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Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Yasmin Laila Caputo de Castro ARQUITETURA EFÊMERA PARA EVENTOS E FEIRAS: Uma forma de contribuir no desenvolvimento de pequenas cidades. Juiz de Fora Dezembro/2019 II Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Yasmin Laila Caputo de Castro ARQUITETURA EFÊMERA PARA EVENTOS E FEIRAS: Uma forma de contribuir no desenvolvimento de pequenas cidades. Monografia apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso I. Orientador: Prof. Fabrício Rezende Fontenelle Juiz de Fora Dezembro/2019 III Yasmin Laila Caputo de Castro ARQUITETURA EFÊMERA PARA EVENTOS E FEIRAS: Uma forma de contribuir no desenvolvimento de pequenas cidades. Monografia apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso I. Data da Aprovação: Juiz de Fora ____/____/_______ EXAMINADORES ______________________________________ Prof. Orientador: Fabrício Rezende Fontenelle Juiz de Fora Dezembro/2019 IV Dedico este trabalho a todos que de alguma forma me apoiaram e me deram forças para prosseguir em frente, desde familiares a amigos, em especial a meus pais, Elisangela e Aleandro, e irmão, Vinícius. Obrigada por toda ajuda e carinho. V VI Agradecimentos Em 2013 iniciava minha trajetória universitária, tive passagens rápidas por três diferentes cursos de graduação os quais contribuíram muito em minha formação hoje. Para além disto, neste caminho tive o prazer de conviver e conhecer pessoas que se fizeram muito importantes em minha vida, assim gostaria de agradece-las por todo caminho que percorremos juntos. Em 2015 inicio minha trajetória no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFJF,aqui vivenciei momentos bons e ruins, todos em conjunto com grandes amizades conquistadas ao longo dessa trajetória, assim, sou muito grata a meus amigos por toda a paciência que tiveram comigo, todo o carinho e confiança depositados em mim, e por todos os momentos bobos e de descontração que vivenciamos juntos. Toda essa história só foi possível graças ao apoio da minha família, em evidência meus pais, que direcionaram o caminho a seguir, me deram a base e permitiram ser quem sou hoje. Agradeço também aos meus amigos de infância por toda amizade verdadeira que perdurou o tempo e todo o apoio na formação da pesquisa deste trabalho. Por fim gostaria de agradecer ao meu orientador, à administração pública de São Tiago – MG, e a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. Muito Obrigada a todos! VII “Foi lá onde cresci E desde criança morei E lá eu aprendi a ler Está lá todas escolas que estudei Lá tenho minha casa De lá vem o meu sustento Foi lá que a Vida me ensinou com muito sofrimento [...]” Tiago Rogel. VIII Resumo O tema abordado neste trabalho é a arquitetura efêmera voltada para eventos e feiras. Tem como objetivo indicar informações sobre a formação e funcionamento de pequenas cidades de modo a contribuir para seu desenvolvimento, também mencionar dados sobre as maiores dificuldades e qualidades dessas cidades, relatando o interesse da população por estes centros urbanos. Ressalta informações sobre a infraestrutura de São Tiago – MG com o foco no evento da Festa do Café-com-Biscoito, demonstrando estudos de caso, pesquisas e entrevistas que retratam todo o desenvolvimento da organização do evento, os benefícios trazidos para a economia e cultura da cidade. Também traz a visão do público frequentador e dos expositores do evento sobre a infraestrutura que a festa oferece. Por fim, o trabalho evidencia, em decorrência da crescente presença popular, as principais dificuldades enfrentadas pelos organizadores na estruturação do evento. Palavras-chave: Feiras e eventos. Pequenas cidades. São Tiago. Café-com- Biscoito. IX Abstract The theme addressed in this paper is ephemeral architecture focused on events and fairs. It aims to indicate information about the formation and operation of small cities in order to contribute to their development and to measure data on the greatest difficulties and qualities of this cities, reporting the interest of the population for these urban centers. It highlights information on the infrastructure of São Tiago - MG with the focus on the event Festa do Café-com-Biscoito demonstrating case studies research and interviews that portray the entire development of the event's organization, the benefits brought to the city's economy and culture. It also brings the view of the attending public and the exhibitors of the event about the infrastructure that the party offers. Finally, the work shows, due to the growing popular presence, the main difficulties faced by the organizers in structuring the event. Keywords: Fairs and events. Small cities. São Tiago. Café-com-biscoito. X Lista de Ilustrações Figura 1: Tenda dos Lapões, nômades do norte da Finlândia e da Noruega. ........... 19 Figura 2: Acampamento militar .................................................................................. 19 Figura 3: Palácio de Cristal - Londres ....................................................................... 24 Figura 4: Interior do Palácio de Cristal ...................................................................... 25 Figura 5: Torre Eiffel em construção. ........................................................................ 26 Figura 6: Pavilhão do Brasil....................................................................................... 27 Figura 7: Estande Básico .......................................................................................... 31 Figura 8: Estande Misto. ........................................................................................... 32 Figura 9: Estande Personalizado .............................................................................. 32 Figura 10: 100 melhores cidades do Brasil para investir em negócios. ..................... 38 Figura 11: Festival Gastronômico de Tiradentes ....................................................... 46 Figura 12: Festa do queijo do Serro .......................................................................... 47 Figura 13: Largo da praça central de São Tiago ....................................................... 48 Figura 14: Campo das Vertentes e microrregiões. .................................................... 50 Figura 15: Região Urbana de São Tiago ................................................................... 53 Figura 16: Principais marcos de São Tiago ............................................................... 54 Figura 17: Mapa de serviços gerais .......................................................................... 55 Figura 18: Mapa de uso noturno. .............................................................................. 56 Figura 19: Praça ministro Gabriel Passos ................................................................. 57 Figura 20: Oficina dos Biscoitos Falantes. ................................................................ 59 Figura 21: Estrutura e montagem do Portal receptivo ...............................................59 Figura 22: Primeiras estruturas dos estandes ........................................................... 60 Figura 23: Aglomerado de pessoas em 2006 e 2019. ............................................... 61 Figura 24: Fluxos e posições das estruturas do evento. ........................................... 62 Figura 25: Montagem e decoração do estande ......................................................... 63 Figura 26: Orientação solar da praça ........................................................................ 64 Figura 27: Fechamento do estande ........................................................................... 64 Figura 28: Recorrência de participação popular ........................................................ 65 Figura 29: Qualidade da infraestrutura do evento ..................................................... 66 Figura 30: Qualidade do fluxo de transito no evento. ................................................ 67 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509617 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509618 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509619 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509620 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509621 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509622 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509623 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509624 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509625 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509626 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509627 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509628 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509629 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509630 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509631 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509632 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509633 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509634 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509635 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509636 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509637 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509638 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509639 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509640 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509641 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509642 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509643 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509644 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509645 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc25509646 XI Lista de Tabelas Tabela 1: Tipologia de eventos ................................................................................. 