ao termo valor podemos entender que se trata de um referencial 
importantíssimo do estudo da ética. Em linhas gerais, qualquer que seja a corrente a 
qual nos apeguemos, todas estabelecem seus valores, ou seja, seus critérios de 
análise dos fatos e circunstâncias. Conforme Sgreccia: 
 
Historicamente, o conceito de valor se constitui na linguagem filosófica por 
meio de uma transposição da linguagem econômico-financeira na reação ao 
positivismo. O positivismo reconhecia apenas os fatos; o pensamento 
fenomenológico (Husserl e Scheler) afirma a relevância na vida do homem 
daquilo que se apresenta como tensão, aspiração e dever em relação ao 
que simplesmente existe nos fatos. (1996, p. 152). 
 
 Não existem somente fatos ou circunstâncias na vida dos homens e das 
sociedades, existem igualmente, valores; tais valores, porém, não são somente os 
econômicos, mas culturais, morais e religiosos. O problema, então, é o choque 
constante entre os fatos e as exigências que eles fazem aos homens e a tentativa de 
viver esses valores, segundo Paul Ricoeur: “o valor aparece na encruzilhada de 
nosso desejo infinito de ser com as condições finitas de sua realização” (RICOEUR 
apud SGRECCIA, 1996, p. 152). 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
4
 Do ponto de vista de Sgreccia, o estudo dos valores deve proporcionar a 
passagem de uma perspectiva do personalismo subjetivista para um personalismo 
ontológico. O personalismo é uma corrente filosófica que coloca como principal tema 
de estudo da ética o próprio homem e todos os valores que representam sua vida 
ou, em outras palavras, a dignidade da pessoa humana. A ética personalista 
encontra raízes na filosofia antiga, especialmente no estoicismo e em Santo 
Agostinho. Os referenciais contemporâneos mais significativos são a obra de 
Levinas, Mounier e Ricoeur, 
 
Mas o esclarecimento mais importante no terreno dos valores vem do 
problema de seus fundamentos, ou seja, se têm eles uma origem e uma 
justificativa puramente subjetiva, como simples transcendência do sujetio 
sobre a realidade material, da vivência para além da vida orgânica, ou se 
têm uma correspondência com a realidade. Também aqui confrontam-se o 
subjetivismo e o ontologismo, o personalismo subjetivista e o personalismo 
ontologicamente justificado. (1996, p. 152). 
 
 Enfim, para Sgreccia, os valores que devem nortear a avaliação ética 
contemporânea devem derivar do personalismo, mas não como uma doutrina do 
individualismo – personalismo subjetivista – e sim de uma compreensão do 
personalismo ontológico, buscando compreender a natureza do homem. 
Nesse sentido, pode surgir uma dúvida: quem deve orientar nossas ações, a 
lei moral ou a lei civil? Em outras palavras, trata-se de refletir sobre as relações entre 
ética e direito. A esfera moral – a ética – não pode ser delimitada pela lei, não pode 
ser abrangida pelo direito, porque se tivéssemos que traduzir em códigos de lei 
todos os valores morais que norteiam nossas ações tais códigos tornar-se-iam 
volumosos demais e sempre insuficientes. Lembremo-nos, como exemplo, que os 
dez mandamentos regulavam a vida moral no antigo Israel, mas foram necessários 
inúmeros outros códigos para regular as questões civis. 
 Por outro lado, a lei civil tem uma relação profunda com os valores morais. As 
leis civis, direta ou indiretamente, têm por objetivo tornar obrigatoriamente comum 
algum valor moral que a subjaz. Isso não significa que é o Estado quem deve dizer o 
que é bem e o que é mal, sobre todos os assuntos morais, mas alguns valores são 
considerados indispensáveis e necessários para a garantia do bem 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
5
comum e devem ser enunciados em forma de lei. Sgreccia, em um movimento 
radical, inverte essa relação afirmando: “quando a lei não tutela um bem essencial à 
convivência e ao bem comum a lei não é lei, deve ser mudada e pode ser objeto de 
‘objeção da consciência’” (1996, p. 83). 
Esse debate entre ética laica e ética religiosa. Em geral, afirma-se que a ética 
laica está fundamentada na razão e nos valores da consciência ao passo que a ética 
religiosa estaria fundamentada nos dogmas e na fé. Ora, nem a ética laica é senhora 
da razão e da consciência e nem somente a ética religiosa prescinde 
necessariamente da razão e da consciência. Proposto dessa forma, dá-nos a 
impressão de que a ética religiosa, por ter como valores fundamentais o dogma e a 
fé, não reconhece ou não utiliza os princípios da racionalidade e os chamamentos 
da consciência. Por outro lado, por não se fundamentar na fé, a ética laica não é, 
necessariamente, anti-religiosa, ao contrário, há muitos pontos de convergência de 
ambas as éticas. 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone:(0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
6
UNIDADE 1 - A ÉTICA DO DEVER 
Por José Benedito de Almeida Júnior1 
 
 Entende-se por ética do dever aquela corrente de pensamento que propõe 
como princípio ético, fundamental, determinados valores considerados corretos e os 
quais não podem ser violados. Quaisquer que sejam as circunstâncias, deve-se 
sempre utilizar, como parâmetro para definir a ação, os valores éticos fundamentais. 
 Essa corrente de pensamento toma como modelo, para a ética, os 
fundamentos epistemológicos da matemática e da geometria clássicos, os quais 
partem dos axiomas para o desenvolvimento de raciocínios dedutivos. Os valores 
éticos pré-determinados seriam como tais axiomas, por isso, alguns estudiosos 
também denominam essa corrente de pensamento como axiomática. 
 
Aristóteles 
 Aristóteles (384 – 322 a.C.) pode ser considerado um dos fundadores dessa 
forma de pensamento. Escreveu algumas obras sobre ética, sendo a mais 
conhecida a Ética a Nicômacos. 
 Aristóteles divide as ciências em três partes: a teorética, as poéticas e as 
práticas. As ciências teoréticas (como a Filosofia Primeira ou Metafísica) são 
aquelas cujo objeto de estudo são puramente intelectuais ou, sob outro ponto de 
vista, é a ciência da sistematização de todo o saber. As ciências poéticas são 
aquelas do “saber fazer”, cujo objeto de estudo é a ciência da produção, a estratégia 
militar, as artes, em geral, são exemplos dessas ciências. As ciências práticas são 
aquelas que têm, por objeto de estudo, a conduta dos homens e os fins que 
pretendem atingir. Nesse sentido, duas são as ciências práticas: a ética e a política. 
 Todas as ações humanas tendem a atingir determinados fins. Esses 
fins particulares tendem, por sua vez, a um fim supremo que é a felicidade. Ou seja, 
todas as ações humanas têm por objetivo último atingir a felicidade. Aristóteles, 
 
1 José Benedito de Almeida Júnior é professor de Filosofia na Universidade Federal de Uberlândia; 
mestre e doutorando em Ética e Filosofia Política pela Universidade de São Paulo. 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
7
porém, observa que a felicidade não se encontra no prazer físico, pois isto nos 
tornaria semelhante aos animais; também não se encontra nas honrarias, no 
entanto, o título de honra é menos valioso do que os atos que levam a recebê-lo; as 
riquezas também não são a felicidade, porque a riqueza deve ser considerada um 
“meio para os fins”, não sendo um fim em si, não pode ser a verdadeira felicidade. 
Resta-nos, então, compreender que a felicidade deve ser buscada naquilo 
que é essencialmente humano, em algo intrínseco ao homem e que seja um fim em 
si mesma. Para Aristóteles, viver conforme a razão é a realização plena do ser 
humano e a forma de atingir a felicidade. Adverte, porém, que a felicidade não será 
conhecida por um único dia, mas só poderemos ter ideia do que é ser feliz ao final 
de nossas vidas. 
Para Aristóteles há três espécies de amizade. A primeira, é aquela na qual a 
amizade é baseada no interesse que une duas pessoas, ou seja, estão juntas no 
trabalho ou na escola, conversam, mas gostam mais do que uma pode ser útil à 
outra do que da pessoa mesmo. Para Aristóteles, esse tipo de amizade não é falsa 
ou ruim, só não é perfeita. Por exemplo, o aluno não precisa ser amigo do diretor da 
escola para terem relações cordiais e de respeito mútuo. 
A segunda é aquela na qual a amizade é baseado no prazer de conviver com 
a pessoa, não por ela mesma, mas porque ela é agradável e gostamos de seu jeito 
agradável. Um exemplo é gostar de um cantor famoso. Nós gostamos de ouvir suas 
músicas, principalmente porque elas nos trazem boas recordações de nossas 
próprias vidas. Para Aristóteles, esse tipo de amizade, como a primeira, não é falsa 
ou errada, só não é perfeita. 
A terceira espécie é a amizade verdadeira, isto é, aquela que está baseada 
no gostar da outra pessoa pelo que ela é e não pelo que ela faz que seja útil ou 
agradável para nós. Diz Aristóteles: 
 
“A amizade perfeita é a existente entre as pessoas de boas e semelhantes 
em termos de excelência moral; nesse caso, cada uma das pessoas quer 
bem à outra de maneira idêntica., porque a outra pessoa é boa, e elas são 
boas em si mesmas. Então, as pessoas que querem bem aos seus amigos 
por causa deles são amigas no sentido mais amplo, pois querem bem por 
causa da própria natureza dos amigos, e não por acidente”. (1996, p. 263) 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
8
Para Aristóteles, este tipo de amizade é perfeita, mas não seremos amigos 
de toda a humanidade desta forma, a amizade verdadeira é sempre de um 
número pequeno de pessoas. 
 
