Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO DOS SISTEMAS E INSTITUIÇÕES DE ENSINO Huagner Cardoso da Silva Maria Nadurce da Silva Montes Claros - MG, 2011 Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES 2011 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: REITOR João dos Reis Canela VICE-REITOR Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Arlete Ribeiro Nepomuceno REVISÃO TÉCNICA Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida PROJETO GRÁFICO Alcino Franco de Moura Júnior Andréia Santos Dias EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO Ana Lúcia Cardoso Pereira Andréia Santos Dias Clésio Robert Almeida Caldeira Débora Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Diego Wander Pereira Nobre Jéssica Luiza de Albuquerque Karina Carvalho de Almeida Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos Rogério Santos Brant Sânzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tátylla Aparecida Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil Celso José da Costa Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Alberto Duque Portugal Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Chefe do Departamento de Educação Maria Cristina Freire Barbosa Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares Dayse Magna Santos Moura Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais Francely Aparecida dos Santos Coordenadora do Curso de Pedagogia a Distância Maria Narduce da Silva AUTORES Huagner Cardoso da Silva Graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Especialista em Docência para Educação Profissional e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atualmente, é professor do Departamento de Estágios e Práticas Escolares da Unimontes. Maria Nadurce da Silva Graduada em Pedagogia pela Fundação Norte Mineira de Ensino Superior (FUNM), Especialista em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Especialista em Metodologia e Epistemologia da Pesquisa pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente, é professora do Departamento de Educação da Unimontes. SUMÁRIO Apresentação .............................................................................................................................9 Unidade 1: Teorias da administrção aplicada à educação ........................................................... 13 Introdução ........................................................................................................................... 13 1.1 Teorias gerais da administração na educação ................................................................... 13 1.2 Teorias clássicas da administração: administrção cintífica ................................................. 15 1.3 Teorias novas da administração ........................................................................................ 18 1.4 Teoria comportamental organizacional: abordagem comportamental ............................... 23 1.5 Teoria das decisões integração dos objetivos organizacionais e individuais. ..................... 23 Referências .......................................................................................................................... 23 Unidade 2: A gestão dos sistemas de ensino de órgãos educacionais ........................................... 24 2.1 Fundamentos da gestão escolar ....................................................................................... 24 2.2 Modelos de gestão da educação ...................................................................................... 38 2.3 Especificidade da organização educacional ...................................................................... 42 2.4 Realidades da organização e administração escolar.......................................................... 44 Referências .......................................................................................................................... 47 Unidade 3: As políticas e a construção do trabalho coletivo na escola ......................................... 49 3.1 O projeto pedagógico como elemento norteador as ações político-pedagógicas da Escola ....................................................................................................................................51 3.2 Projeto político pedagógico (PPP): o papel da equipe pedagógica no desenvolvimento de uma proposta educacional participativa ............................................................................ 53 3.3 Descentralização da gestão educacional ......................................................................... 55 3.4 Gestão democrática: compartilhamento de responsabilidades no interior das escolas ...... 57 Referências .......................................................................................................................... 59 Unidade 4: A escola como organizadora do processo ................................................................ 60 4.1 A escola como grupo instituído ........................................................................................ 61 4.2 Fundamentos sociológicos e filosóficos da escola ............................................................. 67 4.3 Aspectos formais e informais da organização escolar ........................................................ 70 4.4 Gestão da escola: atividades fundamentais do diretor ..................................................... 74 Referências .......................................................................................................................... 80 Resumo .................................................................................................................................83 Referências básicas, complementares e suplementares .......................................................... 87 Atividades de aprendizagem - AA ......................................................................................... 91 9 APRESENTAÇÃO Caro (a) acadêmico (a): No caderno de História da Educação, você refletiu, por exemplo, sobre o processo de construção do nosso sistema educacional e sua evolução no Brasil. Já no caderno de Política Educacional Brasileira, você refletiu, entre outras coisas, sobre o papel da educação como direito social do cidadão e discutiu como a escola cumpre esse papel através das ações dos agentes educativos. Agora, chegou a hora de falarmos especificamente do papel da gestão da educação neste processo. Assim, neste caderno, propomo-nos a discutir sobre isso. Pretendemos que, com este estudo, você possa se apropriar de um referencial teórico queinclua os fundamentos das dimensões administrativas, financeiras e pedagógicas da gestão escolar, mediante leituras compartilhadas, estudos orientados, pesquisas e apresentações em forma de seminários. Neste caderno, você será chamado a refletir sobre a dimensão da gestão da educação e, para isso, os textos aqui apresentados abordarão as questões fundamentais da gestão dos sistemas e as instituições de ensino num debate atual. Discutiremos não só teorias da administração, como também problemas e desafios colocados para a gestão da educação pública. Para atingir os objetivos propostos, os textos versarão sobre as teorias da administração e inspeção aplicadas à educação, a gestão dos sistemas educacionais na edificação dos espaços escolares, as políticas de construção do trabalho coletivo na escola e as relações dela com a sociedade civil. Por fim, abordaremos sobre a escola como organizadora do processo educativo. Nessa medida, os conteúdos deste caderno poderão instrumentalizar você para que possa identificar princípios que orientam a gestão democrática, assim como os desafios que se apresentam neste campo. Os seminários temáticos poderão contribuir de forma significativa para suas reflexões e para ampliar os conhecimentos adquiridos com a leitura dos textos apresentados neste caderno. Considerando o aspecto instrumental, veja como este caderno poderá oferecer-lhe contribuições importantes. Esperamos que você pense o processo administrativo como um complexo de fatores variáveis, e não como um conjunto de técnicas específicas. 