35 Tabela 2: Cidades e suas populações. ..................................................................... 50 file:///C:/Users/Yasmyn/Documents/Yasmin/TCC%201/Yasmin%20TCC.docx%23_Toc24487032 XII Lista de Abreviaturas e Siglas MG Minas Gerais. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. IDEB Índice de desenvolvimento da Educação Básica. PIB Produto Interno Bruto. FOCEST Fórum Cultural e de Empreendimentos de São Tiago. ACIST Associação Comercial e Industrial de São Tiago. UTC Unidade de Triagem e Compostagem de Resíduos Sólidos IEPHA Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico. XIII Sumário Introdução .................................................................................................................... 14 1. Arquitetura efêmera ................................................................................................ 18 1.1. Exposições universais ........................................................................................... 22 1.1.1. Palácio de Cristal ................................................................................................ 24 1.1.2. Torre Eiffel ........................................................................................................... 25 1.1.3. Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York em 1939 ........................... 26 1.2. Eventos e Feiras .................................................................................................... 28 1.2.1. Marketing ............................................................................................................. 29 1.2.2. Estandes ............................................................................................................. 29 1.2.3. Tipos de eventos ................................................................................................. 34 2. Pequenas cidades ................................................................................................... 37 2.1. Formação dos núcleos urbanos ............................................................................ 39 2.2. Características urbanas de pequenas cidades ..................................................... 41 2.2.1. Relação entre o indivíduo e a cidade ................................................................. 43 2.3. Economia das pequenas cidades ......................................................................... 44 2.3.1. Economia e turismo ............................................................................................ 44 2.3.2. Eventos e feiras .................................................................................................. 45 3. São Tiago - MG ........................................................................................................ 48 3.1. Infraestrutura .......................................................................................................... 52 3.2. Aspectos morfológicos ........................................................................................... 54 3.3. A Praça ................................................................................................................... 56 4. A festa do Café-com-Biscoito ............................................................................... 58 4.1. Os estandes ........................................................................................................... 63 4.2. Pontos de apoio ..................................................................................................... 65 4.3. As qualidades e transtornos do evento ................................................................. 65 Considerações Finais ................................................................................................. 68 Referências .................................................................................................................. 70 14 Introdução A arquitetura efêmera está ligada ao surgimento do homem, se desenvolveu e disseminou pelo mundo através da cultura nômade. A revolução industrial contribuiu no aprimoramento destas estruturas efêmeras, através dos materiais e técnicas aplicáveis na época se tornou mais usual essa forma de arquitetura, gerando os primeiros edifícios destinados a feiras de negócios,e por meio do crescimento do comércio internacional surgiram as grandes exposições universais. Essa arquitetura proporcionou um melhor atendimento às exigências de infraestrutura do comércio, surgiram então diferentes forma de feiras e eventos que utilizavam das características efêmeras das construções em beneficio próprio, principalmente por meios econômicos. Monasterio (2006, p.2) aponta a importância desta estrutura para os eventos relacionados a feiras comerciais. A arquitetura efêmera foi inserida nesse contexto enquanto ferramenta que veio representar a imagem do expositor, servindo como instrumento que inspira confiabilidade através da mensagem que a própria edificação transmite ao seu público alvo. Esses eventos relacionados a feiras comerciais vêm apresentando um crescimento expressivo no decorrer dos anos, sendo presentes tanto em grandes cidades como também em pequenos municípios, porém com diferentes importâncias e significados para cada um. As pequenas cidades vêem nessa forma de feiras uma oportunidade de desenvolvimento turístico e econômico. Utilizam grande maioria de seus espaços públicos para montar toda a infraestrutura necessária para a realização do evento, que para essas localidades, além de serem os únicos espaços preparados para receber grande publico. servem como forma de divulgação da cidade e seus produtos. Assim é feito em São Tiago, pequena cidade do interior de Minas Gerais onde é realizada a Festa do Café-com-Biscoito, que se caracteriza em um evento que movimenta a economia e promove a cultura local, ao mesmo tempo em que reafirma a marca da cidade, sendo conhecida nacionalmente como a „Terra do Café-com-Biscoito‟. 15 Problema As pequenas cidades representam grande maioria no país, hoje segundo o IBGE, cidades com população inferior a 50 mil habitantes configuram 90,6% dos municípios, mesmo assim é pouco comum encontrar estudos e pesquisas que buscam contribuir na solução de seus problemas. Nesses municípios, a falta de oferta e diversificação de serviços, comércio e lazer se torna comum, justificando a busca e evasão da população para centros urbanos maiores que oferecem melhores condições de vida. A realização de eventos é uma alternativa encontrada pelas pequenas cidades para contribuir na movimentação da economia e na geração de emprego. A partir disso, o presente estudo buscou reunir informações com o propósito de responder a seguinte questão: „Como a arquitetura efêmera pode contribuir no desenvolvimento de pequenas cidades?‟ Justificativa Diante da dificuldade na obtenção de material científico teórico e pratico disponível para consulta que retrate a situação de pequenas cidades, esse trabalho busca contribuir para o curto acervo das pesquisas de pequenos municípios. Com o foco em um evento realizado em uma cidade do interior de Minas Gerais, a pesquisa contribui com a divulgação e esclarecimentos de dados e informações sobre a cidade e o evento, bem como seus maiores problemas, com o intuito de apontar as maiores dificuldades e buscar melhores soluções. 16 Objetivos Gerais Reunir informações relevantes que envolvam o tema escolhido de modo que esses dados possam contribuir para o melhor desenvolvimento de pequenas cidades. Objetivos Específicos Conceituar arquitetura efêmera, Apresentar uma pequena cidade, Auxiliar na identificação das dificuldades enfrentadas pelos pequenos municípios. Caracterizar o espaço do evento, Identificar os processos de realização e estruturação do evento, Apontar principais problemas decorrentes da realização do evento. Delimitação do Tema De forma geral os eventos e feiras tem função fundamental na movimentação da economia de pequenas cidades, porém, para a realização das feiras a cidade precisa 17 determinar um ponto que melhor se adapte as necessidades de infraestrutura exigida pelo tipo de evento escolhido, a partir daí organizar um planejamento que contemple a previsão de tempo e benefícios da montagem e desmontagem das estruturas necessárias para realização da feira. A festa do Café-com-biscoito em São Tiago – MG passa por esse processo de estruturação todos os anos, porém sofre com problemas decorrentes das altas expectativas de crescimento do evento, nesse ponto observa-se uma necessidade de melhor compreensão do espaço e estrutura em que a festa hoje é realizada de modo a facilitar a busca por melhorias no evento. Metodologia Para o desenvolvimento do presente trabalho foram utilizadas pesquisa bibliográficas, aplicação de questionários e entrevistas. A pesquisa bibliográfica se embasou em teses e dissertações já realizadas sobre o tema em estudo, já os questionários e entrevistas foram aplicados à população frequentadora da festa do Café-com-Biscoito e seus organizadores de maneira a coletar a opinião pública a respeito da estrutura do evento e identificar como se deu a idealização e o crescimento do evento. 