Aristóteles considera que o homem é essencialmente razão, mas não é 
somente razão. Os desejos do homem, muitas vezes se opõem à razão e, por isso, 
devem ser moderados por meio do hábito. Portanto, a ética não trata somente do 
conhecimento e distinção do bem e do mal, mas também do meio pelo qual se 
atinge a felicidade. Nossas “paixões” ou “desejos” nos levam ao excesso ou à falta 
em nossas ações e a razão deve fazer com que permaneçamos no “meio termo”. 
Por exemplo, a mediania entre a temeridade e a covardia é a coragem, 
porque é preciso saber atacar quando se pode, e também recuar, quando se deve; o 
excesso de medo e a falta de medo não são característicos do homem que vive 
conforme a razão. A mediania entre a avareza e a prodigalidade é a liberalidade, 
porque o excesso de apreço pela riqueza e o absoluto desprezo pela riqueza são 
dois extremos que devem ser evitados. Assim, a maior das virtudes éticas é a 
justiça, pois segundo ela se distribuem os bens, os ganhos, as vantagens e os 
contrários disso. 
Há ainda as virtudes “dianoéticas”, que são a sabedoria (phrónesis) e a 
sapiência (sophia). A sabedoria é saber deliberar corretamente sobre o que é bem 
ou mal para o homem. A sapiência é o conhecimento das realidades que se 
encontram acima das questões materiais concretas. É a contemplação das verdades 
que a razão pode atingir. 
A ética de Aristóteles influenciou de modo decisivo todo o pensamento do 
período helenístico e cristão. No entanto, acrescentou-se à sua filosofia, as virtudes 
cristãs: a humildade, a caridade, a piedade etc. A filosofia cristã desenvolveu o 
campo da ética acrescentando as contribuições que recebeu da antiguidade à moral 
provinda da Bíblia e das comunidades cristãs. 
Pode também ser considerada uma “ética do dever” porque a ética no 
cristianismo é caracterizada por princípios fundamentais que não são questionáveis 
(como a caridade) e que devem orientar a ação independentemente das 
circunstâncias. Dentre os vários aspectos da ética cristã, destaquemos a resposta 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
9
de Santo Agostinho ao paradoxo socrático de que é “impossível conhecer o bem e 
praticar o mal”. 
 
Santo Agostinho 
 
 Para Santo Agostinho (354 – 430 d. C.), a liberdade não está relacionada à 
razão, mas à vontade. A razão pode nos fazer distinguir o que é bem e o que é mal, 
mas é a vontade que nos leva a decidir por um ou por outro. Portanto, a razão pode 
nos dar a conhecer as opções de escolha, mas é a vontade que nos fará decidir. 
 Como se vê, Santo Agostinho é partidárioda doutrina do livre-arbítrio, ou seja, 
Deus não pré-determina o que o homem irá fazer ou deixar de fazer. Assim, recai 
sobre o homem o direito e o peso da escolha. Mas a doutrina da graça divina 
equilibra essa situação de direito e responsabilidade ao propor que a graça não 
suprime a vontade do homem, mas tem o poder de torná-la boa. O ponto supremo 
da liberdade é poder fazer o mal, mas não fazê-lo, por escolher o bem. 
 
Immanuel Kant 
 
 A ética de Immanuel Kant (1724 – 1804) é caracterizada por dois 
conceitos fundamentais: os imperativos categóricos e os imperativos hipotéticos. 
Sua doutrina foi fundamentada na obra Crítica da Razão Prática e mais tarde numa 
outra obra intitulada Metafísica dos Costumes. Para Kant, a razão humana não é 
somente teórica, ou seja, não tem por capacidade somente determinar como 
podemos conhecer, mas também é prática, ou seja, capaz de determinar a vontade 
e, consequentemente, a ação moral. 
Tanto no que se refere ao campo teorético (aqui, Kant utiliza as mesmas 
divisões da ciência de Aristóteles) quanto ao campo prático, Kant toma como 
modelo, para elaborar sua obra filosófica, o sucesso que Newton teve no campo da 
física, isto é, descobrir leis gerais que possuem valor universal. Na Crítica da Razão 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
10
Prática, seu objetivo é descobrir as leis morais que tenham valor universal, que 
sejam válidas para todo ser racional. 
Os princípios práticos são regras gerais, determinações da vontade. Alguns 
exemplos são: “cuida de tua saúde”, “evita o cansaço excessivo” entre outros 
semelhantes. Note que esses princípios são válidos para todos os seres humanos, 
mas há ainda certa confusão em suas proposições. Por isso, Kant distingue os 
princípios práticos em máximas e imperativos. 
As máximas são subjetivas, portanto valem somente para o homem que a 
propõe, por exemplo, “vinga-te de quem te ofende.” Essa máxima não pode se impor 
a todo ser humano, porque não é um princípio racional. Os imperativos, por sua vez, 
são princípios práticos objetivos e possuem validade universal (como as leis de 
Newton). Evidentemente, a intervenção de fatores emocionais e empíricos pode 
modificar a vontade, mas se a razão for o único guia da ação, os imperativos 
deveriam ser atendidos. 
Os imperativos, por sua vez, são divididos em dois grupos: os imperativos 
hipotéticos e os imperativos categóricos. 
Os imperativos hipotéticos são regras válidas para a ação humana, mas sua 
maior característica é a de que são meios para atingir determinado fim. Por exemplo, 
“se queres ir bem nas provas, estuda”. Um imperativo desse tipo visa atingir um 
determinado fim, por isso é hipotético, mas é válido para todo aquele que quer 
atingir esse fim, por isso, é imperativo, ou seja, necessário. Os imperativos 
hipotéticos, por sua vez, são divididos ainda em dois grupos: as regras de habilidade 
e os conselhos de prudência. As regras de habilidade são imperativos hipotéticos 
que visam atingir um determinado fim preciso ou específico, o exemplo acima ilustra 
esse modo; os conselhos de prudência, também são hipotéticos na medida que 
visam um fim determinado, mas não têm um objeto específico, por exemplo, a 
felicidade. Para atingi-la “deve ser cortês com todos”. 
O imperativo categórico determina a vontade sem possuir um fim específico a 
ser atingido, trata-se de cumprir a regra pelo estrito dever de cumpri-la. São leis 
práticas que valem para todo ser racional, incondicionalmente. O exemplo mais claro 
do imperativo categórico pode ser enunciado da seguinte forma: “age de 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
11
tal modo que todos possam agir da mesma maneira e manter a ordem”. Ora, se 
nossa ação, repetida por outro, pode trazer prejuízo para nós mesmos, então, ela 
não pode ser um imperativo categórico. 
Kant acreditava que a humanidade deveria caminhar da heteronomia para a 
autonomia. Heteronomia significa viver conforme as normas ou regras alheias 
(hetero = diferente, alheio; nomos = lei, norma). A autonomia, por sua vez, significa 
viver sob suas próprias leis ou normas. Ora, Kant não estava propondo que se 
abandonassem as leis civis, ao contrário, quando essas leis estão de acordo com a 
ordem, devemos perceber que são boas e assumi-las como nossas. Quando uma lei 
fere nosso interesse particular imediato, mas traz um benefício maior, inclusive para 
nós, então a admitimos como boa, passamos da heteronomia para a autonomia. Por 
exemplo, se não tenho dinheiro e penso em roubar para obtê-lo estou ferindo um 
direito de propriedade. Ora, a mesma lei que me impede de roubar para obter o que 
preciso, protege-me contra quem deseje tirar o que não tenho alegando que 
necessita desses bens. Quando percebo que essa lei é boa e assumo como 
fundamental para a sociedade, ultrapasso os limites da heteronomia e caminho na 
direção da autonomia. 
 
 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
12
UNIDADE 2 - O UTILITARISMO 
 
Conforme Abbagnano: “Embora se possa dizer que a identificação do bom 
com o útil remonte a Epicuro, do ponto de vista histórico, o Utilitarismo é uma 
corrente do pensamento ético, político e econômico inglês dos séculos XVIII e XIX”. 
(2003, p. 986). Há uma estreita ligação entre o pensamento empirista inglês, 
especialmente nas filosofias de John Locke e David Hume, cujo fundamento é o 
princípio que nossas ideias primárias derivam dos sentidos e as secundárias, são 
desdobramentos destas. Assim, não há qualquer crença em ideias inatas ou 
verdades metafísicas que estejam além do limite da razão humana. A influência do 
empirismo, portanto, será fundamental para definir o conteúdo ético do utilitarismo 
sob dois pontos de vista: o primeiro, como uma busca por uma ética sustentável do 
ponto de vista lógico, quanto do ponto de vista da teoria do conhecimento; o 
segundo, retirando a importância de valores metafísicos que não forem claramente 
definidos pela razão. Mais tarde, com Stuart Mill, o utilitarismo também receberá 
influência do positivismo de Augusto Comte. 
Em geral, destacam-se cinco características do pensamento utilitarista: 
a) Em relação à economia, o pensamento utilitarista recebeu a 
influência direta de Malthus (1766 – 1834) e David Ricardo (1772 – 1823) os quais 
também podem ser considerados utilitaristas e foram amigos pessoas de James Mill; 
b) Em relação à ética, caracterizou-se por ser uma tentativa de 
transformar a ética em uma ciência. No século XVIII isto significava dar o rigor que a 
matemática e a física newtoniana alcançaram em outros campos; 
c) Abandona qualquer pretensão de fundamentar a ética em princípios 
metafísicos e toma como referência o hedonismo, isto é, de que a vida humana tem 
como finalidade o prazer e a felicidade; 
d) Do ponto de vista político, parte do princípio de que é possível fazer 
com que haja coincidência entre o interesse ou a utilidade individual e o interesse ou 
utilidade pública, desde que mediado pela ação do governo; 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
13
e) A doutrina utilitarista tinha por objetivo promover reformas no campo 
político e social, especialmente por meioda educação, a fim de melhorar as 
condições de vida e o bem-estar e felicidade dos homens. 
 
