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ECONOMIA BRASILEIRA - AULA 4

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ECONOMIA BRASILEIRA 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Roberto Luiz Remonato 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, vamos estudar o desenvolvimento e o planejamento 
econômico com base em discussões que ocorreram, sobretudo, entre as 
décadas de 1930 e 1980. Não por acaso, esse intervalo temporal compreende o 
início e o esgotamento das propostas e aplicações do modelo 
desenvolvimentista. Iniciaremos com a delimitação do conceito de 
desenvolvimento e sua diferença em termos de amplitude com o processo de 
crescimento econômico. Em seguida, vamos discutir algumas teorias que 
fundamentam hipóteses com relação a uma suposta tendência à estagnação, 
verificada nos países subdesenvolvidos. A seção subsequente procura delinear 
os principais elementos do debate de Roberto Simonsen versus Eugênio Gudin. 
A partir daí, vamos realizar uma análise das correntes teóricas de pensamento 
econômico presentes no Brasil entre 1930 e 1964 para, na sequência, verificar, 
de forma sucinta, o conjunto dos elementos apresentados, com vistas a delinear 
os contornos do que veio a ser considerado o auge e o declínio do 
desenvolvimentismo no Brasil. 
Após essa aula, estará capacitado a distinguir os conceitos de 
desenvolvimento e crescimento econômico; a avaliar o debate em torno do papel 
do Estado nas economias subdesenvolvidas; a explicar as principais correntes 
econômicas, no Brasil, entre 1930 e 1964; a compreender o conceito de 
planejamento governamental e sua história no Brasil; e a analisar a influência do 
pensamento desenvolvimentista na formação política. 
TEMA 1 – ENTENDENDO O DESENVOLVIMENTO 
Primeiramente, podemos afirmar que o desenvolvimento é, em síntese, o 
conceito que representa o processo de melhoria da qualidade de vida das 
pessoas. Dessa forma, devemos diferenciar crescimento econômico de 
desenvolvimento. 
O primeiro diz respeito ao aumento da renda nacional. Um país cresce 
economicamente quando há um aumento no seu Produto Interno Bruto (PIB) – 
o somatório dos bens e serviços finais produzidos em uma economia, durante 
determinado período de tempo, e com base em unidades monetárias. Portanto, 
o crescimento econômico é um processo quantitativo, que pode ser medido por 
variações do PIB. 
 
 
3 
Já o segundo conceito é algo muito mais amplo. O desenvolvimento de 
uma nação envolve a melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos. Podemos 
afirmar que a qualidade de vida de uma população envolve diversos fatores, 
entre eles uma boa capacidade econômica por parte dos indivíduos; boas 
condições de saúde; educação de qualidade; preservação do meio ambiente; 
mobilidade urbana; segurança pública; liberdade; entre outros. 
Para que um país subdesenvolvido se torne desenvolvido, o crescimento 
econômico é necessário, mas não suficiente. Mais do que crescer, uma nação 
subdesenvolvida precisa aumentar a distribuição de renda e a aplicação de 
recursos em áreas que promovam maior qualidade de vida na sociedade como 
um todo. Portanto, o desenvolvimento é um processo qualitativo, que pode ser 
medido pela análise de uma série de indicadores. Dentre deles, podemos citar o 
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), calculado pela ONU. 
TEMA 2 – A TENDÊNCIA PARA A ESTAGNAÇÃO DOS PAÍSES 
SUBDESENVOLVIDOS 
O século XX foi marcado por mudanças bruscas no entendimento do 
papel do governo e pela questão de até que ponto ele deveria intervir na 
economia, em busca de crescimento e desenvolvimento. Analisaremos algumas 
teorias que não encontraram explicações satisfatórias para a persistente 
estagnação de crescimento dos países latinos. A primeira linha de estudos que 
destacaremos é aquela que marcou todo um novo processo de entendimento 
latino: a teoria cepalina de desenvolvimento; posteriormente, demonstraremos a 
contribuição da teoria da estagnação e, por fim, o entendimento do processo pela 
teoria do capitalismo tardio. 
Nos anos 1950, visando entender o processo de industrialização que teve 
início tardiamente na América Latina, intelectuais formaram, em Santiago do 
Chile, a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), que, em sua 
essência, fundamentava a participação ativa do Estado na industrialização. O 
motor da formação desse centro de estudos foi o contexto social e político, que 
ensejou a interpretação do subdesenvolvimento local como uma falha na adoção 
do sistema liberal, que induziu os países latinos a uma produção periférica de 
bens, principalmente primários – alimentos e produtos de baixo valor agregado. 
Durante a década de 1950, a situação que se via era de um contínuo 
processo de industrialização nos chamados países centrais (Estados Unidos e 
 
