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BIOÉTICA A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades presenciais em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória, e com a Educação a Distância presente em todo estado do Espírito Santo, e com polos distribuídos por todo o país. Desde 1999 atua no mercado capixaba, destacando-se pela oferta de cursos de graduação, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 instituições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconhecida nacionalmente como referência em qualidade educacional. R E I TO R GRUPO MULTIVIX R E I 2 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) Marcela Santos Procópio Bioética / PROCÓPIO, M. S. - Multivix, 2020 Catalogação: Biblioteca Central Multivix 2020 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. 4 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE FIGURAS UNIDADE 1 Relação entre ética, moral e deontologia 12 Obra dos principais idealizadores da teoria “principialista” da Bioética: Tom Beanchamp e James Childress 13 Van Rensselaer Potter 16 Código de ética do embriologista 17 Direito à saúde 18 Crescimento da população brasileira até o ano de 2010 20 Esquema da bioética principialista 25 UNIDADE 2 Assento dos réus durante o julgamento de Nuremberg 29 Pesquisa científica 33 Busto de Aristóteles 39 British Cruelty Animal Act 40 Peter Singer 41 UNIDADE 3 Colheita de trigo� 52 Protocolo de Cartagena em biossegurança 53 Fecundação de óvulo por espermatozoide 57 Representação�da�tecnologia�de�fertilização in vitro 59 Injeção intracitoplasmática de espermatozoides 60 Embrião humano de 10mm na quinta semana de gestação 61 5 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 UNIDADE 4 Ovelha Dolly empalhada no Royal Museum of Scotland, em Edimburgo, Escócia. 67 Diagrama demonstrando o procedimento de clonagem reprodutiva e terapêutica 70 Células-tronco embrionárias de camundongo 76 Esquema básico das primeiras etapas da maturação do ovócito humano, a fertilização e a nidação 77 Embrião de 8 células 79 Embrião humano masculino, de sete semanas de idade ou nove semanas de idade gestacional 80 Terapia de células-tronco para esclerose múltipla 82 UNIDADE 5 Identificação humana 87 Reação em cadeia da polimerase (PCR) 89 Resultado da PCR após ser realizada uma eletroforese em gel de agarose 90 Enchente 91 Tubos de PCR 92 Identificação de pessoas 94 Escala de comparação de tamanho de nanomateriais 98 Nanotubos de carbono 102 Lipossomo obtido por nanotecnologia para revestimento de medicamentos 104 UNIDADE 6 Aborto realizado por aspiração a vácuo com equipamento elétrico 111 Feto humano de três meses 113 Protestos contra a permissão do aborto em caso de fetos anencéfalos 115 Reconstituição do primeiro transplante de coração humano, realizado em 1967 123 6 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 1UNIDADE 2UNIDADE 3UNIDADE 4UNIDADE 5UNIDADE SUMÁRIO 1 BIOÉTICA: CONCEITOS, PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, DESAFIOS E RESPONSABILIDADES 10 1.1 O QUE É BIOÉTICA? 10 1.2 DESAFIOS E RESPONSABILIDADES 17 2 BIOÉTICA E PESQUISA 28 2.1 BIOÉTICA E PESQUISA COM SERES HUMANOS 28 2.2 ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE OS TIPOS DE PESQUISA EM SERES HUMANOS 32 2.3 ASPECTOS JURÍDICOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM RELAÇÃO ÀS PESQUISAS COM SERES HUMANOS 36 2.4 BIOÉTICA E PESQUISA COM ANIMAIS 39 3 BIOÉTICA: ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E A REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA 47 INTRODUÇÃO 47 3.1�ORGANISMOS�GENETICAMENTE�MODIFICADOS�(OGMS) 48 3.2 REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA 56 4 BIOÉTICA: CLONAGEM, CÉLULA-TRONCO 66 4.1 INTRODUÇÃO 66 4.2 CLONAGEM GERMINATIVA E TERAPÊUTICA 66 4.3�CÉLULAS-TRONCO 75 5 BIOÉTICA: GENÉTICA E NANOTECNOLOGIA 86 5.1 INTRODUÇÃO 86 5.2 A GENÉTICA NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA 86 5.3 NANOTECNOLOGIA 97 7 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 6UNIDADE 6 BIOÉTICA NA MEDICINA: ABORTO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS 108 6.1 INTRODUÇÃO 108 6.2 ABORTO 108 6.3 TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS 118 8 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS ICONOGRAFIA UNIDADE 1 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você possa: 9 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética > de ampliar seus conhecimentos sobre os contextos históricos em destaque; e > de localizar os movimentos sociais abordados como fruto de cada contexto histórico. 10 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 1 BIOÉTICA: CONCEITOS, PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, DESAFIOS E RESPONSABILIDADES A disciplina de bioética tem como principal objetivo introduzir o pensamento ético aplicável as diversas profissões da área da saúde. Por se tratar de um tema multidisciplinar, envolvendo a biologia, saúde, di- reito e filosofia, primeiro temos que entender conceitos básicos sobre ética e moral. Depois de entendido esses conceitos um breve contexto histórico para explicar como o pensamento ético se desenvolveu na sociedade mundial. Também daremos início aos estudos dos princípios da bioética. Será aborda- do, principalmente a teoria principialista de Beuachamp e Childress publi- cada em 1979. Nesta unidade será abordado os desafios e responsabilidades que é trabalhar com ciência e vida, uma vez que a bioética também se aplica a estudos clínicos, ambientais e animais. Por fim será abordado como essa teoria foi aceita pela sociedade brasileira e como ela se aplica ao Sistema Único de Saúde (SUS). 1.1 O QUE É BIOÉTICA? A origem da palavra ética vem do grego “éthos”, que significa o modo de ser, o caráter. Já os romanos traduziram o “éthos” para o latim como “mos” (ou no plural mores) que quer dizer costume dando origem a palavra moral. No cotidiano não há distinção entre ética e moral, as palavras são usadas como sinônimos. Porém os cientistas e filósofos fazem a distinção entre elas. Ética é tido como o estudo do comportamento moral, ou seja, tenta explicar justificar e até criticar a moral de uma sociedade. O conceito de moral é de- finido como um conjunto de normas, conceitos, costumes e valores de uma determinada sociedade. Agora que entendemos um pouco dos conceitos po- demos trabalhar com a bioéticapropriamente dita. 11 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Para quem tem interesse em entender melhor os conceitos filosóficos e suas aplicações no cotidiano, de uma forma lúdica e de fácil leitura, o livro “O mundo de Sofia”, é um romance que exala conteúdo de uma forma simples e suave. Publicado pela primeira vez em 1991 pelo escritor, professor e filósofo Jostein Gaarder. Traduzido em diversas línguas, atualmente, no Brasil é publicado pela editora Companhia das letas. 1.1.1 CONCEITO DE BIOÉTICA A bioética é uma área de estudo que envolve a ciência humana usando o princípio da ética e as ciências biológicas. Fundamentando os princípios éti- cos que regem a vida quando essa pode ser colocada em risco pela medici- na ou pelas ciências. A palavra bioética é uma junção dos radicais “bio”, de origem grega “bios” que significa vida e “éthos”, que diz respeito à conduta moral como já mencionado anteriormente. O estabelecimento de uma profissão em seu significado pleno está extrema- mente associado à existência de um código de ética profissional: os códigos deontológicos. Cada profissão tem sua conduta regida pelos conselhos fede- rais (CFM - Conselho federal de Medicina; CFR – Conselho federal de farmácia) e regionais (CREF- Conselho regional de Educação física; CREFITO - Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional), como pode ser observado no esquema abaixo. 12 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética RELAÇÃO ENTRE ÉTICA, MORAL E DEONTOLOGIA Deontologia Aplicação às profissões Moral Aplicação ao comportamento humano e social Ética Princípios gerais Fonte:�Mattar�(2010,�p.�241). #PraCegoVer Esquema que mostra a hierarquia e sobreposições dos conceitos de deontologia, legislação que se aplica nas diferentes profissões seguido da moral que está vinculado ao comportamento social e a ética um termo mais abrangente e teórico. 1.1.2 FUNDAMENTAÇÃO DA ÉTICA E BIOÉTICA A Bioética nasce em um ambiente científico, como uma necessidade sentida pelos próprios profissionais da saúde, em seu sentido mais amplo, de prote- ger a vida humana e seu ambiente. Uma segunda característica é o seu caráter interdisciplinar, pois abrange pro- fissionais da área médica, teólogos, sociólogos, juristas, psicólogos, filósofos, dentre outros. Por fim, mas sem esgotar suas características, é um ramo do conhecimento humano que se apoia mais na razão e no bom juízo moral de seus investi- gadores do que em alguma corrente filosófica ou autoridade religiosa. Daí serem seus princípios de caráter autônomo e universal. 