10 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Assim sendo, ao final deste estudo, você deverá ser capaz de: • Compreender as concepções que fundamentam a Administração Escolar; • Descrever a função social da escola, sua relação com o Estado e a sociedade focalizando as questões de poder e participação compartilhada; • Identificar os aspectos fundamentais da organização e funcionamento das organizações escolares a partir dos determinantes legais e/ou informais como expressão da realidade sociopolíticocultural; • Reconhecer a importância da gestão democrática como forma de garantir a participação da comunidade no processo decisório da escola; • Situar a problemática da administração escolar frente à natureza do trabalho pedagógico; • Identificar as atuações do gestor de escola e de sistema em relação aos diversos papéis que desempenha na instituição educacional. Não deixe de participar efetivamente dos fóruns! Para isso, leia as unidades propostas neste caderno! Os fóruns representam uma reflexão, bem como um excelente momento para você tirar dúvidas com o professor formador e o seu tutor a distância. Não perca essa oportunidade! Lembre- se de que, com essa participação, você poderá garantir seu sucesso na disciplina. Na sequência, na Unidade I, buscaremos refletir sobre as teorias da administração aplicadas à educação: conceitos de administração e escolas teóricas à luz das teorias da administração em geral, a fim de depois apresentar particularidades das teorias da administração para a situação escolar. Para tanto, discutiremos sobre a administração científica, a escola estruturalista, a administração neoclássica e a teoria organizacional, a escola das relações humanas, a escola comportamental e a teoria moderna da administração e organização. Vale ressaltar que, nesta unidade, desenvolveremos argumentos relativos a três ordens diferentes de problemas: natureza da ação administrativa, tendência à associação de critérios de valor na definição da ação ou comportamento administrativo e a especificidade das organizações educativas. Na unidade II, apresentaremos uma discussão sobre a gestão/ administração dos sistemas educacionais na edificação dos espaços escolares. Nessa unidade, você vai estudar, especificamente, sobre a administração/organização escolar, refletindo sobre conceitos de gestão/administração, modelos de gestão, a escola como sistema social, identificando os aspectos formais e informais da administração/organização escolar. Aqui você será chamado a refletir sobre o problema da mudança na gestão/organização escolar, observando a organização e administração do ensino de 1º e 2º graus, em suas diversas particularidades, como: objetivos do ensino, planejamento, política educacional, clientela atendida, serviços de coordenação e gestão interna, articulação dos serviços da escola com Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 11 órgãos centrais, problemas de planejamento geral e as relações da escola com o ambiente. Na unidade III, discutiremos sobre as políticas de construção do trabalho coletivo na escola e as relações dela com a sociedade civil, na qual falaremos mais especificamente sobre a avaliação do rendimento escolar como instrumento de gestão educacional, a administração escolar como elemento de transformação social. Abordaremos, ainda, sobre os órgãos colegiados e seus processos decisórios, discorrendo, ligeiramente, sobre a gestão dos recursos financeiros, sobre a gestão da qualidade no sistema e instituição de ensino. Na unidade IV, discutiremos sobre a escola como organizadora do processo educativo, abordando a gestão administrativa da escola e apontando as competências necessárias para exercer o papel de diretor de escola, os elementos do processo organizacional, como, por exemplo, a comunicação, o comportamento grupal e intergrupal e a construção do Projeto Político-Pedagógico da escola como instrumento de democratização das relações no interior da escola. Além disso, trataremos de questões inerentes ao papel da escola: sua estrutura, sua organização e suas finalidades, bem como a necessidade de uma agenda de ações previstas para o diretor de escola. Ao final deste estudo, você verá que discutir sobre a gestão/ administração da educação, seja desenvolvida nos sistemas, seja nas escolas, implica refletir, também, sobre as políticas de educação. Isso se deve ao fato de que há uma estreita ligação entre elas, pois a gestão transforma metas e objetivos educacionais em ações, dando concretude às direções traçadas pelas políticas educativas. Assim sendo, embora neste caderno pretendamos discutir a gestão da educação propriamente dita, as discussões sobre políticas educacionais, Sociologia da Educação e História da Educação surgirão naturalmente como suporte às reflexões apresentadas remetendo a leituras e a discussões realizadas neste curso. Um excelente trabalho! Os autores Ementa Teorias da administração aplicadas à educação. A gestão dos sistemas de ensino de órgãos educacionais. As políticas e a construção do trabalho coletivo na escola e as relações dela com a sociedade civil. A escola como organizadora do processo educativo. Objetivos da disciplina Objetivo Geral: Assegurar, aos acadêmicos, oportunidade para discussão sobre as teorias da administração aplicadas à educação e gestão dos sistemas e 12 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Instituições de ensino de órgãos educacionais, levando-os a identificar os principais elementos e características da gestão/administração da educação. Objetivos específicos: • Identificar as influências das teorias da administração no contexto da gestão educacional; • Caracterizar a gestão burocrática à luz das teorias de administração; • Identificar diferenças entre a organização educacional e as demais organizações; • Enunciar os elementos que compõe a administração/gestão da educação; • Compreender a atividade educacional nas diferentes formas de gestão educacional: na organização do trabalho pedagógico escolar, no planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas da escola nos processos educativos; • Estabelecer as fases do processo de decisão racional na gestão da educação,analisados por Simon; • Discutir, criticamente, as tendências atuais de gestão escolar, suas principais características, fundamentos, princípios e funções; • Identificar recursos de eficiência e eficácia na gestão da educação; • Identificar as dimensões da gestão educacional; • Conceituar gestão burocrática e gestão democrática; • Identificar os componentes burocráticos do sistema escolar na gestão da educação; • Identificar e descrever as competências do administrador escolar; • Diferenciar práxis criadora de práxis reiterativa na administração/ gestão da escola; 13 UNIDADE 1 TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO APLICADAS À EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO Vamos começar esta discussão com a seguinte pergunta: O que é uma teoria? Acreditamos que você ligeiramente recorreu aos conceitos criados em outras disciplinas estudadas neste curso. Mesmo assim, convidamo-lo (a) a pensar no conceito proposto por Zimbardo (1970, apud MAXIMIANO, 2007): uma teoria é uma representação abstrata do que se percebe como realidade. Você pode dizer ainda que uma teoria é um conjunto de afirmações ou regras feitas para enquadrar alguma parte do mundo real. Porém, é preciso que você saiba que há teorias que propõem recomendações, soluções para problemas ou decisões que devem ser tomadas em certas situações. Vamos lá! Pense agora mais um pouco: o que seria então a Teoria Geral da Administração, doravante TGA? Para entrarmos nas discussões sobre as teorias da administração aplicadas à educação, é preciso rever alguns pontos básicos ligados à administração fundamentados em estudos realizados por autores sobre esta temática. Há que se destacar que, ao longo deste caderno, procuraremos definir Gestão e Administração à luz das teorias da administração, vinculando-as a função do administrador a partir das exigências colocadas pela organização da educação. Assim sendo, as teorias da administração aqui apresentadas buscarão uma associação com os dados da prática desenvolvida na gestão da educação, de modo a permitir uma análise do que é usualmente feito, possibilitando a você fazer uma crítica dos antigos modos de proceder a gestão da educação com os modelos hoje recomendados. Esperamos que, por meio deste estudo, você também possa realizar uma analogia da organização escolar com as demais organizações sem, contudo, desconsiderar a especificidade do objetivo educacional, de tal modo que você possa identificar os elementos comuns à ação administrativa, em qualquer tipo de organização, à luz destas teorias. 1.1 TEORIAS GERAIS DA ADMINISTRAÇÃO NA EDUCAÇÃO Você perceberá, à medida que realizar este estudo, que a administração aplicada à educação fundamenta-se na pretensa universalidade dos princípios da Administração Empresarial, os quais são tidos como princípios administrativos das organizações de modo geral. Perceberá, também, que a aplicação dos princípios da administração na educação determina que sua organização assuma diversos propósitos. Aqui você precisa entender que Administração e Gestão são conceitos que demandam uma relação, mas que cada um desses conceitos oferece sua problemática particular que nos remeterá ao exame de esquemas gerais 14 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período e que nos orientará para os estudos dessas expressões. Nesse contexto, perguntamos: há princípios, normas e regras de ação que possam ser aplicados às mais diversas situações de administração e gestão? Para buscar responder a essa pergunta e ao mesmo tempo compreender estas expressões, buscaremos suporte nas teorias chamadas “clássicas” e em outras chamadas teorias “novas” acompanhando as ideias de seus criadores. Vamos começar? Observe a figura que se segue. Talvez você já conheça alguns destes rostos. O que essas imagens lhe sugerem ? Figura 1: Criadores das teorias da administração Fonte: http://www.ecnsoft.net/wp-content/uploads/2009/08/Teoria-Geral-da-Admi- nistracao-UNIRIO.pdf. Acesso em: 15/01/2011 Observe que, ao apresentar as teorias da administração, buscaremos uma associação com os elementos da prática desenvolvida na gestão da educação, de modo a permitir que você faça uma análise crítica do que é usualmente feito, comparando com os antigos modos de proceder a gestão da educação. Assim, esperamos que você faça uma analogia da organização escolar com as demais organizações sem, contudo, desconsiderar a especificidade do objetivo educacional, de tal modo que possa realizar as leituras propostas identificando os elementos comuns à ação administrativa, em qualquer tipo de organização, principalmente nas instituições educacionais. Vamos responder à pergunta proposta na introdução desta unidade? Considerando as abordagens de Maximiano (2007), TGA é como o corpo de conhecimentos a respeito das organizações e do processo de administrá-las. O autor ainda nos diz que ela é formada por princípios, proposições e técnicas em permanente elaboração. Acreditamos que, agora, você já pode concluir que Teoria, em Administração, significa um conjunto de conhecimentos organizados, produzidos pela experiência prática das organizações. Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 15 1.2 TEORIAS CLÁSSICAS DA ADMINISTRAÇÃO: ADMINISTRÇÃO CINTÍFICA Nas teorias chamadas clássicas, o pressuposto fundamental da administração é o poder motivador que uma estrutura formal por si mesma impunha a uma organização de fato. Veja que as teorias clássicas da administração se dividem principalmente em duas ideias: a de Taylor e a de Fayol. Uma salienta a importância da divisão de tarefas através da observação das atividades físicas dos trabalhadores; a outra destaca as vantagens de maior discriminação entre os problemas de execução direta dos serviços pelos trabalhadores e os de sua coordenação, mediante órgãos de gestão especializados, chamados de departamentalização. (LOURENÇO FILHO, 2007, p. 50). Atenção! Pois muitos precursores construíram o que veio a ser classificado como abordagem clássica, entre os quais, os mais importantes, para este estudo, foram Taylor, Fayol, Ford e Weber. Vejamos agora um pouco sobre estas teorias que auxiliarão você no entendimento sobre a gestão da educação no Brasil. Leia com atenção os textos apresentados e procure refletir sobre suas implicações na administração das escolas públicas brasileiras, principalmente nas escolas de sua localidade! a) Teoria clássica de Fayol (1841-1925) O inglês Henri Fayol, partindo de uma ampla noção de eficiência, fundamentada na ideia de que a racionalização do trabalho deveria compreender todas as partes e funções de uma empresa, buscando velar pela sua unidade construtiva, defendia a tendência chamada de departamentalização. Fayol acreditava que isso seria necessário para atender às exigências de continuidade e desenvolvimento das empresas, assim como do processo de organização social que elas representavam. Fayol focou sua atenção na estrutura da empresa e definiu a Administração como “previsão, organização, comando, coordenação e controle”. Podemos dizer, também, que Fayol, em sua teoria, indicava algumas funções que considerava capitais de administração, entre elas: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Veja que estas funções, por sua vez, sugerem ações como: a definição de objetivos e programas, a reunião de elementos pessoais e materiais necessários à produção, a articulação de esforços no sentido do progresso material e moral de cada empreendimento e, ainda, a articulação geral que seria realizada por órgãos centrais de direção e fiscalização. (LOURENÇO FILHO, 2007, p. 51). Quando você analisar a proposta de gestão da educação, nos moldes que hoje é colocado, verá que muitas destas ações estão presentes de forma bastante original. A Teoria Clássica é, portanto, uma corrente iniciada por Fayol (1916) para otratamento da administração como ciência na formatação 16 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período e na estruturação das organizações. Essa corrente dava ênfase na estrutura da organização enfocando a organização formal, os princípios gerais da administração e as funções do administrador. Fayol em sua teoria da administração estabeleceu 14 princípios (MAXIMIANO, 2007) que consideramos relevantes apresentar neste estudo. Portanto, leia com bastante atenção, pois eles ajudarão a você no entendimento da gestão escolar que será discutida na Unidade II deste caderno: 1. divisão do trabalho, com especialização das tarefas e trabalhadores para maior eficiência; 2. autoridade e responsabilidade, direito de dar ordens e esperar obediência, com responsabilidade; 3. disciplina, obediência a regras claras e justas, com punição às infrações; 4. unidade de comando, cada empregado com apenas um chefe; 5. unidade de direção, todas as unidades da organização buscando os mesmos objetivos gerais; 6. subordinação do interesse individual ao geral, os interesses da organização têm precedência sobre os dos empregados; 7. remuneração justa do pessoal, tanto para o empregado como para a organização; 8. centralização, concentração da autoridade no topo da organização; 9. cadeia de comando, uma linha de comando e comunicação, do alto até a base; 10. ordem, pessoas e materiais nas posições em que são necessários e eficientes - “um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar”; 11. equidade, com tratamento justo a todo o pessoal; 12. estabilidade do pessoal, a rotatividade é prejudicial à eficiência da organização; 13. iniciativa, os funcionários devem ser incentivados a propor melhorias; 14. espírito de equipe, deve haver harmonia entre o pessoal para o trabalho em grupo. b) Teoria clássica de Taylor (1856-1915): administração científica Vamos agora analisar a teoria clássica da administração proposta por Taylor. Observe que a teoria elaborada pelo norte-americano Frederick Taylor constitui-se na análise metódica do trabalho industrial, na cronometragem dos movimentos elementares de cada operação e formas de sua coordenação, a ser realizada de modo direto por chefes de turma e indireto por contramestres e técnicos, encarregados da manutenção dos Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 17 equipamentos, máquinas e ferramentas, e suprimento da matéria-prima. Veja que Taylor desenvolveu a Teoria da Administração chamada de teoria científica buscando um maior desenvolvimento econômico, tanto para as empresas como para os empregados, resumindo-a como Ciência. Segundo as ideias de Taylor, a Ciência seria utilizada para a identificação da melhor maneira de realizar uma tarefa, envolvendo desde estudos de tempos e movimentos até o desenvolvimento de ferramentas e equipamentos mais adequados. Nessa teoria, o conceito de eficiência correspondia ao de “produção por unidade de esforço”, ou seja, rendimento mecânico. Podemos dizer que a teoria de Taylor está relacionada à produção em série, mediante a divisão e especialização minuciosa das tarefas atribuídas ao trabalhador (LOURENÇO FILHO, 2007, p. 50-51). Na visão proposta por Taylor, a “Administração Científica” se ocupa em buscar a maneira pela qual uma tarefa pode ser mais realizada e entende que o interesse do empregado no trabalho decorre do seu interesse pelo ganho que daí advém, ou seja, considera o trabalhador como um homem econômico, voltado para a satisfação material. Nesse contexto, pode se dizer que a “Administração Científica” tem de se ocupar do processo de trabalho e do treinamento dos operários. Na sequência, vamos agora discutir um pouco sobre essa teoria no contexto da administração educacional. 1.2.1 Abordagem clássica: influência da teoria da administração científica na educação Administração Científica é uma corrente iniciada por Taylor (1903), a qual considera a administração uma ciência aplicada na racionalização e no planejamento das atividades operacionais, dando ênfase nas tarefas e enfocando a racionalização do trabalho. Essa teoria está assentada nos fundamentos da organização e do controle dos processos de trabalho, expressos pela instituição da gerência científica, sendo também assumida como um dos elementos fundantes da gestão escolar. Assim é que estudos de tempo e movimento constituem uma ilustração desta abordagem científica da administração. Neles são considerados os movimentos necessários aos trabalhadores mais habilidosos para que realizem as tarefas que lhes são confiadas no menor tempo possível; porém, esses movimentos que devem ser precisos são ensinados aos outros trabalhadores. O aspecto principal da função administrativa na escola clássica de administração era a ênfase na produção, pois esta tem procurado racionalizar a produção industrial e a administração, descobrindo e sugerindo a aplicação dos mais eficientes métodos de trabalho na gestão. Podemos dizer que o aspecto principal da função administrativa na escola clássica de administração era a ênfase na produção, pois esta, como você pode observar, tem procurado racionalizar a produção industrial e 18 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período a administração, descobrindo sugerindo a aplicação dos mais eficientes métodos de trabalho na gestão. 1.3 TEORIAS NOVAS DA ADMINISTRAÇÃO Estas teorias, ao contrário das teorias clássicas cujas decisões se dão por certos escalões da hierarquia forma, ocorrem em todos os níveis e, ainda, na pessoa de cada trabalhador em particular. 