 
4 
Europa pós-guerra), com reflexos nos salários. Na outra ponta, os denominados 
países periféricos continuavam a vender bens de pequeno valor agregado, sem 
obterem aumentos salariais e ganhos na balança comercial. Daí resultava a tese 
de que havia uma tendência de estagnação nos países subdesenvolvidos. 
Desse modo, a formulação teórica cepalina propunha que o caminho para o 
crescimento passaria por dois pilares: o nacionalismo e a indução da 
industrialização. 
No final dos anos de 1960, surgiu outra corrente de pensamento, que não 
estava satisfeita com as explicações cepalinas de estagnação. Apesar do 
relativo sucesso que o Plano de Metas obteve durante o governo Juscelino 
Kubitschek, os movimentos mais à esquerda criticavam esse crescimento, sem 
redistribuição de renda e sem participação popular. 
O trabalho que marcou o início dessa corrente foi Desenvolvimento e 
Dependência da América Latina, de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, 
publicado inicialmente em 1967. A proposta do livro era ir além da visão 
puramente econômica, e aplicar um entendimento mais sociológico, entendendo 
a dinâmica das classes e evitando a solução revolucionária proposta pela linha 
marxista. Um dos pontos principais desse trabalho era a crítica à interpretação 
imperialista ou à relação centro-periferia descrita anteriormente. Para Cardoso e 
Faletto, o crescimento dos países subdesenvolvidos não era resultado do 
imperialismo. A estagnação seria vista como carência nas relações entre as 
nações e suas classes dominantes. Por sua vez, o modelo de solução de 
crescimento proposto pela Cepal, via substituição de importações, não foi viável, 
pela ausência de poupança, tanto interna como externa, e pela escassez de 
demanda. 
O capitalismo tardio, também denominado industrialização retardatária, 
surgiu como uma crítica ao pensamento cepalino. A teoria tentou abraçar as 
críticas ao modelo cepalino e elucidar todas as novas relações existentes na 
economia brasileira das décadas de 1960 e 1970. O nascimento do processo de 
industrialização brasileiro seria buscado dentro da economia colonial 
exportadora. Predominava, desse modo, a hipótese de que as atividades 
capitalistas internas cresceram subordinadas à dinâmica agroexportadora, 
principalmente do setor cafeeiro. Com os excedentes criados no setor 
exportador, surgia a demanda por produtos industrializados, que, em um 
primeiro momento, eram importados, e subsequentemente fornecidos pela 
 
 
5 
indústria nacional. 
Em resumo, a teoria considera que foram os interesses da burguesia 
cafeeira que permitiram o início do processo de industrialização, mas somente 
de bens de consumo final; a industrialização pesada só viria posteriormente, com 
a participação do Estado e do capital estrangeiro. 
Como cita João Manoel Cardoso de Melo (2009, p. 80): 
Não basta, no entanto, admitir que a industrialização latino-americana 
é capitalista. É necessário, também, convir que a industrialização 
capitalista na América Latina é específica e que sua especificidade está 
duplamente determinada: por seu ponto de partida, as economias 
exportadoras capitalistas nacionais, e por seu momento, o momento 
em que o capitalismo monopolista se tornadominante em escala 
mundial, isto é, em que a economia mundial, isto é, em que a economia 
mundial capitalista já está constituída. É a esta industrialização 
capitalista que chamamos de retardatária. 
TEMA 3 –DEBATE ENTRE ROBERTO SIMONSEN E EUGÊNIO GUDIN E 
ESCOLAS DE PENSAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL DO PÓS-GUERRA 
 Roberto Simonsen (1889-1948) e Eugênio Gudin (1886-1986) foram dois 
importantes economistas brasileiros. Em comum, os dois tinham a formação em 
Engenharia e o interesse pela economia. Simonsen foi um defensor do 
desenvolvimentismo, enquanto Gudin pregava o liberalismo econômico. O 
debate entre esses dois personagens se deu durante a década de 1940. 
Contextualizando tal debate: era 1942 e Getúlio Vargas, presidente da 
República, solicitou ao Conselho Nacional de Políticas Industriais e Comerciais 
(CNPIC) – órgão subordinado ao Ministério do Trabalho – um relatório a respeito 
de possíveis políticas industriais e comerciais para o Brasil. Roberto Simonsen 
integrava esse conselho, e foi designado relator do expediente. Após a 
elaboração, o estudo foi encaminhado à então Comissão de Planejamento 
(subordinada ao Conselho de Segurança Nacional CSN), cujo relator era 
Eugênio Gudin. Daí em diante os dois economistas travaram diversas batalhas 
intelectuais por meio de documentos que visavam defender suas respectivas 
posições no que se refere às suas diferentes visões de política econômica. 
Todo o embate entre Simonsen e Gudin teve como pano de fundo as 
discussões sobre o papel do Estado em uma economia que precisava se 
desenvolver. Simonsen defendia um Estado presente e intervencionista, 
enquanto Gudin acreditava que um Estado muito robusto tenderia a enfraquecer 
a iniciativa privada – a única força capaz de tirar o país do subdesenvolvimento. 
Mais do que isso, o liberal Gudin via no papel preponderante do Estado, por meio 
 
