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5 • Recursos Ambientais e a Proteção dos Recursos Naturais • A Rio/92 e Seus Impactos na Legislação Ambiental Nacional e Internacional • Política Nacional de Recursos Hídricos Nesta unidade é estudar e conhecer melhor os nossos recursos ambientais e a legislação que ampara tais recursos. Também veremos a importância da legislação pertinente e as medidas que estão sendo tomadas no Brasil e no mundo a fim de atingirmos o equilíbrio ecológico tão desejado. É uma Unidade que requer muita atenção, pois vamos analisar muitas leis! As atividades da unidade III são constituídas pela leitura do material teórico e complementar, atividade de aprofundamento a partir do fórum de discussão e atividade de sistematização do conhecimento, composta por seis questões de autocorreção. Não se esqueça de acompanhar os prazos para entrega das atividades. Programe-se para a leitura e anote suas dúvidas eventuais para levá-las ao professor tutor. · Nesta Unidade conheceremos melhor os recursos ambientais e a legislação relevante sobre a proteção desses recursos. Também estudaremos a importância de medidas preventivas para a defesa do meio ambiente, como a implementação do mercado de carbono, as medidas para diminuir os efeitos dos resíduos sólidos no ambiente e a regulamentação dos OGMs – Organismos geneticamente modificados – os famosos transgênicos. Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação • Política Nacional de Resíduos Sólidos 6 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação Observe: Fernando Bastos, O Correio do povo (http://www.ocponline.com.br/blog/caricato/post/572-desperdicio-de-agua). A biodiversidade e a flora em toda a sua extensão são recursos ambientais importantes, essenciais para o equilíbrio ecológico. A não preservação e o descumprimento as leis hoje existentes, como o Código Florestal, poderão acarretar danos irreversíveis para o meio ambiente e toda a sociedade. O aquecimento global é uma realidade inquestionável. O mercado de Carbono, criado a partir do Protocolo de Kyoto, é uma tentativa de diminuir a emissão de gases do efeito estufa, que causam o aquecimento global. O programa criou metas de diminuição de emissão de gases, aliado a projetos que buscam novas tecnologias de energias limpas e renováveis – os MDLs – Mecanismos de desenvolvimento limpo. De forma simplificada, a cada tonelada de CO2 que deixa de ser lançado na atmosfera, é emitido um crédito de carbono, papel que pode ser negociado inclusive em bolsas e mercado financeiro. Essa imagem... Bem, essa imagem fala mais que mil palavras. A legislação deve ser rígida sim, e ampla, a fim de se evitar o caos ambiental em todos os recursos que ainda dispomos e necessitamos: água, solo, ar, fauna e flora. Contextualização Água: um recurso natural que, se não for usado com racionalidade, se esgotará em breve no planeta. Não utilizar de forma racional é ignorar a disposição constitucional do artigo 225 sobre a manutenção de um ambiente ecologicamente equilibrado. A água é um recurso natural precioso e, assim, deve ser protegido. http://www.ocponline.com.br/blog/caricato/post/572-desperdicio-de-agua 7 Há riquezas naturais, e nosso patrimônio cultural é riquíssimo e sem dúvida precisam de proteção especial, uma vez que devem ser mantidos e preservados. Como o Brasil não dispõe de um Código Ambiental, é preciso que a legislação esparsa seja bastante eficiente, a fim de dar cumprimento às disposições constitucionais que determinam a proteção do meio ambiente e a busca do equilíbrio ecológico, além da preservação de nosso patrimônio cultural. Veremos nesta unidade quais são os recursos naturais disponíveis e como se dá a proteção legal de tais recursos. Estudaremos também um problema extremamente grave para o meio ambiente: o descarte de resíduos sólidos, ou como é mais conhecido, do lixo. O lixo é um problema mundial, sendo assim, esse problema não é diferente no Brasil. O que o Direito Ambiental tem feito para tentar minimizar o problema, também será visto nesta unidade. Quando falamos em meio ambiente e recursos ambientais, não estamos apenas nos referindo ao meio ambiente exclusivamente natural, mas ao meio ambiente em todas as suas formas, a tudo o que nos cerca. O meio ambiente merece proteção ampla, e em todos os seus segmentos. Neste tópico, vamos analisar os recursos ambientais nas suas mais variadas formas e como estão sendo feitas a proteção e a utilização desses recursos. Introdução Atenção Atenção alunos: Nesta Unidade, é essencial a leitura de todas as leis mencionadas, pois esta leitura ajudará na assimilação do conteúdo. Não esqueçam! Todas as leis podem ser encontradas no site do Planalto (planalto.gov.br) e as mais específicas, no site do Ministério do Meio Ambiente (mma.gov.br) e do CONAMA (conama.gov.br) 1. Recursos Ambientais e a Proteção dos Recursos Naturais 8 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação 1.1 Da Fauna Como já dissemos, o Brasil é o país com a maior diversidade do mundo. Podemos definir a fauna como “toda a vida animal em uma área, um habitat ou um estrato geológico num determinado tempo, com limites espacial e temporal arbitrários”. 1 A fauna pode ser doméstica, ou seja, compreende os animais domesticados pelo homem e os animais selváticos, isto é, os animais que vivem em estado natural, selvagem, e que não dependem do homem para sobreviver e procriar, vivendo livres em seu habitat. Assim, via de regra, todos os animais constituem a fauna, mas a tutela jurídica desse recurso ambiental é mais restrita e se aplica basicamente à fauna silvestre – terrestre ou aquática. Pertencem à fauna silvestre os animais que estão fora do domínio do homem, livres em seu habitat natural. As espécies da fauna silvestre e seus abrigos configuram bens ambientais, integrando os ecossistemas, e, portanto, cabe ao Poder Público sua guarda e proteção. Assim, é proibida a utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha da fauna silvestre, exceto nos casos em que haja expedição de autorização ou licença, na forma da lei. O conceito de fauna silvestre, dado pela Lei nº 5.197/1967 foi ampliado, em função da evolução do conhecimento científico e biológico desenvolvido nas questões ambientais. O art. 29 da Lei nº 9.605/1998 assim define a fauna silvestre: § 3º São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. Ficou, assim, ampliado o campo de abrangência da Lei de Proteção à Fauna Silvestre, já que o novo texto da Lei nº 9.605/1998 contempla também a proteção das espécies migratórias, ainda que não sejam nativas. 1.2 Da Flora A flora é “o conjunto de plantas de uma determinada região ou período, listadas por espécies e consideradas como um todo”. 2 A flora refere-se a todas as espécies vegetais localizadas no território nacional, constituindo o gênero, do qual cada tipo de vegetação constitui uma espécie.3 De acordo com o Código Florestal Brasileiro, tanto a flora nativa quanto as espécies exóticas receberão proteção e constituirão a flora brasileira como um todo, pois o texto legal não fez distinção entre a vegetação nativa e as demais formas de vegetação. 