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02 - Princípios Administrativos

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Regime Jurídico Administrativo
Regime de Direito Público e Direito Privado
 O Direito, de forma bastante simples, é o CONJUNTO DE REGRAS/NORMAS IMPOSTAS PELO ESTADO QUE DISCIPLINAM AS RELAÇÕES JURÍDICAS DA VIDA FIRMADA PELOS SUJEITOS DE UMA SOCIEDADE. Tais regras podem estar expressas em LEIS, REGULAMENTOS ou mesmo estabelecidas na forma de PRINCÍPIOS. 
 TRADICIONALMENTE, O DIREITO É DIVIDIDO EM DOIS RAMOS PRINCIPAIS: 
· DIREITO PÚBLICO;
· DIREITO PRIVADO.
 O DIREITO PRIVADO é o CONJUNTO DE NORMAS JURÍDICAS QUE REGEM A VIDA DOS INDIVÍDUOS ENTRE SI, se ocupa de interesses individuais, estabelecendo regras de organização social e convivência a serem obedecidas pelas pessoas em suas atividades particulares, de que são exemplo o Direito Civil e o Direito Comercial.
 São regidas pelo direito privado situações como a CELEBRAÇÃO DE UM CONTRATO DE COMPRA VENDA entre pessoas e empresas privadas, os direitos e deveres dos moradores de um condomínio residencial, os efeitos do casamento civil, dentre outras tantas circunstâncias do nosso cotidiano. A característica marcante do direito privado é a IGUALDADE NAS RELAÇÕES JURÍDICAS, eis que se ocupa de situações nas quais os INTERESSES DA COLETIVIDADE NÃO ESTÃO EM JOGO, tutelando apenas interesses particulares.
 Por outro lado, o DIREITO PÚBLICO contém as regras disciplinadoras das RELAÇÕES QUE ENVOLVEM INTERESSES DA SOCIEDADE COMO UM TODO, em termos mais simples, o regime de direito público é aquele aplicável no exercício da função pública, buscando satisfazer os interesses indisponíveis da sociedade a exemplo das normas de Direito Constitucional, Direito Tributário, Direito Penal e Direito Administrativo. Ou seja, TRATA DO CONJUNTO DE NORMAS QUE REGULAM AS RELAÇÕES ENTRE O ESTADO E OS INDIVÍDUOS.
 No regime de direito público, os INTERESSES DA SOCIEDADE SÃO INDISPONÍVEIS. Isso significa que o agente público, que atua em nome da sociedade, não é proprietário da coisa pública, ele apenas atua em nome da sociedade. Justamente por isso que o poder público sofre um conjunto de limitações ou restrições. Um agente público, por exemplo, não pode alienar (vender) um bem que esteja sendo utilizado diretamente na prestação de serviços para a sociedade. Não pode, por exemplo, vender um prédio em que esteja funcionando uma escola pública.
 Constituem objeto do direito público questões como a organização do Estado, os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos, a previdência social, os crimes e respectivas penas, a arrecadação de tributos, a eleição de pessoas para cargos políticos, a celebração de um contrato de compra e venda por um órgão público, ou seja, temas que interessam a sociedade como um todo, diretamente ou por intermédio de seus representantes públicos, e não apenas um indivíduo ou um grupo em particular. A característica marcante do direito público é a DESIGUALDADE NAS RELAÇÕES JURÍDICAS, decorrente do princípio amplamente aceito de que o INTERESSE PÚBLICO (DA COLETIVIDADE) DEVE PREVALECER SOBRE OS INTERESSES INDIVIDUAIS.
 Tome-se, como exemplo, a COBRANÇA DE TRIBUTOS, atividade regida pelo Direito Tributário, um dos ramos do direito público. Por meio da cobrança de tributos, o Estado arrecada recursos dos indivíduos de forma coercitiva com a finalidade de fornecer serviços para a coletividade. Nos CONTRATOS ADMINISTRATIVOS, há aplicação do regime de direito público e, por isso, a Administração poderá realizar alterações unilaterais no contrato, ou seja, realizará mudanças no contrato independentemente da vontade da outra parte contratada. Trata-se, nesse caso, da aplicação do princípio da supremacia. Outro exemplo clássico da supremacia do interesse público é o instituto da DESAPROPRIAÇÃO, regido pelo Direito Administrativo, pelo qual o Estado toma a propriedade de bens particulares, mediante indenização, para executar obras de interesse da coletividade, como a desapropriação de terrenos para a construção de vias públicas.
· Aplica-se esse regime, por exemplo, quando o Estado desapropria um imóvel particular para construir um hospital: nesse caso, há o conflito entre o interesse do proprietário do imóvel (que muitas vezes não quer se desfazer do seu bem) e o interesse da sociedade (que precisa do hospital). Nesse caso, o Estado se utiliza da supremacia do interesse público, colocando-se em posição de superioridade perante o particular.
 Repare que, nesses exemplos, PREVALECE O INTERESSE DO ESTADO – isto é, DA COLETIVIDADE – SOBRE O DO INDIVÍDUO: mesmo que determinada pessoa não venha a usufruir diretamente do serviço provido ou da obra construída, terá que, necessariamente, pagar o tributo ou entregar a sua propriedade. Tal relação de desigualdade entre as partes não ocorre nas relações entre particulares, regidas pelo direito privado. Conforme as regras de Direito Civil e Comercial, por exemplo, nenhum particular é obrigado a entregar seus recursos financeiros ou seus bens a outrem sem a devida contraprestação na forma de outros bens ou serviços que atendam aos seus interesses pessoais.
 Como se percebe, em nossa sociedade é o ESTADO, DIRETA OU INDIRETAMENTE, quem exerce o papel de representar os interesses da coletividade ou, em outras palavras, o INTERESSE PÚBLICO. Sendo assim, a maioria das relações em que o Estado figura como parte são regidas, EXCLUSIVA OU PREDOMINANTEMENTE, pelo DIREITO PÚBLICO. E, dentro do direito público, o exercício da FUNÇÃO ADMINISTRATIVA – compreendendo desde a organização dos órgãos e entidades estatais até a prestação de serviços públicos e demais atividades administrativas – é regido pelo DIREITO ADMINISTRATIVO.
 Ressalte-se, porém, que embora na maioria das vezes a atuação estatal seja pautada pelas regras de direito público, o Estado também pode figurar em relações jurídicas regidas PREDOMINANTEMENTE (JAMAIS EXCLUSIVAMENTE) pelo DIREITO PRIVADO. É o que ocorre quando o Estado ATUA NO DOMÍNIO ECONÔMICO (Estado-empresário), COMPETINDO EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES COM AS EMPRESAS PRIVADAS, por exemplo, ao vender petróleo processado pela Petrobrás ou ao comercializar uma apólice de seguro do Banco do Brasil. Nessas hipóteses, o Estado, representado pelas mencionadas empresas estatais, não está precipuamente tutelando interesses coletivos, e sim buscando lucrar com os negócios, devendo, por isso, colocar-se em pé de igualdade com o polo oposto da relação jurídica.
 Sobre o assunto, vale registrar que a BUSCA PELA EFICIÊNCIA vem fazendo com que o Estado cada vez mais paute sua atuação administrativa pelas normas de direito privado, seja CRIANDO EMPRESAS SUJEITAS AO REGIME JURÍDICO DAS EMPRESAS PRIVADAS, SEJA TRANSFERINDO A GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS DIRETAMENTE PARA PARTICULARES, fenômeno conhecido como FUGA DO DIREITO ADMINISTRATIVO. Por isso, segundo ensina o PROF. LUCAS ROCHA FURTADO, atualmente tem se mostrado IMPOSSÍVEL A SEPARAÇÃO ABSOLUTA ENTRE OS DOIS RAMOS BÁSICOS DO DIREITO, O PÚBLICO E O PRIVADO.
 Todavia, ainda segundo os ensinamentos do ilustre doutrinador, compartilhados pela professora Di Pietro, tal tendência não tem como se concretizar por completo, haja vista que o direito público possui precedência no balizamento das atividades estatais. Assim, caso exista norma de direito público a regular determinado ato, o Estado não pode pratica-lo segundo os ditames do direito privado. Ademais, mesmo nas hipóteses em que o direito privado possa ser utilizado pelo Estado, sempre haverá NORMAS DE DIREITO PÚBLICO IRRENUNCIÁVEIS e que possuem PRECEDÊNCIA EM RELAÇÃO ÀS DE DIREITO PRIVADO, muitas delas com fundamento constitucional, a exemplo dos princípios da indisponibilidade do interesse público, da publicidade, da moralidade, dentre outros.
· Essa separação é mais doutrinária do que prática, uma vez que, “no mundo real”, os dois regimes convivem “lado a lado”. As relações que a Administração firma submetem-se tanto ao regime de direito público como ao de direito privado, ocorrendo, na verdade, o predomínio de um ou outro regime, conforme o caso. Por exemplo: 
· As EMPRESASESTATAIS EXPLORADORAS DE ATIVIDADE ECONÔMICA SÃO ENTIDADES DE DIREITO PRIVADO. Em regra, suas relações SÃO REGIDAS PELO DIREITO PRIVADO, como ocorre num contrato de financiamento firmado entre um banco público e o seu cliente. No entanto, esse mesmo banco público sujeita-se a um conjunto de regras de direito público, como a NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO para o provimento de seus empregados públicos e o dever de licitar em determinadas condições. Na mesma linha, uma prefeitura municipal, em regra, SUJEITA-SE AO REGIME DE DIREITO PÚBLICO; mas se sujeitará ao regime de direito privado quando, por exemplo, EMITIR UM CHEQUE DE PAGAMENTO ou quando FIRMAR UM CONTRATO DE SEGURO DE UM VEÍCULO, uma vez que nestas situações não estarão presentes (pelo menos não diretamente) as prerrogativas de direito público.
Regime Jurídico Aplicável a Administração Pública
 A Administração Pública pode submeter-se a regime jurídico de direito privado ou de direito público. A aplicação do regime jurídico é feita conforme determina a Constituição ou as leis, levando em consideração a necessidade, ou não, de a Administração encontrar-se em situação de superioridade em relação ao particular. Por exemplo:
· O art. 173, § 1º, da Constituição, determina que a lei estabeleça o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo, entre outros aspectos, sobre “a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários” (CF, art. 173, § 1º, II). Nesse caso, ficou nítida a determinação de que esse tipo de empresa deverá submeter-se ao regime de direito privado. Isso porque a natureza da atividade (exploração de atividade econômica) não permite uma relação de desigualdade.
