Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Teoria do Conhecimento GREGGERSEN, G. Teoria do Conhecimento / Gabriele Greggersen Florianópolis: 2019. 31 páginas Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 Teoria do Conhecimento Apresentação Neste momento, teremos a oportunidade de estudar sobre a Teoria do Conhecimento, a origem, estruturação, os métodos e a validade. Buscaremos, na sequência, relacionar conceitos de percepção e memória à Teoria do Conhecimento. Teoria do Conhecimento Você já se perguntou de onde veio? Como e por que as coisas são como são? Quais as explicações para os fenômenos da natureza? De onde surgiram as ideias, os conceitos e as representações? Pelo menos uma vez na vida, perguntas como: De onde vem o conhecimento? Como o mundo se estrutura? Como saber se algo é verdadeiro? Ou outras parecidas, que partem da curiosidade natural do homem, já passaram por nós. Formular questões e partir delas para buscar a compreensão da origem e do sentido das coisas, bem como seus percursos e processos de validação, sempre fez parte das investigações humanas, porém, o que antes era feito por intermédio da magia, da religião, do misticismo, dá hoje lugar à ciência e à tecnologia. A compreensão sobre o funcionamento da natureza, da vida, das coisas, dá origem a uma série de questionamentos filosóficos. Tal movimento nasce na Grécia, se aprofunda a partir das ciências, ganhando força como conhecimento científico e, a partir do século XVIII, se configura em um sentido mais parecido com o que temos hoje. Mas sem a curiosidade sobre as esferas celestiais e o desejo de desvendar a natureza e compreender a si mesma, a espécie humana teria ficado adstrita à elaboração de um saber prático atrelado a necessidades materiais. Propelida por mais de um fator, a busca de conhecimento atende a várias necessidades. Serve para saciar a curiosidade intelectual, resolver problemas que provocam a inteligência, ou enfrentar desafios que põem em risco a sobrevivência ontogenética ou filogenética do homem. (OLIVA, 2011, p. 6). 4 Trataremos, nesta Unidade, da Teoria do Conhecimento, que tem como principal objetivo investigar a origem, os tipos, a estrutura, a validade, os métodos e a justificação do conhecimento. Vale ressaltar que importantes controvérsias versam sobre tal teoria ser ou não sinônima da epistemologia, porém, para Reale (2002), apesar de semelhantes, a mesma abrange todo tipo de conhecimento, constituindo- se em campo mais amplo. Por sua vez, a epistemologia dedica-se ao estudo sistemático do conhecimento científico, a filosofia da ciência. Epistemologia é o campo de estudo que se dedica a entender o conhecimento científico. Apesar dos significados serem parecido, é bom ficar atento, pois aqui, trataremos dos mais variados tipos de conhecimento, para então entender o conhecimento científico. Atenção Figura – Ruínas Fonte: Plataforma Deduca (2019). A filosofia da ciência, ligada à epistemologia e à ontologia, dedica-se, com total rigor, a compreender a origem, os métodos e a validação do conhecimento científico, buscando refletir sobre os mesmos para o avanço das ciências, que independente do campo, possui uma filosofia. Perceba que, ao longo da unidade, os estudos procuram justamente investigar os questionamentos humanos, partindo desses, ampliando-os e, assim, dando origem a novas perguntas. 5 Você verá algumas tabelas e esquemas para ajudar na compreensão e assimilação do conteúdo apresentado. Ciência e conhecimento: O que é conhecimento? Oliva (2011) nos traz os conceitos de ciência e de conhecimento, associando-os à capacidade de dar respostas inteligentes aos problemas e à busca sistemática de conhecimento, com base predominante na explicação e dominação da natureza. Tal exercício do poder do homem sobre a natureza começou a ser propagado, de forma mais clara, com as teorias de Francis Bacon. O autor nos diz que a natureza não mais precisa ser compreendida em seus aspectos místicos ou divinos, passando a ser vista como mero recurso e possibilidade de desenvolvimento no processo civilizatório. Para Oliva (2011), não há, em termos epistemológicos, consenso quanto aos critérios ou padrões que devem ser adotados para que possa especificar o que é conhecimento: pode-se justificar uma ação invocando determinados padrões morais. Uma decisão, indicando os fins perseguidos. Com relação ao conhecimento, a justificação de uma teoria depende de sua consistência lógica e de sua fundamentação empírica. Diga-me o método que empregas e te direi o tipo de credibilidade epistêmica que pode ser alcançada pelos resultados que obténs. Figura – Ponto de vista Fonte: Plataforma Deduca (2019). 6 Você vai entender melhor o conceito de conhecimento, em especial o conhecimento científico, ao se atentar para os três níveis da linguagem científica: a sintaxe, a semântica e a pragmática. A sintaxe representa a forma do discurso, a semântica o conteúdo do discurso e a pragmática o contexto do discurso. Outro ponto interessante é o contexto da justificação das teorias, ou seja, os procedimentos que devem ser empregados na validação de uma determinada teoria. Pensando nos tipos de ciências, empíricas e formais, teremos abordagens totalmente distintas. O cientista social deve interagir com o que estuda percebendo que desenvolve um tipo diferenciado de investigação e teoria, na qual compõe enunciados que se remetem a outros enunciados. Em vez de se ver elaborando enunciados sobre estados de coisas, precisa considerar os formulados por aqueles que fazem parte da “situação” estudada. Quando olha para a vida em sociedade, em comunidade, precisa levar em consideração os elementos que a compõe, mas que não estão na consciência, e sim na ação, no pensamento e