Jeremiah Bentham 
 
Jeremiah Bentham (1748 – 1832) pode ser considerado o fundador da 
doutrina utilitarista. Partindo do princípio enunciado por Cesare Beccaria em Dos 
Delitos e das Penas 1764, § 3) “a máxima felicidade possível compartilhada pelo 
maior número possível de pessoas”. Sobre o aspecto jurídico de sua obra, afirma 
que as leis civis não são como as leis naturais, pois enquanto essas são imutáveis, 
aquelas devem ser constantemente aperfeiçoadas, pois as circunstâncias se 
modificam. 
No domínio da moral, os únicos fatos importantes são o prazer e a dor. Pois a 
natureza humana “pôs o homem sob o império do prazer e da dor” por isso, o juízo 
moral torna-se um juízo sobre a felicidade, para a qual, o bem é o prazer e o mal é a 
dor. 
As ações devem receber um cálculo que tem por objetivo avaliar como atingir 
o máximo de felicidade e o mínimo de dor. Conclui-se, disto, que o sábio é aquele 
que sabe renunciar a um prazer imediato por algum benefício futuro. A moral 
utilitarista, portanto, pressupõe a admissão de algum mal, renunciando a um prazer 
imediato, para garantir uma felicidade maior no futuro. 
O pensamento utilitarista apresenta uma perspectiva educacional, pois 
acreditava que os homens poderiam ser educados a ter um comportamento ético. 
Por isso, afirma Bentham: “A tarefa do deontólogo, é ensinar ao homem como dirigir 
suas emoções de tal modo que as subordine na mediada do possível, a seu próprio 
bem-estar”. (2002, p. 240) 
No plano da política se passa mais ou menos a mesma coisa, quando o 
governo age deve levar em conta o que é o bem e o que é o mal maiores e, caso 
seja necessário, assumir algum mal presente, renunciando a felicidade 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
14
pública imediata, em troca de um bem maior futuro. Assim, a tarefa da política é 
harmonizar os interesses particulares e os públicos. No entanto, como o interesse 
particular é o motivo mais forte da ação é preciso que haja leis seguras e eficazes 
que reequilibrem o balanço de bem e de mal, pois se violar o interesse público em 
favor de si mesmo resultar em benefícios, será sempre vantajoso priorizar o 
interesse próprio, a despeito do interesse público, tornando o convívio social 
insustentável. Mas se a punição for severa e tão eficaz que não compense violar o 
bem público, então é uma boa lei. Bentham acreditava que a lei deveria ser mais 
segura do que severa, porque não importa a severidade prescrita se não há meios 
de ser cumprida, por outro lado, mesmo sendo branda, se for segura, significa a 
certeza de punição. 
 
James Mill 
 
James Mill (1773 – 1836) foi o principal seguidor da doutrina de Bentham e, 
em sua obra, deu ênfase aos estudos dos fenômenos da mente humana, estudando 
a origem das ideias e como estas podem influenciar a ação. Para ele, a razão 
deveria ser a guia de nossas ações e os sentimentos e as emoções passionais não 
deveriam nos servir de guias. Apregoava a necessidade da educação para educar 
não somente o indivíduo, mas toda a sociedade e, tal educação, deveria se basear 
pela razão. 
Interessante é sua concepção sobre o egoísmo e o altruísmo. Para ele, era 
possível compreender a passagem da conduta egoísta para a conduta altruísta. O 
altruísmo é, em última instância, o resultado de uma conduta egoísta. Mas mesmo 
assim, não deixa de ser benéfico para a sociedade, assim como a gratidão e a 
generosidade. Ainda que os motivos últimos da conduta altruísta sejam o “prazer 
individual em ajudar” não significa que o altruísmo seja inútil. 
 
 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
15
 
 
John Stuart Mill 
 
John Stuart Mill (1806 – 1873), filho de James Mill, acreditava que estava 
nascendo uma nova ciência, a qual denominou a etologia, termo cujo significado é 
“estudo do caráter”. Com o apoio de outras ciências, como a lógica e a psicologia, 
acreditava que era possível encontrar uma forma científica de educar tanto o caráter 
do indivíduo como o da sociedade. 
Quanto ao problema da liberdade, acredita ser a liberdade individual um dos 
fundamentos da sociedade. Para ele, a liberdade de cada indivíduo viver do modo 
que melhor lhe aprouver era fundamental para o desenvolvimento não somente dele 
próprio, mas de toda a sociedade, porque da possibilidade de decidir o que era 
melhor para si, a natureza humana manifestava toda sua fecundidade. 
Evidentemente, a liberdade do indivíduo não deveria prejudicar os interesses 
alheios, especialmente aqueles estabelecidos pela lei ou por tácito consenso. 
Podemos afirmar que a liberdade, para ele, é a maior “liberdade possível para cada 
indivíduo”. Ora a introdução da palavra possível já denota que a liberdade irrestrita 
não pode combinar com a vida em sociedade. Portanto, conclui que a liberdade civil 
apresenta três aspectos. 
Em primeiro lugar, a liberdade civil implica a liberdade de pensamento, de 
religião e de expressão; em segundo lugar, liberdade de gostos e liberdade para 
projetar a vida segundo o caráter; liberdade de associação. Voltaire já elogiara a 
liberdade com a qual se professava, na Inglaterra, as mais diversas religiões. Apesar 
de haver uma religião oficial (o anglicanismo, cujo chefe supremo é o monarca 
britânico) a liberdade de culto tornara-se uma característica deste povo. Segundo 
Mill, o Estado tende a enfraquecer o valor dos indivíduos para torná-los meros 
instrumentos de seus próprios interesses. Assim, diminuindo o valor do espírito 
humano não teria, mais, grandes homens e esse projeto de Estado fracassaria por 
falta de homens de valor. 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
16
Mill não aceitava o princípio de Bentham pela igualdade absoluta na 
sociedade, justamente porque quando o Estado aspira tornar todos iguais é obrigado 
a inibir a liberdade dos indivíduos não somente a respeito dos três aspectos acima 
levantados, mas também do ponto de vista do desenvolvimento pessoal. O problema 
é que inibir os talentos individuais de se desenvolverem, inibe o próprio 
desenvolvimento da sociedade. 
Os utilitaristas, portanto, acreditavam que a experiência histórica da 
Revolução Francesa fora um fracasso, pois ao querer tornar todos iguais, acabou 
com a liberdade dos indivíduos e condenou a França ao retrocesso. Assim, a 
proposta do positivismo de Augusto Comte de controlar toda a sociedade por meio 
de um governo burocrático não deveria ser considerada correta e, tal como seu pai, 
foi um dos mais ferozes combatentes da vertente política do positivismo na 
Inglaterra. 
O liberalismo inglês encontrou, no discurso positivista de Augusto Comte, 
uma fundamentação teórica que sustentava suas teses. Em linhas gerais, Comte 
afirmara que a humanidade caminhava em três etapas: a religiosa, a metafísica e a 
positiva. Esta última era marcada pelo domínio da racionalidade e, por isso, deveria 
a razão ser o juiz de todas nossas ações. No entanto, depois de certo tempo, 
Augusto Comte desenvolveu as ideias de uma Religião Positiva e o desejo de que 
uma burocracia estatal organizasse a sociedade de modo vertical. Este é o ponto de 
sua teoria que desagradou os liberais que tinham na memória a luta contra o 
absolutismo que pretendia, por outras vias, a mesma coisa, isto é, o domínio da 
sociedadee da liberdade dos indivíduos por um governo centralizado. 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
17
UNIDADE 3 - OUTRAS OPÇÕES ÉTICAS PARA ALÉM DA 
TELEOLÓGICA E DEONTOLÓGICA 
 