 Assim, HAVERÁ CASOS DE APLICAÇÃO DE REGRAS DE DIREITO PÚBLICO E, EM OUTROS, DE DIREITO PRIVADO. Todavia, mesmo quando emprega modelos privatísticos, NUNCA SERÁ INTEGRAL A SUBMISSÃO AO DIREITO PRIVADO. Vale dizer: mesmo quando ocorre a aplicação do regime de direito privado, a sua utilização não será isolada, pois haverá, de alguma forma, aplicação de regras de direito público.
 Nesse contexto, MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO diferencia a expressão REGIME JURÍDICO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA para designar, em sentido amplo, os REGIMES DE DIREITO PÚBLICO E DE DIREITO PRIVADO a que pode submeter-se a Administração Pública. Por outro lado, a autora utiliza a expressão REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO para abranger tão somente o “conjunto de TRAÇOS, DE CONOTAÇÕES, QUE TIPIFICAM O DIREITO ADMINISTRATIVO, COLOCANDO A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NUMA POSIÇÃO PRIVILEGIADA, VERTICAL, NA RELAÇÃO JURÍDICO-ADMINISTRATIVA”.
· Em síntese, o regime jurídico da Administração Pública se refere a qualquer tipo de regramento, seja de direito público ou de direito privado; enquanto o regime jurídico administrativo trata das regras que colocam a Administração Pública em condições de superioridade perante o particular.
 O regime jurídico administrativo resume-se em dois aspectos: de um lado, estão as PRERROGATIVAS, que representam alguns PRIVILÉGIOS PARA A ADMINISTRAÇÃO DENTRO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS; de outro, encontram-se as SUJEIÇÕES, que são RESTRIÇÕES DE LIBERDADE DE AÇÃO PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
 As PRERROGATIVAS OU PRIVILÉGIOS são regras, desconhecidas no direito privado, que COLOCAM A ADMINISTRAÇÃO EM CONDIÇÕES DE SUPERIORIDADE NAS RELAÇÕES COM O PARTICULAR. São faculdades especiais que o setor público dispõe, como, por exemplo, o poder de REQUISITAR BENS E SERVIÇOS, de OCUPAR TEMPORARIAMENTE IMÓVEL ALHEIO, de APLICAR SANÇÕES ADMINISTRATIVAS, de ALTERAR OU RESCINDIR UNILATERALMENTE OS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS, de IMPOR MEDIDAS DE POLÍCIA, etc. 
 Por outro lado, as SUJEIÇÕES OU RESTRIÇÕES RETIRAM OU DIMINUEM A LIBERDADE DA ADMINISTRAÇÃO QUANDO COMPARADA COM O PARTICULAR, sob pena de NULIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO ou, até mesmo, de RESPONSABILIDADE DA AUTORIDADE QUE O EDITOU. São exemplos a necessidade de OBSERVAR A FINALIDADE PÚBLICA ou de PAUTAR-SE SEGUNDO OS PRINCÍPIOS DA MORALIDADE, LEGALIDADE e PUBLICIDADE. Além desses, podemos mencionar a SUJEIÇÃO À REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO para selecionar pessoal e de FAZER LICITAÇÃO para firmar contratos com particulares.
 Dessa forma, enquanto prerrogativas colocam a Administração em posição de supremacia perante o particular, sempre com o objetivo de atingir o benefício da coletividade; as restrições limitam a sua atividade a determinados fins e princípios que, se não observados, implicam desvio de poder e consequente nulidade dos atos da Administração.
 Segundo MARCELO ALEXANDRINO E VICENTE PAULO, o regime jurídico administrativo é um regime de direito público, aplicável aos órgãos e entidades que compõem a Administração Pública e à atuação dos agentes administrativos em geral. Os eminentes autores destacam que ele se baseia na existência de “PODERES ESPECIAIS” contrabalançados pela imposição de “RESTRIÇÕES ESPECIAIS”.
 As prerrogativas e sujeições, conforme ensinamentos de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, traduzem-se, respectivamente, nos princípios da SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO e na INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO. 
· A supremacia do interesse público fundamenta a existência das prerrogativas ou poderes especiais da Administração Pública, caracterizando-se pela chamada VERTICALIDADE nas relações entre a Administração e o particular. Baseia-se na ideia de que o Estado possui a obrigação de atingir determinadas finalidades, que a Constituição e as leis exigem. Assim, esses poderes especiais representam os meios ou instrumentos utilizados para atingir o fim: o INTERESSE PÚBLICO. Dessa forma, havendo conflito entre o interesse público e os interesses particulares, deverá prevalecer o primeiro. Por outro lado, a indisponibilidade do interesse público representa as restrições na atuação da Administração. Essas limitações decorrem do fato de que a Administração não é proprietária da coisa pública, não é proprietária do patrimônio público, tampouco titular do interesse público. Estes pertencem ao povo! A indisponibilidade representa, pois, a DEFESA DOS INTERESSES DOS ADMINISTRADOS.
 Em decorrência do princípio da indisponibilidade do interesse público, segundo ALEXANDRINO E PAULO, a ADMINISTRAÇÃO SOMENTE PODE ATUAR QUANDO HOUVER LEI QUE AUTORIZE OU DETERMINE SUA ATUAÇÃO, E NOS LIMITES ESTIPULADOS POR ESSA LEI. Dessa forma, enquanto os particulares atuam conforme a autonomia da vontade, os agentes administrativos devem agir segundo a “vontade” da lei.
 É importante destacar que MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO diz que os princípios fundamentais que demonstram a BIPOLARIDADE do Direito Administrativo – de um lado as prerrogativas e de outro as sujeições – são os princípios da SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PARTICULAR e da LEGALIDADE. Perceba que a autora “troca” o princípio da indisponibilidade pelo princípio da legalidade para demonstrar as sujeições administrativas.
 Independentemente de quais são os princípios basilares, o fundamental é entender que o regime jurídico administrativo se resume a um CONJUNTO DE PRERROGATIVAS E SUJEIÇÕES ESPECIAIS que permitem, de um lado, o alcance da FINALIDADE PÚBLICA DO ESTADO e, de outro, a PRESERVAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E DO PATRIMÔNIO PÚBLICO.
	REGIME DE DIREITO PÚBLICO
	Normas que disciplinam a supremacia e a indisponibilidade do interesse público, colocando a Administração em posição de VERTICALIDADE perante os particulares.
	REGIME DE DIREITO PRIVADO
	Normas, em geral aplicáveis aos particulares, que colocam as partes em condições de igualdade (HORIZONTALIDADE).
	REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO
	Conjunto de normas formadas, por um lado, pelas PRERROGATIVAS (SUPREMACIA) e, de outro, pelas SUJEIÇÕES (RESTRIÇÕES). Por isso que a sua base é formada pelos princípiosda supremacia e da indisponibilidade do interesse público.
	REGIME JURÍDICO DA ADMINISTRAÇÃO
	Envolve TODO O REGIME JURÍDICO aplicável à Administração, tratando tanto das regras de DIREITO PÚBLICO como das regras de DIREITO PRIVADO.
Princípios Administrativos
Noções sobre Normas Jurídicas, Regras e Princípios
 O direito não se resume a um conjunto de palavras escritas num dispositivo legal. Ele é mais que isso. Na verdade, o direito exprime em NORMAS JURÍDICAS os valores reputados como dignos de proteção pela sociedade. Por exemplo, a liberdade, antes de ser um direito previsto na Constituição, é um valor amplamente aceito pelos indivíduos como indispensável à dignidade humana. As normas jurídicas que expressam esses valores podem ser classificadas em duas categorias básicas: REGRAS; e PRINCÍPIOS.
 As REGRAS contemplam PREVISÕES DE CONDUTA DETERMINADAS E PRECISAS. Ou seja, entre várias alternativas de conduta, as regras determinam como os sujeitos devem (“é obrigatório”), não devem (“é proibido”) ou podem (“é facultado”) conduzir-se. 
· Exemplo de uma regra é o comando do ART. 2º DA LEI Nº 8.666/1993, pelo qual as compras e alienações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, “serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas na referida lei”. Assim, ao efetuar uma compra para a Administração, o agente público deve necessariamente observar a regra prevista na lei, isto é, deve realizar licitação prévia a menos que se depare com alguma das hipóteses de exceção também previstas na lei. Nesse caso, a ponderação entre fazer ou não a licitação já foi feita pelo legislador: cumpre ao agente apenas cumprir a regra.
 Os PRINCÍPIOS, por sua vez, DETERMINAM O ALCANCE E O SENTIDO DAS REGRAS, SERVINDO DE PARÂMETRO PARA A EXATA COMPREENSÃO DELAS E PARA A PRÓPRIA PRODUÇÃO NORMATIVA. Eles não se restringem a fixar limites ou a fornecer soluções exatas, e sim consagram os valores a serem atingidos. Dessa forma, os princípios NÃO FORNECEM SOLUÇÃO ÚNICA, mas propiciam um elenco de alternativas, exigindo, por ocasião de sua aplicação, que se escolha por uma dentre diversas soluções. 
· Por exemplo, um dos princípios que regem as licitações públicas é o da IGUALDADE ENTRE LICITANTES. Por esse princípio, não é admitido o estabelecimento de condições que impliquem preferência a favor de determinados licitantes em detrimento dos demais. A “igualdade entre os licitantes”, portanto, É UM VALOR A SER PERSEGUIDO NA PRODUÇÃO E NA APLICAÇÃO DAS REGRAS DA LICITAÇÃO. Assim, caso determinado agente público responsável por elaborar um edital de licitação se depare com situação na qual inexista regra jurídica a apontar de maneira evidente a solução, ele deve analisar as circunstâncias do caso concreto, ponderar as diversas possibilidades e, enfim, adotar providência que não prejudique a igualdade entre os licitantes. As soluções podem, então, variar em cada caso, mas devem ser sempre motivadas ou justificadas pela aplicação do princípio.
 CARVALHO FILHO assevera que as REGRAS são operadas de modo DISJUNTIVO, vale dizer, o conflito entre elas é dirimido no PLANO DA VALIDADE: havendo mais de uma regra aplicável a uma mesma situação, apenas uma delas deverá prevalecer. Para o CONFLITO ENTRE AS LEIS, por exemplo, vale o entendimento de que a NORMA SUPERIOR PREVALECE SOBRE A INFERIOR (a Constituição prevalece sobre as leis e estas sobre os decretos e assim por diante). Se equivalentes, em termos de hierarquia, APLICA-SE A LEI MAIS NOVA SOBRE A ANTIGA (CRITÉRIO CRONOLÓGICO OU DA ANTERIORIDADE). Por fim, existe ainda o CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE, em que LEI ESPECIAL DERROGA LEI GERAL.