nas motivações dos sujeitos. Além disso, é preciso um cuidado especial com os produtos da pesquisa, dada a facilidade de manipulação dos fatos, da simulação do conhecimento e do posicionamento político travestido de conhecimento. Tais ressalvas também permeiam o campo de discussão da Teoria do conhecimento, da Filosofia das ciências e figuram entre os apontamentos dos autores que se dispõem a tratar tais temáticas, intencionando a ampliação da reflexão e levantando questões de extrema relevância e complexidade. Origem: De onde o conhecimento surge? De onde vem o conhecimento? Vamos pensar juntos nesta primeira questão. A filosofia da ciência nos mostra alguns caminhos, polêmicos, que transitam entre o racionalismo e o empirismo. Sob a marca do empirismo, temos a experiência e suas fontes: a sensação, a memória, e a introspecção. De outro lado, temos o racionalismo, ou seja, a razão. Veremos ainda caminhos que buscam a superação de tal dicotomia, com posições mais conciliatórias. Sobre o racionalismo e seus representantes, Oliva (2011, p. 13) nos diz: 7 Ao fazerem um balanço duramente crítico do que vinha sendo apresentado como conhecimento e dos procedimentos adotados para justificá-lo, Bacon e Descartes advogaram que o conhecimento tem uma e apenas uma “matriz genética”, e que se pode ter total confiança nos resultados dela derivados. Entenderam que a segurança dos pilares do conhecimento depende de fincá-los no lugar certo. Para Bacon, a autenticidade epistêmica é fruto da atividade de observação, escorada na percepção; para Descartes, ela decorre do puro exercício da razão. Para ambas as possibilidades, temos a origem do conhecimento como elemento central. Em outras palavras, nossa primeira questão, “De onde surge o conhecimento?” está intimamente relacionada à outra, que versa sobre como validar esse conhecimento. Seja com a escolha da observação empírica, seja pela vida do modelo matemático, racional, o conhecimento se válida a partir de um método rigoroso, que se submete a ser criticado. Figura – Conhecimento Fonte: Plataforma Deduca (2017). Certamente, buscar um caminho que torne possível transformar informação em conhecimento, superandoe intermediando a tensão colocada entre as correntes apresentadas, parece a melhor maneira de aproximação da verdade sobre estados de realidade. Estamos diante de uma questão importante: se, por um lado, afirmar a vivência e a experiência como único jeito de conhecer as coisas, entende que essas vivências são puras e neutras (ou seja, o homem vive mas não interpreta), por outro, tornar a razão (ou a interpretação) absoluta, nega a vivência, fonte importante. 8 Conforme vamos avançando nos estudos, percebemos que o conhecimento, apesar de compreendido de maneira diversa, pressupõe rigor, método e cuidado. Tipos de conhecimento e métodos: Como o conhecimento se manifesta? Muito o homem deseja conhecer sobre as coisas, porém, poucas vezes de forma crítica, rigorosa e com método. O senso-comum acaba gerando falsas verdades, baseadas apenas em crenças, achismos ou mera opinião. É mediante uma estrutura sistematizada e racional, que se pode aferir a validade do conhecimento. Senso-comum. Conhecido como conhecimento popular, tradicional, subjetivo, ligado à aparência das coisas, sem preocupação de validação da informação. Fazem parte do senso comum, os conselhos e ditos populares. Atenção Quadro – Tipos de conhecimento Tipos de co- nhecimento Estrutura Descrição Relação com o conhecimento teórico Saber fazer Conhecimento por aptidão Conhecer com referência a “saber como”, “saber fazer”, “fazer algo de modo certo e eficiente”. Não há relação, o saber fazer não estabelece relação direta e necessária com o conhecimento teórico. Saber direto Conhecimento por contato Relação de maneira direta, imediata, por contato com o objeto. Com sujeito em relação direta com o objeto, não há necessidade de mediação de qualquer processo de inferência ou de qualquer conhecimento da verdade. 9 Saber por descrição Conhecimento proposicional A ele se aplica a definição clássica de conhecimento como crença verdadeira justificada. Esquematicamente, pode ser assim apresentado: “S sabe que p”, onde “S” representa o sujeito conhecedor, e “p”, a proposição conhecida. No conhecimento proposicional o objeto direto do verbo “saber” é uma proposição. (OLIVA) Recurso científico para elaboração de proposições verdadeiras sobre objetos específicos. Pressupõe a relação entre um sujeito e uma proposição verdadeira. Saber por produção Conhecimento produzido O homem só é capaz de conhecer aquilo que produziu. Não é possível conhecer nada pela observação, apenas pela invenção, criação e produção. O conhecimento só se torna verdadeiro quando o autor e o conhecedor se tornam um, pois o pressuposto é de que só se compreende aquilo que se sabe para que existe. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Estruturação: Como o conhecimento se constrói? Conforme já estudamos, o conhecimento se estrutura a partir de suas origens, em uma estrutura na qual uma pergunta vai nos levando a outras perguntas, as respostas não são únicas e fechadas. Conforme vamos nos fazendo novas perguntas, percebemos, assim como os primeiros investigadores, o quanto o pensamento vai se tornando mais complexo e a necessidade do rigor se intensifica. Figura – Estruturação do conhecimento Estruturação do conhecimento Racionalismo Empirismo Fonte: Elaborado pela autora (2018). 