ÉTICA E CONSCIÊNCIA EM JEAN-JACQUES ROUSSEAU 
 
Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) é conhecido por ser um dos mais 
importantes filósofos do período conhecido como Iluminismo. No entanto, 
contrariamente aos seus contemporâneos Voltaire, Diderot, D’ Alembert e, 
poderíamos dizer, ao pensamento de Kant (sendo posterior ao seu, Rousseau não o 
conheceu), Rousseau não considerava a razão como guia suficiente para conduzir 
os homens em suas ações. Ao contrário, suspeitava dos limites da razão. 
Em várias obras desdenhou este projeto dos “moralistas” de escreverem seus 
livros, de refletirem sobre a moral e suporem que esses seriam elementos 
suficientes para a condução dos homens. Não critica exatamente a filosofia, mas o 
que fizeram dela ao dar-lhe uma roupagem que a afasta da moral e da virtude. No 
Discurso Sobre as Ciências e as Artes afirma: 
“Como seria doce viver entre nós, se a contenção exterior sempre 
representasse a imagem dos estados do coração, se a decência fosse a virtude. Se 
nossas máximas nos servissem de regra, se a verdadeira filosofia fosse inseparável 
do título de filósofo! Mas tantas qualidades dificilmente andam juntas e a virtude nem 
sempre se apresenta com tão grande pompa. A riqueza do vestuário pode denunciar 
um homem opulento, e a elegância, um homem de gosto; conhece-se o homem são 
e robusto por outros sinais – é sob o traje rústico de um trabalhador e não sob os 
dourados de um cortesão, que se encontrarão a força e o vigor do corpo. A 
aparência não é menos estranha à virtude, que constitui a força e o vigor da alma”. 
(1973, pp. 343 – 344). 
Os filósofos, portanto, emprestaram à filosofia uma roupagem artificial – cheia 
de ouros e brilhos – mas que servia para ocultar um interior já corrompido. A razão, 
ao contrário de ser um guia seguro para a virtude, tornara-se vítima de um 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
18
sentimento vicioso e serviu de instrumento para uma vontade egoísta. Sobre esse 
egoísmo, Rousseau nos diz que deve ser compreendido como amor-próprio que é 
diferente do amor de si. O amor de si é um sentimento natural e bom que é o 
instinto que nos leva a amar a vida e desejarmos sempre preservá-la. Esse 
sentimento não tem nada de ruim e estamos às voltas com grandes problemas 
quando nós o abandonamos. Muito diferente é o amor próprio. Surgido deste 
primeiro ele representa uma degeneração dos sentimentos humanos e transformou-
se no que conhecemos hoje por egoísmo. O amor próprio é um sentimento que está 
envolvido com os desejos de fortuna, poder, privilégios, luxo e em nada lembra o 
sentimento natural que tende a apagar. 
Então, se a razão não é o critério para nos levar a um comportamento 
virtuoso, qual será? Rousseau não é um crítico cego da razão. Não acredita que os 
homens sejam corrompidos por ela, como disseram alguns de seus críticos, ao 
contrário é um dos primeiros filósofos modernos a destacar a importância da 
educação pública para todos os cidadãos a fim de que pudessem ser mais senhores 
de sua vida. Ora, tal educação implica necessariamente no desenvolvimento da 
razão. Só não acredita que a razão seja nosso mestre em assuntos de moral e 
virtude. Para ele a consciência deveria ser nosso maior guia. No Emílio ou da 
Educação afirma: 
Consciência! Consciência! Instinto divino, voz celeste e imortal; guia seguro 
de um ser ignorante e limitado, mas inteligente e livre; juiz infalível do bem e do mal, 
que tornas o homem semelhante a Deus, és tu que fazes a excelência de sua 
natureza e a moralidade de suas ações; sem ti nada sinto em mim que me eleve 
acima dos bichos, a não ser o triste privilégio de me perder de erro em erro com a 
ajuda de um entendimento sem regra e uma razão sem princípios. (1992, p. 338). 
Como vimos, Rousseau acredita que a razão é importante para a ética, mas 
não acredita que somente ela possa ser guia suficiente. Ora, como tanto o 
utilitarismo como a ética kantiana apostam na racionalidade contra as emoções, 
podemos dizer que a ética rousseauísta considera importante não exatamente os 
sentimentos, mas principalmente a consciência. 
 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
19
 
A Transvaloração dos valores 
 
Um dos autores mais influentes do pensamento contemporâneo é Friedrich 
Nietzsche (1844 - 1900), cuja obra é hoje objeto de análise de estudiosos em todo o 
mundo. A respeito da ética, sua obra propõe a “transvaloração dos valores”, isto é, 
não somente uma mudança na definição de quais valores deveriam ser 
predominantes, mas superar a própria fonte dos valores ocidentais. 
Para ele, os valores do ocidente receberam duas influências nefastas: a 
filosofia de Sócrates, Platão e do cristianismo. Ambas tenderam a reduzir a 
importância do homem e relevar determinados valores “metafísicos” que tornam o 
homem seu escravo, um ser limitado. Ainda que pareça uma postura semelhante a 
do utilitarismo, Nietzsche também vê nestes filósofos uma evidente influência do 
cristianismo e considera que sua filosofia em nada muda a raiz principal dos valores 
da ética do dever. 
 
O dionisíaco e o apolíneo 
 
Em O Nascimento da Tragédia (1872) Nietzsche demonstra que a civilização 
grega anterior a Sócrates era marcada por um sentido trágico da vida, que tinha 
como característica, a aceitação da vida, coragem diante do destino. A tragédia de, 
por exemplo, Ésquilo se opõe as de Eurípedes. Para demarcar essa oposição, 
Nietzsche define dois conceitos: o dionisíaco e o apolíneo: conforme ele: 
 
O desenvolvimento da arte está ligado à dicotomia do apolíneo e do 
dionisíaco, do mesmo modo como a geração provém da dualidade dos 
sentidos, em contínuo conflito entre si e em reconciliação meramente 
periódica (...) em suas (dos gregos) duas divindades artísticas, Apolo e 
Dionísio, baseia-se a nossa teoria de que no mundo grego existe enorme 
contraste, enorme pela origem e pelo fim, entre a arte figurativa, a de Apolo, 
e a arte não figurativa da música, que é especificamente a de Dionísio. Os 
dois instintos, tão diferentes entre si, vão um ao lado do outro, as mais das 
vezes em aberta discórdia (...) até que, em virtude de um milagre metafísico 
da ‘vontade’ helênica, apresentam-se por fim acoplados um ao 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
20
outro. E nesse acoplamento final gera-se a obra de arte, tão dionisíaca 
quanto apolínea, que é a tragédia Ática”. (NIETZSCHE, apud REALE, 
1990, p. 426). 
 
Nietzsche denuncia justamente o fato de Sócrates e Platão terem combatido o 
aspecto dionisíaco do espírito grego e terem sobrelevado o apolíneo, em outras 
palavras, terem tentado domar o impulso para a vida, para a festa e a alegria com 
uma ética racionalista. O engano dos filósofos moralistas, portanto, foi o de querer 
retirar a humanidade de sua decadência moral ressaltando os valores que levaram à 
decadência moral ocidental. Ora, como vimos acima, tanto a ética do dever, como a 
ética do utilitarismo pretendem-se racionais, pretendem domaros instintos pela 
razão e, a partir daí, construir um projeto de sociedade comandado pela razão. 
Para Nietzsche, a filosofia dos pré-socráticos era marcada pela interação 
entre vida e pensamento: enquanto a vida estimula o pensamento, esse afirma a 
vida. Mas houve uma degeneração dessa integração a qual, conforme Torres Filho: 
“essa degeneração, afirma, Nietzsche, apareceu claramente com sócrates, 
quando se estabeleceu a distinção entre dois mundos, pela oposição entre 
essencial e aparente, verdadeiro e falso, inteligível e sensível. Sócrates 
“inventou” a metafísica, fazendo da vida aquilo que deve ser julgado, 
medido, limitado, em nome de valores superiores como o Divino, o 
Verdadeiro, o Belo, o Bem. Com Sócrates, teria surgido um tipo de filósofo 
voluntário e sutilmente “submisso”, inaugurando a época da razão e do 
homem teórico, que se opôs ao sentido místico de toda a tradição da época 
da tragédia.” (1999, p. 9). 
 
 
A genealogia da Moral 
 
A crítica feroz de Nietzsche à moral da sociedade européia ocidental, por 
vezes, é compreendida como um elogio à imoralidade, mas não se trata disso, e 
sim, uma reflexão sobre quais são os valores que nortearam a moral, a definição 
do que é bom e do que é mau; do que é bem e do que é mal. Além da filosofia 
socrático-platônica, Nietzsche observa que a moral cristã é a outra referência dos 
valores que devem ser transformados. 
Para Nietzsche, o cristianismo defende tudo o que é nocivo ao homem. 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
21
Seus valores são contrários à vida, pois sua moral é a de controle dos instintos, 
tal como a filosofia, mas por outros meios. O prazer na Terra é considerado 
pecado e: “tomou partido de tudo o que é fraco, abjeto e arruinado; fez um ideal 
de contradição contra os instintos de conservação da vida forte; desgastou até a 
razão das naturezas intelectualmente mais fortes, ensinando a sentir os supremos 
valores da intelectualidade como pecaminosos como fontes de desvio como 
tentações. O exemplo mais censurável foi a ruína de pascal, que acreditava na 
corrupção de sua razão por causa do pecado original, quando fora apenas o 
cristianismo a corrompê-la!” (NIETZSCHE apud REALE, p. 432). 
A igreja cristã perverteu os princípios que deveriam ter sido valorizados 
pelo homem, pois para ele, a igreja era contrária a tudo o que é beleza, saúde, a 
valentia do espírito, a bondade da alma, enfim, tudo o que é amor à vida. Mas não 
foi somente a igreja católica quem degenerou os valores, até mesmo ao contrário 
disso, as igrejas protestantes significaram, de certa forma, um recuo ainda maior 
na transvaloração dos valores: “um monge alemão, Lutero, veio a Roma. 
Trazendo dentro do peito todos os instintos de vingança de padre mal-sucedido, 
esse monge, em Roma, indignou-se contra o Renascimento (...) Lutero viu a 
corrupção do papado, quando se podia tocar com a mão justamente o contrário: 
na cadeira papal, não estava mais a antiga corrupção, o peccatum origniale, o 
cristianismo! Que boa é a vida! Que bom o triunfo da vida! Que bom o grande sim 
a tudo o que é elevado, belo e temerário! (...) E Lutero restaurou novamente a 
Igreja( ...) Ah, esses alemães, quanto nos custaram” (idem) 
Para Nietzsche, o cristianismo é a religião dos escravos ou a moral dos 
ressentidos. Os fracos, não podendo subjugar os fortes inverteram os valores e 
transformaram a moral dos senhores em pecado e vergonha. O certo é ser fraco, 
oprimido, abnegado. Errado é ter desejos, instintos ou em palavras nietzschianas, 
“vontade de poder”, como a alegria, a saúde, o amor, a intelectualidade superior. 
A moral do senhor é a do orgulho, da generosidade, do individualismo; a moral do 
escravo é a da democracia e do socialismo, aquela que demonstra profundo 
desinteresses pelas coisas deste mundo, demonstra profundo desinteresse pelas 
circunstâncias, mas ao final de contas, demonstrar desinteresse é uma forma de 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
22
desvalorizar tudo o que é a moral do senhor e, assim, tenta subjugar os outros. 
O super-homem é um de seus conceitos mais caros. Formulado em várias 
obras ganhou no Assim Falou Zaratustra sua mais refinada elaboração. Ele é a 
superação de todos os valores metafísicos do cristianismo e da filosofia socrático-
platônica, pois “permanece ligado à terra” não busca em um outro mundo os 
princípios que nortearão sua moral e portanto suas ações. Esse novo homem, ou 
além do homem, ama a terra e os valores que dela brotam: a saúde, a vontade 
forte, o amor, a embriaguez dionisíaca, o novo orgulho. Para ele, o super-homem 
deve superar aquela máxima que conduziu a moral à escravidão, trata-se da 
expressão “Tu Deves” a qual deve ser substituída pelo “Eu quero”. A nova moral 
segue a máxima de Protágoras, poderoso inimigo de Sócrates e Platão, detratado 
por este último no diálogo que leva seu nome: “o homem é a medida de todas as 
coisas, das que são pelo que são, das que não são pelo que não são”. Nada de 
buscar os valores em verdades que não estejam ligadas ao valor da vida. “Deus 
morreu: agora, nós queremos que viva o super-homem”. 
Em Schopenhauer como Educador Nietzsche descreve a comparação entre 
as concepções dos antigos e modernos sobre a existência: “O juízo dos antigos 
filósofos gregos sobre o valor da existência diz tão mais do que um juízo moderno 
porque eles tinham diante de si e em torno de si a vida mesma em uma exuberante 
perfeição e porque neles o sentimento do pensador não se confunde, como entre 
nós, no dilema entre o desejo e a liberdade, beleza e grandeza da vida e o impulso à 
verdade, que pergunta somente: o que vale em geral a existência?” (1999, p. 290). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
23
UNIDADE 4 - ÉTICA EMPRESARIAL 
 