 Os PRINCÍPIOS, ao contrário, não se excluem na hipótese de conflito: dotados que são de determinado valor ou razão, o conflito entre princípios deve ser resolvido mediante a PONDERAÇÃO DE VALORES (ou ponderação de interesses) para aplicar a interpretação que melhor se harmonize com a situação concreta. A ponderação é possível porque OS PRINCÍPIOS, AO CONTRÁRIO DAS REGRAS, NÃO POSSUEM HIERARQUIZAÇÃO MATERIAL ENTRE SI, vale dizer, não há princípio mais ou menos importante, todos se equiparam. Um exemplo de ponderação entre princípios pode ser encontrado na jurisprudência do STJ (RMS 24339). Na ocorrência de ilegalidade é dever da Administração e do Judiciário anular o ato administrativo ilegal (PRINCÍPIO DA LEGALIDADE). No entanto, É POSSÍVEL O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE CEDER ESPAÇO PARA O PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA, nos casos em que a manutenção do ato ilegal causar menos prejuízos que a sua anulação (FENÔMENO DA ESTABILIZAÇÃO DOS EFEITOS DO ATO ADMINISTRATIVO).
 Os PRINCÍPIOS são os VALORES, as DIRETRIZES, os MANDAMENTOS mais gerais que orientam a elaboração das leis administrativas, direcionam a atuação da Administração Pública e condicionam a VALIDADE de todos os atos administrativos. São, portanto, as IDEIAS CENTRAIS DE UM SISTEMA, estabelecendo suas DIRETRIZES e conferindo a ele um sentido lógico, harmonioso e racional, o que possibilita uma ADEQUADA COMPREENSÃO de sua estrutura. Ademais, os princípios determinam o alcance e o sentido das regras de determinado subsistema do ordenamento jurídico, BALIZANDO A INTERPRETAÇÃO E A PRÓPRIA PRODUÇÃO NORMATIVA.
 Conforme ensina MARÇAL JUSTEN FILHO, a estruturação do Direito Administrativo é produzida pela Constituição, a qual “DELINEIA OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS, INDICA AS SITUAÇÕES EM QUE SERÁ INDISPENSÁVEL A EXISTÊNCIA DE REGRAS E FORNECE AS DIRETIVAS DE DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NORMATIVO”.
 Portanto, além das inúmeras REGRAS aplicáveis ao Direito Administrativo, os PRINCÍPIOS também orientam o estudo e a aplicação desse ramo do direito, talvez em grau até maior, eis que os princípios constituem as bases, os alicerces, os valores fundamentais do sistema de regras. Aliás, alguns doutrinadores defendem que ofender um princípio seria pior que transgredir uma regra. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO, por exemplo, afirma que a DESATENÇÃO AO PRINCÍPIO IMPLICA OFENSA NÃO APENAS A UM ESPECÍFICO MANDAMENTO OBRIGATÓRIO, MAS A TODO O SISTEMA DE COMANDOS.
Princípios Expressos e implícitos da Administração Pública
 Os princípios desempenham papel relevante para o Direito Administrativo, permitindo à Administração e ao Judiciário estabelecer o necessário EQUILÍBRIO ENTRE AS PRERROGATIVAS DA ADMINISTRAÇÃO E OS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS. Percebe-se, pois, que os princípios estabelecem valores e diretrizes que ORIENTAM NÃO SÓ A APLICAÇÃO COMO TAMBÉM A ELABORAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS DO ORDENAMENTO JURÍDICO, PERMITINDO QUE O SISTEMA FUNCIONE DE MANEIRA HARMONIOSA, EQUILIBRADA E RACIONAL. Por exemplo, o princípio da MORALIDADE condiciona a atuação administrativa segundo os princípios da probidade e boa-fé, invalidando, por conseguinte, os atos decorrentes de comportamentos fraudulentos e astuciosos. Esse tipo de princípio serve para balizar as ações administrativas, auxiliar a interpretação das regras e direcionar a produção legislativa.
 Lembre-se de que o REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO, sistema que dá identidade ao Direito Administrativo, repousa sobre dois princípios básicos: o da SUPREMACIA e o da INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO, os quais fundamentam a BIPOLARIDADE do Direito Administrativo: as PRERROGATIVAS e RESTRIÇÕES concedidas à Administração. Tais princípios não são específicos do Direito Administrativo, pois informam todos os ramos do direito público, mas são essenciais, porque, a partir deles, constroem-se todos os demais princípios e regras que integram o regime jurídico-administrativo.
 Os princípios podem ser EXPRESSOS, quando estão previstos TAXATIVAMENTE em uma norma jurídica de caráter geral; ou IMPLÍCITOS, quando NÃO CONSTAM TAXATIVAMENTE em uma norma jurídica, decorrendo, portanto, de outros princípios, da jurisprudência ou da doutrina. São derivados do binômio supremacia/indisponibilidade do interesse público e APLICÁVEIS A TODO SISTEMA REGIDO PELO DIREITO ADMINISTRATIVO. Por isso são chamadosde PRINCÍPIOS “BÁSICOS” OU “GERAIS”. 
 A Constituição Federal, no caput do art. 37, estabelece de forma expressa alguns princípios básicos que devem pautar a atuação da Administração Pública:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE e EFICIÊNCIA e, também, ao seguinte: (...)
 Os princípios previstos acima são considerados expressos tendo como referência a Constituição Federal. Ou seja, tendo como referência UNICAMENTE A CONSTITUIÇÃO. Importante perceber que tais princípios devem ser observados por TODA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DIRETA e INDIRETA - AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES PÚBLICAS, EMPRESAS PÚBLICAS e SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA -, de QUALQUER DOS PODERES – LEGISLATIVO, EXECUTIVO e JUDICIÁRIO - da UNIÃO, dos ESTADOS, do DF e dos MUNICÍPIOS.
· Inclui-se aqui o MINISTÉRIO PÚBLICO e o TRIBUNAL DE CONTAS –; das entidades administrativas que integram a administração indireta – independentemente se são de direito público ou de direito privado –; e de todos os níveis de governo – União, estados, DF e municípios.
· Até mesmo PARTICULARES QUE ESTEJAM NO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO PÚBLICA, como as ORGANIZAÇÕES SOCIAIS que recebem recursos públicos para o desempenho de atividades de interesse geral, acham-se obrigadas a observar os aludidos princípios (ACÓRDÃO 3239/2013-TCU).
 Assim, não existe exceção em relação à observância dos princípios da LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE e EFICIÊNCIA (LIMPE) por parte da Administração Pública. Segundo CARVALHO FILHO, esses princípios REVELAM AS DIRETRIZES FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO, DE MODO QUE SÓ SE PODERÁ CONSIDERAR VÁLIDA A CONDUTA ADMINISTRATIVA QUE ESTIVER COMPATÍVEL COM ELES.
 Além dos princípios previstos expressamente na Constituição Federal, temos previsão TAXATIVA em diversas NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS, como na Lei 9.784/1999, que dispõe sobre o processo administrativo na Administração Pública Federal, na Lei 8.666/1993, que estabelece normas gerais de licitações e contratos, e na Lei 12.462/2011, que disciplina o regime diferenciado de contratações públicas.
Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações e Contratos): Art. 3º A licitação [...] será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo [...]. ”
 Explicando: o princípio da igualdade é implícito na CF, mas expresso na Lei 8.666/93. Logo, dizer se um princípio é implícito ou expresso vai depender da norma que estamos utilizando como referência.
Lei 9.784/1999 (Lei do Processo Administrativo da Administração Pública Federal): “Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.”.
Lei 12.462/2011 (Lei do Regime de Contratações Públicas): “Art. 3o As licitações e contratações realizadas em conformidade com o RDC deverão observar os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da eficiência, da probidade administrativa, da economicidade, do desenvolvimento nacional sustentável, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo”.
 A doutrina classifica como PRINCÍPIOS EXPRESSOS” APENAS OS PRINCÍPIOS ENUNCIADOS no ART. 37, CAPUT DA CONSTITUIÇÃO. Todos os demais, inclusive os previstos nas normas infraconstitucionais, são considerados PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS, uma vez que são decorrência lógica das disposições da Carta Magna. Ademais, JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO denomina de “PRINCÍPIOS RECONHECIDOS” aqueles que NÃO POSSUEM PREVISÃO EXPRESSA. 
· Os princípios implícitos não constam taxativamente em uma norma jurídica geral, decorrendo de elaboração doutrinária e jurisprudencial. Não significa que eles não estão previstos em uma norma jurídica, apenas não constam expressa ou taxativamente. Ou seja, o princípio implícito encontra-se previsto nas normas, apenas não consta expressamente o seu “nome”. Podemos encontrar princípios (i) que DECORREM DE ALGUM PRINCÍPIO EXPRESSO OU DA INTERPRETAÇÃO LÓGICA DE VÁRIOS PRINCÍPIOS; (ii) cuja APLICAÇÃO CONSTE TAXATIVAMENTE NA CONSTITUIÇÃO, ou seja, NÃO CONSTA UMA DESIGNAÇÃO (o “nome”) para chamar o princípio, mas CONSTA O SEU SIGNIFICADO; e (iii) outros por SEREM IMPLICAÇÕES DO PRÓPRIO ESTADO DE DIREITO E DO SISTEMA CONSTITUCIONAL COMO UM TODO.
 Em que pese a doutrina disponha que os princípios da supremacia do interesse público e da indisponibilidade sejam os princípios basilares ou fundamentais do Direito Administrativo, NÃO HÁ HIERARQUIA ENTRE OS PRINCÍPIOS. Ou seja, não podemos afirmar que o princípio da supremacia se encontra acima do princípio da moralidade, por exemplo. No caso de aparente conflito entre eles, caberá ao interpretador dar uma aplicação que mantenha a harmonia e unidade do ordenamento jurídico.
Princípio da Legalidade
 O princípio da legalidade estabelece que toda e qualquer atividade da Administração Pública deve ser AUTORIZADA POR LEI. Em outras palavras, diz-se que a Administração só pode agir SEGUNDO A LEI (SECUNDUM LEGEM), e NÃO CONTRA A LEI (CONTRA LEGEM) ou ALÉM DA LEI (PRAETER LEGEM). Por outro lado, os administrados PODEM ATUAR SEGUNDO A LEI (SECUNDUM LEGEM) e ALÉM DA LEI (PRAETER LEGEM), só NÃO PODEM ATUAR CONTRA A LEI (CONTRA LEGEM). É o princípio basilar do Estado de Direito, que se caracteriza pela SUBMISSÃO DO ESTADO ÀS LEIS QUE ELE PRÓPRIO EDITA.