 
6 
da planificação econômica, uma ameaça às liberdades individuais, o que poderia 
resultar em um regime totalitário. 
No documento, Simonsen propôs a utilização de técnicas de 
planejamento governamental, aplicadas à economia brasileira, com a finalidade 
de quadruplicar a renda nacional. O planejamento proposto compreendia uma 
ampliação do nível de investimentos públicos em industrialização e uma política 
comercial protecionista. Para ele, a livre atuação das forças de mercado não 
levaria o país ao caminho do desenvolvimento. 
A posição de Gudin foi extremamente crítica a esse parecer, com a 
ressalva de que havia concordância a respeito dos objetivos desejados 
(elevação da renda nacional). A discordância do economista baseava-se na 
alegada inconsistência do estudo apresentado por Simonsen e nos meios 
propostos para atingir os fins desejáveis. As críticas de Gudin tinham três pontos 
fundamentais: 1) Erros na metodologia de cálculo presentes no relatório; 2) A 
suposição de Simonsen sobre a falta de capacidade do setor privado em 
promover a expansão da renda nacional; e 3) Exemplos internacionais 
fracassados de planificação econômica. 
O debate entre esses dois pensadores ocorreu há mais de setenta anos, 
mas continua atual. O papel do Estado e a necessidade (ou não) de 
industrialização seguem na pauta das discussões entre economistas, e não são 
raras as referências ao debate entre Simonsen e Gudin. Como veremos no tema 
seguinte, esses dois economistas tiveram grande destaque no embate entre as 
correntes teóricas de pensamento econômico brasileiro no período de 1930 a 
1964, em especial no pós-guerra. 
TEMA 4 – HISTÓRICO DO PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL NO BRASIL 
No Brasil, o período do pós-guerra foi marcado por intensas discussões 
sobre os rumos do país. Superadas as preocupações de curto prazo relativas à 
Grande Guerra, era necessário voltar os esforços para a superação do 
subdesenvolvimento. Economistas e especialistas discutiam diferentes projetos 
de país, principalmente como deveria ser o caminho para o almejado 
desenvolvimento. Comentaremos as seguintes correntes de pensamento: 1) 
liberal; 2) desenvolvimentista nacionalista do setor público; 3) 
desenvolvimentista do setor privado; e 4) desenvolvimentista não nacionalista do 
setor público. 
 