18 1. Arquitetura efêmera A arquitetura é um tema profundo e que engloba a história e o desenvolvimento da civilização. É comum nos questionarmos sobre as diferentes formas e característica daquilo que está presente em todo lugar, todos moraram, trabalharam e viajaram para uma edificação, desde as mais simples até as mais exuberantes. A arquitetura dá vida a objetos inaudíveis e invisíveis, mas que se tornam imprescindíveis correspondendo à memória e a marca da passagem da humanidade por um determinado espaço. Essas construções são desenvolvidas e erguidas por um propósito, uma funcionalidade, majoritariamente em sua história são edificações fixas que persistem ao tempo e que coexistem com aquelas que já são demarcadas com um fim de suas funções e utilidades, que simplesmente cumprem seu propósito e deixam de existir, chamamos estas de arquitetura efêmera. Efêmero é um termo de origem grega1, usado para apontar uma situação que dure pouco tempo. É o antônimo de duradouro, permanente, e sempre associado ao passageiro, transitório, aquilo que é visto apenas por um momento. As primeiras construções efêmeras surgiram junto à necessidade do homem de procurar abrigo, eram elaboradas a partir de materiais naturais como: palha, argila, fibras vegetais e animais, isso em função de sua sobrevivência. Pela limitação humana e falta de técnica esses recursos não recebiam tratamento adequado o que faziam com que sua vida útil reduzisse consideravelmente2. Bahamón (2004) aponta que a cultura nômade foi uma das primeiras a adotar esse tipo de arquitetura, construíam suas tendas com ossos de mamute e pele de animais, adotavam esse método pela facilidade de montagem, desmontagem e transporte dos materiais do abrigo. 1 "ephémeros" significa apenas por um dia. 2 ver BAHMÓN (2004) 19 Fonte: Disponível em: <http://dacorteaoscorticos.blogspot.com/2010/11/moradias- nomades.html> Acesso em: 17 de out. 2019 Estas construções portais eram condizentes com o contesto de guerra onde os objetos deveriam ser leves para transporte e de fácil montagem e desmontagem permitindo uma mobilidade rápida e objetiva. Figura 1: Tenda dos Lapões, nômades do norte da Finlândia e da Noruega. Figura 2: Acampamento militar Fonte: Disponível em: <https://www.forte.jor.br/2011/06/25/vale-do-reno-a-entrada- em-linha-de-batalha/> Acesso em: 17 de out. 2019. http://dacorteaoscorticos.blogspot.com/2010/11/moradias-nomades.html http://dacorteaoscorticos.blogspot.com/2010/11/moradias-nomades.html https://www.forte.jor.br/2011/06/25/vale-do-reno-a-entrada-em-linha-de-batalha/ https://www.forte.jor.br/2011/06/25/vale-do-reno-a-entrada-em-linha-de-batalha/ 20 Para Escobar (1999) a obra efêmera é uma criação que não se produz para ficar no mundo, mas sim um produto que se abandona. Desenvolveruma obra para que não persista pode ser desconexo, então o obstáculo enfrentado pelas criações efêmeras é o seu desaparecimento, o conflito de que não sobreviverá ao seu criador. Com isto autor exemplifica com Hamlet, uma obra de Shakespeare que sobreviveu mesmo após a morte de seu criador. Assim como a terra, o homem também não é eterno. Se considerarmos que dentro de alguns milhões de anos a terra não existirá, podemos dizer que tanto a arquitetura quanto o homem são efêmeros. Um edifício pode ter um período de duração maior que o da vida de um homem, mas mesmo assim esse edifício será menos durável que a humanidade, ainda que seja considerado um modelo eterno. Então, o que se coloca em questão sobre a arquitetura efêmera é a relação entre a duração de uma edificação e sua transitoriedade durante um determinado período de referência, normalmente baseado na vida humana. (MONASTERIO, 2006, p.9) O efêmero se encontra em todo lugar, com diferentes formas, porquês e prazos pré- definidos, essa última sendo indiferente para todos, o que importa é ter claro sua funcionalidade e a razão da existência da obra. Para Escobar (1999), a obra efêmera é seu próprio trajeto à destruição. A diferença entre uma obra considerada durável e uma obra considerada efêmera é que a última já nasce morta, por isso é dramática. A obra dramática capta maior atenção e atinge sua plenitude no decorrer de sua permanência. Existem outros fatores que influenciam na efemeridade das obras, além do seu objetivo, Arboix (1999) acredita que as características da obra efêmera estão principalmente relacionadas com o local onde estará situada em seu breve tempo de existência. Aponta como importante o entendimento e percepção mais sensível e tátil, no qual os objetos se tornem experiências sensoriais aproximando e desenvolvendo uma relação intimista entre o espaço e o espectador. O espaço é constituído por diferentes componentes e aspectos efêmeros, materiais ou imateriais, mas sempre ligados na modificação da luz, a sombra, a cor, o som, a água, o ar, o fogo, a vegetação, entre outros (ARBOIX, 1999). Isso favorece diretamente a arquitetura transitória que dá novas utilidades, simplesmente manipulando o espaço. A escolha do local que receberá essa arquitetura expositiva é tão importante quanto aquilo que vai ser exposto. Cada local possui atributos diferentes, e são eles que vão 21 determinar a capacidade de gerar comunicação entre o que está sendo exposto e o público. O objeto pode ser completamente afetado negativamente sendo danificado ou perdendo suas propriedades, mas também pode ocorrer o inverso ao ser afetado positivamente, onde sua capacidade de capturar atenção se amplifica através da iluminação ambiente. A arquitetura efêmera sempre fez parte do contexto da arquitetura mundial utilizando desde uma vasta variedade de materiais, concebendo diversas formas com finalidades e utilidades distintas partindo pelas moradias nômades, até a feiras, shows e exposições culturais. A transitoriedade, imaterialidade destes componentes arquitetônicos possui um amplo espaço de utilização, hoje a arquitetura efêmera é pensada com o intuito de promover lazer, levar informação, auxiliar economias, promover disseminação cultural, facilitar eventualidades, entre tantas outras aplicações. Monasterio (2006) aponta três tipologias para classificar esse tipo de arquitetura, as atividades “sócio-politico-culturais, atividades comerciais e móveis”. As atividades sócio-político-culturais resultam em tipologias relacionadas ao entretenimento, à cultura, à crença religiosa, aos movimentos políticos e às necessidades emergenciais, que podem ser: as estruturas voltadas a comícios políticos, às cerimônias religiosas, às construções emergenciais, às acomodações temporárias ou mesmo às estruturas voltadas a espetáculos, shows e exposições artísticas itinerantes. As atividades comerciais são aquelas relacionadas à propaganda e à venda de produtos, resultando em tipologias normalmente adotadas em feiras, exposições e pontos de venda, que podem ser: pavilhões, chalés, estandes, quiosques, lojas ou escritórios itinerantes. Outra tipologia também utilizada é a móvel, na qual em vez de ser desmontado, o ambiente é transportado, como parte de um automóvel.(MONASTERIO, 2006, p.12) A partir destas tipologias apresentadas acima, o foco desta pesquisa se voltará para a arquitetura efêmera destinada a atividades comerciais, como eventos e as feiras. Nas seguintes seções será apresentado uma relação do contexto histórico voltado ao surgimento das exposições, e dos elementos que compõem as exposições e feiras de produtos. 22 1.1.Exposições universais Na idade Moderna por meio do Renascimento3 inicia-se a destinação de espaços próprios para receber tais exposições. Em 1761 por consequência do processo de industrialização Londres recebeu a primeira exposição de maquinários. Em 1798, foi realizada na França a primeira exposição de produtos manufaturados, objetos utilitários, têxteis, vidro, cerâmica, produtos químicos etc. Em meados do sec. XIX surgiram às primeiras exposições de cunho mundial com o intuito de difundir os avanços tecnológicos industriais. Esses eventos ocorreram nos Estados Unidos, na Europa e até mesmo com participação do Brasil em algumas edições. Estas exposições foram sendo realizadas em cidades com área industrial mais desenvolvida, as datas respeitavam os avanços tecnológicos e os interesses das cidades. Segundo Dantas (2010) o Brasil com o apoio de Don Pedro II pode apresentar ao mundo as características de vinte e duas economias agrárias artesanato e espécies de fauna e flora, assim chamando atenção atraindo investimentos e movimentando a economia do país. Essas edificações de pavilhões e estandes erguidas para atender as grandes feiras e exposições, inicialmente e durante um longo tempo tinham a intenção de uma longa existência, mas normalmente ao término do evento eram demolidos, comprados ou remontados em outro lugar. Como afirma Puente (2000, p.9): [...] depois de atraírem tamanho interesse e atuarem como protagonistas durante o curto espaço de tempo das exposições, os pavilhões desaparecem repentinamente. Alguns são desmontados, outros são demolidos e, no melhor dos casos, são comprados por particulares como curiosidades, ou então viajam de exposição em exposição enquanto a sua frágil estrutura permitir. Alguns dos Pavilhões mais emblemáticos perderam toda a sua magia em reconstruções recentes, L´Esprit Nouveau de 1925 de Le Corbusie, o Pavilhão Alemão de 1929 de Mies van der Rohe, o da República Espanhola 1937 de J. LL. Sert e L. Lacasa e reconstruído para os Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992. 