1 Glossário de ecologia. 2. ed. Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Publicação ACIESP n. 183, 1997, p. 113 apud GRANZIERA, Maria Luiza Machado, Manual de Direito Ambiental, p. 121. 2 Idem, p. 122. 3 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Op. cit., p. 145. 9 1.2.1 Florestas As florestas são espécies do gênero flora. A Constituição Federal e outras legislações infraconstitucionais utilizam muito o termo mata, mas os dicionários não fazem distinção entre floresta e mata, podendo ser considerados, portanto, sinônimos.A importância das florestas é muito grande. As árvores funcionam como esponjas que abastecem as reservas subterrâneas. A carga de água dos rios está relacionada à existência de florestas e aquela pode ficar comprometida se continuar o processo de devastação das áreas verdes do planeta. As raízes das árvores das florestas, assim como suas folhas, que cobrem o solo, ajudam a evitar a erosão e ainda permitem que a água das chuvas possa lentamente entrar no solo e ali permanecer por mais tempo, ao passo que a ausência de vegetação favorece o processo chamado de lixiviação. 4As florestas também têm uma função excelente de regular o clima, pois elas, pelo sistema da fotossíntese, absorvem o gás carbônico que eliminamos com a respiração e aquele decorrente de inúmeras atividades humanas, que foram intensificadas no período pré-industrial e industrial. Por todas essas razões, a destruição das florestas úmidas, como é o caso da Floresta Amazônica, é uma preocupação mundial. A devastação das florestas gera impacto no equilíbrio dos ecossistemas, afeta a diversidade biológica, reduz a fertilidade do solo tornando-o estéril, altera o ciclo hidrológico e provoca queda na produção de água doce. Isso sem falar na liberação de CO2 (dióxido de carbono), responsável, em parte, pelo aquecimento global. 5 Além das florestas, são de grande importância outras formas de cobertura vegetal, como o mangue, o cerrado e a caatinga, pois também agem na fixação do solo, evitando a erosão e fazendo parte dos ecossistemas que abrigam a fauna nacional e preservam a biodiversidade. 1.2.2 Código Florestal A lei nº 12.651/2012 instituiu o novo Código Florestal Brasileiro, que entrou em vigor depois muita discussão, polêmicas e edição de medidas provisórias. O Código Florestal anterior era de 1965, e já não atingia os objetivos propostos pela nova Política Nacional de Meio Ambiente. O objetivo principal do Código Florestal é a proteção das florestas e matas de vegetação nativa, além de extensas áreas verdes com características especiais. Do novo Código Florestal, destacamos a seguir os principais pontos alterados, com relação à legislação anterior: a) A recomposição de áreas de preservação permanente (APPs). A APP em torno de rios com até 10 metros de largura, por exemplo, passa a ser de 15 metros e não 20m como antes. b) A possibilidade de utilizar árvores frutíferas na recomposição da APP. Essa alteração permite mais possibilidades do uso econômico das áreas de reserva legal a serem recompostas pelos proprietários. 4 Termo utilizado no estudo dos solos, para designar o arrastamento de minerais dissolvidos no meio do solo,e o deslocamento de nutrientes para as camadas inferiores do solo, dificultando sua absorção pelas plantas. 5 Aumento da temperatura média da Terra. As pesquisas recentes indicam que a queima de combustíveis fósseis, a queimada de florestas e a poluição industrial lançam gases que intensificam o efeito estufa, provocando mudanças climáticas e o aquecimento global. 10 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação c) O manejo sustentável da reserva legal não precisa de autorização de órgãos do governo se for para uso próprio, ficando limitado a 2 m² por hectare ao ano e 15 m² por propriedade ao ano. Pequenas propriedades poderão plantar culturas temporárias, como o arroz, em várzeas. d) O Poder Executivo Federal poderá criar um programa de apoio à conservação do meio ambiente que contemple a preservação e a produção. Poderão ser estabelecidos pagamentos por serviços ambientais, como sequestro de carbono, conservação da biodiversidade e das águas e manutenção de APPs e de reserva legal. e) Os proprietários que fazem extração de madeira ou outro produto deverão cumprir um Plano de Manejo Florestal Sustentável, que determina ciclo de corte compatível com tempo de reestabelecimento do produto extraído da floresta. Para controlar a origem da madeira, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) implantará um sistema de dados compartilhado com os órgãos ambientais dos Estados. f) Reserva Legal: os índices de reserva continuam os mesmos do código atual: 80% para imóvel em área de floresta na Amazônia Legal, 35% para imóvel em área de cerrado na Amazônia Legal e 20% para imóvel em áreas de campos gerais na Amazônia Legal e demais biomas. A recomposição da floresta poderá ser feita com a regeneração natural da vegetação, pelo plantio de novas árvores ou pela compensação. A recomposição poderá ser feita em até 20 anos. g) Criação do Cadastro Ambiental Rural, um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais, que tem por finalidade integrar as informações ambientais referentes à situação das Áreas de Preservação Permanente - APP, das áreas de Reserva Legal, das florestas e dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Uso Restrito e das áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do país. O CAR se constitui em base de dados estratégica para o controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil, bem como para planejamento ambiental e econômico dos imóveis rurais. 1.2.3 SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – SNUC – LEI nº 9985/2000 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) foi instituído pela Lei nº 9.985/20006 e estabelece critérios e regras para a criação e implantação desses espaços, além de dispor sobre as condições para a gestão dessas unidades, buscando garantir a sua proteção. Unidade de conservação é o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo poder público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. 6 Regulamentada pelo Decreto nº 4.340/2002. 