 
7 
Eugênio Gudin capitaneava uma escola de pensamento econômico que 
buscava aplicar os princípios da teoria liberal clássica às peculiaridades da 
economia brasileira. Ele reconhecia alguns pontos do diagnóstico de seus pares 
desenvolvimentistas, como o problema da variabilidade intrínseca dos preços 
dos produtos primários e alguns dos riscos da dependência de capitais 
estrangeiros para o desenvolvimento. Todavia, ele acreditava que a simples 
produção artificial do fenômeno da industrialização por meio do voluntarismo 
estatal não seria uma saída para os problemas do país – pelo contrário, essa 
escolha acarretaria prováveis ineficiências. Para ele, o Brasil deveria aglutinar 
esforços para produzir aqueles bens que conseguimos elaborar com maior 
eficiência. Nesse sentido, o melhor seria aproveitar a vocação agrícola do Brasil. 
Gudin argumentava que os desenvolvimentistas advogavam por um projeto de 
país em que se produziria todos os bens de que se precisa. Sendo assim, 
produziríamos tudo de forma inadequada, e isso apenas contribuiria para a 
manutenção do subdesenvolvimento. 
Os desenvolvimentistas nacionalistas do setor público viam a 
industrialização como solução e consideravam o planejamento minucioso uma 
ferramenta para combater os problemas que caracterizavam o 
subdesenvolvimento brasileiro. Dessa forma, o desenvolvimento industrial faria 
com que o Brasil superasse o atraso econômico e se equiparasse aos países 
desenvolvidos. Nesse intuito, os desenvolvimentistas nacionalistas do setor 
público, liderados por Celso Furtado, defendiam o investimento estatal em 
setores considerados estratégicos para esse processo. Entre esses setores, 
destacam-se a mineração, a energia, os transportes, a metalurgia e as 
telecomunicações. 
O que diferencia o grupo dos desenvolvimentistas nacionalistas do setor 
público das demais linhas de pensadores desenvolvimentistas é sua posição 
claramente contrária a políticas de utilização de capital estrangeiro para projetos 
industrializantes estratégicos. Todavia, o capital era bem-vindo nos outros 
setores. 
A história da corrente dos desenvolvimentistas do setor privado remonta 
ao período posterior à crise de 1929, momento em que alguns empresários do 
setor industrial passaram a reunir esforços com o intuito de defender os 
interesses do capital industrial nacional. Liderados por Roberto Simonsen, os 
pensadores desenvolvimentistas do setor privado se posicionavam claramente 
 
 
8 
contra as propostas dos economistas ligados ao liberalismo econômico. É 
importante salientar que os economistas liberais, capitaneados por Eugênio 
Gudin, pregavam a tese do aproveitamento das vantagens comparativas, ou 
seja, de que o Brasil deveria concentrar esforços na produção daqueles bens em 
que fosse mais produtivo – caso dos produtos primários (extrativismo, 
mineração, agricultura e pecuária). Do lado oposto a essa visão, estavam os 
desenvolvimentistas do setor privado, que defendiam a industrialização do país 
por meio da capitalização do setor industrial nacional. 
Roberto Simonsen e seus colegas viam na industrialização a rota de fuga 
da situação de pobreza que caracterizava grande parte da população brasileira. 
Além disso, consideravam de extrema importância o estabelecimento de 
barreiras e tarifas que dificultassem a importação de produtos industriais que 
pudessem representar uma ameaça à indústria nacional. 
O surgimento do grupo dos desenvolvimentistas não nacionalistas do 
setor público se deu anos mais tarde, em comparação aos outros dois grupos, 
nos anos de 1950. A figura central dentre os economistas dessa corrente foi 
Roberto de Oliveira Campos (1917-2001), um dos mais ferrenhos críticos dos 
cepalinos.Ele e os demais pensadores da corrente dos desenvolvimentistas não 
nacionalistas do setor público defendiam a industrialização viabilizada por meio 
do planejamento governamental. Todavia, sua posição era diferente dos demais 
desenvolvimentistas em dois aspectos principais: 1) preferência por soluções 
privadas; 2) apoio a medidas de estabilização econômica. 
Os desenvolvimentistas não nacionalistas do setor público, apesar de 
destacarem a importância do governo por meio do planejamento de esforços 
para a industrialização, acreditavam que o Estado não deveria atuar em áreas 
em que existia a possibilidade de atuação da iniciativa privada, isso porque esta 
atuaria com muito mais eficiência – ou seja, conseguiria fazer mais com menos. 
Além da preferência pelo capital estatal, pensadores liderados por Roberto de 
Oliveira Campos eram favoráveis a políticas de estabilização monetária. Para 
esses economistas, o governo não poderia tolerar uma inflação elevada, porque 
gera-se efeitos negativos significativos sobre a economia e compromete-se o 
desenvolvimento do país – fim de toda a discussão macroeconômica. 
 