13 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Um dos modelos de análise bioética mais divulgados é certamente o “princi- palista” (que será abordado mais profundamente ao longo do texto), apresen- tado por Tom Beanchamp e James Childress, em Principles of Biomedical Ethics (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). Os autores propõem a existência de quatro princípios como norteadores da ação que se quer boa. São eles: o da beneficência, o da não-maleficência, o da justiça e o da autonomia. Estes princí- pios encontram as suas raízes na história da filosofia ou na tradição da ética médi- ca, a partir do que ganham a sua justifi- cação como princípios. Eles não obede- cem a qualquer disposição hierárquica e são válidos prima facie. Em caso de con- flito entre si, a situação em causa e as suas circunstâncias definirão o que indi- carão o que deve ganhar precedência. O princípio da autonomia parece, então, receber a preferência dos autores. OBRA DOS PRINCIPAIS IDEALIZADORES DA TEORIA “PRINCIPIALISTA” DA BIOÉTICA: TOM BEANCHAMP E JAMES CHILDRESS Fonte: Journal of Medical Ethics (2013). #PraCegoVer Fotografia da sétima edição do livro Princípios da Ética Biomédica. Prima Facie Que se pode constatar de imediato, sem ser necessário examinar melhor; claro, evidente, óbvio. 14 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Outros modelos de reflexão e análise atualmente aplicados em Bioética são: o modelo casuístico, o modelo do cuidado, o modelo contemporâneo do direito natural e o modelo contratualista. O modelo casuístico Apresentado por Albert Jonsen e Stephen Toulmin em The abuse of casuistry, preconiza uma análise de caso a caso. Cada caso deve ser examinado nas suas características individuais, estabelecendo-se comparações e analogias com outros casos. O modelo do cuidado Apresentado por Carol Gilligan em In a different voice, partindo do estudo da psicologia evolutiva, é mais de natureza psicológica do que filosófica. O cuidado é mais personalizado e atende aos valores dos indivíduos envolvidos. O modelo contemporâneo do direito natural Apresentado por John Finnis em Natural law and natural rights, estabelece a existência de alguns bens fundamentais. O conhecimento, a vida estética, a vida lúdica, a racionalidade, a religiosidade e a amizade não supõem qualquer organização hierárquica entre si. Moral será toda a ação que contribui para o desenvolvimento destes valores. O modelo contratualista Apresentado por Robert Veatch em A theory of medical ethics, parte da denúncia das várias insuficiências de fundo que a ética hipocrática condena. É baseado em um triplo contrato: entre médico e pacientes, entre médicos e a sociedade e um contrato mais amplo acerca dos princípios orientadores da relação médico-paciente. Para regular estas relações deve-se obedecer a algumas regras fundamentais: o da beneficência, o da proibição de matar, o de dizer a verdade e o de manter as promessas. 15 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 1.1.3 EVOLUÇÃO DO CONCEITO E CONTEXTO HISTÓRICO Em meados do século XX diante de um colapso ecológico global, quando fo- ram identificadas as primeiras consequências das mudanças climáticas, do aumento exponencial da população após a Segunda Guerra Mundial, da ex- ploração demasiada de recursos naturais não renováveis e da evolução de novas tecnologias, principalmente atômicas, químicas e biológicas, que con- feriram ao ser humano o poder inédito de destruir o próprio planeta. Foi neste contexto que o termo bioética foi mencionado pela primeira vez (HECK, 2005). A história da Bioética teve início em 1971, quando Van Rensselaer Potter, bioquí- mico e professor de oncologia da Escola Médica da Universidade de Wisconsin, publicou o livro Bioethics: Bridge to The Future, que apenas mais tarde seria re- conhecido como a principal obra da bio- ética, um campo de atuação científica, normativa e institucional estabelecido nos Estados Unidos da América do Nor- te (EUA). A consolidação deste campo da ética aplicada ocorreu, sobretudo, após a publicação do Belmont Report (1978), documento que sintetizou orien- tações éticas para a realização de pes- quisas biomédicas e comportamentais envolvendo seres humanos naquele país. A repercussão pública sobre abusos em investigações científicas envolvendo grupos de minorias é considerada fator importante para o estabelecimento da bioética como um campo de dis- cussão pública sobre conflitos éticos envolvendo as ciências biomédicas e as práticas clínicas A publicação da Encyclopedia of Bioethics, em 1978, e do livro Principles of Biomedical Ethics, em 1979, consolidaram no âmbito acadêmi- co a identidade biomédica que até hoje caracteriza a bioética naquele país (DALL’AGNOL, 2005; HECK, 2005). Mídias Integradas Tem interesse em aprender mais sobre o relatório Belmont e a ética em pesquisa com seres humanos? Para maiores informações, leia a matéria “O Relatório Belmont e a ética em pesquisa com seres humanos”, clicando aqui. https://www.labbioetica.com.br/post/coluna-o-relat%C3%B3rio-belmont-e-a-%C3%A9tica-em-pesquisa-com-seres-humanos16 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética VAN RENSSELAER POTTER Fonte: Wikimedia Commons (2020). #PraCegoVer Foto em preto e branco do criador do termo bioética, Van Rensselaer Potter. O início das discussões bioéticas no Brasil deu-se, tardiamente, no fim da década de 1980 e início dos anos 1990 no cenário de redemocratização, que criava a expectativa de que o novo campo fosse ferramenta útil para atingir objetivos políticos, coletivos, sensíveis às necessidades de grandes mudanças. O caráter crítico é apontado no surgimento da bioética no Brasil pelo reco- nhecimento de seu forte vínculo com movimentos sociais em defesa da de- mocracia, dos direitos sociais e civis, e da grande parcela da população social- mente desfavorecida. As marcas dessa origem operam tanto como pontos de ruptura quanto de consolidação de dis- cursos e prática. Além do contexto político e de seu as- pecto multidisciplinar, outra caracterís- tica que marca o início da bioética no Brasil é a capacidade de produzir novos pensamentos e agregar múltiplos sujei- tos (Corrêa A.P.R; Garrafa V, 2005). Em 1995 foi criada a Sociedade Brasileira de Bioética, bem como cursos de pós- -graduação. Essa criação e essa implan- Mídias Integradas Para manter-se atualizado sobre o código de ética brasileiro acesse o site da Sociedade Brasileira de Bioética, clicando aqui. http://www.sbbioetica.org.br/ 17 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética tação foram os fatores determinantes para agregar a esse campo de estudos profissionais, diferentes áreas do conhecimento. 1.2 DESAFIOS E RESPONSABILIDADES A disciplina de bioética trata de temas específicos como nascer/não nascer (aborto), morrer/não morrer (eutanásia), saúde/doença (ética biomédica), bem-estar/mal-estar (ética biopsicológicas) e se ocupa de novos campos de atuação do conhecimento, como clonagem (ética genética), irresponsabilida- de perante os pósteros (ética de gerações), depredação da natureza extra- -humana circundante e agressões ao equilíbrio sistêmico das espécies (ecoé- tica). Dentre as diversas práticas da bioética destacam-se atividades terapêuticas em todo e qualquer exercício das relações profissionais de médi- cos, enfermeiros, dentistas, psicólogos, nutricionistas, biólogos, fisioterapeu- tas farmacêuticos, biomédicos terapeutas ocupacionais e demais técnicos especializados em saúde e doença, bem como os usuários das novas técnicas biomédicas e farmacológicas tornam-se subordinados ao discurso. Podemos citar como exemplo, o recente código de ética dos profissionais embriologis- tas, com a primeira edição publicada em 2018. CÓDIGO DE ÉTICA DO EMBRIOLOGISTA Fonte: Pronúcleo (2020). #PraCegoVer Imagem ilustrativa da capa do Código de Ética e Conduta da Associação Brasileira de Embriologistas. Mídias Integradas Para melhor contextualização da história e desenvolvimento do SUS no Brasil assista o vídeo no link a seguir. O SUS do Brasil - um projeto para a saúde https://www.youtube.com/watch?v=Cb-cslNmGnE https://www.youtube.com/watch?v=Cb-cslNmGnE 18 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética O Brasil dispõe de um sistema público de saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), que foi implementado com a lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990 homo- logada pelo então presidente Fernando Collor de Melo. Um dos grandes desa- fios para a saúde, desde então, é aplicar a bioética na sua forma de contemplar toda a população brasileira. Para enten- der melhor como a bioética, seu contex- to, aplicabilidade, desafios e responsa- bilidades também temos que entender como as diretrizes do SUS funciona. Este será abordado mais profundamente no decorrer do texto. DIREITO À SAÚDE Fonte: Pikist (2020). #PraCegoVer: Imagem ilustrativa do martelo do juiz, também chamado de malhete, representando o direito à saúde. tação foram os fatores determinantes para agregar a esse campo de estudos profissionais, diferentes áreas do conhecimento. 