3 Movimento artístico e literário que aflorou na Europa, promovendo em toda parte uma disseminação da arquitetura, escultura, pintura, artes decorativas, literatura e música. 23 Ainda com o progresso e a modernidade, estas exposições se tornavam segundo Puente (2000) “laboratórios para experimentos arquitetônicos”, com o intuito de apresentar uma arquitetura criativa, com maior ousadia e coberta pelas inovações tecnológicas que estavam surgindo na época. Estes eventos buscavam a unificação das diversas produções industriais em diferentes nações do mundo expostas em um determinado local, uma forma de diminuir o afastamento dos países com a troca de conteúdos e informações. Com isso, poderiam naturalmente estimular um elo comercial entre indústrias, em locais que se reuniam representantes de diversos locais do mundo induzindo-os a compra e venda. (DANTAS, 2010) A primeira vantagem e mais importante que se tiradas exposições, segundo seus defensores, consiste em um crescimento formidável de nosso comércio exterior. As exposições são o meio prático oferecido aos industriais de revelar os progressosque atingiram e de afirmar sua superioridade (...).As exposições oferecem um meio de propaganda excelente: bem mais que os prospectos, bem mais que os anuários, mais mesmo que os viajantes de comércio, elas são capazes de agir sobre o espírito da clientela possível e de produzir uma profunda impressão sobre o comprador do estrangeiro, que é posto em contato com o produto, permitindo-lhe examinar e comparar os produtos que ele ignorava e ignorava sempre sem elas. (SANTOS,2013, p.1). A economia era um ponto muito importante, uma questão central a ser percebida nos eventos expositivos. A divulgação dos eventos, suas publicações, os visitantes, funcionavam como propagandas sobre os produtos, riquezas e objetos que eram mostrados ao público, exaltando o progresso industrial e a superioridades das potencias imperialistas. (SANTOS, 2013) Com todo esse desenvolvimento da indústria e essa visão político-econômica das exposições, surge a necessidade de projetar espaços para receber esse grandes eventos, espaços que impressionariam pela grandiosidade e que induzissem os visitantes e comerciantes a uma pratica de compra e venda, mas também de inovação tecnológica. Assim surgiram “os grandes ícones da arquitetura efêmera” como aponta Leite (2018). Estes ícones se tornaram projetos marcantes na história tanto da arquitetura quanto da engenharia, sendo que alguns serão analisados a seguir. 24 1.1.1. Palácio de Cristal No ano de 1851, foi aberta a primeira exposição universal, onde foi originado um concurso internacional para projetar o edifício, porém o vencedor realizou um projeto que não era passível de execução, por indicar materiais que não poderiam ser reaproveitados adequadamente após sua demolição, assim o projeto sofreu alterações de Joseph Paxton4. O pavilhão foi considerado um dos maiores edifícios pré-fabricados do mundo, utilizando como materiais base o ferro e o vidro, conforme Ching (2010),o pavilhão possuía cerca de 90 mil metros quadrados. Tornou-se um marco na tradição de feiras internacionais e um símbolo da exuberância do império britânico. [...] longe de ter sido projetado com árido calculo mecânico, o palácio de cristal e, realmente a construção mais visionária e ousada do século XIX. Apenas a ponte de Brookyn e a Torre Eifell, uma geração mais tarde, fariam frente a sua expressão lírica das potencialidades da era industrial. (BERMAN, 1986, p.224). 4Ver (MIOTTO, 2016, p.38) Figura 3: Palácio de Cristal - Londres Fonte: Disponível em: <http://alemdobigben.com/pontos-turisticos/crystal-palace- park-e-sua-historia/> Acesso em: 18 de out. 2019 http://alemdobigben.com/pontos-turisticos/crystal-palace-park-e-sua-historia/ http://alemdobigben.com/pontos-turisticos/crystal-palace-park-e-sua-historia/ 25 Segundo Miotto (2016) o edifício posteriormente foi desmontado e remontado em Sydenham5, onde ocorreu um incêndio em 1937 destruindo-o por completo. O palácio de Cristal fez sucesso devido sua técnica construtiva modular, pré- fabricada, e pela rapidez de montagem, isso possibilitou e influenciou que edifícios semelhantes fossem construídos em Nova York nos Estados Unidos. 1.1.2. Torre Eiffel Em 1889 em Paris, França, ocorreu mais uma das exposições universais, comemorando a Revolução Francesa, reforçando o patriotismo nacional e apresentando ao mundo as novas criações industriais do momento. (LEITE, 2018) Champs de Mars6 com seus 96 hectares correspondentes em média a 100 campos de futebol foi o local escolhido para receber a exposição, que segundo Lopes (2007), “contou com 61.722 expositores”. Gustave Eiffel foi o vencedor do concurso realizado para escolher o projeto do monumento inovador que se instalaria em Champs de Mars. 5 Parque localizado no sudeste de Londres. 6 Uma das maiores áreas verdes localizada no sétimo distrito de Paris Figura 4: Interior do Palácio de Cristal Fonte: Disponível em <http://interessanteoblo.blogspot.com/2012/12/exposicoes- que-retratam-avancos.html> Acesso em: 18 de out. 2019 http://interessanteoblo.blogspot.com/2012/12/exposicoes-que-retratam-avancos.html http://interessanteoblo.blogspot.com/2012/12/exposicoes-que-retratam-avancos.html 26 A torre de estrutura metálica com 324 metros de altura e 7.300 toneladas que foi construída para ser exposta temporariamente durante a Exposição Universal de Paris em 1889 permaneceu como um dos maiores símbolos do país. (MONASTERIO, 2006) 1.1.3. Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York em 1939 Segundo Comas (201-) a Feira Mundial de Nova York visava, apesar do pretexto de ser uma celebração de 150 anos da posse do primeiro presidente dos Estados Unidos, ser a recuperação econômica pós-crise da bolsa de valores de 1929. Em meio a hipóteses de guerra contra a Alemanha, o então presidente dos Estados Unidos utiliza a Feira para firmar aliados estratégicos para o país, como aponta Comas (201-, p.57): [...] O Brasil detinha matérias primas estratégicas, como quartzo e borracha; no caso de conflito, sua costa desempenharia papel vital no controle do tráfego transatlântico, aéreo ou marítimo. O incremento do comércio entre Brasil e Alemanha desde 1933 justificava os temores dos Estados Unidos quanto a uma aliança entre os dois países e esses temores aumentaram após o decreto do Estado Novo pelo presidente Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937. O interesse americano na participação brasileira na Feira era considerável, no plano econômico e Figura 5: Torre Eiffel em construção. Fonte: Disponível em <https://www.guiaparis.com.br/uma-breve-historia-da-torre- eiffel/> Acesso em 18 de out. 2019. https://www.guiaparis.com.br/uma-breve-historia-da-torre-eiffel/ https://www.guiaparis.com.br/uma-breve-historia-da-torre-eiffel/ 27 no político. A recíproca era verdadeira. Os Estados Unidos ainda eram o maior parceiro comercial do Brasil. [...] A participação do Brasil na Feira foi coordenada pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comercio, e em 1937 foi realizado um concurso público para a participação. Lucio Costa foi o vencedor seguido de Oscar Niemeyer, porém, em acordo com o ministro, os dois viajaram e elaboram o projeto juntos. (FUNDAÇÃO OSCAR NIEMEYER) O pavilhão representou o ambiente natural mostrando a identidade tropical brasileira na arquitetura e foi responsável pelo inicio da carreira internacional de Niemeyer. (MONASTERIO, 2006) Graça, leveza, extroversão, exuberância e porosidade respondem ao desejo de transmitir atributos convencionalmente considerados apropriados para um pavilhão de feira. [...] A elevação para o pátio ajardinado evoca a grandiloquência de outros pavilhões através da sua colunata colossal e ao mesmo tempo que a evita através de sua materialidade, trazendo à mente o Palácio de Cristal (1851) que continha uma feira inteira em Londres, a primeira com intenções universais.(COMAS, 201-, p.87) Figura 6: Pavilhão do Brasil. Fonte: COMAS, (201-) 28 1.2.Eventos e Feiras A evolução destas exposições vem se adaptando as conveniências impostas das diferentes épocas, atendendo as necessidades comerciais da sociedade por meio da arquitetura. Como aponta Rejón (2003), como consequências da revolução industrial que demarcou a constituição do capitalismo, nos tempos atuais presenciamos a era do consumo, onde a própria sociedade contemporânea se define como consumista e assim contribuem no desenvolvimento dos meios de comunicação e a disseminação de novos empreendimentos comerciais, gerando com isso modificações e impactos sociais e culturais. Com a adoção destas novas práticas sociais e culturais e a grande variedade de produtos no mercado, a estratégia para chamar atenção do público é o desenvolvimento de eventos característicos que levam um significado em torno da atividadeou produto comercializado. Rejón (2003, p.10) indica quatro conceitos que permitem analisar situações estratégicas para o projeto arquitetônico efêmero, são eles: O espaço analisando as características físicas do lugar em relação à proposta. O tempo, que não trata somente do aspecto físico do espaço, mas também da montagem e desmontagem da forma. O material, o que determina as características e atributos físicos do produto. E o significado, que o projeto deve se relacionar com o usuário, ir além da materialidade do espaço ou produto, sendo mais relevantes as experiências provocadas no consumidor. A partir daí a arquitetura efêmera aplicada aos eventos e feiras está ligada diretamente a ferramenta de promoção de imagem e a transmissão de mensagens dos expositores ao público. Tornando a apresentação destes projetos transitórios indispensáveis para a comunicação e marketing do evento. 