· Por exemplo, se dois particulares resolverem firmar um contrato em que um vende uma televisão sob a condição de o outro cortar a sua grama, teremos uma situação não prevista no Código Civil, que é o normativo responsável por regulamentar este tipo de relação jurídica. Todavia, a lei não proíbe este tipo de relação, sendo possível, por conseguinte, realizá-la. Nesse caso, os particulares atuaram além da lei (praeter legem), mas não cometerem nenhuma ilegalidade. Por sua vez, a Administração deve atuar somente segundo a lei. Assim, não é possível, por exemplo, que um órgão público conceda um direito a um servidor não previsto em lei. Diga-se, a lei não proibiu a concessão do direito, mas também não o permitiu, logo não pode a Administração concedê-lo.
 Uma distinção clássica apresentada pela doutrina é que, enquanto os indivíduos, no campo PRIVADO, PODEM FAZER TUDO O QUE A LEI NÃO VEDA (PRINCÍPIO DA LEGALIDADE GERAL), o ADMINISTRADOR PÚBLICO SÓ PODE ATUAR ONDE A LEI AUTORIZA (PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA OU DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA). Em outras palavras, os indivíduos, em suas atividades particulares, têm liberdade para fazer qualquer coisa que a lei não proíba; já os agentes da Administração só podem fazer o que a lei permite. Segundo ensina HELY LOPES MEIRELLES, “NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NÃO HÁ LIBERDADE NEM VONTADE PESSOAL”. Os limites da ação estatal são dados pela lei, que traduz a vontade geral.
 Assim, o princípio da legalidade, quando visto sob a ótica do SETOR PRIVADO, caracteriza-se pela AUTONOMIA DE VONTADE, e está previsto como direito fundamental no ART. 5º, INCISO II DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: “NINGUÉM SERÁ OBRIGADO A FAZER OU DEIXAR DE FAZER ALGUMA COISA SENÃO EM VIRTUDE DE LEI”. Quando visto sob a ótica da ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, o princípio da legalidade, previsto no CAPUT DO ART. 37 DA CF, caracteriza-se pela RESTRIÇÃO DE VONTADE ou VONTADE LEGAL, no sentido de que os agentes administrativos só podem agir “se” e “quando” a lei autorizar, isto é, SÓ PODEM ATUAR EM CONSONÂNCIA COM A VONTADE GERAL E NÃO COM SUAS PRETENSÕES PESSOAIS.
 Lembre-se de que a lei é o instrumento portador da vontade dos cidadãos e que a Administração tem o dever de satisfazer, de tornar concreto o interesse geral. Portanto, o respeitoà legalidade deve constituir diretriz básica da conduta dos agentes públicos, SOB PENA DE NULIDADE DOS ATOS PRATICADOS, nulidade que pode ser decretada pela própria ADMINISTRAÇÃO (AUTOTUTELA) ou pelo JUDICIÁRIO (DESDE QUE PROVOCADO).
· Vale ressaltar que o princípio da legalidade constitui uma das principais GARANTIAS DE RESPEITO AOS DIREITOS INDIVIDUAIS, pois assegura que a atuação do Estado esteja limitada ao que dispuser a lei, prevenindo quaisquer ações autoritárias ou abusivas tendentes a restringir direitos.
 Assim, ao contrário dos particulares, NÃO É SUFICIENTE A AUSÊNCIA DE PROIBIÇÃO EM LEI PARA QUE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA POSSA AGIR; é necessária a existência de uma lei que imponha (ATUAÇÃO VINCULADA) ou autorize (ATUAÇÃO DISCRICIONÁRIA) determinada atuação administrativa. 
· No caso de ATUAÇÃO VINCULADA, o administrador deve agir exatamente como prescreve a lei, sem espaço para escolhas; na hipótese de ATUAÇÃO DISCRICIONÁRIA, a escolha é possível, mas deve observar os termos, condições e limites impostos pela lei.
 Contudo, não devemos confundir o princípio da legalidade com o da reserva legal. O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA OU DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA determina que a atuação administrativa deve pautar-se em SENTIDO AMPLO, ou seja, O ADMINISTRADOR NÃO SE SUJEITA APENAS À LEI FORMAL, APROVADA PELO PODER LEGISLATIVO. Mais que isso, a Administração deve obediência ao ORDENAMENTO JURÍDICO COMO UM TODO, incluindo NORMAS REGULAMENTARES por ela mesmo editadas (DECRETOS, PORTARIAS, INSTRUÇÕES NORMATIVAS etc.), e também aos PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. Por outro lado, a RESERVA LEGAL significa que DETERMINADAS MATÉRIAS DEVEM SER REGULAMENTADAS NECESSARIAMENTE POR LEI FORMAL (lei em sentido estrito – leis ordinárias e complementares). Por exemplo: a Constituição exige que “a lei regulará a individualização da pena” (CF, art. XLVI) – consequentemente, somente uma lei aprovada pelo Poder Legislativo poderá dispor sobre esse tema, não cabendo um decreto ou outro ato normativo secundário.
 Em razão dessa necessidade de plena obediência à lei, diz-se que a FUNÇÃO ADMINISTRATIVA SE SUBORDINA À LEGISLATIVA. De fato, o exercício da função administrativa depende do exercício da atividade legislativa, uma vez que a Administração só pode fazer aquilo que a lei antecipadamente autoriza.
 Em que pese a administração esteja sujeita ao princípio da legalidade, existem situações em que a legalidade pode ser, de certa forma, “MITIGADA”. Nessa linha, a doutrina apresenta como EXCEÇÃO ao princípio da legalidade (ou RESTRIÇÕES EXCEPCIONAIS URGENTES E RELEVANTES ao princípio da legalidade) a:
· ESTADO DE DEFESA (CF, art. 136);
· ESTADO DE SÍTIO (CF, art. 137 a 139); 
· MEDIDAS PROVISÓRIAS (CF, art. 62).
 As MEDIDAS PROVISÓRIAS são atos normativos, com força de lei, editados pelo Presidente da República, em situações de RELEVÂNCIA E URGÊNCIA. Apesar de as medidas provisórias possuírem força de lei, CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO as considera exceção ao princípio da legalidade em decorrência de uma série de limitações, como as características de excepcionalidade e precariedade.
 O ESTADO DE DEFESA poderá ser decretado pelo Presidente da República, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, para “preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçada por GRAVE E IMINENTE INSTABILIDADE INSTITUCIONAL OU ATINGIDAS POR CALAMIDADES DE GRANDES PROPORÇÕES NA NATUREZA” (CF, art. 137). O estado de defesa implicará na restrição de alguns direitos, conforme constará no decreto que o instituirá e, por isso, representa exceção ao princípio da legalidade.
 Por outro lado, o ESTADO DE SÍTIO poderá ser decretado pelo Presidente da República, após autorização do Congresso Nacional, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, em caso de “COMOÇÃO GRAVE DE REPERCUSSÃO NACIONAL OU OCORRÊNCIA DE FATOS QUE COMPROVEM A INEFICÁCIA DE MEDIDA TOMADA DURANTE O ESTADO DE DEFESA” ou de “declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira” (CF, art. 137, caput e incs. I e II). O estado de sítio é uma medida mais gravosa que o estado de defesa, representando uma série de medidas restritivas previstas na Constituição
 Outro aspecto importante do princípio da legalidade é que a Administração NÃO DEVE SEGUIR SOMENTE OS ATOS NORMATIVOS PRIMÁRIOS OU OS DIPLOMAS NORMATIVOS COM FORÇA DE LEI. A ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA TAMBÉM DEVE ESTAR DE ACORDO COM OS DECRETOS REGULAMENTARES E OUTROS ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS, como as PORTARIAS e INSTRUÇÕES NORMATIVAS. É claro que esses últimos atos normativos NÃO PODEM INSTITUIR DIREITO NOVO, ou seja, eles NÃO PODEM INOVAR NA ORDEM JURÍDICA, CRIANDO DIREITOS E OBRIGAÇÕES.
 No entanto, esses diplomas detalham as determinações gerais e abstratas da lei, permitindo a sua aplicação no dia a dia da Administração. Assim, OS AGENTES PÚBLICOS SE VINCULAM TAMBÉM AOS ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS. Nesse sentido, se um agente público descumprir somente um decreto ou uma portaria, o ato, ainda assim, poderá ser considerado ilegal. 
· Por exemplo, suponha-se que uma lei estabeleceu que a remessa de determinados produtos por meio postal deverá obedecer a padrões de segurança estabelecidos em decreto regulamentar. Em seguida, o decreto disciplinou os padrões de segurança e disciplinou as regras para sua fiscalização. Agora, se um agente público realizar a apreensão do produto sem observar as normas do decreto e a forma de sua fiscalização, eventual multa aplicada poderá ser considerada ilegal. No caso, apenas o decreto foi infringido pelo agente público, mas o ato foi dado como ilegal.
 Por fim, cumpre destacar as diferenças usualmente apontadas pela doutrina entre os significados de LEGALIDADE e LEGITIMIDADE. Enquanto LEGALIDADE significa AGIR CONFORME O TEXTO DA LEI, LEGITIMIDADE denota OBEDECER NÃO SÓ À LEI, MAS TAMBÉM AOS DEMAIS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS, COMO MORALIDADE, HONESTIDADE, PROBIDADE ADMINISTRATIVA E INTERESSE PÚBLICO. Conforme assevera HELY LOPES MEIRELLES “cumprir simplesmente a lei na frieza de seu texto [legalidade] não é o mesmo que atendê-la na sua letra e no seu espírito [legitimidade]”. Vê-se, então, que o conceito de legitimidade apresenta certa CARGA VALORATIVA, sendo, assim, mais abrangente do que o conceito de legalidade.
 Existe ainda o PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que vem ganhado destaque na doutrina moderna por buscar ampliar os conceitos tradicionais do princípio da legalidade. Por juridicidade, deve-se entender uma CONJUNÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, DA LEGITIMIDADE E DA MORALIDADE. Assim, passa-se a exigir que a atuação da Administração, além de baseada em lei anterior, ESTEJA VOLTADA PARA OS REAIS ANSEIOS DA COLETIVIDADE (abrangendo o caráter de legitimidade, mais amplo que o da legalidade) e sempre atendendo à moral. Ou seja, o administrador não se sujeito apenas à lei, mas a TODO O ORDENAMENTO JURÍDICO. Consequentemente, a DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA FICA MAIS REDUZIDA, uma vez que o agente público se sujeita às leis, aos regulamentos, aos princípios e a todos os demais componentes de nosso ordenamento jurídico. Assim, se um ato atender à lei, mas ferir um princípio, poderá ele ser anulado, até mesmo pelo Poder Judiciário.