1.3.1 Teorias das Relações Humanas: abordagem humanística da administração A Teoria das Relações Humanas (1932) foi uma corrente iniciada com a experiência de Hawthorne, a qual combatia os pressupostos clássicos através da ênfase nas pessoas e nas relações humanas e defendia a integração das pessoas nos grupos sociais e a satisfação das necessidades individuais com ênfase nas pessoas, enfocando organização informal, motivação, liderança, comunicação e dinâmica de grupo. A teoria humanística da administração propõe conhecer as atividades e sentimentos dos trabalhadores e estudar a formação de grupos na instituição. Podemos dizer que as três principais caraterísticas desses modelos são: 1. O ser humano não pode ser reduzido a um ser cujo corportamento é simples e mecânico; 2. O homem é, ao mesmo tempo, guiado pelo sistema social e pelas demandas de ordem biológica; 3. Todos os homens possuem necessidades de segurança, afeto, aprovação social, prestígio e auto-realização. A abordagem humanística crescia paralelamente ao modelo burocrático de Max Weber (1864-1920), com seu estruturalismo organizacional e princípios comportamentais rígidos. A empresa é uma organização social composta por diversos grupos sociais informais, que definem suas regras de comportamento, suas recompensas e punições sociais, seus objetivos, seus valores, suas crenças e suas expectativas. Os indivíduos, dentro das organizações, participam de grupos sociais e mantêm constante interação social. Veja que nesta abordagem denominam-se relações humanas as ações e atitudes desenvolvidas pelos contatos entre pessoas e grupos. A compreensão da natureza dessas relações permite ao administrador obter melhores resultados no seu trabalho administrativo. A auto-realização só se torna uma necessidade efetiva quando as necessidades básicas de sobrevivência do ser humano estão relativamente satisfeitas. No ambiente empresarial, essas necessidades também se manifestam e podem ser satisfeitas com medidas adequadas levando o trabalhador a ser mais feliz no trabalho ao mesmo tempo em que aumenta Você pode ampliar seus conhecimentos sobre a teoria estruturalista através da leitura dos trabalhos de Max Weber sobre as “burocracias” eos estudos de Peter Blau sobre as “organizações formais”. Gerência científica: A gerência científica, como é chamada, significa um empenho no sentido de aplicar os métodos da ciência aos problemas complexos e crescentes do controle do trabalho nas empresas capitalistas em rápida expansão. (BRAVERMAN,1987, p. 82-83) Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 19 o retorno do seu trabalho para a empresa, que é máximo quando ele está procurando realizar todo seu potencial. De forma semelhante, vamos encontrar no meio educacional, pois estamos lidando com seres humanos e suas necessidades básicas são as mesmas em qualquer que seja a instituição em que trabalham. Assim sendo, certamente, o conhecimento dessa teoria contribuirá muito na elaboração de uma proposta de um trabalho efetivo na gestão da educação. Desse modo, a partir da Escola de Relações Humanas, novas tendências se desenvolveram nos estudos da administração, sendo todas orientadas por informações das ciências Sociais e suas aplicações ao estudo das organizações. Nessa teoria, a preocupação central da função administrativa passou a ser com os processos de produção, em relação aos quais exercem um papel preponderante os fatores psicossociais determinantes do comportamento produtivo. 1.3.2 Teoria Burocrática: abordagem estruturalista A teoria estruturalista é uma corrente baseada na sociologia organizacional que procura consolidar e expandir os horizontes da administração. Essa corrente dá ênfase na estrutura da organização enfocando múltipla abordagem: organização formal e informal, análise intraorganizacional e interorganizacional, ou seja, a organização formal burocrática e a racionalidade organizacional. A Teoria da Burocracia é uma corrente baseada nos trabalhos de Max Weber (1909) e descreve as características do modelo burocrático de organização. O precursor desse estudo foi o sociólogo e filósofo alemão Max Weber, que lançou bases de um estudo objetivo da burocracia como forma social genérica. Na burocracia, como sistema social, Weber viu o exemplo característico da possibilidade de racionalizar as relações humanas. Essa teoria estruturalista se baseia em alguns princípios como: formalização, divisão do trabalho, hierarquia, competência técnica e meritocracia. Nesse contexto, os estruturalistas veem a organização como uma grande e complexa unidade em que interagem muitos grupos sociais, pois, mesmo que muitos interesses individuais sejam compartilhados pelos membros dos grupos, existem alguns que não são compatíveis, gerando conflitos no interior das escolas. Podemos dizer aqui que a Escola Estruturalista pode ser entendida como a tentativa de englobar aspectos importantes de duas grandes escolas de administração, que em muitos aspectos assumem posturas diametralmente opostas: a Escola Clássica e a das Relações Humanas. Nessa abordagem, considerando alguns aspectos gerais, é preciso considerar como importante um sistema hierárquico 20 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período de caráter formal, pois o sistema burocrático considera um conjunto de relações entre postos hierárquicos. Você observou que o enfoque estruturalista da administração preocupa-se primordialmente com os aspectos estruturais da organização? Isso mesmo, embora este considere fundamental o ajustamento, e não a sujeição à estrutura. Veja que nesta abordagem a não compatibilização dos interesses individuais dos elementos envolvidos no processo educativo com os objetivos da organização revela-se através de conflitos ou tensões que devem ser encarados pelo administrador como um ponto de referência para se compreender a necessidade de ajustamentos estruturais urgentes na organização. Observaremos, aqui, que, na interpretação estruturalista da gestão, o aumento da racionalidade nas organizações modernas não ocorreu na mesma proporção que o aumento de satisfação ou felicidade do trabalhador, gerando um desequilíbrio de duas ordens de necessidades: do homem como ser humano e da função que ele exerce no ambiente de trabalho. Acreditam que, à medida que não ocorre o ajustamento entre a racionalidade e a satisfação do trabalhador, sendo este insatisfatório para o indivíduo, resulta na alienação do sujeito em relação à organização e seus objetivos e, nesse caso, a função do administrador consistirá, essencialmente, em evitar, ou pelo menos reduzir, a alienação deste, procurando garantir a eficiência da organização. Para Weber, a burocracia é a organização eficiente por excelência e, para conseguir essa eficiência, ela precisa detalhar antecipadamente e em detalhes como as coisas deverão ser feitas. Podemos dizer que Weber define a organização burocrática pela ênfase na precisão, velocidade, clareza, regularidade, confiabilidade e eficiência, com a criação de uma divisão rígida de tarefas, supervisão hierárquica, regras e regulamentos detalhados. Em seus estudos, Weber identificou diversos fatores que favorecem o desenvolvimento da burocracia, entre os quais se destacam: • a economia monetária, com a racionalização das transações econômicas, eliminando os pagamentos em espécie; • o aumento da complexidade das tarefas administrativas; • a maior eficiência da administração burocrática; • o desenvolvimento tecnológico; • a necessidade crescente de previsibilidade. Podemos então dizer que, para Weber, a burocracia é a organização eficiente por excelência, em virtude do caráter legal das normas, previamente definidas por escrito, determinando a sua maneira de funcionar. Nesse sentido, você verá que a burocracia é uma estrutura social racionalmente organizada, as normas e regulamentos são legais porque conferem às pessoas investidas da autoridade um poder de coação sobre os subordinados, os meios coercitivos são capazes de impor a disciplina e Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 21 as normas e regulamentos são escritos para assegurar uma interpretação sistemática e unívoca. Nesse viés, pensa-se que esforços são economizados e possibilitam, dentro da organização, a padronização: do caráter formal das comunicações, formuladas e registradas por escrito, permitindo a comprovação e documentação de todas as ações; do caráter racional e divisão do trabalho, em que cada membro da organização tem seu cargo, funções, competências e responsabilidades; da impessoalidade nas relações, pois o poder de cada pessoa deriva do cargo que ocupa; da hierarquia da autoridade, de acordo com os cargos, em que cada cargo inferior está sob a direção de um posto superior; das rotinas padronizadas, com regras e normas técnicas para o desempenho de cada cargo, que limitam a ação dos seus ocupantes; da competência técnica e meritocracia, em que a admissão, transferência e promoção dos funcionários são baseadas no mérito e na competência técnica - critérios válidos para toda a organização -, e não em preferências pessoais; da especialização da administração, separada da propriedade; da profissionalização dos participantes, em que funcionário é um especialista assalariado; da previsibilidade do funcionamento, pois, como cada funcionário age de acordo com as normas, os resultados podem ser previstos. Veja que, na burocracia como sistema social, Weber viu o exemplo característico da possibilidade de racionalizar as relações humanas. Nessa abordagem, levando-se em conta alguns aspectos gerais, é preciso considerar como importante um sistema hierárquico de caráter formal, uma vez que, como você percebeu, o sistema burocrático considera um conjunto de relações entre postos hierárquicos. Você pode também perceber que o enfoque estruturalista da administração preocupa-se primordialmente com os aspectosestruturais da organização, embora considere fundamental o ajustamento, e não a sujeição à estrutura. Nessa abordagem, a não compatibilização dos interesses individuais dos elementos envolvidos no processo educativo com os objetivos da organização revela-se através de conflitos ou tensões que devem ser encarados pelo administrador como um ponto de referência para se compreender a necessidade de ajustamentos estruturais urgentes na organização. 