29 1.2.1. Marketing O marketing é o conjunto de estratégias e ações que provêm o desenvolvimento, o lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor, visando aumentara aceitação e fortalecimento da imagem de algo para um determinado público. (MONASTERIO, 2006, p.50) Marketing não é só propaganda, a propaganda é apenas uma das ferramentas do marketing. O tema é mais complexo e cheio de interdisciplinaridades. Deve-se administrar e compreender todas as variáveis que interferem de forma direta ou indireta na relação da organização com o mercado. (PADILHA, 2004) O marketing evoluiu e tem um papel fundamental no mundo atual, deixou de ser uma ferramenta utilizada pela indústria para facilitar o escoamento da produção e melhorar as vendas, para se tornar segundo Monasterio (2006) uma “filosofia empresarial”, que vida atender todas as necessidades de quem o utiliza. A arquitetura promocional se torna uma das variáveis que interferem na relação do comércio e mercado. Ela pode ser usada atendendo as necessidades estratégicas do marketing dando característica ao local, divulgando informações, podendo até auxiliar no desenvolvimento econômico turístico de cidades/empreendimentos. Mesmo com essa relevância do projeto arquitetônico efêmero para o marketing, existem pontos que devem se ter maior atenção, como o tempo de montagem e desmontagem, o reaproveitamento e o custo da edificação, o estudo da forma do estande, sua flexibilidade e adaptabilidade proporcionada pelo projeto. 1.2.2. Estandes O avanço da tecnologia favoreceu um forte avanço da flexibilidade das estruturas modulares. Mas mesmo com essa capacidade trazida pelo desenvolvimento, grande parte destes projetos utilizam de uma vasta gama de materiais, o que exige uma execução mais especializada, e ainda abrangem aqueles que preferem o projeto sob medida, o que dificulta a instalação de sistemas pré-fabricados, favorecendo uma construção mais artesanal. (MONASTERIO, 2006) O projeto de arquitetura efêmera não difere muito dos meios utilizados para qualquer desenvolvimento de projeto arquitetônico, o único ponto que ganha maior relevância 30 nessa arquitetura é a busca por uma obra única e que facilite a montagem, desmontagem e transporte dos materiais utilizados. Cada projeto tem sua individualidade e complexidade e para Kowaltowski; Bianchi; Petreche (2011, p.21) além de ser complexo é: [...] resultado de manipulação criativa de diferentes elementos, como funções, volume, espaço, textura, luz, materiais, componentes técnicos e custos, desempenho e tecnologia construtiva. Não há um método único para resolver os problemas, pois cada caso é único e precisa de soluções específicas. Diferentes métodos, ferramentas, técnicas e formas de representação são necessários para lidar com diversas variáveis: sociais, culturais, legais, funcionais, estéticas, econômicas, psicológicas, tecnológicas, de conforto ambiental, e com diferentes escalas. Por isso a equipe de projetos tornou-se multidisciplinar e conta com a participação de especialistas de diferentes áreas. Os estandes também são formas consideradas efêmeras, e não menos importantes que os grandes pavilhões já aqui apresentados7, o objetivo de seu projeto é saber quais atividade ocorreram no ambiente, que tipo de pessoas irão utilizar, quando será usado e qual a ambiência principal a ser criada. Além disto, o projeto tende a utilizar de métodos construtivos leves e de estruturas independentes que ao serem desmontadas não evidenciem rastros ou prejuízos ao ambiente de exposição. O que determina um bom desenvolvimento do projeto de estandes é o entendimento do foco da feira, sua temática, o publico alvo, produtos que serão expostos, sistemas construtivos, montagem desmontagem, transporte e reaproveitamento. O processo de marketing do evento favorece e pode contribuir para este entendimento. Para Miotto (2016) o modelo mais adotado de estande é o básico, com sistemas modulares de perfis de alumínio e diferentes peças e acessórios, painéis e placas com revestimento brilhante de cor branca e forração de piso em carpete, com testeira para a identificação da empresa ou marca. Normalmente a escolha por este tipo de estande está relacionada ao custo mais baixo em relação a outras formas, a facilidade de montagem e desmontagem, geralmente feira por montadoras oficiais, e fácil disponibilidade para locação no mercado. 7 Ver capitulo 1 secção 1.1 Exposições Universais. 31 Há também o estande misto, que utiliza como base o estande básico, mas que permite associar outros tipos de materiais, como o vidro, placas de madeira ou MDF8,totem9, vitrines, forrações com tecidos, lonas e outros materiais maleáveis também vistos como forma de divulgação da marca. Ainda assim é utilizado o sistema modular no estande misto, onde somente algumas partes serão personalizadas com a utilização de outros materiais, sua montagem também é rápida e econômica, pois grande parte dos materiais pode ser reutilizada. 8 Em inglês Medium Density Fiberboard, que significa placa de fibra de média densidade. MDF é um material oriundo da madeira, fabricado com resinas sintéticas. 9 Totem é uma palavra derivada de "odoodem" que significa "marca da família", na linguagem indígena Ojibwe dos índios da América do Norte. O totem em âmbito comercial costuma ser um poste ou coluna e pode ser representado por qualquer objeto com a finalidade de divulgação de marca ou passagem de informação e interação com o público. Figura 7: Estande Básico Fonte: Disponível em <http://www.standshow.com.br/estande-basico.php> Acesso em: 21 de out. 2019 http://www.standshow.com.br/estande-basico.php 32 Nos estandes personalizados, a exigência ao projetista é maior, pelo entendimento da proposta do evento, a estética divulgada pelo marketing, aspectos de fabricação e montagem, desmontagem e mão de obra especializada, além da avaliação da possibilidade de reuso dos materiais. O maior diferencial e vantagem deste projeto é o seu potencial de imagem, que pode ser destacado pela imagem visual e estética, mas também por uma forma de divulgação e disseminação cultural. Figura 8: Estande Misto. Fonte: Disponível em <http://www.seieventos.com.br/fornecedores- bahia/stands/modulo/stands/montagem-de-stands-mistos-e-especiais> Acesso em: 21 de out. 2019 Figura 9: Estande Personalizado Fonte: Disponível em <http://simuladorvgp.blogspot.com/2015/12/> Acesso em: 21 de out. de 2019 http://www.seieventos.com.br/fornecedores-bahia/stands/modulo/stands/montagem-de-stands-mistos-e-especiais http://www.seieventos.com.br/fornecedores-bahia/stands/modulo/stands/montagem-de-stands-mistos-e-especiais http://simuladorvgp.blogspot.com/2015/12/ 33 Uma exposição deve ir além da formação dos estandes, é preciso se tornar notável, inovadora e que consiga se instalar namemória dos visitantes. É fundamental a constante apresentação de novidades pelos expositores, e estas se tornam ainda mais efetivas caso trabalhem com informações sensoriais no público. A quantidade, o tipo e a forma que se repassa a informação ao cliente influenciam altamente na memorização, sendo que o primeiro contato, e o mais forte que o cliente tem com o evento, é o visual. Como aponta Monasterio (2006, p.67); [...] além de ousadia, para se fazer uma exibição fixar-se na memória do visitante é necessário dar importância ao produto, usar os sentidos para atrair visitantes, ser breve, organizado e repetitivo. Qualquer informação que vem a nossas mentes tem que entrar por um ou mais de nossos cinco sentidos, pois quanto mais envolvidos estivermos, maior a memorização. Assim, se algum lugar ou produto tiver som agradável, se for prazeroso à nossa visão, se for passível de ser tocado ou nos remeter a sabores e odores agradáveis, então nossa memória terá muitos elementos a rastrear e a chance de memorização será muito maior. Criar experiências sensoriais é um passo lógico para a integração entre cliente e produto e para o destaque de um expositor frente à concorrência. Os ambientes imersivos provocam experiências que fazem o visitante retornar ao estande, aumentando a possibilidade de destaque em uma feira. Para um bom desenvolvimento de uma exposição ou estande, é necessário se atentar não só com o tipo de estande mais adequado para seu produto, mas também com a experiência que irá promover ao visitante e o quanto isto poderá contribuir no fortalecimento da marca e divulgação do produto e empresa. A característica e identidade visual e sensorial que o estante oferece para o evento e a feira contribui diretamente com o marketing promocional da exposição, podendo até mesmo ter contribuição no turismo da região. Os tipos de eventos influenciam diretamente nas características projetuais para o estande e também no marketing promocional da exposição. A escolha do tipo de estande adequado ao evento apropriado, a cada proposta pode gerar um forte impacto tanto positivo quanto negativo não só à empresa promotora e seus parceiros, mas à toda comunidade envolvida. 