 Na jurisprudência do STF, encontramos casos clássicos em que se decidiu com fundamento no princípio da legalidade. Dentre eles, no MS 26.955, o Tribunal decidiu que “A ALTERAÇÃO DE ATRIBUIÇÕES DE CARGO PÚBLICO SOMENTE PODE OCORRER POR INTERMÉDIO DE LEI FORMAL”.
	PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
	A Administração Pública somente poderá agir quando houver lei determinando ou autorizando a sua atuação. O princípio envolve qualquer tipo de norma, incluindo atos secundários como os decretos e instruções normativas. No entanto, os atos secundários não podem criar direitos e obrigações.
	PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE
	Significa que os administrados (particulares) podem fazer tudo que não estiver proibido emlei.
	RESERVA LEGAL
	Trata das matérias que a Constituição exige que obrigatoriamente sejam disciplinadas em lei em sentido estrito (lei formal)
	RESTRIÇÕES (EXCEÇÕES) EXCEPCIONAIS AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
	Medida provisória, estado de defesa e estado de sítio
Princípio da Impessoalidade
 Comumente, o princípio da impessoalidade admite seu exame sob os seguintes aspectos:
· Dever de ISONOMIA por parte da Administração Pública;
· Dever de CONFORMIDADE AOS INTERESSES PÚBLICOS; 
· Vedação à PROMOÇÃO PESSOAL DOS AGENTES PÚBLICOS;
· IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO.
Princípio da Igualdade ou Isonomia
 A partir da primeira perspectiva, o princípio da impessoalidade estabelece que os atos administrativos devem ser praticados tendo em vista o INTERESSE PÚBLICO, E NÃO OS INTERESSES PESSOAIS DO AGENTE OU DE TERCEIROS. Impede, assim, que a Administração beneficie ou prejudique esta ou aquela pessoa em especial. Nessa concepção, representa uma faceta do princípio da isonomia, pois objetiva a igualdade de tratamento que a Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica, sem favorecimentos ou discriminações de qualquer espécie.
 Nesse ponto, devemos lembrar que a Constituição Federal estabelece que todos são iguais perante a lei (ART. 5º, CAPUT), sendo que EVENTUAIS TRATAMENTOS DIFERENCIADOS SÓ PODEM OCORRER QUANDO HOUVER PREVISÃO LEGAL. É por isso que a Constituição exige CONCURSO PÚBLICO como condição para o ingresso em cargo efetivo ou emprego público (CF, ART. 37, II) ou a realização de LICITAÇÃO PÚBLICA para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, assegurando igualdade de condições a todos os concorrentes (CF, ARTS. 37, XXI) e PERMISSÕES E CONCESSÕES DE SERVIÇO PÚBLICO (CF, ART. 175); REGIME DE PRECATÓRIOS JUDICIAIS para o pagamento dos débitos das fazendas públicas (CF, ART. 100). Tais institutos são formas de dar oportunidades iguais a todos.
 A respeito do princípio da impessoalidade e sua relação com o princípio da isonomia, CARVALHO FILHO assevera que TÊM SIDO admitidas EXCEÇÕES para sua aplicação. Como exemplo, podem-se citar as EXIGÊNCIAS DE ALTURA MÍNIMA E DE IDADE EM CONCURSOS PÚBLICOS.
 Sobre o tema, LUCAS FURTADO esclarece que o STF coloca três critérios necessários para legitimar exigências discriminatórias em editais de concurso público: 
1. Que haja PERTINÊNCIA entre o CRITÉRIO DE DISCRIMINAÇÃO e a ATIVIDADE DO CARGO; 
2. Que o critério seja fixado em PARÂMETROS RAZOÁVEIS; 
3. Que o critério tenha sido PREVISTO EM LEI e não apenas no edital do concurso.
 Assim, por exemplo, o STF reconheceu que, em se tratando de concurso público para AGENTE DE POLÍCIA, mostra-se razoável a exigência, por lei, de que o candidato tenha ALTURA MÍNIMA DE 1,60M. A exigência de altura, por sua vez, não seria razoável para o cargo de escrivão de polícia, dada as atribuições do cargo, para as quais o fator altura é irrelevante (RE 148.095/MS e RE 194.952/MS). Já em outra decisão, o STF entendeu NÃO SER POSSÍVEL que o edital do concurso imponha altura mínima para o INGRESSO NOS QUADROS DA POLÍCIA MILITAR sem que haja LEI FORMAL autorizando a exigência (AI 518.863-DF).
 Um critério altamente polêmico que tem ganhado relevo na jurisprudência e na doutrina diz respeito ao SISTEMA DE COTAS, em que se prevê RESERVA DE VAGAS pelo critério étnico-social para o ingresso em universidades ou para a aprovação em concursos públicos. O (STF) considerou CONSTITUCIONAL tal ação afirmativa (ADPF 186 e RE 597.285), com o argumento de que traduz política de inclusão social com o objetivo de corrigir desigualdades oriundas do processo histórico do país, muito embora os destinatários obtenham maiores vantagens que os demais interessados. Não obstante, ressalte-se que a matéria está longe de ser pacífica, havendo muitos setores da sociedade que não concordam com esse entendimento. 
Princípio da Finalidade
 Em SENTIDO AMPLO, o princípio da finalidade é sinônimo de INTERESSE PÚBLICO, uma vez que todo e qualquer ato da administração deve ser praticado visando à satisfação do interesse público. Por outro lado, em SENTIDO ESTRITO, o ato administrativo deve satisfazer a FINALIDADE ESPECÍFICA PREVISTA EM LEI. Ou seja, O FIM A SER BUSCADO PELO ADMINISTRADOR PÚBLICO EM SUAS ATIVIDADES DEVE SER TÃO-SOMENTE AQUELE PRESCRITO PELA LEI, OU SEJA, O FIM LEGAL, DE INTERESSE GERAL E IMPESSOAL. Nas palavras de HELY LOPES MEIRELLES, 
“O fim legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal”.
 Assim, qualquer ato praticado com objetivo diverso do interesse público será considerado NULO, por DESVIO DE FINALIDADE. Entretanto, é possível que o interesse público COINCIDA COM O DE PARTICULARES, como normalmente ocorre nos atos administrativos negociais e nos contratos públicos. Nas COMPRAS EFETUADAS PELA ADMINISTRAÇÃO, por exemplo, o Poder Público deseja adquirir e o empresário deseja vender determinado bem. Os interesses, portanto, são convergentes. Nesses casos, é permitido aliar a pretensão do particular com o interesse coletivo. O que o princípio da impessoalidade proíbe é a prática de ato administrativo sem interesse público envolvido.
Vedação a Promoção Pessoal
 O princípio da impessoalidade VEDA A PROMOÇÃO PESSOAL DO AGENTE ÀS CUSTAS DAS REALIZAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Com efeito, as realizações governamentais não devem ser atribuídas ao agente ou à autoridade que as pratica. Estes apenas lhes dão forma. Ao contrário, os ATOS e PROVIMENTOS ADMINISTRATIVOS devem ser vistos como MANIFESTAÇÕES INSTITUCIONAIS do órgão ou da entidade pública. O SERVIDOR OU AUTORIDADE É APENAS O MEIO DE MANIFESTAÇÃO DA VONTADE ESTATAL.
 A própria Constituição Federal contém uma regra expressa decorrente desse princípio, ao PROIBIR que conste NOME, SÍMBOLOS OU IMAGENS QUE CARACTERIZEM PROMOÇÃO PESSOAL DE AUTORIDADES OU SERVIDORES PÚBLICOS em publicidade de atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos (CF, ART. 37, §1º). O STF, inclusive, entende que essa VEDAÇÃO ATINGE TAMBÉM QUALQUER MENÇÃO AO PARTIDO POLÍTICO DO ADMINISTRADOR PÚBLICO (RE 191.688/RS). Assim, uma obra realizada por determinado Município não poderá ser anunciada como obra do Sr. Fulano, Prefeito, ou da Sra. Ciclana, Secretária de Obras, e nem mesmo do Partido XYZ, legenda política das autoridades. Ao contrário, a obra deverá ser sempre tratada e anunciada como obra do Município ou da Prefeitura, vedada qualquer alusão às características dos agentes públicos e respectivos partidos políticos, inclusive eventuais símbolos ou imagens ligados a seus nomes. 
 Esse terceiro enfoque do princípio da impessoalidade, ao RETIRAR A RESPONSABILIDADE PESSOAL dos agentes públicos, permite que se reconheça a VALIDADE DOS ATOS praticados em nome da Administração por agentes CUJA INVESTIDURA NO CARGO VENHA A SER FUTURAMENTE ANULADA (AGENTE DE FATO OU PUTATIVO). Por exemplo, imagine uma situação em que determinado cidadão de boa-fé obtenha certidão negativa de débitos perante a Receita Federal emitida pelo servidor Fulano, e que, posteriormente, se verifique que o aludido servidor foi investido no cargo de forma irregular (sem concurso público, por exemplo). Nesse caso, pela aplicação do princípio da impessoalidade, tem-se que a certidão obtida pelo cidadão não foi emitida pelo servidor Fulano, e sim pela Receita Federal, de modo que o documento não poderia ser declarado inválido em razão da situação irregular do servidor. Em outras palavras, a perda da competência do agente público não invalida os atos praticados por este agente enquanto detinha competência para a sua prática. Ressalte-se, porém, que aos atos dos agentes de fato SÃO VÁLIDOS APENAS SE PRATICADOS PERANTE TERCEIROS DE BOA-FÉ.
 Por fim, vale saber que o princípio da impessoalidade se encontra IMPLÍCITO na LEI 9.784/1999, nos dois sentidos assinalados, pois a lei exige que se observe, nos processos administrativos, a “OBJETIVIDADE NO ATENDIMENTOAO INTERESSE PÚBLICO, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades” (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, III), e, ainda, a “INTERPRETAÇÃO DA NORMA ADMINISTRATIVA DA FORMA QUE MELHOR GARANTA O ATENDIMENTO DO FIM PÚBLICO A QUE SE DIRIGE” (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, XIII).
· No julgamento do RE 191668/RS, julgado em 14 de abril de 2008, o STF entendeu que a INCLUSÃO DE SLOGAN DE PARTIDO POLÍTICO na publicidade dos atos governamentais também OFENDE os princípios art. 37, § 1º, da CF.