1.2 DESAFIOS E RESPONSABILIDADES A disciplina de bioética trata de temas específicos como nascer/não nascer (aborto), morrer/não morrer (eutanásia), saúde/doença (ética biomédica), bem-estar/mal-estar (ética biopsicológicas) e se ocupa de novos campos de atuação do conhecimento, como clonagem (ética genética), irresponsabilida- de perante os pósteros (ética de gerações), depredação da natureza extra- -humana circundante e agressões ao equilíbrio sistêmico das espécies (ecoé- tica). Dentre as diversas práticas da bioética destacam-se atividades terapêuticas em todo e qualquer exercício das relações profissionais de médi- cos, enfermeiros, dentistas, psicólogos, nutricionistas, biólogos, fisioterapeu- tas farmacêuticos, biomédicos terapeutas ocupacionais e demais técnicos especializados em saúde e doença, bem como os usuários das novas técnicas biomédicas e farmacológicas tornam-se subordinados ao discurso. Podemos citar como exemplo, o recente código de ética dos profissionais embriologis- tas, com a primeira edição publicada em 2018. CÓDIGO DE ÉTICA DO EMBRIOLOGISTA Fonte: Pronúcleo (2020). #PraCegoVer Imagem ilustrativa da capa do Código de Ética e Conduta da Associação Brasileira de Embriologistas. Mídias Integradas Para melhor contextualização da história e desenvolvimento do SUS no Brasil assista o vídeo no link a seguir. O SUS do Brasil - um projeto para a saúde http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.080-1990?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.080-1990?OpenDocument https://www.youtube.com/watch?v=Cb-cslNmGnE https://www.youtube.com/watch?v=Cb-cslNmGnE 19 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 1.2.1 DESAFIOS DA BIOÉTICA Desde a Grécia Antiga, segunda metade do século XX até o presente, a bioé- tica interage com múltiplos fatores circunstanciais na medicina. Por um lado, os desafios à vida no micro e macrouniverso em escala planetária e, por outro, o desenvolvimento tecnológico desenfreado levantam uma série de pergun- tas acerca da capacidade humana de sentir, julgar e agir adequadamente em relação a um patrimônio que vem dos primórdios da vida sobre o planeta. A abordagem da bioética vai além de uma ética médica e herda boa parte das tarefas da filosofia ocidental no afã de monitorar a conduta humana. A medida, porém, que o espectro temático se distende para fora da medicina, a bioética corre o risco de perder contorno, mascarar realidades e desenten- der seus agentes, razão pela qual importa explicitar seu caráter interdiscipli- nar, sua demanda científica e seu desafio filosófico mais instigante. Dentre os muitos desafios que, de fato, o mundo contemporâneo nos apre- senta, será considerado especialmente três: um primeiro, provocado pela mesma estrutura da ciência moderna e que exige uma ética da ciência; um segundo, consequência do anterior, provocado pelo impacto da ciência e da técnica na ação dos homens e que exige uma ética da solidariedade univer- sal; e um terceiro, provocado pelo fenômeno da globalização e que exige uma resposta ético-política capaz de responsabilizar-se pelas consequências de nossas ações a nível planetário (HECK, 2005). O Brasil é uma país de dimensões continentais e a estrutura socioeconômi- ca é bem variante. De acordo com dados do IBGE 2020 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), atualmente a população brasileira conta com mais de 212 milhões de habitantes. O boom populacional brasileiro teve seu marco nas décadas de 1950 e 1960. Com a crescente demanda populacio- nal frente a serviços de saúde e higiene sanitária, vem o grande desafio. Ofertar saúde, educação e dignidade a todos. Mídias Integradas Para mais informações sociodemográficas,acesse o link do site do IBGE. https://www.ibge.gov.br/ 20 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA ATÉ O ANO DE 2010 Fonte: IBGE (2010). #PraCegoVer Gráfico referente a quantidade de habitantes x ano, demonstrando o crescimento populacional do Brasil até o ano de 2010. 1.2.2 RESPONSABILIDADES DA BIOÉTICA Responsabilidade é um conceito moderno. Responsabilizar-se por algo sig- nifica, originariamente, responder em juízo por seus atos, defendendo e/ou justificando comportamentos oficialmente questionados. Cada um é respon- sável por suas ações a serem legitimadas perante instância superior, a quem cabe pronunciar-se favorável ou desfavoravelmente. O conceito de responsa- bilidade, usual na tradição, está familiarizado com ilicitude, culpa e reparação. Quem é chamado à responsabilidade transgrediu uma ordem estabelecida por leis, normas ou valores, é forçado a encontrar explicações para sua con- duta e submete-se a decisões superiores (MARTINS-COSTA; LUDWIG, 2009). As responsabilidades bioéticas no Brasil estão intrinsicamente associadas aos princípios e diretrizes que regem o SUS. Podemos dizer isso, pois ambas fo- ram estruturadas e implementadas no país da década de 1990. O Sistema Único de Saúde (SUS), também chamada de “Lei Orgânica da Saú- de”, é a tradução prática do princípio constitucional da saúde como direito de todos e dever do Estado e estabelece, no seu artigo 7o, que “as ações e servi- ços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que 21 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, (Brasil. Lei n. 8080), obedecendo ainda aos seguintes princípios: Princípio 1 Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; Princípio 2 Integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; Princípio 3 Preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; Princípio 4 Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; Princípio 5 Direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; Princípio 6 Divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; 22 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Princípio 7 Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; Princípio 8 Participação da comunidade; Princípio 9 Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; Princípio 10 Integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; Princípio 11 Conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; Princípio 12 Capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e 23 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Princípio 13 Organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. 1.2.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA BIOÉTICA O modelo de análise bioética comumente utilizado e de grande aplicação na prática clínica na maioria dos países é o “principialista”, introduzido por Beauchamp e Childress, em 1989. Os�princípios,� as� regras� e� os� direitos� precisam� ser,� além�de� especificados,� ponderados. Os princípios (e coisas do gênero) nos orientam para certas formas�de�comportamento;�porém,�por�si�mesmos,�eles�não�resolvem�conflitos� de� princípios.� Enquanto� a� especificação� promove� um� desenvolvimento� substantivo�da�significação�e�do�escopo�de�normas,�a�ponderação�consiste� na deliberação e na formulação de juízos acerca dos pesos relativos das normas. (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002, p. 299). O princípio da autonomia Requer que os indivíduos capacitados de deliberarem sobre suas escolhas pessoais, devam ser tratados com respeito pela sua capacidade de decisão. Esses têm o direito de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida. Quaisquer atos médicos devem ser autorizados pelo paciente; O princípio da beneficência Diz respeito à obrigação ética de maximizar o benefício e minimizar o prejuízo. O profissional deve ter a maior convicção e informação técnicas possíveis que assegurem ser o ato benéfico ao paciente (ação que faz o bem); Exemplo Em um paciente com risco iminente de vida, justifica-se a aplicação de medidas salvadoras (diálise, amputação, histerectomia, ventilação assistida, transplantes etc.) mesmo que tragam consigo algum grau de sofrimento, prevalecendo assim o princípio da beneficência sobre o da não- maleficência. O primeiro objetivo neste momento é a preservação da vida. 24 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Princípio 13 Organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. 1.2.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA BIOÉTICA O modelo de análise bioética comumente utilizado e de grande aplicação na prática clínica na maioria dos países é o “principialista”, introduzido por Beauchamp e Childress, em 1989. Os�princípios,� as� regras� e� os� direitos� precisam� ser,� além�de� especificados,� ponderados. Os princípios (e coisas do gênero) nos orientam para certas formas�de�comportamento;�porém,�por�si�mesmos,�eles�não�resolvem�conflitos� de� princípios.