11 Os objetivos do SNUC, de acordo com o disposto na Lei, são os seguintes: – contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; – proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; – contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; – promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; – promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; – proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; – proteger as características de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, paleontológica e cultural; – proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;7 – recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; – proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; – valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; – favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; – proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. A criação de espaços protegidos é um dos instrumentos propostos pela Lei nº 6.938/1981. A Constituição Federal de 1988 foi além, determinando que somente a lei poderá suprimir a proteção ou alterar o regime jurídico dos espaços protegidos, em que se incluem as Unidades de Conservação.8 O SNUC é formado por dois grupos básicos de unidade: a) Unidades de proteção integral, que visam à proteção da natureza, permitindo apenas o uso indireto de seus recursos naturais, abrangendo as estações ecológicas, as reservas biológicas, os parques nacionais, os monumentos naturais e os refúgios da vida silvestre; b) Unidades de uso sustentável , que procuram compatibilizar a conservação da naturezacom o uso sustentável de seus recursos. Compreendem as áreas de proteção ambiental (APAs), as de interesse ecológico (APIEs), as florestas nacionais, as reservas extrativistas, as reservas da fauna, as reservas de desenvolvimento sustentável e as reservas particulares do patrimônio natural. 7 Que resulta de fatores inerentes ao solo, ou é por eles influenciado. 8 Art. 225, § 1º, III. 12 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação Um ponto relevante sobre as Unidades de conservação é a questão de sua gestão. A implantação de espaços protegidos é fundamental, mas todas as atividades relacionadas a essa implantação e gestão implicam em despesas. Não existe um meio para se criar espaços protegidos e conservá-los sem que haja uma política administrativa que disponibilize recursos financeiros, e pessoal capacitado. É preciso comprometimento firme para garantir a proteção ambiental. Esses problemas não se restringem ao Brasil, mas a todos os países, pois a luta pela preservação ambiental não foi totalmente incorporada pela comunidade mundial. Mas é preciso que isso aconteça o quanto antes, pois disso depende a sobrevivência da nossa espécie. 1.3 Solo O solo pode ser conceituado como o manto superficial formado por rocha desagregada, cinzas vulcânicas, mistura de matéria orgânica em decomposição, contendo, ainda, água e ar em proporções variáveis e organismos vivos. A proporção em que aparece cada um dos componentes pode variar de um solo para outro. Em termos de ordem de grandeza, os componentes encontram-se em torno da seguinte proporção: – 45% de elementos minerais; – 25% de ar; – 25% de água; – 5% de matéria orgânica. A matéria sólida mineral é preponderantemente proveniente de rochas desagregadas no próprio local ou em locais distantes, trazidas pela água e pelo ar. A desagregação das rochas se dá por ações físicas, químicas e, em menor proporção, biológicas, que constituem o que se denomina de intemperismo. As principais ações físicas que provocam a desagregação do solo são a erosão pela água, pelo vento, variações bruscas de temperatura e congelamento. As ações químicas mais comuns ocorrem sobre as rochas calcárias atacadas pelas águas contendo gás carbônico dissolvido e íons ácidos (chuva ácida). A parte líquida é fundamentalmente constituída por água proveniente de precipitações, tais como: chuva, sereno, neblina e orvalho. A parte gasosa é proveniente do ar existente à superfície e, em proporções variáveis, dos gases de biodegradação de matéria orgânica. A parte orgânica é proveniente da queda de folhas, frutos, galhos, restos de animais, excrementos e outros resíduos. É da biodegradação desta matéria orgânica que resulta o húmus do solo (importante para a agricultura). O solo é um recurso ambiental e, como tal, deve ser protegido. A defesa do solo é objeto da competência legislativa concorrente entre União, Estados e Distrito Federal, de acordo com a Constituição Federal. A proteção do solo urbano ficou a cargo dos Municípios que devem promover, no que couber, o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e de sua ocupação (CF, art. 30, VIII). 13 De acordo com o Código Civil, o solo é um bem imóvel, assim como tudo o que a ele se incorporar, natural ou artificialmente.9 O regime jurídico aplicável a esse recurso ambiental pode ser de direito privado ou de direito público, dependendo de seu domínio. Seja seu domínio público ou privado, o solo, na condição de recurso ambiental, é assim considerado pela Política Nacional do Meio Ambiente, implicando na obrigação do Poder Público e de toda a sociedade de protegê-lo, pois é bem de uso comum do povo.10 A agricultura é um dos usos mais populares do solo e é fundamental para o crescimento e desenvolvimento das civilizações. Algumas culturas agrícolas protegem o solo, evitando erosões, o que deve ser estimulado. Porém alguns usos causam o seu desgaste, e por isso essas atividades devem ser acompanhadas. Não há dúvidas de que, juridicamente, agricultores e pecuaristas têm que cumprir as normas de proteção ambiental com relação ao uso do solo. Mas o que se vê são conflitos constantes, por conta do uso, muitas vezes indevido, da terra, e a perda do foco na proteção ambiental, como é o caso dos agricultores que trabalham com uma produção agrícola desenfreada, o que envolve desmatamento, uso de fertilizantes e agrotóxicos, acarretando o empobrecimento do solo e o desgaste desse recurso ambiental. A Lei nº 8.171/1991 dispõe sobre a Política Agrícola no Brasil. Os objetivos da Política Agrícola são principalmente estabelecer a proteção do meio ambiente, o uso racional do solo e o incentivo à recuperação dos recursos naturais. 1.3.1 Fertilizantes e Agrotóxicos Os fertilizantes e agrotóxicos, por suas próprias características, devem ter seu uso controlado. Os agrotóxicos podem ser definidos como quaisquer produtos de natureza biológica, física ou química que têm a finalidade de exterminar pragas ou doenças que ataquem as culturas agrícolas. São substâncias que apresentam riscos desde a sua industrialização até o descarte de suas embalagens, e por essa razão seu uso tem que ser controlado pelo Estado. Os agrotóxicos podem ser inseticidas, fungicidas, acaricidas, nematicidas, herbicidas, bactericidas, vermífugos. Podem, ainda, ser tóxicos os solventes, tintas, lubrificantes, produtos para limpeza e desinfecção de estábulos, e outros. Os fertilizantes podem ou não ser tóxicos. Existem fertilizantes naturais, que podem ser utilizados sem reservas na agricultura, mas também existem fertilizantes que, pela sua composição química, precisam ser controlados. Com relação aos agrotóxicos, a Constituição Federal estabeleceu a competência material comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Além dos dispositivos constitucionais, existem normas infraconstitucionais específicas que tratam das atividades ligadas aos agrotóxicos na agricultura. A Lei nº 7.802/1989, alterada pela Lei nº 9.974/2000, e regulamentada pelo Decreto nº 4.074/2002, estabelece os direitos e deveres dos agentes econômicos que usam os agrotóxicos como insumos na cadeia produtiva. Havendo violação aos dispositivos dessa lei, o próprio texto legal prevê sanções administrativas para os infratores, sem prejuízo de apuração penal e civil cabíveis. 