 
 
9 
TEMA 5 – AUGE E DECLÍNIO DO DESENVOLVIMENTISMO 
Entre os diversos planos de estímulo à industrialização colocados em 
prática, ocorreram alguns momentos de ajuste, também guiados por meio do 
planejamento, sendo o PAEG – Programa de Ação Econômica do Governo, o de 
maior visibilidade e sucesso. 
A construção e aplicação das teses desenvolvimentistas no Brasil 
repousaram sobre uma consistente base teórica, a partir de correntes de 
pensamento comandadas por economistas de renome, como Roberto 
Simonsen, Celso Furtado e Roberto Campos. Todos eles, de alguma maneira, 
participaram ativamente da prática de desenvolvimentismo no Brasil. O auge do 
projeto desenvolvimentista deu-se no período imediatamente anterior à sua 
derrocada, durante o II PND – Plano Nacional de Desenvolvimento. Esse plano 
representou a imposição do ajuste estrutural por meio de uma ousada aposta na 
tomada de recursos no exterior para financiamento de um plano de superação 
dos pontos de estrangulamento da economia brasileira, visando dar sobrevida 
ao projeto industrializante e, portanto, ao sonho desenvolvimentista. Grande 
parte da infraestrutura brasileira atual deve-se à ousadia desse plano: a Usina 
Hidrelétrica de Itaipu, por exemplo, foi uma herança, sobretudo, desse plano. 
A derrocada do desenvolvimentismo teve início com o segundo choque 
do petróleo, em 1979. Novamente, os maiores produtores mundiais decidiram 
restringir a oferta e, assim, aumentar o preço do produto. Na esteira da 
majoração do preço do petróleo, a instabilidade da economia internacional 
aumentou. Os Estados Unidos, grandes importadores de petróleo, decidiram 
elevar sua taxa básica de juros, porque o aumento do preço do óleo estava 
exercendo grande pressão sobre a inflação. Essa iniciativa, por sua vez, 
impactou os juros cobrados pelo financiamento da dívida externa dos países 
latino-americanos. Subiram os juros que incidiam sobre a dívida brasileira, e o 
impacto desse evento foi devastador, uma vez que, desde o Plano de Metas 
(1956-1961) até o II PND (1974-1979), o Brasil investia pesadamente, com base 
na captação de financiamentos obtidos no exterior. 
O aumento do serviço (juros) da dívida agravou a situação do balanço de 
pagamentos brasileiro (fluxo de entrada e saída de recursos), que ficou 
preocupantemente negativo. A situação ficou ainda mais complicada quando o 
México decretou a moratória da sua dívida em 1982, isso é, interrompeu o 
 
 
10 
pagamento dos juros da sua dívida externa. Esse fato fez aumentar o grau de 
desconfiança com relação aos demais países da América Latina, se de fato 
honrariam suas respectivas dívidas. Assim, além do aumento da saída de 
recursos para pagamento de juros, diminuíram as entradas, pela dificuldade de 
obtenção de novos empréstimos. 
Nesse contexto, o ajuste conjuntural recessivo se impôs. Para frear as 
importações e barrar a saída de recursos do país, o governo precisou conter o 
ritmo da atividade econômica. Assim, diminuiria a demanda por bens importados 
e, consequentemente, as importações. O PIB ficou estagnado e a agenda 
econômica brasileira passou a ser de curto prazo, com preocupações focadas 
no balanço de pagamentos e na inflação. Desse modo, o desenvolvimentismo 
perdeu a centraIidade no debate econômico brasileiro, uma vez que o Estado já 
não tinha mais condições de capitanear o processo de coordenação dos esforços 
com vistas à industrialização. 
A partir de meados da década de 1980, o balanço de pagamentos passou 
a ter maior equilíbrio. Por outro lado, a inflação disparou e assumiu o centro dos 
debates sobre economia brasileira, situação que perduraria nos dez anos 
seguintes – até o lançamento do Plano Real. 
NA PRÁTICA 
No Tema 3, desta aula, relatamos o pensamento de Eugênio Gudin a 
respeito das políticas de governo voltadas a beneficiar preferencialmente alguns 
setores específicos da economia. Na sua visão, esse tipo de política é utilizado 
nos dias de hoje? Justifique. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, procuramos demonstrar que o desenvolvimentismo esteve no 
centro do debate sobre a economia brasileira ao longo de boa parte do século 
XX. Percebemos que não se pode falar em desenvolvimentismo como uma linha 
de pensamento uniforme, uma vez que existiam diferentes correntes teóricas, 
que divergiam em alguns aspectos. 
Um mapa conceitual do pensamento econômico brasileiro no período de 
1945 a 1964, adaptado de Bielschowsky (2000), é mostrado a seguir (Anexo 1). 
A organização da exposição foi feita com base no conceito de 
 