� Enquanto� a� especificação� promove� um� desenvolvimento� substantivo�da�significação�e�do�escopo�de�normas,�a�ponderação�consiste� na deliberação e na formulação de juízos acerca dos pesos relativos das normas. (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002, p. 299). O princípio da autonomia Requer que os indivíduos capacitados de deliberarem sobre suas escolhas pessoais, devam ser tratados com respeito pela sua capacidade de decisão. Esses têm o direito de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida. Quaisquer atos médicos devem ser autorizados pelo paciente; O princípio da beneficência Diz respeito à obrigação ética de maximizar o benefício e minimizar o prejuízo. O profissional deve ter a maior convicção e informação técnicas possíveis que assegurem ser o ato benéfico ao paciente (ação que faz o bem); Exemplo Em um paciente com risco iminente de vida, justifica-se a aplicação de medidas salvadoras (diálise, amputação, histerectomia, ventilação assistida, transplantes etc.) mesmo que tragam consigo algum grau de sofrimento, prevalecendo assim o princípio da beneficência sobre o da não- maleficência. O primeiro objetivo neste momento é a preservação da vida. O princípio da não-maleficência Esse, estabelece que a ação do médico sempre deve causar o menor prejuízo ou agravos à saúde do paciente (ação que não faz o mal). A finalidade é reduzir os efeitos adversos ou indesejáveis das ações diagnósticas e terapêuticas no ser humano; O princípio da justiça Estabelece como condição fundamental a equidade, ou seja, obrigação ética de tratar cada indivíduo conforme o que é moralmente correto e adequado, de dar a cada um o que lhe é devido. Os profissionais da saúde devem atuar com imparcialidade, evitando ao máximo que aspectos sociais, culturais, religiosos, financeiros ou outrosinterfiram na relação profissional-paciente. Os recursos devem ser equilibradamente distribuídos, com o objetivo de alcançar, com melhor eficácia, o maior número de pessoas assistidas. Em relação à criança ou indivíduos men- talmente incapazes, o princípio da auto- nomia deve ser exercido pela família ou responsável legal. Entretanto, estes não têm o direito de forçá-las a receber tra- tamentos e/ou intervenções nocivos ou desproporcionalmente penosos, às ve- zes, por motivos religiosos. Consequen- temente, os profissionais devem intervir ou negar-se a adotar condutas especí- ficas quando as decisões dos pais ou responsáveis legais forem contrárias aos melhores interesses da criança. Os princípios bioéticos estabelecem pa- drões que orientam, guiam e avaliam condutas, enquanto não são sobrepos- tos pela alegação de fatos ou argumen- tos dos quais, novamente, resulta prima facie um bem maior, mais útil, mais jus- 25 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética to, e assim por diante. Assegurada a universalidade de seu objeto, a bioética não pode furtar-se ao confronto com a diversidade cultural que mundo afora determina condutas, sustenta razões, plasma indivíduos e agrega multidões (CORRÊA; GARRAFA, 2005). ESQUEMA DA BIOÉTICA PRINCIPIALISTA PrincipialismoBeneficência Não-maleficência Autonomia Justiça Fonte: Elaborada pelo autor (2020). #PraCegoVer: Esquema circular demonstrando que a ética principialista funciona em ciclo e não em uma hierarquia. CONCLUSÃO Uma vez consolidada como ciência, com objeto e métodos não mais restritos ao universo da medicina, a bioética fica em condição de hospedar múltiplas disciplinas com conteúdo acadêmicos diversos para interagir, na teoria e na prática, com as diferentes áreas do conhecimento sem abdicar da identidade, refazer objetivos e/ou descartar métodos. Dada sua destinação interdisciplinar, a ciência da bioética tem a tarefa de aplicar a pluralidade de seus princípios e suas regras às várias frentes de geração, elaboração e administração do saber. O progresso intelectual avança com mais rapidez do que o processo moral (éti- co). Porém, hoje em dia a bioética ampliou a sua abrangência, gerando inte- 26 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética resses instituições privadas e públicas. Em razão disto, ganha uma aceitação em escala global, em parte como uma tentativa de apresentar sinais de como lidar com os novos problemas éticos que o mundo técnico-científico levanta ao interferir vida de todos. É possível perceber, com criações de Comissões Na- cionais de Bioética, centros de estudos, publicações na área e os congressos realizados ou projetados são uma evidência desta amplitude. Observa-se que a bioética tem como principais objetivos o respeito e a conservação da dignidade da pessoa humana. Ela compreende o estudo das dimensões morais das ciên- cias da vida, utilizando diversas metodologias éticas em contexto mais amplo. No Brasil, apesar de ser mais recente do que nos Estados Unidos, por exem- plo, já possuímos inúmeras iniciativas e estudos sobre este tema. Prova dis- so, são os próprios estudos que vão de encontro aos problemas do mundo contemporâneo, ou seja, da ciência e da vida, do pedagógico ao jurídico, do biológico ao social. Com isso, surge sob vários paradigmas, que tratam das questões primordiais ligadas ao início da vida, do desenvolvimento da pessoa, como por exemplo, aborto, eutanásia, doação de órgãos, bem como temas relacionados com a engenharia genética, ecologia, saúde etc. UNIDADE 2 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que seja capaz: 27 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética > Compreender os aspectos éticos e jurídicos relativos à realização de pesquisas envolvendo seres humanos. > Compreender os aspectos éticos e jurídicos que envolvem a realização de pesquisas envolvendo a experimentação animal. 28 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 2 BIOÉTICA E PESQUISA Olá, pessoal! Bem-vindos a mais uma importante unidade de estudos da dis- ciplina de Bioética! A partir de agora nossos olhares serão voltados para a bioética e para a pes- quisa, buscando compreender os embasamentos éticos e jurídicos que en- volvem este importante e amplo campo de estudos. Vamos aprofundar nossos conhecimentos acerca das realizações de pesqui- sas que ocorrem tanto em seres humanos, quanto em animais, compreender quais são os limites para esses experimentos e de que forma eles ocorrem. Fiquem atentos para descobrir ainda mais sobre esses importantes assuntos que podem ser tema de grandes debates para a atualidade! Bons estudos! 2.1 BIOÉTICA E PESQUISA COM SERES HUMANOS 2.1.1 CONTEXTO HISTÓRICO E ABORDAGEM DOS DOCUMENTOS BÁSICOS DE ÉTICA EM PESQUISA: CÓDIGO DE NUREMBERG, DECLARAÇÃO DE HELSINQUE E RELATÓRIO BELMONT A bioética, como temática de estudo e ciência qualitativa na área da filosofia, direito e saúde, tem o seu início no Brasil durante a década de 1990. Isso se decorreu no contexto da redemocratização do país, em que se observou o aumento do debate sobre direitos individuais, sociais, e também as questões de ética em saúde pública. Ao falar de ética na medicina ou em pesquisa com seres humanos temos que recuperar alguns fatos que marcaram a história e deram início à regula- mentação da experimentação com humanos. Dentre os documentos básicos sobre a ética podemos citar o Código de Nuremberg, a Declaração de Helsin- que e o Relatório Belmont, que iremos explorar adiante. 29 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 O Tribunal de Nuremberg, em 9 de dezembro de 1946, julgou vinte e três pes- soas, vinte das quais, médicos que foram considerados criminosos de guerra, pelos experimentos realizados em seres humanos, durante a Segunda Guer- ra Mundial. Em 19 de agosto de 1947, as sentenças foram divulgadas, e sete pessoas foram acusadas e condenados à morte. Com a sentença, também foi publicado um documento que ficou conhecido como Código de Nuremberg. Esse documento tornou-se um marco na história da humanidade que, pela primeira vez, estabeleceu-se um conjunto de recomendações internacionais sobre os aspectos éticos envolvidos na pesquisa em seres humanos. ASSENTO DOS RÉUS DURANTE O JULGAMENTO DE NUREMBERG Fonte: Wikicommons (2020). #PraCegoVer: Fotografia colorida de uma vista superior do banco de réus do tribunal de Nuremberg. O documento estabelece que um indivíduo dotado de plena capacidade de tomada de decisões precisa ter os seus desejos respeitados. O pesquisador, por sua vez, deve proteger os interesses do seu paciente. Além disso, o Código de Nuremberg (SHUSTER, 1997), aborda outros princí- pios, que podem ser observados abaixo: 30 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. 2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade, que não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas não podem ser feitos de maneira casuística ou desnecessariamente. 3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação com animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo; dessa maneira, os resultados já conhecidos justificam a condição do experimento. 4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e danos desnecessários, quer físicos, quer mentais. 5. Não deve ser conduzido nenhum experimento quando existirem razões para acreditar que possa ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, quando o próprio médico pesquisador se submeter ao experimento. 6.O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema que o pesquisador se propõe resolver. 7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota. 8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas. 9. O participante do experimento deve ter a liberdade de retirar-se no decorrer do experimento. 10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a continuação do experimento provavelmente causará danos, invalidez ou morte para os participantes. Infelizmente o Código de Nuremberg não obteve tanto sucesso quanto espe- rado. A mídia não deu a devida atenção ao assunto e os médicos e cientistas acharam que este código somente se aplicava aos condenados pelos crimes que ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial. Então até a década de 1970, os aspectos éticos em torno da pesquisa clínica com seres humanos ain- da eram muito negligenciados (DINIZ; CORRÊA, 2001). 