9 Código Civil Brasileiro, art. 79. 10 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Op. cit., p. 220. 14 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação 1.4 Águas Os juristas brasileiros sempre entenderam o problema da água como algo restrito a discussões de vizinhos ou aproveitamento para energia elétrica. Nosso Código Civil disciplina a matéria nos arts. 1.288 a 1.296, e no Código de Águas, Decreto nº 24.643/1934. Hoje se sabe que o problema é bem mais complexo. Até bem pouco tempo o Código de Águas era o único diploma legal a tratar da questão do ponto de vista do Direito Público. A grande mudança na regulamentação e estudo da questão envolvendo os recursos hídricos ocorreu com a Constituição de 1988. Nela, passaram a ser considerados bens dos Estados as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes ou em depósito, ressalvadas nesse caso, na forma da lei, as decorrentes de obra da União (art. 26, I). Os rios e lagos internacionais ou que banhem mais de um Estado passaram ao domínio da União (art. 20, III). Dada à complexidade e extensão do tema, voltaremos ainda nesta Unidade a tratar do assunto, ao estudar a Política Nacional de Recursos Hídricos. 1.5 Atmosfera A Atmosfera é um importante recurso ambiental, e as pessoas dependem dela para sobreviver. Assim, a coletividade e o poder público devem utilizar de todos os meios possíveis para protegê-la. Quando a qualidade do ar sofre alteração ou degradação, ocorre a poluição atmosférica, que agrava problemas de saúde no homem, sobretudo as doenças pulmonares,como bronquite, rinite, enfisema, asma e outras. Essa forma de poluição é extremamente grave, porque ela não é concentrada: pode ser espalhada pelo próprio vento, que leva a poluição a grandes distâncias de sua origem. 1.5.1 Poluição atmosférica e seus efeitos A poluição do ar nas áreas urbano-industriais ocorre em função de estas regiões serem as que possuem mais focos de poluição, como os escapamentos dos automóveis (que emitem grandes quantidades de gases poluentes), a fumaça industrial, os incêndios florestais e as pulverizações com pesticidas. Outros fatores que contribuem para a poluição atmosférica são as características climáticas de cada região, a posição geográfica e os ventos dominantes. Os espaços propícios para a concentração da poluição atmosférica são os locais mais afastados do litoral e regiões com pouca incidência de ventos. Nestes locais existe uma maior concentração de poluição, porque o ar não se movimenta, e os gases poluentes se acumulam. 15 Os principais fenômenos da poluição atmosférica são: a) “Smog” As condições geográficas e meteorológicas também são muito importantes para o agravamento ou diminuição do efeito da poluição do ar. O smog pode ser definido como uma combinação de fumaça e de nevoeiro em áreas urbano-industriais. O smog surge em situações de nevoeiro, e a sua formação é favorecida pelos focos de poluição, que aumentam o número de núcleos de condensação (poeiras ou partículas diversas) na atmosfera saturada ou quase saturada. As consequências do smog são: a inversão térmica, ou seja, o aumento da temperatura durante o dia, e em condições de grande arrefecimento noturno; o desenvolvimento de asma, bronquite, problemas respiratórios e cardíacos; e a concentração de fumaça na superfície. b) Chuvas ácidas As chuvas ácidas formam-se com a libertação de dióxido de enxofre e de óxido de azoto (provenientes de fábricas e automóveis) para a atmosfera. Esses gases que foram libertados para a atmosfera são levados pelos ventos para as nuvens. A combinação desses gases com o oxigênio e o vapor de água contido nas nuvens dá origem ao ácido sulfúrico e ao ácido nítrico, formando-se, assim, as chuvas ácidas. Com a precipitação, as chuvas ácidas originam a acidificação dos solos, que vai prejudicar a agricultura e as espécies de árvores e plantas que vão nascer. Outra consequência é a destruição da vegetação e a contaminação da água, que é também muito prejudicial para a vegetação e para os animais. As chuvas ácidas, embora afetem mais as regiões industrializadas da América do Norte (EUA e Canadá) e da Europa (Alemanha, Áustria, Polônia, República Checa, Escandinávia), devido à emissão de dióxido de enxofre e à queima de petróleo e carvão, são um problema global, visto que os ventos transportam as partículas poluentes. c) Efeito Estufa Uma das consequências mais sérias da poluição atmosférica é o Efeito Estufa. O sol é constituído por radiações ultravioletas, raios infravermelhos, entre outros que atravessam a atmosfera, mas nem todos chegam à superfície, pois esta absorve, difunde e reflete parte dessa radiação (função de filtro). A crescente emissão de dióxido de carbono é prejudicial, pois o CO2 permite a passagem da radiação solar para a Terra, mas depois funciona como uma barreira, não deixando sair o calor que é refletido pela superfície terrestre. Assim, o calor fica concentrado, formando o que chamamos de Efeito Estufa. Este fenômeno atinge mais os países desenvolvidos, por serem os maiores emissores de dióxido de carbono. Atualmente, as regiões menos desenvolvidas e industrializadas também são afetadas por este problema, devido à queima das florestas tropicais e fenômenos naturais (erupções vulcânicas). Esse processo tem duas consequências: o aquecimento global do planeta, que pode provocar a fusão do gelo das regiões polares e a subida dos oceanos, com a submersão das regiões litorais, e as alterações climáticas, que poderão acelerar o avanço dos desertos (desertificação). 16 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação 1.5.2 Principais agentes causadores da poluição do ar A emissão de gases e vapores em estados sólido, líquido e gasoso, proveniente de atividade humana, que causa alteração adversa ao meio ambiente, resulta em poluição atmosférica. As principais causas da poluição atmosférica são aquelas originadas nos processos de obtenção de energia, das atividades industriais, sobretudo aquelas que envolvem combustão, e dos transportes, sendo os veículos automotores grandes emissores de poluentes. Para minimizar a emissão de gases poluentes pelos automóveis, é necessário que haja a implementação de medidas preventivas, como o incentivo à utilização de transportes públicos, que devem ser melhorados, a informação sobre os malefícios da emissão de gases poluentes para o homem e para o meio ambiente, e outras que se façam necessárias. 