34 1.2.3. Tipos de eventos Evento é o fenômeno multiplicador de negócios, que busca maior potencial de novos fluxos de visitantes, é capaz de determinar toda dinâmica de uma economia. (ALBUQUERQUE, 2004) Para Andrade (2002, p.41), os eventos atendem as necessidades de mercado em forma de entretenimento, lazer, conhecimento, descanso, entre outras motivações. Podem representar a valorização dos conteúdos locais tornando-se parte das atrações ou somente atender às exigências do mercado consumidor. A criação de um evento implica no aproveitamento das características originais da localidade que irá recebê-lo, assim o objetivo do evento ultrapassa a satisfação do público e gera uma forma também de trazer diversidade para um determinado local, divulgando atrativos turísticos e movimentando a economia. Brito e Fontes (2002) definem a classificação dos eventos em: Categoria; Institucional: quando visa criar e ou firmar o conceito de imagem. Promocional ou mercadológico: quando objetiva a promoção de um produto ou serviço em apoio ao marketing e para fins de mercado. Área de Interesse; Artística: que está relacionada a qualquer tipo de arte. Cientifica: que trata de assuntos voltados a pesquisa cientifica. Cultural: que ressalta os aspectos da cultura, objetivando sua divulgação e reconhecimento, com fins promocionais. Educativa: que foca na divulgação de didáticas avançadas correlatas á educação. Cívica: que trata de assuntos ligados á Pátria e á sua história. Política: relacionados com assuntos políticos. 35 Governamental: trata de realizações do governo em qualquer esfera. Empresarial: foca em pesquisas e resultados das organizações. Lazer: proporciona entretenimento aos seus participantes. Social: são de interesse comum da sociedade. Desportiva: realizado dentro do universo esportivo. Religioso: voltado a interesses e assuntos religiosos. Beneficente: programas e ações sociais que divulgam e/ou auxiliados de acontecimentos públicos. Turística: com a finalidade de divulgar e promover o turismo. Localização, podendo ser locais, distritais, municipais, regionais, estaduais, nacionais e internacionais. Características estruturais avaliam: O porte do evento sendo pequeno, médio ou grande; A data, se é fixa, móvel ou esporádica; E o perfil, se é geral, dirigido ou especifico. Tipologia, que analisa sua característica mais marcante. (Tabela 1.) Tabela 1: Tipologia de eventos 36 A caracterização de um evento de sucesso vai ser definida a partir da análise de condicionantes do local e do intuito da proposta, assim são definidas as tipologias do evento e levadas em considerações informações relevantes, como a infraestrutura do local pensado para receber o mesmo, o que irá interferir diretamente no resultado positivo ou negativo para o local. A partir desta conceituação de eventos, este trabalho tende a seguir abordando eventos de categoria promocional, com área de interesse cultural, de lazer, social e turística, em localização regional e municipal, com características estruturais de porte médio a grande, com data fixa, o perfil geral e tipologia de exposições. Nos capítulos e seções seguintes serão apresentados informações e conceitos voltados ás cidades pertencentes ao estado de Minas Gerais. Fonte: ALBUQUERQUE (2004) 37 2. Pequenas cidades Coutinho (2011, p.85) aponta que o critério que mais se aproxima da definição de urbano é: “um conjunto de fenômenos ou atividades desenvolvidas através das práticas sociais presentes na localidade”. As estatísticas internacionais estabeleceram um marco de 20.000 habitantes para esse tipo de cidade, mas isso, no entanto, não significa grande coisa, visto como um marco numérico é sempre artificial; os marcos reais são os funcionais; isto porque só a partir de um certo estágio de desenvolvimento e dinamismo é que a cidade se define (SANTOS, 1981, p. 15). Nesta grande complexidade socioespacial que configura o espaço geográfico brasileiro encontram-se cidades de todas as variedades, de cidades com pouca expressão funcional até as mais estruturalmente organizadas com maiores funções urbanas que acabam se tornando apoio á população de centros menores. Apesar de estas pequenas cidades possuírem uma capacidade reduzida ao desenvolvimento e às fontes geradoras de renda em relação aos grandes centros urbanos, ambas relacionam entre si, seja fornecendo apoio às atividades não presentes em outras regiões ou simplesmente em condições de mercado, fornecendo produtos que abasteçam a população. E mesmo com a relação permanente das duas formas urbanas, na maioria das situações as pesquisas, os estudos, os investimentos, são direcionado as regiões metropolitanas que se caracterizam por possuírem os principais fluxos econômicos do país, os maiores aglomerados populacionais e consequentemente as maiores desigualdades sociais e a grande complexidade de problemas. As pequenas cidades ficam em segundo plano quando se trata de planejamento e fomentação de investimento econômico, e com a falta de alternativas e a baixa perspectiva de crescimento acabam sendo alvo da perda de grande parte da população jovem que migra para estas metrópoles em busca de formação e emprego. 38 BRANCO; SEGALA (2017) apresentaram uma pesquisa que relata as 100 melhores cidades do Brasil para investir em negócios. Nenhuma destas cidades possui menos que 100.000 habitantes, o estudo levou em consideração 28 indicadores, entre eles estão: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social, infraestrutura e capital humano10. É na região sul e sudeste que se encontram o maiornumero de cidades retratadas na pesquisa (Figura 10), São Paulo é o estado com a maior parte das cidades, seguido por Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. Em Minas Gerais entre as cidades ranqueadas estão: Belo Horizonte (9º), Uberlândia (28º), Juiz de Fora (43º), Araxá (71º), Uberaba (73º), Varginha (80º), Pouso Alegre (83º), Lavras (86º) e Poços de Caldas (92º). Entre as dez primeiras colocadas estão as capitais dos estados do Sul e Sudeste do país. Enquanto estas grandes cidades chamam cada vez mais atenção de economistas, investidores e da população em geral, as cidadezinhas do interior se tornam reféns da 10 É o conjunto de conhecimento, habilidades e atitudes que favorecem a realização de trabalho de modo a produzir valor econômico. São os atributos adquiridos por um trabalhador por meio da educação, perícia e experiência. Figura 10: 100 melhores cidades do Brasil para investir em negócios. Fonte: EXAME (2017) 39 busca de outras formas de captação de renda para seu desenvolvimento, como a estimulação do turismo e cultura local. A explicação do constante desenvolvimento destes grandes centros urbanos e suas diferenças para as pequenas cidades está vinculada a formação e surgimento desses núcleos urbanos, visto que alguns se instalaram em locais propícios para a exploração de minerais e da agricultura e outros se caracterizavam apenas por serem locais de passagem. 2.1. Formação dos núcleos urbanos A ocupação do território brasileiro foi feita pouco a pouco, Portugueses e Espanhóis partiram do litoral Brasileiro adentrando e explorando o interior do país. Flexor (1988) aponta que apenas três das 37 povoações presentes em 1650 se desenvolveram em cidades, “Salvador, Rio de Janeiro e Filipéia de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa”. Nesta época os portugueses se sentiam ameaçados e muito preocupados sobre o avanço colonizador espanhol, foi instituído assim as “Cartas Régias” que levavam instruções por todas as regiões do Brasil, para autoridades de cidades promoverem a criação de vilas e povoados locais próximos à localidade das cidades para então conseguir reaver territórios frente aos espanhóis. Ainda para Flexor (1988, p.92): A fundação de povoações e/ou vilas pretendia reunir os habitantes para que os mesmo se agregassem e não morassem somente em sítios dispersos. As instruções da citada carta ordenavam que todos os lavradores construíssem casas nos centros urbanos para, pelo menos de tempos em tempos, reunirem-se em “sociedade civil”. [...] As autoridades pretendiam, além do mais povoar o território para adiantar a cultura e lavoura dos campos que ficam místicos às povoações para produzir o suficiente para o abastecimento local e um excedente para exportação. Essa forma de criação de vilas e povoados sofria com problemas naturais, como a falta de alimento e mão de obra especializada, e com isso passavam por um processo de despovoamento da região, mas ao mesmo tempo favoreciam outras regiões com a migração destas populações em busca de condições melhores. (FLEXOR, 1988) 40 Posteriormente com a descoberta do ouro de aluvião nos primórdios do século XVIII, houve um grande deslocamento da população colonial e também a vinda de migrantes portugueses que seguiam a exploração de Minas Gerais buscando uma possibilidade e esperança de enriquecimento rápido. Esse fato proporcionou que Minas Gerais possuísse uma das principais concentrações demográficas do país. Minas Gerais, com o auge da exploração do ouro entre as décadas de 1750 e 1760 foi um polo unificador de comunicação e comércio brasileiro e possibilitou a mudança do cenário econômico do país, como aponta Frederico (2009, p.3). A forte especialização produtiva estimulou a estruturação de uma rudimentar divisão territorial do trabalho, interligando as regiões Nordeste e Sul – fornecedoras de carne e animais de transporte – às regiões mineiras. A atividade aurífera unificou as regiões e promoveu a interiorização do território. Enquanto algumas regiões se especializavam na criação de animais, outras se ocupavam da engorda e distribuição, enquanto as regiões mineiras configuravam-se como mercados consumidores. A extração do ouro se manteve por mais algumas décadas, e nestas regiões onde se perdurou por mais tempo se consolidaram núcleos urbanos com relevante concentração populacional, mas segundo Frederico (2009, p.4) “A incapacidade técnica impossibilitou a criação de formas permanentes de atividades econômicas” e como consequência favoreceu o rápido declínio da era do ouro, iniciando a dispersão dos trabalhadores (donos de lavras, faiscadores e escravos) pelo território mineiro, provocando o surgimento de pequenos povoados. As redes de transportes criadas e estruturadas para conectar as regiões das minas com o litoral do país foram as principais vias de surgimento de povoados e vilas, visto que continuaram sendo usadas após a queda da extração do ouro, por meio da reformulação econômica realizada no final do século XIX e inicio do século XX, que visava o desenvolvimento e expansão da agricultura nacional, possuindo seu maior avanço na produção do café que se espalhava entre o sul de Minas Gerais e São Paulo. A expansão da agricultura voltada à produção e exportação do café foi um importante passo para a movimentação da economia do país, principalmente no estado de Minas Gerais, que assim passou a investir na industrialização, planejamento e estruturação dos centros urbanos. 