10 Exploraremos, com mais afinco, cada uma das proposições iniciais, que deram origem à complexidade científica que conhecemos, as bases estruturais das teorias posteriores. Os pressupostos que embasaram os autores, o ponto de partida de suas análises e considerações, nos interessa especialmente neste momento, no qual aprenderemos sobre as primeiras teorias relacionadas ao conhecimento e suas nuances. Empirismo O empirismo parte das experiências, observações e sensações dos homens, tornando conhecimento a validação de tais elementos, a partir de um sistema de métodos de verificação. Apesar de ter, ao longo da história - desde seu surgimento, na Grécia Antiga, passando pela Idade Média e Moderna - muitas formas de manifestação, elaboração e aplicação, essa estrutura fundamental não se altera. Grandes autores, conhecidos por seus escritos, são adeptos desta abordagem, tais como: Aristóteles, Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke, George Berkeley, David Hume, John Stuart Mill e Nicolau Maquiavel. O empirismo, portanto, divide-se em três correntes, chamadas de integral, moderada e científica, cada uma delas com mais ou menos adeptos e representantes, como exemplificado no quadro que segue. Quadro – Correntes do empirismo Empirismo integral Fundamentação: considera que qualquer conhecimento é resultado do contato direto com a experiência sensível, em todos os campos do conhecimento. O conhecimento se configura como a sistematização dos resultados e dados de observação. Autor de referência: John Stuart Mill. Obra: Sistema de lógica dedutiva. Estrutura do pensamento: indução como único método científico, por meio da qual se resolvem silogismos e axiomas matemáticos. 11 Empirismo moderado Fundamentação: também conhecido como genético-psicológico, explica que a origem temporal dos conhecimentos parte da experiência, mas aceita que a validação do conhecimento pode ser não-empírica. Nesta corrente, encontramos verdades universalmente válidas, como as matemáticas, nas quais o pensamento é fonte de validação, não a experiência. Autor de referência: John Locke. Obra: Ensaios acerca do entendimento humano. Estrutura do pensamento: o autor nos diz que as sensações são o lugar onde se inicia o conhecimento de tudo, que é construído a partir da elaboração dos sentidos em contato com a realidade. Também aceita a validade lógica, não-empírica, no que diz respeito aos juízos matemáticos. Empirismo científico Fundamentação: a validade do conhecimento se dá mediante a experiência ou a verificação empírica, conferindo aos juízos analíticos significações de ordem formal pertencentes ao domínio das fórmulas lógicas. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Racionalismo Nesta linha, a razão é central, os fatos são questionados, os sentidos e as experiências não são lugar confiável. Dentro do Racionalismo, há várias vertentes, que apresentaremos de maneira esquemática, associando linha, resumo dos representantes desta perspectiva teórica, principais obras e fundamentação. Racionalismo ontológico Parte da explicação simples e segura sobre a realidade, que entende como racional. Quadro – Racionalismo ontológico Autor de referência: Gottfried Leibniz. Fundamentação: separa verdade de razão de verdade de fato, dizendo que nem todas as verdades são verdades de fato. As verdades de razão, colocadas ao lado das primeiras, são aquelas inerentes ao próprio pensamento humano e dotadas de universalidade e certeza (princípios de identidade e de razão suficiente), enquanto as verdades de fato são ocasionais e particulares, implicando sempre a possibilidade de correção, sendo válidas dentro de limites determinados. Obra principal: Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano. 12 Autor de referência: René Descartes. Obra principal: Discurso sobre o método. Fundamentação: inatista, considera todos os seres humanos possuidores de ideias natas, enquanto seres racionais e pensantes, com fundamento lógico a todos os elementos com que nos enriquecem a percepção e a representação. Fundador do método cartesiano. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Intelectualismo Diferente dos teóricos anteriores, não supõe que haja ideias natas, nem verdades universais. O conhecimento se dá por intermédio da inteligência, a partir da elaboração intelectual de fatos particulares. Assim, temos os sentidos como ponto de partida, porta de entrada do conhecimento, que é extraído pelo pensamento, que é ativo e passivo. Ativo, ou agente (Nous poietikós), pois elabora o que recebe pelos sentidos, deixa a ideia transparente, a acende. Passivo, ou receptivo (Nous pathetikós) na medida em que o conhecimentoacontece pela recepção desta luz, acontecendo, então, concretamente. Quadro – Intelectualismo Autor de referência: Aristóteles, Obra principal: “Organon”, composto pelas obras: Sobre a Interpretação; Categorias; Analíticos; Tópicos; Elencos Sofísticos e os 14 livros da “Metafísica”, que Aristóteles denominava “Prima Filosofia”, Fundamentação: O intelecto constrói os conceitos a partir do real, operando sobre ele. Autor de referência: Hessen, Fundamentação: concepção metafísica da realidade como condição de sua gnosiologia. Entende a realidade como algo racional, com elementos e verdades universais atingidos a partir do intelecto, que assimila a realidade. Autor de referência: Tomás de Aquino. Fundamentação: Todo o conhecimento da nossa mente deriva dos sentidos. Fonte: Elaborado pela autora (2017). 13 Gnosiologia. Conceito da filosofia que diz sobre a teoria geral do conhecimento humano, voltada para uma reflexão em torno da origem, natureza e limites do ato cognitivo. Atenção Criticismo O estudo metódico prévio do ato de conhecer e dos modos de conhecimento, ou seja, uma disposição metódica do espírito no sentido de situar, preliminarmente o problema do conhecimento em função da relação “sujeito-objeto”, indagando as suas condições e seus pressupostos. Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e racionalismo, por isso, muitos autores acreditam em sua autonomia. Entretanto, devemos entender tal posição como uma análise crítica e profunda dos pressupostos do conhecimento. Conclui-se, então, que pela ótica do criticismo, o conhecimento implica sempre em uma contribuição positiva e construtora por parte do sujeito cognoscente em razão de algo que está no espírito, anteriormente à experiência do ponto de vista gnosiológico. Quadro – Criticismo Autor de referência: Immanuel Kant. Obra: Crítica da razão pura. Fundamentação: o autor preconiza que o conhecimento estabelece relações profundas com a experiência, ponto no qual a teoria coincide com o empirismo. Porém, afirma que a experiência, sem elementos racionais, de nada vale, só ganhando validade a partir da ordenação racional de dados sensoriais e experienciais. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Kant é conhecido na história da filosofia por propor uma síntese entre racionalismo e empirismo, propondo que o homem possui duas possibilidades de recepção do conhecimento e que uma depende intrinsecamente da outra: a sensibilidade e o entendimento. Conforme vimos, o sujeito se coloca diante do conhecimento de maneira passiva – por meio da sensibilidade, das experiências e da observação; mas também opera sobre o que recebe, racionalizando e elaborando tais conteúdos, para que assim, eles entrem no campo cognoscível. 14 Essência: Quais as bases do conhecimento? Vamos conhecer agora as bases do conhecimento que são: o realismo e o idealismo. Figura – Bases do conhecimento Bases do conhecimento Realismo Idealismo Fonte: Autora (2017). Realismo O realismo (latim – res, que significa coisa) é a corrente de pensamento que sustenta a total independência ontológica entre a realidade e a consciência. Isso quer dizer que a realidade não depende, em nenhum sentido, de nossas representações, crenças e percepções. Afirma que o objeto possui transcendência em relação ao sujeito; portanto, a realidade independe da consciência sobre ela. As coisas existem, independentemente de haver consciência sobre ela. O realismo se subdivide, dando origem a três subtipos: realismo ingênuo, tradicional e crítico. O realismo ingênuo, como o próprio nome sugere, é aquele em que o conhecimento é aceito pelo homem, sem questionamentos, elaborações ou críticas. Também conhecido como pré-filosófico, é atribuído ao homem comum, que conhece as coisas e as aceita como aparecem. No realismo tradicional, as perguntas já fazem parte do conhecimento, a validação é uma preocupação, a comprovação de teses começa a ter método e atitude filosófica. Já quando tratamos do realismo crítico, ou científico, temos intensificados os processos de validação e verificação de pressupostos e teses, pautados em processos de natureza crítica. O conhecimento é tido como aquele que é externo 15 ao homem, compreendido por ele, porém sem a possibilidade de alcance sobre a correspondência entre objeto e verdade. Em resumo, ao falarmos sobre o realismo, é preciso ter clareza de que, independente do subtipo ou divisão, temos que: 1) a relação entre homem e objeto é de independência, porém se constrói e articula; 2) todas as ideias ou sensações, independente da interpretação, têm necessariamente origem em algum elemento da realidade. Alguns principais autores que abordam e sustentam essa teoria, são: • Thomas Reid; • Adam Ferguson; • Dugald Stewart. Idealismo O idealismo transcendente, surgido na Grécia Antiga, com Platão, diz que as ideias são a representação da realidade verdadeira, na qual as realidades sensíveis são cópias imperfeitas, participantes do ser essencial. O idealismo platônico reduz o real ao ideal, resolvendo o ser em ideia, pois entende que são as ideias que tornam as coisas reais e visíveis. Platão é um filósofo que até os dias de hoje ouvimos falar. Quem não conhece o termo “amor platônico”? Pois é, esse é um termo que faz referência a esse pensador da Grécia Antiga, que com o Mito da Caverna, nos ensinou a procurar a luz ao invés de acreditar nas sombras e reflexos das coisas, que vemos quando estamos presos na escuridão. Atenção Os autores defensores do idealismo afirmam que o verdadeiro conhecimento está inserido em nosso espírito, que as coisas só existem a partir do momento que o homem as representa ou elabora pensamentos sobre elas, não existindo por si mesmas. 16 Figura – Platão Fonte: Plataforma Deduca (2017). Para Reale (2002), há a compreensão do real como idealidade (o que equivale dizer a realidade como espírito), o homem cria um objeto com os elementos de sua subjetividade, sem que algo preexista ao objeto (no sentindo gnosiológico). Assim, dizemos que no idealismo, o conhecimento reside no processo de representação ou pensamento, estando a verdade das coisas na consciência e pensamento do homem, não nelas mesmas. O idealismo se divide em duas vertentes, uma chamada de idealismo psicológico, e a outra, idealismo de natureza lógica. A primeira nos diz que o que se conhece não são as coisas e sim a imagem delas. Dizemos que, nesta perspectiva, a realidade é inteligível enquanto acontece na consciência do homem. Chamado por alguns autores de idealismo subjetivo, com representantes como Hume, Locke e Berkeley, temos os objetos como a representação da consciência em razão dos mesmos. O conhecimento é percebido. Um bom exemplo neste caso são as preferências das pessoas, os gostos. Cada um tem seu conjunto de preferências, a partir do conjunto de representações que constrói. 