Impedimento e Sujeição
 Esses institutos possuem o objetivo de afastar de processos administrativos ou judiciais as pessoas que não possuem condições de aplicar a lei de forma imparcial, em função de parentesco, amizade ou inimizade com pessoas que participam do processo. Por exemplo, se um juiz possuir inimizade reconhecida com uma pessoa que seja parte de um processo, ele não poderá julgar de forma imparcial. Dessa forma, buscando evitar possíveis favorecimentos, preservando a isonomia do julgamento, recomenda-se o afastamento da autoridade. Na verdade, os dois últimos aspectos nada mais são do que consequência dos princípios da finalidade e da isonomia.
 Em síntese, o princípio da impessoalidade representa a busca pela FINALIDADE PÚBLICA, o TRATAMENTO ISONÔMICO aos administrados, a VEDAÇÃO DE PROMOÇÃO PESSOAL e a NECESSIDADE DE DECLARAR O IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO de autoridade que não possua condições de julgar de forma igualitária.
Princípio da Moralidade
 O princípio da moralidade impõe a necessidade de ATUAÇÃO ÉTICA DOS AGENTES PÚBLICOS, traduzida na capacidade de DISTINGUIR ENTRE O QUE É HONESTO E QUE É DESONESTO. Liga-se à ideia de PROBIDADE e de BOA-FÉ. Tal princípio corresponde à noção de “BOM ADMINISTRADOR”, que não somente deve ser conhecedor da lei, mas também dos princípios éticos regentes da função administrativa, porque, como já diziam os romanos, NEM TUDO QUE É LEGAL É HONESTO. Exige-se, assim, que os agentes públicos, sobretudo aqueles que ocupam posições mais elevadas, tenham conduta impecável, ilibada, exemplar, pautada pela lealdade, boa-fé, fidelidade funcional e outros aspectos atinentes à moralidade.
Moralidade Administrativa X Moralidade Comum
 Segundo HELY LOPES MEIRELLES, a denominada MORALIDADE ADMINISTRATIVA NÃO SE CONFUNDE COM A MORALIDADE COMUM. Com efeito, a doutrina enfatiza que a moralidade administrativa INDEPENDE DA CONCEPÇÃO SUBJETIVA, isto é, da moral comum, da ideia pessoal do agente sobre o que é certo ou errado em termos éticos. Na verdade, o que importa é a NOÇÃO OBJETIVA DO CONCEITO, ou seja, a moralidade administrativa, passível de ser extraída do conjunto de normas concernentes à conduta de agentes públicos existentes no ordenamento jurídico, relacionada à ideia geral de BOA ADMINISTRAÇÃO.
 É verdade que moralidade administrativa se trata de um CONCEITO INDETERMINADO, tais como “bem comum” e “interesse público”, ainda que se reconheça a possibilidade de extraí-lo do conjunto de normas que versam sobre a conduta dos agentes públicos. Embora seja um conceito indeterminado, NÃO DEIXA DE SER CONSIDERADO UM CONCEITO OBJETIVO, PASSÍVEL DE AVALIAÇÃO E CONTROLE. Por essa característica objetiva, reforçada inclusive pela previsão expressa no caput do ART. 37 DA CF, a moralidade é vista como ASPECTO VINCULADO do ato administrativo, sendo, portanto, REQUISITO DE VALIDADE DO ATO. Assim, um ato contrário à moralidade administrativa deve ser declarado NULO, PODENDO ESSA AVALIAÇÃO SER EFETUADA PELA PRÓPRIA ADMINISTRAÇÃO (AUTOTUTELA) OU PELO PODER JUDICIÁRIO (DESDE QUE PROVOCADO). 
 MARIA SYLVIA DI PIETRO entende que MESMO OS COMPORTAMENTOS OFENSIVOS DA MORAL COMUM IMPLICAM OFENSA AO PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA. A verdade, contudo, é que se a moral comum fosse a regra de conduta da sociedade e, por consequência, dos agentes públicos, não seria necessária a edição de normas para disciplinar o assunto. Por exemplo, é senso comum que trabalhar com desleixo, bater o ponto e ir embora, nomear parentes despreparados para cargos públicos são práticas que atentam contra a honestidade e a justiça; portanto, não se espera que sejam adotadas por um agente público. Todavia, práticas desse tipo, mesmo que reprovadas socialmente, são comuns na Administração. Por isso, a própria autora reconhece a existência de uma moral paralela na Administração, se referindo a todos aqueles que exercem suas atividades sem qualquer dedicação, responsabilidade, vocação ou espírito de dever público, sendo esse um problema crucial de nossa época. Sendo assim, cabe ao Judiciário (este quando provocado) e à própria Administração, assim como aos cidadãos em geral, diligenciar para que os valores éticos da sociedade sejam de fato observados, a fim de vermos superada a existência dessa moral paralela. 
 A Constituição Federal é pródiga em dispositivos relacionados à moralidade administrativa. Por exemplo, no ART. 37, §4º, dispõe que os ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA são punidos com a SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS, a PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA, a INDISPONIBILIDADE DOS BENS e o RESSARCIMENTO AO ERÁRIO, na forma e gradação previstas em lei. De acordo com o Dicionário Aurélio (eletrônico), probidade diz respeito à integridade de caráter, honradez, ou seja, conceito estreitamente correlacionado com o de moralidade administrativa.
 Além disso, no ART. 14, §9º, com a redação da EMENDA CONSTITUCIONAL DE REVISÃO Nº 4/1994, ao tratar de voto e eleições, a CF coloca a probidade administrativa e a moralidade para o exercício do mandato como objetivos a serem alcançados pela lei que estabelecer os casos de inelegibilidades. Ou seja, dispõe que os CASOS DE INELEGIBILIDADE devem proteger, entre outras coisas, a PROBIDADE ADMINISTRATIVA e a MORALIDADE PARA EXERCÍCIO DE MANDATO.
 No plano legal, a LEI 9.784/1999 refere-se aos conceitos de moralidade ao prescrever que “nos PROCESSOS ADMINISTRATIVOS serão observados, entre outros, os critérios de atuação segundo PADRÕES ÉTICOS DE PROBIDADE, DECORO e BOA-FÉ (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, IV) ”.
 Mais recentemente, foi editada a LEI 12.813/2013, que dispõe sobre o CONFLITO DE INTERESSES NO PODER EXECUTIVO FEDERAL, tratando do relacionamento entre setor público e privado e os interesses subjacentes.
 Outra norma relevante é o Código de Ética do servidor público civil federal (DECRETO 1.171/1994), o qual dispõe que o “SERVIDOR PÚBLICO NÃO PODERÁ JAMAIS DESPREZAR O ELEMENTO ÉTICO DE SUA CONDUTA. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto”.
 Ademais, a norma prescreve que a “moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que O FIM É SEMPRE O BEM COMUM. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo”. Assim, vê-se que um parâmetro básico a ser utilizado para avaliar a moralidade de determinada conduta é verificar se o agente público teve for fim o interesse comum, e não seus interesses pessoais. A doutrina considera que a imoralidade surge do CONTEÚDO DO ATO. Por conseguinte, NÃO É PRECISO A INTENÇÃO DO AGENTE PÚBLICO, MAS SIM O OBJETO DO ATO PRATICADO. Logo, um ato pode ser imoral, ainda que o agente não tivesse a intenção de cometer uma imoralidade. Por exemplo: o ato de nomeação de um parente para um cargo em comissão é imoral, ainda que a autoridade não saiba que o nomeado é seu parente ou mesmo que a intenção fosse efetivamente melhorar a qualidade dos serviços públicos e não favorecer o familiar.
 MARIA SYLVIA DI PIETRO assevera que o princípio da moralidade sempre que em matéria administrativa se verificar que o comportamento da Administração ou do administrado que com ela se relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de justiça e de equidade,a ideia de honestidade, estará havendo ofensa ao princípio da moralidade administrativa. Cumpre observar que O PRINCÍPIO DA MORALIDADE SE APLICA ÀS RELAÇÕES ENTRE A ADMINISTRAÇÃO E OS ADMINISTRADOS E TAMBÉM NAS ATIVIDADES INTERNAS DA ADMINISTRAÇÃO. A extensão aos particulares é muito importante, uma vez que não são raros os casos de formação de conluio buscando fraudar a realização de licitações públicas. Nesses casos, um pequeno grupo de empresas se reúne para obter vantagens em seus relacionamentos com a Administração. Tais condutas mostram-se, além de ilegais, imorais e desonestas.
 De acordo com as lições de GUSTAVO BARCHET, o princípio da moralidade em divide-se em três sentidos:
• DEVER DE ATUAÇÃO ÉTICA (PRINCÍPIO DA PROBIDADE): o agente público deve ter um comportamento ético, transparente e honesto perante o administrado. Assim, o agente público não pode sonegar, violar nem prestar informações incompletas com o objetivo de enganar os administrados. Não pode um agente se utilizar do conhecimento limitado que as pessoas têm sobre a administração para obter benefícios pessoais ou prejudicar indevidamente o administrado;
• CONCRETIZAÇÃO DOS VALORES CONSAGRADOS NA LEI: o agente público não deve limitar-se à aplicação da lei, mas buscar alcançar os valores por ela consagrados. Assim, quando a Constituição institui o concurso público para possibilitar a isonomia na busca por um cargo público, o agente público que preparar um concurso dentro desses ditames (proporcionar a isonomia) estará também cumprindo o princípio da moralidade;
• OBSERVÂNCIA DOS COSTUMES ADMINISTRATIVOS: a validade da conduta administrativa se vincula à observância dos costumes administrativos, ou seja, às regras que surgem informalmente no quotidiano administrativo a partir de determinadas condutas da Administração. Assim, desde que não infrinja alguma lei, as práticas administrativas realizadas reiteradamente, devem vincular a Administração, uma vez que causam no administrado um aspecto de legalidade.
Vedação ao Nepotismo
 Temos que destacar também a SÚMULA VINCULANTE Nº 13 DO STF, a qual VEDA A PRÁTICA DO NEPOTISMO na administração pública, sendo que o fundamento decorre diretamente da Constituição, NÃO HAVENDO NECESSIDADE DE LEI ESPECÍFICA PARA DISCIPLINAR A VEDAÇÃO (nomeação de parentes para o exercício de cargos públicos), uma das formas mais comuns de ofensa ao princípio da moralidade. A VEDAÇÃO ESTENDE-SE À ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA DE QUALQUER DOS PODERES DA UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS.
SÚMULA VINCULANTE Nº 13 - A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.