41 2.2. Características urbanas de pequenas cidades As cidades e o que elas oferecem a população se tornam uma parte crucial no entendimento da dinâmica da sociedade. O país é diverso em diferentes sentidos, inclusive em termos populacionais, cada cidade tem sua peculiaridade e tendência a seguir e desenvolver um caminho de evolução próprio, assim é por meio do aspecto da cidade e de suas atividades desenvolvidas que se viabilizam ou não as facilidades de manifestações culturais, organização produtiva e articulações políticas. As interações entre cidades de pequenos, médios e grandes centros contribuem e facilitam nas ações do poder público, empresas e sociedade civil, considerando que suas dependências e relações facilitam uma movimentação em cadeia. As pequenas cidades não se limitam então a sua dimensão ou a espaços com funções de suprimento das necessidades básicas da população residente e/ou do entorno rural, julgando que com esta movimentação em cadeia e a rede de comunicação atual fica simplificado o poder de articulações entre cidades até mesmo de pequeno porte, mesmo em proporções menores em relação aos grandes centros. Para além da quantidade de habitantes e seu histórico de formação espacial, Gonçalves (2005, p. 199) aponta que na definição da categoria de pequenas cidades também entram em questão “as dimensões espaciais, o numero de habitantes, a pouca diversidade de funções urbanas, a dependência de um centro maior, a temporalidade lenta, a relação com a vida rural e a proximidade entre as pessoas são os principais elementos que caracterizam as cidades pequenas [...]”. Pequenas cidades são marcadas então pelo cotidiano simples e pela falta de perspectivas de desenvolvimento social, de diversidade e quantidade de emprego, pela dependência de centros maiores e pela baixa distribuição de renda. (COUTINHO, 2011) Estas cidades se caracterizam pela falta de serviços públicos e privados que promovem o lazer, a comunicação e a cultura da população residente, sendo assim, estas aglomerações se tornam carentes de equipamentos urbanos que possibilitam a diversificação de atividades. Neste cenário, fica claro a dependência que pequenas cidades têm sobre os programas assistencialistas do Estado e dos empregos públicos existentes, sendo a melhor forma de manter a permanência em condições razoáveisda população, mesmo havendo a 42 possibilidade de migrarem para cidades de porte similares visando as melhores condições de investimento que a administração publica proporciona aos cidadãos. Coutinho (2011, p.90) ressalta: Cada cidade organiza-se seguindo as determinações sociais dos agentes responsáveis por sua formação. Os monumentos históricos, a morfologia das ruas e a distribuição dos equipamentos urbanos apresentam peculiaridades espaciais quando se trata dos bairros centrais ou de outros periféricos. Os primeiros são quase sempre dotados dos serviços públicos mais valorizados. Os demais, periféricos, onde os benefícios são difíceis de ocorrer, espelham uma fisionomia urbana marcada por ruas habitadas por moradores com baixo poder aquisitivo, que servem de suporte ao crescimento econômico e à qualidade de vida da população que ocupa a área central da cidade pequena. Apesar de sua estrutura e formas terem relação com a formação do núcleo urbano local, a cidade se modifica por meio das práticas sociais e da necessidade de mudança exigida pela sobrevivência, gerando alterações nos hábitos e transformações na organização do espaço, que tendem exaltar os marcos urbanos das áreas centrais já que provavelmente é a região mais visitada pela população. Ainda Coutinho (2011, p.91) alega que: O uso de determinadas áreas das cidades está diretamente ligado às condições socioeconômicas da população, que não está imune às contradições e às desigualdades sociais expressas nas moradias e na utilização do solo urbano. O poder público demonstra maior preocupação com a área central, onde geralmente se realizam os eventos políticos e as festas tradicionais, propiciando maior mobilidade e circulação de pessoas em comparação ao restante da cidade, visto ser o espaço onde se desenvolvem as atividades consideradas como as mais importantes para a sociedade, que o vê como um lugar simbólico da vida coletiva. Por isso, passa a ser referência e, ao mesmo tempo, diferença no contexto espacial da cidade. Isso pode ser explicado através da permanência de antigas funções tradicionais, como o pequeno comércio e a feira livre municipal, que, por conta de uma fraca infraestrutura urbana e das condições sociais, não se dispersam por outros bairros da cidade. Os maiores problemas destes pequenos centros são relacionados à carência de atividades de econômicas e de lazer capazes de atender as necessidades da população, o que acaba limitando as possibilidades de crescimento e obrigando parte da população a migrar para centros urbanos mais dinâmicos. 43 2.2.1. Relação entre o indivíduo e a cidade Nos grandes centros urbanos a vida da população é condicionada a uma rotina rodeada por insegurança e desconfiança de tudo e de todos, as pessoas vivem em grandes aglomerações verticais com grande rotatividade de indivíduos, muitas vezes desconhecidos, que utilizam de meios de locomoção para qualquer situação e que muitas vezes são sobrecarregados. A desigualdade social acaba se tornando mais clara pelo alto poder aquisitivo de parte da população e devido ao alto índice de violência acabam possuindo um toque de recolher onde enfim a cidade reduz sua movimentação mas não cessa suas atividades pois há variedades de serviços tanto diurnos quanto noturnos. Diferente disto, nas pequenas cidades fica presente a calmaria, a facilidade de locomoção devido à falta de um transito intenso de veículos, muitas vezes todos os cidadão se conhecem mesmo que seja somente visualmente, ainda assim possuem índices de violência, mas, muito menores quando comparados aos grandes centros. A arte de viver pacifica e alegremente com as diferenças e de extrair benefícios dessa variedade de estímulos e oportunidades está se transformando na mais importante das aptidões que um citadino precisa aprender e exercitar. (BAUMAN, 2009, p.48) Essas condições de rotinas diversas moldam e afetam diretamente as características, tanto das cidades quanto das pessoas. E é por meio dos espaços urbanos que essa aproximação e troca de sentimentos das diferenças ocorrem e geram nos desfrutadores destes espaços mapas mentais que segundo Bauman (2001) fazem parte destes mapas todos os espaços e serviços que usufruímos e definimos como relevante em um percurso da cidade. Cada indivíduo gera seu mapa de acordo com sua habitualidade e aproximação do espaço. O autor ainda destaca que ao criar esses mapas mentais algumas áreas são mais valorizadas e outras se tornam mais desconhecidas. Com isto, então, a cidade vai promovendo sua imagem através da população. Nas pequenas cidades é muito comum encontrar nos mapas mentais espaços públicos de encontros comuns, como praças, escolas e igrejas, já que não existe muita variedade de espaços de convívio comum. Nestes pequenos centros também fica mais claro as relações de identidade e pertencimento do lugar no processo de apropriação do espaço, as pessoas depositam 44 valores ligados aos sentimentos de afeto e identidade no lugar que cresceram e julgam pertencer e fazer parte da história. Buscar a identidade e o sentimento de pertença de um lugar é procurar compreender o entrelaçar das falas e conceitos que dão forma aos espaços. Os significados, os sentidos e os valores atribuídos a um espaço, e que constituem sua identidade e pertencimento são elaborados e reelaborados a cada momento. (SILVA, 2013, p. 199) 2.3. Economia das pequenas cidades Nas pequenas cidades é comum às atividades econômicas serem voltadas ao comércio familiar que atende as necessidades básicas da cidade como, pequenos mercados, farmácias, panificadoras, lan houses, bares e lojas de roupas. Muita das vezes essas atividades são a única fonte de renda de algumas famílias, já que há uma forte dependência destes pequenos centros por empregos oriundos do setor publico. Outra fonte de arrecadação econômica são as festividades locais que geralmente tendem a ser vinculada a igreja, a comemorações relacionadas à cidade e/ou festividades associadas à alguma produção local. Essas comemorações promovem além da movimentação econômica e do entretenimento da população, o turismo na região. 