Qual é o papel das empresas públicas ou particulares na sociedade? Essa 
pergunta torna-se o fundamento de nossos questionamentos sobre a 
responsabilidade ética das empresas. O problema agora seria afirmar: 
responsabilidade ética em relação a quem? Todos os que estejam envolvidos direta 
ou indiretamente com as ações da empresa. 
Conforme os princípios do liberalismo, as empresas privadas representam a 
dinâmica da própria sociedade ocidental, pois são elas que deram impulso a uma 
série de transformações sociais e melhorias que podem ser observadas e 
aproveitadas por todos, trata-se, especificamente, dos bens de consumo. Além 
disso, essas empresas são geradoras de renda direta para seus funcionários e, por 
meio dos impostos, para toda a sociedade. Seu maior fundamento era a liberdade 
de mercado, acreditando que ele se auto-regulasse e quanto mais liberdade as 
empresas tivessem maiores seriam os benefícios para todos. Tal postura foi 
contraditada com a Crise da Bolsa de Nova Iorque em 1929, a qual foi o resultado 
inevitável da ausência de regulamentação do mercado. A solução do presidente 
Roosevelt foi o “New Deal” que representava, na prática, a intervenção do Estado 
nas regras do mercado. 
Conforme os princípios do socialismo as empresas particulares caracterizam-
se por explorar a mão de obra dos trabalhadores, por meio da mais – valia e causam 
uma série de problemas estruturais na sociedade que resultam em miserabilidade. 
Assim, ao invés de produzirem lucro e riqueza para a sociedade como um todo, as 
empresas privadas concentramrenda e não representam nenhum papel significativo 
para a melhoria da sociedade. A ideia, portanto, era de que o Estado deveria ser o 
único proprietário dos meios de produção e, com essa centralização, poderia evitar 
os males gerados pelas empresas privadas, trata-se da ditadura do proletariado. As 
experiências socialistas na antiga União Soviética, China, Cuba e outros países, 
mostraram que a centralização do poder nas mãos de um governo de partido único 
resultaria numa exploração do trabalho semelhante ou pior do que no caso das 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
24
empresas privadas. Conforme Ivan-Illich: “A propriedade coletiva dos instrumentos 
de poder pode ter dois efeitos diametralmente opostos: pode subordinar as relações 
sociais às exigências dos instrumentos, pondo os homens a serviço das máquinas, 
de modo mais eficaz ainda do que o capitalismo. Tal é a essência do stalinismo. Ao 
contrário, a propriedade coletiva dos instrumentos pode significar que a comunidade 
se empenha em utilizá-los de modo a promover as relações sociais de convivência.” 
(GORZ, 1996, p. 17), porém, não se viu isto ocorrer. 
A social-democracia apresentou-se como uma solução intermediária para 
essas duas posturas radicais. Consideram legítima a iniciativa privada, mas as 
empresas devem dar o retorno social correspondente ao lucro que obtém com a 
exploração do trabalho e dos recursos naturais. Na década de 1970, a contrapartida 
das empresas era a geração de empregos e o pagamento de impostos, havia pouca 
preocupação efetiva com os aspectos de responsabilidade social que analisaremos 
a seguir. 
Quando falamos em responsabilidade social, das empresas, nos referimos a 
diversos temas, tais como: condições de trabalho dos empregados, impacto 
ambiental dos processos de produção e dos produtos finais, retorno social dos 
lucros, ações de responsabilidade ambiental e outros. Aos poucos, o empresariado 
toma consciência de que quanto mais investem em responsabilidade social, maiores 
são os retornos para as próprias empresas. 
Para muitos, no entanto, a única responsabilidade das empresas é para com 
os acionistas, aqueles que investiram na empresa em busca de lucro e devem ter 
seus interesses atendidos, custe o que custar, em termos sociais e ambientais. 
Porém, conforme Mattar (2006): 
Nas últimas décadas, constitui-se uma noção mais ampla de responsabilidade 
social das organizações capitalistas, que enfatiza os valores dos stakeholders, que 
incluiriam todo grupo ou indivíduo que podem afetar ou são afetados pelas ações, 
decisões, práticas e objetivos da organização. O stakeholders seria, então, todos 
aqueles que tem algum tipo de stake (risco, participação ou interesse) naquilo que a 
organização faz e em seus resultados (...) As empresas teriam, então, 
responsabilidade social para com as comunidades e nações em que estão inseridas, 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
25
com o meio ambiente, com seus clientes, com seus distribuidores, seus 
fornecedores, seus empregados e até mesmo com seus concorrentes. A noção de 
responsabilidade corporativa é aqui claramente expandida – as organizações não 
são responsáveis por proteger apenas seus acionistas, mas também os interesses 
de todos aqueles que com ela interagem e que são por ela afetados. (2006, p. 317). 
Em relação à comunidade, quando uma empresa instala-se em um 
determinado bairro provoca um impacto social e ambiental. Uma série de atividades 
surgem em seu entorno, sua presença altera o funcionamento do transporte público; 
os empregos diretos por ela gerados, geram os empregos indiretos e ela mesma é 
uma consumidora de produtos e serviços locais. Assim, quando se instala, apesar 
de supostamente pagar impostos e taxas públicas, também está se beneficiando de 
uma infra-estrutura (muitas vezes precária) anterior a ela. 
Em relação aos trabalhadores toda empresa deve cumprir seus deveres. 
Ainda que se argumente que a legislação brasileira é ultrapassada (a Consolidação 
das Leis do Trabalho é da década de 1940) descumprir as leis não se justifica. Em 
escala maior, há uma série de problemas relativos ao trabalho escravo e ao 
subemprego. Em ambos os casos, a exploração da mão de obra nessas condições 
leva a uma extrema redução dos custos de produção, mas as consequências para 
os trabalhadores são as mais nefastas. 
Em todo o planeta há uma série de campanhas e investigações que tem por 
objetivo erradicar o trabalho escravo no mundo, pois essa prática além de gerar 
miséria e tratar seres humanos de modo cruel, ainda provoca o fenômeno da 
concorrência desleal. No Brasil há notícias semanais sobre a descoberta de 
fazendas, no interior e, de pequenas fábricas, nas grandes cidades, onde a prática 
do trabalho escravo continua sendo realizada. É obvio que nenhuma empresa (nem 
consumidores) que tenham pretensão de ter responsabilidade social pode adquirir 
produtos elaborados dessa forma. 
Em relação à nação a empresa também possui uma série de 
responsabilidades sociais e ambientais, pois parte da mão de obra especializada 
pode vir das Universidades Públicas ou das Escolas Técnicas, também públicas, 
além disso, por mais que pague pelo fornecimento de energia e água, tais empresas 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
26
se beneficiam de infra-estrutura já previamente instalada, aliás, esse muitas vezes é 
um dos critérios que as levam a escolher um lugar e não outro para se instalarem. 
Em relação ao meio ambiente deve-se lembrar que todas as empresas geram 
impactos ambientais! Não somente pelos gases e efluentes emitidos, ou pelos 
resíduos sólidos produzidos, mas também pelo descarte de seus produtos ou de 
suas embalagens após o consumo final, como no caso das garrafas plásticas e dos 
pneus de automóveis. O impacto ambiental também se dá pela poluição visual e 
sonora nos locais onde se instalam. 
As preocupações com o meio ambiente tomaram espaços na imprensa e nas 
universidades, especialmente a partir da década de 1970, quando os resultados das 
primeiras pesquisas alarmaram a todos para as consequências que a sociedade 
industrial estava provocando no meio ambiente. Em 1972 ocorreu em Estocolmo, na 
Suécia, a Conferência sobre o Homem e o Meio Ambiente; nela destacaram-se 
posições antagônicas entre os países industrializados – que destacavam a 
importância de não se expandir as áreas industriais indiscriminadamente – e os 
países subdesenvolvidos que alertavam para o fato de que os maiores poluidores 
eram os países industrializados. Em 1987 foi publicado o relatório da ONU Nosso 
Futuro Comum no qual se forjou, pela primeira vez, a noção de desenvolvimento 
sustentável: O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades 
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem 
suas próprias necessidades. Tal definição significa que era necessário rever os 
padrões de produção e consumo para que as futuras gerações possam desfrutar 
das mesmas benesses que nós e que, para o momento atual, se minimize as 
desigualdades entre ricos e pobres, no planeta. 
Não se tratava, porém de impedir o desenvolvimento econômico, mas 
reorientá-lo: uma correção, uma retomada do crescimento, alterando a qualidade do 
desenvolvimento, a fim de torná-lo menos intensivo de matérias-primas e mais 
equitativo paratodos (...0 um processo de mudança na qual a exploração dos 
recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico 
e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras. 
Em 1992 ocorreu a conferência Eco-92 organizada no Rio de Janeiro, que foi 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
27
a maior conferência sobre o meio ambiente até então realizada. Com o 
amadurecimento das discussões, ao longo de 20 anos, vários temas foram tratados 
tais como: clima, biodiversidade, água, pobreza e tudo o mais. Dez anos depois 
ocorreu mais uma conferência sobre o meio ambiente na qual foram definidos os 
parâmetros da Agenda – 21, a qual ficou seriamente prejudicada pela ausência dos 
Estados Unidos. 
Em 2007, o ex-vice-presidente americano Al Gore percorreu o mundo com 
uma série de conferências sobre o Aquecimento Global e seu filme Uma Verdade 
Inconveniente. Esse era apenas mais um dos temas discutidos nas conferências 
anteriores, mas desde que o aquecimento global tornou-se o mais grave problema 
ambiental da atualidade, a preocupação com ele ganhou destaque. 
Portanto, as empresas atuais não podem deixar de lado as preocupações 
com o meio ambiente e as ações de responsabilidade ambiental como a implantação 
de sistemas de filtragem de gases; sistemas de tratamento de efluentes; correta 
destinação dos resíduos sólidos da empresa e todos os recursos que possam ajudar 
no cuidado ao meio. 
Em relação à sociedade as responsabilidades são muitas. Um caso que ainda 
gera muita polêmica é a rígida seleção e controle dos seus fornecedores. O Instituto 
Ethos de Responsabilidade Social Empresarial (www.ethos.org.br) afirma a 
importância de as empresas não consumirem produtos de outras empresas que não 
os produzam com rígidos controles sociais e ambientais. Em outras palavras, não se 
deve comprar um determinado produto elaborado por uma empresa que não recolhe 
encargos trabalhistas, que não respeita as leis ambientais poluindo de modo 
ostensivo o meio ambiente, que sonega impostos e taxas. 
A argumentação fundamenta-se no custo social. Empresas que postem-se da 
maneira descrita acima, ou seja, sem responsabilidade social, geram um custo social 
caríssimo para toda a sociedade. Uma série de consequências, decorrentes de 
ações desse tipo, pressionam enormemente os gastos públicos tais como: 
empregados mal remunerados, gastos com saúde e educação pública sem a 
contrapartida do recolhimentos dos impostos e taxas, poluição ambiental que geram 
problemas de saúde na população. Essas práticas além de não gerarem riquezas, 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
28
ao contrário, geram miserabilidade e em nada contribuem para melhorar as 
condições de vida daqueles que estão envolvidos com esse tipo de produção. 
Se tais empresas conseguem lucratividade evitando uma série de “despesas” 
cujos custos finais recairão sobre a própria sociedade, provocam prejuízos para 
todos, inclusive para as empresas que consomem seus produtos. Recentemente, o 
escândalo do “leite batizado” (com água não potável, água oxigenada e soda 
cáustica) é um exemplo sintomático desse tipo de resultado. Não somente houve 
prejuízo para os consumidores, mas também para as empresas – cujas marcas são 
nacionalmente conhecidas – que compravam os produtos daquelas que fraudaram o 
leite, tiveram prejuízos não somente materiais ao terem de recolher e destruir os 
produtos que já estavam nas prateleiras para comercialização, mas também para 
sua imagem. 
Assim, empresas que burlam leis com o objetivo de reduzirem seus custos e 
aumentarem a lucratividade praticam a concorrência desleal. A respeito desse termo 
Mattar nos afirma: “A expressão concorrência desleal tem dois sentidos de certa 
forma distintos: macroeconômico em que represente os atos decorrentes do abuso 
do poder econômico, e microeconômico, em que representa os atos praticados pela 
indústria ou comércio que prejudicam os concorrentes”. (2006, p. 319). 
O intervencionismo tem por objetivo evitar a concorrência desleal no plano 
macroeconômico, especialmente no que se refere às associações conhecidas como 
cartéis que provocam sérios danos à economia, pois eliminando a possibilidade de 
concorrência fazem com que os consumidores – finais ou intermediários – não 
tenham opção de escolha de preço ou de qualidade de produtos. Por outro lado, os 
órgãos de fiscalização oficial e institutos como o IDEC (Instituto de Defesa do 
Consumidor) tem por objetivo proteger os consumidores da concorrência desleal 
muitas vezes praticada, como vimos, ao arrepio da lei. 
O princípio que norteia ações como as do grupo Ethos, é o de que se as 
empresas que possuem ações de responsabilidade social e ambiental não 
comprarem produtos de empresas que não tenham ações deste tipo, forçarão todas 
as empresas a agirem de modo responsável. Por isso, podemos dizer que não se 
deve reduzir a noção de responsabilidade da empresa somente com o lucro 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
29
imediato, mas seu papel de responsabilidade para toda a sociedade. 
Hoje é difícil não vermos, nos sites das empresas, declarações sobre as 
ações de responsabilidade social que fazem. Nos jornais e revistas de informação 
também são constantes as propagandas que têm por objetivo divulgar as ações das 
empresas. Isto demonstra que as ideias pioneiras deixaram de sê-lo, tornaram-se 
uma realidade a qual nenhuma empresa, que queira ter forte projeção social e 
comercial, que deseje vincular seu nome à essas ações, pode deixar de se 
preocupar. 
Mattar analisa e propõe alguns temas que podem ser referenciais para a 
análise do problema ético na administração. Assim afirma: 
 