1.6 Biodiversidade Biodiversidade ou diversidade biológica é a diversidade da natureza viva. Desde 1986, esse conceito tem sido muito utilizado entre os biólogos, ambientalistas, líderes políticos e cidadãos informados no mundo todo. Esse uso do termo “biodiversidade” coincide com a preocupação da humanidade com a extinção da espécie e do planeta, tônica das últimas décadas do século XX. Podemos conceituá-la como a variedade e a variabilidade existente entre os organismos vivos e as complexidades ecológicas nas quais elas ocorrem. Ela pode ser vista como uma associação de vários componentes hierárquicos: ecossistema, comunidade, espécies, populações e genes em uma área definida. A biodiversidade varia de acordo com as características das diferentes regiões ecológicas, e é maior nas regiões tropicais do que nas regiões de clima temperado. Refere-se à variedade de vida na Terra. Nela inclui-se a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna, de fungos e micro-organismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas e a variedade de comunidades e ecossistemas formados pelos organismos. A biodiversidade não é estanque, é um sistema em constante evolução. A meia-vida média de uma espécie é de um milhão de anos e 99% das espécies que já viveram na Terra estão hoje extintas. Ela não é distribuída igualmente na Terra, é maior nos trópicos. Quanto maior a latitude, menor é o número de espécies. Existem regiões do globo onde há mais espécies do que em outras. A riqueza de espécies tende a variar de acordo com a disponibilidade energética, hídrica (clima, altitude) e também pelas suas histórias evolutivas e costumes. 1.6.1 Economia e biodiversidade Ecologistas e ambientalistas são os primeiros a falar no aspecto econômico da proteção da diversidade biológica. A biodiversidade é uma das maiores riquezas do planeta, mas não é reconhecida desse modo. A maioria das pessoas vê a biodiversidade como uma fonte de recursos que devem ser utilizados para a fabricação de produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos. Este conceito do gerenciamento de recursos biológicos provavelmente explica a maior parte do medo de se perderem esses recursos devido à redução da Biodiversidade. Mas isso também acarreta novos conflitos envolvendo a negociação da divisão e a apropriação dos recursos naturais. 17 Se os recursos naturais são de interesse econômico para a comunidade, sua importância econômica é também crescente. Novos produtos são desenvolvidos graças a biotecnologias, criando novos mercados. Para a sociedade, a biodiversidade é também um campo de trabalho e lucro. É necessário estabelecer um manejo sustentável desses recursos. 1.6.2 Política Nacional de Biodiversidade A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, está em vigor internacional desde 29 de dezembro de 1993, e foi aprovada no Brasilpelo Decreto Legislativo nº 2, de 1994, e promulgada pelo Decreto nº 2.519, de 1998. Para complementar o texto internacional, com vigência no Brasil, foi editado o Decreto nº 4.339/2002, que dispôs sobre princípios e diretrizes para a implementação de uma Política Nacional de Biodiversidade e reiterou o compromisso brasileiro com a Convenção sobre Diversidade Biológica. 1.6.3 Biossegurança e patrimônio genético A Constituição Federal deu tratamento jurídico ao patrimônio genético em seus arts. 225, § 1º, II e V. O legislador constituinte entendeu ser necessária à proteção do patrimônio genético brasileiro, assim como determinou que o Poder Público fosse responsável pela fiscalização das entidades que trabalham com pesquisa e manipulação de material genético no Brasil.11 Constitucionalmente, tanto a tutela jurídica do patrimônio genético humano quanto à tutela do patrimônio genético de outros seres vivos (vegetal, animal, fúngico e microbiano) merecem destaque no sentido de se vincular esse patrimônio a bens ambientais. 1.6.4 Lei de Biossegurança Temendo as consequências do exercício da engenharia genética, o legislador decidiu disciplinar a matéria por meio da criação da Lei nº 11.105/2005. Essa lei regulamenta o art. 225, § 1º, II, IV e V, da CF, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGMs) e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNbio) e dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança. Existe uma grande polêmica sobre os alimentos geneticamente modificados (OGM), também conhecidos como transgênicos, envolvendo cientistas, sociedade, juristas, imprensa e Poder Público. As empresas que trabalham com biotecnologia garantem que a manipulação genética permitirá progressos sem limites na agricultura, na criação de animais, na descoberta de vacinas, no fim dos genes defeituosos nos seres humanos; mas parte da comunidade científica e da sociedade, por meio principalmente de organizações não governamentais, alertam para os graves riscos que essa técnica pode trazer para o meio ambiente e para a saúde humana. A justificativa desse alerta está no fato de que as consequências dessas alterações genéticas ainda não podem ser medidas, seja em termos ecológicos, biológicos, econômicos, ou de saúde pública.12 11 CF, art. 225, II. 12 FARIAS, Talden. Introdução ao direito ambiental. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 156. 18 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação Pelos riscos inerentes à biotecnologia, é essencial o papel do Poder público, por meio dos mecanismos criados pela Lei 11.105/2005, para a fiscalização e regulamentação das atividades voltadas para essa ciência. Os perigos que os transgênicos podem oferecer ao meio ambiente são muitos e não foram suficientemente avaliados. Com a inserção de genes de resistência aos agrotóxicos em certos produtos transgênicos, as pragas e plantas invasoras poderão adquirir a mesma resistência, o que vai exigir a utilização de quantidades cada vez maiores de agrotóxicos nas plantações, contaminando os alimentos, a água e o solo. A introdução de uma espécie no meio ambiente pode ser irreversível, já que o gene pode se espalhar sem qualquer controle, tornando difícil ou mesmo impossível controlar a natureza. Assim, não se deve permitir o descarte na natureza de substâncias geneticamente modificadas, sob pena de se causar sérios danos ao meio ambiente. Os OGM também podem causar a eliminação de insetos e micro-organismos do ecossistema, gerando um desequilíbrio ambiental. Também pode acontecer a transformação de culturas tradicionais em culturas geneticamente modificadas, por meio da troca de pólen entre culturas de polinização aberta, ocasionando a perda de variedades nativas e a contaminação das reservas e estoques de material genético.13 Apesar da importância da Conferência de Estocolmo, em 1972, foi com a RIO/92, também conhecida como ECO/92, que começaram as mudanças mais significativas e juridicidade ambiental, no Brasil. A RIO/92 foi um grande evento internacional, como já comentamos na Unidade I , que envolveu mais de 100 chefes de Estado, dispostos ao diálogo sobre as questões ambientais, concretizando-se como o marco da primeira grande reunião internacional de relevância após o fim da Guerra Fria. Também deve ser destacada na RIO/92 a participação da sociedade civil, por cerca de 20 mil pessoas de todo o mundo. As discussões ficaram centradas na necessidade de se firmarem regras mais claras e objetivas para o enfrentamento da problemática ambiental internacional e de se desenvolverem estratégias para um novo modelo de desenvolvimento. Os documentos assinados na RIO/92 passaram , então, a representar um papel significativo no crescimento e evolução da normatividade global. Tanto a Convenção sobre Diversidade Biológica quanto a Convenção do Clima se tornaram instrumentos internacionais de grande relevância na questão ambiental global, não apenas pela extensão dos países signatários, mas principalmente pela atualidade e prioridade dos temas objeto dos acordos e pela conquista de um difícil consenso democrático. 