2.3.1. Economia e turismo O turismo se tornou uma das atividades econômicas que mais crescem no mundo sendo muito influenciado por políticas econômicas e sociais. Segundo estudos relatados por Albuquerque (2004), “o turismo é o setor mais lucrativo da economia mundial”, movimentando 3,4 trilhões de dólares anualmente sendo que 850 bilhões são oriundos do turismo relacionado a eventos, que é um setor que tem uma taxa de crescimento anual de 30%. Albuquerque (2004, p. 38) ainda completa: Na década de 90, o número de turistas que entrou no Brasil com a finalidade de participar dos mais variados eventos oscilou entre 34 e 71 mil pessoas. A média de permanência destas pessoas é de 2,6 dias, com um gasto diário de R$ 392,05. Vale ressaltar, ainda que 52% destes eventos foram realizados na região Sudeste. 45 O turismo promove rentabilidade, geração de empregos, divulgação de imagem, e até estimula iniciativas de investimento público. Mas também pode gerar sazonalidades, em alta temporada, como o congestionamento, a carência no abastecimento de água e energia elétrica, a falta e falha de rede de esgoto, o aumento da poluição e geração de resíduos, e também em baixa temporada, onde toda a preparação para receber o evento e o publico cai em desuso gerando desemprego da população local. Ao se produzir um evento deve-se analisar diversos fatores que implicaram na economia, a administração organizadora deve analisar quais investimentos necessários em infraestrutura o local precisa receber, mas, também analisar o pós-evento, dando utilidade e funcionalidade à estrutura montada anteriormente de modo que tenha serventia para outras aplicações em beneficio da população local. A maior barreira encontrada pelaspequenas cidades na geração do turismo de eventos, é a baixa infraestrutura que a maioria destas cidades apresenta, não contendo uma organização capaz de suprir as necessidades básicas do público extra esperado para o evento, gerando desconforto tanto na população local quanto na excedente. Outro empecilho é a falta de recurso para investimento nesse tipo de infraestrutura, já que muitas vezes os pequenos centros não mantém um ritmo de produção de eventos capaz de movimentar a cidade gerando retorno ao investimento. 2.3.2. Eventos e feiras Como abordado anteriormente os eventos tem uma contribuição muito relevante para a economia nacional, e principalmente para pequenas cidades, que muitas vezes encontram nessa forma de arrecadação uma oportunidade de independência de recursos provenientes do estado para investimento e desenvolvimento local. É comum presenciar em pequenas cidades eventos e festividades relacionadas à cultura e produção de recursos locais, como o milho, a cachaça, o queijo, a gastronomia, celebrações folclóricas, entre outras. Esses eventos estimulam a economia local, promovem o turismo e a imagem da cidade, que quando bem vista 46 forma uma clientela11 que posteriormente retorna à cidade trazendo amigos e familiares com o intuito de conhecer mais sobre a cultura local. A organização destes eventos é primordial para seu sucesso e sua consolidação. Um evento bem estruturado é um evento bem sucedido, e permite uma abertura para que a cidade desenvolva e promova atividades similares. Tiradentes, em Minas Gerais, recebe o festival gastronômico, que busca valorizar a culinária brasileira, é uma ação da Plataforma Fartura que originou na cidade mineira e que hoje abrange outras sete cidades, entre elas Lisboa – Portugal. O evento ocorre durante 10 dias recebendo mais de 200 atrações gastronômicas diurnas e noturnas divididas entre três localidades da cidade, com o público estimado em 50 mil pessoas. Além da geração de interesse no publico alvo através do paladar o evento conta com outras atrações que divulgam a cultura local como música e passeios turísticos. (PEIXOTO, 2019) Tiradentes ainda recebe outros eventos reconhecidos como O festival de cinema, mas o Festival gastronômico foi um sucesso promovendo atividades interativas com o publico, mesmo não sendo relacionada à gastronomia. A prova deste êxito é a difusão do evento para outras cidades e até mesmo fora do país. Festas e eventos relacionados ao queijo, ao milho, a cachaça etc., ocorrem em diversas cidades do país, todas com o intuito de promover a produção e movimentar a economia local. 11 Conjunto dos clientes que recorrem, mediante pagamento, aos serviços de uma pessoa, empresa ou organização determinada; conjunto dos compradores; freguesia. Figura 11: Festival Gastronômico de Tiradentes Fonte: Disponível em: <https://www.viajenaviagem.com/2015/09/tiradentes-festival- gastronomia-dicas/> Acesso em: 03 de nov. 2019 https://www.viajenaviagem.com/2015/09/tiradentes-festival-gastronomia-dicas/ https://www.viajenaviagem.com/2015/09/tiradentes-festival-gastronomia-dicas/ 47 A festa do queijo de Serro, em Minas Gerais, já está em sua 33º edição, o evento reúne uma extensa programação com participação de produtores de 11 municípios fabricantes de Queijo Minas Artesanal do Serro, promovendo um festival gastronômico que abrange concursos de queijos, feiras, musica além de cursos e palestras dirigidos aos produtores. O festival já é consagrado e visto como um dos principais eventos culturais da região, que promove a divulgação de uma cultura e produção artesanal de queijo que possui cerca de 300 anos de tradição. (AVELAR, 2019) O evento se desenvolveu de tal forma que possibilitou nesta ultima edição realizada entre os dias 10 e 13 de outubro de 2019 a abertura de um novo festival que ocorrerá na cidade de Milho Verde – MG, com o intuito de apresentar a culinária local e dar visibilidade e capacitação aos pequenos negócios presentes na região. (AVELAR, 2019) Estes eventos em sua grande maioria são realizados com o apoio da prefeitura de órgãos públicos municipais e estaduais, possuem o intuito da promoção e divulgação da produção local e visão a fomentação da economia, bem como a valorização de outros produtores e comerciantes da região. Figura 12: Festa do queijo do Serro Fonte: Disponível em: <http://abraleite.org.br/wp-content/uploads/2018/11/WhatsApp- Image-2018-11-23-at-16.19.06.jpeg> Acesso em: 03 de nov. 2019 http://abraleite.org.br/wp-content/uploads/2018/11/WhatsApp-Image-2018-11-23-at-16.19.06.jpeg http://abraleite.org.br/wp-content/uploads/2018/11/WhatsApp-Image-2018-11-23-at-16.19.06.jpeg 48 3. São Tiago – MG A pequena cidade do interior de Minas Gerais teve sua origem junto ao início do ciclo do ouro no estado. O mineral foi encontrado por volta de 1708 em Vargem Alegre despertando a atenção da população pelo local. Em 1761 com a concessão da licença da construção da Capela de São Tiago Maior e Sant‟Ana cedida pelo primeiro bispo de Mariana iniciou-se o processo de povoação da região, onde os primeiros moradores instalavam suas simples residências de características colonial no entorno da capela. Como aponta Viegas (1972), a economia local durante todo seu desenvolvimento girou em torno da agropecuária já que a extração do ouro na região nunca chegou a grande relevância. Sem gerar interesse em grandes indústrias, a economia se desenvolvia lentamente através do cultivo de mandioca (principalmente utilizada para fabricação de polvilho), do café, do fumo, da pecuária e seus derivados. Figura 13: Largo da praça central de São Tiago Fonte: Disponível em: <http://www.saotiago.mg.gov.br/pagina/781/HIST%C3%93RICO> Acesso em: 05 de nov. de 2019 http://www.saotiago.mg.gov.br/pagina/781/HIST%C3%93RICO 49 Em 1948 por meio da Lei Estadual 336 que estabelece a divisão judiciária e administrativa do estado, São Tiago foi elevado a município e emancipado sendo desmembrado de Bom Sucesso em 1 de janeiro de 1949. Durante os próximos dezesseis anos e a sequência das cinco administrações eleitas, a cidade conseguiu serviços básicos de infraestrutura para sua sede e seu distrito e povoados, como serviços telefônicos, energia elétrica, abastecimento de água, redes de esgoto e a abertura e melhorias de caminhos e estradas que ligavam o município aos distritos, povoados e cidades próximas que eram responsáveis pelo auxilio na oferta de serviços, suprimentos e comércio que não se encontravam no local. (VIEGAS, 1972) Já em 1970 era visível o potencial econômico da cidade, que mesmo com seus 9.461 habitantes da época já possibilitavam uma renda municipal de Cr$ 340.000,0012 (R$ 2.035.040,54reais) sendo superior a renda estadual de Cr$ 250.000,00 (R$1.496.353,34reais) 13. (VIEGAS, 1972) Setenta anos após sua emancipação a cidade não perdeu sua característica de cidade do interior, ainda possui o povo muito acolhedor e receptivo, mas, o foco da economia agora é outro, o município se apropria da antiga habilidade e tradição de fazer quitandas, fabricando e levando o produto para diversas localidades nacionais. A indústria do biscoito hoje é a maior responsável pela geração de empego e da economia local, e assim faz da cidade um destaque não só na região, mas também nacionalmente sendo conhecida com a “Terra do Café-com-Biscoito”, como afirma Denilson Reis atual prefeito da cidade, “Vejo a importância de São Tiago dentro de um contexto regional. Nossas taxas de emprego e renda são diferenciadas e geram impactos positivos na região”. O município hoje faz parte da mesorregião do Capo das Vertentes (Figura14) em Minas Gerais, sendo formada por 36 municípios que são agrupados em 3 microrregiões, o relevo dessa região é definido pelos diversos morros e daí se originou o nome da
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