Podemos discutir ética em relação a produtos. Pensemos por exemplo, nos 
produtos que viciam ou fazem mal. São eticamente questionáveis as 
decisões de promover e vender produtos de segurança ou valor 
questionáveis para o consumidor, como cigarros, chicletes, balas, álcool etc. 
Deveríamos, nesse caso, respeitar a liberdade de mercado e de escolha 
individual do consumidor ou o governo deveria restringir o que pode ser 
comprado ou vendido?E como devemos encarar eticamente questões 
relativas ao design de produtos, como nos caso de obsolescência 
planejada? 
Questões relativas à propaganda enganosa são também em geral 
abordadas em Ética da Administração. Se de um lado podemos encarar a 
propaganda como criadora de necessidades, de outro lado temos de 
reconhecer que a propaganda é também um veículo de informação para a 
sociedade. (2006, p. 313) 
 
Não se trata somente de indústrias que produzidos os bens, mas também de 
empresas fornecedoras de serviço. Por exemplo, a ética na propaganda passa por 
profundas transformações decorrentes de um conflito elementar: por um lado alega-
se a liberdade de comunicação, por outro, a exposição de crianças e adolescentes a 
produtos e imagens não recomendadas. Por exemplo, as propagandas de bebidas 
alcoólicas tiveram horário mínimo para ser exibida. Além disso, não se pode mais 
criar símbolos com forte apelo infantil e associá-lo a uma marca desse tipo de 
bebida, como ocorreu há anos atrás quando foi utilizada uma tartaruga de imagem 
completamente infantilizada como símbolo de uma cervejaria. 
O aspecto interessante, porém, é que as restrições à propaganda partiram da 
 
 
Site:www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
30
sociedade civil, mas não houve coerção governamental, o Conselho de Auto-
Regulamentação Publicitária tem por objetivo discutir os parâmetros éticos para a 
veiculação de anúncios comerciais de propaganda e marketing e recomendar 
normas de conduta. O objetivo de uma associação como essa é, justamente, evitar a 
necessidade de uma intervenção dos órgãos governamentais o que caracterizaria a 
censura na propaganda. 
Há problemas a respeito dos padrões éticos da propaganda que ainda estão 
em aberto, como por exemplo, a veiculação de comerciais destinados ao público 
infantil. Para alguns, é fundamental apresentar os produtos para as crianças, afinal 
de contas, elas são o público alvo; para outros, a exposição de crianças a 
comerciais intensivos estimulam um comportamento consumista o qual é bem 
conhecido por todos. 
Há ainda um debate a respeito desse assunto que se situa no campo da ética. 
Para alguns, quando as empresas fazem tais ações e divulgam que o fazem não 
estão agindo com eticidade, pois seu interesse é somente reforçar seus produtos ou 
sua marca para os consumidores. Outros consideram que independentemente do 
que possam ganhar em termos de retorno mercadológico com suas ações, as 
empresas estão agindo corretamente, com ética. 
O primeiro grupo baseia-se no princípio da ética do dever. Devemos agir de 
modo correto porque temos o dever de fazê-lo, não se deve esperar nenhum outro 
retorno de uma ação que é ética em si mesma. Tal grupo pensa tanto do ponto de 
vista aristotélico quanto do ponto de vista kantiano. A respeito do ponto de vista 
aristotélico, considera que uma ação ética verdadeira é aquela que é um fim em si, e 
não um fim para; a amizade, a justiça, a lealdade não devem ser ações que tenham 
por objetivo, por exemplo, demonstrar publicamente o quanto se é bom. Do ponto de 
vista kantiano, diriam que quando uma empresa possui ações de responsabilidade 
social e divulga estas ações com o intuito de demonstrar uma imagem de empresa 
correta, está agindo segundo os princípios do imperativo hipotético, ou seja, que 
está utilizando uma ação como meio para outro fim. 
O segundo grupo parte do princípio da ética do utilitarismo. Sua máxima nos 
dizia: alcançar o maior bem possível para o maior número possível de pessoas. Ora, 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
31
trata-se de afirmar que, independentemente das ações de responsabilidade social e 
ambiental serem divulgadas e que, portanto, foram feitas somente com vistas a 
melhorar a imagem da empresa diante do público, o fato é que tais ações são 
praticadas e que seus resultados trazem benefícios para toda a sociedade, seja de 
forma direta com ações sociais na comunidade na qual a empresa está inserida, 
apoio às ONG’s, seja de forma indireta ao não consumir produtos de empresas que 
desrespeitem as leis ambientais, trabalhistas, civis etc. Portanto, se uma ação não 
visa um fim em si, mas é um meio para atingir outro fim, deve-se considerá-la tão 
ética como qualquer outra. 
 