1.3.3 Escola Estruturalista O Estruturalismo se revela como uma síntese das Escolas Clássica e de Relações Humanas. Observe que os estruturalistas veem a organização como uma grande e complexa unidade em que interagem muitos grupos sociais. A Escola Estruturalista pode ser entendida como a tentativa de englobar aspectos importantes de duas grandes escolas de Administração 22 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período que, em muitos aspectos, assumem posturas diametralmente opostas: a Escola Clássica e a das Relações Humanas. É conveniente chamamos a sua atenção para a interpretação estruturalista da gestão, pois nela o aumento da racionalidade, nas organizações modernas, não ocorreu na mesma proporção que o aumento de satisfação ou felicidade do trabalhador, gerando um desequilíbrio de duas ordens de necessidades: do homem como ser humano e da função que exerce no ambiente de trabalho. Os adeptos dessa teoria acreditam que não ocorreu o ajustamento entre a racionalidade e a satisfação do trabalhador, sendo este insatisfatório para o indivíduo. Esse processo resulta na alienação do sujeito em relação à organização e aos seus objetivos. Nesse caso, a função do administrador consistirá, essencialmente, em evitar, ou pelo menos reduzir, a alienação do sujeito, procurando garantir a eficiência da organização. A abordagem estruturalista da Administração supera as abordagens clássica e comportamental, apresentando um enfoque mais completo, da estrutura e das pessoas. O precursor desse estudo foi o sociólogo e filósofo alemão Max Weber, que lançou bases de um estudo objetivo da burocracia como forma social genérica, pois Max Weber (1864-1920), também considerado participante da abordagem estruturalista, preocupou- se com a hierarquia de pessoas na organização, defendendo os critérios de mérito para contratação e promoção, com papéis precisamente definidos para cada cargo, no denominado “Modelo Burocrático”. Consideramos válido que, após estes estudos, você registre também que, no estudo da Administração, os autores Fayol, Follett e Barnard foram os principais personagens a enfatizar os aspectos da qualidade total e da produção enxuta de bens e serviços. Você pode observar que essas teorias atuam nas mais diversas organizações. Embora sejam idealizadas em cenários industriais e empresarias, alcançaram a educação transformando a prática administrativa nas escolas. Porém, você também precisa entender que os conceitos clássicos da administração, embora importantes para orientar o trabalho dos administradores escolares, são insuficientes, pois é preciso que se levem em conta especificidades e complexidades das escolas para que sejam atingidos os objetivos maiores da educação como formadora de cidadãos plenos para a democracia. É a elaboração das teorias da Administração no bojo do capitalismo que determina a sua aplicação generalizada na maior parte das organizações, cujos padrões de eficiência, racionalização, produtividade são determinados, também, pelo próprio modo de produção capitalista (FÉLIX, 1986, p. 76). Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 23 1.4 TEORIA COMPORTAMENTAL ORGANIZACIONAL: ABORDAGEM COMPORTAMENTAL Teoria do Comportamento Organizacional é uma corrente baseada na psicologia organizacional que redimensiona e atualiza os conceitos da Teoria das Relações Humanas com ênfase nas pessoas, enfocando os estilos de administração. 1.5 TEORIA DAS DECISÕES INTEGRAÇÃO DOS OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS E INDIVIDUAIS. Nessa medida, a abordagem comportamental da administração deu ênfase aos aspectos da liderança e da motivação no comportamento produtivo, tendo como um dos seus representantes o cientista social australiano George Elton Mayo (1880-1949). Essa teoria assenta em novas proposições acerca da motivação humana, em que o administrador precisava dominar os mecanismos motivacionais para poder dirigir adequadamente as pessoas. Mayo defendia o empregado com necessidades sociais no local de trabalho, a necessidade de grupos informais e o lado humano na organização. Assim, a abordagem comportamental questiona a hipótese do homem econômico, que busca maximizar sua remuneração, apresentando em seu lugar o “homem social”, motivado por recompensas e sanções sociais, que pode sacrificar ganhos financeiros em prol da aceitação por um grupo. Nessa abordagem, os aspectos emocionais do comportamento humano, não planejados ou mesmo aparentemente irracionais, passam a merecer atenção. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. FÉLIX, M. F. C. Administração Escolar: um problema educativo ou empresarial. 3. ed. São Paulo: Cortez A/A, 1986. LOURENÇO FILHO, M. B. Organização e administração escolar: curso básico. 8. ed. Brasília - DF: Inep/MEC, 2007. MAXIMIANO, A. C. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. Atlas, 2004. ______. Introdução à Administração. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. SANDER, B. Gestão da educação na América latina: construção e reconstrução do conhecimento. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 1995. 24 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Nesta unidade, você deverá identificar sistema de ensino e situar, criticamente, as tendências de gestão/administração de sistema e de ensino de órgãos educacionais, atentando-se para principais características, fundamentos, princípios e funções. Buscaremos, aqui, caracterizar a gestão da educação segundo os princípios da administração, iniciando por sua generalidade para, em seguida, configurar a sua especificidade na situação escolar. Para isso, apresentaremos os pressupostos da administração que viabilizam a gestão da educação, iniciando pela análise dos paradigmas da administração e suas implicações na gestão de sistema e instituições de ensino, bem como as competências do diretor na visão de alguns pesquisadores sobre a gestão da escola, chegando à discussão da organização escolar, na qual será enfatizada a gestão democrática do sistema público de ensino. Após este estudo, você observará também que a visão dos teóricos da administração tem correspondência na realidade concreta da sociedade capitalista, em que a administração encontra, na organização, seu próprio objeto de estudo. Verá que nesse contexto encontra-se “a escola que, assim como as outras organizações, precisa ser administrada e tem na figura do diretor o responsável pelas ações desenvolvidas em seu interior” (PARO, 2001, p.17). Você deve observar que o complexo de processos envolvidos na gestão educacional compreende as atividades específicas de planejamento, organização, gerenciamento, avaliação de resultados, aplicação de recursos e prestação de contas, fazendo com que a gestão do ensino siga prioridades estabelecidas para educação, diferindo das demais formas de gestão, como a empresarial. Começando essa discussão, podemos dizer que um sistema educacional, conforme preconiza a literatura, é composto e interligado por diversos órgãos, ou seja, secretaria de educação e seus setores, conselhos educacionais, escolas, etc. Observe, a partir desse conceito, que um sistema, composto por organizações educacionais, setores e unidades escolares, requer e pressupõe que haja algum tipo de interatividade e inter-relação entre eles. 2.1 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ESCOLAR A administração é uma prática milenar, porém a administração moderna tem sua origem nos países desenvolvidos da Europa e da América do Norte, onde foi concebida como instrumento para organizar e coordenar Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Paradigma é o conjunto de ideias que permite formular ou aceitar determinados padrões ou modelos de ação social que representa uma visão de mundo, uma filosofia social, um sistema de ideias construídas e adotadas por determinado grupo social. Diz respeito a ideias e valores assumidos coletivamente, de forma consciente ou inconscientemente. Organização são atividades desenvolvidas no sentido de relacionar os elementos materiais e humanos de uma determinada situação, a fim de se conseguir o melhor resultado. UNIDADE 2 A GESTÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO DE ÓRGÃOS EDUCACIONAIS Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 25 a prestação dos serviços públicos e a crescente atividade produtiva no mundo dos negócios (BORDIGNON; GRACINDO, 2001, p. 148). Porém, Fayol, Follett e Barnard foram os principais personagens a enfatizar os aspectos para uma definição de administração e o papel dos gerentes. Os questionamentos que se seguem nortearão as nossas reflexões. Que estruturas de pensamento subjazem aos processos de gestão e administração da educação no Brasil? Que concepções, conceitos e princípios estão presentes na gestão educacional dos sistemas e das escolas? Considerando o que estudamos na unidade I e a análise dos modelos de gestão apresentados nesta unidade, vamos responder às questões propostas. Começamos por dizer que a lógica assumida pelas reformas estruturais que a educação pública vai vivenciar no Brasil em todos os âmbitos (administrativo, financeiro, pedagógico) e níveis (básico e superior) tem um mesmo ponto de origem e que os conceitos de produtividade, eficácia, excelência e eficiência foram importados das teorias administrativas que você estudou na unidade I deste caderno. Podemos também afirmar que na educação, especialmente na Administração Escolar, observa-se a transposição de teorias e modelos de organização e administração empresariais e burocráticos para a escola e que os debates e críticas dos especialistas na década de 1990 não foram capazes de evitar que as tendências mais recentes em administração educacional e, mesmo as direções tomadas pelas políticas públicas para a gestão da educação, resgatassem as teorias administrativas como teorias políticas. Veja então que os fundamentos em que se apóia a administração da educação provêm de outras ciências e estão sujeitos a mudanças, que determinarão alterações na concepção da função administrativa, que, por sua vez, acarretam mudanças nos papéis do gestor educacional. No estudo da primeira unidade, você observou que o termo gestão tem suas origens nas teorias da administração empresarial. Observe, também, que a teoria administrativa que influenciou a gestão educacional no Brasil na década de 1960 foi baseada nos princípios do enfoque organizacional da administração científica e gerencial de Taylor e Fayol. Ao discutir sobre a Administração, a preocupação central de Taylor era com o controle do trabalhador: Está claro, então, na maioria dos casos, que um tipo de ho- mem é necessário para planejar e outro tipo diferente para executar o trabalho. O homem, cuja especialidade sob a administração científica é planejar, verifica inevitavelmente que o trabalho pode ser feito melhor e mais economica- mente mediante a divisão do trabalho ... (TAYLOR, apud PARO, 2001, p. 64). 