13 GUERRANTE, Rafaela Di Sabato; ANTUNES, Adelaide Souza; PEREIRA JUNIOR, Nei. Transgênicos, a difícil relação entre a Ciência, a Sociedade e o Mercado. In: VALLE, Silvio; TELLES, José Luiz (Orgs.). Bioética e biorrisco: abordagem transdisciplinar. Rio de Janeiro: Interciência, 2003. p. 54 apud FARIAS, Talden, op. cit., p. 165. 2. A Rio/92 e Seus Impactos na Legislação Ambiental Nacional e Internacional 19 Por outro lado, os documentos firmados na RIO/92 consagram, definitivamente, o compromisso com o desenvolvimento sustentável, ou seja, a necessidade de mudança do paradigma de desenvolvimento econômico, passando a considerar o meio ambiente como uma vertente indissociável da conquista de uma vida digna. A principal função da Declaração do Rio foi influenciar a criação de um novo regramento jurídico por meio do direito positivo dos países, voltado a tornar efetiva a defesa do meio ambiente. E, apesar de sua força meramente indicativa, a Declaração do Rio tem exercido, desde sua assinatura, uma influência decisiva no crescimento e afirmação do Direito Ambiental nacional e internacional. 2.1 A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima A Convenção sobre mudança do Clima foi assinada na RIO/92. Essa convenção estabelece normas para redução de lançamento dos gases de efeito estufa (GEE), responsáveis pela elevação da temperatura do clima na Terra. Refere-se ainda á conservação e ampliação dos sumidouros dos gases de carbono (os oceanos e as florestas). A Conferência das Partes, realizada em Kyoto, Japão, em 1997, adotou o Protocolo de Kyoto como parte integrante da Convenção sobre mudança do clima, estabelecendo normas práticas para a redução da emissão de gases do efeito estufa, impostas aos países em desenvolvimento e aos países com economia em transição. Vejamos a seguir, a importância de Protocolo e de suas disposições, já mencionados na evolução histórica do Direito Ambiental, estudada na Unidade I. 2.2. O Protocolo de Kyoto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo A Convenção-Quadro do Clima, ao estabelecer as normas de caráter geral para a estabilização da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, previu também a necessidade de produção de outros instrumentos jurídicos a serem adotados pela Conferência das partes, com o objetivo de possibilitar a sua regulamentação. A Convenção do Clima é uma lei branda que não impõe sanções aos que a descumprirem, e por isso necessita de outros mecanismos para continuidade do processo de negociação pelas Partes, mesmo após a sua entrada em vigor. Por essa razão, posteriormente, em dezembro de 1997 foi adotado o Protocolo de Kyoto, cuja entrada em vigor se deu em 16 de fevereirode 2005, ratificado por 141 países, inclusive o Brasil. No Protocolo, há um cronograma constando que os países estão obrigados a reduzir em 5,2%, a emissão de gases poluentes, entre os anos de 2008 e 2012 (primeira fase do acordo). Os gases citados no acordo são: dióxido de carbono, gás metano, óxido nitroso, hidrocarbonetos fluorados, hidrocarbonetos perfluorados e hexafluoreto de enxofre. Estes últimos três são eliminados principalmente por indústrias. A emissão desses poluentes ocorre em vários setores econômicos e ambientais. Os países devem colaborar entre si para atingirem as metas. 20 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação O protocolo sugere ações comuns, como, por exemplo: – aumento no uso de fontes de energias limpas (biocombustíveis, energia eólica, biomassa e solar); – proteção de florestas e outras áreas verdes; – otimização de sistemas de energia e transporte, visando o consumo racional; – diminuição das emissões de metano, presentes em sistemas de depósito de lixo orgânico; – definição de regras para a emissão dos créditos de carbono (certificados emitidos quando há a redução da emissão de gases poluentes). Os especialistas em clima e meio ambiente esperam que o sucesso do Protocolo de Kyoto possa diminuir a temperatura global entre 1,5 e 5,8ºC até o final do século XXI. Dessa forma, o ser humano poderia evitar as catástrofes climáticas de alta intensidade que estão previstas para o futuro. 2.2.1 Mecanismos de Flexibilização Com o incentivo e desenvolvimento das reuniões para discutir o aquecimento global e as políticas que seriam adotadas, o Protocolo de Kyoto dividiu as nações em dois grandes blocos, que foram chamados de Anexos. O Anexo I é formado pelos países considerados menos desenvolvidos, que possuem economias em transição e muitas vezes ainda estão se industrializando. São considerados países emergentes, em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, como Brasil, Argentina, México e outros. Essa divisão é justificada pela defasagem destes com relação aos países que já passaram por esse processo. Quanto ao anexo II, é composto pelos países desenvolvidos, que passaram pelo processo de Revolução Industrial há algum tempo e que estão tecnicamente industrializados. Esses são os países mais ricos e mais desenvolvidos do mundo, como Inglaterra, Estados Unidos, França e outros. Sendo assim, os países do Anexo II são os maiores poluidores do mundo, pois sofreram um processo de industrialização mais profundo, com grande degradação dos recursos naturais. Com base no perfil dos países do Anexo I e Anexo II, foram criados mecanismos e regras diferenciados para cada grupo, na busca da diminuição da emissão de gases poluentes na atmosfera. Os mecanismos desenvolvidos e propostos pelo Protocolo de Kyoto são três: a implementação conjunta, o mecanismo de desenvolvimento limpo e o comércio internacional de emissões. 2.2.2 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é um dos mais importantes mecanismos de flexibilização previstos no Protocolo de Kyoto. Também tem por objetivo auxiliar os países em desenvolvimento a atingir o chamado desenvolvimento sustentável e contribuir para o objetivo final da Convenção, ou seja, a redução da emissão de gases poluentes. O MDL está previsto no art. 12 do Protocolo de Kyoto. 