31 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 [...] o julgamento dos médicos nazistas em Nuremberg recebeu pouca cobertura da imprensa e, antes da década de 70, o próprio código raramente era citado ou discutido nas revistas médicas. Pesquisadores e clínicos americanos aparentemente consideravam Nuremberg irrelevante para seu próprio trabalho [...] (ROTHMAN, 1991, p. 62). Em 1964, a Associação Médica Mundial (AMM), um órgão regulador das as- sociações médicas internacionais, publicou a Declaração de Helsinque, um documento que não possui poderes legais ou normativos, mas que, pelo con- senso conquistado, é uma referência ética importante para a regulamenta- ção de pesquisas médicas envolvendo seres humanos (DINIZ, 2005). A declaração de Helsinque traz em seu conteúdo alguns princípios a serem considerados ao conduzir uma pesquisa com seres humanos. Tendo 12 princí- pios, em resumo, o documento preza em primeiro lugar que a pesquisa bio- médica deve seguir uma hierarquia de ensaios, in vitro, in vivo e depois trans- lacionar para humanos. Somente profissionais cientificamente treinados devem conduzir pesquisas com humanos. Em qualquer pesquisa com seres humanos, cada participante em potencial deve ser adequadamente informa- do sobre os objetivos, métodos, benefícios previstos e potenciais perigos e incômodos que o experimento possa acarretar. Deve ser informado de que é livre para retirar seu consentimento em participar, a qualquer momento (AMM,1964). Como abordado anteriormente, o Rela- tório Belmont foi essencial para o desen- volvimento da bioética mundial (LEONE; PRIVITERA; CUNHA, 2001). Publicado por Van Potter em 1978, esse relatório tinha como objetivo analisar princípios ético básicos que possam nortear pesquisas com seres humanos e desenvolver pro- tocolos técnicos, garantindo que a pes- quisa seja administrada e aplicada diante tais princípios. Dentre os princípios cita- dos no relatório devemos citar os quatro mais importantes: Respeito à autonomia, beneficência, justiça e não maleficência (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). Saiba Mais Para acessar a Declaração de Helsinque na íntegra e ver as suas modificações, desde a primeira publicação, acesse o link aqui. https://www.ifgoiano.edu.br/home/images/Documentos/Pesquisa/CEP/DECLARAO-DE-HELSINQUE.pdf 32 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética O princípio da autonomia O indivíduo, desde que com plena capacidade e consciência, possui o direito de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida. Quaisquer atos médicos devem ser autorizados pelo paciente, ou em alguns casos pelo responsável legal. O princípio da beneficência Diz respeito à obrigação ética de prevalecer o benefício em detrimento ao prejuízo. Dessa forma, o pesquisador ou médico necessita sempre prezar pela preservação da saúde do paciente. O princípio da não-maleficência Tem por objetivo reduzir ao máximo os danos causados à saúde e a moral dos indivíduos. O princípio da justiça Tem por finalidade garantir a equidade. A obrigação ética de tratar cada indivíduo com o que é moralmente adequado, oferecer o que é necessário dentro da individualidade do paciente. O profissional da saúde deve atuar de forma imparcial. 2.2 ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE OS TIPOS DE PESQUISA EM SERES HUMANOS A pesquisa científica pode ser definida como uma classe de atividades cujo objetivo é desenvolver ou contribuir para o conhecimento generalizável. O conhecimento generalizável consiste em teorias, relações ou princípios ou no acúmulo de informações sobre as quais estão baseados, que possam ser cor- roborados por métodos científicos aceitos de observação e inferência (Reso- lução 196/96 item II). 33 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 PESQUISA CIENTÍFICA Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Imagem de um homem com jaleco branco, representando um cientista, manuseando equipamentos de laboratório, caracterizando a pesquisa científica. Podemos citar três que são muito frequentes na área da saúde: pesquisas epidemiológicas, pesquisas de comportamento, atitudes e crenças e os testes de novos remédios e procedimentos. Pesquisas Epidemiológicas São estudos que têm como objetivo a produção do conhecimento sobre as características dos agravos de saúde na população. Geralmente utilizam dados secundários, tais como documentos, declarações de óbito, fichas produzidas pelos próprios serviços de saúde, prontuários médicos, ou até mesmo artigos publicados em revistas científicas. 34 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Pesquisa sobre comportamento, atitudes e crenças Buscam entender a maneira como as pessoas vivem, como agem e o que pensam sobre determinada temática, que seria o objeto do estudo. O contato entre a equipe de pesquisa e os participantes ocorre por meio de entrevistas, grupos de discussão ou questionários. Testes de novos remédios e procedimentos Esses estudos são pagos frequentemente pelos laboratórios farmacêuticos, que possuem como objetivo a testagem de novos medicamentos. Nessas pesquisas, a equipe de profissionais possui contato com os participantes que, geralmente, passam por procedimentos médicos e laboratoriais, antes e após a utilização do novo medicamento, para avaliar o efeito da substância. A epidemiologia contribui com o desenvolvimento de diferentes metodolo- gias de pesquisa, com a finalidade de responder a perguntas clínicas. O co- nhecimento adequado desses delineamentos de pesquisa é fundamental no planejamento de uma pesquisa, e também na leitura e na interpretação dos estudos, para as quais recomendamos revisões recentes sobre o assunto (BUEHLER; et al., 2009) De acordo com Nedel e Silveira, 2009, podemos classificar os estudos epide- miológicos das seguintes formas: Ensaio clínico randomizado (ECR) Estudo intervencionista e prospectivo. Os participantes devem ter a mesma oportunidade de receber, ou não, a intervenção proposta e esses grupos devem ser os mais parecidos possíveis, de forma que a única diferença entre eles seja a intervenção em si, podendo-se, assim, avaliar o impacto na ocorrência do desfecho em um grupo sobre o outro. É o padrão de excelência em estudos que pretendem avaliar o efeito de uma intervenção no curso de uma situação clínica. 35 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Ensaio clínico não randomizado (quase experimental) Neste tipo de estudo há um grupo intervenção e um grupo controle, mas a designação dos participantes para cada grupo não se dá de forma aleatória,como no ECR, mas conveniência do pesquisador. Estudos de prevalência (transversais) As mensurações dos fatores de risco e dos desfechos analisados ocorrem em um mesmo momento, concomitantemente, não podendo inferir no que veio primeiro (exposição ou desfecho). Caso-controle Observacional, longitudinal e retrospectivo. Seleciona-se uma população com determinado desfecho de interesse (casos) e outra, semelhante ao primeiro grupo, sem o desfecho de interesse (controles). Comparando-se os dois grupos, avaliam-se os fatores que poderiam estar relacionados à ocorrência do desfecho pesquisado. Estudos de coorte Observacional longitudinal, prospectivo ou retrospectivo. Selecionam- se populações exposta e não exposta a determinado fator, fazendo seu acompanhamento por um determinado período de tempo, ao final do qual deve ser analisado o efeito do fator de exposição no aparecimento do desfecho. Revisão sistemática com metanálise O objeto de análise deixa de ser os pacientes e passa a ser as pesquisas já realizadas anteriormente sobre determinado objeto de pesquisa. Os trabalhos originais publicados na literatura são revisados e selecionados de maneira sistemática, e os resultados deles podem ser sumarizados sob um único parâmetro de magnitude de efeito (a metanálise). 36 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 2.3 ASPECTOS JURÍDICOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM RELAÇÃO ÀS PESQUISAS COM SERES HUMANOS Um dos vários modelos utilizados em Bioética é o modelo principialista. Este serve de fundamentação à vários documentos internacionais e, no Brasil, à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamenta a pesquisa em seres humanos no país. Essa é a resolução que dá as diretrizes e normas reguladoras para pesquisa com seres humanos no Brasil. Ela foi elaborada por um grupo de pessoas com diferentes profissões, inclusive com representantes de usuários. É neste documento que está descrito o funcio- namento da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e os princípios que devem ser respeitados em todas as pesquisas que envolvem seres humanos (BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 196, de 10 out. 1996). Além da Resolução 196/96, o Conselho Nacional de Saúde aprovou as seguintes resoluções complementares: Resolução CNS n. 240, de 5 de junho de 1997 Considerando�a�necessidade�de�definição�do�termo�“usuários”� para efeito de participação nos comitês de ética em pesquisa das instituições. Resolução CNS n. 251, de 7 de agosto de 1997 Aprova normas de pesquisa envolvendo seres humanos para a área temática de pesquisa com novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnóstico. Saiba Mais Quer ter acesso integral à resolução nº. 196/96? Acesse aqui o link. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996.html 37 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Resolução CNS n. 292, de 8 de julho de 1999 Pesquisas coordenadas do exterior ou com participação estrangeira e pesquisas que envolvam remessa de material biológico para o exterior. Resolução n. 301, de 16 de março de 2000 Contempla o posicionamento do CNS e CONEP contrário a modificações�da�Declaração�de�Helsinque. Resolução CNS n. 303, de 6 de junho de 2000 Reprodução humana. Resolução CNS n. 304, de 9 de agosto de 2000 Populações indígenas. Resolução CNS n. 340, de 8 de julho de 2004 – Diretrizes para a Análise Ética e Tramitação do Projetos de Pesquisa da Área Temática Especial de Genética humana. Resolução CNS n. 346, de 13 de janeiro de 2005 tramitação de projetos de pesquisa multicêntricos no sistema Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) e (CONEP). Resolução CNS n. 347, de 13 de janeiro de 2005 Aprova as diretrizes para análise ética de projetos de pesquisa que envolva armazenamento de materiais ou uso de materiais armazenados em pesquisas anteriores. 38 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Resolução CNS n. 370, de 8 de março de 2007 O registro e credenciamento ou renovação de registro e credenciamento do CEP. Resolução CNS n.404, de 1 de agosto de 2008 Declaração de Helsinque. Resolução CNS n.421, de 18 de junho de 2009 Reestrutura a composição da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP. Por mais de uma década a resolução196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CSN) foi o Norte para a bioética na saúde e condução de ensaios clínicos no Brasil. Porém em 12 de setembro de 2011, por meio de coletas de sugestões via eletrônica e correios a resolução sofreu modificações. As sugestões em ques- tão foram submetidas a uma análise técnica no Encontro Nacional dos Comitês de Ética em pesquisa (ENCEP), que posteriormente enviaram suas considera- ções ao CSN. O Conselho Nacional de Saúde, em reunião em plenário, decidiu pela revogação das resoluções 196/96, 303/2000 e 404/2008. Isso ocorreu no dia 12 de setembro de 2012. Todas as resoluções revogadas foram substituídas pela nova resolução n.466, que entrou em vigor a partir de 13 de junho de 2013. O recente documento tem um caráter mais ético pois leva em consideração os princípios básicos da bioética como o respeito a autonomia, justiça, benefi- cência e não maleficência. Com isso deu-se a entender e a garantir os deveres que a comunidade científica tem para com a sociedade e com os participan- tes de pesquisa. Saiba Mais Quer ter acesso a integral à resolução n. 466/12 e explorar mais o seu conteúdo? Acesse o link aqui. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html 39 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 2.4 BIOÉTICA E PESQUISA COM ANIMAIS 2.4.1 CONTEXTO HISTÓRICO Investigações na área da saúde tem embasamento teórico nos pensamen- tos de Hipócrates (450 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.) e Galeno (201-131 a.C.) precursores da análise entre órgão de humanos e animais. Talvez a primeira pesquisa científica foi desenvolvida por William Harvey publicada em 1638 que diz respeito a circulação sanguínea em mais de 80 espécies (RAYMUN- DO; GOLDIM, 2006). BUSTO DE ARISTÓTELES Fonte: Wikicommons (2020). #PraCegoVer: Cópia romana do busto de Aristóteles esculpido por Líspio, artista grego do século IV a.C. A utilização de modelos animais na ciência possibilitou muitos avanços na área biomédica. Por muitos anos pouco se questionou sobre a ética em ex- perimentação animal, que até então eram usados de forma indiscriminada. No século XIX surgiram os primeiros movimentos organizados em favor dos direitos dos animais. A Inglaterra foi pioneira em regulamentar o uso de ani- mais em pesquisas científicas (RAYMUNDO; GOLDIM, 2006). O conhecido British Cruelty Animal Act, que ocorreu em 1876, resultou em uma emenda complementar na Lei relacionada a crueldade aos animais, incluindo o capí- tulo 77, que regulamentava os aspectos éticos a serem considerado na utili- 40 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética zação de animais para a experimentação médica, fisiológica ou científica. O trecho da lei britânica pode ser observado na figura a seguir: BRITISH CRUELTY ANIMAL ACT Fonte: UK Public General Acts (1876). #PraCegoVer: Imagem do capítulo 77 da lei sobre crueldade aos animais que regulamentava os aspectos éticos a serem considerado na utilização de animais para a experimentação médica, fisiológica ou científica. O princípio dos 3Rs (do inglês: Replacement, Reduction and Refinement), criado por Russell and Burch em 1959 tem como premissa uma pesquisa hu- manitária para os animais. Com o passar dos anos, estes princípios foram in- corporados em algumas leis que regulamentam a utilização de animais para pesquisa científica.Os princípios dos 3Rs são a substituição, redução e refina- mento, e as suas definições podem ser observadas a seguir. 1 Replacement Pode ser traduzido como substituição. Propor uma alternativa a experimentação animal, ou seja, se houver possibilidade substituir o uso de animais por outra ferramenta. 41 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 2 Reduction sendo traduzido como redução. O pesquisador deve utilizar um método que reduza o número de animais usados em experimentos ou pesquisas, permitindo, porém, que permita os pesquisadores obter um nível comparável de informações de um número menor de animais. 3 Refinement com tradução literal para refinamento. Métodos para minimizar a dor, tortura, sofrimento ou danos duradouros que um animal pode sofrer. O refinamento se aplica a todos os aspectos do uso de animais, incluindo alojamento e criação para procedimentos científicos. Exemplos perfeitos incluem o uso de anestésicos e analgésicos adequados para evitar o estresse. A discussão sobre o uso de animais em experimentação volta em 1975 quando Peter Singer publica o livro Animal Libertation. O autor cita que a justificativa dos que utilizam animais em pesquisa e dos que aceitam essa prática consis- te que os resultados provenientes de um estudo podem auxiliar no avanço e entendimento das questões humanas. PETER SINGER Fonte: Wikicommons (2020). #PraCegoVer: Fotografia do filósofo e autor da obra Animal Libertation. 42 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 2.4.2 ASPECTOS JURÍDICOS NACIONAIS No Brasil não havia legislação específica que tratasse da experimentação com animal. A primeira norma brasileira sobre animais foi o Decreto n. 16.590, de 1924, baseado nas normas de países europeus. A primeira lei brasileira a tratar de experimentação animal, Lei n. 6.638 foi pu- blicada em 1979 e estabeleceu normas para a prática de ensino e científica da dissecação de animal vivo. Biotérios e centros de experiências deveriam ser re- gistrados. No entanto, apesar de previsão de regulamentação em 90 dias pelo Poder Executivo, que não ocorreu, o que resultou na não efetividade da norma. A Constituição Federal da República Federativa do Brasil 1988 tem seu fundamento na dignidade da pessoa humana, trazendo como direito difuso o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Especificamente o artigo 225, §1º, V I I dispõe que todos t êm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. E para assegurar a efetivi- dade desse direito incumbe ao Poder Público, proteger a fauna e a flora, ve- dadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológi- ca, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. Para entender melhor como os cientistas aplicam a ética na experimentação animal, assista ao vídeo, clicando aqui. Somente após 10 anos da promulgação da constituição de 88 foi publicada a Lei de Crime Ambiental (Lei n. 9.605/98) que trouxe como causa de agrava- mento de pena se o crime for praticado com emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais. Criminalizando por meio dos artigos 31 e 32 as condutas: introduzir espécimes no País sem parecer técnico e licença; praticar abuso, maus tratos, experiência dolorosa ou cruel em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. https://youtu.be/X8chBWysKFw?t=149 43 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 O marco regulatório da experimentação animal no Brasil aconteceu com a pu- blicação da lei Arouca (n. 11.794/2008), que regulamentou o inciso VII do §1º do Art. 225 da Constituição Federal. Essa lei estabeleceu os procedimentos para uso científico de animais em atividade de ensino e pesquisa. Além disso, criou o Conselho Nacional de Controle de Ex- perimentação Animal (CONCEA) e as Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs). Os direitos e deveres das Co- missões de Ética em animais está deter- minado no artigo 5º da lei Arouca, con- forme descrito a seguir. I Formular e zelar pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica; II Credenciar instituições para criação ou utilização de animais em ensino e pesquisa científica; III Monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam a utilização de animais em ensino e pesquisa; Saiba Mais Quer saber mais sobre a lei n. 9.605/98? Basta acessar o link disponível aqui. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm 44 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética IV Estabelecer e rever, periodicamente, as normas para uso e cuidados com animais para ensino e pesquisa, em consonância com as convenções internacionais das quais o Brasil seja signatário; V Estabelecer e rever, periodicamente, normas técnicas para instalação e funcionamento de centros de criação, de biotérios e de laboratórios de experimentação animal, bem como sobre as condições de trabalho em tais instalações; VI Estabelecer e rever, periodicamente, normas para credenciamento de instituições que criem ou utilizem animais para ensino e pesquisa; VII Manter cadastro atualizado dos procedimentos de ensino e pesquisa realizados ou em andamento no País, assim como dos pesquisadores, a partir de informações remetidas pelas Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs), de que trata o art. 8o desta Lei; VIII Apreciar e decidir recursos interpostos contra decisões das CEUAs; IX Elaborar e submeter ao Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, para aprovação, o seu regimento interno; 45 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 X Assessorar o Poder Executivo a respeito das atividades de ensino e pesquisa tratadas nesta Lei. CONCLUSÃO A partir da leitura proposta e levando em consideração todo o conteúdo dis- cutido, pode-se concluir que o respeito à vida e o respeito às pessoas devem prevalecer em todas as esferas, e as pesquisas científicas envolvendo seres humanos devem basear-se na justiça. Isso também é benéfico porque é in- justo permitir que certas categorias de pessoas (minorias étnicas, prisioneiros, pacientes, etc.) aceitem pesquisas simplesmente por causa de sua vulnerabi- lidade, fácil acesso ou porque são mais fáceis de manipular. O uso racional de seres humanos para pesquisas científicas baseia-se na avaliação cuidadosa da relação risco / benefício, que está intimamente relacionada a cada princí- pio estudado. Os benefícios do uso de animais em pesquisas são inegáveis. Porém, para solucionar os problemas relacionados à condução dessas pesquisas, é eficaz adotar e seguir os princípios éticos e, por fim, refletir sobre a validade dos re- sultados. Combinar os três princípios “R” no estágio de planejamento da pes- quisa animal pode disseminar melhor os padrões comportamentais dos ex- perimentos com animais na comunidade científica e para toda a sociedade. Cada país é responsável por regulamentar as leis que orientam o uso de ani- mais em pesquisas, contanto que estejam em consonância com os padrões científicos internacionais. No Brasil, a regulamentação final nessa área ainda em fase de elaboração, o que dificulta a padronização de procedimentos e, principalmente, retarda o cumprimento das normas (e legislações) éticas na pesquisa animal. UNIDADE 3 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que seja capaz: 46 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética >Elucidar os aspectos éticos e jurídicos que envolvem as pesquisas e a comercialização de organismos geneticamente modificados. > Compreender os aspectos éticos e jurídicos que envolvem a realização de pesquisas envolvendo a utilização de embriões humanos e os procedimentos de reprodução assistida. 47 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 3 BIOÉTICA: ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E A REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA INTRODUÇÃO Esta unidade traz uma abordagem integrada da bioética, destacando os te- mas de organismos geneticamente modificados (OGMs) e a reprodução hu- mana assistida. Serão apresentados os conceitos de OGMs, sua aplicação na indústria e sociedade, bem como os dilemas éticos envolvendo os riscos de manipulação e consumo de organismos geneticamente modificados. Para melhor caracterizar os aspectos bioéticos envolvendo OGMs, veremos ainda a principal legislação internacional e nacional que regula sua produção, comér- cio e consumo. Essa parte da disciplina também versa sobre a reprodução humana assistida e serão apresentadas as principais técnicas amplamente utilizadas na área, bem como os dilemas éticos que envolvem a manipulação de gametas e em- briões, além das possibilidades que se abrem com as tecnologias inovadoras: doação de gametas, cessão temporária de útero e seleção de embriões. Dian- te disso, a legislação sobre o tema é fundamental para normatizar e garan- tir procedimentos éticos e seguros. No entanto, veremos que ainda existem poucas normas internacionais e nacionais sobre o assunto, sendo que vários países atuam sem qualquer tipo de regulação. Desse modo, esta unidade tem a intenção de proporcionar reflexões sobre os aspectos bioéticos envolvendo OGMs e reprodução humana assistida. Espe- ramos que seja possível compreender que os avanços tecnológicos trazem conflitos éticos que devem ser amplamente discutidos e regulados, a fim de garantir a segurança da sociedade e do meio-ambiente. 48 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3.1 ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS�(OGMS) O advento de avanços tecnológicos em biomedicina nos séculos XX e XXI pro- piciaram a manipulação genética e o surgimento de organismos genetica- mente modificados, que constituem um importante campo de discussão em bioética. Como será apresentado ao longo desta unidade, o uso da engenha- ria genética permite a alteração do material genético em laboratório para que organismos apresentem características de interesse, seja agronômico ou in- dustrial. Tal manipulação genética traz riscos inerentes e, consequentemente, dilemas bioéticos envolvendo as vantagens e desvantagens da produção e consumo deste tipo de organismo. Por isso, diversas normas internacionais e nacionais têm sido aprovadas, a fim de regulamentar a produção, o comércio e o consumo de OGMs no mundo. 3.1.1 O QUE SÃO ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS Organismos geneticamente modificados (OGMs) são seres vivos, cujo mate- rial genético (DNA ou RNA) tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética. Os OGMs podem ser obtidos por meio da transgênese ou transgenia, que é a manipulação genética em que uma sequência de DNA (total ou parcial) de um organismo exógeno transferida para outro organismo de espécie distinta do primeiro. São, portanto, variedades que tiveram seu genoma alterado, permitindo que o organismo transgênico expresse uma ca- racterística relevante desejada, uma vez que determinará a produção de uma proteína nova de interesse. Exógeno significa aquilo que é externo ao organismo, ou seja, que se originou externamente ao organismo. É oposto a endógeno, que significa o que é interno ao organismo, produzido por ele. 49 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética Organismos geneticamente modificados não são sinônimos de transgênicos. A transgenia é uma das técnicas de produção de OGMs, mas existem outras técnicas, como a cisgenia, em que a transferência de DNA ocorre entre organismos da mesma espécie. Essa nova proteína pode conferir vantagens ao ser vivo manipulado geneti- camente, como a expressão de características de relevante valor agronômico ou industrial. É o caso da soja Roundup Ready, um tipo de semente de soja que foi desenvolvida pela Monsanto na década de 1980, resistente a herbici- das e à base de glifosato. No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope- cuária, Embrapa, destaca-se como importante local de pesquisa e produção de OGMs na agricultura. Um exemplo é o feijão Embrapa 5.1, geneticamente modificado para resistência ao mosaico dourado, doença que causa amarele- cimento das folhas, nanismo e severa deformação das vagens e grãos (FARIA, ARAGÃO, 2013; LIMA, SILVA FILHO, OLIVEIRA, 2018). Outra aplicação relevante da transgenia é a geração de micro-organismos geneticamente modificados para a produção de proteínas humanas de inte- resse na indústria farmacêutica. É o caso da insulina humana recombinante, que hoje é produzida por OGMs. Previamente ao surgimento desta tecnolo- gia, a indústria farmacêutica utilizava pâncreas de suínos para obter a insu- lina que era utilizada em humanos, o que levava a menor especificidade da enzima utilizada, além de ser necessária uma quantidade enorme de órgãos do animal para a extração da proteína. Atualmente, com o advento da en- genharia genética, a indústria farmacêutica utiliza a bactéria Escherichia coli geneticamente modificada com a inserção do gene da insulina humana, o que permite a produção, em escala industrial, de insulina específica humana. Assim, tem-se um produto mais barato e de maior eficácia. Portanto, os OGMs são amplamente difundidos na sociedade atual, sendo importantes mecanismos biotecnológicos para melhorar a produtividade agrícola e industrial. Os OGMs têm permitido o desenvolvimento de plantas resistentes a doenças e pragas, com o potencial de tornar a agricultura menos dependente de agrotóxicos, além de permitirem a produção de proteínas de interesse humano em escala industrial. 