26 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Figura 2: Sistema educacional brasileiro Fonte: http://andersonnocepe.blogspot.com/2008_05_01_archive.html. Acesso em: 15/01/2011 Veja que, com base na doutrina de Fayol, chegamos à formulação teórica que identifica a escola como uma grande empresa e estuda uma administração que seja aplicável à escola como a qualquer outra empresa. Observe que, para Fayol, a administração, tendo em vista a complexidade dos empreendimentos humanos e o jogo de interesses daí advindos, funda- se em três elementos básicos: • na racionalização do trabalho; • na divisão do trabalho; • no interesse no trato pela administração. Paro (2001), diante da necessidade de se promoverem a eficiência e a produtividade da escola, sendo esta entendida como uma organização, pautou-se na consecução de seus objetivos por procedimentos administrativos análogos àqueles que alcançaram êxito na situação empresarial. Nesse contexto, a administração escolar fundamenta- se na pretensa universalidade dos princípios da administração adotados na empresa capitalista. Para os modernos teóricos da Administração, a sociedade se apresenta como um enorme conjunto de instituições que realizam tarefas sociais determinadas. Em virtude da com- plexidade das tarefas, da escassez dos recursos disponíveis, da multiplicidade de objetivos a serem perseguidos e do grande número de trabalhadores envolvidos, assume-se a absoluta necessidade de que esses trabalhadores tenham suas ações coordenadas e controladas por pessoas ou ór- gãos com funções chamadas administrativas. Essa visão dos teóricos da Administração tem correspondência na reali- dade concreta da sociedade capitalista ... (PARO, 2001, p. 17). Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 27 Observe que, na perspectiva da teoria da administração proposta por Fayol, a administração é tomada como uma solução natural aos riscos causados pela divisão do trabalho, podendo definir-se como o processo para melhor conduzir os grupos humanos que operam em tarefas divididas para alcançar um objetivo comum. Então, vejamos como as propostas de gestão ocorreram e ainda permeiam não só o Brasil, como também o fazer administrativo em nossos sistemas educacionais. A gestão da educação no Brasil iniciou-se com a administração da educação baseada nos princípios da administração clássica que prioriza o enfoque organizacional na administração, ou seja, com a predominância da técnica. “... na predominância dos técnicos que adotam soluções racionais para resolver problemas administrativos, em detrimento de seus aspectos humanos e sociopolíticos” (SANDER, 1982, p. 15). É importante, porém, que você observe que a gestão da educação no Brasil também seguiu os princípios da teoria comportamental. Como você observou na primeira unidade, o enfoque comportamental na gestão da educação teve suas bases teóricas nas ciências do comportamento, tendo sua principal característica nas teorias de administração adotadas e havendo a forte presença dos fundamentos da Psicologia e da Sociologia que exercia grande influência no fazer da gestão escolar. Em seguida, surgiu o enfoque sociológico que utilizou das ciências sociais na elaboração de sua proposta administrativa: ... a eficiência da administração se determina primordial- mente pela atuação de variáveis políticas, sociológicas e antropológicas e apenas secundariamente pela atuação de variáveis jurídicas e técnicas (SANDER, 1982, p. 21). Na análise da literatura você poderá observar que o conceito de gestão, assim como o de administração, é usado ora como literatura, ora como sinônimos, ora como termos distintos. Algumas vezes o termo gestão é apresentado para denominar um processo dentro da ação administrativa, outras vezes seu uso denotará a intenção de politizar a ação administrativa e em outras situações gestão apresenta-se como sinônimo de gerência. Contudo, você perceberá que, na maioria das vezes, o termo gestão aparecerá como alternativa para o processo político-administrativo da educação. É preciso,no entanto, que você entenda que a gestão dos sistemas e instituições de ensino supõe uma filosofia e uma política diretoras pré-estabelecidas pelas políticas educacionais. Em nossas discussões, o termo gestão assumirá o caráter científico e o sentido de processo político-administrativo por meio do qual a prática social da educação é organizada, orientada e viabilizada. Ao longo do estudo, você descobrirá que a administração da educação pode ser vista, tanto na teoria quanto na prática, como dois campos que se interpenetram, ou seja, de um lado acontece a racionalização do trabalho e de outro a 28 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período coordenação deste. Chiavenato (2000) afirma que administração é o processo de planejar, organizar, liderar e controlar o trabalho dos membros da organização e usar todos os recursos disponíveis da organização para alcançar objetivos estabelecidos. Figura3: Gestão: uma construção coletiva Fonte: http://servicosocialescolar.blogspot.com/ . Acesso em: 15/01/2011 Observe que a gestão do sistema de ensino constitui-se, essencialmente, como um processo de articulação para o desenvolvimento da proposta político-pedagógica das escolas públicas, assunto que será mais bem discutido na terceira unidade deste caderno. Porém, é importante que você entenda que esse processo de gestão se fundamenta e é conduzido segundo uma determinada concepção de educação e de sociedade e, também, que ele não ocorre de forma neutra e descontextualizada. Assim sendo, é preciso compreender que pensar um processo administrativo da educação significa definir um projeto de cidadania e atribuir uma finalidade à escola que seja coerente com esse projeto. Chamamos sua atenção para retornar as leituras realizadas no caderno didático de Política Educacional Brasileira, em que você observou que o processo administrativo inclui determinação de objetivos, garantia de recursos, determinação de política de ação, padrões de serviço, distribuição de recursos em conformidade com o plano de trabalho, manutenção da operacionalização de forma a produzir a quantidade e qualidade desejada de serviços e ainda avaliação e contabilidade para uso dos recursos financeiros destinados à educação. No estudo sobre a gestão da educação, é preciso, também, recuperar o caráter instrumental da administração, pois, Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 29 segundo Paro (2001, p. 123), ele é de suma importância para o exame da atividade administrativa em nossas escolas, uma vez que apenas através dessa perspectiva será possível conceber uma administração escolar voltada para a transformação social. Porém, não abordaremos apenas seu caráter técnico, pois a administração desenvolvida em nossos sistemas educacionais é também pautada em outros aspectos que consideramos relevantes para uma gestão democrática da educação, em que é imprescindível considerar também os determinantes econômicos e sociais. Segundo Félix (1984, p. 81), à medida que a prática da administração escolar for tratada do ponto de vista puramente técnico, serão omitidas as suas articulações com as estruturas socioeconômicas e políticas. Com certeza, isso obscurecerá a análise dos condicionantes da educação dos quais fazem parte as normas técnico-administrativas propostas para o funcionamento do sistema escolar. Sander (1995, p. 55), por sua vez, objetivando a realização de uma análise da administração da educação, propõe uma divisão em quatro dimensões articuladas dialeticamente: • dimensão econômica; • dimensão pedagógica; • dimensão política; • dimensão cultural. Segundo o autor, para cada uma dessas dimensões analíticas há, respectivamente, um critério de desempenho administrativo: eficiência, eficácia, efetividade e relevância. Figura 4: Dimensões da gestão escolar Fonte: http://criandoecopiandosempre.blogspot. com/2010_09_01_archive.html Acesso em: 15/01/2011 Você poderá ampliar seus conhecimentos sobre esta temática fazendo a leitura do livro Gestão da Educação na América Latina, de Benno Sander (1995). 