Ética e Liderança 
 
Com o avanço da democracia no Brasil as posturas autoritárias encontram 
cada vez menos apoio no seio da sociedade. O abuso do poder tem sido coibido não 
somente com manifestações culturais, mas até mesmo juridicamente os assédios 
moral e sexual têm sido interpelados. Assim, há uma nova tendência por aqui, que 
tem muito a aproveitar das pesquisas feitas nos Estados Unidos e na Europa. 
A postura ética de uma empresa depende, em grande parte, das lideranças. 
Conforme Mattar: “Liderança e ética são temas estreitamente conectados. O líder 
determina o tom moral da organização, representando e reformulando seus valores”. 
(2006, p. 326). Ora, independentemente do estilo de liderança devemos atentar para 
o fato de que a postura ética talvez não possa mais ser uma recomendação, mas 
uma exigência. 
Segundo Bennis (1999), em seu artigo, A Ética Não é Opcional, a exigência 
ética não é uma mera formalidade que pode ou não ser cumprida. Verdade, 
lealdade, honestidade e outras virtudes não são meras palavras, ao contrário, 
quando postas em práticas são capazes de fazer de um grupo disperso uma equipe 
ou uma sociedade. Analisando o que chama de “déficit ético” nos Estados Unidos 
propõe o seguinte: “A ética e a consciência não são opcionais. São a cola que une a 
sociedade – são as qualidades que nos distinguem dos canibais. Sem consciência e 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
32
ética, talento e poder não servem para nada”. (1999, p. 163). 
Hitt identifica quatro tipos de lideranças: o manipulador, o administrador 
profissional, o administrador burocrata e o transformador. Para ele, o manipulador 
falta, evidentemente, com a ética, pois seu único objetivo é manter-se no poder. Ele 
considera que os subordinados estão sempre tentando ludibriá-lo e procura mantê-
los ocupados com inúmeras tarefas mesmo que sejam completamente inúteis. Não 
têm colaboradores ou amigos, mas concorrentes sempre prestes a derrubá-lo do 
cargo que ocupa. 
O administrador burocrático atende os requisitos delineados pelos estudos de 
Max Weber. Esse tipo de administrador procura definir uma série de regras e normas 
que formem uma estrutura administrativa autônoma de tal forma que as lideranças 
tenham pouco impacto pessoal, pois devem, a todo instante apenas cumprir as 
normas ou regras pré-determinadas. Podemos dizer que seu paradigma é a 
eficiência. A ideia desse tipo de liderança é a de que a organização dependa cada 
vez menos, dos talentos individuais. Esse tipo de líder considera que ética é uma 
administração que seja regulada por normas. Dois problemas podem ser levantados 
sobre esse tipo de liderança. 
O primeiro problema é relativo à suposição de que tais normas ou regras são 
neutras, isto é, que não são o resultado de interesses ou paixões particulares, de 
uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Assim, quando proclamam a necessidade 
de segui-las impõe, sutilmente, sua concepção de mundo, vida e seus próprios 
princípios sobre a organização. O segundo problema que enfrenta, em uma 
sociedade de mudanças como a industrial, é que as normas rígidas impedem a 
adaptação da organização às novas exigências do mercado, dos consumidores, dos 
fornecedores etc. 
O administrador profissional tem como objetivo o melhor para a organização, 
por isso, também é conhecido como líder situacional, porque as circunstâncias são 
mais importantes do que as normas rígidas e a finalidade última de sua ação são o 
bem maior da própria empresa. Podemos dizer que seu paradigma é a eficácia. 
Percebe-se, portanto, que se trata da perspectiva da ética utilitarista, pois sua meta 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
33
é atingir “o maior bem possível, para o maior número possível de pessoas”. 
Dois problemas podem ser levados em conta a respeito desse tipo de 
liderança. O primeiro é relativo ao risco de haver uma falta de compromisso com 
determinadas normas e regras fundamentais o que daria, por conta das 
circunstâncias, licença para determinadas práticas anti-éticas. Outro problema é 
determinar os critérios últimos de análise que permitiriamdefinir o que pode e o que 
não pode mudar nas regras e normas conforme as circunstâncias. 
O administrador transformador seria o perfil típico de liderança, pois sabe que 
ela não pode ser definida como um cargo ou função burocraticamente estabelecida. 
Para ele a liderança é uma postura. Consciente dos fatores que promovem de fato a 
motivação das equipes procura acionar os elementos fundamentais da motivação 
que, para Herzberg: atribuir responsabilidade às funções exercidas; que tais 
funções permitam a realização pessoal; essa realização profissional deve canalizar 
a possibilidade de desenvolvimento e aprendizagem; o reconhecimento pelas 
tarefas cumpridas, entre outras. 
Esse tipo de liderança enfrenta seus problemas, pois se não é tão apegadas 
às normas como os burocratas, também não toma o tema do “bem maior” para as 
empresas fazendo dos funcionários marionetes nas mãos dos líderes sem 
considerar suas perspectivas pessoais no trabalho. Assim, não possui estes dois 
caminhos seguros para a administração. O fato, portanto, de ser líder e não gerente, 
de buscar a eficácia e não somente a eficiência, faz com que a liderança 
transformadora tenha que superar os limites do senso comum, sem perder de vista 
as exigências éticas da sociedade contemporânea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
34
UNIDADE 5 - BIOÉTICA 
 
A produção de alimentos transgênicos, a possibilidade de se escolher a cor 
dos olhos dos filhos que se deseja ter, abortos seguros para a mãe, tecnologias de 
esterelização, eutanásia, experimentos envolvendo o ser humano, são algumas 
questões sobre as quais a bioética se debruça. 
Esse é, sem dúvida nenhuma, o tema mais atual sobre ética. O termo bioética 
foi utilizado pela primeira vez por Van Rensselaer Potter num artigo intitulado The 
science of survival (A ciência da sobrevivência) e mais tarde em um livro intitulado 
Bioethics: bridge to the future (Bioética: ponte para o futuro). Durante a década de 
70 ocorreram inúmeros movimentos ambientais que tinham por objetivo chamar a 
atenção para o impacto que a transformação da natureza estava provocando sobre 
os ecossistemas, a Reunião de Estocolmo, Suécia, em 1972 foi um marco desses 
movimentos. 
Para Potter, a visão mecanicista-reducionista que vê os fatos biológicos ou a 
própria natureza, apenas como objeto sobre o qual os homens podem exercer sua 
ação de modo indiscriminado. Para essa visão, a natureza é um mero mecanismo, 
objeto inanimado e, principalmente, sem qualquer valor ontológico, isto é, não é 
considerada um ser. Essa concepção põe em risco a sobrevivência da própria vida 
sobre a Terra. 
Duas culturas separaram-se por conta da concepção mecanicista: a 
humanística que desenvolve as reflexões sobre os valores éticos e a científica, a 
qual desenvolve pesquisas científicas. O resultado foi o desenvolvimento de 
pesquisas científico tecnológicas sem qualquer parâmetro ético. Portanto, a bioética 
deve ser tornar a ponte entre essas duas culturas. Conforme Sgreccia: 
“É interessante sublinhar o núcleo conceitual que ele situa na raiz do 
nascimento da bioética: a necessidade de que a ciência biológica se faça perguntas 
éticas, de que o homem se interrogue a respeito da relevância moral de sua 
intervenção na vida. Trata-se de superar a tendência pragmática do mundo 
moderno, que aplica imediatamente o saber sem uma mediação racional e muito 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
35
menos moral: a aplicação de todo conhecimento científico pode ter, de fato, 
consequências imprevisíveis sobre a humanidade, até por efeito da concentração do 
poder biotecnológico nas mãos de poucos”. (2002, p. 24). 
Os avanços da engenharia genética proporcionaram possibilidades de 
manipulação da vida humana, animal e vegetal em níveis que se pode investigar até 
que ponto o conceito de “vida” pôde ser alterado. Além disso, em virtude desses 
mesmos avanços, uma série de “armas genéticas” e “bioquímicas” tornaram-se 
viáveis levando à necessidade de uma reflexão sobre o limite dos avanços da 
ciência, não do ponto de vista tecnológico, mas ético. 
Hoje, todas as universidades que desenvolvem pesquisas devem constituir 
um Conselho de Ética responsável por avaliar os projetos que envolvem seres 
humanos. Esses conselhos não têm por objetivo analisar somente os projetos que 
tratam de intervenções medicinais ou psicológicas, mas intervenções de qualquer 
natureza, por exemplo, entrevistas sociológicas e levantamentos de opinião. Muitas 
revistas científicas só aceitam artigos que envolvam pesquisas com seres humanos 
se tiverem a aprovação desses conselhos, pois divulgar pesquisas feitas sem um 
padrão ético constituiria um apoio à pesquisas feitas desse modo. 
Além disso, as pesquisas envolvendo animais também devem ser submetidas 
a esses conselhos, pois há muito se denuncia a crueldade com as cobaias que são 
vítimas em nome da ciência. Os “direitos dos animais” são reinvindicados não 
somente no âmbito científico, mas também cultural, a “farra do boi” em Santa 
Catarina, os rodeios de Peões de Boiadeiro, as “rinhas” de galos, cães e outros 
animais são motivo de debate entre os defensores da manutenção dessas 
manifestações e os defensores de uma postura ética dos seres humanos frente aos 
animais. 
Para essas discussões não se estabeleçam somente no nível do senso 
comum foi preciso utilizar os referenciais teóricos da filosofia para se encontrar os 
fundamentos que sustentariam as novas posturas. Dessa forma, estudos sobre as 
relações entre a lei moral e a lei civil se fizeram necessárias para que se pudesse 
mediar os debates entre as posturas de uma ética laica e a ética religiosa. 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
36
Em outro caso, quando se trata de pesquisas envolvendo o ser humano, 
pode-se pensar em, antes de mais nada, definir o que é o ser humano. Por isso, os 
referenciais teóricos do personalismo tornaram-se importantes para a ciência 
médica. Portanto, estudar o ser humano tanto do ponto de vista da antropologia 
filosófica, como da ética fazem-se necessários para a formação dos profissionais 
que mais tarde terão de enfrentar o problema da intervenção sobre seres humanos. 
Analisemos agora, de maneira sucinta, alguns dos principais temas da 
bioética. 
 