17 A segunda perspectiva no idealismo, de natureza lógica, parte do preceito do conhecimento como pensamento, sendo o objeto, ideia. Hegel, um dos formuladores desta linha, afirma em suas obras que o real é espiritual, elevado ao plano do pensar. O conhecimento é pensado. Entre as principais obras do autor estão: Fenomenologia do Espírito, Princípios da filosofia do direito e Lições sobre a história da filosofia. Aqui, podemos pensar que o pensamento que cria a realidade. Tudo existe a partir do pensamento. Hegel entende a realidade como espírito, ou seja, a realidade, considerada movimento, é subjetiva, processual, não estática. Este filósofo concebe o devir como verdade espiral, pautando-se na tríade: tese, antítese, síntese. Tese como afirmação; antítese como negação; síntese como o novo que surge destes opostos. Limites do saber: Quais as possibilidades do conhecimento? Neste ponto de nossos estudos, traremos a questão: Quais as possibilidades do conhecimento? De onde partem as formulações estudadas? Analisaremos, para nos aproximar das respostas, dois pressupostos,o dogmatismo e o ceticismo. A polarização entre o dogmatismo que sustenta que se podem conhecer coisas com certeza e o ceticismo que advoga nada ser cognoscível se alimenta da falta de respostas incontroversas para questões do seguinte tipo: que podemos com segurança conhecer? Qual a extensão de nosso conhecimento e o que o limita? (OLIVA, 2011, p. 13) Dogmatismo No dogmatismo, o conhecimento, a verdade sobre as coisas, é entendida como possibilidade absoluta e incontestável. Não interessa aos seus autores investigações e críticas dirigidas ao ser e à existência. Também estudaremos aqui dois tipos de dogmatismo, o total e o parcial. No dogmatismo total, pouco adotado, a verdade aparece como alcançável, atingível, em sua totalidade, de maneira incontestável, tanto no plano da vida, como da ética. Hegel nos apresenta em suas obras a manifestação desse pensamento, ao estabelecer relação de identificação total entre o pensar e o real. Nos diz que o pensamento, na medida que acontece, é em si o objeto, e o objeto, na medida em 18 que o é, é pensamento. A religião, manifestada na vida como único entendimento e caminho, é um exemplo neste caso. Já o dogmatismo parcial, encontrado com mais frequência, acredita que a razão ou a intuição são, em si, possibilidades de acesso ao real. Hume e Kant são representantes desta corrente que questionavam a possibilidade de atingir verdades totais pelo pensamento. Pascal, por sua vez, reafirmava a exatidão das ciências e da matemática, mas trazia reflexões sobre o campo do agir e da conduta humana. Acreditar, por exemplo, na mídia, pode ser um exemplo neste caso, quando as pessoas atribuem à mídia um caminho válido de informação e formação. Figura – Limites do conhecimento Limites do conhecimento Dogmatismo Ceticismo Fonte: Autora (2018) Ceticismo Enquanto o dogmatismo nos apresenta a possibilidade de verdades inteiras, absolutas, o ceticismo afirma a desconfiança em relação ao conhecimento, tido como provisório, refutável, questionável. Os céticos não dirigem propriamente seus ataques às fontes do conhecimento, e sim aos critérios de evidência. Até porque o ceticismo pode ser tanto com relação aos registros dos sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato) quanto com relação à razão e suas operações. Se a percepção é tomada como fonte primária do conhecimento, é importante saber como funciona – questão psicológica – e com que grau de confiabilidade epistêmica pode dar origem a crenças em condições de serem verdadeiras e justificadas. Ainda que exista uma e apenas uma fonte de conhecimento, recorrer a ela, se ater a ela, não assegura a obtenção de resultados cognitivos. (OLIVA, 2011, p. 17) O ceticismo versa tanto sobre questões metafísicas, quanto às relativas ao fundo dos fenômenos, afirmando a impossibilidade do conhecimento, por não acreditar em 19 adequação possível entre sujeito e objeto. Sugere, por intermédio de seus adeptos mais radicais, como Comte, que o homem nem deve formular problemas, pois nenhuma resposta teria validade. Assim como o dogmatismo, temos a divisão do ceticismo em: pirrônico e acadêmico. O ceticismo pirrônico possui uma busca incessante pela verdade, porém, não afirma nada sobre a mesma. Já o ceticismo acadêmico considera a verdade inacessível. Sua máxima é formada pelo princípio da antilogia, que diz que diante de todo e qualquer argumento, aparecerá outro argumento de força igual em oposição; seguida da epoké, que significa suspensão do juízo; e, por fim, a condução à ataraxia, que é o estado de não perturbação alcançado pela suspensão do juízo. Figura – Oposição Fonte: Plataforma Deduca (2019). Validação e justificação: Como o conhecimento examina a si mesmo? O ponto de partida de qualquer formulação filosófica é a definição de conhecimento. Somente depois de ter definido o que é, onde está e como procurá-lo, é possível distinguir as situações em que há conhecimento daquelas em que apenas parece haver. 20 A teoria do conhecimento ou epistemologia é o domínio da filosofia que aborda a questão da natureza (o que é) do conhecimento, das fontes (onde procurá-lo) e da validação (como comprová-lo). Dispensa atenção especial aos modos – meios e procedimentos – mais seguros de conquistá-lo. Por mais que esteja preocupada em determinar onde buscá-lo, sua obsessão é (como) justificá-lo. (OLIVA, 2011, p. 10) Mas, como procurar aquilo que ainda não se sabe o que é? E como saber se tal busca tem validade? [...]Platão, no Ménon (80e), formula o “paradoxo da busca”: o homem não precisa procurar o que sabe e não tem como ir atrás do que desconhece, do que não sabe o que é. Não faz sentido procurar o que sabe pelo simples fato de já o conhecer. E faltam-lhe condições para procurar o que ignora, já que não sabe o que é nem onde buscá-lo. Se não sabe claramente o que persegue, fica também sem ter como escolher os procedimentos adequados à busca. Se não tem como buscar o que desconhece totalmente, o que sequer sabe