21 O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) nasceu de uma proposta brasileira à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC). Trata-se do comércio de créditos de carbono baseado em projetos de sequestro ou mitigação das emissões de carbono. Os países que não conseguirem atingir suas metas, terão liberdade para investir em projetos MDL de países em desenvolvimento. Por meio dele, países desenvolvidos comprariam créditos de carbono, em tonelada de CO2 equivalente, de países em desenvolvimento responsáveis por tais projetos. Há uma série de critérios para reconhecimento desses projetos, como estarem alinhados às premissas de desenvolvimento sustentável do país hospedeiro, definidos por uma Autoridade Nacional Designada (AND). No caso do Brasil, tal autoridade é a Comissão Interministerial de Mudança do Clima. Somente após a aprovação pela Comissão, é que o projeto pode ser submetido à ONU para avaliação e registro. A negociação de contratos futuros de crédito de carbono já ocorre na Bolsa de Chicago e em países como Canadá, República Checa, Dinamarca, França, Alemanha, Japão, Holanda, Noruega e Suécia. Em 2005 também entrou em vigor o mercado regional europeu, batizado de “European Union Emission Trading Scheme”. O Brasil deve se beneficiar deste cenário como vendedor de créditos de carbono, e também como alvo de investimentos em projetos engajados com a redução da emissão de gases poluentes, como é o caso do biodiesel. A implementação da uma nova ordem constitucional com relação às águas e aos nossos recursos hídricos deu-se com o advento da Lei nº 9.433/1997, conhecida com a Lei dos Recursos Hídricos. Em seu art. 1º, a Lei dispõe que a água é bem de domínio público. A utilização dos Recursos Hídricos se sujeita à outorga de licença concedida pelo órgão administrativo competente. A entidade federal encarregada do controle e gestão do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos é a Agência Nacional de Águas – ANA, criada pela Lei nº 9.984/2000. Cabe à ANA, entre outras coisas, implementar a política nacional de recursos hídricos, conceder outorgas na esfera federal e organizar o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. Para o mundo todo, a água é considerada como uma das maiores, senão a maior, riqueza do século XXI. Corre o risco de escassez, em função de sua má utilização e aproveitamento. No Brasil não é diferente. Embora o Brasil seja um país com grande rede hidrológica, a ocorrência de conflitos em função do uso da água, quer por excesso ou escassez, representa um risco constante. Por isso é importante haver uma gestão adequada dos recursos hídricos, tanto no campo do planejamento quanto no controle de seu uso, com o objetivo de não apenas garantir o acesso à água por toda a população, mas também para organizar os diversos tipos de uso desse recurso por todos os usuários.14 14 Idem, p. 185. 3. Política Nacional de Recursos Hídricos 22 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação Com base na necessidade premente de proteção a esse importante bem ambiental, e de seu uso racional, foi editado o Decreto nº 5.440/2005, que estabelece definições e procedimentos sobre o controle de qualidade da água de sistemas de abastecimento e institui mecanismos e instrumentos para a divulgação de informação ao consumidor sobre a qualidade da água para consumo humano. Todas as diretrizes constantes do Decreto são de adoção obrigatória em todo o território nacional. 3.1 Estado Atual dos Recursos Hídricos no Brasil e a Legislação Protetiva a) Constituição Federal e as normas de proteção e utilização de recursos hídricos A Constituição Federal de 1988 alterou profundamente a questão do domínio das águas no Brasil, que passaram a ser públicas, dos estados ou da União. O art. 26 menciona, entre os bens dos estados, as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes ou em depósito, com ressalva às decorrentes de obra da União. No que se refere aos recursos hídricos, a Constituição Federal foi bastante centralizadora. O art. 22 estabeleceu à União competência privativa para legislar sobre águas e energia. Apesar disso, lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas no art. 22, de acordo com o parágrafo único do mesmo artigo. Também deve ser objeto de lei federal o incentivo para a prioridade no aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas à secas periódicas, em que a Uniãoincentivará a recuperação das terras áridas e cooperará com os pequenos e médios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de fontes de água e de pequena irrigação. A União também terá competência para planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações; instituir o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos; definir critérios de outorga de direitos sobre o uso da água, e, ainda, instituir diretrizes para o saneamento básico (CF, art. 21, XVIII, XIX e XX). Decorre deste dispositivo a competência da União para estabelecer a classificação e a denominação dos corpos d’água e as prioridades na utilização dos Recursos Hídricos.15 Com relação à proteção da Zona Costeira, considerada patrimônio nacional pelo § 4º do art. 225 da CF, sua utilização deverá ser feita na forma da Lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente e o uso de seus recursos naturais. A preservação da Zona Costeira é tão relevante que a sua lei regulamentadora dispôs expressamente no sentido de que prevalecerá, dentre as normas das três esferas políticas, aquela que for mais restritiva, ou seja, havendo conflito normativo ambiental entre as três esferas, prevalecerá aquela que melhor defenda o direito fundamental tutelado. 15 A Resolução nº 357/2005 do CONAMA revogou a Resolução nº 20/1986, dispondo sobre a classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, além de estabelecer as condições e os padrões de lançamento de efluentes, entre outras providências. Já a Resolução CONAMA nº 5/1988 estabelece normas para o licenciamento de obras de abastecimento de água, de esgotos sanitários, de drenagem e de limpeza urbana. A Resolução nº 377/2006 dispõe sobre o licenciamento ambiental simplificado de sistema de esgoto sanitário de médio e pequeno porte. 23 b) Principais Leis de Proteção aos Recursos Hídricos Assim como no caso da terra, o uso da água também desempenha uma função social. Sua reutilização mediante o tratamento de esgotos deve ser encarada como prioridade por nossos governantes. Com a edição da Lei nº 9.433/1997, a antiga concepção privativista da água fluvial foi superada, assentando-se a nova política nacional de recursos hídricos com fundamento na concepção de que a água é um bem de domínio público e constitui um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. Essa lei instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamentou o inc. XIX do art. 21 da CF, e alterou o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. c) Código de Águas O Decreto nº 24.643/1934, chamado de Código de Águas, cuidou de vários aspectos jurídicos relativos a esse bem, tanto em matéria de direito civil – álveo e margens, acessão, águas pluviais, servidão etc. – quanto de direito administrativo – águas nocivas, penalidades, outorga do direito de uso da água etc. O projeto de lei que culminou nesse dispositivo legal foi concebido no início do século, e ficou durante décadas aguardando aprovação no Congresso Nacional. À época de sua edição, era um instrumento moderno de legislação, mas não foi regulamentado em todas as suas matérias. A sua regulamentação restringiu-se basicamente à energia elétrica, criando uma ampla política energética no Brasil. Outros usos da água ficaram esquecidos, o que gerou um desequilíbrio ambiental que até os dias de hoje é sentido, como se pode verificar pelos programas de combate à poluição e à escassez desse recurso. Em função do desenvolvimento industrial do país no século XX, até por conta do próprio incremento da energia elétrica, as cidades cresceram e mudaram o aspecto do meio ambiente. Os rios e lagos passaram a receber os esgotos domésticos e os resíduos das indústrias. Apesar da instituição de normas ambientais a partir da década de 1980, era imprescindível que se estabelecessem novas disposições sobre as águas, pois o Código de Águas não fornecia instrumentos suficientes para a gestão e proteção dos recursos hídricos, diante da situação em que se encontravam. 