a) Bioética e Genética 
Esse é, sem dúvida, um dos temas mais candentes da bioética, pois a 
engenharia genética deu origem à uma série de especulações sobre o limite da 
ciência. O contexto de incerteza que envolve as pesquisas em engenharia genética 
gera uma série de manifestações que chama à vigilância. 
Há um problema inicial que é o de definir os termos que estão no centro do 
conflito. Por “manipulação genética” entende-se um termo muito amplo que envolve 
uma série de procedimentos que significa qualquer forma de intervenção no 
patrimônio genético, ao passo que “engenharia genética” é um termo mais 
específico que significa: o conjunto das técnicas que tendem a transferir para a 
estrutura da célula de um ser vivente algumas informações genéticas que de outro 
modo não teria tido. 
Há duas posturas fundamentais frente ao campo de experimentação da 
engenharia genética. O primeiro é o grupo dos otimistas, biólogos moleculares e 
geneticistas que estão convictos das possibilidades terapêuticas da genética, 
portanto, da criação dageneterapia. Esse grupo quer plena liberdade e não quer ser 
limitado por uma série de empecilhos impostos por lei, que tolham os meios que 
empregam em suas pesquisas, como é o caso de pesquisas com embriões. Em 
geral, transferem o problema ético para um problema técnico. Como alegam ser 
impossível definir quando começa a vida consideram isso uma autorização para a 
pesquisa com embriões. Seus adversários alegam que após a concepção, já há um 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
37
ser humano ontologicamente formado e não um simples aglomerado de moléculas. 
Outro grupo formado, via de regra, por juristas e moralistas (nesse caso, 
estudiosos da moral) considera um risco a livre manipulação genética, 
especialmente em experiências com seres humanos, pois novamente o homem 
torna-se objeto da ciência e não o seu sujeito. 
Conforme Sgreccia: “Jamais a ética foi tão importante na medicina, na 
biologia e na sociedade: as descobertas científicas fizeram com que a moral, a que 
se preocupa com a vida, se tornasse de interesse para todos, problema de 
importância prioritária na sociedade, e da sociedade em nível mundial”. (1996, p. 
215). 
 
b) Bioética e Aborto 
O tema do aborto gera inúmeros debates e posições antagônicas. Alguns 
utilizam argumentos históricos, lembrando como ele era concebido em outras 
culturas; outros usam dados estatísticos, mostrando que a proibição do aborto a não 
ser em casos muito específicos, gera um outro tipo de problema, isto é, os abortos 
clandestinos que condenam à morte milhares de mulheres pelo mundo. Psicólogos 
se debruçam sobre o tema da motivação para o aborto; sociólogos, para as causas 
sociais e seus efeitos; filósofos e teólogos debruçam-se sobre o tema da vida 
humana e a exigência da definição sobre o que é o ser humano. 
Para Sgreccia: “O primeiro dado incontestável, esclarecido pela genética, é o 
seguinte: no momento da fertilização, ou seja, da penetração do espermatozóide no 
óvulo, os dois gametas dos genitores formam uma nova entidade biológica, o zigoto, 
que carrega em si um novo projeto-programa individualizado, uma nova vida 
individual”. (1996, p. 342). Assim, cai por terra a dúvida de alguns juristas e a 
certeza de muitos cientistas de que o termo pessoa não poderia ser aplicado a um 
embrião, argumentando que há dúvidas se nos diferentes estágios de 
desenvolvimento embrionário encontra-se um ser humano. Ora, é claro que não é 
um ser humano completo, mas sem dúvida nenhuma é o mesmo indivíduo que mais 
tarde será definido como pessoa. 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
38
Há correntes, porém que discordam desse ponto de vista. Para tais correntes, 
por exemplo, a da “linha primitiva”. Para essa corrente, há um momento de 
passagem do pré-embrião ao estágio de embrião; até esta passagem o aborto seria 
possível, pois o pré-embrião ainda não seria uma pessoa. Essa linha primitiva seria 
atingida no 6º dia de fecundação, quando, no momento da implantação o blastócito 
passaria do estado de totipotência para o de unipotência. 
Outra corrente considera fundamental para a delimitação da pessoa a 
formação do sistema nervoso e o início da vida cerebral; o que nos levaria a 
conceber como ser humano o espaço de tempo entre o início e o fim da vida 
cerebral. Para essa corrente, sem a presença de um cérebro funcional não há, no 
sentido médico, um ser humano. 
 
c) Bioética e Eutanásia 
Como pudemos ver, a definição de ser humano como o indivíduo que possui 
pleno funcionamento do sistema nervoso e do cérebro. Assim, o tema da eutanásia 
se segue ao do aborto, porque também prescinde da compreensão do que é o ser 
humano. O tema fundamental que percorre o debate é o de “humanização da morte” 
ou dignidade da morte”. 
Em primeiro lugar, a definição de eutanásia nos é oferecida por Marcozzi: 
“Eutanásia é a eliminação indolor ou por piedade de quem sofre ou presume-se 
estar sofrendo e possa sofrer no futuro de modo insuportável” (1975, IV, p. 322). 
Ora, os que argumentam a favor da eutanásia procuram ideias que justifiquem a 
abreviação do sofrimento ou da vida vegetativa quando não há mais esperança de 
um outro estado. Porém, o que se questiona é, novamente, supor que o ser humano 
se limite ao funcionamento do sistema nervoso e do cérebro. Além disso, recusa-se 
os termos eutanásia ativa e eutanásia passiva, pois em última instância, a ação 
médica ou a inação resultam na mesma conclusão. 
Sgreccia considera a eutanásia uma prática condenável sob todos os 
aspectos e recorda o juramento de Hipócrates: “Não me deixarei induzir pelo pedido 
de ninguém, quem quer que ele seja, a dar de beber veneno ou a dar o meu 
 
 
Site: www.ucamprominas.com.br 
E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br 
Telefone: (0xx31) 3865-1400 
Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 
39
conselho numa contingência dessa”. (1996, p. 602). 
 
REFERÊNCIAS 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2004. 
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 1990, 
volumes III. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
Sugerimos como bibliografia complementar a obra dos autores citados neste 
trabalho publicados pela coleção os Pensadores 
ARISTÓTELES. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 
BEAUCHAMP, T. L. e CHILDRESS, J. F. Princípios de Ética Biomédica. São Paulo: 
Loyola, 2002. 
EPICURO Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 
GUTHRIE, W. K. C. Os Sofistas. São Paulo: Paulus, 1995. 
HERZBERG, F. Novamente: como se faz para motivar os funcionário? In: 
Psicodinâmica da Vida Organizacional: Motivação e Liderança. São Paulo, Atlas, 
1996. 
HITT, Willian. Ethics and leadership: putting theory into pratictice. Columbus, Ohio: 
Battelle Press, 1990. 
MAQUIAVEL. O Príncipe. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 
MOREIRA, L. Com Habermas, Contra Habermas: direito, discurso e democracia. 
Tradução de ensaios de Karl Otto Apel. São Paulo: Landy, 2004. 
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Bauru: Edipro, 2003. 
MARCOZZI, V. Il Cristiano di fronte all´eutanasia. “La Civilita Cattolica”, VI. 1975. 
PLATÃO. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 
ROUSSEAU. Do Contrato Social e outras obras. Coleção os Pensadores. São 
Paulo: Abril Cultural, 1973. 
Emílio ou da Educação. Bertrand Brasil, 1992. 
SANTO TOMÁS DE AQUINO. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 
1973. 
SANTO AGOSTINHO. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 
SGRECCIA, E. Manual de Bioética: fundamentos e ética biomédica. São Paulo: 
Loyola, 2002. 
SENECA Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 
SOCRATES . Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.