o que é, fica impossibilitado de avançar metodicamente sobre o desconhecido. E se porventura encontrar o novo, como poderá saber que se trata do objeto desconhecido e procurado se nunca o conheceu? (OLIVA, 2011, p. 11) Como querer ter conhecimento se não se sabe o que é conhecimento? Como saber se a forma de o encontrar é válida? Nos interessa aqui entender como o conhecimento examina a si mesmo, como se a questão central fosse uma dobra, na qual se tem o pressuposto de que o conhecimento é possível, conhece-se seus métodos, e se examina, para que seja verificado, validado. Quando partimos de uma definição clássica do conhecimento, como aquele conclusivamente verdadeiro e demonstrativamente certo, temos como pano de fundo a crença de que o conhecimento é possível, partindo assim para o conhecimento do conhecimento. Oliva nos diz da relação indireta da fundamentação e validação do conhecimento com a metafísica, ao formularmos questões como: “há diferenças entre a realidade que se mostra e a forma como ela é?”. E ainda: “Como ter acesso à realidade tal como ela é?”. Tal processo ainda se ocupa da constatação da existência dos fatos, objetos e eventos, da existência dos mesmos de forma tipificável e ainda, sobre se suas representações estão acontecendo de forma fidedigna, distinguindo aparências verdadeiras de falsas. 21 Só que não há como saber se ele efetivamente é bem-sucedido sem que já saibamos, de antemão, quais aparências são verdadeiras, quais são falsas. E assim nos enredamos em um círculo. Caso algo sofra mudanças quantitativas e qualitativas que o tornem apenas parcialmente diferente do que vinha sendo, mantendo-se essencialmente o mesmo, pode-se descrever seu ser próprio e tentar obter conhecimento sobre ele. (OLIVA, 2011, p. 21) O conhecimento é possível a partir do momento em que o erro e a ilusão são comprovadamente evitáveis ou superáveis, superando a visão da metafísica de que as representações nunca são fidedignas. Assim, ao reconhecer o conhecimento como possível, nos colocamos atentos para identificar como, quando e onde as aparências podem nos enganar. Os objetos do conhecimento precisam ser os reais e não os aparentes ou ilusórios. Quando se escolhe um único tipo de informação, evita-se o questionamento metafisico, ressaltando que, para alcançar a compreensão de como o mundo é apreendido, se essa forma corresponde ao que ele é de fato, e de que maneira formamos e contribuímos com a formação das aparências, é preciso ter atenção a isso. Ainda em relação às aparências, observe que os nossos sentidos e cognição nos levar a entendê-las como verdade. A comprovação, neste caso, fica circunscrita à problematização, visto que se entendermos as sensações como variáveis, sentidas e percebidas, o empirismo pode ser associado ao subjetivismo. Assim, o desafio posto abrange todas as perspectivas, desde Descartes – com suas buscas à verdade absoluta, como aos autores mais modestos, que formulamprobabilidades. Entre o demonstrativamente certo, presente nas ciências formais, e o universal irrestrito cabalmente verificado, inatingível na pesquisa empírica, há as crenças que, sujeitas a refutação, vão sendo corroboradas. Observa Locke que “aquele que acredita sem ter qualquer razão para acreditar pode estar apaixonado por suas fantasias, não busca a verdade como deveria”. (OLIVA, 2011, p.45) Existem duas formas identificáveis na teoria positiva de justificação (OLIVA, 2011), Doxástica e Não doxástica, conforme quadro que segue. 22 Quadro – Doxástica X Não doxástica Formas Definição Características Doxástica Para se justificar uma crença, se recorre a outra crença ou conjunto de crenças. • São doxásticas as razões que promovem a justificação de uma crença com base em outra(s). Não doxástica Não se recorre a outra(s) crença(s) para se justificar determinada crença. • Uma experiência não doxástica pode corresponder a um estado mental e pode incluir registros sensoriais ou perceptuais. • São não doxásticas quando se apoiam em registros perceptuais ou em intuições racionais. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Doxastica - Lógica Doxástica é um tipo de lógica modal preocupada com o raciocínio sobre crenças. O termo doxástico é derivado do grego antigo, doxa, ou conjunto de crenças e ideias aceitos pela maioria. Atenção O problema da Crença Verdadeira e Justificada é desafiador tanto a todos que que buscam o conhecimento verdadeiro e certo, quanto aos que perseguem um objetivo. Oliva, em seu livro “A teoria do conhecimento”, 2011, nos diz que: [...] é fato que a justificação de algumas crenças deriva de suas relações inferenciais com outras, e que a justificação dessas outras pode depender de relações inferenciais. Os fundamentalistas acreditam que isso tem como ser evitado. Para tanto acreditam em um tipo de crença que não necessita de justificação baseada em outras. As crenças privilegiadas são as justificadas em si mesmas, as justificadas independentemente das relações, as justificadas inferenciais – que mantenham outras. (OLÍVIA, 2011, p. 53) Assim, o conhecimento, em sua clássica definição de crença verdadeira e justificada, se respalda na ideia de que existem crenças verdadeiras e justificadas sobre a possibilidade do conhecimento. São crenças secundárias ou de segunda ordem que estão relacionadas à problemática central dos estudos epistemológicos. É mister que se sabia da razão suficiente para acreditar em algo chamado de conhecimento. 