 Entretanto, há uma pequena restrição em relação aos cargos de natureza política. Inicialmente, o STF possuía o entendimento de que a Súmula Vinculante 13 NÃO SERIA APLICADA aos CARGOS DE NATUREZA POLÍTICA, como MINISTROS e SECRETÁRIOS DE ESTADO (RE 579.951, julgado em 20/8/2008). Atualmente, todavia, o entendimento é de que A VEDAÇÃO DEVE SER ANALISAR CASO A CASO, de tal forma que a nomeação para cargo de natureza política não afasta a aplicação da Súmula Vinculante 13 automaticamente. Assim, SOMENTE ESTARÁ CARACTERIZADO NEPOTISMO, NOS CARGOS DE NATUREZA POLÍTICA, SE O NOMEADO NÃO POSSUIR CAPACIDADE TÉCNICA PARA O CARGO OU FICAR DEMONSTRADA “TROCA DE FAVORES” OU OUTRA FORMA DE FRAUDAR A LEGISLAÇÃO (RCL 7.590/PR; RCL 17.102/SP). Ressalta-se que, em regra, a Súmula em questão atinge nomeações para cargos e funções de confiança em geral, de NATUREZA ADMINISTRATIVA, como assessores, chefes de gabinete etc.
 Em resumo, podemos dizer que a nomeação de um irmão para ocupar um cargo de natureza administrativa ofende os princípios da moralidade, impessoalidade, igualdade e eficiência; porém a nomeação do irmão do prefeito para exercer o cargo de secretário municipal (natureza política) ofenderá a Constituição se ficar demonstrada a falta de capacidade técnica do nomeado ou ainda a troca de favores ou outro meio de fraude da lei.
 Outra exceção à Súmula diz respeito aos SERVIDORES JÁ ADMITIDOS VIA CONCURSO PÚBLICO, os quais, na visão do STF, NÃO PODEM SER PREJUDICADOS EM RAZÃO DO GRAU DE PARENTESCO, inclusive porque tais servidores passaram por rigorosos concursos públicos, tendo, portanto, o mérito de assumir um cargo de chefia ou de direção. No entanto, esclareça-se que permanece em vigor a diretriz contida na LEI FEDERAL 8.112, DE 1990, em que se PROÍBE AO SERVIDOR PÚBLICO MANTER SOB SUA CHEFIA IMEDIATA CÔNJUGE OU PARENTES ATÉ O 2º GRAU CIVIL. 
 Não obstante a existência das normas destacadas anteriormente, vale destacar que, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal (RCL 6702/PR) e também do Superior Tribunal de Justiça (RMS 15.166/BA), A PLENA EFETIVIDADE DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA INDEPENDE DA EXISTÊNCIA DE LEI QUE PROÍBA A CONDUTA REPROVADA. Ou seja, A AUSÊNCIA DE NORMA ESPECÍFICA NÃO É JUSTIFICATIVA para que a Administração atue em desconformidade com o princípio da moralidade administrativa. Em outras palavras, para que se possa anular um ato ofensivo ao princípio da moralidade, não precisa haver uma lei dizendo que tal conduta é desonesta ou ímproba. Do contrário, conforme esclarece LUCAS FURTADO, “TERÍAMOS REDUZIDO A MORALIDADE À LEGALIDADE, O QUE NÃO É O PROPÓSITO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, QUE SEPARA E DISTINGUE OS DOIS PRINCÍPIOS”. O próprio caso do nepotismo é um exemplo claro do que estamos falando: não há uma lei formal que, expressamente, vede o nepotismo no âmbito de todas as esferas federativas. Mas, por ser uma prática frontalmente ofensiva ao princípio da moralidade e a outros princípios constitucionais, como IMPESSOALIDADE, EFICIÊNCIA E IGUALDADE, não é admitido que ocorra na Administração Pública.
Proteções a Moralidade Administrativa
 A CF/1988, ao consagrar o princípio da moralidade, determinou a necessidade de sua proteção e a responsabilização do administrador público amoral ou imoral. Para tanto, encontram-se no ordenamento jurídico inúmeros mecanismos para impedir atos de imoralidade tais como:
· CRIMES DE RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E DE OUTROS AGENTES POLÍTICOS (CF, ART. 85);
· AÇÃO POPULAR (CF, ART. 5º, LXXIII);
· CONTROLE EXTERNO EXERCIDO PELO TRIBUNAL DE CONTAS (CF, ART. 70);
· COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO (CF, ART. 58, §3º);
· AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (CF, ART. 37, §4º E LEI 8.429/92);
· A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LC Nº101/00).
Princípio da Publicidade
 O princípio da publicidade impõe à Administração Pública o DEVER DE DAR TRANSPARÊNCIA A SEUS ATOS, tornando-os públicos, do conhecimento de todos. A publicidade é necessária para que os cidadãos e os órgãos competentes possam avaliar e controlar a legalidade, a moralidade, a impessoalidade e todos os demais requisitos que devem informar as atividades do Estado. E isso é óbvio, pois não se pode avaliar aquilo que não se conhece. O princípio da transparência deriva do princípio da INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO, constituindo um requisito indispensável para o efetivo controle da Administração Pública por parte dos administrados. Não é por outra razão que a Constituição Federal assegura a todos o direito de receber dos órgãos públicos informações de SEU INTERESSE PARTICULAR, ou de INTERESSE COLETIVO OU GERAL (CF, art. 5º, XXXIII). E para que a sociedade possa exigir a transparência das ações governamentais, a Constituição Federal prevê uma série de institutos jurídicos, a exemplo do:
· HABEAS DATA (CF, art. 5º, LXXII);
· MANDADO DE SEGURANÇA (CF, art. 5º, LXIX);· DIREITO DE PETIÇÃO AOS PODERES PÚBLICOS (CF, art. 5º, XXXIV, ‘a’);
· DIREITO À OBTENÇÃO DE CERTIDÕES EM REPARTIÇÕES PÚBLICAS (CF, art. 5º, XXXIV ‘b’);
· AÇÃO POPULAR (CF, art. 5º, LXXIII);
 A LEI 9.784/1999, por sua vez, diz que nos processos administrativos é OBRIGATÓRIA a “DIVULGAÇÃO OFICIAL dos atos administrativos, RESSALVADAS AS HIPÓTESES DE SIGILO PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO” (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO V). Embora a transparência seja a regra, o texto constitucional prevê algumas situações em que o princípio da publicidade PODERÁ SER RESTRINGIDO, sendo ela:
· A SEGURANÇA DA SOCIEDADE E DO ESTADO
· Como exemplo, tem-se o ART. 5º, XXXIII DA CF, pelo qual “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, RESSALVADAS AQUELAS CUJO SIGILO SEJA IMPRESCINDÍVEL À SEGURANÇA DA SOCIEDADE E DO ESTADO”.
· Quando a INTIMIDADE OU O INTERESSE SOCIAL O EXIGIREM
· Como exemplo, cite-se o ART. 5º, LX DA CF, pelo qual “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais QUANDO A DEFESA DA INTIMIDADE OU O INTERESSE SOCIAL O EXIGIREM”.
 Repare, nos dispositivos constitucionais acima, que SOMENTE A LEI (EM SENTIDO FORMAL) pode instituir regras de sigilo, sendo vedado à Administração cria-las por meio de atos infralegais.
 Detalhe importante é que PUBLICIDADE NÃO SE CONFUNDE COM PUBLICAÇÃO DE ATOS. A PUBLICAÇÃO, em regra, se refere à DIVULGAÇÃO EM ÓRGÃOS OFICIAIS E OUTROS MEIOS DE IMPRENSA ESCRITA (diário oficial, boletim interno, jornais contratados com essa finalidade), sendo, assim, APENAS UMA DAS FORMAS possíveis de dar PUBLICIDADE aos atos administrativos. Existem diversos outros meios de publicidade, como por exemplo, notificação direta, divulgação na internet e afixação de avisos.
 Conforme assevera HELY LOPES MEIRELLES, “a PUBLICAÇÃO que produz efeitos jurídicos é a do ÓRGÃO OFICIAL da Administração, E NÃO A DIVULGAÇÃO PELA IMPRENSA PARTICULAR, PELA TELEVISÃO OU PELO RÁDIO, AINDA QUE EM HORÁRIO OFICIAL”. Assim, para que produzam efeitos jurídicos, os atos precisam ser objeto de publicação em meio oficial. Segundo o autor, por órgão oficial entende-se o DIÁRIO OFICIAL DAS ENTIDADES PÚBLICAS – impresso ou pela forma eletrônica na internet -, a internet, no endereço do órgão público e também os jornais contratados para essas publicações oficiais. Ademais, nos MUNICÍPIOS EM QUE NÃO EXISTA IMPRENSA OFICIAL, ADMITE-SE A PUBLICAÇÃO DOS ATOS E LEIS MUNICIPAIS POR MEIO DE AFIXAÇÃO DESTES NA SEDE DA PREFEITURA OU DA CÂMARA DE VEREADORES, EM CONFORMIDADE COM O DISPOSTO NA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO.
 NO GERAL, A FORMA DE DIVULGAÇÃO DO ATO DEVE OBSERVAR O QUE PRESCREVE A LEI. Por exemplo, a Lei de Licitações expressamente determina a publicação de editais em diários oficiais e em jornais de grande circulação (ART. 21). No caso de convite, uma das modalidades de licitação, a lei requer tão-somente a fixação do edital em local apropriado, como um quadro de avisos (ART. 22, III). Quando a LEI NÃO DEFINE A FORMA DE DIVULGAÇÃO DOS ATOS, o agente público deve, primeiramente, avaliar se o ato produz EFEITOS INTERNOS OU EXTERNOS à Administração, a fim de que se escolha uma forma de divulgação compatível com o alcance dos efeitos do ato.
 Assim, na hipótese de atos com EFEITOS EXTERNOS, por alcançarem particulares estranhos (destinatários indeterminados) ao serviço público e terem EFEITOS GERAIS, a regra é a divulgação por meio de PUBLICAÇÃO EM DIÁRIOS OFICIAIS. Por exemplo, a nomeação de candidato aprovado em concurso público é ato externo, não havendo lei que indique expressamente a forma como deve ser divulgada. Assim, a publicidade do ato de nomeação deve ser dada mediante publicação em diário oficial. Já a divulgação dos atos com EFEITOS INTERNOS não precisa ser feita em diário oficial, bastando que sejam publicados em VEÍCULOS DE CIRCULAÇÃO INTERNA, como boletins e circulares.
FRISE-SE: os atos internos DEVEM ser divulgados. A diferença é que não precisam ser publicados em meios de divulgação externa. Por exemplo, o deferimento de um pedido de licença capacitação de servidor não precisa ser publicado no diário oficial, mas apenas no boletim interno do órgão.