 
11 
desenvolvimentismo, definido como um projeto de industrialização com 
planejamento e suporte estatal. A coluna “Projeto econômico básico” é a chave 
para o entendimento do quadro, já que a categoria organizadora da exposição 
(o desenvolvimentismo) é definidora do referido projeto. O autor também faz 
constar do mapa seguinte, para efeito de contraste, as características básicas 
do pensamento independente de Ignácio Rangel. 
Também imos nesta aula que os teóricos desenvolvimentistas, das 
variadas vertentes citadas, participaram de diversos governos e sempre 
buscaram influenciar as ações do estado brasileiro de modo a realizar um projeto 
industrializante de grande magnitude que traria, segundo eles, o 
desenvolvimento ao brasil. 
Além disso, tratamos da relação entre desenvolvimentismo e 
planejamento econômico; com diversas experiências de planejamento levadas a 
cabo no Brasil, entre elas o II PND, que representou o auge e o esgotamento do 
modelo desenvolvimentista. De tal modo, verificamos que, no final do processo, 
o país industrializou-se, mas não superou o subdesenvolvimento. 
 
 
 
 
 
Anexo 1 – Finalizando 
Fonte: Elaborado com base em Bielschowsky, 2000. 
 I. Rangel Smith, Keynes, 
Materialismo 
histórico
Industrialização 
planificada e 
fortemente 
apoiada por 
empreendimen
tos estatais
Tese da dualidade 
básica
Substituições de 
importações 
(anos 50) e crise 
de realização 
(anos 60)
Estruturação 
do sistema 
financeiro
Com controle, 
mas não 
desfavorável, 
exceto em 
mineração e 
serviços públicos 
e exceto capital 
de empréstimo
Enfaticamente 
favorável
Enfaticamente 
favorável 
(modalidade 
própria de 
planejamento 
parcial, via 
comércio 
externo)
Favorável Desiquilíbrio 
gerado por 
falta de 
controles pelo 
Estado. A favor 
do monopólio 
estatal do 
comércio 
exterior
Estrutura 
oligopolista/olig
opsonista da 
comercialização 
de alimentos 
como foco 
gerador de 
inflação. 
Hipótese da 
existência de 
amplos recursos 
ociosos
Elevação de 
salário como 
forma de 
estimular a 
ocupação da 
capacidade 
ociosa
Conforme tesa 
da dualidade
InflaçãoCorrentes
Orientação 
teórica
Projeto 
econômico básico
Tesesbásicas
Interpretação do 
processo de 
crescimento
Apoio financeiro 
interno a 
investimento
Contrária
Salário, lucro e 
distribuição de 
renda
Reforma Agrária
N
eo
lib
er
al
Teorias 
clássicas e 
neoclássicas 
(liberalismo)
Crescimento 
equilibrado via 
forças de 
mercado
No Brasil não há 
desemprego, 
apenas baixa 
produtividade
Crescimento 
desiquilibrado e 
ineficiente, por 
erros de política 
econômica
Estruturação 
do Sistema 
Financeiro
Por estímulos Enfaticamente 
contrária
Capital estrangeiro Empresa estatal Planejamento Protecionismo Déficit Externo
Entre contrário 
e tolerante a 
ensaios de 
planejamento 
parcial
A favor de 
fortes 
reduções de 
tarifas
Visão da 
inflação como 
causa básica
Visão de que o 
pleno emprego é 
a causa básica. A 
favor de políticas 
de estabilização.
Argumento 
neoclássico da 
produtividade 
marginal.
De
se
nv
ol
vi
m
en
tis
ta
Se
to
r p
úb
lic
o 
(N
ão
 n
ac
io
na
lis
ta
)
Ecletismo pós-
keynesiano
Industrialização 
em ritmo 
compatível com 
equilíbrio, com 
intensa 
participação do 
capital 
estrangeiro e 
com 
planejamento 
parcial
Tese dos pontos de 
estrangulamento/ 
pontos de 
crescimento
Visão de plena 
capacidade como 
causa básica. A 
favor de políticas 
de estabilização
Redistribuição 