23 Logo, necessitamos epistemologicamente caracterizar o conhecimento como conhecimento. (OLIVA 2011). Veja a seguir alguns tipos de teorias da justificação. Iniciaremos com dois tipos internalistas, o fundacionalismo e o coerentismo; e um externalista – o confiabilismo; seguidos do falibilismo e do relativismo. Considere que uma teoria internalista quando os fatores requeridos são diretamente acessíveis ao conhecedor. Já a teoria externalista coloca alguns fatores justificatórios fora desse alcance direto. Fundacionalismo Os autores que partem desta perspectiva internalista, o fundacionalismo, nos dizem que há dois caminhos possíveis. Um, das crenças básicas, ou fundamentais; e outro, das crenças não básicas, ou não fundamentais. As primeiras podem justificar as segundas, formando uma base de sustentação de toa cadeia de crenças. Já as segundas formam uma espécie de edifício, tendo as primeiras como base. Ambas estabelecem relação por intermédio da inferência, método aceitável de passar das premissas à conclusão. [...]o fundacionismo se vale do argumento por eliminação quando supõe que há um número bem limitado de caminhos para a justificação das crenças e que, por eliminação, se pode demonstrar que só um pode ter êxito. (OLIVA, 2011, p.55) Coerentismo No coerentismo, a justificação se dá mediante um sistema de crenças em relação à coerência, se assemelhando a uma rede ou teia. As crenças aparecem como fios que se entrelaçam, formando assim uma trama complexa, de maneira que uma crença exija a outra quando a verdade da primeira é garantida pela verdade da segunda. (OLIVA, 2011) Exemplo: • Crença a) Toda criança corre. • Crença b) Regina é criança. • Dedução – Regina corre. 24 Assim, temos na proposta dos coerentistas a justificação de uma crença dependendo das relações de coerência desta mesma crença com outras crenças, sem necessariamente considerar o processo de formação destas. Confiabilismo Apresentada como teoria externalista da justificação, o confiabilismo, segundo Oliva (2011, p. 69), É uma teoria da justificação externalista em razão de nem a propensão à verdade de um processo de formação de crença, nem a história de aquisição da crença ser diretamente acessíveis ao conhecedor. O Confiabilismo defende a visão de que para se ter crença justificada não há necessidade de se contar com procedimentos infalíveis que conduzem à certeza, já que o conhecimento não é conquistado. Falibilismo O falibilismo (do latim, fallibilis, que pode falhar) diz respeito àquilo que é falível no que concerne às crenças, em especial, às crenças de ordem sensorial e experiencial. Podemos pensar que as pessoas podem construir crenças falsas sobre astronomia geografia, mas não sobre uma dor, ou sobre estarem vendo uma mancha. As verdades da lógica também compõem uma categoria especial, não sujeita a esse tipo de falsa construção. Popper, por exemplo, afirma nossa falibilidade com relação às formulações cientificas, mas reitera a confiabilidade da lógica. Relativismo Oliva (2011) nos fala ainda sobre o relativismo, afirmando ser este o conhecimento que se funda na extensão da diversidade de apreensão do conhecimento, seja pelo sujeito, seja pela cultura ou sociedade, que elaboram por meio de padrões distintos de racionalidade ou de avaliação das alegações do conhecimento. Afirma ainda que o Relativismo versa sobre as possibilidades de argumentação sustentadas por teorias diferentes sobre um mesmo fato, fenômeno ou objeto. Sendo assim, podemos considerar o relativismo “autodestrutivo”, pois, a partir de seus pressupostos, elimina a própria noção de correção. 25 Na tabela, que segue, estão as principais modalidades de raciocínio que estruturam a justificação cognitiva: Quadro – Tipos de raciocínios Tipo Características Estrutura Limitações Raciocínio dedutivo Divisão do problema em problemas mais simples e resolução pelo método de análise e síntese. Formulado por René Descartes, em “Discurso do método”. 1. duvidar de tudo aquilo de que não se tiver uma certeza clara e distinta; 2. dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessárias para sua solução; 3. conduzir ordenadamente os pensamentos, dos objetos mais simples aos mais complexos; 4. realizar as recapitulações necessárias. Método não adequado para o estudo de sistemas complexos, tais como os seres vivos. Raciocínio indutivo Tipo de inferência que produz generalizações a partir de casos particulares. Raciocínio por analogia, que permite que se façam previsões a partir de casos particulares, ou, ainda, especulações a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais. Não há garantia lógica de que uma nova experiência acontecerá como já ocorreu no passado, portanto há a necessidade de constantes ajustes e as afirmações não podem ser consideradas permanentemente justificadas. Raciocínio abdutivo Modo de inferência sobre o qual se estrutura o raciocínio criativo. Propicia a formulação de novas hipóteses explicativas. Parte de problemas que não foram investigados, aparentemente sem solução fora do conhecido. A partir de soluções criativas, formula hipóteses e trabalha em sua validação. Tipo de raciocínio que não fornece garantias sobre sua validade. Tem a função de guiar a mente na tentativa de dar respostas às dúvidas anômalas. Fonte: Elaboradopela autora (2017). Assim, temos, esquematicamente, o Conhecimento e as dimensões que o compõe. 26 Figura – Conhecimento Conhecimento Origem Estrutura Essência Tipos Validação Fonte: Elaborado pela autora (2018). Percepção, memória e a teoria do conhecimento Sob a perspectiva da teoria do conhecimento, podemos pensar na memória com múltiplas funções, em relação direta com a percepção. Destarte, a memória tem a função de reter um dado da percepção, da experiência ou de um conhecimento adquirido. A memória, quando acessada, também faz o reconhecimento e produção do dado percebido, experimentado ou conhecido em uma imagem, proporcionando relações entre o já conhecido e novos conhecimentos. A memória é uma invocação do passado. É a capacidade para reter e guardar o tempo que se foi. Temos acesso à memória através das lembranças. É uma experiência do tempo, formado pelo presente, passado e futuro. A memória é uma forma de percepção interna. (REALE, 2002, p. 47) A memória também permite a associação da recordação ou reminiscência de um objeto ou acontecimento, como pertencente ao tempo passado, e as diferenças ou semelhanças com o presente. 