 Detalhe importante é que a doutrina, modernamente, tem entendido que a PUBLICIDADE NÃO É CONSIDERADA ELEMENTO DE FORMAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO, ou seja, A PUBLICIDADE NÃO ESTÁ LIGADA À VALIDADE DO ATO. Constitui, sim, REQUISITO DE EFICÁCIA, especialmente quando o ato deva produzir efeitos externos ou implicar ônus para o patrimônio público. Dizer que a publicidade não é elemento de formação do ato e sim requisito de eficácia significa que é desnecessário anular um ato por não ter sido publicado; O ATO NÃO PUBLICADO PERMANECE VÁLIDO, MAS SEM EFICÁCIA, vale dizer, sem produzir efeitos perante as partes e terceiros, o que somente passará a ocorrer com a sua publicação. Conforme ensina HELY LOPES, “OS ATOS IRREGULARES NÃO SE CONVALIDAM COM A PUBLICAÇÃO, NEM OS REGULARES A DISPENSAM PARA SUA EXEQUIBILIDADE, QUANDO A LEI OU O REGULAMENTO A EXIGE”. Ou seja, como a publicidade não é elemento de formação do ato, a publicação em nada interfere na sua validade (os irregulares não deixam de ser irregulares). Já os atos válidos (regulares), quando a lei assim exige, necessitam ainda ser publicados para que passem a produzir efeitos.
Por exemplo, imagine que a Administração tenha interesse em remover determinado servidor para outra localidade a fim de adequar seu quantitativo de pessoal. Ainda que o ato da Administração seja perfeitamente válido (competência, finalidade, forma, motivo e objetivo), ou seja, emitido por agente compete, devidamente motivado com justificativas legítimas etc., não terá eficácia sobre o servidor a menos que se dê publicidade ao ato, no caso, mediante publicação no boletim interno do órgão ou entidade. Assim, o referido ato de remoção pode até ser válido, mas o servidor terá obrigação de se mudar apenas a partir da sua publicação.
 Outros dispositivos constitucionais que merecem destaque são os seguintes:
Art. 37. (...) § 3º - A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: (...) II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII.
Art. 216. (...) § 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.
 Por fim, vale destacar que, para dar efetividade aos mandamentos constitucionais relativos à transparência da Administração Pública, foi promulgada a LEI 12.527/2011 (LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO) com incidência sobre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, abrangendo administração direta e indireta e, inclusive, entidades privadas sem fins lucrativos beneficiárias de recursos públicos. A referida lei passou a regular tanto o direito à informação quanto o direito de acesso a registros e informações nos órgãos públicos.
 Mas vale ressaltar: A PUBLICIDADE É A REGRA, MAS NÃO É UM DEVER ABSOLUTO. Nessa linha, com exceção dos DADOS PESSOAIS (dizem respeito à intimidade, honra e imagem das pessoas) e das INFORMAÇÕES CLASSIFICADAS POR AUTORIDADES COMO SIGILOSAS (informações imprescindíveis para a segurança da sociedade e do Estado), todas as demais informações devem ser disponibilizadas aos interessados, algumas de ofício (pela internet ou por publicações) e outras mediante requerimento. As informações divulgadas de ofício constituem a denominada TRANSPARÊNCIA ATIVA, ao passo que as informações que são fornecidas em virtude de solicitações representam a TRANSPARÊNCIA PASSIVA.
Princípio da Eficiência
 O princípio da eficiência exige que a ATIVIDADE ADMINISTRATIVA SEJA EXERCIDA COM PRESTEZA, PERFEIÇÃO E RENDIMENTO FUNCIONAL, BUSCANDO-SE, ASSIM, MAIOR PRODUTIVIDADE E REDUÇÃO DOSDESPERDÍCIOS DE DINHEIRO PÚBLICO. Também denominado de PRINCÍPIO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS, este é o “mais jovem” princípio constitucional. Foi incluído no ARTIGO 37 PELA EMENDA CONSTITUCIONAL 19/1998 como decorrência da reforma gerencial, iniciada em 1995 com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), movimento que pretendia modernizar a máquina administrativa brasileira mediante a implantação do modelo de ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL EM SUBSTITUIÇÃO AO MODELO DE ADMINISTRAÇÃO BUROCRÁTICA, cuja ênfase recaía sobre o princípio da legalidade. Assim, a eficiência diz respeito a uma atuação da administração pública com EXCELÊNCIA, FORNECENDO SERVIÇOS PÚBLICOS DE QUALIDADE À POPULAÇÃO, COM O MENOR CUSTO POSSÍVEL (DESDE QUE MANTIDOS OS PADRÕES DE QUALIDADE) E NO MENOR TEMPO.
 A ideia é que, com a melhoria da eficiência, o Estado seja capaz de gerar mais benefícios, na forma de prestação de serviços que correspondam às necessidades da sociedade, com os mesmos recursos disponíveis. A eficiência, aliás, integra o conceito legal de SERVIÇO PÚBLICO ADEQUADO (LEI 8.987/1995).
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
 § 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
 Após obter status constitucional, o princípio da eficiência passou a ser verdadeiro DEVER CONSTITUCIONAL da Administração. HELY LOPES MEIRELLES esclarece que esse dever de eficiência corresponde ao “DEVER DE BOA ADMINISTRAÇÃO” da doutrina italiana que, embora tenha obtido status constitucional a partir da EC 19/1998, desde muito já se achava consagrado entre nós. De fato, o DECRETO-LEI 200/1967 “submete toda a atividade do Executivo ao controle de resultado (ARTS. 13 E 24, V), fortalece o sistema de mérito (ART. 25, VII), sujeita a Administração indireta a supervisão ministerial quanto à eficiência administrativa (ART. 26, III) e recomenda a demissão ou dispensa do servidor comprovadamente ineficiente ou desidioso (ART. 100) ”. Na Constituição Federal podem-se encontrar vários exemplos de desdobramentos do princípio da eficiência, dentre os quais:
· Exigência de AVALIAÇÃO ESPECIAL DE DESEMPENHO para aquisição da estabilidade pelo servidor público e a perda do cargo do servidor estável “mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa” (CF, ART. 41);
· Exigência de que os servidores públicos participem de CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO para que possam ser promovidos na carreira (CF, ART. 39, §2º);
· Necessidade de a LEI REGULAMENTAR a participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando as reclamações relativas à PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS EM GERAL, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços (CF, ART. 37, §3º);
· Possibilidade de se AMPLIAR A AUTONOMIA GERENCIAL, ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA dos órgãos e entidades da administração direta e indireta mediante a CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS DE GESTÃO, com a FIXAÇÃO DE METAS DE DESEMPENHO (CF, ART. 37, §8º);
· Previsão de que lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios discipline a aplicação de recursos orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade (CF, ART. 39, §7º);
 Conforme ensina HELY LOPES MEIRELLES, além de ser um princípio a ser observado pela Administração, a eficiência do serviço público também é um DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO, vez que a Constituição Federal assegura a todos, no âmbito judicial e administrativo, a “razoável duração do processo e os meios que garantam a CELERIDADE DE SUA TRAMITAÇÃO” (CF, art. 5º LXXVIII). Tal dispositivo é uma reação contra a excessiva demora no andamento dos processos, tanto judiciais quanto administrativos (RE 1044158). Sobre o tema, é emblemática a decisão adotada pelo STJ ao reconhecer que “é dever da Administração Pública pautar seus atos dentro dos princípios constitucionais notadamente pelo princípio da eficiência, que se concretiza também pelo cumprimento dos prazos legalmente determinados” e, em consequência, considerar “legítimo o pagamento de indenização em razão da injustificada demora na concessão da aposentadoria”.
 CARVALHO FILHO assevera que uma ação eficiente pressupõe o atendimento a vários requisitos, como:
	PRODUTIVIDADE
	ECONOMICIDADE
	QUALIDADE
	CELERIDADE
	PRESTEZA
	FLEXIBILIZAÇÃO
	DESBUROCRATIZAÇÃO
 Destaque-se que o princípio da eficiência NÃO ALCANÇA APENAS O MODO DE ATUAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS, do qual se espera melhor desempenho para lograr melhores resultados à coletividade. Mais que isso, a Administração deverá também observá-lo em relação ao modo de ORGANIZAR, ESTRUTURAR E DISCIPLINAR SEUS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS INTERNOS, recorrendo a modernas tecnologias, atualizando seus métodos de trabalho, adequando seus organogramas etc. LUCAS FURTADO destaca, ainda, a necessidade de PLANEJAMENTO DOS GASTOS PÚBLICOS. Segundo MARIA SYLVIA DI PIETRO, o princípio da eficiência apresenta dois aspectos:
· EM RELAÇÃO AO MODO DE ATUAÇÃO DO AGENTE PÚBLICO: espera-se a melhor atuação possível, a fim de obter os melhores resultados (AVALIAÇÃO ESPECIAL DE DESEMPENHO).
· QUANTO AO MODO DE ORGANIZAR, ESTRUTURAR E DISCIPLINAR A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: exige-se que seja a mais racional possível, permitindo que se alcancem os melhores resultados na prestação dos serviços públicos. Exige-se um novo modelo de gestão: a ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL. Assim, os controles administrativos deixam de ser predominantemente por processos para serem realizados por resultados. O momento do controle prévio passa a ser realizado prioritariamente a posteriori (após o ato), aumentando a autonomia do gestor, e melhorando a eficiência do controle. A transparência administrativa, o foco no cidadão, a descentralização e desconcentração, os contratos de gestão, as agências autônomas, as organizações sociais, a ampla participação da sociedade no controle e no fornecimento de serviços são todos conceitos relacionados com este segundo aspecto da eficiência.
Controle da Observância ao Princípio da Eficiência
 Por um lado, é certo que os CONTROLES INTERNOS ADMINISTRATIVOS (de caráter interno e processado pelos próprios órgãos administrativos), assim como o CONTROLE EXTERNO (a cargo do LEGISLATIVO, com o auxílio do Tribunal de Contas) PODEM EXERCER ESSE TIPO DE CONTROLE, a teor do que dispõe os ARTIGOS 70 E 74 DA CF.
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:
 II - Comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado.
 A polêmica, contudo, reside na possibilidade de o CONTROLE JUDICIAL avaliar a eficiência das ações governamentais. Para CARVALHO FILHO entende que o controle judicial da eficiência SOFRE LIMITAÇÕES E SÓ PODE INCIDIR EM CASO DE COMPROVADA ILEGALIDADE. Sobre o tema, o autor destaca formulação segundo a qual

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