de renda reduz 
crescimento
Omissa
Se
to
r p
riv
ad
o
Ecletismo pós-
keynesiano 
Prebish
Industrialização 
com proteção 
estatal ao 
capital 
industrial 
nacional
Crédito à produção 
como instrumento 
de crescimento
Substituições de 
importações
Incentivos a 
reinversão de 
lucros
Favorável, mas 
com controles
Tributação Por estímulos Tolerante, 
quando capital 
privado 
(nacional e 
estrangeiro) 
não manifesta 
interesse
Favorável a 
planejamento 
parcial
Favorável Possível sem 
inflação, mas, 
em geral, 
causado por 
ela
Por reforma 
limitada
Se
to
r p
úb
lic
o 
(n
ac
io
na
lis
ta
)
Industrialização 
planificada e 
fortemente 
apoiada por 
empreendimen
tos estatais
Teses cepalinas 
(desenvolvimento 
para dentro, 
estruturalista, etc.)
Substituições de 
importações, 
existências de 
desequilíbrios 
estruturais, 
confirmados por 
ausência de 
planejamento e 
corrigíveis apenas 
no longo prazo
Tributação Favorável, desde 
que com 
controles e desde 
que em setores 
outros que não os 
de serviços 
públicos e 
mineração
Enfaticamente 
favorável
Enfaticamente 
favorável a 
planejamento 
geral e 
regional
Favorável
Moderadamen
te favorável
Favorável Enfaticamente 
favorável
Estruturalista Ênfase na 
utilidade de 
expansão 
creditícia
Defesa do lucro 
(argumentar do 
reinvestimento)
Principais 
economistas
R. Simonsen, 
J. Magalhães e 
N. Figueiredo
R. Simonsen, 
C. Furdado, R. 
Almeida, A. 
Oliveira e 
E.Lima
Ecletismo pós-
keynesiano 
Prebish
Enfaticamente 
contrária (exceto 
capital de 
empréstimo)
Materialismo 
histórico
Viabilizar o 
desenvolviment
o capitalista 
para preparar a 
passagem ao 
socialismo. 
Industrialização 
planificado em 
bases 
estritamente 
nacionais e 
reforma agrária.
Tese da etapa 
antifeudal e anti-
imperialista
Duas 
contradições 
obstruem o 
crescimento 
econômico: 
monopólio da 
terra e 
imperialismo
Tributação
Existência de 
tendências a 
desequilíbrios, 
não corrigidas 
(confirmadas) por 
erros de política 
econômica
C.Prado Jr, N. 
Sodré, A. 
Guimarães e 
A. Moura
Pela distribuição 
de renda 
(argumento do 
mercado 
interno) via 
reforma agrária 
e luta sindical
Enfaticamente 
favorável
O
 p
en
sa
m
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to
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e 
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ná
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 R
an
ge
l
E. Gudin, O. 
Bulhões, D. 
Nogueira e D. 
Carvalho
R. Campos, A. 
Torres, L. 
Lopes e G. 
Paiva
Enfaticamente 
favorável
Enfaticamente 
favorável
Favorável Ênfase na falta 
de controles 
pelo Estado 
(especialment
e sobre 
remessa de 
lucros)
Imprecisão 
interpretativa. 
Ênfase na defesa 
do salário real
Estruturalista Estruturalista Concentração de 
renda obstrui 
crescimento
Favorável
So
ci
al
is
ta
 
 
REFERÊNCIAS 
BIELSCHOWSKY, R. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico do 
desenvolvimentismo. 5. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000. 
MARIANO, J. Introdução à Economia Brasileira. São Paulo: Saraiva, 2005 
MELLO, J. M C. de. O capitalismo tardio. São Paulo: Ed. Unesp, 2009. 
PIRES, M. C. Economia Brasileira: Da Colônia ao Governo Lula. São Paulo: 
Saraiva, 2010. 
REGO, J. M. et al. Economia brasileira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
SILVA, E. Formação Econômica do Brasil. Curitiba: InterSaberes, 2016.

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