30 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período 2.1.1 Dimensões da gestão educacional segundo Sander Propomos aqui uma ligeira análise das quatro dimensões da gestão da educação proposta por Benno Sander (1995, p. 59-66): a) Dimensão econômica A dimensão econômica da gestão da educação, como já é possível observar pelo uso do termo, envolve: recursos financeiros e materiais, estrutura, normas burocráticas e mecanismos de coordenação e comunicação. Nessa dimensão, a administração da educação prevê e controla os recursos, organiza estruturalmente a instituição, fixa papéis e cargos, divide o trabalho, determina como o trabalho deve ser realizado e por que tipo de incumbências e estabelece, ainda, normas de ação. O critério definidor da dimensão econômica é a eficiência na utilização dos recursos e instrumentos tecnológicos sob o império da lógica econômica. b) Dimensão pedagógica A dimensão pedagógica da administração da educação se refere ao conjunto de princípios, cenários e técnicas educacionais intrinsecamente comprometidas com a consecução eficaz dos objetivos do sistema educacional e de suas escolas. Podemos dizer que a dimensão pedagógica da administração da educação se relaciona com as demais dimensões, oferecendo elementos e instrumentos necessários para a consecução eficaz dos objetivos da educação. Observe que o estudo da dimensão pedagógica da administração da educação fundamenta-se numa ampla gama de contribuições disciplinares, em que a Filosofia e a Ciência Política impõem- se como disciplinas centrais para este estudo, pois o sistema educacional, mais do que um plano pedagógico, deve encerrar uma filosofia e uma estratégia política. c) Dimensão política A dimensão política da administração da educação engloba as estratégias de ação organizada dos participantes do sistema educacional e das escolas. A importância dessa dimensão se encontra nas responsabilidades específicas do sistema educacional e de suas escolas para com a sociedade. Essa importância se deve ao fato de que os aspectos envolvidos na administração da educação, associados à dimensão cultural e à dimensão pedagógica, são fortemente influenciados pelas variáveis externas. Observe que essa dimensão política da administração da educação busca a efetividade, critério essencialmente político, de acordo com o qual o sistema educacional deverá atender às necessidades e às demandas sociais Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 31 da comunidade a qual pertence. Assim sendo, a administração da educação será tanto mais efetiva quanto maior for sua capacidade estratégica para atender às necessidades sociais e às demandas políticas da comunidade em que o sistema educacional estiver inserido. d) Dimensão cultural A dimensão cultural da administração da educação envolve valores e características filosóficas, antropológicas, biopsíquicas e sociais das pessoas que participam do sistema educacional e de sua comunidade. Veja que a característica básica desta dimensão é a visão de totalidade que lhe permite abarcar os mais variados aspectos da vida humana e que, à luz dessa perspectiva global, cabe à administração da educação coordenar a ação das pessoas e grupos que participam, direta ou indiretamente, no processo educacional. Nessa perspectiva, você pode observar que a relevância cultural é o critério básico de um paradigma de administração da educação comprometido com a promoção da qualidade de vida e do desenvolvimento humano. Assim, a administração da educação somente será considerada relevante à medida que oferecer condições propícias para promover a qualidade de vida humana no sistema educacional, nas escolas e na sociedade como um todo.Observe que a Antropologia, a Filosofia, a Psicologia e a Sociologia são ciências que oferecem bases teóricas para se compreender a dimensão cultural da administração da educação, portanto, das organizações e da burocracia da relação entre pessoas e organizações e entre organizações e a sociedade, assim como de outros temas sociológicos, tendo implicações evidentes para a administração de sistemas e de instituições de ensino. 2.1.2 Elementos da administração escolar Observe que os elementos da administração escolar são os mesmos estabelecidos por Fayol para a administração em geral, com algumas substituições como, por exemplo: a previsão por planejamento. Porém, como já falamos anteriormente, a administração escolar tem suas especificidades que devem ser resguardadas, pois, apesar das semelhanças, há diferenças significativas na prática. Agora, com base nas nossas discussões, cite os elementos da administração escolar. Vamos lá! Com certeza, você citou como elementos da administração escolar na atual concepção de gestão escolar, entre outros: planejamento, organização, assistência à execução do planejamento, avaliação dos resultados e relatório. Nessa medida, vamos aprofundar um pouco mais nosso conhecimento sobre esse assunto para que possamos compreendê- lo melhor. Vejamos: 32 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período a) Planejamento: Para elaborar o planejamento, o gestor deve partir do conhecimento da realidade na qual o processo educativo se desenvolverá, isto é, do conhecimento da comunidade escolar do seu entorno. Para essa efetivação, é preciso que se realize uma coleta de informações significativas desta realidade e a seguir se faça a análise e interpretação delas, transformando-as em subsídio ao planejamento que resultará no documento denominado projeto político-pedagógico da escola. b) Organização: Denominamos organização o ato de compor a estrutura da escola como instituição, como, por exemplo, a seleção de pessoal capaz de desempenhar satisfatoriamente as tarefas propostas. Para se realizar uma boa administração, o gestor deve estabelecer claramente as funções e as atribuições de cada funcionário, estabelecendo as relações hierárquicas, bem como o regimento escolar e normas de funcionamento interno da escola. Além disso, tomar providências quanto aos recursos físicos, materiais e financeiros que garantam o êxito das ações desenvolvidas pela escola. Nas escolas públicas, a estrutura do sistema educacional já é estabelecida. Qualquer alteração que venha a ser proposta pela escola deve acontecer através de seu colegiado e necessita de aprovação dos órgãos competentes. Com relação à seleção de pessoal, é realizada por meio de concurso público e suas atribuições já fazem parte de estatutos da categoria. Porém, na estruturação da instituição escolar, é preciso superar a ruptura existente entre quem faz a escola e quem se beneficia de seus serviços. Em outras palavras, é a prática da administração democrática que abre espaços à participação da comunidade escolar na discussão dos problemas do sistema ou da unidade escolar integrando-os na ação. c) Assistência à execução: O diretor deve sempre verificar se todos os recursos necessários estão disponíveis, antes de iniciar a execução da atividade educativa, para possibilitar aos executores, funcionários da escola, o pleno desenvolvimento de suas atribuições sem prejuízos dos serviços prestados por eles. Durante a execução, o diretor deve ter uma postura de acompanhamento, apoio e cobrança, bem como de coordenação de esforços, visando ao alcance dos objetivos propostos pela escola. d) Avaliação dos resultados: Esta etapa se realiza através da observação das ações visando a verificar se realmente são coerentes com os objetivos propostos, dirigem-se aos objetivos estabelecidos e até que ponto estes objetivos estão sendo alcançados. Deve ocorrer em termos quantitativos e qualitativos. Em termos quantitativos, devem ser considerados: o número total de matrículas, a frequência dos alunos e dos funcionários, o rendimento escolar dos alunos, o índice de evasão escolar Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 33 e de repetência dos alunos. Em termos qualitativos, a avaliação deverá traduzir na credibilidade que a ação educativa adquire no meio social em que se desenvolve em face à satisfação das necessidades e das expectativas da comunidade atendida. e) Relatório: O diretor escolar deve elaborar, anualmente, o relatório, que é um documento em que devem constar as atividades planejadas e realizadas na escola. Deve registrar as atividades realizadas com êxito, as que tiveram de ser modificadas no decorrer do processo, com as justificativas das suas alterações, e, também, registrar as atividades que não puderam ser realizadas, assim como os seus fatores dificultadores. 2.1.3 Paradigma multidimensional da administração da educação: competências do administrador Para compreensão do paradigma multidimensional da administração da educação, faz-se necessário discutir a questão da competência do diretor escolar no enfoque de dois pesquisadores que defendem a necessidade da competência profissional do diretor como condição sine qua non para o sucesso da educação oferecida pela escola pública. Na sequência, você deverá observar que Sander (1995), nos termos do paradigma multidimensional da administração da educação, no qual ele defende a eleição e preparação de administradores educacionais, leva em consideração quatro tipos de competência: econômica, pedagógica, política e cultural, o que condiz com as dimensões apresentadas (SANDER, 1995, p. 68-69). a) Competência econômica do administrador A competência econômica do administrador da educação será definida em termos de sua eficiência para maximinizar a captação e utilização dos recursos econômicos e financeiros e dos elementos técnicos e materiais para a consecução dos objetivos do sistema educacional e de suas escolas. b) Competência pedagógica do administrador A competência pedagógica refletirá sobre a eficácia do administrador para formular objetivos educacionais e desenhar cenários e meios pedagógicos para sua consecução. c) Competência política do administrador A competência política define o talento do administrador para perceber o ambiente externo e sua influência sobre o sistema educacional, revelando sua efetividade para adotar estratégias de ação organizada para a satisfação das necessidades de demandas sociais e políticas da comunidade e seu sistema educacional. d) Competência cultural do administrador Sine qua non é uma expressão latina muito utilizada no meio jurídico que quer dizer condição indispensável, essencial, Competência é uma palavra do senso comum utilizada para designar uma pessoa qualificada para realizar alguma coisa. No dicionário Aurélio, temos que se refere à capacidade para resolver qualquer assunto, aptidão (...) 