27 Memória é retenção, essencial para elaboração da experiência e do conhecimento científico e filosófico, que mediante a lembrança e a prospecção, partem para novos saberes e práticas. Atenção É devido à memória que lembramos e recordamos. As lembranças podem acontecer de duas formas: espontaneamente, quando algo ou alguma experiência nos traz uma situação passada; ou quando há um trabalho mental direcionado a isso, um esforço. A memória, por intermédio de suas funções, tem relação com uma das formas mais fundamentais da existência humana, o tempo, e, com o tempo, nossa relação com o invisível, o distante e o ausente, ou seja, o passado. A memória é o que atribui sentido ao passado guardando distinções do presente e do futuro. A capacidade de lembrar, ou recordar, pode ter perturbações, sejam por causa física, ou por questões psíquicas, e o esquecimento representa uma perda de nossa relação com o passado, com a dimensão de tempo e da vida. Figura – Memória Fonte: Plataforma Deduca (2019). 28 Se a memória é uma invocação do passado, uma percepção e capacidade interna, pensemos brevemente na imaginação e em seus sentidos criador e reprodutor. Tradicionalmente, temos na filosofia a imaginação como reprodutora das percepções. Os empiristas ligavam imaginação à memória, partindo dos registros cerebrais de imagens ou sensações. Já intelectualistas chegam a creditar à imaginação os erros, as ilusões e as distorções do real. Podemos associar imaginação ao conceito de consciência cognitiva, forma de consciência que difere da imaginação ligada à percepção e à memória. Assim, temos a imaginação como a habilidade da consciência em criar objetos imaginários, relacionando o ausente (memória) com o inexistente. Através da imaginação, temos o vir a ser, campo do que ainda não existe e das coisas possíveis, criando assim uma relação com o passado e com o futuro, com o concreto e com o fantasiado, transcendendo o óbvio e fundando novos modos de existência. Percebemos o quanto as percepções, a memória e a imaginação figuram de maneira importante na Teoria do conhecimento, seja na fundamentação, na formulação, na validação, ou ainda em outras etapas. Sobre o conhecimento e a verdade: concluindo Segundo Reale (2002), o conhecimento humano pressupõe a existência da verdade, pois essa é entendida como a adequação da inteligência com o objeto. E, ainda, a experiência da verdade que, fixa na verdade conhecida, gera a existência da certeza, que representa a transição da inteligência à verdade conhecida. Assim, esquematicamente, temos: 1º conhecimento; 2º verdade; 3º certeza. Essa posição, segundo o autor, é chamada de dogmatismo. Tomando outro prisma, se a inteligência está em tudo e sempre, sem afirmar, negar ou admitir nada, apenas a dúvida universal, temos o posicionamento do ceticismo. 29 Figura – Conhecimento Fonte: Plataforma Deduca (2019). Todavia, a questão está para além de tal tensão, entre dogmatismo e ceticismo, quando admitimos a existência da verdade e da certeza, levando-nos a perguntar onde residem as coisas, se a matéria e a inteligência são suas únicas moradas possíveis, isolada ou conjuntamente, ou as coisas estão apenas na razão. Tais questões nos levam a navegar pelo idealismo, racionalismo e realisto, na medida em que cada pergunta traz em si um arcabouço de respostas que formulam uma perspectiva ou linha teórica. Para o idealismo o ente transcendental compõe-se somente de idéias. Para o materialismo, somente matéria. Para o realismo, idéias e matéria. Para o racionalismo, é razão. A crítica é a base necessária de todo o saber cientifico e filosófico, inclusive da própria ontologia. (REALE, 2002, p. 38) Após tais considerações, percebemos que muito se avançou na busca por desvendar o desconhecido. Porém, quando vemos as várias perguntas que cada pergunta suscita, o quão complexo o conhecimento se torna, à medida que nos aprofundamos e nos dedicamos em revelá-lo, nos damos conta de que o desconhecido é muito maior do que o já revelado. Oliva (2011) usa a imagem da pequena ilha (conhecido), diante do vasto oceano a ser explorado (desconhecido), e nós, nossas ideias e pensamentos, como pequenas e frágeis balsas ou embarcações. 30 É difícil saber se o conhecimento está aos poucos sendo completado ou se cada avanço constitui a abertura de um subcaminho que leva a outros subcaminhos de uma interminável Grande Avenida, que pode dar em um labirinto sem saída. A aventura do conhecimento pode ficar para sempre incompleta porque algumas coisas cruciais podem jamais vir a ser desvendadas e também porque se pode ficar sem encontrar algo de definitivo. (OLIVA, 2011, P. 61) Alguns campos do conhecimento nos deixam mais próximos do tamanho da lacuna, do que ainda falta descobrir, desvendar, já outros só nos trazem a sensação de que cada descoberta abre espaço para novas questões, e assim, sucessivamente. Erros e lacunas fazem parte deste caminho de busca pelo conhecimento. A admiração que está na origem do conhecer pode voltar a aparecer no fim do processo – quando as perguntas pela verdade e pela justificação remeterem à questão de qual o sentido de tudo isso sobre que se busca conhecimento. (OLIVA, 2011, p. 61) 31 Referências OLIVA, A. Teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. REALE, M. Introdução à filosofia. São Paulo: Saraiva, 2002.
Compartilhar