3.2 Agência Nacional de Águas (ANA) e o uso das águas A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inc. III, do art. 5º da Lei Federal nº 9.433/1997, de 8 de janeiro de 1997. 24 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação Esse instrumento tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. De acordo com o inc. IV, do art. 4º da Lei Federal nº 9.984/2000, de 17 de junho de 2000, compete à Agência Nacional de Águas (ANA) outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, bem como emitir outorga preventiva. Também é competência da ANA a emissão da reserva de disponibilidade hídrica para fins de aproveitamentos hidrelétricos e sua consequente conversão em outorga de direito de uso de recursos hídricos. Em cumprimento ao art. 8º da citada Lei nº 9.984/2000, a ANA dá publicidade aos pedidos de outorga de direito de uso de recursos hídricos e às respectivas autorizações, mediante publicação sistemática das solicitações e dos extratos das Resoluções de Outorga (autorizações) nos Diários Oficiais da União e do respectivo Estado. Em nosso país, resíduos sólidos e lixo são muitas vezes usados como sinônimos, embora o conceito de resíduo sólido seja mais amplo. A Resolução CONAMA nº 5/1993 deu a definição de resíduos sólidos: Art. 1º Para os efeitos desta Resolução definem-se: I – Resíduos Sólidos: conforme a NBR nº 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – “Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível. 4. Política Nacional de Resíduos Sólidos 25 Com o texto da Resolução nº 5/1993 do CONAMA, percebemos que o termo resíduo sólido inclui as descargas de materiais sólidos provenientes das operações industriais, comerciais, agrícolas e da comunidade. Assim, os resíduos sólidos são “considerados qualquer lixo, refugo, lodo, lamas e borras resultantes de atividades humanas de origem doméstica, profissional, agrícola, industrial, nuclear ou de serviço, que neles se depositam, com a denominação genérica de lixo, o que se agrava constantemente em decorrência do crescimento demográfico dos núcleos urbanos e especialmente das áreas metropolitanas”16. 4.1 Lixo Urbano O lixo urbano está inserido no contexto da urbanização das cidades, e atinge diretamente os valores ambientais. Isso acontece porque o resíduo sólido é poluente, e precisa ser descartado de forma adequada na natureza, o que nem sempre acontece. Não há lugares próprios em número suficiente para proporcionar um adequado tratamento do lixo. Com isso, acabam-se descartando resíduos sólidos em lugares impróprios, o que acarreta muitas vezes a contaminação do solo e até de lençóis freáticos.17 Com o aumento do consumo, ocorre também o aumento da produção de lixo, que hoje é um grande problema nas grandes cidades. O acúmulo de lixo traz consequências diretas para o homem e para o meio ambiente, por isso o tratamento desses resíduos deve ser acompanhado e fiscalizado. De acordo com o art. 3º, III, da Lei nº 6.938/1981, a naturezajurídica do lixo urbano é de poluente, por suas próprias características. O lixo é poluente desde a sua produção, e mesmo sendo submetido a um processo de tratamento, a degradação ambiental é inevitável, ainda que em menor escala. Os resíduos urbanos recebem uma classificação, de acordo com suas características. Essa classificação vai determinar a forma pela qual esse lixo poderá ser descartado. Independentemente de sua classificação, todo lixo é poluente, em algum grau. O que se admite é que existem resíduos sólidos com níveis aceitáveis de poluição e, com isso, determina-se um tratamento do lixo de acordo com as normas estabelecidas. Os resíduos classificados como perigosos exigem do responsável pela sua produção o tratamento no próprio local em que foi produzido. Já os resíduos classificados como inertes e não inertes18 obrigam não só o Poder Público, mas também a coletividade no trabalho de cooperação. 16 Conceito trazido pelo art. 75 do Decreto nº 28.687/1982, que regulamenta a Lei nº 3.858/1980 do Estado da Bahia, apud FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Op. cit., p. 209. 17 O solo é composto por rochas, por diversas partículas que não preenchem todo o seu volume, resultando em espaços vazios que podem ser preenchidos pela água. Parte da água, seja proveniente de chuvas, de rios, de lagos, ou derretimento da neve, infiltra-se no solo ocupando, juntamente com o ar, o espaço entre os fragmentos que o compõem. Essa água constitui o chamado lençol freático. O lençol mais profundo de água é denominado lençol artesiano. Para a extração da água dos lençóis subterrâneos, freáticos ou artesianos, são utilizados poços rasos ou poços profundos, respectivamente. 18 Resíduos Inertes: são aqueles que, ao serem submetidos aos testes de solubilização (NBR-10.007 da ABNT), não têm nenhum de seus constituintes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água. Isto significa que a água permanecerá potável quando em contato com o resíduo. Muitos desses resíduos são recicláveis, não se degradam ou não se decompõem quando dispostos no solo (se degradam muito lentamente). Estão nesta classificação, por exemplo, os entulhos de demolição, pedras e areias retirados de escavações. Resíduos Não inertes: são os resíduos que não apresentam periculosidade, porém não são inertes; podem ter propriedades, tais como: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. São basicamente os resíduos com as características do lixo doméstico. 26 Unidade: Aspectos Relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a Atual Legislação 4.2 Legislação Aplicável Para tentar resolver os problemas que envolvem o descarte e manipulação dos resíduos sólidos, a Lei nº 12.305/10 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), uma lei bastante atual e que contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. A referida Lei prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo. Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e metropolitano e municipal; além de impor que os particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Também coloca o Brasil em patamar de igualdade aos principais países desenvolvidos no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quando na Coleta Seletiva. Além disso, os instrumentos da PNRS ajudarão o Brasil a atingir uma das metas do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que é de alcançar o índice de reciclagem de resíduos de 20% em 2015 .
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