50 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Soja Roundup Ready, da Monsanto = tolerante a herbicida. Feijão Embrapa 5.1, da Embrapa = resistente ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro. Algodão Twinlink, da Bayer = resistente a insetos e tolerante a herbicida. Milho MON89034xMON88017, da Monsanto = resistente a insetos e tolerante a herbicida. 3.1.2 DILEMAS ÉTICOS QUE ENVOLVEM OS OGMS Desde o começo de sua comercialização, em 1996, a área global de planta- ções transgênicas aumentou mais de cinquenta vezes, passando de 1,7 mi- lhão de hectares cultivados em seis países para 90 milhões de hectares em 21 países em 2005 (JAMES, 2005). Além disso, são utilizados OGMs em vários outros setores da economia, como na indústria farmacêutica e na produção de animais geneticamente modificados em pesquisa científica. Por isso, são levantadas diversas questões a respeito da segurança e dos possíveis riscos da manipulação, ingestão e liberação de OGMs na natureza. A manipulação do genoma de organismos permite o melhoramento na pro- dução agroindustrial, a partir da inserção de proteínas de interesse humano. Entretanto, além das novas características, os OGMs adquirem um conjunto de novas qualidades, advindas tanto da regulação gênica, quanto dos possí- 51 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética veis efeitos secundários da inserção de um gene exógeno no genoma de ou- tra espécie. Dessa forma, segundo Costa e Marin (2011), os riscos do consumo e produção de OGMs podem ser classificados em três: alimentar, ecológico e agrotecnológico. O risco alimentar compreende os pos- síveis efeitos adversos da ingestão de OGMs noorganismo humano. Podem ser efeitos imediatos, como o de pro- teínas tóxicas produzidas pelo OGM ou efeitos pleiotrópicos das proteínas transgênicas no metabolismo da planta ou, ainda, riscos mediados pela acumu- lação de herbicidas e seus metabólitos nas variedades e espécies resistentes a herbicida (COSTA, MARIN, 2011). Em relação aos riscos ecológicos, são aqueles que podem alterar as relações ambientais e evolutivas naturais. Dentre eles, tem-se a redução da diversidade das culturas de plantas, já que os OGMs derivam de um grupo limitado de variedades parentais. Outro risco possível é a transferência não controlada de vantagens evolutivas (como resistência a pragas e doenças) para espécies selvagens. Isto pode ocorrer em razão de polinização cruzada com plantas selvagens, o que pode ocasionar o declínio da biodiversidade natural. Há ainda o risco de efeitos adversos na biodiversi- dade em função da produção de possíveis toxinas pelo OGM, que pode afetar espécies de insetos e a microbiota do solo, alterando a cadeia trófica. Outro risco ecológico importante é o desenvolvimento de resistência por insetos e bactérias às toxinas produzidas pelo OGM, em razão da pressão seletiva, o que pode alterar o processo evolutivo natural (COSTA, MARIN, 2011). Os riscos agrotecnológicos estão relacionados a alterações e possíveis adversi- dades no processo produtivo utilizando OGMs. Um destes riscos é a mudança imprevisível em propriedades e características não alvo em OGMs, devido aos efeitos pleiotrópicos de um gene. Outro risco é a perda ou diminuição da efi- ciência do transgênico resistente a pragas em razão do cultivo extensivo das variedades OGMs por muitos anos (COSTA, MARIN, 2011). Pleiotropia Pleiotropia é o conjunto de múltiplos efeitos de um gene, quando um único gene controla diversas características do fenótipo. 52 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 COLHEITA DE TRIGO Fonte: Wikipedia (2021). #PraCegoVer: Imagem de uma colheitadeira acompanhada por um trator e um reboque colhendo trigo. Portanto, a utilização de OGMs e seu consumo trazem diversos dilemas éti- cos, devido aos riscos da manipulação genética e da seleção artificial de varie- dades mais vantajosas aos interesses humanos. O cultivo de OGMs suscita discussões científicas, éticas, econômicas e políti- cas. Por um lado, ativistas e alguns cientistas afirmam que os conhecimentos científicos sobre os impactos do uso de plantas transgênicas em larga esca- la para o cultivo comercial são ainda insuficientes (COSTA, MARIN, 2011). Por outro lado, grandes empresas do ramo agropecuário têm produzido diver- sas variedades de plantas geneticamente modificadas, cada vez mais utiliza- das no consumo humano e animal. Estas empresas afirmam que os OGMs trazem vantagens ao produtor e/ ou consumidor, tais como menor custo de produção, menor preço, maior valor nutricional e durabilidade do produto. Além disso, para serem disponibilizados à sociedade, estes OGMs são rigoro- samente avaliados quanto a sua biossegurança e potenciais riscos (OMETTO, TOLEDO, 2004). https://pt.wikipedia.org/wiki/Colheita https://pt.wikipedia.org/wiki/Trigo 53 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética 3.1.3 ASPECTOS JURÍDICOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM RELAÇÃO AOS OGMS As crescentes produções de organismos geneticamente modificados em todo o mundo, bem como seu comércio internacional, têm gerado importantes dis- cussões acerca da regulamentação mundial de sua produção e consumo. Den- tre as diretrizes internacionais, cabe destacar o Protocolo de Cartagena sobre biossegurança, de 2003, o qual apresenta dispositivos restritivos sobre o co- mércio internacional de transgênicos. Dentre eles, a obrigação de procedimen- tos específicos para a identificação, embalagem e transporte de transgênicos e a exigência de que os países que exportarem organismos vivos modificados, para introduzi-los no meio ambiente, deverão informar à parte compradora, para que a primeira entrega inclua informações suficientes para que o com- prador possa tomar as decisões adequadas. O protocolo ainda faz referência ao princípio da precaução, considerando-o norteador para a transferência de OGMs em situações de risco, sendo necessário aplicá-lo quando houver incer- teza científica quanto aos danos ao meio ambiente (COSTA, MARIN, 2011). PROTOCOLO DE CARTAGENA EM BIOSSEGURANÇA Fonte: Convention on Biological Diversity (2000). #PraCegoVer: Imagem da capa de um livro, com o título à direita, em inglês: Protocolo de Cartagena em Biossegurança da Convenção em Diversidade Biológica – textos e anexos. 54 Bioética MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 No Brasil, o marco inicial da regulamentação dos organismos geneticamente modificados foi estabelecido pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225 (SILVA, 2010). Segundo o artigo 225, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: [...] II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e�fiscalizar� as� entidades�dedicadas�à�pesquisa�e�manipulação�de�material� genético; [...] V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente. O tema é, ainda, regulado pela Lei de Biossegurança nº. 11.105/ 2005, que dis- põe sobre o tratamento acerca de organismos geneticamente modificados e derivados, estimula o avanço científico na área de biossegurança, biotec- nologia, proteção à vida e à saúde humana, ambiental e vegetal. Além disso, esta lei cria dois importantes órgãos: o Conselho Nacional de Biossegurança, órgão de assessoramento superior do Presidente da República para formu- lação e implementação da Política Nacional de Biossegurança, e a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, que é uma instância colegiada multidis- ciplinar que presta apoio técnico ao governo federal (BRASIL, 2005). O Conselho Nacional de Biossegurança reúne-se sempre que convocado pelo Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República ou mediante provocação da maioria de seus membros, sendo composto pelos seguintes membros: I. Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presi- dência da República, que o presidirá; II. Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia; III. Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário; 55 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Bioética IV. Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; V. Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; VI. Ministro de Estado da Justiça; VII. Ministro de Estado da Saúde; VIII. Ministro de Estado do Meio Ambiente; IX. Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indús- tria e Comércio Exterior; X. Ministro de Estado das Relações Exteriores; XI. Ministro de Estado da Defesa; XII. Secretário Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República. Segundo o artigo 1° da Lei de Biossegurança (BRASIL, 2005), Esta� Lei� estabelece� normas� de� segurança� e� mecanismos� de� fiscalização� sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos� geneticamente�modificados� –� OGMs� e� seus� derivados,� tendo� como�diretrizes�o�estímulo�ao�avanço�científico�na�área�de�biossegurança� e biotecnologia, a proteção
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