34 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período A competência cultural do administrador revelará sua capacidade para conceber soluções e sua capacidade de liderança para implantá-las. Observe que essas discussões nos reportam a um ditado popular muito comum no meio educacional: “a escola tem a cara do diretor”. Assim sendo, podemos dizer, também, que a administração escolar é a força ou o fracasso da organização da escola, Contribuindo, portanto, para o sucesso ou fracasso da escola. Nesse sentido, a estratégia para a excelência dos serviços desenvolvidos na educação depende da filosofia e do compromisso da administração. Com base nesses princípios, o gestor educacional deve ter forte liderança, ter plena consciência de si e do sentido de sua função, deve, acima de tudo, sentira grandeza de seu trabalho e ter a capacidade de executá-lo com perfeição. 2.1.4 Acerte no alvo: competências do diretor Um diretor competente precisa ser capaz de envolver todos os membros de sua equipe de trabalho numa administração que considere o contexto político, social e econômico no qual estão inseridos, a escola, os professores, os funcionários administrativos, os alunos e os pais. Para tanto, é preciso que o diretor seja capaz de identificar como se dá a interação entre esse contexto e as atividades e objetivos da escola, seja capaz de identificar as características das pessoas que trabalham na escola e seja capaz de identificar os recursos materiais, financeiros e humanos de que dispõe para a gestão da escola. Figura 5: Acertar no alvo: competências do diretor Fonte: http://www.jornalalobrasilia.com.br/blogs/?IdBlog=20&Ano=2009 Acesso em: 15/01/2011 Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 35 Então! Você já percebeu que na gestão da educação é preciso que o gestor tenha competência técnica, competência política e competência humana? Mas o que isso quer dizer? Leia o texto que se segue e reflita sobre o significado dessas competências no fazer do gestor escolar. Competências do diretor (Retirado do texto Exercícios de direção – Competências, de José Leão Marinho Falcão Filho – Revista Amae Educando, nº 223, out./1971, p. 11 -16) A administração escolar no Brasil, tanto na sua prática como na sua fundamentação teórica, sempre foi fortemente influenciada por dois aspectos: conceitos de administração, apresentado neste caderno nas unidades I e II, e teorias da administração. A escola somente poderá desempenhar bem o seu papel na sociedade se contar com profissionais efetivamente competentes, entre os quais destacaremos aqui o diretor, pois este é considerado peça fundamental para uma eficiente administração da escola. Porém, para que haja uma administração eficiente da escola, faz-se necessário que o diretor da escola possua determinadas competências que o ajudarão a desempenhar seu papel na instituição. O diretor para ser considerado competente é preciso atentar para alguns aspectos considerados relevantes na administração/gestão da educação: primeiro, consideramos a necessidade de que tenha o domínio de um saber que lhe permita desempenhar as funções que lhes são designadas; em segundo lugar, que tenha uma visão integrada e articulada dos aspectos relevantes de sua prática, sem desconsiderar o entendimento das múltiplas relações entre os vários aspectos da escola; em terceiro lugar, o diretor precisa ter a compreensão das relações entre o seu preparo técnico, a organização da escola e os resultados de sua ação gestora. Não se esqueça também da necessidade de que tenha uma percepção abrangente das relações entre a escola e a comunidade. Nesse caminho, o professor Leão, buscando trazer uma melhor explicação do que vem a ser a competência profissional do diretor e sua possível operacionalização na formação e prática do gestor, divide-a em três outras competências: a técnica, a política e a humana, asseverando que a integração dessas últimas resultará na competência profissional do diretor. 36 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Figura 6: As três competências do diretor Fonte: http://portaldosudeste.com/blogdomamede/?p=13019 Acesso em: 15/01/2011 a) Competência técnica do diretor A competência técnica do diretor supõe compreensão e proficiência em métodos, processos, procedimentos, técnicas de organização do trabalho, tomada de decisão e solução de problemas. Ela pressupõe conhecimento de toda a legislação que trata dos direitos e obrigações dos profissionais que compõem o quadro de pessoal da escola, tanto dos docentes quanto dos administrativos, envolve o conhecimento das matrizes curriculares que definem a estrutura e o ensino de 1º e 2º graus. Exige, também, o conhecimento de técnicas e princípios utilizados na elaboração de planejamentos, o conhecimento de processos de avaliação e controle das atividades administrativas e pedagógicas. Também faz parte desse conjunto o conhecimento de métodos e técnicas para elaboração de horários de aula, elaboração de calendários e planos de ensino. Ela inclui, também, a necessidade de conhecimentos sobre administração de material, arquivos, escrituração escolar e contabilidade. Pressupõe, também, o domínio de técnicas de recrutamento, seleção, treinamento e avaliação de pessoal. Assim sendo, podemos dizer que ela exige que o diretor tenha conhecimentos dos principais determinantes técnicos que contribuem para o desenvolvimento e a melhoria do processo de ensino/ aprendizagem. b) Competência política A competência política exige que o diretor tenha conhecimento de como os determinantes de ordem política, social e econômica contribuem, ou não, para que o processo ensino/aprendizagem, desenvolvido pela Gestão dos Sistemas e Instituições de Ensino UAB/Unimontes 37 escola, alcance seus objetivos. Essa competência foi também defendida por Benno Sander (1995) na sua discussão sobre a gestão da educação na América Latina, já apresentada nesta unidade. Partindo do princípio de que o sistema educacional esta inserido em uma sociedade permeada e dependente de um sistema político, social e econômico, teremos que a competência política do diretor, que exige dele através de seu saber e de sua prática, cumpra seu papel contribuindo para a correção das distorções e das injustiças que estão presentes na sociedade. Para esse fazer político, o diretor deverá compreender que a escola e todos os que nela trabalham e estudam são interdependentes, em relação uns aos outros e em relação à sociedade. Essa percepção deverá também levar o diretor a entender que a escola é, antes de tudo, um projeto coletivo de trabalho que tem objetivos a realizar e que somente serão alcançados com a participação efetiva de todos os seus membros. Perceba aqui os propósitos de uma gestão democrática da escola que serão mais bem discutidos na unidade III deste caderno. É preciso que você entenda que a competência política do diretor também implica a sua capacidade em procurar prever as consequências futuras dos acontecimentos políticos, sociais e econômicos no interior da escola. Veja que acontecimentos na sociedade, de ordem política ou econômica, interferem no nível das relações interpessoais entre diretor, professores, alunos, especialistas, pais e outros funcionários da escola. O diretor, utilizando-se de sua competência política, deverá ser capaz de entender como e por que se dão as interações no interior da escola, compreendendo, também, suas consequências em relação aos interesses da sociedade, da educação, da escola e de todos os seus componentes. Entenda que, a partir da análise e compreensão de todas essas influências e interações, o diretor, considerado politicamente competente, deverá ter a capacidade de elaborar e desenvolver, com a participação de todos os segmentos da escola, estratégias de ação que levem em conta a realidade política, econômica e social de onde a escola se encontra inserida. Assim sendo, diante de novas situações ocorridas no interior da escola, o diretor competente, sob o ponto de vista político, deverá ser capaz de, à luz da realidade política, social e econômica, gerar com seus colaboradores, numa concepção democrática, novas estratégias com ações capazes de tornar esses novos fatos ou situações benéficas à escola e a seus integrantes. c) Competência humana Partindo do princípio que na gestão democrática da escola todo o trabalho deverá ser desenvolvido em equipe, é preciso entender que, para o diretor realizar um trabalho de equipe eficaz e construtivo na escola, 38 Pedagogia Caderno
Compartilhar